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O Coração do Tempo

O Cristal do Coração Guardião Livro 1

Amy Blankenship

Tradução em português (BR) por Hilton Felício dos Santos

Copyright © 2008 Amy Blankenship

Edição em inglês publicada por Amy Blankenship

Segunda edição publicada por Tektime

Tradução em português do Brasil por Hilton Felício dos Santos ─ Todos os direitos reservados

A lenda do Coração do Tempo

Os mundos podem ser diferentes, mas as lendas verdadeiras nunca se esvanecem.

A escuridão e a luz têm se digladiado desde o início dos tempos. Os mundos são formados e esmagados sob os pés de seus criadores, mas a necessidade do bem e do mal nunca foi questionada. Entretanto, algumas vezes um novo elemento entra em cena, a única coisa que ambos os lados desejam, mas que só um pode ter.

Paradoxal em natureza, o Cristal do Coração Guardião é a única constante que ambas as partes se esforçam para alcançar. A pedra cristalina tem o poder de criar ou destruir o universo conhecido e, num instante, terminar toda a luta e sofrimento. Alguns dizem que o cristal tem mente própria... outros, que os deuses estão por trás de tudo.

Todas as vezes que o cristal apareceu, seus guardiões estiveram sempre prontos a defendê-lo de todos que poderiam usá-lo egoisticamente. Suas identidades não mudam e eles amam com a mesma intensidade, não importando o mundo ou a época.

Uma jovem está no centro desses antigos guardiães atraindo seus afetos. Ela encerra dentro de si o poder do cristal. É a portadora do cristal e a fonte de seu poder. Nem sempre os limites são claros, e proteger o cristal lentamente se transforma em proteger a sacerdotisa dos outros guardiões.

Esse é o alimento que sustenta o coração da escuridão. É a oportunidade de enfraquecer os guardiões do cristal e torná-los frágeis ao ataque. As trevas desejam o poder do cristal e a jovem do mesmo modo que um homem deseja uma mulher.

Dentro de cada uma dessas dimensões e realidades você encontrará um jardim secreto chamado Coração do Tempo. Ali, a estátua de uma jovem sacerdotisa humana está ajoelhada. Ela está cercada por uma magia milenar que mantém seu tesouro secreto oculto e bem conservado. As mãos da donzela estão estendidas como se esperassem receber algo precioso.

A lenda diz que ela está esperando que a poderosa pedra chamada Cristal do Coração Guardião volte para ela.

Somente os guardiões conhecem o verdadeiro segredo que a estátua esconde e como ela veio a existir. Antes dos cinco irmãos inalarem seus primeiros alentos, seus ancestrais Tadamichi e Hyakuhei, irmãos gêmeos, protegeram o coração do tempo durante o período mais negro da história. Durante séculos, os gêmeos protegeram o lacre que impediu o reino dos demônios se sobrepor ao mundo dos homens. Foi uma tarefa foi sagrada, pois tanto as vidas dos homens quanto a dos demônios deveriam continuar seguras e secretas uma da outra.

Inesperadamente, e durante o reinado dos gêmeos, um pequeno grupo de humanos penetrou acidentalmente no mundo dos demônios por causa do cristal sagrado. Durante essa época de turbulência, seus poderes romperam o lacre que separava as dimensões. O líder do grupo de humanos e Tadamichi rapidamente se tornaram aliados e fizeram um pacto para fechar a fenda, refazer o lacre, e manter os dois mundos separados um do outro para sempre.

Mas durante este período, Hyakuhei e Tadamichi se apaixonaram pela filha do líder humano.

A fenda fôra reparada por Tadamichi e pelo pai da jovem contra a vontade de Hyakuhei. A resistência do lacre tinha sido aumentada dez vezes e separava o perigoso triângulo amoroso para sempre. O coração de Hyakuhei estava destroçado, pois seu próprio irmão de sangue, Tadamichi, o tinha atraiçoado ao se assegurar que ele e a sacerdotisa estavam separados para sempre.

