Kitabı oku: «Esquecidas », sayfa 2
Riley sabia exatamente como é que ela se sentia. Ela sentia o mesmo.
Wendy acrescentou, “Deves vendê-la e ficar com o dinheiro. É o que quero que faças.”
Riley não sabia o que dizer.
Felizmente, Wendy mudou de assunto.
“Antes do pai morrer, ele disse-me que eras agente da UAC. Há quanto tempo estás nesse trabalho?”
“Há cerca de vinte anos,” Disse Riley.
“Bem. Penso que o pai tinha orgulho em ti.”
Um riso amargo apoderou-se de Riley.
“Não, não tinha,” Disse ela.
“Como sabes?”
“Oh, ele deu-me a entender. Ele tinha a sua forma muito particular de comunicar.”
Wendy suspirou.
“Penso que tinha,” Disse Wendy.
Seguiu-se um silêncio desconfortável. Riley não sabia do que deviam falar. No final de contas, mal tinham falado durante muitos anos. Deveriam tentar encontrar uma forma de se reunirem pessoalmente? Riley não se imaginava a viajar até Des Moines só para ver esta estranha chamada Wendy. E tinha a certeza que Wendy sentia o mesmo em relação a ela.
Afinal, o que poderiam ter em comum?
Naquele momento, o telefone de Riley tocou. Ficou grata pela interrupção.
“É melhor atender,” Disse Riley.
“Eu compreendo,” Disse Wendy. “Obrigada por este bocadinho.”
“Eu é que te agradeço,” Disse Riley.
Terminaram a chamada e Riley atendeu o telefone. Riley disse ola e depois ouviu uma voz confusa de mulher.
“Olá… quem fala?”
“Quem fala?” Repetiu Riley.
Seguiu-se um silêncio.
“O… o Ryan está em casa?” Perguntou a mulher.
As suas palavras pareciam agora distorcidas. Riley tinha a certeza de que a mulher estava bêbeda.
“Não,” Disse Riley. Hesitou durante alguns instantes. Afinal de contas, lembrou a si própria, podia ser uma cliente de Ryan. Mas ela sabia que não era. A situação era demasiado familiar.
Riley disse, “Não volte a ligar para este número.”
E desligou.
Uma fúria imensa apoderou-se dela.
Está a começar outra vez, Pensou.
Ligou para o telefone da casa de Ryan.
CAPÍTULO TRÊS
Quando Ryan atendeu o telefone, Riley não perdeu tempo a ir direita ao assunto.
“Estás a andar com outra pessoa, Ryan?” Perguntou.
“Porquê?”
“Acabou de ligar uma mulher a perguntar por ti.”
Ryan hesitou antes de perguntar, “Ficaste com o nome dela?”
“Não. Desliguei.”
“Quem me dera que não o tivesses feito. Podia ser uma cliente.”
“Estava bêbeda Ryan. E era pessoal. Percebi pelo tyom de voz.”
Ryan ficou sem saber o que dizer.
Riley repetiu a pergunta, “Estás a andar com alguém?”
“Eu… desculpa,” Gaguejou Ryan. “Não sei como é que ela conseguiu o teu número. Deve ter sido algum engano.”
Ah, podes crer que houve um engano, Pensou Riley.
“Não estás a responder à minha pergunta,” Insistiu ela.
Agora Ryan começava a ficar zangado.
“E se estiver a andar com alguém? Riley, nunca fizemos nenhum acordo de exclusividade.”
Riley ficou surpreendida. Não, ela não se recordava de terem feito um acordo desse género. Mas ainda assim...
“Eu simplesmente assumi…” Principiou ela.
“Talvez tenhas assumido demasiado,” Interrompeu Ryan.
Riley tentou contrariar o seu temperamento.
“Como é que ela se chama?” Perguntou.
“Lina.”
“É sério?”
“Não sei.”
O telefone tremia na mão de Riley.
Disse, “Não te parece que já é altura de te decidires?”
Seguiu-se um silêncio.
Por fim, Ryan disse, “Riley, tenho querido falar contigo sobre isto. Preciso de algum espaço. Toda esta cena de família – eu pensava que estava preparado para isto, mas não estou. Quero desfrutar da minha vida. E tu deves também desfrutar da tua.”
Riley conseguia discernir um tom demasiado familiar na sua voz.
Voltou ao modo playboy, Pensou.
