Kitabı oku: «Razão Para Temer », sayfa 2
CAPÍTULO TRÊS
Avery imaginou que se fosse aceitar a posição de sargento, precisava resolver sua antipatia pela sala de conferências do A1. Ela não tinha nada contra a sala em si. Mas sabia que uma reunião tão logo após a descoberta de um corpo significava que haveria conversas paralelas e discussões, a maioria delas usadas para derrubar suas teorias.
Talvez como sargento, isso vai acabar, ela pensou enquanto entrava na sala.
Connelly estava na ponta da mesa, mexendo em alguns papeis. Ela imaginou que O’Malley chegaria logo. Ele parecia estar muito mais presente em qualquer reunião em que ela estava desde que eles haviam a oferecido a promoção.
Connelly olhou para os agentes.
- As coisas estão rápidas nesse caso – ele disse. – O corpo tirado do rio foi identificado cinco minutos atrás. Patty Dearborne, vinte e dois anos. Aluna da Boston University e natural de Boston. Até agora, é o que sabemos. Os pais serão informados assim que essa reunião acabar.
Ele deslizou pela mesa uma pasta que continha duas folhas. Uma mostrava uma foto de Patty Dearbone retirada de seu Facebook. A outra tinha três fotos, todas tiradas no rio Charles mais cedo, naquele dia. O rosto de Patty Dearbone estava presente em todas elas, com suas pálpebras cor púrpura fechadas.
Em um pensamento mórbido, Avery tentou ver o rosto da jovem da mesma maneira que o assassino poderia ter visto. Patty era linda, mesmo morta. Tinha um corpo que Avery achava muito magro, mas que faria salivar homens em um bar. Ela usou essa mentalidade tentando imaginar porque o assassino escolheria essa vítima se não houvesse motivos sexuais.
Talvez ele queira mais do que beleza. A pergunta, claro, é se ele está procurando essas belezas para bajula-las ou destruí-las. Ele aprecia a beleza ou quer destruí-la?
Ela não sabia por quanto tempo estava pensando nisso. Tudo o que sabia era que tinha dado um pequeno pulo quando Connelly pediu ordem na reunião. Havia um total de nove pessoas na sala de conferências. Ela viu que Ramirez havia chegado. Ele estava sentado perto de Connelly, olhando a mesma pasta que fora distribuída minutos atrás. Ele aparentemente sentiu que ela o olhava: retribuiu o olhar e sorriu.
Avery retribuiu o sorriso quando Connelly começou. Ela desviou o olhar, sem querer ser óbvia. Mesmo que quase todo mundo ali soubesse que ela e Ramirez tinham algo, os dois ainda queriam tentar manter as coisas escondidas.
- Todo mundo já deve estar sabendo de tudo – Connelly disse. – Para aqueles que não estão, a mulher foi identificada como Patty Dearborne, veterana da Boston University. Foi encontrada no rio Charles, fora de Watertown, mas é nativa de Boston. Como a Detetive Black pontuou no briefing que vocês receberam, a corrente do rio nos faz crer que o corpo foi jogado em outro lugar. Os peritos acham que o corpo estava na água por no máximo vinte e quatro horas. Essas duas coisas nos levam a crer que ela foi deixada em algum lugar de Boston.
- Senhor – o Oficial Finley disse. – Me perdoe por perguntar, mas por que sequer pensar na possibilidade de suicídio? O briefing diz que não havia cicatrizes nem sinais de luta.
- Eu eliminei essa possibilidade quando vi que a vítima estava nua – Avery disse. – Suicídio até seria uma possibilidade a ser considerada, mas é muito pouco provável que Patty Dearborne tenha se despido antes de se jogar no rio Charles.
Ela quase odiou a si mesma por destruir a ideia de Finley. Ela o vira tornar-se um ótimo policial semana a semana. Ele havia amadurecido no último ano, transformando-se de um bobão em um agente que todos reconheciam por trabalhar duro.
- Mas não tem marcas – outro agente disse. – isso diz muito coisa.
- Pode ser uma evidência de que não foi um suicídio – Avery disse. – Se ela tivesse pulado de qualquer altura maior que dois ou três metros, teria que haver contusões visíveis no corpo pelo impacto.
