Kitabı oku: «O Homem Que Seduziu A Mona Lisa», sayfa 3
V
A condessa de Forlì
Girolamo Riario e Catarina Sforza
Nos aposentos do protonotário, não encontrou Giovanni Battista, mas um gordo clérigo que o convidou a encontrar o ocupado monsenhor direto na basílica de São Pedro, para onde este havia sido convocado com urgência pelo pontífice em pessoa. Encontrou ambos mergulhados em uma reunião séria, frente ao monumento fúnebre de Roberto Malatesta, herói da batalha de Campomorto.
Ao lado de Sisto IV estava seu sobrinho, o sinistro capitão general Girolamo Riario, que Tristano conhecia por ter sido um dos principais defensores da malsucedida conspiração de Florença quatro anos antes, ordenada em detrimento de seus amigos Lourenço e Juliano de Médici e que custou a vida deste último.
Não satisfeito de receber de seu tio as Senhorias de Ímola e Forlì, depois de não ter conseguido tomar posse de Florença e falhado na conquista de Urbino, o insaciável Riario arriscava agora também assistir ao malogro definitivo de suas ambições sobre Ferrara.
A República de Veneza continuava indiferente às advertências e excomunhões do pontífice; assim, após ter retirado seus embaixadores de Roma, ameaçava cada dia mais as fronteiras milanesas e os territórios da Igreja em Romanha. Era isso que preocupava agora, mais do que qualquer outra coisa, o velho Sisto IV.
Antes que fosse tarde demais, pensou-se em jogar a carta aragonesa: falava-se em encaminhar Tristano à Nápoles do rei Fernando para tentar convencê-lo, após Campomorto, a estabelecer um novo acordo de coalizão (do qual participariam também Florença e Milão) contra a Sereníssima. Na verdade, Giovanni Battista não se entusiasmava muito com essa solução e propôs no lugar tentar tratar diretamente com o doge, mas, dada a firme determinação do Santo Padre, teve de aceitar o encargo.
O mais satisfeito com a solução era obviamente Girolamo, que via nesse movimento o último vislumbre de esperança de sentar à mesa dos vencedores como protagonista e finalmente pôr as mãos em Ferrara.
– Monsenhor Orsini – convocou este último antes que o Santo Padre dispensasse os presentes. – Queiram fazer-me a cortesia, Vossa Magnitude e o Nosso honorável embaixador, de aceitar o convite para um sóbrio banquete que eu e minha senhora ofereceremos amanhã de noite em meu humilde palácio em Sant'Apollinare para inaugurar o período do Santo Natal.
Giovanni Battista, deferente, aceitou agradecido.
Tristano, que de propósito não se pronunciara diante do capitão, finda a reunião, reservadamente, foi também persuadido por seu protetor a aceitar o convite sem reticências. Descendo a escadaria da basílica constantiniana, Orsini intimou-o:
– Amanhã de manhã espero-o em meu escritório para os detalhes sobre Mântua, mas antes confirme a presença a Riario. Você poderia até declinar o convite do sobrinho do papa, mas não de seu filho!
Logo depois, partiu em uma carruagem e desapareceu entre as vias movimentadas da cidade.
O jovem diplomata estava exausto, e aquela última indiscrição deixou-o atônito; entrou na primeira estalagem aberta e, depois de colocar algo no estômago, convidou Pietro e os dois cavalos para o abrigo temporário; enquanto o sol se punha, seguiu a pé para casa.
Chegando em casa, no entanto, as emoções daquele dia pareciam ainda não terem acabado…
Da rua, viu uma fraca luz de vela iluminar por um momento o andar mais alto da residência.
Pegou na espada e, subindo com cautela ao piso superior, viu o lampejo reacender no quarto de dormir…. Depois outro brilho mais intenso e uma terceira vela…
– Quem está aí? – perguntou, tirando uma adaga de um escudo na parede. – Saia! – e, com um chute, escancarou a porta entreaberta do quarto.
Uma impertinente risada dissolveu a tensão e, diante de seus olhos, delinearam-se as curvas de um corpo feminino que conhecia bem. Era sua Verônica.
– Diga-me, ó meu herói. Meus ouvidos estão loucos para escutar sua voz – sussurrou a insubstituível confidente e impagável amante.
– Não tanto quanto as minhas mãos para acariciar suas ancas, minha cara – rebateu Tristano, colocando as armas na cadeira onde estavam as roupas da jovem meretriz e, deixando a capa azul-marinho cair no chão, foi viril a seu encontro.
Ela sorriu, aproximando-se um pouco da boca, e soltou os louros cabelos. Ele tirou a camisa e, empurrando-a para a cama, acrescentou:
– O conto de seu herói você deverá merecê-lo.
Entre risadas e joguinhos eróticos a que ambos estavam habituados, o cansaço desapareceu rapidamente.
No dia seguinte, recuperadas as forças, buscou o elegante casaco de lã negra que mandou fazer antes de partir para Mântua, dirigindo-se, ob torto collo, ao evento dos Riario.