Ele estava a saborear a sua nova ligação, afastando-se de Riley e da sua família. Ultimamente, parecia um homem mudado – mais empenhado e responsável. Ela devia ter percebido que não era coisa para durar. Ele não mudara nada.
“O que é que vais fazer agora?” Perguntou ela.
Ryan parecia aliviado por finalmente poder revelar o que pensava.
“Olha, esta coisa de andar entre a tua casa e a minha – não está a resultar para mim. Parece demasiado temporário. O melhor é ficar-me pela minha casa.”
“A April vai ficar aborrecida,” Disse Riley.
“Eu sei. Mas havemos de nos arranjar. Vou continuar a passar tempo com ela e vai tudo correr bem. Já passou por coisas bem piores.”
A loquacidade de Ryan estava a enfurecer Riley a cada minuto que passava. Estava prestes a explodir.
“E a Jilly?” Perguntou Riley. “Ela gosta muito de ti. Aprendeu a contar contigo. Ajudaste-a em imensas coisas. Como os trabalhos de casa. Ela precisa de ti. Está a passar por tantas mudanças, é tudo muito duro para ela.”
Seguiu-se outra pausa. Riley sabia que Ryan estava a preparar-se para dizer qualquer coisa de que ela não ia gostar.
“Riley, a Jilly foi uma decisão tua. Admiro-te por isso, mas não fui eu que tomei essa decisão. A adolescente problemática de outra pessoa é muita areia para a minha camioneta. Não é justo.”
Durante um momento, Riley estava tão furiosa que não conseguia falar.
Ryan regressara aos velhos tempos em que apenas os seus sentimentos importavam.
Era um caso perdido.
“Vem cá e leva as tuas coisas,” Disse ela de forma brusca. “E vem quando as miúdas estiverem na escola. Quero que tudo o que é teu desapareça daqui o mais rapidamente possível.”
E desligou o telefone.
Levantou-se da secretária e caminhou furiosamente pelo quarto.
Desejava ter um escape para a sua fúria, mas naquele momento não havia nada a fazer. Ia ter que aguentar uma noite de insónia.
Mas no dia seguinte, tomaria as providências necessárias para libertar aquela tensão.
CAPÍTULO QUATRO
Riley sabia que um ataque se aproximava e que ia ser próximo e súbito. E podia vir de qualquer lado daqueles espaços labirínticos. Esgueirou-se cuidadosamente ao longo de um corredor estreito do edifício abandonado.
Mas as memórias da noite anterior não paravam de se intrometer…
“Preciso de algum espaço,” Dissera Ryan.
“Toda esta cena de família – eu pensava que estava preparado para isto, mas não estou.”
“Quero desfrutar da minha vida.”
Riley estava zangada – não apenas com Ryan, mas também com ela por se ter deixado distrair.
Mantém-te concentrada, Disse a si própria. Tens um bandido para apanhar.
E a situação era sombria. A colega mais nova de Riley, Lucy Vargas, já tinha sido ferida. O parceiro de longa data de Riley, Bill Jeffreys, tinha ficado com Lucy. Estavam ambos a uma esquina de distância atrás de Riley, a tentar detetar atiradores. Riley ouviu a espingarda de Bill.
Com perigo à espreita à sua frente, não podia olhar para trás para ver o que se estava a passar.
“Como está a situação, Bill?” Gritou.
Agora ouvia uma série de tiros de semiautomática.
“Um abatido, faltam dois,” Gritou-lhe Bill. “Eu abato estes tipos, sem problema. E cubro a Lucy, ela vai ficar bem. Mantém os teus olhos focados no que tens à tua frente. Aquele tipo à frente é bom. Muito bom.”
Bill tinha razão. Riley não conseguia ver o atirador à frente, mas ele já tinha atingido Lucy. Se Riley não o abatesse, o mais certo era matá-los aos três.
Manteve a sua carabina M4 erguida e pronta. Há muito que não manuseava uma arma de assalto, por isso ainda se estava a habituar à sua forma e peso.
À sua frente estava o corredor com todas as portas abertas. O atirador podia estar em qualquer um daqueles compartimentos. Ela estava determinada a encontrá-lo e a abatê-lo antes que fizesse mais estragos.
Riley manteve-se junto à parede, movimentando-se na direção da primeira porta. Esperando que ele lá estivesse, manteve-se afastada da entrada, pegou na arma e disparou três vezes para o interior. Depois colocou-se à entrada e disparou mais três vezes. Desta vez pressionou a coronha contra o ombro para amparar o recuo.
