Kitabı oku: «Arrebatadas », sayfa 3
Depois do que parecia uma eternidade, Riley ouviu a porta da frente abrir-se.
April entrou a cantar.
Agora Riley já se conseguiu levantar. “Onde é que estiveste?”
April parecia chocada.
“O que é que se passa, mãe?”
“Onde é que estavas? Porque é que não respondeste à minha mensagem?”
“Desculpa, tinha o telemóvel no silêncio. Estava na casa da Cece do outro lado da rua. Quando saímos do autocarro da escola a mãe dela ofereceu-nos gelado.”
“E como é que eu podia adivinhar onde é que tu estavas?”
“Pensei que ainda não estivesses em casa.”
Riley ouvia-se a gritar e não conseguia parar. “Não quero saber o que pensaste. Não pensaste. Tens que me informar sempre…”
As lágrimas a correr no rosto de April impediram-na finalmente de continuar a gritar.
Riley acalmou-se e precipitou-se a abraçar a filha. Inicialmente, o corpo de April estava rígido de raiva, mas Riley sentiu que relaxava gradualmente. E apercebeu-se que pelo seu rosto também corriam lágrimas.
“Desculpa,” Disse Riley. “Desculpa. É só porque passámos por tanto… tanto horror.”
“Mas agora já acabou,” Disse April. “Já acabou, mãe.”
Sentaram-se no sofá, um sofá novo comprado quando se tinham mudado. Tinha-o comprado para a sua nova vida.
“Eu sei que acabou,” Disse Riley. “Eu sei que o Peterson está morto. Estou a tentar habituar-me a isso.”
“É tudo tão melhor agora, mãe. Não tens que te preocupar comigo de minuto a minuto. E não sou uma criancinha estúpida, já tenho quinze anos.”
“E és muito esperta,” Disse Riley. “Eu sei. Só vou ter que me lembrar sempre disso. Amo-te April,” Disse. “É por isso que às vezes enlouqueço.”
“Eu também te amo mãe,” Disse April. “Mas não te preocupes tanto.”
Riley ficou deliciada por ver a filha sorrir novamente. April tinha sido raptada, mantida em cativeiro e ameaçada com um maçarico. Parecia novamente uma adolescente normal, ainda que a mãe ainda não tivesse recuperado a sua estabilidade.
Ainda assim, Riley não conseguia evitar perguntar-se se aquelas memórias negras ainda espreitavam algures na mente da filha, à espera do momento certo para irromper.
Quanto a ela, sabia que precisava de falar com alguém sobre os seus medos e pesadelos recorrentes. Tinha que o fazer muito em breve.
CAPÍTULO SEIS
Riley agitava-se na cadeira ao tentar pensar no que queria dizer a Mike Nevins. Sentia-se inquieta e insegura.
“Demora o tempo que for preciso,” Disse o psiquiatra forense, inclinando a cadeira para a frente e fitando-a com preocupação.
Riley deu uma risadinha pesarosa. “O problema é esse,” Disse. “Eu não tenho tempo. Tenho andado a arrastar-me. Tenho que tomar uma decisão. Já a adiei por demasiado tempo. Alguma vez me viste tão indecisa?”
Mike não respondeu. Limitou-se a sorrir e juntou as pontas dos dedos.
Riley estava habituada àquele tipo de silêncio da parte dele. Aquele homem elegante e exigente tinha sido muitas coisas para ela ao longo doa anos. Um amigo, um terapeuta, em alguns momentos uma espécie de mentor. Mais recentemente, ligava-lhe para obter a sua perspetiva sobre a mente obscura de criminosos. Mas esta visita era diferente. Tinha-lhe ligado a noite passada depois de chegar a casa vinda da execução e passara pelo seu gabinete de D.C. naquela manhã.
“Então afinal que escolhas são essas?” Perguntou ele por fim.
“Bem, parece que tenho que decidir o que vou fazer para o resto da minha vida – se ensino ou se sou agente de campo. Ou pensar em qualquer coisa completamente diferente.”
Mike riu-se. “Espera lá. Vamos tentar não planear toda a tua vida futura hoje. Vamos ficar-nos pelo agora. O Meredith e o Jeffreys querem que aceites um caso. Só um caso. Ninguém te disse que tinhas de desistir de ensinar. E tudo o que tens que fazer é dizer sim ou não. Então, qual é o problema?”
Chegara a vez de Riley se calar. Ela não sabia qual era o problema. Era por isso que ali estava.
