Kitabı oku: «O Bispo: Nova «Heresia», em verso», sayfa 4
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O BISPO
I
Na cathedral. – Revelações d'um satyro
No claro azul d'um frio céu d'inverno,
Sobre a collina onde a cidade dorme,
Destaca, ao longe, o escuro vulto enorme
D'antiga cathedral;
Fica-lhe ao lado a succursal do inferno,
– Velho epigramma ao lugubre edificio,
– Largo covil doirado, aberto ao vicio, —
O paço episcopal…
Bate o luar nos porticos escuros,
Abrigo á noite de sinistras aves;
Lá dentro, as altas, magestosas naves
Envolve a solidão.
Sobem, crescem mil sombras pelos muros,
D'um bronzeo lampadario á luz distante,
Sob as curvas da abobada ondulante
Que estampa os arcos no marmoreo chão.
O côro é largo e bello. Ali se abriga,
D'um capitel nos rendilhados folhos,
Um satyro, que ri, piscando os olhos,
Lascivo como Pan.
Dizer parece á cathedral antiga:
«Porque me tens aqui, mostras-te ufana?
Pobre igreja catholica-romana!
Pobre igreja christã!»
Diz com orgulho, gracejando, ao Christo:
«Eu fico, a meu pezar, n'angustia absorto,
Ao vêr-te assim crucificado e morto,
Ó déspota dos meus!
Não desejo ser Deus… se Deus é isto:
– Um cadaver perpetuo exposto ao frio —
E, velho fauno desdentado, eu rio,
Eu rio-me de ti! – de ti, que és Deus!
Vês alem, por detraz do lampadario,
Um satanaz assoberbando um globo?
Deitado aos pés de Deus, parece um bobo
Deitado aos pés d'um rei.
Ao vê-lo assim, tristonho e solitario,
Tive dó d'aquell'alma taciturna,
E, na mudez da escuridão nocturna,
Com elle me liguei.
Vago rumor de vozes mal distinctas
Nos guiou para os porticos do paço:
Eu, sabendo que o bispo era um devasso,
Previa a bacchanal…
Escuta, ó Christo, escuta, embora sintas
Chammejante de pejo o rosto frio,
Tudo o que eu vi no lupanar sombrio,
No infame lupanar sacerdotal:
II
A humildade do bispo
Era um bello aposento,
Que Faublas prezaria sem desdouro…
– Ninho d'abutres, perfumado e fôfo,
A que dava um revérbero sangrento,
Á froixa luz d'um candelabro d'ouro,
A adamascada purpura do estôfo. —
Molles coxins, em largas ottomanas,
Convidavam a languidas posturas
As Aspasias catholicas-romanas,
As lúbricas sultanas
D'aquelle harem christão, meio ás escuras!
Mil fragrancias subtis no morno ambiente;
Ao centro a meza, – o impuro altar da orgia; —
Sobre a meza a baixella resplendente…
A baixella roubada á sacristia:
Crystaes por toda a parte, e, nos espelhos,
Todo esse lustre a espaços reflectido,
Da luz da orgia á froixa claridade…
Satanaz debruçou-se ao meu ouvido
Para dizer-me, a rir-se: «Os Evangelhos
Aconselham ao bispo esta humildade!»
III
Dolores
Sentado á meza, o principe da Igreja
Inclina a calva fronte aos seios tumidos
D'uma hespanhola, cujo olhar flammeja,
E em cujos labios humidos,
Rindo, o prazer de beijos s'enebria!
Ao vêr-te assim, myrrada
Pelos impuros halitos da orgia;
Ao vêr-te assim, na sombra, arremessada
Dos canteiros nataes a impura alcôva,
Quem ha que se commova,
Pobre flôr dos jardins da Andaluzia?
Tem por nome Dolores…
Por officio, vender a quem lh'os paga,
Como não tem amor, os seus amores.
É soberba e formosa!
Brilhante e seductora! – imagem vaga
D'Eva… já criminosa,
Escondendo a nudez por entre as flores!
Mixto de sombra e luz, de lava e gêlo,
D'éden occulto e precipicio aberto,
Prende, fascina, attrahe, céga, arrebata!
Para quem dorme, em extasis, coberto
Pelas ondas gentis do seu cabello,
É como no deserto
A mancenilha, que adormenta e mata!
Os braços nus da joven messallina
Cingem o padre, que, sorrindo, oscúla
A carne branca, avelludada e fina,
Que lhe é dado gosar… mesmo sem bula.
Collam-se, em longo beijo,
As duas bocas ávidas, famintas…
Escuta, ó Christo, escuta, embora sintas
O rosto frio a chammejar de pejo!
IV
Supplicas e promessas. – Caracterevangelico do bispo
DOLORES
Prende-me ás tranças formosas,
Se tu és o meu amante,
As joias mais preciosas
Da tua mitra brilhante!
Fulgirão co'as pedras tuas,
Cheias de raios inquietos,
Meus soltos cabellos pretos
Nas alvas espaduas nuas!