O novo palácio, que surgia das ruínas de um antigo templo de Apolo, era estupendo. Fora projetado pelo mestre de Forlì Melozzo di Giuliano degli Ambrosi para saciar a mania de grandeza de Girolamo e o refinado gosto de sua jovem e bela senhora: Catarina Sforza, filha natural do falecido duque de Milão, Galeazzo, com sua amante Lucrécia Landriani.
A amável e desenvolta dona da casa recebia com seu consorte, vinte anos mais velho, os ilustres convidados no admirável pátio, apesar da particular rigidez daquela noite. Vestia uma longa e apertada gamurra, ornada sensualmente com rendas negras que faziam contraste com a palidez de sua pele. A veste estava fechada com cordões frontais e acrescida de mangas bordadas com fios de ouro, costuradas com diversos tecidos, cortados e amarrados por fitinhas, e de cujos cortes brotava a alva camisa. Os cabelos estavam envoltos por um sensual véu decorado com pérolas e pepitas de ouro.
Assim que chegou sua vez, Riario apresentou obsequioso o agradável convidado à mulher:
– Sua Excelência Tristano di Ginni, aquele em quem Sua Santidade põe Sua total confiança e graça – disse, como se quisesse sublinhar que era daquele homem que dependia o sucesso da próxima empreitada e o destino de sua família.
– Uma extraordinária fama o precede, senhor – enfatizou Catarina, voltando-se de imediato ao convidado.
– Extraordinária é a confecção de seu magnífico pingente gravado a cinzel com a excelente técnica dos mestres franceses de fusão de cera persa, senhora – respondeu logo o jovem diplomata, encarando o longo pescoço e levantando a mirada aos olhos, profundos, orgulhosos por pertencer a uma estirpe de gloriosos guerreiros, mas ao mesmo tempo taciturnos, conformados portais de uma alma insatisfeita, fiéis indicadores da típica infelicidade da alegria de fachada.
Tristano foi capturado por esses olhos, não se desligou deles nem um momento durante toda a noite e, aproveitando a ausência temporária do marido, entretido do lado de fora por cardeais e políticos, ousou convidar a senhora a uma basse dance.
Ela, desde Milão, costumava praticar diversas atividades, mesmo as consideradas inconvenientes para seu sexo e sua categoria: era uma hábil caçadora, tinha verdadeira paixão pelas armas e uma forte inclinação ao comando, herdada de sua mãe, além de amar entregar-se a experimentos de botânica e alquimia. Era aventureira e amava os aventureiros.
Embora todo o salão prestasse atenção, não pôde recusar.
– Adoro a escultura grega de Policleto e Fídias. E a senhora? – perguntou Tristano enquanto os passos de dança permitiam que a boca dele se aproximasse do ouvido dela.
– Sim, é sublime. Adoro-a também eu – respondeu Catarina sorrindo.
– Nunca viu a coleção de arte do palácio Orsini? Há corpos hercúleos de mármore inestimáveis – acrescentou o audaz cavaleiro.
– Oh. – fingiu admirar-se e inquietar-se a nobre. – imagino… O senhor também precisa ver os retratos de meu Melozzo, que guardo com zelo em meu palácio – replicou voluptuosa, antes que a música os separasse.
Durante o resto da noite, a refinada dona da casa ignorou as atenções do jovem sedutor, que, ao contrário, não via ou sentia nada além do brilho e o odor daquela pele que acabara de tocar.
A ceia terminou e, um após o outro, os comensais abandonaram o exitoso banquete.
Tristano já estava no pátio quando um pajem se aproximou com um bilhete dobrado…
"As obras de meu Melozzo estão no salão do piso nobre".
E assim como não pôde recusar o convite do filho do papa, não podia de forma alguma recusar o de sua estimada nora. Voltou para dentro e seguiu o empregado até o piso superior, onde esperou impaciente o momento em que poderia finalmente desatar aqueles longos cabelos louros, sob os quais descobriu a intensidade dos lábios, escarlates como as feridas das inúmeras misérias humanas.
Catarina tinha uma psique complexa… e a complexidade da psique de uma mulher um bom sedutor sabe observar melhor em duas circunstâncias: no jogo e entre os lençóis.
Até a aurora do novo dia, não se poupou, nem mesmo quando confidenciou a Tristano, entre lágrimas, as violências sofridas desde criança.
– Às vezes os segredos só podem ser confiados a um estranho – disse.
Logo depois, começou sua comovente narrativa:
– Não era eu a esposa prometida a Girolamo Riario: estava tudo acertado para que fosse minha prima Costanza, à época com onze anos de idade, quem se uniria diante de Deus àquele animal raivoso. Na véspera do casamento, porém, minha tia Gabriela Gonzaga exigiu que a consumação da legítima união apenas acontecesse após três anos, ao chegar a idade legal da pequena Costanza. Diante de tais condições, Girolamo, furioso, anulou o matrimônio e ameaçou terríveis repercussões contra toda a família pela grave humilhação sofrida. Foi assim que, como se faz com um anel danificado, meus pais substituíram-me pela prima recusada, consentindo a todas as exigências do despótico esposo. Eu tinha apenas dez anos.