O amor perdido pode se transformar no pior dos sentimentos. Ciúme e raiva maliciosa nasceram no coração partido de Hyakuhei e a guerra entre os irmãos gêmeos terminou com a morte de Tadamichi e a separação de suas almas imortais. Os fragmentos de sua imortalidade criaram cinco novos guardiões para vigiarem o lacre e protegê-lo de Hyakuhei que tinha se unido aos demônios dentro do reino do mal.

Preso dentro das trevas, ele se transformara. Hyakuhei expulsou todos pensamentos de proteger o coração do tempo e, em vez disso, voltou toda sua energia fazer o lacre desaparecer totalmente. Sua longa cabeleira meia-noite passava dos joelhos. e seu rosto, típico dos mais sedutores, escondia o verdadeiro mal sob uma aparência angelical.

À medida que a guerra começava entre as forças da luz e das trevas, uma luz azul ofuscante foi emitida da estátua santificada indicando que a jovem sacerdotisa tinha renascido e o cristal tinha ressurgido do outro lado.

Enquanto os guardiões são atraídos para ela e se tornam seus protetores, a batalha entre o bem e o mal começa de verdade. Donde a entrada no outro mundo, onde a escuridão é dominante dentro do mundo da luz.

Essa é uma de suas muitas aventuras épicas...

Capítulo 1 ─ Lembranças destroçadas

“Kyoko!”

O grito de raiva de Toya podia ser ouvido por toda a floresta. À medida que o som de seu grito desesperado se esvanecia, um silêncio mortal tomou conta de tudo enquanto todos os olhos estavam postos no próximo movimento de Hyakuhei.

Nada poderia impedir o que houve. Tudo aconteceu num instante para que alguém pudesse reagir. O que aconteceu deixou os cinco guardiões paralisados de medo. Não podiam crer que tinham se unido como protetores do cristal do coração guardião na luta contra Hyakuhei, apenas para vê-lo vencer, somente para perder a única pessoa que todos eles amavam e protegiam.

Ali, pairando no centro do campo de batalha, o pesadelo que mais temiam tornava-se realidade.

Hyakuhei susteve Kyoko contra si enquanto descia o olhar para seu rosto aterrorizado. A metade inferior de seu corpo começava a fundir-se ao seu, justamente como ele havia planejado. Ele tentava lentamente absorvê-la e ao Cristal do Coração Guardião em seu corpo para o vazio interior de sua alma. Todos os que viam a cena podiam observar a corrupção progressiva do cristal enquanto ele era invadido pelas trevas nascidas do mal.

As mãos de Kyoko estavam contra o peito de Hyakuhei enquanto ela o empurrava freneticamente para longe e tentava, com toda sua força, livrar-se desse líder dos guardiões transformado em um demônio que ria de seus esforços.

Hyakuhei sentia o poder correndo sob sua pele e sangue e se divertia muito com os débeis esforços que ela fazia para escapar. Sua longa cabeleira negra envolvia a ambos como se tivesse vida própria. As extremidades sedosas das mechas meia-noite desciam por trás de Kyoko como uma cinta de ferro para restringir ainda mais o pequeno corpo dela contra o seu.

Kyoko sentia-se indefesa enquanto lutava para evitar a fusão de seu corpo com o dele. Ela não queria cair no frio vazio das trevas da alma dele. Sentia que todos os demônios ali a esperavam. Quanto mais era sugada pelo corpo dele, mais fria ficava a parte do corpo absorvida. Suas pernas sentiam agulhadas geladas, como se o gelo sob a pele fosse um milhão alfinetes espetando-a de uma só vez.

Ela sabia que se não fizesse algo rapidamente, eles estariam perdidos. Podia ver os cinco irmãos que a tinham protegido nos últimos anos parados e observando a cena. Todos eles queriam ajudá-la, mas tinham muito medo de tentar enquanto ela estivesse sendo usada como escudo.

Ela não queria ser derrotada por esse traidor dos guardiões. Ele era seu próprio tio! Por que tinha se voltado há tanto tempo contra seus sobrinhos? Os olhos cor de esmeralda de Kyoko voltaram-se para a retaguarda e fixaram o inimigo numa fúria cheia de medo. Isso não podia estar acontecendo! Não depois de tudo o que ela passara. Tudo isso era sua culpa.

