Kitabı oku: «Beco Sem Saída», sayfa 2

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CAPÍTULO TRÊS

O restaurante japonês que Chloe escolhera era do estilo hibachi, com grandes fogões abertos, que permitiam que as pessoas sentassem em volta e assistissem aos cozinheiros fazendo sua arte. Chloe e Moulton escolheram uma mesa em uma área mais quieta e privada do restaurante. Quando eles se sentaram, ela ficou feliz ao perceber que estava se sentindo bem ao lado dele. Além da atração física, ela tinha gostado de Moulton desde o primeiro momento em que o conhecera. Ele fora uma luz em sua vida no dia que ela fora trocada da Equipe de Evidências para o Programa de Crimes Violentos. E agora ele estava ali, ainda tornando melhores momentos difíceis de sua vida.

Chloe não queria estragar a noite com aquele tipo de conversa, mas sabia que se não tirasse aquilo do peito, seria uma distração desnecessária.

- Então – Moulton disse, abrindo seu cardápio. – Não foi estranho eu ter te chamado para sair?

- Depende para quem você perguntar – ela respondeu. – O Diretor Johnson pode achar que essa não é a melhor ideia. Mas, sendo sincera – ela disse, - eu estava esperando você me convidar.

- Ah, então você é tradicionalista? Você não me chamaria? Teria que esperar eu te chamar?

- Não é ser tradicionalista, é só estar assustada com as relações passadas. À propósito, acho que é melhor eu te contar. Até uns sete meses atrás, eu estava noiva.

O susto na expressão de Moulton foi apenas momentâneo. Felizmente, Chloe não encontrou medo ou estranheza nele. Antes que ele pudesse responder, a garçonete apareceu para anotar os pedidos de bebidas. Os dois pediram Sapporo rapidamente, para não deixar a conversa esfriar.

- Posso perguntar por que não deu certo? – Moulton perguntou.

- É uma longa história. A versão resumida é que o cara era mimado e não conseguia se separar da sombra da família dele—da mãe dele, principalmente. E quando eu vi uma carreira no FBI na minha frente, me esperando, ele não deu muito apoio. Ele também não me dava apoio com meus problemas familiares...

Chloe então se deu conta de que Moulton provavelmente sabia algo sobre seu histórico familiar. Quando ela fora a fundo na história no fim de seu treinamento, soube muito bem que a história havia corrido pelos corredores da Academia.

- Sim, eu ouvi alguma coisa por aí...

Ele não disse mais nada. Chloe entendeu que, se quisesse falar mais sobre aquilo, ele escutaria. Mas se ela não quisesse falar, ele também entenderia. E naquele momento, com tantas coisas na mente, ela percebeu que seria agora ou nunca. Não faz sentido esperar, pensou.

- Eu acho que devo deixar os detalhes para outro dia, mas devo te dize que vi meu pai hoje.

- Então ele está em liberdade?

- Sim. E acho que principalmente por conta de descobertas que eu tive sobre a morte da minha mãe nos últimos meses.

Moulton levou um momento para pensar no que iria dizer. Ele, como Chloe, tomou um gole de sua cerveja como método para ganhar tempo. Ao largar o copo, respondeu da melhor maneira possível.

- Você está bem?

- Acho que sim. Mas foi totalmente inesperado.

- Chloe, nós não precisávamos sair hoje. Eu teria entendido se você tivesse cancelado.

- Eu quase cancelei. Mas não vi motivo para deixar ele controlar mais uma parte da minha vida.

Moulton assentiu e os dois ficaram em silêncio enquanto olhavam o cardápio. O silêncio seguiu até que a garçonete voltasse para anotar os pedidos. Quando ela terminou, Moulton inclinou-se levemente na mesa e perguntou:

- Você quer falar sobre isso ou devemos ignorar o assunto?

- Sabe, eu acho que devemos ignorar por enquanto. Só quero que você saiba que pode ter alguns momentos da noite que eu vou estar um pouco distraída.

Ele sorriu e levantou-se da cadeira.

- Tudo bem. Mas deixe-me tentar algo, se você quiser.

- O que?

Moulton deu um passo em direção a Chloe, abaixou-se, e a beijou. Ela recuou a princípio, sem saber o que estava acontecendo. Mas quando percebeu o que ele queria, deixou acontecer. Não só isso, retribuiu o beijo. Foi leve, mas suficiente para que ela soubesse que ele estava pensando naquilo há tanto tempo quanto ela.