“Presumo que tens medo de alguma coisa,” Disse Mike.
Riley engoliu em seco. Era isso. Ela tinha medo. Recusava-se a admiti-lo, mesmo a si própria. Mas agora Mike ia obrigá-la a falar sobre isso.
“Então, de que é que tens medo?” Perguntou Mike. “Disseste que andavas a ter pesadelos.”
Riley permaneceu calada.
“Isto está relacionado com o teu problema de SPT,” Disse Mike. “Ainda tens flashbacks?”
Riley estava à espera daquela pergunta. No final de contas, Mike contribuíra mais do que ninguém para ela ultrapassar o trauma de uma experiência particularmente horrível.
Inclinou a cabeça para trás na cadeira e fechou os olhos. Por um momento, estava novamente na gaiola negra de Peterson e ele ameaçava-a com um amaçarico. Meses depois de Peterson a ter mantido cativa, aquela memória impusera-se de forma sistemática na sua mente.
Mas foi então que ela apanhara e matara Peterson. Na verdade, tinha-o espancado até ele se transformar num pedaço de carne sem vida.
Se isso não é um ponto final na história, então não sei o que será, Pensou Riley.
Agora as memórias pareciam impessoais, como se assistisse ao desdobramento da história de outra pessoa.
“Estou melhor,” Disse Riley. “São mais curtos e menos frequentes.”
“E a tua filha?”
A pergunta ferira-a como o gume de uma faca. Sentiu um eco do horror que vivera quando Peterson tinha capturado April. Ainda conseguia ouvir os gritos de ajuda de April a ecoar na sua cabeça.
“Acho que ainda não ultrapassei isso,” Disse. “Acordo com medo de que ela tenha sido novamente levada. Tenho que ir ao quarto dela e certificar-me que ela está lá, segura e a dormir.”
“É por isso que não queres aceitar outro caso?”
Riley estremeceu. “Não quero sujeitá-la outra vez a uma coisa daquelas.”
“Isso não responde à minha pergunta.”
“Pois não,” Disse Riley.
O silêncio instalou-se no gabinete de Mike Nevins.
“Tenho a sensação de que há algo mais,” Disse Mike. “Que mais te provoca pesadelos? Que mais te acorda a meio da noite?”
Estremecendo, um terror escondido subiu à superfície da sua mente.
Sim, havia algo mais.
Mesmo com os olhos bem abertos, conseguia ver o rosto dele - o rosto ameninado e grotescamente inocente de olhos brilhantes de Eugene Fisk. Riley olhara para o fundo desses olhos durante o seu confronto fatal.
O assassino ameaçava Lucy Vargas com uma navalha apontada ao seu pescoço. Naquele momento, Riley sondara os seus mais terríveis medos. Falara sobre as correntes – aquelas correntes que ele acreditava que falavam consigo, forçando-o a cometer homicídio atrás de homicídio, acorrentando mulheres e cortando-lhes as gargantas.
“As correntes não querem que leves esta mulher,” Dissera-lhe Riley. “Ela não é aquilo que elas querem. Tu sabes o que é que as correntes querem.”
Com os olhos a cintilarem com lágrimas, Eugene anuiu. Depois infligiu a si próprio a mesma morte que infligira às suas vítimas.
Cortou a sua própria garganta à frente de Riley.
E agora, ali sentada no gabinete de Mike Nevins, Riley quase sufocava com o seu próprio horror.
“Eu matei o Eugene,” Disse com um tremor súbito.
“Queres dizer, o assassino das correntes. Bem, ele não foi o primeiro homem que mataste.”
Era verdade, ela já usara força letal várias vezes. Mas com Eugene fora muito diferente. Pensava frequentemente na sua morte, mas nunca falara sobre aquilo com ninguém.
“Eu não usei uma arma ou uma pedra ou os meus punhos,” Disse Riley. “Matei-o com compreensão, com empatia. A minha própria mente é uma arma letal. Nunca me apercebera disso antes. E aterroriza-me, Mike.”
Mike anuiu, compreendendo o que Riley lhe transmitia. “Sabes o que é que Nietzsche disse sobre olhar demasiado tempo para um abismo,” Disse Mike.
“O abismo devolve-te o olhar,” Disse Riley, concluindo a célebre frase. “Mas eu fiz muito mais do que olhar para o abismo. Eu praticamente vivi nele. Quase me sentia confortável lá. É uma segunda casa. Assusta-me de morte, Mike. Um destes dias, posso entrar nesse abismo e nunca mais sair de lá. E quem sabe quem posso magoar ou matar.”