Baixou a arma e viu que o compartimento estava vazio. Virou-se para se certificar que o corredor ainda estava vazio, depois pensou durante um instante sobre qual seria a sua próxima ação. Para além de ser perigoso, verificar cada compartimento daquela forma ia custar-lhe munições preciosas. Mas naquele momento, parecia não ter escolha possível. Se o atirador estivesse num daqueles compartimentos, estava preparado para matar quem tentasse ultrapassar a entrada.
Parou por um momento para avaliar as suas próprias reações físicas.
Estava agitada, nervosa.
A pulsação estava acelerada.
Respirava com dificuldade e aceleradamente.
Mas era da adrenalina ou da fúria da noite passada?
Lembrou-se outra vez…
“E se estiver a andar com alguém?” Dissera Ryan.
“Riley, nunca fizemos nenhum acordo de exclusividade.”
Dissera-lhe que o nome da mulher era Lina.
Riley perguntou-se que idade teria.
Provavelmente muito jovem.
As mulheres de Ryan eram sempre demasiado jovens.
Raios, para de pensar nele! Estava a reagir como uma novata estúpida.
Tinha que se lembrar de quem era. Ela era Riley Paige e era respeitada e admirada.
Tinha vários anos de treino e trabalho de campo.
Descera ao inferno e voltara vezes se conta. Tirara vidas e salvara vidas. Tinha sempre calma perante o perigo.
Então como podia ela deixar Ryan afetá-la daquela forma?
Abanou-se, tentando afastar as distrações da cabeça.
Dirigiu-se ao compartimento seguinte, disparou à entrada, depois entrou e disparou novamente.
Naquele momento a sua arma encravou-se.
“Raios,” Resmungou Riley audivelmente.
Por sorte, o atirador também não estava naquele compartimento. Mas ela sabia que a sua sorte podia acabar a qualquer momento. Pousou a M4 e sacou a sua pistola Glock.
Nessa altura, um movimento captou a sua atenção. Ele estava ali, naquela porta logo à frente, a espingarda apontada diretamente a ela. Instintivamente, Riley baixou-se e rebolou, evitando o disparo. Depois ficou ajoelhada e disparou três vezes, protegendo-se do recuo. As três balas atingiram o atirador que caiu no chão.
“Apanhei-o!” Gritou a Bill. Observou a figura cuidadosamente e não viu sinal de vida. Terminara.
Então Riley levantou-se e removeu o seu capacete de RV, fones e microfone. O atirador caído desaparecera, juntamente com o labirinto de corredores. Deu por si numa sala do tamanho de um campo de basquetebol. Bill estava próximo e Lucy levantava-se. Bill e Lucy também tiravam os seus capacetes. Tal como Riley usavam outros equipamentos, incluindo correias à volta dos pulsos, joelhos e tornozelos que detetavam os seus movimentos na simulação.
Agora que os seus companheiros já não eram fantoches simulados, Riley parou por um momento para apreciar a sua presença real. Pareciam um par estranho – um deles maduro e sólido, e outro jovem e impulsivo.
Mas ambos estavam entre as pessoas de quem mais gostava no mundo.
Riley já tinha trabalhado com Lucy mais do que uma vez no terreno e sabia que podia contar com ela. A jovem agente de pele e olhos escuros parecia sempre brilhar por dentro, irradiando energia e entusiasmo.
Por contraste, Bill tinha a idade de Riley e apesar dos seus quarenta anos o estarem a tornar um pouco mais lento, ainda era um excelente agente de campo.
Também ainda é um pão, Lembrou a si própria.
Durante alguns instantes pensou – agora que as coisas com Ryan não tinham dado certo, talvez ela e Bill pudessem…?
Mas não, ela sabia que era uma péssima ideia. No passado, ela e Bill tinham feito tentativas desastradas de iniciar algo sério e os resultados tinham sido desastrosos. Bill era um ótimo parceiro e um amigo ainda melhor. Seria uma estupidez estragar isso.
“Bom trabalho,” Disse Bill a Riley, sorrindo abertamente.
“Pois, salvou-me a vida, Agente Paige,” Disse Lucy a rir. “Nem acredito que me deixei atingir. Não o consegui abater quando estava mesmo à minha frente!”
“Isso faz parte do objetivo do sistema,” Disse Bill a Lucy, dando-lhe uma palmadinha nas costas. “Mesmo agentes muito experientes tendem a falhar os seus alvos a curta distância. A RV ajuda a lidar com esse tipo de problema.”
