Kitabı oku: «Razão Para Se Apavorar»
R A Z Ã O P A R A S E A P A V O R A R
(UM MISTÉRIO DE AVERY BLACK—LIVRO 6)
B L A K E P I E R C E
Blake Pierce
Blake Pierce é a autora da série bestselling um mistério de RILEY PAGE, composta por quinze livros (a continuar). Blake Pierce é também a autora da série um mistério de MACKENZIE WHITE, composta por nove livros (a continuar); da série um mistério de AVERY BLACK, composta por seis livros; da série um mistério de KERI LOCKE, composta por cinco livros; da série um mistério dos PRIMÓRDIOS DE RILEY PAIGE, composta por três livros (a continuar); da série um mistério de KATE WISE, composta por dois livros (a continuar); da série um thriller psicológico de CHLOE FINE, composta por três livros (a continuar); série um thriller psicológico de JESSIE HUNT, composta por três livros (a continuar).
Uma leitora ávida e uma fã desde sempre dos géneros de mistério e thriller, Blake adora ouvir sua opinião, pelo que, por favor, sinta-se à vontade para visitar www.blakepierceauthor.com para saber mais e para se manter em contacto.
Copyright © 2018 por Blake Pierce. Todos os direitos reservados. Exceto conforme permitido na Lei de Direitos Autorais dos Estados Unidos (US. Copyright Act of 1976), nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de nenhuma forma e por motivo algum, ou colocada em um sistema de dados ou sistema de recuperação sem permissão prévia do autor. Este e-book está licenciado apenas para seu aproveitamento pessoal. Este e-book não pode ser revendido ou dado a outras pessoas. Se você gostaria de compartilhar este e-book com outra pessoa, por favor compre uma cópia adicional para cada beneficiário. Se você está lendo este e-book e não o comprou, ou ele não foi comprado apenas para uso pessoal, então por favor devolva-o e compre seu próprio exemplar. Obrigado por respeitar o trabalho árduo do autor. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, lugares, eventos e acontecimentos são obras da imaginação do autor ou serão usadas apenas na ficção. Qualquer semelhança com pessoas de verdade, em vida ou falecidas, é totalmente coincidência. Imagem de capa: Copyright Karuka, usada sob licença de Shutterstock.com.
LIVROS DE BLAKE PIERCE
SÉRIE UM THRILLER PSICOLÓGICO DE JESSIE HUNT
A ESPOSA PERFEITA (Livro #1)
O PRÉDIO PERFEITO (Livro #2)
A CASA PERFEITA (Livro #3)
O SORRISO PERFEITO (Livro #4)
SÉRIE UM MISTÉRIO PSICOLÓGICO DE CHLOE FINE
A PRÓXIMA PORTA (Livro #1)
A MENTIRA MORA AO LADO (Livro #2)
BECO SEM SAÍDA (Livro #3)
VIZINHO SILENCIOSO (Livro #4)
VOLTANDO PRA CASA (Livro #5)
SÉRIE UM MISTÉRIO DE KATE WISE
SE ELA SOUBESSE (Livro #1)
SE ELA VISSE (Livro #2)
SE ELA CORRESSE (Livro #3)
SÉRIE OS PRIMÓRDIOS DE RILEY PAIGE
ALVOS A ABATER (Livro #1)
À ESPERA (Livro #2)
A CORDA DO DIABO (Livro #3)
AMEAÇA NA ESTRADA (Livro #4)
SÉRIE UM MISTÉRIO DE RILEY PAIGE
SEM PISTAS (Livro #1)
ACORRENTADAS (Livro #2)
ARREBATADAS (Livro #3)
ATRAÍDAS (Livro #4)
PERSEGUIDA (Livro #5)
A CARÍCIA DA MORTE (Livro #6)
COBIÇADAS (Livro #7)
ESQUECIDAS (Livro #8)
ABATIDOS (Livro #9)
PERDIDAS (Livro #10)
ENTERRADOS (Livro #11)
DESPEDAÇADAS (Livro #12)
SEM SAÍDA (Livro #13)
ADORMECIDO (Livro #14)
SÉRIE UM ENIGMA DE MACKENZIE WHITE
ANTES QUE ELE MATE (Livro #1)
ANTES QUE ELE VEJA (Livro #2)
ANTES QUE ELE COBICE (Livro #3)
ANTES QUE ELE LEVE (Livro #4)
ANTES QUE ELE PRECISE (Livro #5)
