Kitabı oku: «Atração»
Atração
Saga Laços de Sangue Livro 4
Amy Blankenship, RK Melton
Traduzido do inglês por Susana Franco
Copyright © 2012 Amy Blankenship
Segunda edição publicada pela TekTime
Todos os direitos reservados
Capítulo 1
Micah estava na cama a descansar, embrulhado em tantas ligaduras que começava a parecer uma múmia. Não conseguiu evitar sorrir suavemente quando a Sra. Tully começou a cacarejar do seu lado como uma mãe galinha, abanando ocasionalmente a cabeça. Também não se queixou da quantidade de analgésicos que ela lhe injetou no braço. Conseguia ver-se no espelho da cómoda, do outro lado do quarto, e começou a erguer uma sobrancelha, mas logo mudou de ideias quando, instantaneamente, esta começou a doer-lhe.
Já lhe tinham assegurado que Anthony estava morto, mas ele não conseguia evitar desejar que o lobisomem alfa estivesse vivo para que pudesse torturar o maldito da mesma forma que ele tinha sido torturado. A história que lhe contaram pareceu-lhe uma morte rápida. Ele não teria sido tão rápido.
“Acho que vocês, transmorfos, vão acabar por ser a minha ruína”, exclamou suavemente a Sra. Tully. Os transmorfos… tanto os jaguares como os pumas tinham um lugar especial no seu coração. Ela tinha feito o parto de cada um deles e era muito chegada à mãe deles. “Vê em que estado estás.”
Micah fez uma careta para o teto, sentindo-se estonteado quando a ventoinha continuou a girar. “Não tive culpa de ter sido raptado e torturado.”
A Sra. Tully deu-lhe uma leve pancada na testa com a ponta dos dedos. “Tenho que discordar, jovem Skywalker. Se as histórias que ouvi são verdadeiras, enfrentaste aquele maldito lobisomem e foi isso que te fez ser raptado.”
“Então, está a dizer que eu é que sou o culpado disto?” Micah exigiu saber ignorando os sorrisos das outras pessoas que estavam no quarto.
“Não interrompas os mais velhos”, a Sra. Tully regressou ao quarto com um olhar severo. “Eu ainda não tinha acabado. Como estava a dizer… tu enfrentaste aquele rafeiro e tenho que dizer que era algo que já devia ter acontecido antes.”
Micah olhou sugestivamente para Quinn com um ar de ‘Eu bem te disse’. Ainda não estava preparado para perdoar o irmão. Tinha avisado Quinn sobre Anthony e foi-lhe dito que se retirasse. Esperava que o irmão mais velho estivesse contente, porque agora ele não se conseguia levantar.
“Para com isso!” A Sra. Tully rosnou e deu-lhe uma pancada na cabeça.
Esta ação fez a sua cabeça latejar e a dor de cabeça persistir e fechou os olhos com força. “Ei, estou ferido”, Micah queixou-se.
“E só vai piorar se continuarem com esta rivalidade entre irmãos”, a Sra. Tully retorquiu e lançou o mesmo olhar de advertência a Quinn. “Tenho que ligar à minha neta e dizer-lhe onde estou. A pobrezinha vai ficar preocupada se não estiver em casa para atender o telefone.”
A Sra. Tully não esperou que ninguém lhe mostrasse onde estava o telefone. Não era a primeira vez que vinha à residência dos Wilder. Tropeçou quando se apercebeu que Michael estava sentado numa cadeira, em silêncio, num canto sombrio do quarto. Não era típico do vampiro encantador ser tão sombrio e melancólico. Quando a porta se fechou atrás dela, todos os olhares se voltaram para Micah.
“É bom ter-te finalmente de volta a casa, onde pertences,” disse Steven com um sorriso suave, tentando esconder a sua preocupação. Apesar de Micah estar em casa, alguma coisa dizia-lhe que não estava fora de perigo. Micah estava pálido e com os olhos um pouco brilhantes demais para o seu gosto.
Micah devolveu o sorriso, mas começou a ficar sonolento. “É bom estar fora daquele maldito buraco.”