“Nesse caso,” Disse Mike, recostando-se na cadeira. “Talvez estejamos a caminhar na direção certa.”
Riley não tinha tanta certeza. E ela não se sentia mais próxima de tomar uma decisão.
*
Quando Riley atravessou a porta de entrada da sua casa um pouco mais tarde, April surgiu a descer as escadas na sua direção.
“Tens que me ajudar, mãe! Vem!”
Riley seguiu April pelas escadas acima até ao seu quarto. Uma mala estava aberta em cima da cama e roupas estavam espalhadas por todo o lado.
“Não sei o que hei-de levar!” Disse April. “Nunca tive que fazer isto antes!”
Sorrindo perante a combinação de pânico e entusiasmo da filha, Riley ajudou-a a arrumar as coisas. April partia no dia seguinte para uma viagem de estudo – uma semana perto de Washington, D.C. Ia na companhia de um grupo de alunos de História Americana e professores.
Quando Riley assinara os impressos e pagara o valor da viagem, sentira algumas reservas em fazê-lo. Peterson mantivera April presa em Washington e apesar de ter sido nas franjas da cidade, Riley estava preocupada com o facto de a viagem poder trazer o trauma à tona. Mas April parecia estar a sair-se muito bem tanto a nível académico como emocional. E a viagem era uma oportunidade fantástica.
Enquanto ela e April brincavam de forma despreocupada sobre aquilo que April devia levar, Riley apercebeu-se de que se estava a divertir. O abismo de que ela e Mike tinham falado há pouco parecia longínquo. Ela ainda tinha uma vida fora desse abismo. Era uma boa vida e fosse qual fosse a sua decisão, estava determinada em mantê-la.
Enquanto estavam a arrumar as coisas, Gabriela entrou no quarto.
“Señora Riley, o meu táxi vai chegar a qualquer momento,” Disse a sorrir. “Tenho tudo pronto. As minhas malas estão à porta.”
Riley quase se tinha esquecido que Gabriela também estava de partida. Como April ia estar fora, Gabriela pedira uns dias para visitar parentes no Tennessee e Riley tinha concordado.
Riley abraçou Gabriela e disse, “Buen viaje,”
E com o sorriso a desvanecer um pouco, Gabriela disse, “Me preocupo.”
“Estás preocupada?” Perguntou Riley, surpreendida. “O que é que te preocupa Gabriela?”
“Você,” Declarou Gabriela. “Vai ficar sozinha nesta casa.”
Riley riu. “Não te preocupes, eu sei tomar bem conta de mim.”
“Mas não está sola desde que tantas coisas más aconteceram,” Disse Gabriela. “Preocupo-me.”
As palavras de Gabriela tocaram Riley. O que ela dizia era verdade. Desde que ocorrera aquela situação com Peterson, pelo menos a April estivera sempre presente. Poderia abrir-se um vazio escuro e assustador na sua nova casa? Será que mesmo agora o abismo a queria engolir?
“Vou ficar bem,” Tranquilizou-a Riley. “Vai e diverte-te com a tua família.”
Gabriela sorriu e entregou um envelope a Riley. “Isto estava na caixa do correio,” Disse.
Gabriela abraçou April, depois abraçou Riley outra vez e desceu as escadas para esperar pelo táxi.
“O que é mãe?” Perguntou April.
“Não sei,” Disse Riley. “Não tem selo.”
Riley abriu o envelope e encontrou no seu interior um cartão de plástico. Letras decorativas no cartão anunciavam o “Blaine’s Grill”. Por baixo lia-se, “Jantar para dois”.
“Parece que é um cartão presente do nosso vizinho,” Afirmou Riley. “Foi simpático da parte dele. Podemos ir lá jantar quando regressares.”
“Mãe!” Exclamou April. “Ele não quer que o jantar seja para nós as duas.”
“Por que não?”
“Ele está a convidar-te para jantar.”
“Achas mesmo? Não diz nada aqui.”
April abanou a cabeça. “Não sejas pateta. O homem quer sair contigo. A Crystal disse-me que o pai dela gosta de ti. E ele é mesmo giro.”
Riley sentiu-se corar. Já não se lembrava da última vez que alguém a convidara para sair. Estivera casada com Ryan durante vários anos. Desde que se tinham divorciado que ela se tinha focado em instalar-se na sua nova casa e em tomar decisões relacionadas com o trabalho.
