Kitabı oku: «A mentira mora ao lado », sayfa 3
CAPÍTULO QUATRO
Elas voltaram à sede do FBI duas horas depois, e Chloe sentia que já havia evidências mais do que suficientes para que houvesse um suspeito sob custódia até o fim do dia. O vídeo do Snapchat era o que de mais poderoso elas haviam encontrado, mas elas também acabaram encontrando duas digitais, a pegada no tapete do quarto e dois fios de cabelo grudados na janela do quarto.
Elas apresentaram suas descobertas ao Diretor Assistente Garcia, em uma pequena mesa de reuniões nos fundos do escritório dele. Quando Chloe mostrou a ele o que havia encontrado no telefone, viu que ele tentou esconder um pequeno sorriso de satisfação. Ele também parecia feliz em ver quão profissionalmente e dentro das normas Rhodes havia empacotado e catalogado cada uma das evidências encontradas.
Talvez ela também devesse mudar de departamento, Chloe pensou com um pouco de maldade.
- Trabalho incrível - Garcia disse, levantando-se da mesa e as cumprimentando como se fossem estudantes sendo premiadas. – Vocês trabalharam rápido, minuciosamente, e não vejo como não ser possível conseguirmos uma prisão concreta com isso tudo.
As duas agentes agradeceram. Chloe sentiu-se um pouco melhor ao ver que Rhodes não sabia como lidar com elogios, tanto quanto ela.
- Agora, Agente Fine, recebi uma ligação do Diretor Johnson antes de vocês entrarem. Ele quer encontrar com você em cerca de quinze minutos. Agente Rhodes, por que você não vai ao laboratório e vê o que acontece com todas as evidências que vocês trouxeram?
Rhodes assentiu, ainda como se fosse uma boa aluna. Enquanto isso, Chloe sentiu-se em pânico novamente. Quando ela visitara Johnson, no dia anterior, ele havia lhe dado uma notícia que mudara tudo. O que ele teria planejado agora?
Guardando suas perguntas para si, ela caminhou em direção ao escritório dele. Quando entrou na pequena área de recepção, viu que a porta estava fechada. A secretária do diretor apontou para uma das cadeiras encostadas na parede enquanto falava com alguém ao telefone. Chloe sentou-se e finalmente tirou um momento para refletir sobre o que aquele dia significava para ela e para sua carreira.
De um lado, ela havia descoberto uma evidência importante que provavelmente levaria à prisão de um membro de uma gangue que havia matado uma família inteira. Mas ao mesmo tempo, ela havia cometido um erro de principiante ao provavelmente ter estragado o que seria uma pegada. Imaginou que, no longo prazo, a pegada não interessaria, graças à prova do Snapchat. Ainda assim, estava muito envergonhada por ter tido a atenção chamada por Rhodes daquela maneira. Imaginou que, na melhor das hipóteses, as duas coisas ficariam “quites”: sua descoberta incrível balanceando com seu erro terrível.
Quando a porta do escritório de Johnson abriu, seus pensamentos foram interrompidos. Ela olhou para a porta e viu Johnson colocar a cabeça para fora. Ele a viu e sequer disse algo. Apenas a chamou para seu escritório. Era impossível saber se aquela era uma demonstração simples de pressa ou de raiva.
Chloe entrou no escritório e, quando o diretor fechou a porta, apontou para a cadeira no outro lado de sua mesa—um lugar que estava se tornando cada vez mais familiar para Chloe. Quando ele sentou, Chloe finalmente pode ler sua expressão. Ela tinha certeza de que ele estava irritado com algo.
- Você deve saber – ele disse, - que eu acabei de falar com a Agente Rhodes no telefone. Ela me contou que você basicamente destruiu uma pegada na cena do crime.
- É verdade.
Ele assentiu, desapontado.