“Desta vez, foste muito imprudente,” afirmou Quinn do seu lugar junto à janela, cruzando os braços sobre o peito. “Podias ter morrido naquela cave se não tivéssemos visto a mensagem que enviaste à Alicia.”
Micah olhou em volta à procura da irmã mais nova e franziu a testa. “Por falar em Alicia, onde é que ela está? Tinha a certeza de que ela estaria aqui.”
“Vai ficar em casa de uma amiga até as coisas acalmarem,” respondeu Kat. Depois olhou de relance para Quinn perguntando-se quanto tempo mais ele iria esperar para ligar à irmã e pedir-lhe que voltasse para casa.
“Porque é que ela não voltou connosco da casa do Anthony?” Perguntou Micah. “Eu tinha a certeza que ela tinha…”, ele voltou a olhar para Quinn culpando-o pela ausência de Alicia só porque lhe apetecia.
Nick abanou a cabeça, mas estava a encolher-se por dentro. Tentou não olhar para Michael, sabendo que o vampiro tinha apagado a memória de todos, exceto a sua e a de Micah. “Meu, devem ter-te batido muito na cabeça… a Alicia não estava na casa do Anthony.”
“Mas ela esteve lá,” Micah insistiu. “Eu vi-a com os meus próprios olhos.” Olhou para Nick, mas o homem apenas deu de ombros e abanou a cabeça.
Olhou de um rosto para o outro e percebeu que nenhum deles iria confirmar que Alicia estava na mansão. Lembrou-se dela estar na cave… a segurar a sua mão. Estava a chorar e isso iria corroê-lo até que a visse novamente e se certificasse de que ela estava bem. Não sabia o que é que tinha doído mais… se vê-la chorar ou quase ter sido morto. Olhou em volta mais uma vez, notando o facto de que o homem que estava com Alicia também não estava ali no meio da multidão.
Bufando, pressionou as costas contra as almofadas e, em silêncio, planeou descobrir quem era a amiga com a qual Alicia estava hospedada. Iria caçá-la e exigir-lhe a verdade.
“Devias estar a alucinar,” disse Jewel suavemente.
Micah olhou para a bela loira e franziu a testa. “Quem és tu?”
“Esta é a Jewel Scott Wilder,” disse Steven, colocando o braço bom à volta dos ombros dela. A Sra. Tully já tinha tratado dos seus ferimentos de balas e, de momento, restava apenas uma ligadura no outro braço. “É a minha companheira.”
“A Jewel Scott do Anthony?” Micah agora estava ainda mais confuso.
“Só se for na mente demente do Anthony,” respondeu Steven, mas não conseguia parar de chegar Jewel para mais perto de si.
Micah pestanejou e olhou para Quinn a pedir confirmação quando viu Kat aninhada com o seu irmão mais velho. Com um suspiro, questionou-se se a dose de drogas que a Sra. Tully lhe tinha dado, tinha sido assim tão forte, porque ou ele estava a ficar maluco, ou então estavam todos os outros. Olhou para a única pessoa no quarto que sabia que ainda tinha bom senso – Warren.
“Virei algum Rip Van Winkle ou quê? Quer dizer, quando fui embora… o Steven continuava solteiro e o Quinn tinha tanta inclinação para o romance quanto o Dean.”
Warren sorriu. “Muita coisa aconteceu desde que te foste embora.”
“Pronto, já fiz a minha chamada,” anunciou a Sra. Tully ao regressar ao quarto. Na verdade, ela não tinha ligado para a neta. Apenas tinha dito aquilo para lhes dar um momento a sós com Micah antes de correr com eles dali. “Agora… todos lá para fora, deixemos este gatinho descansar um pouco."
Micah rosnou para a idosa. “Eu não sou um gatinho.”
“Meu querido, até a minha gata mais nova conseguia vencer-te numa luta da forma que estás agora e ela é uma medricas, tem medo até da própria sombra,” informou a Sra. Tully. Enquanto falava, retirou uma seringa da caixa esquisita que tinha trazido consigo.
“Acho que já não preciso de mais drogas,” Micah suspirou. Tinha muita coisa para por em dia. O simples facto de ainda não ter visto Alicia fê-lo sofrer ainda mais do que os seus ossos partidos.