Lucy disse, “Bem, nada como ser atingida por uma bala virtual no ombro para nos ensinar essa lição.” Esfregou o ombro onde o equipamento a tinha atingido com uma ligeira ferroada para que soubesse que tinha sido atingida.
“É melhor do que se for uma real,” Disse Riley. “De qualquer das formas, desejo-te uma rápida recuperação.”
“Obrigada!” Disse Lucy, rindo novamente. “Já me sinto melhor.”
Riley guardou a pistola modelo e apanhou a falsa espingarda de assalto. Lembrou-se do recuo que sentira ao disparar ambas as armas. E o edifício abandonado não existente fora detalhado e realista.
Ainda assim, Riley sentiu-se estranhamente vazia e insatisfeita.
Mas era óbvio que tal não era culpa de Bill ou Lucy. E ela estava grata por eles se terem juntado a ela naquela manhã para aquele exercício.
“Obrigada por concordarem em fazerem isto comigo,” Disse ela. “Acho que precisava de libertar alguma tensão.”
“Sentes-te melhor?” Perguntou Lucy.
“Sim,” Disse Riley.
Não era verdade, mas pensou que uma pequena mentira não faria mal a ninguém.
“E se fôssemos buscar um café?” Perguntou Bill.
“Parece-me uma excelente ideia!” Disse Lucy.
Riley abanou a cabeça.
“Hoje não, obrigada. Fica para outro dia. Vão vocês.”
Bill e Lucy abandonaram a enorme sala de RV. Por um momento, Riley pensou se afinal deveria ir com eles.
Não, seria uma péssima companhia, Pensou.
As palavras de Ryan continuavam a ecoar na sua cabeça…
“Riley, a Jilly foi uma decisão tua.”
O Ryan tinha realmente uma lata monumental para virar as costas à Jilly.
Mas Riley agora não estava zangada. Estava dolorosamente triste.
Mas porquê?
Lentamente percebeu…
Nada é real.
Toda a minha vida, é tudo uma falsidade.
A sua esperança de ter novamente uma família com Ryan e as miúdas havia sido apenas uma ilusão.
Tal como esta maldita simulação.
Caiu de joelhos e começou a soluçar.
Demorou alguns minutos até Riley se recompor. Grata por ninguém a ter visto naquele estado, levantou-se e foi para o seu gabinete. Mal entrou, o telefone começou a tocar.
Ela sabia quem lhe ligava.
Ela esperava aquela chamada.
E sabia que a conversa não ia ser fácil.
CAPÍTULO CINCO
“Olá Riley,” Disse uma voz de mulher quando Riley atendeu a chamada.
Era uma voz doce – trémula e débil com a idade, mas amigável.
“Olá Paula,” Disse Riley. “Como tem passado?”
Paula suspirou.
“Bem, já se sabe – o dia de hoje é sempre difícil.”
Riley compreendia. A filha de Paula, Tilda, tinha sido morta naquele dia há vinte e cinco anos.
“Espero que não se importe que eu ligue,” Disse Paula.
“Claro que não, Paula,” Garantiu-lhe Riley.
No final de contas, Riley tinha iniciado a sua bastante peculiar relação há vários anos. Riley nunca trabalhara no caso do homicídio de Tilda. Entrara em contacto com a mãe da vítima muito depois do caso ser arquivado.
Esta chamada anual entre elas já era um ritual há vários anos.
Riley ainda o considerava estranho, ter aquelas conversas com alguém que não conhecia. Nem sabia qual o aspeto de Paula. Sabia que tinha sessenta e oito anos. Tinha quarenta e três, só três anos mais nova do que Riley, quando a filha fora assassinada. Riley imaginava-a como uma figura de avó carinhosa de cabelo grisalho.
“Como está Justin?” Perguntou Riley.
Riley tinha falado com o marido de Paula algumas vezes, mas nunca o conhecera.
Paula suspirou novamente.
“Faleceu no verão passado.”
“Lamento,” Disse Riley. “Como aconteceu?”
“Foi súbito, repentino. Um aneurisma – ou talvez um ataque cardíaco. Propuseram fazer uma autópsia para determinar a causa. Eu disse, ‘Para quê darem-se ao trabalho?’ Não o ia trazer de volta.”
Riley sentiu pena da mulher. Ela sabia que Tilda fora a sua única filha. A perda do marido não podia ser fácil.
“Como está a lidar com a situação?” Perguntou Riley.