Moulton parou o beijo antes que os dois ficassem desconfortáveis. Afinal de contas, eles estavam em um restaurante, rodeados por outras pessoas. E Chloe nunca fora do tipo que gostava de demonstrações públicas de afeto.

- Não é uma reclamação – ela disse, - mas o que foi isso?

- Duas coisas. Foi eu sendo corajoso... algo que eu raramente consigo ser com uma mulher. E também foi eu te dando outra distração... espero que possa ajudar você a se distrair da situação com seu pai.

Com sua cabeça viajando um pouco e o calor irradiando por seu corpo inteiro, Chloe suspirou.

- É, acho que ajudou sim.

- Que bom – ele disse. – Além disso, acho que isso também acaba com aquela besteira de será que nós vamos nos beijar no fim do encontro.

- Ah, depois disso, acho que vamos – ela respondeu.

E, como Moulton esperava, os pensamentos sobre seu pai de repente ficaram muito distantes.

***

O jantar foi muito melhor do que Chloe estava esperando. Depois de falarem sobre a visita de seu pai e do beijo inesperado de Moulton, tudo correu muito bem. Eles conversaram sobre o aprendizado no FBI, música, filmes, habilidades e contaram histórias do período na Academia, além de seus interesses e hobbies. Tudo foi muito natural, de uma maneira que Chloe não esperava.

Tristemente, aquilo a fez desejar ter se separado de Steven antes. Se aquilo era o que ela tinha perdido por ficar tanto tempo insistindo com ele, ela tinha perdido muita coisa.

Eles terminaram de comer, mas ficaram ali para tomar mais alguns drinks. Moulton mais uma vez mostrou cuidado e afeto ao parar no segundo drink, enquanto Chloe pediu o terceiro. Ele inclusive perguntou se ela se sentiria mais confortável pedindo um táxi do que andando com ele ao volante.

Moulton a levou de volta para o apartamento, deixando-a na calçada depois da dez. Chloe não estava bêbada, mas tinha bebido o suficiente para imaginar outras formas de se entreter com ele.

- Foi uma noite ótima – Moulton disse. – Quero repetir logo se você não achar que isso vai nos atrapalhar no trabalho.

- Eu também. Obrigada por me convidar.

- Obrigado por aceitar.

Mesmo sabendo que não era uma mestre na arte da sedução, Chloe inclinou-se e o beijou. Assim como o beijo no restaurante, esse começou devagar, mas depois esquentou. A mão dele repente estava no rosto dela, correndo por sua nuca e a puxando para perto. O apoio de braço do banco estava entre eles, e ela mexeu-se para fazer com que sua mão encontrasse o peito de Moulton.

Ela não sabia quanto o beijo tinha durado. Foi devagar e romântico. Quando se separaram, Chloe encontrou-se quase sem ar.

- Então, já falamos que eu não tive muitos encontros na vida – ela disse. – Então, se eu fizer algo errado na próxima parte, você vai ter que me desculpar.

- Que parte?

Chloe hesitou por um momento, mas os três drinks ajudaram.

- Quero te chamar pra entrar. Eu poderia dizer que seria para um café ou mais um drink, mas seria mentira.

Moulton pareceu verdadeiramente surpreso. Foi um olhar que a fez imaginar se ele tinha entendido bem.

- Tem certeza? – ele perguntou.

- Não falei direito – ela disse, envergonhada. – O que eu quis dizer é que... eu gostaria de beijar você sem esse apoio de banco atrapalhando. Mas eu não... não vou dormir com você.

Mesmo com pouca luz, ela pode ver o rosto dele ficando vermelho.

- Eu jamais esperaria isso de você.

Ela assentiu, um pouco envergonhada.

- Então... você quer entrar?

- Quero, quero muito.

Então, ele a beijou. Dessa vez, de um jeito mais brincalhão. Durante o beijo, ele bateu no apoio de braço com o cotovelo.

Ela interrompeu o beijo e abriu a porta. Enquanto caminhavam até o prédio, Chloe não conseguiu se lembrar da última vez em que se sentira tão... tão nas nuvens.

Nas nuvens, ela pensou, sorrindo. Era uma expressão que Danielle usara certa vez para explicar a sensação física de um orgasmo. A lembrança fez com que Chloe de repente se sentisse quente, pegando nas mãos de Moulton quando eles entraram no prédio.