“E é por isso que não és o médico.” A Sra. Tully estava contente por ele ainda ter aquele estranho sentido de humor… assim que começasse a curar-se, iria precisar dele.
Micah rosnou suavemente quando a agulha se afundou no seu braço e teve que desviar o olhar. Detestava receber ordens de alguém e o que precisava agora era de localizar a irmã. Saíram todos do quarto quando ela retirou a seringa vazia do braço.
A Sra. Tully viu-os sair e, em seguida, voltou-se para Micah, que já estava a dormir. A sua família estava feliz por ele estar em casa, mas a verdade é que… ela estava preocupada com o puma. Os ferimentos eram tão graves que ela tinha ficado surpreendida por ele ainda estar vivo.
Ambas as rótulas tinham sido quebradas pelas balas e as suas costelas partidas por terem sido atingidas continuamente durante um certo período de tempo. As suas costas também pareciam ter sido esfoladas por algum tipo de chicote. Estava desidratado, desnutrido e tinha uma infeção a espalhar-se pela sua corrente sanguínea. Se fosse humano, ela ter-lhe-ia dado penicilina, mas infelizmente… antibióticos humanos não faziam qualquer efeito sobre o paranormal.
Mesmo sabendo que os mutantes se curavam bastante depressa… não significava que não podiam ficar permanentemente feridos… ou mortalmente feridos. Ela considerá-lo-ia um sortudo caso resistisse à infeção.
Olhou para Michael pelo canto do olho que ainda não se tinha ido embora e estava muito quieto sentado na cadeira. A Sra. Tully decidiu deixá-lo sozinho. Pensou muito em Michael e se ele queria ficar, então ela não o iria mandar embora. Ele era outro que também recorria a ela com frequência, mas sobretudo para lhe trazer os feridos, e nunca por se ter magoado.
Com um suspiro, a Sra. Tully arrumou o seu equipamento e levantou-se. Com um ligeiro aceno de cabeça na direção de Michael, saiu do quarto em silêncio.
Michael sabia que estava na hora de ir embora… só estava à espera que a sua raiva desaparecesse. Alicia era um furacão, mas Damon nunca a devia ter metido no meio de um tiroteio daqueles. Ainda conseguia ver o olhar possessivo no rosto de Damon quando colocou os braços à volta dela e questionou-se se a história se estaria a repetir.
O seu olhar regressou ao que restava de Micah e a imagem de Alicia a chorar enquanto segurava a mão do irmão voltou para o assombrar. Outra imagem passou-lhe pela cabeça… a imagem de Dean a agarrar na sua mão e a colocá-la sobre Kane para o impedir de morrer. Entre ele e Dean… a ferida de Kane curou-se ali, mesmo à frente deles.
Michael nunca tinha pensado nisso, mas já tinha visto Syn fazer coisas daquele tipo no passado. Houve uma vez em particular que se sobressaiu na sua mente… tinha sido há tanto tempo que ele até já se tinha esquecido.
Foi durante uma das várias excursões que fizeram e em que encontraram uma criança ferida. Sorriu ligeiramente ao recordar-se da reação de Damon e de Kane ao verem a menina. Tinha uma das pernas partidas e múltiplos hematomas em várias fases de cura.
A criança insistiu que só tinha caído, mas os rapazes sabiam que não havia nada na clareira que pudesse ter causado aqueles ferimentos. Quando Damon se ajoelhou diante da menina e começou a forçá-la a contar-lhes a verdade, Syn afastou-o dizendo: “Não podes fazer isso a uma criança inocente.”
Ofereceram-se para a ajudar a voltar para casa, mas cheiraram imediatamente o medo que surgiu dentro da criança. Mas, não era medo deles, era o medo de voltar para casa que fez o coração da menina bater mais forte. Apesar de a criança não ter dito nada, Michael sabia que os pais dela eram os responsáveis pelos seus ferimentos… e não apenas a perna partida.
Syn não disse nada à criança sobre isso e secou-lhe as lágrimas. Em vez disso, questionou-lhe sobre os irmãos e a menina respondeu que não tinha nenhum. Então ela começou a falar da sua avó que vivia nas montanhas e os seus olhos brilhavam com o seu amor de neta.