Seus olhos se estreitaram encarando Hyakuhei sombriamente. Ela havia trazido o cristal a esse mundo e pretendia tirá-lo dele, nem que tivesse que levá-lo consigo diretamente ao inferno.

Kyou parou a não menos de seis metros e sacou a ‘Hakaisha’ rapidamente, sua espada de destruição, tomado por uma fúria cega. Não estava gostando do pensamento de seu tio, seu inimigo, tocando a única jovem humana a quem ele tinha aprendido a respeitar. Ela parecia estar tão perigosamente fragilizada nos braços daquele homem enfurecido, a luta agora era da pureza contra a maldade.

O senhor do reino do guardião, Kyou, o mais velho dos cinco irmãos, não podia fazer nada sem ferir Kyoko na tentativa. No seu íntimo, sabia que o Cristal não tinha o poder de feri-lo, porque ele tinha usado um feitiço para bloquear todos os feitiços antes da batalha. Estava preparado para o caso de Hyakuhei tentar usar o Cristal do Coração Guardião.

Mas isso, ele não tinha previsto. Não queria que Kyoko fosse ferida, nunca, não enquanto pudesse evitar.

Ele não lutou quando os fantasmas demoníacos das trevas enviados por Hyakuhei saíram da terra como se vindos de um pesadelo oculto subjugando letalmente seu corpo para imobilizá-lo. Kyou viu Toya e notou a fúria ardente nos olhos prateados de seu irmão mais novo.

Hyakuhei tinha envolvido Toya num ataque violento de fantasmas demoníacos, tentando mantê-lo na trilha, mas Toya ainda lutava vingativo contra eles. No intimo, Kyou agradecia pelas restrições impostas ao seu irmão ─ sem elas Toya certamente atacaria sem olhar as consequências. Vendo Kyoko em tal perigo Toya perdeu a calma.

Kyou podia sentir o poder protetor de Toya ficar mais forte a cada pulsação, juntamente com seu poder e o poder de seus irmãos.

A menos de três metros, o olhar gelado de Kotaro revelava sua surpresa. Ele não queria ver Kyoko machucada, mas não podia fazer nada para evitá-lo. Seus braços sangravam por causa da luta e suas pernas não estavam em melhor estado. Enquanto procurava ficar em pé, sentia-se fraco para revidar, no momento só lutava contra a dor. Ainda estava gelado de medo pela jovem que amava acima de tudo.

”Não se atreva a feri-la, ou eu vou de caçar até no inferno, Hyakuhei”, Kotaro murmurou com voz rouca e dentes cerrados enquanto seus olhos azuis ardiam pela necessidade de retaliar. O próprio ar à sua volta parecia viver vingança; escombros esvoaçavam em seu entorno por causa da ventania.

Kamui estava assustado, mas ver Kyoko lutando nos braços de Hyakuhei não saia de sua cabeça. Poeira multicolorida brilhava de seu olhar enfurecido. Sem pensar nas consequências, Kamui correu diretamente para Hyakuhei com ferocidade e coragem inconcebíveis vindas de seu amor pela sacerdotisa como todos podiam ver.

Os demônios das sombras que seguiam Hyakuhei o repeliram, golpeando-o com força e lançando-o contra a sujeira no meio de escombros esvoaçantes.

Kaen agarrou Kamui com força, soltando fogo pelos pés enquanto saltava para um ponto seguro sempre zelando pelo guardião mais novo durante a batalha. Com Kamui no chão e fora de perigo, Kaen olhou Hyakuhei com fúria e se pôs entre o jovem guardião e o perigo.

Suki estava de joelhos, ainda amparando o pai em seus braços. Seu pai já sem vida, e agora seu ódio por Hyakuhei fervia dentro dela incitando seu desejo de matar Sennin. Seu olhar agora se fixava em Kyoko, desejando que ela pudesse salvar seu melhor amigo do mesmo destino cruel que aniquilara o sábio ancião.