- Estou decepcionado, porque por um lado, ela é tão nova quanto você. E o fato de ela ter me ligado basicamente para falar mal de você me deixa puto. Mas ao mesmo tempo, estou feliz por ela ter me contado. Porque mesmo esse sendo seu primeiro dia, é importante fica atento a esse tipo de coisas. Você sabe, é claro, que eu não chamo todos os agentes que cometem um erro no meu escritório para falar com eles sobre isso. Mas com você, achei que eu deveria te chamar, já que eu mudei seus planos no último minuto. Você acha que isso te tirou do lugar certo?
- Não. Eu simplesmente não vi. Eu estava muito focada em analisar a janela e não vi a pegada.
- É compreensível, mas um pouco tosco. Mas o Diretor Assistente Garcia me disse que você encontrou uma evidência que deve nos levar a uma prisão—um celular com uma aba do Snapchat aberta. Correto?
- Sim senhor. – E por razões que não entendia, Chloe queria completar: mas qualquer um poderia ter encontrado, sinceramente. Foi meio que sorte.
- Eu me considero um cara que perdoa muito – ele disse. – Mas saiba que mais erros como esse da pegada podem resultar em consequências sérias. Por enquanto, no entanto, quero você e a Agente Rhodes em outro caso. Você tem algum problema em trabalhar com ela?
A palavra sim veio até a ponta da língua, mas Chloe não queria parecer mesquinha.
- Não, eu posso lidar com isso.
- Eu olhei os relatórios dela. Os instrutores dela dizem que ela é muito esperta, mas tem uma tendência a tentar as coisas sozinha. Então, meu conselho é que você não deixe que ela tome o controle total do caso.
Sim, eu já percebi isso, Chloe pensou.
- E sendo honesto, eu já a avisei sobre isso - ele prosseguiu. – Eu também disse a ela que não gosto quando novos agentes tentam ferrar com outros. Então, espero que ela seja mais esperta no próximo caso. Eu e o Diretor Garcia vamos supervisionar isso daqui para frente, só para ter certeza de que tudo está nos conformes.
- Tudo bem, eu agradeço.
- Fora a pegada destruída, você fez um excelente trabalho hoje. Eu gostaria que você passasse o restante do dia escrevendo um relatório da cena do crime e de sua relação com a Agente Rhodes.
- Sim, senhor. Algo mais?
- Por enquanto é isso. Só... como eu disse... se você começar a sentir que essa mudança de última hora está atrapalhando seu trabalho, me diga.
Chloe assentiu e se levantou. Ao sair do escritório, sentiu como se tivesse desviado de uma bala—como uma criança quando é chamada na sala do diretor, mas é liberada apenas com um pequeno tapa no punho. Ainda assim, o fato de Johnson ter elogiado a maior parte de seu trabalho no dia a deixou mais à vontade.
Ela voltou à sua pequena estação de trabalho—um cubículo, mais especificamente—com sua mente disparada. Imaginou se já haveria existido algum novo agente que fora chamado duas vezes no escritório do Diretor em menos de quarenta e oito horas. Sentiu-se importante e, ao mesmo tempo, que estava sendo minuciosamente examinada a todo momento.
Enquanto esperava pelo elevador, viu outro agente vindo. Chloe quase não reconheceu seu rosto, do pequeno grupo de agentes que fora incluído no programa PaCV no dia anterior.
- Você é a Agente Fine, certo? – Ele disse, sorrindo.
- Sou – ela respondeu, sem saber para onde aquela conversa iria.
- Sou Michael Riggins. Soube sobre o caso que você e Rhodes receberam. Assassino de uma família relacionado a gangues. Rumores dizem que já tem uma prisão a caminho. Isso deve ser meio que um recorde, certo?
- Não faço ideia – ela disse, ainda que sentisse que tudo havia acontecido muito rápido.
- Ei, sabe, nem todos os agentes vão para campo já no primeiro dia atualmente – Riggins disse. – Alguns são mandados para pesquisas ou para mexer com a papelada. Estão falando que alguns de nós vão se reunir para tomar uma hoje. Você deveria vir. O lugar fica a duas quadras daqui, se chama Reed’s Bar. Poderíamos usar uma bela história de sucesso para renovar nossos espíritos. Mas acho melhor não convidar a Rhodes. Todo mundo... quer dizer, ninguém parece ligar muito para ela.