“Um dia de cada vez,” Disse Paula. “É uma solidão agora.”
Havia um traço de insuportável tristeza na sua voz, como se se sentisse pronta a juntar-se ao marido na morte.
Era difícil para Riley imaginar aquela solidão. Sentiu uma enorme gratidão por ter pessoas que se preocupavam na sua vida – April, Gabriela e agora Jilly. Riley tinha suportado o medo de as perder. April estivera em perigo mais do que uma vez.
E claro, havia maravilhosos amigos como Bill que também tinha enfrentado inúmeros riscos.
Nunca os vou tomar por garantidos, Pensou.
“E você, minha querida? Perguntou Paula.
Talvez fosse por isso que Riley sentia que conseguia falar com Paula sobre coisas com que não conseguia com a maioria das pessoas.
“Bem, estou num processo de adoção de uma menina de treze anos. Tem sido uma aventura. Ah, e o Ryan voltou durante uns tempos e depois foi-se embora outra vez. Foi mais uma vez arrebatado por uma jovenzinha.”
“Que mau para si!” Disse Paula. “Eu tive sorte com o Justin. Ele nunca se tresmalhou. E penso que também ele teve sorte. Foi-se rapidamente, sem dores persistentes ou sofrimento. Espero que quando a minha hora chegar…”
A voz de Paula desvaneceu-se.
Riley estremeceu.
Paula tinha perdido uma filha para um assassino que nunca fora descoberto.
Riley também perdera alguém para um assassino que nunca fora encontrado.
Falou lentamente.
“Paula…ainda tenho flashbacks sobre isso. E pesadelos também.”
Paula respondeu num tom de voz carinhoso e preocupado.
“Não é algo que me surpreenda. Era pequena. E estava lá quando aconteceu. Eu fui poupada a esse horror.”
A palavra poupada surpreendeu Riley.
Não lhe parecia que Paula tivesse sido poupada ao que quer que fosse.
É verdade que Paula não vira a filha a morrer.
Mas perder uma filha única devia ser certamente pior do que aquilo por que Riley passara.
A capacidade de Paula de empatia altruísta sempre maravilhara Riley.
Paula continuou a falar numa voz calma.
“A dor nunca desaparece, penso que não. Talvez não devamos querer que desapareça. O que seria de nós se eu me esquecesse do Justin ou você esquecesse a sua mãe? Enquanto sofrer, sinto-me humana… e viva. É parte de quem somos, Riley.”
Riley conteve uma lágrima.
Como sempre, Paula dizia-lhe exatamente o que ela precisava de ouvir.
Mas como sempre, não era fácil.
Paula continuou, “E veja o que conseguiu da sua vida – proteger outros, procurar a justiça. A sua perda ajudou-a a tornar-se quem é – uma campeã, uma pessoa boa e preocupada.”
Um soluço único soltou-se da garganta de Riley.
“Oh, Paula. Quem me dera que as coisas não tivessem que ser assim – para nenhuma de nós. Quem me dera que eu tivesse…”
Paula interrompeu.
“Riley, falamos sobre isto todos os anos. O assassino da minha filha nunca será julgado. Não é culpa de ninguém e eu não culpo ninguém. E muito menos você. O caso nunca esteve consigo. Não é sua responsabilidade. Todos os outros fizeram o melhor que podiam. O melhor que pode fazer é falar comigo. E isso torna a inha vida sempre melhor.”
“Lamento o que aconteceu ao Justin,” Disse Riley.
“Obrigada. Agradeço-lhe do fundo do coração.”
Riley e Paula concordaram em conversar novamente no próximo ano e terminaram a chamada.
Riley estava sozinha no gabinete.
Falar com Paula era sempre emocionalmente difícil, mas tinha o condão de fazer com que Riley se sentisse melhor.
Hoje Riley só sentia pior.
Porquê?
Demasiadas coisas estão a correr mal, Apercebeu-se Riley.
Hoje, todos os problemas da sua vida pareciam estar ligados.
E de alguma forma, não conseguia deixar de se culpar por toda a perda, por toda a dor.
Pelo menos já não lhe apetecia chorar. Chorar não ajudaria. Para além disso, Riley tinha que tratar de alguma papelada. Sentou-se na secretária e tentou trabalhar.
*
Mais tarde, Riley foi de Quantico para a Brody Middle School. Jilly já estava à espera no passeio quando Riley parou o carro.
Jilly entrou no carro.