Enquanto ela falava, Syn colocou diretamente a mão sobre a perna ferida da menina. E quando ela terminou a sua história, não só a sua perna estava curada como também todos os seus hematomas haviam desaparecido. Foi aí que Syn chocou realmente Michael. Enquanto Kane pegava a menina nos braços e começava a brincar com ela, Syn aproximou-se dele e de Damon.
Olhando para Damon, disse: “Nunca deves mexer com a mente de uma criança… exceto desta vez. Ela não precisa de se lembrar dos espancamentos, mas sim das suas mortes.” O seu olhar tornou-se tão frio enquanto acrescentou: “Foi com fogo.” Com isto, Syn voltou-se e foi pelo caminho que, obviamente dava para a casa da menina.
Kane não escondeu que queria ficar com a menina e criá-la… sempre tivera um fraquinho por crianças. Todos eles tinham pontos fracos, mas os de Kane eram muito piores. Compraria uma loja inteira de brinquedos para elas só por capricho… e já o tinha feito… algumas vezes. No entanto, Syn insistiu em fazer a coisa certa e levou a criança à sua amada avó.
Na manhã seguinte, quando o sol nasceu, a notícia de que uma casa tinha ardido por completo já se tinha espalhado por toda a aldeia. Os restos mortais de um homem e de uma mulher tinham sido encontrados, mas a filha deles, uma menina pequenina, estava desaparecida.
Os quatro homens rapidamente deixaram a aldeia, montados nos seus cavalos, em direção ao que agora era conhecido como os Alpes Suíços. Após entregarem a menina aos seus familiares, Syn entregou uma carta e um saco de moedas de ouro à avó enquanto trocava algumas palavras com ela. A velhinha sorriu e abraçou Syn com força antes de pegar na sua neta ao colo.
Apesar de Syn nunca ter dito nada, eles sabiam que era o responsável pela morte dos pais da menina. Até hoje, aquilo fazia Michael estremecer quando pensava demasiado sobre isso. O código de moral de Syn recusava-se a deixar qualquer criança padecer tanta miséria e, se pudesse fazer alguma coisa em relação a isso… faria. Syn estava-se nas tintas para quem eram os pais ou para o que eles representavam. Acreditava que os pais abusivos mereciam um castigo superior ao que faziam eventualmente aos seus filhos.
Quando Michael questionou Syn sobre as suas habilidades de cura na criança, Syn apenas lhe mostrou um sorriso paciente.
“O poder reside dentro da tua alma imortal. Comparado com a imortalidade… ainda és uma criança, por isso a maior parte do teu poder ainda está adormecido. À medida que o tempo passa, esse poder vai aumentando. Quanto ao poder que tens… só a tua alma pode escolher. Se a cura é o poder que a tua alma impele, então tudo o que tens de fazer é querê-lo afincadamente.”
Olhando para trás, para o puma ferido, ele compreendeu. Ver Alicia chorar daquela maneira era motivação mais do que suficiente para fazê-lo querer aquilo mais do que tudo. Michael levantou-se calmamente e aproximou-se de Micah. À medida que se aproximava, conseguia sentir o cheiro da infeção que começava a tomar conta do corpo do puma. Se acontecesse alguma coisa ao puma, ele sabia que Alicia iria chorar, e ele não queria que ela chorasse.
Michael colocou a mão sobre o peito de Micah e recordou-se das sensações que sentiu quando ele e Dean tocaram em Kane. Concentrando-se na sua necessidade de ver Alicia sorrir, sentiu algo fluir de si para aquele que sabia que poderia fazê-la feliz. Micah começou a brilhar suavemente e Michael esperou para ver se era capaz de ver a alma de Micah como tinha visto a de Kane. Após um momento, percebeu que tinha sido o poder de Dean… não o seu.
Se mais alguém estivesse no quarto além dele, poderia ver as diferenças acontecerem. Os olhos de Michael começaram a brilhar num tom ametista profundo e a sua alma tornou-se lentamente visível, sobrepondo-se à sua forma física.