Chloe sabia que não deveria, mas não conseguiu deixar de sorrir ao ouvir aquele comentário.
- Pode ser que eu vá – ela disse. Foi a melhor resposta que ela poderia dar... muito melhor do que explicar que ela era introvertida e não era do tipo que ia a um bar com pessoas que não conhecia.
O elevador chegou e suas portas se abriram. Chloe entrou e Riggins acenou com um tchau. Era bizarro ver alguém invejando sua situação, especialmente depois da conversa com Johnson. Aquela sensação, de certa maneira, a fez querer ir ao bar, mesmo se fosse para tomar apenas um drink e ficar lá por meia hora. A outra alternativa era voltar para seu apartamento e continuar tirando as coisas das caixas. E aquilo era algo que, definitivamente, não a animava.
O elevador a levou para cima, até o terceiro andar, onde seu espaço ficava, ao lado de lugares idênticos de outros agentes. Ao caminhar pelo andar, passou por Rhodes na entrada. Pensou em dizer “olá” ou em agradecer ironicamente pela reunião com Johnson. Mas no fim, decidiu passar por cima disso. Era melhor não cair nos joguinhos de Rhodes.
Ainda assim, apenas passar por aquela mulher e trocar olhares sórdidos foi o suficiente para que Chloe tomasse uma decisão: sim, ela iria ao bar naquela noite. E a não ser que seu dia mudasse completamente, ela provavelmente tomaria mais do que apenas um drink.
Parece que isso está acontecendo tarde demais, ela disse a si mesma.
Aquele pensamento a perseguiu pelo restante do dia, mas assim como aconteceu com os recorrentes pensamentos sobre seu pai, ela conseguiu enviá-lo para os cantos mais profundos e escuros de sua mente.
CAPÍTULO CINCO
Quando chegou ao bar, às 6:45, Chloe percebeu que o local era quase como ela imaginara. Ela viu vários rostos familiares, mas nenhum que conhecia bem. Isso porque, de fato, ela não conhecia ninguém. Outra desvantagem de Johnson tê-la trocado de departamento na última hora era que pouquíssimas pessoas do PaCV haviam feito os mesmos cursos ou treinamentos que ela.
Os dois rostos que Chloe reconheceu eram de homens. Primeiro, Riggins. Ele estava sentado com outro agente, conversando animadamente sobre algo. E havia também Kyle Moulton, o agente boa pinta que havia se oferecido para almoçar com ela no primeiro estágio da orientação—o homem que havia perguntado sobre suas tendências violentas. Chloe ficou um pouco desanimada ao ver que ele estava conversando com outras duas mulheres. Mas não surpresa. Moulton era muito bonito. Ele parecia um pouco com Brad Pitt no passado.
Ela decidiu não interrompê-lo e foi sentar com Riggins. Por mais pretencioso que pudesse ser, Chloe gostava da ideia de sair com alguém que havia encarado seu trabalho daquele dia como algo a ser admirado.
- Tem alguém nesse banco? – Ela perguntou ao tomar um lugar ao lado dele.
- Não – Riggins disse. Ele parecia feliz de verdade em vê-la, e suas bochechas um pouco gordas sorriram. – Fico feliz por você ter vindo. Posso te pagar uma bebida?
- Claro. Pode ser uma cerveja, por enquanto.
Riggins chamou o bartender e pediu que ele trouxesse a primeira cerveja de Chloe. Riggins estava tomando Rum com Coca, e aproveitou para pedir a segunda dose.
- Como foi seu primeiro dia? – Chloe perguntou.
- Foi legal. Passei a maior parte do tempo pesquisando sobre um caso envolvendo um corredor interestadual de drogas. Parece chato, mas eu gostei muito na verdade. E você, como foi passar um dia inteiro com Rhodes a seu lado? – Riggins perguntou. – Claro, resolver o caso deve ter sido ótimo, mas ela tem fama de ser difícil se lidar.
- Foi tenso. Ela é uma ótima agente, mas...