“Estás a corar, mãe,” Disse April.
“Vamos arrumar as tuas coisas,” Grunhiu Riley. “Penso em tudo isto mais tarde.”
Ambas voltaram à escolha da roupa. Após alguns minutos de silêncio, April disse, “Estou um bocado preocupada contigo, mãe. Como a Gabriela disse…”
“Eu fico bem,” Disse Riley.
“Ficas mesmo?”
A dobrar uma blusa, Riley ficou sem saber o que responder. Tinha enfrentado muito recentemente pesadelos bem mais complicados do que uma casa vazia – psicopatas assassinos obcecados com correntes, bonecas e maçaricos, só para nomear alguns. Mas será que uma legião de demónios se soltaria quando ela estivesse sozinha? De repente, uma semana começou a parecer-lhe muito tempo. E a perspetiva de decidir se saíria ou não com um vizinho não lhe parecia menos assustadora.
Eu resolvo tudo, Pensou Riley.
Para além disso, ainda tinha outra opção. E já era altura de tomar uma decisão de uma vez por todas.
“Pediram-me para trabalhar num caso,” Disse Riley a April. “Tinha que partir já para o Arizona.”
April parou de dobrar a roupa e olhou para Riley.
“E então vais, não é?” Perguntou.
“Não sei, April,” Disse Riley.
“Qual é a novidade? É o teu trabalho, não é?”
Riley olhou a filha nos olhos. Os tempos difíceis entre ambas pareciam mesmo ser coisa do passado. Desde que ambas tinham sobrevivido aos horrores infligidos por Peterson que estavam ligadas por um novo e inquebrantável laço.
“Tenho andado a pensar em não voltar ao trabalho de campo,” Disse Riley.
Os olhos de April abriram-se muito, surpreendidos.
“O quê? Mãe, apanhar maus da fita é o que fazes melhor.”
“Também sou boa a ensinar,” Declarou Riley. “Sou muito boa a ensinar. E adoro fazê-lo. Gosto mesmo.”
April encolheu os ombros, como se não compreendesse o que Riley lhe dizia. “Bem, então força e ensina. Ninguém te impede. Mas não pares de os apanhar. É tão importante como ensinar.”
Riley abanou a cabeça. “Não sei, April. Depois de tudo por que te fiz passar…”
April ficou incrédula. “Depois de tudo por que me fizeste passar? Do que é que estás a falar? Não me fizeste passar por nada. Fui apanhada por um psicopata chamado Peterson. Se não me tivesse levado a mim, tinha levado outra pessoa qualquer. Não te culpes de nada.”
Depois de um momento de silêncio, April disse, “Senta-te mãe. Temos que falar.”
Talvez precise mesmo de sermão, Pensou Riley.
April sentou-se ao pé de Riley.
“Alguma vez te falei da minha amiga Angie Fletcher?” Perguntou April.
“Penso que não.”
“Bem, éramos muito chegadas mas ela mudou de escola. Ela era muito esperta, estava apenas um ano à minha frente. Ouvi dizer que ela tinha começado a comprar drogas a um tipo que toda a gente chamava de Trip. Ela começou a consumir heroína a sério. E quando ficava sem dinheiro, o Trip punha-a a trabalhar como prostituta. Treinou-a pessoalmente, obrigou-a a mudar-se para casa dele. A mãe estava tão mal que mal notou a ausência da Angie. O Trip até fazia publicidade a ela no site, obrigou-a a fazer uma tatuagem a jurar que era dele para sempre.”
Riley estava chocada. “O que é que lhe aconteceu?”
“Bem, o Trip acabou por ser preso e a Angie foi para um centro de reabilitação. Isto aconteceu este verão enquanto estávamos em Nova Iorque. Não sei o que é que lhe aconteceu depois disso. Só sei que tem dezasseis anos e tem a vida arruinada.”
“Tenho muita pena,” Disse Riley.
April resmungou com impaciência.
“Não estás mesmo a perceber, pois não mãe? Não tens que lamentar nada. Passaste a tua vida inteira a evitar este tipo de situação. E prendeste tipos como o Trip – alguns deles para sempre. Mas se parares de fazer aquilo que fazes melhor, quem é que o vai fazer por ti? Alguém tão bom como tu? Duvido, mãe. Duvido muito.”