Michael conseguia sentir uma parte de si dentro do corpo do puma… fluindo através do seu sangue. Suspirou de alívio quando o cheiro da infeção começou, gradualmente, a desaparecer do quarto. Não conseguia dar uma vista de olhos debaixo de todas as ligaduras para se certificar, mas viu quando os hematomas e cortes no rosto de Micah se curaram e desapareceram por completo.
Retirando a mão, Michael deu um passo atrás, cambaleando. Levando a mão aos olhos para aliviar as tonturas, surpreendeu-se ao sentir as lágrimas se formarem sobre as suas pestanas e deslizarem até às suas bochechas. Parou por um momento ao lembrar-se que também tinha chorado quando Dean agarrou na sua mão e a colocou sobre o corpo moribundo de Kane.
Era àquilo que Syn se referia sobre desejá-lo a todo o custo? O seu coração e a sua mente teriam que estar no mesmo sítio para que aquilo pudesse acontecer?
Michael baixou o olhar para as suas mãos e suspirou. Como ele desejava que Syn estivesse ali para responder às suas novas perguntas. Syn já tinha despertado, mas tanto quanto se lembrava, nunca ficava no mesmo lugar… estava sempre só de passagem. Uma vez perguntou a Syn o que é que ele procurava, mas Syn apenas sorriu com o seu olhar distante e respondeu: “Há coisas que devem ser mantidas em segredo.”
Talvez descobrisse em breve… mas por agora, iria para casa descansar. Curar o puma tinha sido suficientemente desgastante para ele e precisava de descansar para recuperar as forças. Olhando para Micah, Michael decidiu que tinha mais uma coisa a fazer para encobrir os seus rastos e reunir os irmãos.
Colocando uma mão sobre o rosto de Micah, sussurrou o seu nome, obrigando o puma a acordar para escutar as suas palavras. Quando Micah pestanejou, Michael disse-lhe que iria manter o paradeiro de Alicia em segredo até que ele pudesse ir atrás dela.
*****
Trevor parou o carro em frente ao Moon Dance antes de o fazer embater contra o parque. Ver Envy ferida tinha-lhe tirado dez anos de vida… ou pelo menos foi assim que se sentiu. O facto de ela ter sido alvejada daquela maneira só confirmava que ele tinha feito a coisa certa ao impedi-la de saber a verdade sobre o mundo paranormal e do seu envolvimento com ele por tanto tempo. Ao preservar os seus segredos, tinha-a mantido fora da zona de perigo.
“Lar doce lar,” resmungou sem olhar para eles. Saindo de trás do volante, Trevor deu a volta ao carro para ir abrir a porta para Envy, mas Devon chegou primeiro.
Devon lançou um olhar diabólico a Trevor quando este os seguiu até ao interior da casa, mas não disse nada. Devon odiava o facto de estar em dívida para com Trevor por este ter salvado Envy… mas odiava ainda mais por ser Trevor a quem ele devia esse favor.
“Não é preciso entrares connosco,” propôs Envy, tentando dispersar o ar tenso à volta dos dois homens. Até lhe lançou um pequeno sorriso e um aceno de cabeça para que soubesse que ela não estava só a ser má, mas que agradecia realmente a sua ajuda.
Os olhos de Trevor se suavizaram quando trocou um olhar com Envy. “Sentir-me-ia melhor se soubesse que estão a cuidar bem de ti.”
Envy sentiu-se encolher por dentro… sem dúvida de que aquilo não era a coisa mais apropriada para dizer.
“Estás a dizer que não posso tomar conta da Envy?” Devon parou e exigiu saber assim que chegaram às escadas que davam para os aposentos.
“Não com essas palavras,” Trevor respondeu enquanto seguia Envy pelas escadas acima.
Os olhos de Devon alargaram-se e correu escadas acima atrás de Trevor, empurrando-o com força contra a parede. “Então explica-me lá, ursinho carinhoso.”
Trevor encolheu-se contra a parede. “Com certeza, gato bravo… És uma porcaria!
“Vai para o inferno!” Devon rosnou alto.