- Diga – Riggins disse. – Eu não posso dizer que ela é uma vadia porque eu não gosto de chamar uma mulher de vadia na frente de outra mulher.
- Ela não é uma vadia – Chloe disse. – Ela só é muito direta e meticulosa.
A conversa se estendeu por mais alguns minutos e foi muito casual. Chloe olhou discretamente algumas vezes para o Agente Moulton. Uma das mulheres havia saído, deixando-o falando com apenas mais uma. Ele se inclinava para perto dela e sorria. Chloe tendia a ser um pouco ingênua quando se tratava de relacionamentos, mas ela estava certa de que Moulton estava afim daquela mulher.
Aquilo a decepcionou de uma maneira que ela não esperava. Fazia apenas dois meses desde que ela e Steven haviam terminado. Ela imaginou que estava interessada em Moulton apenas porque ele fora o primeiro a se importar em conversar com ela depois da mudança imposta por Johnson. Além disso, a ideia de voltar para seu novo apartamento completamente sozinha não era nada interessante. O fato dele ser muito bonito também contava.
É, foi um erro sair. Posso beber gastando muito menos em casa.
- Você está bem? – Riggins perguntou.
- Sim, eu acho. Só que foi um longo dia. E amanhã tem tudo para ser também.
- Você vai voltar a pé ou dirigindo?
- Dirigindo.
- Humm... Melhor não te oferecer outro drink então, né?
Chloe sorriu e respondeu:
- Muito responsável da sua parte.
Ela olhou novamente para Moulton e para a mulher com quem ele estava conversando. Os dois estavam se levantando. Quando saíram em direção à porta, Moulton colocou gentilmente sua mão na cintura da mulher.
- Posso perguntar como você entrou num caminho que te levou a uma carreira dessas? – Riggins perguntou.
Chloe sorriu de um jeito nervoso e terminou sua cerveja.
- Problemas na família – ela respondeu. – Obrigada por me convidar, Riggins. Mas preciso ir para casa.
Ele assentiu, como se entendesse. Chloe percebeu que ele olhou em volta e viu que seria a única pessoa restante no bar. Aquilo a faz pensar que talvez Riggins também tivesse seus próprios fantasmas para lutar contra.
- Cuide-se, agente Fine. Que amanhã seja tão bom quanto hoje.
Chloe saiu, já fazendo planos para o seu fim de noite. Ela ainda tinha algumas caixas para esvaziar, uma cama para montar, e uma muda de roupas e coisas da cozinha para organizar.
Não é a vida mais animadora que eu poderia imaginar, ela pensou, com ironia.
Ao ir em direção a seu carro, ainda estacionado no terreno da sede do FBI, seu telefone tocou. Quando viu o nome na tela, a raiva tomou conta de seu corpo, e Chloe quase ignorou totalmente a chamada.
Steven. Ela não tinha ideia do porquê ele estaria ligando. E exatamente por isso resolveu atender. Ela sabia que, se não atendesse, a dúvida a deixaria louca.
Ela atendeu a chamada, sem transparecer o quão nervosa estava se sentindo.
- Oi, Steven.
- Chloe. Ei!
Ela esperou, querendo que ele dissesse logo o que quer que fosse. Mas Steven nunca fora muito de ir direto ao ponto.
- Está tudo bem? – Ela perguntou.
- Sim, está sim. Desculpe... Eu nem pensei no que você poderia achar de eu te ligar...
Ele parou por aí, lembrando Chloe de um dos pequenos defeitos que ele nunca percebera que tinha.
- Do que você precisa, Steven?
- Eu quero te encontrar para conversar – ele disse. – Apenas algo para nos reconectarmos, sabermos um do outro, sabe?
- Acho que não. Não seria a melhor ideia.
- Não tenho segundas intenções – ele disse. – Prometo. Eu só... só acho que preciso pedir desculpas por algumas coisas. E eu preciso... bom, nós precisamos encerrar as coisas, sabe?
- Fale por você. Está tudo muito bem encerrado por mim. Não preciso de nada.