Haja depois quem se affoite
A julgar outras mais bellas…
São tranças da côr da noite,
Precisam d'essas estrellas!
O BISPO
Rainha das feiticeiras!
Venus, que sahes d'este mar!
Pede tudo o que tu queiras,
Tudo o que eu te possa dar.
Louca, aos meus beijos entrega
Teus hombros, teus seios nus!..
Dou-te a igreja, o paço, a adega,
O báculo, o annel, a cruz;
As altas seges vermelhas
Que tem cem annos, ou mais,
E as gordas, rijas parelhas
Das mulas episcopaes…
Toda a riqueza que brilha
No pomposo altar de Deus,
E um dos meus cónegos, filha,
Por cada beijo dos teus!..
DOLORES
Eu gosto de sentir nos braços froixos
O enorme pezo do teu corpo exangue,
Mas, se te collo a boca aos labios roixos
Acho em teus labios um sabor a sangue!..
Amas o sangue?
O BISPO
Adoraria a gloria
De ter sentido, eu só, n'esta existencia,
Todo o sangue dos martyres da historia
Cair-me, gota a gota, na consciencia!
Quizera ter colhido o goso ardente
De vêr no circo, em Roma, as feras brutas;
Nero a rir-se feroz, ébrio e contente,
Nos braços nús das ébrias prostitutas!
Os pallidos christãos, – torpes escravos, —
Expirando entre as garras das pantheras,
E a turba inquieta prerompendo em bravos…
Em bravos ao tyranno, a Roma, ás feras!
Quizera, quando as sombras da heresia,
Sobre um povo servil, grosseiro e baixo,
Rasgava, escurecendo a luz do dia,
Do Santo Officio o pavoroso facho.
Quizera dar a humanidade inteira
Á nossa chamma augusta, aos pôtros nossos,
E, dos pôtros no horror, e na fogueira,
Crestar-lhe as carnes, triturar-lhe os ossos!
Mil peçonhentas viboras no seio
A infame contra nós, sem medo, abriga.
Mal sabes tu, mulher, quanto eu a odeio,
A humanidade, a nossa escrava antiga!
Podesse eu ter, ó pallida Dolores,
Do sangue d'ella trasbordando o calix!..
Era um rebanho vil; nós, os pastores,
E a Realeza era o canis pastoralis…
Tornou-se livre e audaz; mitras, diademas,
Báculos, sceptros, esmagou n'um'hora!
Quebrou, raivando, as solidas algemas,
E a fronte, ergueu, sem medo, á luz da aurora!
Mas que aurora, mulher! que vasto incendio
Nos sombrios dominios do passado!
Que opprobrio para nós! que vilipendio!
Que roubo infame ao senhorio herdado!
E assim ficamos nós, sem que lavasse
De sangue um rio a nodoa!.. – escura ideia!
E assim trazêmos na orgulhosa face
Perpetua a marca vil da mão plebeia!»
V
Movimentos de fera. – Risos longinquos
Ergueu-se, febril, d'um salto,
Como um tigre nos juncaes;
Seus olhos chispavam lume
Como os dos lobos cervaes;
Crispava as mãos como garras;
Tinha rugidos na voz!
– Satanaz tremia, ao vêr-lhe
O rude aspecto feroz.
Correu á larga janella
E, abrindo-a de par em par,
D'um anáthema ruidoso
Fez os espaços vibrar…
– Ouvia-se, ao longe, ao longe,
O rir convulso do mar.
VI
O anáthema, fragmento do «Syllabus». – Angustias d'uma alma piedosa
«Malditos sejaes vós, Progresso e Liberdade!
Gémeos filhos do Mal, irmão e irmã do Crime;
Tu, que és um sacrilégio, abôrto da impiedade;
Tu, que dás força á plebe e esmagas quem a opprime!
Vêde: por toda a parte as hydras do peccado
Erguem altivo o collo, iradas contra nós,
E o nosso bom cutello esconde-se embotado
Na cova onde repousa o nosso extincto algoz!
Por vós andam na sombra, errantes, perseguidos
Como as feras no matto, os reis d'origem pura;
Aos ministros de Deus preferem-se os bandidos…
E assim chamaes aurora á noite escura… escura!
Comvosco, onde assomaes, a tempestade assoma;
Rebrame o vendaval no espaço onde rugis,
– Negro sopro, que apaga as lampadas de Roma,
E aviva ao mesmo tempo os fachos de Paris!
Erguendo para os céus a pavorosa fronte
O anjo da Assolação atraz de vós caminha;
Quando o incendio alumia a extrema do horisonte
Sois vós que perpassaes n'essa abrazada linha!
E para que desmaie o fogo da heresia,
O fogo a que se aquenta a sordida relé,
Debalde sopra o clero á cinza inutil, fria,
Aos ultimos carvões do extremo auto-da-fé!
Ó pavidos heroes da lugubre tragedia
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