ANTES QUE ELE SINTA (Livro #6)
ANTES QUE ELE PEQUE (Livro #7)
ANTES QUE ELE CACE (Livro #8)
SÉRIE UM MISTÉRIO DE AVERY BLACK
RAZÃO PARA MATAR (Livro #1)
RAZÃO PARA CORRER (Livro #2)
RAZÃO PARA SE ESCONDER (Livro #3)
RAZÃO PARA TEMER (Livro #4)
RAZÃO PARA SALVAR (Livro #5)
RAZÃO PARA SE APAVORAR (Livro #6)
SÉRIE UM MISTÉRIO DE KERI LOCKE
RASTRO DE MORTE (Livro #1)
RASTRO DE UM ASSASSINO (Livro #2)
UM RASTRO DE IMORALIDADE (Livro #3)
UM RASTRO DE CRIMINALIDADE (Livro #4)
UM RASTRO DE ESPERANÇA (Livro #5)
ÍNDICE
PRÓLOGO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
CAPÍTULO VINTE E NOVE
CAPÍTULO TRINTA
CAPÍTULO TRINTA E UM
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO
EPÍLOGO
PRÓLOGO
Seu nome – Rosie – era a única coisa delicada naquele homem. Roosevelt “Rosie” Dobbs caminhou até a entrada do apartamento 2B com seu habitual andar desajeitado—se alguém estivesse por perto, poderia ter ouvido seus xingamentos, palavras obscenas que o seguiam como uma sombra.
Com seu punho gigante, Rosie bateu na porta. A cada batida, via nela o rosto do homem que morava no 2B. Um cara folgado, chamado Alfred Lawnbrook—do tipo que sempre pensava que era melhor do que todos, mesmo morando em um apartamento simples em uma das piores partes da cidade. Ele nunca pagava o aluguel na data certa. Nos dois anos em que estava morando no apartamento, sempre atrasara ao menos uma semana. Dessa vez, já eram três semanas de atraso. E Rosie já estava cansado daquilo. Se Lawnbrook não pagasse o aluguel é o fim do dia, ele o expulsaria.
Era sábado, logo depois das nove da manhã. O carro de Lawnbrook estava estacionado em sua vaga de sempre, então Rosie sabia que ele estava em casa. Mesmo assim, mesmo batendo na porta, Lawnbrook não o atendeu.
Rosie bateu mais uma vez com força na porta com seu punho e então gritou.
- Lawnbrook, saia daí! E é melhor você estar com o dinheiro do aluguel em mãos quando abrir a porta.
Rosie tentou ser paciente. Esperou dez segundos antes de chamar novamente.
- Lawnbrook!
Ainda sem reposta, Rosie pegou o enorme molho de chaves que carregava no quadril. Ele procurou entre as chaves até encontrar uma onde a etiqueta dizia 2B. Sem dizer mais nada, colocou a chave na fechadura, virou a maçaneta e entrou no apartamento.
- Alfred Lawnbrook! Aqui é Rosie Dobbs, o dono do apartamento. Seu aluguel está atrasado há três semanas e—
Mas Rosie viu imediatamente que não haveria resposta. Havia um silêncio estranho no local, que o fez perceber que Lawnbrook não estava em casa.
Não, não é isso, Rosie pensou. É algo diferente... algo está estranho. Tem algo de errado aqui.
Rosie deu mais alguns passos pelo apartamento, parando ao chegar ao centro da sala.
Foi quando percebeu o cheiro.
Primeiro, o cheiro o lembrou de batatas que haviam apodrecido. Mas tratava-se de algo diferente, mais sutil.
- Lawnbrook? – ele chamou novamente, dessa vez com uma onda de medo em sua voz.
Mais uma vez, não houve resposta... não que Rosie estivesse esperando ouvir algo. Ele caminhou pela sala e olhou na cozinha, imaginando que talvez alguma comida tivesse sido esquecida no fogão. Mas a cozinha estava limpa e, por ser pequena, rapidamente ele pode ver que nada estava errado ali.
Chame a polícia, a parte sensata de Rosie pensou. Você sabe que tem algo errado aqui, então chame a polícia e não se envolva nisso.