Riley nada disse durante alguns segundos. Então, sorrindo, apertou carinhosamente a mão de April.
“Acho que tenho que fazer um telefonema,” Disse.
CAPÍTULO SETE
Quando o avião do FBI levantou voo de Quantico, Riley tinha a certeza que ia enfrentar outro monstro. E sentia-se desconfortável com essa pespetiva. Tinha querido afastar-se de assassinos durante algum tempo, mas aceitar aquela investigação parecia a decisão mais acertada. Meredith tinha ficado claramente aliviado quando ela aceitara.
April tinha partido para uma visita de estudo de uma semana naquela manhã e agora Riley e Bill estavam a caminho de Phoenix. Pela janela do avião, Riley assistira à tarde a converter-se em noite e via a chuva bater ferozmente no vidro. Riley manteve-se presa ao assento até o avião atravessar as ameaçadoras nuvens cinzentas, subindo até um pedaço de céu tranquilo. Por baixo deles avistava-se uma vasta superfície almofadada que escondia a terra onde o mais provável era as pessoas estarem a tentar manter-se secas. E, pensou Riley, dedicarem-se aos seus prazeres ou horrores de todos os dias ou a qualquer outra coisa intermédia.
Assim que o avião estabilizou, Riley virou-se para Bill e perguntou, “O que tens para me mostrar?”
Bill abriu o seu portátil na mesa à frente deles. Mostrou uma foto de um grande saco do lixo preto não inteiramnete submerso em águas pouco profundas. Era visível uma mão branca sem vida a sair da abertura do saco.
Bill explicou, “O corpo de Nancy Holbrook foi encontrado num lago artificial no sistema hídrico à saída de Phoenix. Era uma acompanhante de trinta anos que prestava serviços por elevados preços. Por outras palavras, era uma prostituta de luxo.”
“Afogou-se?” Perguntou Riley.
“Não. A causa de morte mais provável é asfixia. Depois foi colocada dentro de um saco do lixo e atirada para o lago. O saco do lixo continha pedras para fazer peso.”
Riley examinou a fotografia com mais atenção. Na sua mente já se perfilavam muitas perguntas.
“O assassino deixou alguma prova física?” Perguntou. “Impressões digitais, fibras, ADN?”
“Nada.”
Riley abanou a cabeça. “Não percebo. Quero dizer, a forma como se descartou do corpo. Porque é que o assassino não foi mais cuidadoso? Um lago de água doce é perfeito para alguém se livrar de um corpo. Os corpos afundam-se e decompõem-se mais rapidamente em água doce. Claro que podem voltar a emergir mais tarde devido ao inchaço e aos gases. Mas pedras suficientes no saco teriam resolvido o problema. Porquê deixá-la em águas pouco profundas?”
“Acho que nos compete a nós descobrir isso,” Disse Bill.
Bill mostrou entretanto várias outras fotos da cena do crime, mas não acrescentaram grande coisa.
“Então o que te parece?” Perguntou Riley. “Estamos perante um assassino em série ou não?”
Bill franziu o sobrolho pensativo.
“Não sei,” Disse. “A sério, só temos uma prostituta assassinada. Claro, outras prostitutas desapareceram em Phoenix. Mas isso não tem nada de novo. Isso acontece com frequência em todas as grandes cidades do país.”
A palavra “frequência” naquele contexto desagradava a Riley. Como é que o desaparecimento continuado de um certo tipo de mulheres podia ser considerado algo normal e rotineiro? Ainda assim, ela sabia que o que Bill dizia era verdade.
“Quando o Meredith telefonou deu a entender que era algo urgente,” Disse Riley. “E agora dá-nos tratamento VIP com voo direto para lá num avião da UAC.” Riley pensou por um momento. “As suas palavras exatas foram que o seu amigo queria que encarássemos aquele homicídio como o trabalho de um assassino em série. Mas parece que ninguém tem a certeza que se trata de um assassino em série.”
Bil encolheu os ombros. “Pode não ser. Mas o Meredith parece ser muito próximo do irmão de Nancy Holbrook, Garrett Holbrook.”
“Pois,” Disse Riley. “Ele disse-me que tinham frequentado a academia juntos. Mas isto é tudo muito invulgar.”
Bill não contestou. Riley reclinou-se no seu banco e considerou a situação. Parecia bastante óbvio que Meredith estava a contornar as regras do FBI como favor ao amigo. Isso não era nada habitual em Meredith.