Shinbe se pôs protetoramente na frente de Suki, bloqueando com seu corpo a visão de Hyakuhei. O vento que vinha da fúria de Kotaro soprava a cabeleira azul meia-noite de Shinbe sobre seu rosto e dava-lhe uma expressão enfeitiçada ao seu familiar olhar ametista. Sua preocupação por Kyoko aumentava enquanto ele sentia o poder do Cristal aumentar.

“Não...”, a palavra lhe escapou como se o vento o tivesse nocauteado. Shinbe sabia que se Hyakuhei obtivesse pleno poder sobre o cristal do coração guardião, ambos os mundos ficariam sob grande perigo. Lágrimas quentes escorriam pelo seu rosto, enquanto ele sentia o coração partido pelo fato de não poder fazer nada “...Kyoko”.

Hyakuhei olhou os inimigos em volta que tinham obstruído seu caminho durante tanto tempo, a própria descendência de seu irmão. Ele sabia que receavam atacá-lo porque mantinha Kyoko como escudo; podia sentir a raiva crescente no entorno de si.

Suas asas cor de ébano se abriram escurecendo sua retaguarda assim como os seus olhos, igualmente escuros, fixavam a jovem em seus braços. “Eles procuram protegê-la”. Afirmou em voz calma e suave, como se fossem meros espectadores e não estivessem no meio de uma batalha.

Ele podia sentir que o sagrado cristal do coração guardião ainda estava visível no centro de seu peito nu. O amor dela pelos guardiões que lutavam para protegê-la era a única coisa que detinha ainda a penetração completa do cristal no seu corpo e que lhe dava o poder que desejava.

A pureza desse amor era seu poder e ela o usava para afastá-lo do cristal; ele podia senti-lo. Mas também sentia o poder que já corria por suas veias levando-o a querer mais.

Seus olhos suavizaram-se por um momento, enquanto ele sussurrava como se falasse com seu amor. “Não é o bastante”.

Hyakuhei decidiu que usaria o poder já conquistado do cristal contra Kyoko para destruir o vínculo de amor que envolvia o pequeno grupo. Sabia que tinha de detê-la, porque somente seu poder era tão forte como o cristal que ela outrora levara dentro de si. O mesmo cristal que uma vez permitira que amasse, somente para depois lhe arrancar cruelmente esse amor.

Ele encostou o rosto de Kyoko no seu e lhe beijou os lábios inocentes. Encarando seus tormentosos olhos verdes, usou o poder do cristal do coração guardião para entrar em sua mente.

Hyakuhei pesquisou as lembranças que ela tinha dos guardiões e que lhes eram tão caros; ele os tiraria dela. Ao roubar suas lembranças das pessoas contra quem lutara ele enfraqueceria o poder dela e reforçaria o seu.

Kyoko não podia piscar. Sentiu as garras malignas dele dentro da mente tentando destruir suas memórias, procurando tirar dela o motivo pelo qual lutava. Seus amigos, todos eles, ela não podia consentir.

Kyoko sentiu que perdia o controle e que apenas uma coisa restava para usar contra ele, justamente aquilo que ele tentava tomar para destruir. Seus olhos cintilaram com a raiva não mais reprimida. Ela agarrou sua cabeleira de seda meia-noite com as mãos e encostou sua testa na dele, tremendo com a onda de poder.

Sua voz atravessou o silêncio do campo de batalha quando ela gritou: “Você deseja-o tanto assim?” TOME AQUI!! Pode levar!

Os olhos dourados de Kyou brilharam intensamente enquanto o medo o atravessava como a lâmina de uma faca aquecida. O que a sacerdotisa está fazendo? Ele sabia que algo estava terrivelmente errado. Sentiu que seus poderes psíquicos estavam se manifestando e insistiam que ele devia atendê-los antes que fosse tarde demais. Resistiu a esse poder e penetrou na mente de Kyoko tentando ver o que acontecia. Ele teria caído de joelhos com o que viu se os demônios das sombras não estivessem tão próximos em torno dele mantendo-o imóvel.