Mas curiosidade é algo viciante, e Rosie não conseguiu sair dali. Ele caminhou pelo corredor e algo estranho chamou sua atenção no caminho para o quarto. Dando alguns passos pelo corredor, o cheiro ficou mais forte e ele soube exatamente o que iria encontrar. Mesmo assim, não conseguiu parar. Ele precisava ver... precisava saber.
O quarto de Lawnbrook estava levemente desarrumado. Alguns itens haviam sido derrubados do criado-mudo: carteira, livro, porta-retratos. Na janela, a persiana de plástico estava levemente inclinada, com as bordas dobradas.
Ali, o cheiro estava pior. Não era insuportável, mas também não era algo que Rosie queria respirar por muito tempo.
A cama estava vazia e não havia nada entre o guarda-roupa e a parede. Com um nó na garganta, Rosie virou-se para o closet. A porta estava fechada, trazendo uma sensação pior do que o cheiro. Ainda assim, sua curiosidade mórbida o fez seguir até lá. Ele encostou na maçaneta e, por um momento, pareceu sentir o cheiro terrível de algo pegajoso e quente.
Antes de virar a maçaneta, viu algo com o canto dos olhos. Olhou para seus pés, imaginando que seu nervosismo estivesse fazendo-o ver coisas. Mas não... ele tinha mesmo visto algo.
Duas aranhas estavam vindo rapidamente debaixo da porta. As duas eram grandes, uma do tamanho de uma moeda e a outra tão grande que mal passava debaixo da porta. Surpreso, Rosie pulou para trás e soltou um pequeno grito de medo. As aranhas correram para debaixo da cama e, quando ele se virou para olhá-las, havia outras ali. A maioria eram pequenas, mas havia uma maior, do tamanho de um selo postal, andando pelo travesseiro.
Com a adrenalina a mil, Rosie virou a maçaneta e abriu a porta.
Ele tentou gritar, mas seus pulmões pareciam estar paralisados. Apenas um barulho seco saiu de sua garganta, enquanto ele se afastava do que tinha visto no closet.
Alfred Lawnbrook estava jogado no canto do closet. Seu corpo estava pálido e imóvel.
Além disso, completamente coberto por aranhas.
Havia vários fios de teia grossos nele. Um, em seu braço direito, era tão grosso que Rosie nem conseguia ver a pele. A maioria das aranhas eram pequenas e pareciam ser inofensivas, mas assim como as outras que Rosie havia visto, algumas no grupo eram maiores. Enquanto ele olhava apavorado, uma aranha do tamanho de uma bola de golfe desfilava sob a testa de Lawnbrook. Outra, menor, subia em seu lábio.
Aquilo tirou Rosie de seu estado de congelamento. Ele quase tropeçou nos próprios pés ao sair correndo do quarto, gritando, sentindo que milhões de aranhas estavam vindo atrás dele.
CAPÍTULO UM
Dois meses antes...
Ao abrir uma das muitas caixas ainda espalhadas por sua casa nova, Avery Black perguntou-se porque havia esperado tanto tempo para se afastar da cidade. Ela não sentia nenhuma falta e, na verdade, estava arrependida por ter perdido tanto tempo lá.
Ela olhou dentro de uma caixa, esperando encontrar seu iPod. Não havia etiquetado nada ao deixar seu apartamento em Boston. Havia, basicamente, jogado tudo em várias caixas e se mudado em apenas um dia. Aquilo fora três semanas antes, e Avery ainda não havia terminado de esvaziar as caixas. Na verdade, até seus lençóis ainda estavam escondidos em algum lugar nas caixas, e ela havia escolhido dormir no sofá desde então.
A caixa escolhida não continha seu iPod, mas tinha algumas garrafas de licor das quais Avery nem se lembrava mais. Ela tirou um copo da caixa, encheu de whisky e caminhou até a varanda. Fechou os olhos ao se deparar com a luz da manhã e deu um gole em seu whisky. Sentiu a bebida descendo e tomou mais um gole. Depois, olhou seu relógio e viu que eram dez horas da manhã.
Encolheu os ombros e sentou-se na velha cadeira de pedra, que já estava na casa quando Avery a comprara. Olhou em volta e sentiu, novamente, que poderia viver ali o resto de sua vida, totalmente confortável.