- Os peritos concordam com isso – Connelly disse. – Eles vão enviar um relatório mais detalhado depois, mas eles têm certeza disso. – Ele então olhou para Avery e fez um gesto para a mesa com sua mão. – O que mais você sabe, Detetive Black?
Ela levou um momento para pensar nas coisas que tinha dito a Connelly—detalhes que estavam no briefing. Havia mencionado as unhas, a falta de pelos e a ausência de joias.
– Outra coisa a se dizer – acrescentou, - é que o assassino que deixa suas vítimas nesse nível de apresentação mostra ou uma estranha admiração pela vítima ou algum tipo de arrependimento.
- Arrependimento? – Ramirez perguntou.
- Sim. Ele deixou ela como uma boneca, o mais linda possível, porque talvez ele não queria matar ela.
- A ponto de raspa-la nas regiões baixas? – Finley perguntou.
- Sim.
- E diga para eles por que você acha que estamos lidando com um assassino em série, Black – Connelly disse.
- Porque mesmo que isso fosse um erro, o fato de o assassino ter feito as unhas e raspado ela mostra paciência. E quando você junta isso com o fato de que a mulher estava linda e sem marcas, isso me faz pensar que ele é atraído pela beleza.
- O que nos leva de volta à linha de pensamento de que talvez ele não queria mata-la.
- Então você acha que pode ser um encontro que deu errado? – Finley perguntou.
- Não podemos ter certeza – ela disse. – Minha primeira reação é não. Se ele foi intencional a esse ponto e cuidadoso com o jeito que ela estaria depois de jogar o corpo, acho que ele teve o mesmo cuidado em seleciona-la.
- Seleciona-la para o que, Black? – Connelly perguntou.
- Acho que é isso o que precisamos descobrir. Com sorte os peritos vão ter algumas respostas para nos levar ao caminho certo.
- E o que fazemos até lá? – Finley perguntou.
- Trabalhamos – Avery disse. – Investigamos a fundo a vida de Patty Dearborne, esperando encontrar alguma pista que vai nos ajudar a encontrar o cara antes que ele faça isso de novo.
Quando a reunião terminou, Avery caminhou pela sala de conferências para falar com Ramirez. Alguém precisava informar os pais de Patty Dearborne e ela sentiu que precisava fazer isso. Falar com pais aflitos, mesmo sendo algo incrivelmente difícil e emocional, era geralmente uma das melhores coisas a se fazer para conseguir pistas. Ela queria Ramirez junto, mesmo querendo manter o balanço entre a vida profissional e pessoal dos dois. Era algo difícil, mas que eles estavam devagar aprendendo a fazer.
Antes que ela chegasse até Ramirez, no entanto, O’Malley entrou na sala. Ele estava falando no telefone, claramente com pressa. Seja lá qual fosse o assunto, deveria ser algo importante para faze-lo perder a reunião sobre o caso Patty Dearborne. Ele ficou na porta, esperou que todos, com exceção de Avery, Ramirez e Connelly saíssem, e a fechou. Terminou a ligação com um quase rude “Sim, depois”, e depois respirou fundo.
- Perdão por perder a reunião - disse. – Algo importante apareceu?
- Não – Connelly disse. – Temos a identidade da mulher e agora precisamos avisar a família. Estamos trabalhando com a hipótese de que quem fez isso vai fazer de novo.
- Black, você pode me mandar um relatório rápido explicando os detalhes?
- Sim senhor, - ela disse. Ele nunca pedia coisas pequenas assim para ela. Ela imaginou se aquele era mais um dos testes dele. Vinha percebendo que ele estava sendo mais brando com ela nas últimas semanas, disposto a dar a ela mais responsabilidades sem interferências. Tinha certeza que aquilo tinha tudo a ver com a proposta para se tornar sargento.
- Já que os dois estão aqui – O’Malley disse, olhando para Avery e Ramirez, - eu gostaria de ter uma palavra com vocês. Algumas, na verdade... e eu não tenho muito tempo, então vou ser rápido. Primeiro... Por mim está tudo bem se vocês têm algo fora do trabalho. Pensei muito em separar vocês aqui no A1, mas porra, vocês trabalham melhor juntos. Então, enquanto vocês puderem tolerar as piadas internas e especulações, vocês vão continuar sendo parceiros. Está bem?