Mas isso não fez com que Riley tivesse menos consideração por Meredith. Aliás, ela admirava a devoção que demonstrava em relação ao amigo. E pensou…
Se haveria alguém por quem contornaria as regras? Talvez o Bill?
Ao longo dos anos ele fora muito mais do que um mero parceiro e até mais do que um amigo. Ainda assim, Riley não tinha a certeza. E isso fê-la pensar no quão próxima se sentia dos colegas de trabalho, incluindo o Bill.
Mas não fazia muito sentido pensar naquilo naquele momento. Riley fechou os olhos e adormeceu.
*
O dia estava limpo e solarengo quando aterraram em Phoenix.
Ao saírem do avião, Bill cutucou Riley e disse, “Uau, que tempo fantástico. Talvez tenhamos algum tempo livre nesta viagem.”
Riley duvidou que a estadia em Phoenix lhe proporcionasse qualquer diversão. Já se passara muito tempo desde que tivera umas férias a sério. A sua última tentativa em Nova Iorque com a April tinha sido encurtada pelo caos e desordem que faziam parte da sua vida.
Um destes dias, tenho que descansar a sério, Pensou.
Um jovem agente local foi ter com eles ao avião e levou-os até às instalações do FBI de Phonenix, um vistoso edifício moderno. Ao estacionar o carro no parque de estacionamento do Bureau, comentou, “Design fixe, não é? Até ganhou um prémio qualquer. Conseguem adivinhar o que é suposto parecer?”
Riley olhou para a fachada. Era completamente lisa com longos retângulos e estreitas janelas verticais. Tudo estava cuidadosamente disposto e o padrão parecia familiar. Riley deteve-se e observou o edifício durante alguns momentos.
“Sequenciamento de ADN?” Perguntou Riley.
“Sim,” Disse o agente. “Mas aposto que não consegue adivinhar com que se assemelha o labirinto de pedra visto de cima.”
Mas entraram no edifício antes de Riley e Bill arriscarem uma hipótese. No interior do edifício, Riley viu o motivo de ADN reproduzido nos azulejos do chão. O agente conduziu-os por entre paredes e divisórias horizontais de aspeto severo até chegarem ao gabinete do Agente Especial Responsável Elgin Morley.
Riley e Bill apresentaram-se a Morley, um homem pequeno na casa dos cinquenta com um negro e espesso bigode, e óculos redondos. Outro homem estava à espera deles no gabinete. Estava na casa dos quarenta, era alto, esquelético e ligeiramente curvado. Riley pensou que tinha um ar cansado e deprimido.
Morley disse, “Agentes Paige e Jeffreys, apresento-vos o Agente Garrett Holbrook. A sua irmã foi a vítima encontrada no Lago Nimbo.”
Cumprimentaram-se com apertos de mão e por fim os quatro agentes sentaram-se para discutir o caso.
“Obrigado por terem vindo,” Disse Holbrook. “Isto tem sido bastante avassalador.”
“Fale-nos da sua irmã,” Principiou Riley.
“Não vos consigo dizer muita coisa,” Disse Holbrook. “Não a conhecia lá muito bem. Era meia-irmã. O meu pai era um idiota mulherengo, deixou a minha mãe e teve filhos de três mulheres diferentes. A Nancy era quinze anos mais nova do que eu. Tivemos muito pouco contacto ao longo dos anos.”
Durante alguns momentos, fitou o chão com um olhar vazio, os dedos a tamborilarem de forma ausente no braço da cadeira. Depois, sem olhar para os colegas disse, “A última vez que soubera dela, estava a trabalhar num escritório e a ter aulas numa escola comunitária. Isso foi há alguns anos. Fiquei chocado quando soube o rumo que tinha seguido. Não fazia ideia.”
Depois calou-se. Riley teve a sensação de que algo ficara por dizer, mas acabou por se capacitar de que talvez aquilo fosse mesmo tudo o que o homem sabia. No final de contas, o que é que Riley podia dizer da sua própria irmã mais velha caso alguém a interpelasse? Ela e a Wendy estavam sem saber uma da outra há tanto tempo que bem podiam nem ser irmãs.
Ainda assim, Riley pressentiu algo mais do que pesar no comportamento de Holbrook e não pode deixar de considerar estranho este seu primeiro depoimento.
Morley sugeriu que Riley e Bill fossem com ele à Patologia Forense onde poderiam observar o corpo. Holbrook assentiu e referiu que iria para o seu gabinete.