A casa não era uma cabana, mas tinha um toque rústico. Tinha só um andar e era moderna por dentro. Seu endereço dizia que Avery agora morava próximo ao lago Walden, mas ela estava longe o suficiente para poder se considerar “no meio do nada”. Seu vizinho mais próximo estava a quase um quilômetro de distância, e apenas árvores podiam ser vistas desde a porta da frente.
Não havia buzinas. Nem pedestres com pressa enquanto mexiam nos celulares. Nem trânsito. Nem cheiro de gasolina saindo dos motores.
Avery tomou mais um gole de seu whisky matinal e escutou em volta. Nada. Absolutamente nada. Bom, quase nada. Ela pode ouvir dois pássaros cantando entre as árvores enquanto sentia a brisa da manhã.
Ela havia feito o possível para que Rose também viesse morar ali. Sua filha havia passado por muita coisa, e só Deus sabia se ficar na cidade a ajudaria a se recuperar. Mas Rose havia recusado. Na verdade, recusado veementemente. Depois que a fumaça do último caso havia baixado, Rose decidira que precisava culpar alguém pela morte do seu pai. E, como sempre, a culpa recaiu sobre os ombros de Avery.
Por mais que doesse, Avery entendia. Ela teria se comportado da mesma forma se os papeis fossem invertidos. Durante sua mudança para a floresta, Rose havia a acusado de estar fugindo de seus problemas. E Avery não havia tido problemas em concordar. Ela estava ali para escapar das memórias de seu último caso—dos últimos meses de sua vida, na verdade.
Elas haviam chegado muito perto de recuperar o relacionamento que um dia tiveram. Mas quando o pai de Rose morrera—assim como Ramirez, o homem que ela tinha começado a aceitar como o novo amor de sua mãe—tudo fora por terra. Rose culpou Avery pela morte de seu pai e, aos poucos, Avery começou a culpar a si mesma também.
Avery fechou os olhos e deu o último gole em seu whisky. Escutou o silêncio da floresta e deixou que o whisky a confortasse. Ela havia feito aquilo várias vezes durante as últimas semanas, bebendo tanto que, em uma das vezes, tinha desmaiado por várias horas. Aquela noite, ela passara debruçada sobre o vaso e chorando, pensando em Ramirez e no futuro que eles poderiam ter tido.
Olhando para trás, Avery sentia-se envergonhada. Aquilo a fazia querer beber para se sentir bem. Ela nunca fora de beber muito, mas nas últimas semanas, whisky e vinho vinham ajudando bastante.
Ajudando a que? Ela se perguntou ao se levantar da cadeira de pedra e voltar para dentro de casa.
Olhou para o whisky, querendo beber mais e pegar no sono antes do meio dia apenas para passar por mais um dia. Mas ela sabia que seria covarde. Precisava passar por aquilo sozinha, com a mente limpa. Então, guardou o whisky e as outras garrafas na cozinha. Depois, começou a mexer em outras caixas, ainda procurando o iPod.
Em uma das caixas, havia vários álbuns de fotos. Por estar pensando em Rose enquanto estava na varanda, Avery decidiu abri-los. Havia três, e um deles tinha fotos de sua época da faculdade. Ignorou-o completamente e pegou o segundo.
Rose apareceu imediatamente. Ela tinha doze anos, e vestia um chapéu coberto por neve. Na próxima foto, ainda com doze anos, Rose estava pintando o que parecia ser um campo de girassóis em seu antigo quarto. Avery folheou o álbum até a metade, onde encontrou uma foto que havia tirado três natais antes. Rose e Jack, o pai de Rose, estavam dançando em frente à árvore de natal. Os dois estavam sorrindo abertamente. O gorro de Papai Noel de Jack estava caindo de sua cabeça e havia outros artigos de decoração nos fundos da foto.
Foi como uma facada no coração. A vontade de chorar apareceu como uma bomba. Avery não havia sentido aquilo desde que se mudara, mexendo nas caixas que continham os objetos de sua carreira. Mas ali, de repente, ela não conseguiu lutar contra seus sentimentos. Começou a chorar como se a faca estivesse, de fato, cravada em seu peito.