- Sim senhor – Ramirez disse. Avery assentiu, concordando.
- A outra coisa... Black. O assunto de sargento... Vou precisar de uma decisão logo. Em quarenta e oito horas. Tentei ser paciente, deixar você pensar. Mas já se passaram dois meses. Acho que é justo.
- É justo – ela disse. – Vou te informar até amanhã.
Ramirez a olhou, surpreso. Na verdade, a resposta surpreendeu até ela mesma. No fundo, no entanto, ela achava que sabia o que queria.
- Agora, o caso dessa mulher no rio – O’Malley disse. – É oficialmente seu, Black. Ramirez está com você, mas vamos manter isso de um jeito profissional.
Avery estava um pouco envergonhada e sentiu-se ficando vermelha. Ah, não, ela pensou. Primeiro uma tarde de compras e agora ficando vermelha na frente de um cara. Que merda está acontecendo comigo?
Para superar aquele momento, Avery voltou a falar do caso.
- Eu gostaria de ser responsável por avisar a família.
- Podemos mandar outra pessoa – Connelly sugeriu.
- Eu sei. Mas por mais terrível que pareça, pais recebendo notícias assim são geralmente as melhores fontes de informação. Tudo está aberto, vivo.
- Deus, isso foi muito sem coração – Connelly disse.
- Mas efetivo – O’Malley disse. – Muito bem, Black. São quatro e cinquenta agora. Com sorte, você vai encontra-los saindo do trabalho. Vou fazer alguém te enviar o endereço em dez minutos. Agora vamos ao trabalho. Dispensados.
Avery e Ramirez saíram. No corredor, os cumpridores de horário estavam começando a sair. Para Avery, no entanto, o dia estava longe de acabar. Na verdade, com a tarefa de dar a notícia da morte de uma filha para seus pais, Avery sabia que aquela seria uma longa noite.
CAPÍTULO QUATRO
A família Dearborne morava em uma pequena casa em Somerville. Avery leu as informações que haviam sido enviadas a ela enquanto Ramirez dirigia. Patty Dearborne fora uma excelente aluna em seu ano de veterana na Boston University, e estava prestes a se tornar conselheira de uma empresa de saúde comportamental. Sua mãe, Wendy, era uma enfermeira que trabalhava entre duas áreas hospitalares diferentes. O pai de Patty, Richard, era um gerente de negócios em desenvolvimento de uma grande empresa de telecomunicações. Eles eram uma família ficha limpa, sem nem um rastro de sujeira em seus registros.
E Avery estava prestes a conta-los que sua filha estava morta. Não só morta, mas que havia sido jogada no rio congelado, completamente nua.
- Então – Ramirez disse enquanto dirigia pela suas estreitas de Somerville. – Você vai aceitar a posição de sargento?
- Ainda não sei.
- Alguma ideia?
Ela pensou no assunto por um momento e depois balançou a cabeça.
- Não quero falar sobre isso agora. É algo pequeno comparado ao que estamos prestes a fazer.
- Ei, você se escalou para fazer isso – ele disse.
- Eu sei – ela respondeu, ainda sem ter certeza do por quê. Sim, a ideia de ter boas pistas era verdade, mas ela sentia que havia algo a mais. Patty Dearborne era só três anos mais velha que Rose. Era muito fácil ver o rosto de Rose naquele corpo congelado. Por algum motivo bizarro, aquilo fez com que Avery pensasse que precisava dar a notícia à família. Talvez fosse uma necessidade maternal, mas ela sentiu que devia aquilo aos pais por algum motivo estranho.
- Então me deixe perguntar - ele disse. – O que te faz ter certeza que ele vai matar de novo? Talvez seja um ex-namorado que perdeu a cabeça. Talvez seja só ela.
Ela sorriu rapidamente porque sabia que ele não estava discutindo. Não mesmo. Ela sabia que ele gostava de entender como a mente dela funcionava. Refutar suas teorias era um jeito simples de fazer isso.