Ao seguirem o Agente Responsável pelo corredor, Bill perguntou, “Agente Morley, qual a razão para pensarmos que estamos perante um assassino em série?”
Morley abanou a cabeça. “Não sei bem se temos uma razão concreta para pensar dessa forma,” Disse. “Mas quando o Garrett soube da morte da Nancy, não sossegou. É um dos nossos melhores agentes e tentei protegê-lo. Ele tentou avançar com a sua própria investigação, mas não chegou a lado nenhum. A verdade é que durante todo este tempo não tem estado em si.”
Riley tinha notado que Garrett parecia terrivelmente inquieto. Talvez um pouco mais do que deveria um agente experiente, mesmo tratando-se da morte de um familiar. Afinal, ele tornara claro que ele e a irmã não eram chegados.
Morley conduziu Riley e Bill até à área de Patologia Forense do edifício onde os apresentou à chefe de equipa, Dra. Rachel Fowler. A patologista abriu a unidade refrigerada onde se encontrava guardado o corpo de Nancy Holbrook.
Riley estremeceu ligeiramente perante o odor familiar a decomposição, apesar do cheiro ainda não estar particularmente forte. Reparou que a mulher possuíra estatura baixa e fora muito magra.
“Não esteve muito tempo dentro de água,” Disse Fowler. “A pele estava a começar a enrugar quando foi encontrada.”
A Dra. Fowler apontou para os pulsos.
“Podem ver-se queimaduras de corda. Parece ter sido amarrada quando foi morta.”
Riley reparou em marcas empoladas no cotovelo de um dos braços da vítima.
“Parecem marcas de toxicodependente,” Disse Riley.
“Pois é. Ela consumia heroína. O meu palpite é que ela estava a entrar completamente no vício.”
Parecia a Riley que a mulher tinha sido anorética e isso era consistente com a teoria de adição aventada por Fowler.
“Esse tipo de vício parece algo deslocado quando falamos de uma acompanhante de luxo,” Disse Bill. “Como é que podemos saber que era viciada?”
Fowler mostrou um cartão de negócios laminado que estava dentro de um saco de prova. Tinha uma foto provocadora de uma mulher morta nele. O nome no cartão era simplesmente “Nanette” e o negócio era “Ishtar Escorts”.
“Este cartão estava com a vítima quando foi encontrada,” Explicou Fowler. “A polícia entrou em contacto com a Ishtar Escorts e descobriu o nome verdadeiro da mulher, o que tornou possível identificá-la como a meia-irmã do Agente Holbrook.”
“Como é que foi asfixiada?” Perguntou Riley.
“Tem nódoas negras no pescoço,” Disse Fowler. “O assassino pode ter enfiado a cabeça da vítima num saco de plástico.”
Riley observou as marcas mais atentamente. Teria aquilo sido um jogo sexual que correu mal ou um ato homicida deliberado? Ainda não podia ter a certeza.
“O que tinha vestido quando foi encontrada?” Perguntou Riley.
Fowler abriu uma caixa que continha a roupa da vítima. Usava um vestido rosa com um decote cavado, mas não demasiado, claramente um degrau acima da típica prostituta de rua. Era o vestido de uma mulher que queria parecer muito sexy e ao mesmo tempo adequado como traje para clubes noturnos.
Junto ao vestido estava um saco de plástico com joias.
“Posso ver?” Perguntou Riley a Fowler.
“Força.”
Riley pegou no saco e observou o seu conteúdo. A maioria era bijuteria de razoável gosto – um colar de contas, pulseiras e brincos simples. Mas um elemento se destacava entre os outros. Um elegante anel de ouro com um diamante. Pegou nele e mostrou-o a Bill.
“Verdadeiro?” Perguntou Bill.
“Sim,” Respondeu Fowler. “Ouro verdadeiro e diamante verdadeiro.”
“O assassino não se deu ao trabalho de o roubar,” Comentou Bill. “Não teve nada a ver com dinheiro.”
Riley virou-se para Morley. “Gostava de ver o local onde o corpo foi encontrado,” Disse. “Agora mesmo, enquanto ainda temos luz do dia.”
Morley parecia intrigado.
“Podemos lá chegar de helicóptero,” Disse. “Mas não sei o que espera encontrar. Polícias e agentes passaram aquilo a pente fino.”
“Confie nela,” Disse Bill. “Ela vai encontrar alguma coisa.”