Tentou se levantar, mas seu corpo parecia estar paralisado. Não, ele parecia dizer. Você vai se permitir esse momento e vai chorar. Vai chorar muito. Vai sentir o luto. Você vai se sentir melhor depois.
Avery fechou o álbum e o pressionou contra seu peito. Chorou com força, permitindo-se ser vulnerável por um momento. Odiou sentir que era muito bom tirar aquele sentimento de si. Chorou sem dizer nada—sem chamar ninguém nem pedir ajuda divina. Simplesmente, chorou.
Avery sentiu-se bem. Como se estivesse exorcizando seus demônios.
Ela não soube por quanto tempo ficou ali, sentada entre as caixas. Só soube que, ao se levantar, não queria mais depender de algo como álcool para se sentir bem. Ela precisava clarear sua mente e organizar seus pensamentos.
Sentiu uma dor familiar nas mãos, algo mais forte do que a necessidade de beber para afastar suas emoções. Cerrou os dedos e pensou em alvos de papel e na distância entre a arma e seus alvos.
Seu coração então confortou-se um pouco ao pensar em alguns poucos itens que tinha para decorar o quarto nos próximos dias. Não havia muita coisa, mas havia algo do qual Avery quase tinha se esquecido nos últimos dias. Devagar, tentando tomar coragem enquanto caminhava pela sala repleta de caixas, entrou no quarto.
Parou na porta por um momento e olhou para a arma, parada num canto.
O rifle era uma Remington 700 que pertencera a Avery desde sua formatura na faculdade. Durante seu último ano, ela havia feito planos de se mudar para algum lugar remoto, para poder caçar veados no inverno. Era algo que seu pai sempre fizera e, mesmo não sendo tão boa naquilo, Avery gostava. Suas amigas tiravam sarro por conta disso e provavelmente ela havia assustado um ou dois namorados na época da escola por conta de seu gosto pela caça. Quando seu pai morrera, sua mãe havia implorado para que ela ficasse com a arma, dizendo que seu pai gostaria que ela a guardasse.
E a arma a acompanhara, de mudança em mudança, geralmente ficando guardada em um guarda-roupas ou debaixo da cama. Dois dias depois de se mudar para a casa nova, Avery havia levado a arma até uma concessionária para limpá-la. Ao buscá-la, também comprou três caixas de munição.
Imaginando que poderia sentir vontade de atirar a qualquer momento, Avery vestiu suas calças térmicas. Não estava tão frio naquela manhã—um pouco acima de zero—mas ela não estava acostumada a andar pela floresta. Ela não tinha roupas camufladas, então se contentou com um par de calças verde-escuro e um suéter preto. Ela sabia que aquela não era a vestimenta mais segura para caçar veados, mas era o que ela tinha naquele momento.
Avery vestiu um par de luvas finas (tendo que buscar nas caixas para encontrá-las), colocou seu par de tênis mais velho e saiu. Entrou no carro e dirigiu por três quilômetros até uma extensão da estrada que levava a uma enorme floresta, que pertencia ao homem de quem ela havia comprado a casa. Ele havia lhe dado permissão para caçar em suas terras, quase como um bônus aleatório pela compra da casa por dez mil dólares acima do valor pedido.
Ela encontrou um lugar ao lado da estrada onde claramente caçadores vinham passando há anos. Estacionou ali, com o lado do motorista quase dentro da pista. Então, pegou seu rifle e entrou na floresta.
Avery sentiu-se boba desfilando pela floresta. Ela não caçava há pelo menos cinco anos—justamente no final de semana em que recebera a arma de sua mãe. Estava sem o equipamento adequado—botas, aroma de veado para borrifar nas árvores, chapéus ou coletes laranjas. Mas também sabia que aquela era uma manhã de quarta-feira, e que a floresta estaria basicamente sem nenhum outro caçador. Sentiu-se um pouco como aquela criança tímida que só joga basquete sozinha e sai correndo quando as crianças mais talentosas chegam.
Caminhou por vinte minutos e chegou a uma subida. Caminhou em silêncio, com a mesma precaução que tinha enquanto detetive de homicídios. A arma caía bem em suas mãos, ainda que parecesse um pouco estranha. Avery era acostumada a usar armas menores, principalmente sua Glock, e por isso o rifle parecia muito poderoso. Ao chegar ao topo da pequena subida, viu carvalho caído a vários metros. Utilizou-o para se abaixar e se esconder, sentada no chão e encostando-se em uma árvore. Reclinada, soltou o rifle a seu lado e olhou para o topo das árvores.