- Porque baseado no que sabemos sobre o corpo, o cara é cuidadoso e meticuloso. Um ex-namorado enraivado não seria tão cuidadoso para não deixar marcas. As unhas dizem muito para mim. Alguém levou tempo para cuidar delas. Espero que os pais possam me dar mais ideias de que tipo de mulher Patty era. Se soubermos mais sobre ela, vamos saber exatamente quanto do cuidado foi feito por quem jogou esse corpo no rio.
- Falando nisso – Ramirez disse, apontando. – Chegamos. Você está pronta?
Ela respirou fundo. Avery amava seu trabalho, mas essa era uma parte que ela definitivamente receava.
- Sim, vamos – disse.
Antes que Ramirez dissesse algo mais, Avery abriu a porta e saiu.
Ela estava preparada.
***
Avery sabia que duas pessoas nunca respondiam ao luto da mesma forma. Por isso ela não ficou tão surpresa quando, quinze minutos depois, Wendy Dearborne estava quase em estado de choque enquanto Richard Dearborne estava agitado e falando alto. Em certo momento, ela temeu que ele se tornasse violento quando jogou um vaso da mesa da cozinha no chão, quebrando-o.
O peso da notícia pairava na sala. Avery e Ramirez ficaram quietos, falando apenas quando perguntavam algo. Em silêncio, Avery viu duas fotos de Patty na sala; uma estava acima da lareira e a outra estava pendurada na parede. As suspeitas de Avery estavam certas. A garota era completamente linda.
Wendy e Richard estavam, ambos, sentados no sofá da sala. Wendy havia se controlado, deixando escapar alguns soluços enquanto encostava a cabeça no ombro de Ricahrd.
Com lágrimas caindo, Richard olhou para Avery.
- Podemos vê-la? Quando podemos vê-la?
- Nesse momento, os peritos ainda estão tentando determinar o que aconteceu com ela. Como vocês podem imaginar, a água fria e as temperaturas gélidas tornam mais difícil encontrar pistas ou evidências. Nesse meio tempo, tem algumas perguntas que eu gostaria de fazer que podem nos ajudar a encontrar respostas.
Os dois tinham olhares confusos e absolutamente horrorizados, mas estava claro que Wendy não ajudaria. Ela estava perdida, em silêncio, olhando em volta da sala tentando se certificar do lugar onde estava.
- Claro, pode perguntar o que quiser – Richard disse. Avery imaginou que o homem estava tentando ser forte—talvez tentando encontrar respostas para si próprio.
- Eu sei que vai ser uma pergunta estranha - Avery disse. – Mas Patty era o tipo de garota que se preocupava muito com as unhas, maquiagem, essas coisas?
Richard deixou escapar um soluço e balançou a cabeça. Ele ainda estava chorando, mas pelo menos conseguia formar palavras quando não estava puxando o ar.
- Não mesmo. Na verdade ela era meio moleque. Era mais fácil achar sujeira nas unhas dela do que unhas feitas. Ela se arrumava às vezes em ocasiões especiais. Às vezes prestava muita atenção no cabelo, mas não é—não era—uma garotinha dessas meigas, sabe?
Corrigir a si mesmo com o “era” pareceu despertar algo em Richard Dearborne. Avery tentou esconder seu coração partido por ele. Aquilo fora suficiente para faze-la decidir-se por não fazer a próxima pergunta planejada—uma pergunta sobre a frequência com que Patty depilava as pernas. Avery imaginou que a resposta era óbvia se ela era mesmo uma menina moleque. Não havia necessidade de perguntar aquilo a alguém que havia acabado de perder a filha.
- Você sabe sobre algum inimigo que Patty tinha? Alguém com quem ela teve problemas?
A pergunta levou um tempo para ser absorvida. Quando foi, a ponta de raiva que ela havia visto nos olhos de Richard Dearborne retornou. Ele levantou do sofá, mas foi segurado por sua mulher.
- Aquele filho da puta – Richard disse. – Sim, sim, tem alguém que eu apostaria qualquer coisa que... Deus...
- Senhor Dearborne? – Ramirez perguntou. Ele tinha se levantando devagar, talvez antecipando algum movimento de raiva de Richard.
- Allen Haggerty. Era um namorado de escola que não entendeu quando as coisas terminaram no segundo ano da faculdade.
- Ele causou problemas? – Ramirez perguntou.