- Tudo bem. Então considere isso como um favor. Só preciso de meia hora. Tem alguns pesos que quero tirar das costas. E sendo sincero... só queria ver você mais uma vez.
- Steven... eu ando ocupada. Minha vida está uma loucura e...
Chloe parou, sem saber o que dizer a seguir. E, na verdade, ela não tinha um calendário tão cheio que a impedisse de vê-lo. Ela sabia que, para Steven, fazer aquela ligação era algo enorme. Ele estava tendo que ser humilde, o que não era algo que ele fazia muito bem.
- Chloe...
- Tudo bem. Meia hora. Mas eu não vou até você. Se você quiser me ver, vai ter que vir até Washington. As coisas estão uma loucura por aqui e eu não posso—
- Eu vou. Quando é um bom horário para você?
- Sábado. No almoço. Vou te mandar uma mensagem com o local.
- Parece ótimo. Obrigado mesmo, Chloe.
- Por nada. – Ela sentiu que precisava dizer algo mais, algo para aliviar a tensão. Mas, no fim, disse apenas: - Tchau, Steven.
Chloe encerrou a ligação e guardou o celular no bolso. Ela não pode deixar de pensar que havia aceitado o encontro apenas por estar se sentindo solitária. Pensou no Agente Moulton e imaginou onde ele e sua amiga estariam agora. Mais do que isso, pensou em porque estava pensando tanto naquilo.
Ela chegou ao carro e foi para casa, com as ruas da capital sendo tomadas pela escuridão da noite. Washington era uma cidade singular. Mesmo com o trânsito e a estranha mistura entre história e comércio, o lugar era lindo. Esse pensamento a levou a outro, mais melancólico, no caminho para o apartamento—um apartamento novo, vazio, em um lugar que ela achava ter sorte de ter encontrado, mas que agora parecia uma ilha isolada que ela precisava chamar de casa.
***
Quando seu telefone a acordou na manhã seguinte, Chloe teve seu sonho interrompido. Ela tentou lembrar e não deixá-lo ir embora, mas parou, decidindo que não valeria apena. Seus últimos sonhos vinham sendo todos sobre seu pai, sozinho na prisão.
Ela podia inclusive ouvir a voz dele cantarolando alguma música antiga de Johnny Cash, que ele sempre cantava no apartamento quando ela era criança. A Boy Named Sue, Chloe pensou. Ou talvez não. Todas as músicas pareciam ser a mesma.
Ainda assim, “A Boy Named Sue” estava em sua cabeça quando ela pegou o celular. Tirou-o do carregador e viu que o relógio marcava 6:05—vinte e cinco minutos antes do horário programado para o alarme.
- Agente Fine – ela atendeu.
- Agente Fine, aqui é o Diretor Assistente Garcia. Preciso de você no meu escritório agora. O quanto antes. Temos um caso e preciso de você e da Agente Rhodes aqui o mais rápido possível.
- Sim, senhor – ela disse, sentando-se. – Estarei aí já, já.
Nesse momento, ela não se importou em ter que passar mais um dia com Rhodes. Tudo o que ela sabia, até agora, é que já havia solucionado um caso, e que estava ansiosa para resolver o segundo.
CAPÍTULO SEIS
Chloe chegou ao escritório do Diretor Assistente Garcia três minutos depois. Ele estava sentado à frente da pequena mesa de reuniões no fundo da sala, olhando alguns papeis. Ela viu que ele já havia preparado e colocado duas xícaras de café, preto e forte, em cada lado da mesa.
- Bom dia, Agente Fine – ele disse ao entrar. – Você viu ou falou com a Agente Rhodes?
- Ela estava entrando quando eu peguei o elevador.
Garcia pareceu pensar naquilo por um momento, talvez confuso por não entender porque ela não havia esperado no elevador por Rhodes. Chloe, então, imaginou o quanto Johnson havia contado a ele sobre a pequena briga por poder que estava acontecendo na parceria entre as duas.