Eles tomaram o elevador e, quando as portas se fecharam, Chloe surpreendeu a si mesma pressionando-o contra as paredes do elevador e o beijando. Agora conseguindo colocar as mãos nele, ela o segurou pela cintura e o puxou para perto dela. O beijo seguinte foi muito mais apaixonado, dando uma dica do que ela gostaria de fazer com ele naquela hora.

Ele estava ansioso, e suas mãos encontraram as costas dela. Quando Moulton a pressionou para mais perto dele e os corpos se encontraram, Chloe ofegou. Ela se sentiu um pouco envergonhada.

O elevador parou e Chloe se afastou. Ela podia imaginar o olhar das pessoas do prédio se flagrassem os dois se beijando no elevador. Ficou aliviada ao ver que Moulton também parecia em êxtase e estava respirando fundo.

Ela o levou pelo corredor, passando por quatro portas até seu apartamento. Então, deu-se conta de que, além de Danielle, Moulton seria a primeira pessoa a visitar sua casa.

Que pena que eu não pretendo perder tempo mostrando o apartamento, pensou.

Aquele pensamento também a fez sentir-se um pouco envergonhada. Ela nunca tinha sentido uma necessidade física parecida com um homem. Depois de um tempo, sexo havia se tornado algo protocolar com Steven. E, sendo sincera consigo mesma, Chloe sabia que poucas vezes se satisfazia com ele. Por conta disso, ela não tinha muito desejo de ter momento íntimos com ele.

Ela destrancou a porta e entrou. Acendeu a luz da cozinha e largou sua bolsa em uma das banquetas.

- Quanto tempo você mora aqui? – Moulton perguntou.

- Seis meses, por aí. Não costumo ter muita companhia.

Moulton aproximou-se de Chloe e colocou uma mão na cintura dela. Eles se beijaram devagar. Alguns momentos depois, ele gentilmente a pressionou contra o balcão e o beijo ficou mais quente. Chloe sentiu o ar indo embora novamente, sentindo um desejo que não sentia desde seus primeiros momentos de intimidade com um garoto, ainda no ensino médio.

Ela interrompeu o beijo e o levou para o sofá, onde eles se sentaram um ao lado do outro para então continuar. Era bom estar com um homem daquela maneira, especialmente com alguém que a fazia se sentir muito bem. Se contasse a parte de sua relação com Steven onde a intimidade já havia praticamente desaparecido, Chloe já não era beijada e tocada por um homem daquele jeito há mais de um ano e meio.

De repente, depois do que pareceram meros segundos, mas na verdade foram mais de cinco minutos, Chloe inclinou-se em direção a Moulton, que foi obrigado a se deitar. Chloe subiu nele e, então, uma das mãos de Moulton encontrou suas contas. Aquela sensação de pele na pele levou Chloe a um outro patamar. Ela suspirou e ele respondeu correndo suas mãos pelas costas dela até encontrar o sutiã.

Chloe sentou-se em cima dele e sorriu. Ela parecia estar nas nuvens e cada músculo do seu corpo queria mais.

- Eu falei a verdade – ela disse, quase que se desculpando. – Não posso dormir com você. Não tão cedo. Eu sei que pode parecer coisa de velho...

- Chloe, tudo bem. Me diga quando quiser parar e tudo certo. Me diga quando eu passar do limite.

Ela sorriu para ele. Aquela resposta quase a fez mudar de ideia. Mas Chloe tinha uma forte sensação de que não deveria se apressar. Estar sentada em cima dele no sofá já estava a levando aos limites.

- Vai ser difícil pedir para parar – ela disse. – Eu seria muito idiota se te pedisse para ficar? Sem sexo, mas tipo... de fato dormir aqui?

A pergunta pareceu surpreendê-lo. Chloe se deu conta de que de fato era uma proposta estranha.

E você sabe por que está pedindo isso? Era a voz de Danielle em sua mente, sempre falsa, mas ajudando ao mesmo tempo. É porque o pai apareceu hoje e estragou seu mundo. Você quer Moulton aqui para não ficar sozinha hoje.

- Desculpe – ela disse. – Eu sei que é estranho, idiota e—

- Não, tudo bem – Moulton disse. – Tudo bem por mim, mas eu tenho uma condição.

- Qual?

- Mais beijos, por favor – ele disse, sorrindo.

Chloe retribuiu o sorriso e fez o que Moulton pediu.

