Kitabı oku: «O Regicida», sayfa 13
Nota 23.ª
Isto de ser agarrado pelas costas o duque de Vizeu, quando o Luiz XI portuguez o esfaqueou, não se vislumbra da historia, porque a historia dos governos monarchicos tem sempre sido escripta de joelhos sobre os estrados dos thronos. De feito, D. João II, quando resolveu matar o duque guarda-roupa das casas de Nuno da Cunha em Setubal, convidou trez homens para testemunhasdo feito: Diogo de Azambuja, Lopo Mendes do Rio, e D. Pedro d'Eça, alcaide de Moura. Este ultimo era um dos mais valentes homens de Portugal. D'elle diz Diogo de Paiva de Andrade, nas suas Memorias: foy um Fidalgo a quem a natureza dotou de muito animo e grandes forças, e por isto El-Rey D. João II o escolheu quando quiz matar a D. Diogo, Duque de Vizeu a quem abraçou por detraz. Eis aqui a singular missão da testemunha!
E, como prova da coragem de D. Pedro d'Eça e dos medianos espiritos do covarde matador do duque, refere Diogo de Paiva um bonito lance: Acontecendo em Moura matarem um homem uns criados seus (do alcaide) foram-se dois irmãos do morto queixar a El-Rey, e disseram-lhe que D. Pedro lh'o mandára. Pelo que, El-Rey o mandou vir á côrte, e esteve n'ella mais de dois annos, posto que, tirada a devassa, o não acharam culpado. Enfadado D. Pedro, disse a El-Rey, que pois sua Alteza não queria crêr que elle não tinha culpa na morte do homem, e os que o accusavam eram dois, que lhe fizesse mercê de lhe mandar dar campo com ambos, para assim se purificar: do que, agastando-se El-Rey lhe disse: «que tomára elle ser um dos dois». E D. Pedro lhe respondeu: «Não fôra Vossa Alteza meu Rey, e fosse com elles o terceiro».
Nota 24.ª
Não é impertinente a noticia do processo de empeçonhar as balas. Acceitemol-a do livro inedito de um Mestre de Campo do exercito de D. Pedro II: «Tomarão licoctomum, que he outra casta de aconito ou de Rozalgar (não alteramos a orthographia do texto) e Napello, dos quais espremerão o sumo com hua empressa, que se receberá em hua vazilha de vidro, precatando-se de não lhe toccar com as mãos, a qual vazilha será exposta ao sol no mez de julho por espaço de 30 dias, recolhendo-a todas as tardes ao por do sol em hua cestinha coberta e guardada em logar calido, izento de todo cheiro forte, como de alhos ou cebollas, por os tais lhe embotarem a força; e ó outro dia ao sair do sol se torne a expor n'elle a vazilha até que o sumo se engrosse a modo de unguento que será pouco mais ou menos ao cabo do tempo dito; advertindo que na madrugada, antes que se tire a vazilha do cesto, para a expôr ao sol, hão de descobrir o sesto desviando-a d'elle, e o deixarão assim aberto por espaço de boa meia hora, antes de pegar na vazilha, e á tarde, antes de a arrecadar no sesto a cobriram com alguma cousa, o corpo mais desviado que poder ser. Despois tomaram trez ou quatro Rubetos que são sapos de sylvas grandes, e cheios de nodoas de varias côres, muito peçonhentos, e tanto mais o serão quando sejam apanhados em logares sombrios e frios como nos paues cheios de palha tabua. Estes serão metidos em uma vasilha de cobre de fundo redondo, capaz de os receber commodamente, com sua tapadoura que venha justamente com a boca da vazilha, que terá uma azêlha por cima pela qual poderá entrar a ponta de hua aste para delonge a poderem descobrir; ao lado da vazilha hum pouco por cima do seu fundo haverá huas cavas em forma de hua meia laranja, situado em modo de Bebedouros de Gayolas, e no meio do fundo da vazilha haverá hua fença ou abertura estreita que dará em hum segundo fundo, do mesmo metal, a modo de funil. As ditas covas a modo de Bebedouros, se encherão de oleo de Escorpião; feito o que, os sapos se meterão na vazilha que será bem e justamente coberta com sua tapadoura e assentada sobre uma trenpe, em modo que a ponta do funil do segundo fundo dê em a bocca de hua garrafa de vidro, assentada em hua tigella de agua fria, e a coisa assim desposta se fará hua cama em redondo de ladrilhos da altura da trempe que a cercará toda ao redor, na largura de dois palmos até dois palmos e meio, em cima da qual se accenderá um fogo de roda brando e moderado de carvoens afastados da vazilha um palmo, mediante o que a vazilha irá aquecendo pouco e pouco, dentro da qual os sapos sentindo a quentura não acostumada, de sequiosos e suados, arremetterão a beber o olio de Escorpião dos Bebedouros, que lhes fará bomitar toda a peçonha que dentro em si tiverem, a qual, cahindo pela abertura do fundo da vazilha no segundo fundo do funil, e deste á garrafa, continuará o fogo, no mesmo estado por espaço de 4 a 5 horas, e assim o deixarão athe o outro dia, em o qual, querendo abrir a vazilha, terão em sentido virar as costas da parte do vento, e com hua vara ou aste hum pouco comprida, que passará pela azelha da tapadoura, desviando se o corpo da vazilha, o mais que poder, a destaparão e deixarão assim aberta por espaço de outras 4 ou 5 horas, ao cabo das quaes seguramente se poderão chegar á vazilha, e recolher o veneno da garrafa, ao qual se poderá ajuntar o sumo das ervas dos aconitos dantes exprimidos, e juntamente anemona, sicuta, meimendro, mendragora, malla insana, berengella, pés de ganços de todas as castas, ranunculos, erva Moura, arsenico branco, e cerebros de rato e de gato».