As imagens e sons ficariam gravados para sempre em sua memória visual e Kyou, de alguma forma, sabia que ele nunca seria capaz de se livrar dos sentimentos que o invadiam. Porque compreendeu, quando penetrou na mente dela, que Kyoko tinha guardado sentimentos de amor por ele e pelos seus irmãos. Podia sentir cada toque e emoção acariciá-lo e cada lágrima oculta destruindo-o como se ele fosse ela.

Kyou também tinha a alma abalada pela pressa, pois compreendia que Kyoko tinha mais poder do que jamais pensara ter sem ao menos estar consciente disso. Podia ver e sentir cada lembrança que passava da mente dela para a de Hyakuhei como se fossem cravadas no seu coração para não serem nunca liberadas por ele.

Anos de amor, tristeza e sacrifício, tudo chegando num instante.

Lágrimas de tristeza escorriam pela face de Kyoko enquanto ela transmitia para a mente de Hyakuhei cada lembrança de amor, amizade, dor e sentimentos secretos que nutrira por todos com quem havia lutado. Era a única arma que lhe restava.

Instantaneamente, o demônio de Hyakuhei tinha se desequilibrado. Todos sentiram a troca de poder quando o cristal começou a cintilar entre o escuro e o branco ofuscante e as aparições sombrias que seguravam Toya e Kyou se desintegraram no ar.

Kyoko viu como o anjo da escuridão se confundiu, sua face pálida e perfeita ficando contorcida pela dor.

Logo que se viu livre, Kyoko esticou suas mãos pequeninas e agarrou o cristal arrancando-o da carne dele. Ela sabia o que tinha feito, porque já podia sentir sua mente livre da luta e com as lembranças que não queria perder. Lágrimas cristalinas desciam pela sua face, já marcada por prantos anteriores.

Ela tinha desistido de suas lembranças para poder salvá-las como um todo. Rapidamente, antes de perder a consciência, segurou o cristal do coração guardião contra seu próprio peito, do lado de seu coração.

Vendo Toya e Kyou saltarem para ficar ao seu lado, ela sussurrou: “Lembrem-se de mim, e por favor, me encontrem”.

A última coisa que Kyoko percebeu enquanto sua visão gradualmente se esvanecia, foi o grito de ambos chamando seu nome e tentando alcançá-la. Um com lágrimas douradas nos olhos e o outro, com lágrimas prateadas.

Kyou podia sentir Kyoko se esvanecendo e lhe ocorreu que ela morria. Ele ao saltou mesmo tempo de Toya, tentando desesperadamente alcançá-la quando tudo mudou, como uma gota d'água no olho. De Kyoko saíam ondas enquanto ela se esvanecia no ar. Kyakuhei soltou um grito de raiva e também se esvaneceu.

A mente de Kyou disparou quando o grito de seu irmão uniu-se ao seu e parou de repente, como se o som tivesse sido cortado num piscar de olhos. Ele soube, então, que Toya também havia se esvanecido. Kyou desceu suavemente no local vazio onde seu alvo tinha estado um segundo antes. Fuzilou com um olhar incrédulo e furioso os arredores. Todos tinham desaparecido.

Kyou sentiu a adrenalina percorrendo suas veias e misturando-se com seu nobre sangue de guardião. Havia visto e sentido tudo. Agora ele era dono de todas as memórias dela. Kyoko tinha dado tudo de si para salvá-los, e no último segundo ele tinha ouvido seu desejo. Provavelmente, ela nem sabia o que tinha feito, mas tinha levado todos consigo e o deixado para trás.

O feitiço que ele lançara em torno de si como proteção contra o cristal sagrado o impedira de acompanhar os outros. Com apenas algumas palavras murmuradas, ela tinha tirado tudo dele.

Seu corpo manteve-se altaneiro e orgulhoso. Sua longa cabeleira prateada flutuava em torno dele, e a seda branca de sua camisa tremulava com a brisa como se ele estivesse enfrentando uma tormenta invisível, igual a tempestade que trazia dentro do peito atormentado.