Tendo finalizado seu próprio café no carro, Chloe sentou-se em frente a uma das xícaras e tomou um gole. Ela preferia com leite e açúcar, mas não queria parecer chata. Quando deu o primeiro gole, Rhodes entrou na sala. A primeira coisa que ela fez foi lançar um olhar irritado para Chloe. Então, sentou-se em frente à outra xícara de café.
Garcia olhou para as duas, aparentemente percebendo a tensão, mas depois encolheu os ombros.
- Temos um assassinato em Landover, Maryland. É um caso que parecia bem normal no começo. A polícia de Maryland está cuidando dele, mas eles nos pediram ajuda. Também vale mencionar que Jacob Ketterman, do Departamento de Assuntos Públicos da Casa Branca, conhece a vítima. Ele já trabalhou com ela. Ele pediu que nós cuidássemos disso também, como um favor. E quando se trata da Casa Branca, temos que manter tudo em silêncio. Deve ser um caso simples. Um homicídio bem simples, pelo que parece. Essa é uma das razões pelas quais estamos colocando agentes novas nisso. Vai ser um bom teste e parece que não temos tanta urgência, mas é claro que seria ótimo resolver isso o quanto antes.
Ele então entregou duas cópias de seu relatório a elas. Os detalhes eram curtos e diretos. Enquanto Chloe lia, Garcia disse o que já sabia.
- A vítima tinha trinta e seis anos, Kim Wielding. Ela estava trabalhando como babá para a família Carver quando foi morta. Pelo que podemos ver, alguém entrou na casa e a matou. Ela foi golpeada na cabeça duas vezes com algo muito forte, e depois estrangulada. Havia dois ferimentos bem feios na cabeça. Ainda não foi determinado qual deles a matou. Precisamos que vocês duas descubram quem fez isso.
- O assassino foi até lá só para matar? – Chloe perguntou.
- Parece que sim. Nada foi roubado, ao que parece. A casa parece exatamente a mesma da última vez que os Carver a viram... com exceção de uma babá morta. O endereço está aí nos papeis – Garcia continuou. – Acabei de falar no telefone com o xerife de Landover. O casal Carver e os três filhos estão em um hotel desde que o crime aconteceu, dois dias atrás. Mas eles vão encontrar vocês na casa hoje pela manhã para responder quaisquer perguntas. E é isso, agentes. Saiam daqui para buscar mais uma vitória para nós. Vocês devem ir até o RH e pegar um carro para as duas. Vocês conhecem o procedimento?
Chloe não conhecia, mas assentiu mesmo assim. Ela imaginou que Rhodes já soubesse o que fazer. Depois do que acontecera no dia anterior, Chloe imaginava que Rhodes soubesse de todos os procedimentos do FBI.
Chloe e Rhodes levantaram-se da mesa. Chloe tomou um último gole de café antes de sair do escritório de Garcia. Elas caminharam pelo corredor até o elevador sem dizerem uma palavra.
Vai ser um dia longo se eu e ela não deixarmos essa rivalidade idiota para trás, Chloe pensou.
Ao apertar o botão no elevador, Chloe virou-se para Rhodes e fez o possível não só para quebrar o gelo, mas para eliminá-lo.
- Agente Rhodes, vamos tratar as coisas abertamente. Você tem algum problema comigo?
Rhodes deu um pequeno sorriso e levou um segundo para pensar na resposta.
- Não – ela finalmente disse. – Não tenho nenhum problema com você, Agente Fine. Mas estou um pouco hesitante em trabalhar com alguém que foi colocada no PaCV no último minuto. Isso me faz pensar se alguém está fazendo um favor para você—e favores são algo injusto com outros agentes que trabalharam muito para fazer parte desse programa.
- Isso não é da sua conta, mas eu fui chamada para entrar nesse programa. Eu estava totalmente feliz em continuar meu caminho na Equipe de Evidências.
Rhodes deu de ombros quando a porta do elevador se abriu.
- Não sei se a Equipe de Evidências teria ficado tão animada com você depois do que você fez ontem com aquela pegada.