“Etive quinze minutos à espera!” Disse ela. “Despacha-te! Vamos atrasar-nos para o jogo!”
Riley deu uma risada.
“Não nos vamos atrasar,” Disse ela. “Vamos chegar mesmo a tempo.”
Riley conduziu até à escola de April.
Ao conduzir começou a preocupar-se novamente.
Teria o Ryan ido a casa buscar as suas coisas durante o dia?
E quando e como daria a notícia às miúdas?
“O que é que se passa?” Perguntou Jilly.
Riley não se apercebera que o seu rosto denotava os seus sentimentos.
“Nada,” Disse ela.
“Não é nada,” Disse Jilly. “Eu consigo perceber que se passa algua coisa.”
Riley conteve um suspiro. Tal como April e Riley, também Jilly era observadora.
Devo dizer-lhe agora? Perguntou-se Riley.
Não, não era o momento. Estavam a caminho de ver April a jogar num jogo de futebol. Não queria estragar a tarde com más notícias.
“Não é mesmo nada,” Disse ela.
Riley estacionou na escola de April minutos antes do jogo começar. Ela e Jilly fora para as bancadas que já estavam bastante bem compostas. Riley percebeu que talvez Jilly tivesse razão – talvez devessem ter chegado mais cedo.
“Onde é que nos sentamos?” Perguntou Riley.
“Ali em cima!” Disse Jilly, apontando para as bancadas superiores onde ainda havia espaço disponível. “Dali vou conseguir ver tudo.”
Treparam as arquibancadas e sentaram-se. Dali a poucos minutos, o jogo começou. April estava a jogar no meio-campo, a divertir-se imenso. Riley reparou de imediato que ela era uma jogadora agressiva.
Ao assistirem, Jilly comentou, “A April diz que quer desenvolver as suas habilidades nos próximos anos. É verdade que o futebol lhe pode dar acesso a uma bolsa?”
“Se ela realmente for boa,” Disse Riley.
“Uau. Isso é fixe. Talvez eu também possa fazer isso.”
Riley sorriu. Era maravilhoso que Jilly tivesse uma perspetiva tão positiva do futuro. Na vida que deixara para trás, Jilly nada tinha a ansiar. As suas perspetivas eram sombrias. O mais certo era não ter concluído o liceu quanto mais pensar na faculdade. Todo um mundo de possibilidades se abria para ela.
Acho que faço algumas coisas bem feitas, Pensou Riley.
Entretanto, April bateu um canto que enganou a guarda-redes adversária e marcou o primeiro golo do jogo.
Riley levantou-se batendo palmas.
E foi então que Riley reconheceu outra rapariga da equipa. Era Crystal Hildreth, a amiga de April. Riley já não via Crystal há algum tempo. Ver a rapariga despoletou algumas emoções complicadas.
Crystal e o pai, Blaine, viviam na casa ao lado da sua.
Blaine era um homem encantador por quem Riley tivera um interesse romântico e ele por ela.
Mas tudo terminara há alguns meses atrás quando algo terrível sucedera. Depois Blaine e a filha mudaram-se.
Riley nem se queria lembrar desses acontecimentos horríveis.
Olhou para a multidão. Visto que Crystal estava a a jogar, o mais certo era Blaine estar por ali. Mas naquele momento não o via.
Esperava não ter que o encontrar.
*
O intervalo chegou e Jilly pôs-se à conversa com alguns amigos que encontrara.
Riley reparou que tinha um SMS. Era de Shirley Redding, a agente imobiliária que tinha contactado para vender a cabana do pai.
Dizia…
Boas notícias! Ligue-me assim que puder!
Riley ligou para a agente imobiliária.
“Estive a debruçar-me sobre a venda,” Disse a mulher. “A propriedade deve render mais de cem mil dólares. Talvez o dobro disso.”
Riley sentiu-se entusiasmada. Esse dinheiro seria uma grande ajuda para os planos universitários das miúdas.
Shirley continuou, “Precisamos de falar sobre os detalhes. É boa altura agora?”
É claro que não era, por isso Riley combinou para conversarem no dia seguinte. Ao terminar a chamada, viu alguém a atravessar a multidão na sua direção.
Riley reconheceu-o imediatamente. Era Blaine, o seu antigo vizinho.
Notou que o homem sorridente e bem parecido ainda tinha uma cicatriz na bochecha direita.
Riley desanimou.
Será que ele culpava Riley pela cicatriz?
Ela não conseguia evitar sentir-se culpada.