Sua aparência enquanto comtemplava o campo de batalha era a de um anjo majestoso, poderoso e perfeito. Mas houve um momento em que levou a mão ao rosto para afastar uma lágrima solitária que não pôde segurar.

Kyou flutuava num redemoinho de plumas douradas das asas que lhe haviam brotado, e o cercavam com grande esplendor dourado revelando sua identidade pela primeira vez de sua vida eterna.

O único ferimento que a batalha havia lhe causado era o corte que aparecia através do coração, um coração que ninguém sabia que ele possuía. Seu olhar deteve-se na estátua da jovem a poucos metros de distância e ele sussurrou, “Kyoko, eu não te abandonei. A distância de mais de mil anos não basta para me impedir de te achar de novo!”

Capítulo 2 ─ O lado oposto

No outro lado do Coração do Tempo, dois anos depois, e mais de mil anos no futuro.

A carta estava endereçada para o santuário de Hogo. O avô Hogo olhou o envelope elegante que o mensageiro lhe entregava quando voltava para a mesa onde tomava chá. Antes da batida na porta, ele desfrutava a paz e quietude daquela casa, geralmente tão agitada.

Todos haviam saído para aproveitar a tarde. Tama estava num salão de jogos na cidade com uns amigos, Kyoko tinha ido à biblioteca para estudar, e a sra. Hogo fora fazer compras no mercado.

Apanhando uma pequena faca sobre a mesa, o avô deslizou cuidadosamente a lâmina afiada através do envelope de bordas douradas. Pegou uma carta com firma reconhecida em papel grosso de bordas douradas de dentro do envelope e começou a lê-la. Quanto mais lia mais atônito ficava. Tratava-se de uma bolsa de estudos, uma bolsa de estudos completa numa escola muito cara e em um subúrbio do outro lado da cidade.

“Universidade K.L.” Sua voz de ancião mostrou assombro, pela primeira vez em muitos anos. Enquanto lia, percebia que todos os custos estavam cobertos, até mesmo o custo do dormitório onde ela ficaria. A carta estava assinada pelo fundador da escola pela sua rubrica K.L.

O rosto enrugado do avô abriu-se no mais luminoso dos sorrisos. Kyoko iria ficar mais feliz do que nunca. Ele sabia que ela estava preocupada de não ser aceita em nenhuma academia por ter faltado tanto à escola, e agora, ela estava indo para uma melhor que qualquer outra da região.

Franziu o sobrolho, pensativo. A admissão nessa escola era a mais difícil de todas e ele não sabia de ninguém que tivesse tido a inscrição aceita. Havia também um boato que pouquíssimos estudantes eram aceitos por causa dos requisitos excessivamente rigorosos apenas para fazer a inscrição. Como ela tinha sido aceita num lugar para o qual nem tinha feito a inscrição?

Sua mente recapitulou os dois últimos anos. Kyoko tinha levado algum tempo para entrar de novo no clima do dia a dia depois tinha voltado da casa do santuário tão desorientada. Todos tinham ficado confusos quando ela aparecera repentinamente, pois ela não tinha lembrança alguma do tempo em que estivera ausente.

A família Hogo sabia onde ela havia estado, porque ela tinha ido e vindo através do portal do tempo muitas vezes. Kyoko era a única com amnésia súbita a respeito do ocorrido

Ela nem se lembrava de Toya. Mas para o avô tudo estava bem, pois ele achava melhor que ela não tivesse lembrança alguma do guardião da travessia do portal. Era melhor que ela esquecesse tudo sobre o outro lado e o perigo que tinha trazido.

Seus olhos ficaram tristes por um momento. Sim, a família sabia quase tudo que tinha acontecido, porque Kyoko ia e vinha entre os mundos e, enquanto neste lado, ela os colocava a par dos últimos acontecimentos. O avô também podia afirmar que ela escondera boa parte do que não queria que eles soubessem. Coisas que agora eles jamais saberiam, pois ela tinha esquecido esses segredos.