***

Chloe acordou algum tempo depois para deixar Moulton sair do sofá. Ela levantou um braço. Tinha tirado a camisa durante os beijos, mas isso fora o máximo. Fora estranho dormir no sofá de calças, mas Chloe estava estranhamente orgulhosa por não ter passado dos limites. Ela olhou para o relógio e viu que eram 5:10 da manhã.

- Tudo bem com você? – ela perguntou.

- Sim – Moulton respondeu. – Eu só... me senti estranho dormindo aqui. Não queria que fosse estranho de manhã. Acho que é melhor eu ir. Mas pelo menos não tem aquela sensação estranha de depois do sexo.

- Talvez esse fosse meu plano o tempo todo – ela brincou.

- Devo sair correndo e fingir que nada aconteceu? – Moulton perguntou.

- Eu gostaria que você ficasse. Vou fazer café.

- É?

- Sim. Eu gostaria bastante, na verdade.

Chloe vestiu sua camisa e seguiu para a cozinha. Ela começou a preparar o café enquanto Moulton vestia sua camisa.

- Então, é quinta – ele disse. – Não sei porque, mas parece sábado.

- Talvez porque o que nós fizemos ontem geralmente acontece na sexta? Um jeito de começar o fim de semana?

- Não sei – ele disse. – Não tenho feito essas coisas ultimamente.

- Uhun, sei – ela disse, ao ligar a cafeteira.

- É verdade. Desde o primeiro ano do ensino médio, acho. Foi um bom ano para mim em termos de pegação sem sexo.

- Bom, pelo jeito você não desaprendeu. Ontem à noite foi... bom, muito mais do que eu estava esperando quando você me buscou.

- Para mim também.

- Mas estou feliz por ter acontecido – Chloe acrescentou. – Tudo.

- Que bom. Talvez possamos repetir. Fim de semana, quem sabe?

- Quem sabe – ela disse. – Mas meus limites já estão se enfraquecendo.

- Talvez esse fosse o meu plano o tempo todo – Moulton disse, sorrindo.

Chloe ficou vermelha e desviou o olhar. Ela estava um pouco surpresa pelo quanto estava gostando da companhia dele.

- Olha – ela disse, - preciso tomar um banho. Você pode pegar qualquer coisa na geladeira se quiser tomar um café da manhã. Mas não tenho muita coisa.

- Obrigado – Moulton disse, sem conseguir tirar os olhos dela.

Chloe o deixou na cozinha e seguiu para o quarto, que conectava-se com o grande banheiro. Ela tirou a roupa, ligou a água e entrou no chuveiro. Riu ao lembrar-se de como tinha sido a noite. Havia se sentido como uma adolescente, gostando de ter Moulton ali e sentindo-se confortável o suficiente, sabendo que ele não se apressaria querendo sexo. Fora uma noite romântica de um jeito estranho, com dois momentos em que ela quase desistira da ideia de não dormir com ele. Sorrindo de um jeito que não estava acostumada, Chloe secretamente desejou que Moulton entrasse no banheiro e se juntasse a ela no banho.

Se ele fizer isso, vou jogar minhas restrições pela janela, pensou.

Ela estava quase saindo do banho quando de fato escutou Moulton entrando no banheiro.

Antes tarde do que nunca, pensou. Seu corpo inteiro ficou tenso de excitação, e ela mal podia esperar para que ele entrasse no banho.

- Ei, Chloe?

- Sim? – ela respondeu, querendo provocar.

- Seu telefone acabou de tocar. Talvez eu tenha sido intrometido, mas... eu olhei. Era do FBI.

- Sério? Será que aconteceu algo?

Então, ela ouviu o toque de outro celular. Esse estava mais perto, provavelmente nas mãos de Moulton. Chloe colocou a cabeça para fora do box, puxando levemente a cortina. Eles se olharam antes que Moulton atendesse.

- Moulton falando – ele disse, ao dar um passo atrás para sair do banheiro e entrar no quarto.

Então, Chloe desligou a água. Ela pegou uma toalha e saiu, sorrindo ironicamente ao perceber que ele a viu rapidamente jogando a toalha em volta do corpo. O fato deles terem se beijado muito pela última hora e meia não significava que ela gostaria que ele a visse totalmente nua.

Não houve muita conversa para ouvir. Chloe só conseguiu escutar Moulton dizendo “tudo bem, sim senhor” algumas vezes.

Enrolada na toalha que cobria todas suas partes secretas, Chloe perguntou:

- Quem era?