É de recear que o leitor desconfie da capacidade d'este sugeito que mandava hervar as balas com succos de pés de ganço e miolos de gato e rato! Saiba, pois, que o auctor da receita foi um militar de elevada patente que exerceu em Portugal no reinado de D. Pedro II cargos importantissimos na guerra. Possuo com grande estimação dois manuscriptos ineditos de Miguel de Lescolle, que assim se chamava o Mestre de Campo. Um, é este de que trasladamos o processo de hervar as balas, e intitula-se: Recopillação de alguns fogos artificiaes, para offensa e defensa de praças, e embarcações, e de alguns outros para as alegrias e recreaçoens feitos pelo Mestre de Campo Miguel de Lescolle. O outro manuscripto, de primoroso calligrapho do começo do seculo XVIII, é: Liçoens de Artelharia recopilladas e feitas por Miguel de Lescolle, Mestre de Campo intertenido na Provincia de Entre Douro e Minho, a cujo cargo está a conservação do trem de Artelharia, Armas e Muniçoens d'ella, e as fortificaçoens das Praças de sua fronteira por mandado do snr. Marquez das Minas, dos Conselhos de Sua Alteza, Mestre de Campo general, e Governador das Armas da mesma provincia.
Um homem d'este vulto, se acreditava na peçonha dos pés de ganço e do cerebro dos ratos, é porque realmente, n'aquelles dias, a toxicologia era mais investigada que hoje.
NOTA FINAL
As pessoas lidas na historia patria estão affeitas a encontrar, n'este caso da tentativa de morte contra D. João IV, que houve um denunciante de Domingos Leite, chamado Manoel da Cunha, e não Roque da Cunha, como eu o denomino. Arguem-me pois de inventar nomes desnecessarios á novella com aggravo da historia. É injustiça que me fazem. Todos os historiadores que o leitor conhece o enganaram involuntariamente ou por negligencia de quem fiou de mais nos seus antecessores e guias. Tenho presentes o conde da Ericeira, (Portugal restaurado) Fr. Claudio da Conceição, (Gabinete historico) D. Antonio Caetano de Sousa (Historia Genealogica da Casa Real Portugueza), Roque Ferreira Lobo, (Historia da acclamação de D. João IV) Ferdinand Denis, (Portugal Pittoresco) João Baptista de Castro, (Mappa de Portugal) o sr. Viale, (Resumo da historia de Portugal) e melhor que todos o sr. Manuel Pinheiro Chagas, (Historia de Portugal). Dizem todos invariavelmente que o delactor de Domingos Leite era Manuel Roque, porque todos invariavelmente se guiaram pelo conde da Ericeira, que escrevia 32 annos depois do successo. O mais curial seria averiguar nos escriptores coevos, e nomeadamente as relações escriptas no mesmo anno de 1647. O investigador laborioso encontraria, ácerca d'este assumpto, afóra a citada noticia de Fr. Francisco Brandão impressa em 1647, duas mais do mesmo anno, uma de Antonio de Sousa de Macedo, e outra de D. Francisco Manuel de Mello. São duas peças declamatorias: rethorica em barda, e muita pobresa de particularidades. O documento mais precioso é do chronista-mór do reino. O conde da Ericeira não o leu; que farte revela ignorancia dos elementos que o deviam esclarecer. Diz que Domingos Leite Pereira era de Lisboa, e de familia distincta. Quanto a ser de Lisboa, claramente contradiz a affirmativa do escriptor coetaneo que o faz de Guimarães n'este trecho da sua relação: Foi o executor da maquina… Domingos Leite Pereira indigno de haver nascido na nobre e leal villa de Guimarães, que sempre abominará tão monstruoso aborto. E em outra passagem, já referida no texto, nos conta que Domingos Leite, da primeira vez que viera de Castella a Lisboa, fôra procurado em Guimarães. Pelo que respeita ao nome do traidor, em varios lanços o nomeia Roque da Cunha, e em um d'elles, por signál, a critica de Brandão desmerece grandemente dos creditos alcançados n'outros escriptos. Senão, vejam: Dia de S. Roque, a 21 de agosto, se executou a sentença no delinquente, e o ser Roque da Cunha o companheiro que o entregou á justiça, faz crivel que por ser este Sancto um dos tutelares do reino, escolhido pelo sr. rei D. João III, de que na capella real ha particular confraria, accudiu á vingança merecida contra os legitimos reis d'esta corôa.