- Sim. Tantos que Patty teve que prestar queixas contra ele. Ele ficava esperando do lado de fora das aulas dela. Ficou tão chato que Patty morou aqui no último ano porque não se sentia segura nos dormitórios.
- Ele chegou a ser violento? – Avery perguntou.
- Se foi, Patty nunca disse nada. Eu sei que ele tentou tocar ela—abraços, beijos, coisas assim. Mas nunca soube nada sobre ele tentar bater nela.
- O bilhete...
A voz de Wendy Dearborne era leve como o vento. Ela ainda não olhava para Avery e Ramirez. Seus olhos estavam abaixados, sua boca parcialmente aberta.
- Que bilhete? – Avery perguntou.
- Um bilhete que Patty nunca nos mostrou, mas nós encontramos no bolso dela enquanto lavava a roupa quando ela morava aqui – Richard disse. – O idiota deixou um bilhete no dormitório dela. Ela nunca disse, mas nós achamos que esse foi o fator que fez ela se mudar para cá. Não lembro de todas as palavras, mas falava sobre como ele pensava em se matar porque não podia tê-la, mas como isso às vezes o irritava. Coisas obscuras, do tipo se ele não pudesse tê-la, ninguém poderia.
- Você ainda tem esse bilhete? – Avery perguntou.
- Não. Quando nós perguntamos a Patty sobre isso, ela o jogou fora.
- Quando tempo ela ficou aqui? – Avery perguntou.
- Até o verão passado – Richard respondeu. – Ela disse que estava cansada de viver com medo. Tomamos a decisão de que se algo acontecesse com Allen novamente, nós iríamos diretamente à polícia. E agora... Agora isso...
Um silêncio pesado tomou conta da sala, até que finalmente ele olhou para os dois. Avery podia sentir a raiva e o luto do pai naquele olhar.
- Eu sei que foi ele – Dearborne disse.
CAPÍTULO CINCO
Quando Avery e Ramirez chegaram à quadra do endereço de Allen Haggerty, ela recebeu as informações dele por e-mail. Ficou surpresa em encontrar pouca coisa no arquivo. Ele tinha três multas de velocidade até os dezessete anos e fora rapidamente detido em um protesto basicamente pacífico em Nova York cinco anos antes, mas nada que fosse considerado grave.
Talvez ele só enlouqueceu um pouco quando Patty quis deixa-lo, ela pensou. Ela sabia que isso acontecia às vezes. Aquela era, na verdade, a desculpa mais utilizada por maridos violentos que batiam nas esposas. Eles falavam sobre ciúmes, descontrole e sentimento de vulnerabilidade.
Ninguém estava em casa, por isso, uma hora e meia depois de que os Dearbone haviam sido avisados de que sua filha estava morta, já havia um comunicado relatando que a polícia estava à procura dele. Enquanto andavam pela vizinhança, Ramirez mais uma vez demonstrou o quão conectado estava à ela.
- Isso tudo te faz pensar na Rose, não faz? – Ele perguntou.
- Faz – ela admitiu. – Como você sabe?
Ele sorriu.
- Porque eu conheço suas caras muito bem. Eu sei quando você está puta. Sei quando você está envergonhada, brava, feliz. Também vi que você desviou o olhar das fotos da Patty muito rápido na casa dos Dearbone. Patty não era muito mais velha que Rose. Eu percebi. Por isso você insistiu em dar a notícia aos pais dela?
- Sim. Boa percepção.
- Acontece às vezes – ele disse.
O telefone de Avery tocou às 10:08. Connelly estava na linha, parecendo cansado, mas animado.
- Localizamos Allen Haggerty saindo de um bar no Leather District – ele disse. – Temos dois caras segurando ele para você. Em quanto tempo você chega lá?
Leather District, ela pensou. Foi lá que eu e Rose estávamos hoje, pensando em quão bem nossas vidas estavam e como nós estávamos arrumando nossa relação. E agora tem um potencial assassino no mesmo lugar. É... estranho. Como um ciclo, de um jeito estranho.
- Black?
- Dez minutos – ela respondeu. – Qual é o bar?
Ela anotou as informações e, então, Ramirez dirigiu até a mesma área da cidade onde ela estivera, menos de doze horas antes, aproveitando a vida com sua filha.