- Era o Diretor Assistente Garcia. Ele disse que tentou te ligar, mas você deveria estar dormindo. – Moulton sorriu e então continuou. – Ele disse que eu deveria te ligar ou passar na sua casa para te acordar. Tem um caso nos esperando.

Chloe riu ao sair do banheiro e entrar no quarto.

- Você acha que a noite passada vai mudar a forma como trabalhamos juntos?

- Pode fazer com que eu invada seu quarto de hotel depois do trabalho. Mas além disso... não sei. Vamos ver.

- Você faria um café para mim? Preciso me vestir.

- Eu queria saber se posso usar seu banheiro.

- Claro. Acho que seria melhor se você tivesse pedido dez minutos atrás, quando eu ainda estava lá.

- Vou fazer melhor da próxima vez – ele disse.

Quando Moulton foi para o banho, Chloe começou a se vestir e deu-se conta de que estava feliz. Muito feliz, na verdade. Um novo caso tinha aparecido depois de tudo o que acontecera na noite anterior... pelo jeito a aparição surpreendente de seu pai não havia lhe atrapalhado em nada.

Mas se a vida em uma família com uma história tão estranha tinha lhe ensinado algo, era que você nunca consegue se livrar completamente. Em algum momento, os fantasmas vão voltar a lhe atormentar.

CAPÍTULO QUATRO

Praticamente no mesmo momento em que Chloe estava se lembrando como era se perder nos braços de um homem, sua irmã estava em meio a um pesadelo.

Danielle Fine estava sonhando com sua mãe novamente. Era um sonho recorrente, que ela tinha desde os doze anos—e que parecia ter diferentes significados em cada fase de sua vida. O sonho era sempre o mesmo, sem mudanças nos detalhes ou na história.

Nesse sonho, sua mãe a perseguia por um longo corredor. Mas era a versão de sua mãe que Danielle e Chloe haviam visto naquele dia trágico, quando crianças. Sangrando, com os olhos arregalados, sem vida. Por algum motivo, no sonho ela sempre tinha quebrado uma perna na queda (ainda que nenhum relatório oficial mostrasse nada disso). Então, a versão de sua mãe no sonho arrastava-se no chão atrás de sua filha.

Mesmo com a perna quebrada, sua mãe morta estava sempre de salto alto, a apenas alguns metros de segurar o tornozelo de Danielle e puxá-la para o chão. Ela corria com medo, com os olhos fitando o fim do corredor. E lá, parado na porta que parecia estar a um universo de distância, estava seu pai.

Ele sempre estava ajoelhado, com os braços abertos e um sorriso enorme no rosto. Mas havia sangue pingando das mãos dele e, no momento de pânico do sonho que sempre a acordava, Danielle parava de correr, sem saída entre sua mãe morta e seu pai maníaco, sem saber qual direção era a mais segura.

Não foi diferente daquela vez. O sonho terminou sem conclusão, acordando Danielle. Ela sentou na cama devagar, acostumada com o sonho a ponto de já saber do que se tratava antes mesmo de acordar completamente. Ainda grogue, olhou o relógio e viu que eram apenas 11:30. Ela tinha pegado no sono apenas uma hora antes do sonho começar.

Voltou a se deitar, sabendo que demoraria para conseguir dormir novamente. Espantou o sonho, da maneira que havia aprendido muitos anos antes, lembrando a si mesma de que não poderia ter feito nada para salvar sua mãe da morte. Mesmo se tivesse falado sobre todos os pequenos segredos de coisas que tinha visto e experimentado com relação à personalidade tóxica de seu pai, nada do que ela dissesse teria deixado sua mãe viva.

Danielle virou-se e olhou para o criado-mudo. Quase pegou seu celular para ligar para Chloe. Fazia três semanas que elas não se falavam. A última conversa fora tensa e estranha, por culpa dela. Danielle sabia que vinha projetando muita negatividade para Chloe, principalmente porque sua irmã não odiava seu pai com a mesma angústia que ela. Danielle era quem havia telefonado três semanas antes, percebendo que Chloe estava esperando por uma atitude da irmã, já que a última conversa não tinha sido nada boa—Danielle havia praticamente dito a irmã que não a procurasse.