“Estou a ter um flashback dos desenhos animados da manhã de sábado a vir aí,” murmurou Envy e esfregou a testa. “E que tal vocês os dois pararem de pulverizar testosterona por todo o lado e se portarem bem para variar? Estou com uma enorme dor de cabeça, dói-me imenso o braço e a última coisa que preciso é que comecem a discutir para ver quem é o melhor.” Olhou para Trevor. “Cala-te ou vai para casa, neste momento não me interessa qual.”
Devon fez um sorriso gozão até que Envy virou o seu olhar furioso para ele. “E tu… tenho o direito de negar-te gatinho. Continua assim e limitar-te-ás a miar do outro lado da vedação.”
Tabatha estava há algum tempo à espera de ouvir alguma coisa quando ouviu Devon mandar Trevor para o inferno. Abriu a porta mesmo a tempo de ver Envy a repreendê-los e não pôde deixar de rir. Pelo menos já não estava só.
“Os rapazes estão outra vez a portar-se mal?” Tabatha perguntou.
“Nem fazes ideia,” resmungou Envy enquanto entrava no escritório de Warren com Trevor e Devon, agora silenciosos, atrás de si.
Envy tirou o casaco dos ombros e os olhos de Tabatha se arregalaram ao ver a ligadura ensanguentada à volta do seu braço. Começou a ter um flashback dela e Envy a serem feitas de reféns por Raven e o seu gangue de sanguessugas, mas afastou forçosamente aquela visão fechando-a à chave no seu cofre mental.
“Será que um de vocês os dois pode ir buscar o estojo de primeiros socorros?” Tabatha perguntou enquanto dava uma vista de olhos a Envy para se certificar de que o ombro era a única lesão.
“Eu vou buscar,” respondeu Devon, entrando na casa de banho de Warren.
“O que aconteceu?” Tabatha exigiu saber quando desembrulhou a ligadura e viu por onde a bala tinha passado de raspão no braço da amiga.
“Levei um tiro, fui rosnada, quase arranhada e quase superei uma explosão,” disse Envy arreganhada, mas o seu sorriso logo desapareceu quando notou o olhar de preocupação no rosto da amiga. “Estou bem, juro,” acrescentou rapidamente.
Ignorando Envy, Tabatha olhou para Devon quando ele regressou ao quarto. “Onde raio é que estavas quando a Envy foi alvejada?” Não se conteve. “Esta é a minha melhor amiga e era suposto tomares conta dela!”
Trevor riu interiormente, satisfeito por alguém além dele estar finalmente a dar uma verdadeira reprimenda a Devon.
“A lutar pelas nossas vidas,” disse Devon em sua defesa. “Não conseguia chegar até ela, mas aqui o Winnie the Pooh conseguiu tirá-la de lá.”
“Isso foi depois da Hello Kitty ter deixado que ela se separasse dele,” terminou Trevor, tentando não dar uma gargalhada ao pensar que Devon ainda achava que ele continuava a ser um homem-urso… se Devon sequer soubesse a verdade sobre o que ele realmente era… A sua vontade de rir dissipou-se quando o seu olhar voltou a Envy. Se Devon soubesse a verdade, então Envy também saberia, e ele estava farto de ser envolvido nas suas mentiras por ela.
Tabatha e Envy trocaram um olhar resignado e Envy murmurou a palavra ‘socorro’ sabendo que Tabatha iria entender.
“Ei Trevor, podes dar-me boleia até casa?” Perguntou Tabatha, tentando tirar Trevor da sala antes que Devon lhe arrancasse a cabeça… ou Envy desse cabo dos dois.
Trevor suspirou e enfiou as mãos nos bolsos. “Claro, vou andando para baixo a ligar o carro.”
Uma vez que Trevor saiu solenemente, Envy lançou um olhar de alívio a Tabby. “Obrigada!”
Tabatha sorriu. “Não me agradeças, porque agora vocês os dois estão a dever-me uma.”
“Vou dar-te tudo o que tenho!” Devon exclamou com um sorriso.
“Isso inclui a Envy?” Tabatha perguntou, com os olhos a brilhar.
“Nem pensar,” Devon respondeu, piscando-lhe o olho.
Tabatha fez uma cara de desilusão. “Bem, assim não tem piada.”
Envy riu-se quando Tabatha saiu do quarto toda empinada, batendo a porta ao sair.