Ao ouvir aquilo, Chloe ficou em silêncio. Ela poderia seguir com aquela pequena guerra de palavras com Rhodes, mas isso só pioraria a relação entre as duas. Se ela queria que aquilo acabasse, ela simplesmente teria que provar seu valor a Rhodes.
Além disso, ela tinha mesmo estragado a pegada no dia anterior. E a única forma de consertar isso era fazendo diferente nesse novo caso.
***
Quando Rhodes escolheu dirigir sem nenhum tipo de conversa sobre isso, Chloe deixou passar. Não valia a pena se irritar com aquilo. No caminho para Landover, Chloe começou a pensar se algo havia acontecido na trajetória de Rhodes para deixá-la daquele jeito—tão mandona e difícil de lidar. Ela teve muito tempo para refletir sobre isso durante o caminho de meia hora até Landover, já que Rhodes não estava fazendo nenhum esforço para conversar.
Elas chegaram à casa dos Carver às 8:05. Era uma casa linda, em um excelente bairro, onde todos os gramados eram perfeitamente cortados, mostrando todas as linhas das calçadas. Havia uma minivan nova estacionada em frente à garagem. Rhodes parou atrás dela e desligou o motor. Ela então olhou para Chloe e perguntou:
- Estamos bem?
- Acho que não, mas não importa. Vamos focar no caso.
- Isso que eu quis dizer – Rhodes respondeu ao abrir a porta e sair.
Chloe juntou-se a ela e, então, um homem e uma mulher saíram da minivan—os Carver, Chloe imaginou. Introduções rápidas revelaram que eles de fato eram os Carver, Bill e Sandra. Bill parecia do tipo que nunca dormia o suficiente. Sandra era linda, o tipo de mulher que nem precisava se arrumar muito. Mas ela também parecia cansada, especialmente quando olhou para a casa.
- Vocês estão ficando em um hotel, certo? – Chloe perguntou.
- Sim – Sandra disse. – Quando isso aconteceu, Bill estava viajando a negócios. A polícia ficava entrando e saindo da casa e tinha... bem, tinha muito sangue. Então eu peguei as crianças na escola, levei elas para jantar e depois fomos para um hotel. Eu contei a elas o que tinha acontecido, e não me pareceu certo voltar para cá naquela hora.
- Eu voltei para casa ontem pela manhã – Bill disse. – Por volta do meio-dia ontem, a polícia nos deu o ok para voltar para casa. Mas Sandra e as crianças ainda estão muito assustados.
- Pode ser melhor assim – Rhodes disse. – Gostaríamos de entrar, se for possível.
- Claro, o xerife nos disse que vocês viriam – Sandra disse. – Ele nos pediu para dizer a vocês que tem um arquivo com todas as informações no balcão da cozinha.
- Antes de entrarmos - Chloe disse, - acho que vocês poderia nos contar um pouco sobre Kim.
- Ela era tão querida – Sandra disse.
- E excelente com as crianças – Bill disse. Ao dizer isso, sua voz oscilou. Era como se só agora a ficha de tudo o que acontecera estivesse começando a cair.
- Vocês sabem se ela tinha muitos problemas com alguém? – Chloe perguntou.
- Não que a gente saiba – Sandra respondeu. – Nós estivemos nos perguntando isso pelos últimos dois dias... e não faz nenhum sentido.
- Algum relacionamento que deu errado? – Rhodes perguntou. – Talvez um ex-namorado estranho ou algo assim?
- Ela tinha um ex, sim – Bill disse. – Mas quase não falava dele.
- Mas ela chegou a falar dele em algum momento? – Chloe perguntou.
Algo que parecia ser uma ideia brilhou nos olhos de Sandra.
- Sabe, ela disse que foi algo do qual ela teve que escapar. E acho que não era brincadeira. Digo... ela nunca falava dele mesmo.
- Vocês sabem o nome? – Rhodes perguntou.
- Não – Sandra disse. Então, ela olhou para Bill esperando que ele respondesse, mas ele apenas balançou a cabeça.
- Kim chegou a dormir aqui? – Rhodes perguntou.