Mas ela não conhecia a rotina de Chloe. Não tinha ideia se 11:30 era muito tarde. Na verdade, Danielle vinha tendo problemas para dormir antes da duas da manhã ultimamente. Aquela era uma rara noite em que ela não precisava estar no lounge e também não precisaria assinar e nem aprovar nada no bar que seu namorado havia comprado para ela.

Rapidamente, Danielle espantou os pensamentos sobre trabalho da mente para tentar dormir. Se começasse a pensar em trabalho e em tudo o que estava acontecendo, jamais conseguiria voltar a pegar no sono.

Mais uma vez, pensou em Chloe. Imaginou que tipo de sonhos e pesadelos sua irmã tinha com seus pais. Perguntou-se se ela ainda estava insistindo na ideia de conseguir a liberdade de seu pai e, se sim, se ela havia feito algo sobre aquilo.

Eventualmente, pegou novamente no sono. O último pensamento de Danielle foi sobre sua irmã. Pensou em Chloe e perguntou-se se finalmente era hora de perdoar e esquecer—de fazer com que as memórias de seu pai parassem de impedir uma relação saudável com a irmã.

Ficou feliz ao perceber o quão feliz aquele pensamento lhe fez... tão feliz que, ao pegar no sono novamente, havia traços de um sorriso tímido em seu rosto.

***

A jovem bartender que fora contratada em seu lugar fez sucesso rapidamente. Ela tinha vinte anos, era linda e especialista em ler homens bêbados. Já que a nova funcionária estava indo tão bem, Danielle podia encontrar seu namorado e os contratantes no local que seria seu próprio pub e restaurante em cerca de um mês e meio.

Naquele dia, havia pessoas mexendo na ventilação do local, assim como outras colocando painéis na sala dos fundos, que serviria como uma sala reservada para festas maiores. Quando chegou ao lugar, Danielle viu que seu namorado estava discutindo um contrato com um eletricista. Eles estavam sentados em uma das mesas que haviam chegado recentemente—uma entre as três que Danielle precisaria escolher para ter em seu restaurante.

Seu namorado a viu entrando. Ele rapidamente disse algo ao eletricista e veio na direção dela. O nome dele era Sam Dekker, e mesmo não sendo necessariamente o homem mais honesto ou inteligente, ele compensava com uma aparência interessante e um belo faro para negócios. Ele era cerca de 20 centímetros mais alto que Danielle e, para beijá-la, precisava se abaixar um pouco.

- Pronta para trabalhar – ela disse. – O que eu posso fazer hoje?

Sam encolheu os ombros, olhando em volta pelo local com uma expressão quase teatral.

- Sinceramente, acho que não tem muita coisa para você fazer. Está tudo começando a se ajeitar. Eu sei que pode parecer bobo, mas talvez você possa começar a olhar o catálogo de bebidas e ver quais marcas você vai querer servir. Veja também onde você vai querer colocar as caixas de som, coisas assim. Esse tipo de coisa acaba ficando para trás e depois aparece como urgência na última hora.

- Posso fazer isso – Danielle disse, um pouco decepcionada.

Havia dias em que ela ia até a reforma e sentia que Sam estava na verdade somente a entretendo—dando a ela tarefas bobas enquanto ele cuidava das coisas importantes. Ela se sentia diminuída às vezes, mas precisava lembrar a si mesma que Sam sabia o que estava fazendo. Ele já tinha aberto três bares que estavam indo muito bem, sendo que um deles tinha sido vendido para uma grande empresa nacional no ano anterior, por mais de dez milhões de dólares.

E agora ele tinha decidido ajudá-la em seu próprio empreendimento. Ele havia precisado convencê-la do negócio. Insistira que ela tinha o que era preciso para gerenciar um lugar como aquele, mas apenas depois que tudo já estivesse no lugar.

A maioria das garotas que namoram caras semirricos ganham joias e carros, ela pensou ao caminhar para a área onde seria o lounge. Eu... ganhei um bar. Nada mal, eu acho.

Danielle sentia-se um pouco deslocada sempre que pensava no que viria pela frente. Ela seria de fato responsável por um estabelecimento. Controlaria tudo e tomaria decisões. Havia uma responsabilidade grande nisso. Ela sentia que a oportunidade fora dada a ela apenas porque tinha começado a namorar um cara que sabia como abrir negócios. Por conta disso, estava ciente de que precisaria sacrificar muitas coisas e simplesmente deixar Sam fazer outras. Ela nunca questionava as noites em que ele chegava tarde, sempre dizendo que estava em reuniões com contratantes, negociando com eles. Ela havia participado de algumas daquelas reuniões, então sabia que ele falava a verdade—na maioria das vezes.