Mesmo depois de Tama, sua irmã mais nova, ter lhe contado muito do que sabia, ela apenas balançava a cabeça e abaixava os olhos. Apenas se lembrava de ter estado sozinha em outro mundo. Um mundo cheio de monstros.

O avô franziu os lábios enquanto refletia. Ele sabia que as coisas tinham se endireitado porque Kyoko dissera que se lembrava de algo sobre o Cristal do Coração Guardião voltando para dentro dela e que isso não ocorria mais. Depois de algumas semanas, ela já se dedicava inteiramente aos trabalhos escolares e estava tirando ótimas notas; então, tudo tinha valido a pena. O avô ouviu a porta da frente se abrindo e sorriu abertamente.

Beijando a carta como se fosse um amuleto sagrado de boa sorte, viu sua neta indo para a cozinha. Kyoko adoraria essas notícias.

*****

Três semanas depois...

Olhos amarelos demoníacos observavam a jovem do passado se aproximar da academia. Ele a encontrara e, de alguma maneira, faria o que era certo novamente. Sentiu sua aparência humana se desvanecer por um instante, quando seus olhos brilharam como ouro líquido na lembrança de tudo que tinha acontecido naquele dia fatídico no meio da batalha cruenta.

Os raios do sol da manhã entraram pela janela projetando uma estranha sombra de asas atrás dele. Ergueu as mãos com garras e estreitou os olhos observando suas garras recuarem para o interior de seu disfarce humano.

Voltando seu olhar de assombração para a sacerdotisa, ele acalmou internamente seus poderes. Era chegado o momento. Com a pureza de Kyoko, sentiu o despertar da maldade dentro de si. A batalha inacabada estava prestes a começar. Dessa vez, ele não cometeria o mesmo erro.

Kyoko olhou o imenso edifício. Teve a mesma impressão de estar olhando o grande castelo de algum passado desconhecido. Sorriu intimamente; não pôde evitá-lo. Ela ainda estava muito feliz depois que soube da bolsa de estudos e pelo fato de que podia mesmo morar ali.

Voltou-se para Tama. Ele fôra de grande ajuda tendo vindo em seu auxílio, carregando sua bagagem e ajudando-a a se instalar. Kyoko estava contente por ter falado com sua mãe e avô quando estava em casa e ter podido se despedir deles. Estava meio tonta com tanta liberdade e respirou fundo para saboreá-la.

“Kyoko, você vai ficar aí o dia inteiro, ou vai em frente procurar o dormitório?” Tama se queixou, apesar de também ter ficado impressionado com a vista. Ele olhou para cima, pasmado com o gigantesco arco que levava ao portão principal.

Kyoko olhou o mapa e apontou para o enorme edifício ligado ao lado direito da escola. “Deve ser aquele edifício”. Ela virou-se para Tama dando uma piscadela. “Obrigada pela ajuda hoje de manhã”.

Tama sorriu, um pouco embaraçado. “Claro Kyoko, afinal, vou ficar um pouco livre de você e só isso já me compensa”. Partiu agachado tentando escapar dela morrendo de rir.

Kyoko começou a correr atrás dele, mas parou no meio do caminho sentindo-se observada.

Enquanto a brisa afastava seu cabelo ruivo-castanho do rosto, ela olhava o edifício perguntando-se que olhos eram esses que a espreitavam, já que não via ninguém. Vinha percebendo coisas estranhas nos últimos anos, e sabia que, sem dúvida alguma, alguém a espionava de perto. Quase sentia que a tocavam.

Pensou ter percebido algum movimento na janela de cima, mas ao fixar o olhar, não viu nada. Kyoko soltou um suspiro e compreendeu que a sensação de estranheza tinha passado. Suavemente mordeu o lábio sentindo-se decepcionada em partir. Desistindo por fim, ela finalmente alcançou Tama e entraram juntos no prédio. Ambos ficaram paralisados quando olharam em volta.

“Esse lugar é assombroso”, murmurou Tama, olhando e acrescentado com voz séria. “Cuidado com esse mapa, conhecendo-a bem, digo que você pode se perder aqui”.