Saber que aquilo era algo que Wendy Dearborne nunca mais poderia fazer fez doer seu coração. E também a deixou com um pouco de raiva.
Na verdade, ela não podia esperar para pegar aquele filho da puta.
***
Os dois agentes que haviam localizado Allen Haggerty pareciam felizes em tê-lo detido. Um deles era um cara que Avery havia conhecido muito bem—um homem mais velho que poderia estar aposentado há anos. Seu nome era Andy Liu e ele sempre parecia ter um sorriso no rosto. Mas agora, parecia irritado.
Os quatro se encontraram fora da viatura de Andy Liu. No banco de trás, Allen Haggerty olhava para eles, confuso e claramente irritado. Algumas pessoas passando a caminho do bar na sexta-feira à noite tentavam ver o que estava acontecendo sem parecerem óbvios.
- Ele trouxe problemas para vocês? – Ramirez perguntou.
- Não mesmo – o parceiro de Andy respondeu. – Ele só está um pouco bêbado. Nós estávamos quase levando ele para o batalhão, para a sala de interrogatório, mas O’Malley disse que queria que vocês falassem com ele antes que a gente tomasse essa decisão.
- Ele sabe por que vocês querem falar com ele? – Avery perguntou.
- Nós contamos para ele da morte de Patty Dearborne – Andy disse. – Foi aí que ele ficou doido. Tentei manter as coisas em ordem no bar, mas no fim, tive que algema-lo.
- Tudo bem – Avery disse. Ela olhou para dentro da viatura e franziu a testa. – Você se importa de me emprestar seu carro por um segundo?
- Fique à vontade – Andy disse.
Avery entrou no lado do motorista enquanto Ramirez sentou no banco do carona. Eles olharam tranquilamente para Allen no banco de trás.
- Então, como isso aconteceu? – Allen perguntou. – Como ela morreu?
- Isso não está claro ainda – Avery disse, sem razões para ser vaga com ele. Ela aprendera muito tempo antes que a honestidade era sempre a melhor maneira de se aproximar se você queria ler seu suspeito do melhor jeito possível. – O corpo dela foi encontrado em um rio congelado, debaixo do gelo. Nós não temos informações suficientes para saber se ela morreu congelada ou se foi morta antes de ser jogada no rio.
Isso pode ter sido um pouco áspero, Avery pensou ao olhar a expressão chocada de Allen. Ainda assim, ver aquela expressão genuína no rosto dele era tudo o que ela precisava para ter um bom pressentimento de que Allen Haggerty não tnha nada a ver com a morte de Patty.
- Quando foi a última vez que você a viu? – Avery perguntou.
Claramente, ele estava tendo problemas em pensar sobre aquilo. Avery tinha certeza que quando a noite acabasse, Allen relembraria muito mais do que os poucos anos com o seu amor perdido.
- Um pouco mais de um ano atrás, eu acho – ele finalmente respondeu. – E foi pura coincidência. Eu passei por ela quando ela estava saindo da mercearia. Nós nos olhamos por dois segundos e depois ela se apressou. E eu não a culpo. Eu fui um babaca com ela. Fiquei totalmente obcecado.
- E desde então não houve contato? – Avery perguntou.
- Não. Eu encarei os fatos. Ela não me queria mais. E ficar obcecado por alguém que não te quer não é o melhor jeito de conquistar, sabe?
- Você sabe de alguém na vida dela que poderia ser capaz de fazer algo algo assim com ela? – Ramirez perguntou.
Novamente, houve sinais de luta nos olhos de Allen enquanto ele pensava. Nesse momento, o telefone de Avery tocou. Ela olhou para a tela e viu o nome de O’Malley.
- Alô? – Ela disse, respondendo rapidamente.
- Onde você está? – Ele perguntou.
- Falando com o ex-namorado.
- Alguma chance dele ser quem nós estamos procurando?
- Dificilmente – ela disse, e continuou vendo a tristeza nos olhos de Allen no banco de trás.
- Bom. Preciso de você de volta no A1 rápido.
- Está tudo bem? – Avery perguntou.
- Depende do seu ponto de vista – O’Malley respondeu. Acabamos de receber uma carta do assassino.