Ela também sentia que precisava mostrar sua gratidão sempre que possível. Isso significava não importunar quando ficava dias sem vê-lo. Significava não reclamar tanto quando ele queria algumas coisas na cama. Significava não se irritar por, apesar dele ter comprado um bar e confiado nela para dirigi-lo, nunca ter mencionado a palavra casamento. Danielle tinha certeza de que Sam não tinha intenção de se casar. E, por ora, ela estava de bem com a ideia, então não tinha motivos para reclamar.

Além disso... do que ela poderia reclamar? Finalmente, tinha conhecido um cara que a tratava com dignidade—quando estava por perto—e estava no caminho para facilmente chegar ao sucesso.

É porque a maioria das coisas que parecem boa demais para ser verdade, geralmente são, pensou.

Ao chegar à sala onde seria o lounge, Danielle pôs sua digital no celular. Ela fez anotações de onde as caixas de som poderiam ficar e anotou também que seria bom colocar uma janela na parede dos fundos. Era fazendo coisas assim que ela via o sonho se tornando realidade. De alguma maneira, aquilo tudo estava acontecendo para ela.

- Ei...

Ela virou-se e viu Sam parado na porta. Ele estava sorrindo e olhando para ela com uma expressão que geralmente significava que ele estava com vontade de algo a mais.

- Ei, você – Danielle respondeu.

- Eu sei que isso pode te decepcionar – ele disse. – Mas sério... nas próximas semanas, tudo o que vou precisar de você vão ser algumas assinaturas.

- Você está me fazendo trabalhar muito – ela brincou.

- Eu sinceramente esperava que o treinamento com a nova funcionária do bar demorasse mais. Não é minha culpa que nós acabamos contratando um gênio na arte de ser bartender. – Sam aproximou-se de Danielle e a segurou pela cintura. Ela olhou para cima, nos olhos dele, e como sempre, sentiu-se segura por um motivo estranho: aquilo a fazia sentir que ele estaria sempre olhando por ela.

- Vamos almoçar mais tarde – Sam disse. – Algo simples. Pizza e cerveja.

- Pode ser.

- E amanhã... o que você acha de irmos a algum lugar. Uma praia... South Carolina ou algo assim.

- Sério? Parece algo espontâneo e exagerado com todo esse trabalho que temos por aqui. Em outras palavras.. foi você mesmo que disse isso?

- Eu sei. Mas eu ando tão focado nesse projeto... Percebi que ando dando pouca atenção para você. Então quero me desculpar.

- Sam, você está me dando meu próprio negócio. É mais do que suficiente.

- Tudo bem. Vou ser egoísta nisso então. Quero fugir de tudo isso aqui e ficar pelado e sozinho com você perto do mar. Melhor?

- Na verdade, sim.

- Que bom. Então vá até o bar, veja como anda a novata. Vou te buscar para o almoço perto do meio dia.

Danielle deu um beijo em Sam e, mesmo vendo que ele estava com pressa, tudo o que ele acabara de dizer mexeu com ela. Ela sabia que, para ele, era difícil ser emotivo e sincero. Raramente Danielle via aquele lado do namorado e por isso, quando ele demonstrava algo, ela preferia não questionar.

Ela caminhou pelos espaços quase todos abertos do prédio antigo que logo seria seu bar-restaurante-lounge. Era difícil ver o local como sendo dela, apesar de ser, de fato.

Quando saiu, Danielle viu que o sol estava mais forte do que quando entrara. Ela sorriu, tentando entender tudo o que sua vida havia se tornado. Pensou novamente em Chloe e decidiu ligar para a irmã nos próximos dias. Todo o resto de sua vida estava indo bem, então seria bom tentar ajustar sua relação tensa entre as duas.

Ela entrou no carro e seguiu para o outro bar de Sam—o bar que havia a contratado para trabalhar lá, seis meses antes. Estava tão distraída com a ideia de viajar com ele no final de semana que não percebeu o carro parado no lado da rua aproximando-se atrás dela.

Se tivesse percebido, poderia ter reconhecido o motorista, mesmo estando há muito tempo sem vê-lo.

Ainda assim, uma filha nunca esqueceria o rosto de um pai.

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Litres'teki yayın tarihi:
15 nisan 2020
Hacim:
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ISBN:
9781094303857
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