Avery ficou ali em paz, sentindo-se ainda mais cercada pelo mundo do que quando estivera em sua varanda, um hora antes. Sorriu ao imaginar Rose ali com ela. Rose odiava estar ao livre e provavelmente desaprovaria se soubesse que sua mãe estava sentada em uma floresta, com um rifle, procurando um veado para matar. Pensando em Rose, Avery pode limpar sua mente e focar em tudo a seu redor. E quando pode fazer isso, os instintos de sua carreira apareceram.
Ela ouviu folhas mexendo no chão, assim como nas árvores, enquanto as últimas folhas teimosas teimavam em sobreviver ao inverno. Escutou algo à sua direita, um pouco acima, provavelmente um esquilo. Acostumada com seu entorno, finalmente pode relaxar.
Ouviu tudo aquilo, mas também viu seus próprios pensamentos tomando forma. Jack e sua namorada, ambos mortos. Ramirez, morto. Pensou em Howard Randall, caindo na água, provavelmente também morto. E por fim... viu Rose... como ela estivera constantemente em perigo por conta do trabalho de sua mãe. Rose não merecia aquilo. Ela havia feito o possível para ser uma filha querida até que finalmente chegara a seu limite.
Na verdade, Avery havia se impressionado por quanto tempo Rose havia segurado aquela barra. Especialmente depois do último caso, onde a vida dela estivera literalmente em perigo. E aquela não fora a primeira vez.
O barulho de um galho se quebrando atrás de Avery chamou sua atenção. Seus olhos se abriram rapidamente e, mais uma vez, ela olhou para o topo das árvores. Devagar, pegou o rifle ao ouvir um outro barulho vindo de trás de si.
Aproximou o rifle de seu corpo e lentamente o engatilhou. Levantou-se com cautela. Respirou fundo, cuidando para não mover as folhas. Seus olhos escanearam a área embaixo da pequena subida onde ela estava escondida. Ela viu um veado à esquerda, a cerca de cem metros. Era um macho pelo que ela podia ver. Não era grande, mas já era algo. Avery viu outro mais longe, porém parcialmente coberto por duas árvores.
Voltou a se mexer, colocando o rifle ao lado do carvalho caído. Flexionou o dedo para encontrar o gatilho e firmou a mão. Tentou mirar e teve mais dificuldade do que estava esperando. Finalmente, acertou a mira e disparou.
O barulho do tiro tomou conta da floresta. A arma ricocheteou, mas apenas levemente. Ao atirar, Avery sentiu seu braço desviar para a direita.
Então, viu o veado escapando.
Quando o som da bala encheu seus ouvidos em meio à floresta, algo em sua mente pareceu congelá-la. Em um momento paralisante, Avery não pode se mexer. Naquele momento, ela não estava na floresta, tendo falhado na caça a um veado. Ao invés disso, estava na sala de Jack. Havia sangue por todos os lados. Ele e sua namorada haviam sido mortos. Ela não havia conseguido evitar e, por isso, sentia que ela tinha matado os dois. Rose estava certa. Era culpa dela. Ela poderia ter evitado se fosse mais rápida—se tivesse sido melhor.
Os olhos ensanguentados de Jack a olhavam, mortos e parecendo pedir ajuda. Por favor, diziam. Por favor, volte e faça tudo certo.
Avery largou a arma. O rifle caiu no chão e, novamente, ela viu-se chorando. Lágrimas quentes, abundantes. Pareciam pequenas corredeiras de fogo descendo por seu rosto frio.
- É minha culpa – ela disse, sozinha na floresta. – É minha culpa. Tudo isso.
Não só Jack e a namorada... não. Ramirez, também. E todos que ela não havia conseguido salvar. Ela deveria ter feito melhor, muito melhor.
Avery viu a foto de Jack e Rose na frente da árvore de Natal em sua mente. Ela encolheu-se como uma bola no carvalho caído e começou a tremer.
Não, pensou. Não agora, não aqui. Recomponha-se, Avery.