- Sim. Quando eu e Bill saíamos para nossas mini-férias, ela ficava. Temos um quarto de hóspedes que sempre brincávamos dizendo que era da Kim. Ela também ficava algumas vezes quando as crianças tinham muita tarefa da escola.
- Que quarto é esse? – Rhodes perguntou.
- No andar de cima, o primeiro na esquerda – Bill respondeu.
- Vocês se importariam em ficar aqui um tempo caso a gente precise falar com vocês depois de olharmos lá dentro? – Chloe perguntou.
- Nós não precisamos entrar, precisamos? – Sandra perguntou.
- Não – Rhodes disse. – Vocês podem ficar aqui fora.
Sandra pareceu ficar aliviada. Mas ela ainda olhava para a casa como se esperasse que um assassino saísse pela porta da frente a qualquer momento.
O casal Carver ficou na garagem enquanto Chloe e Rhodes seguiram em direção à entrada. O lugar era lindo, completo, com duas cadeiras de balanço. Chloe abriu a porta da frente e entrou.
A polícia local e do estado havia limpado tudo, de acordo com o relatório de Garcia. E pelo que Chloe pode ver, eles haviam feito um excelente trabalho. Claro, seria muito melhor entender a cena do crime se ainda houvesse evidências ali—incluindo sangue espalhado.
Quem quer que fosse que tivesse chamado o FBI para o caso aparentemente não fazia ideia de como peritos e equipes de evidências trabalhavam.
Chloe viu uma pasta no balcão da cozinha—o relatório do xerife, ela imaginou. Caminhou pela sala principal e pela sala de estar para chegar ao arquivo. Abriu, folheou o relatório básico e pulou para as fotos da cena do crime. Voltou para a porta da frente para mostrar a Rhodes e as duas estudaram as cinco fotos, comparando-as com o local, agora totalmente limpo.
Nas fotos, havia sangue no chão da sala de entrada, logo acima da moldura da porta. O corpo de Kim Wielding estava no chão, com seu pé esquerdo a menos de 15 centímetros da porta frontal. Na segunda foto, era muito evidente que ela havia sido golpeada no rosto com um instrumento brusco. Seu nariz estava quebrado e a parte baixa do rosto era apenas uma camada de sangue.
- Já podemos dizer que ela foi atender a porta – Rhodes disse.
- O que significa que ela conhecia a pessoa – Chloe disse. – Ou que ela estava esperando alguém.
Rhodes tirou as fotos da pasta, não necessariamente rasgando, mas sem muito cuidado.
- Isso me deixa puta.
- O quê? – Chloe perguntou.
- Esse caso. Um assassinato qualquer em um bairro médio. Com uma cena do crime limpa e nenhuma ajuda direta da polícia local, que diabos nós podemos fazer?
- Vamos deixar a cena para lá. Digo, nós temos as fotos. É suficiente. O que nós veríamos se o corpo e o sangue ainda estivessem aqui?
- Muito. Teríamos a chance de buscar nossas próprias evidências.
Chloe não continuou no assunto. Na verdade, aquela situação a irritava também. Mas não fazia sentido ficar reclamando.
- Vou até o quarto lá em cima – Chloe disse. Ela imaginou que, se não havia uma cena do crime para trazer respostas, elas precisam procurar em outro lugar. E se havia um ex-namorado na jogada, qualquer lugar em que a vítima passava algum tempo poderia ter alguma pista.
Ela subiu as escadas e Rhodes ficou no andar de baixo, estudando a sala. Chloe entrou no quarto que os Carver haviam mencionado e o encontrou muito arrumado. Havia uma pequena mesa encostada na parede. Um criado mudo ficava entre a porta e a cama queen-size, decorado com um abajur e um livro de bolso de Nicholas Sparks.
Ela olhou o guarda-roupas e encontrou apenas algumas mudas de roupas. Havia também uma pequena mochila, do tipo que se usa em torno do peito. Abriu-a e encontrou um batom, protetor labial, seis dólares e um cartão da biblioteca.
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