Kyoko fingiu que não ouviu enquanto seus olhos vagavam pelo interior do saguão principal. O salão onde estavam tinha uma altura de três andares e uma escadaria que subia em espiral para os outros pisos. Num dos lados havia uma enorme biblioteca; o outro lado parecia abrigar uma área de recreação e, bem no meio, existia um gigantesco candelabro pendendo lá do alto do teto abobadado.

´Realmente, detestaria vê-lo cair´, disse ela para si mesma.

Embaixo do candelabro, uma área de estar com móveis luxuosos. Os estudantes estavam já ativos e empenhados em seus afazeres, embora ainda fosse bem cedo da manhã. Ela quis chegar o mais cedo possível e agora eram 7h30; olhou o mapa novamente perguntando-se para onde deveria ir em seguida.

Suspirando, olhou por cima do ombro para Tama e apontou a escada em espiral em frente deles. Tinham quatro maletas entre eles, pois Kyoko estava mesmo de mudança e elas estavam pesadas.

Tama fez cara desanimada. “Você deve estar brincando”. Ele soltou a alça da maleta maior reconhecendo que os rodízios não serviriam para nada dessa vez. “Só tenho 12 anos, sabia?”

Ela ergueu os ombros determinada.

Kyoko se surpreendeu quando uma voz masculina atrás dela disse: “A senhorita chama-se Kyoko Hogo”?

Ela imediatamente virou-se e respondeu: “Sim”

Seus olhos se arregalaram quando encarou o belo jovem que perguntava. Tinha surpreendentes olhos azuis e uma longa cabeleira escura puxada para trás em rabo de cavalo. Enquanto olhava admirada, sentiu uma brisa estranha passar pelo seu rosto. As pontas de seu cabelo lhe fizeram cócegas na face enquanto a brisa soprava.

Ele estava lhe sorrindo de maneira atraente. Então, para sua surpresa, ele estalou os dedos e dois camaradas apareceram não se sabe de onde, pegaram a bagagem e subiram a escada com elas. Os olhos de Kyoko mostravam assombro, mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, o outro sujeito levou suas mãos ao lábio e beijou-as como se ela fosse uma princesa.

“Meu nome é Kotaro. Não gostaria de ver alguém tão linda como você tendo que carregar algo tão pesado. Agora, siga-me para que eu lhe mostre seu dormitório”. Kotaro começou a subir as escadas confiantemente, de mãos dadas com ela.

O calor repentino que percorreu seus dedos e subiu pelos braços, continuou se espalhando pelo corpo de Kotaro e despertando seu sangue de guardião. Esse era um segredo que pretendia guardar. Kotaro apertou a mão dela ligeiramente sabendo que ela era quem esperara tão pacientemente. Sentira no momento em que ela entrara na sala.

Kyoko ergueu a sobrancelha delicadamente e pensou consigo mesma: “Deuses, salvem-me de homens corteses. Onde é que vim parar?”

Virando-se, ela encolheu os ombros para Tama, que estava ali de boca aberta. Kyoko levantou a cabeça para o lado e ergueu uma sobrancelha. “Tama, tenha cuidado, você vai acabar pegando uma mosca se ficar assim.” Antes que ele pudesse se recompor, ela virou-se e seguiu a figura ágil do sujeito que ela só sabia chamar-se Kotaro.

Mentalmente, ela marcou um ponto a seu favor, no marcador secreto e imaginário que mantinha entre ela e Tama. Ela o ouviu bufar atrás dela enquanto subiam as escadas e soube que estava ganhando o jogo.

Cruzaram então com um sujeito que descia as escadas. Quando ele passou sem olhá-la ela sentiu um aperto no coração e parou de respirar. O silêncio se fez quando ele passou por ela quase que em câmera lenta. Então, tudo voltou ao normal enquanto seu coração bateu uma vez menos e depois se acelerou.

₺145,54
Yaş sınırı:
0+
Litres'teki yayın tarihi:
14 aralık 2019
Hacim:
300 s.
ISBN:
9788893988711
Telif hakkı:
Tektime S.r.l.s.
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