Segurou a onda de emoções e respirou fundo. Não foi tão difícil. Afinal de contas, ela vinha lidando com aquilo por pelo menos uma década. Devagar, levantou-se, pegando a arma do chão. Olhou rapidamente para o lugar onde estavam os dois veados. Não se arrependeu de ter errado o tiro. Simplesmente, não se importou.
Virou-se para o lado de onde tinha vindo, carregando o rifle no ombro e uma década de culpa no coração.
***
No caminho de volta para casa, Avery imaginou que era algo bom não ter matado o veado. Ela não tinha ideia de como tiraria o animal da floresta. Arrastaria até o carro? Amarraria em uma corda para trazê-lo até em casa? Ela conhecia o suficiente sobre caça para saber que era ilegal deixar um animal morto na floresta.
Em qualquer outro momento, ela teria achado a imagem de um veado no topo de seu carro hilária. Mas, naquela hora, pareceu apenas algo sem graça. Apenas mais um assunto indefinido em sua mente.
Prestes a chegar à estrada, Avery sentiu seu telefone tocando. Pegou-o e viu um número que não reconheceu, mas com um código de área que havia visto durante quase toda sua vida. A ligação vinha de Boston.
Cética, Avery atendeu, sabendo por conta de sua carreira que ligações de números desconhecidos geralmente traziam problemas.
- Alô?
- Olá, é a senhora Black? Senhora Avery Black? – uma voz feminina perguntou.
- Sim. Quem fala?
- Meu nome é Gary King. Sou o dono do lugar onde sua filha está morando. Seu nome está nos formulários dela e—
- Rose está bem? – Avery perguntou.
- Até onde eu sei, sim. Mas estou ligando por outro motivo. Primeiro, ela está com aluguel atrasado. Está duas semanas atrasado e é a segunda vez em três meses. Eu tentei ir até lá e falar com ela, mas ela não atende a porta. E ela não atende minhas ligações.
- Com certeza você não precisa de mim para isso – Avery disse. – Rose é uma mulher crescida e pode lidar com o dono do apartamento onde ela mora.
- Bom, não é só isso. Eu recebi ligações de uma vizinha reclamando de barulhos de choro alto à noite. A mesma vizinha diz ser bem amiga de Rose. Ela diz que Rose anda muito diferente ultimamente. Que ela fica falando que tudo é uma droga e que a vida não faz sentido. Ela diz que está preocupada com Rose.
- Quem é essa amiga? – Avery perguntou. Era difícil negar a si mesma que ela estava praticamente entrando no modo detetive.
- Desculpe, mas não posso dizer. É a lei.
Avery sabia que o senhor King estava certo, então não pressionou.
- Eu entendo. Obrigado por ligar, senhor King. Vou falar com ela agora mesmo. E vou me certificar de que você receba seu dinheiro.
- Tudo bem, obrigado... mas eu estou sinceramente mais preocupado com o que pode estar acontecendo com a Rose. Ela é uma menina do bem.
- Sim, é mesmo – Avery disse e encerrou a ligação.
Naquele momento, ela já estava a menos de um quilômetro de sua nova casa. Discou o número de Rose e telefonou ao pisar mais fundo no acelerador. Tinha certeza que sua filha não atenderia, mas ainda assim tinha uma ponta de esperança a cada toque.
Como esperava, a ligação caiu na caixa de mensagens. Rose havia atendido apenas uma de suas ligações desde a morte de seu pai, e fora quando ela estava muito bêbada. Avery optou por não deixar mensagens, sabendo que Rose não escutaria, muito menos retornaria a ligação.
Avery estacionou na calçada, deixando o motor ligado, e correu para dentro de casa apenas para vestir algo mais apresentável. Voltou ao carro três minutos depois, seguindo na direção de Boston. Ela tinha certeza que Rose ficaria brava com sua mãe indo até lá, mas sabia que não tinha outra escolha, dada a ligação de Gary King.
Quando a estrada começou a apresentar menos curvas, Avery aumentou a velocidade. Ela não sabia o que o futuro a reservava sobre seu antigo trabalho, mas sabia que sentia falta de uma coisa sobre trabalhar nas forças a lei: a permissão para quebrar os limites de velocidade sempre que precisasse.
Rose estava em apuros.
Ela sabia.