Tristano, chocado, apenas a abraçou com força e enxugou as lágrimas que escorriam pelo rosto.
VI
O cerco de Otranto
Ahmed Paxá e a liga contra os turcos
Depois de alguns dias, arranjados os últimos detalhes, o incansável mandatário pontifício partiu para Nápoles.
Acompanhando-o na secreta missão estava o valente Pietro, plenamente recuperado e ansioso para ver a cidade partenopeia de que seu pai lhe havia tanto falado quando era jovem.
Para Tristano, não era a primeira vez e, após as insistências um tanto impertinentes de seu servente, começou a contar dos ocorridos de quase três anos antes:
– Eu estava tão animado e curioso quanto você agora. Pense, eu só conhecia Nápoles por um velho mapa beneditino desenhado para mim pelo meu falecido avô, para mostrar onde minha mãe havia prestado serviço à corte quando jovem. Acompanhei o Frade Roberto, meu mestre e guia, que à época era conhecido como Frade Roberto Caracciolo da Lecce, até a maravilhosa capela real de Nápoles, e juntos advertimos o rei Fernando de Aragão do iminente perigo turco nas costas orientais.
Uma enfática carta do Grão-Mestre dos Cavaleiros Hospitalários havia informado o pontífice sobre a tentativa da República de Veneza de pressionar os otomanos a realizar uma expedição contra a península italiana, mais especificamente no Reino de Nápoles. Obviamente, isso, causava indizíveis preocupações não apenas aos aragoneses, mas a todo o cristianismo.
No entanto, Ferrante (nome que os súditos davam ao rei Fernando), não apenas se manteve alheio aos avisos sobre os turcos, mas logo ordenou, irresponsavelmente, a remoção de 200 cavaleiros de infantaria de Otranto para lançá-los contra Florença.
Assim, o grão-vizir Ahmed Paxá, depois de uma tentativa frustrada de tomar a Ordem dos Cavaleiros de São João de Jerusalém, aportou sem problemas com sua frota na costa de Brindisi, voltando sua atenção para a cidade de Otranto. Logo enviou seu mandatário àqueles brancos muros, garantindo a vida do povo de Otranto em troca da imediata rendição incondicional. O povo, no entanto, não apenas recusou as condições do mensageiro turco, mas desastrosamente o mataram, provocando a previsível ira do feroz Ahmed Paxá.
No verão, os turcos irromperam na cidade como feras sedentas de sangue e em poucos minutos destruíram tudo que se opunha a eles.
A catedral foi o único refúgio para mulheres, crianças, velhos, homens com deficiências, moradores aterrorizados, o último bastião onde se proteger quando todas as outras defesas haviam caído: os homens reforçaram os portões, as mulheres, com os filhos nos braços, em fila ao longo da cosmogônica árvore da vida, pediam aos religiosos a última comunhão… e, como os primeiros cristãos, exaltavam a Deus com um triste canto litúrgico à espera do martírio; a cavalaria arrombou o portão, os demônios lançaram-se, viraram-se contra a multidão sem fazer qualquer distinção; o arcebispo ordenou em vão que os infiéis parassem, mas foi ignorado, ferozmente golpeado e decapitado junto com os seus; nem mulheres ou crianças foram poupadas daquela cega fúria homicida. Mulheres nobres saqueadas e desnudadas, as mais jovens estupradas repetidamente na presença dos próprios pais e maridos amarrados pelo pescoço, mortas antes na honra e na alma que no corpo. Da catedral, a mais cruel e hedionda violência espalhou-se por toda a cidade. Num primeiro momento, oitocentos homens conseguiram fugir para uma colina, mas mesmo eles foram presos pelo exército do bárbaro chefe e passados um a um pelo fio da cimitarra. A população foi abominavelmente exterminada: dos cinco mil habitantes, ao fim do dia contavam-se apenas algumas dezenas, poupados sob a condição de converter-se ao Corão e pagar a incrível quantia de trezentos ducados de ouro.
Apenas quando essas execráveis notícias chegaram à corte, Ferrante compreendeu o enorme erro que cometeu e decidiu confiar a reconquista daquelas terras a seu filho Afonso.
Paternalmente, o Santo Padre escreveu a todas as senhorias da Itália, pedindo-lhes que botassem as rivalidades internas de lado para formar uma frente única contra a ameaça otomana e, em troca, concedeu aos aderentes da liga cristã a indulgência plenária. Dada a gravidade da situação, a Cúria disponibilizou 100.000 ducados para a construção de uma frota de 25 galés e o equipamento de 4.000 soldados de infantaria.
Ao apelo de Sisto IV responderam, além do rei de Nápoles, o rei da Hungria, os duques de Milão e Ferrara, as Repúblicas de Gênova e Florença. Como era previsto, nenhum apoio chegou de Veneza, que no ano anterior havia firmado um tratado de paz com os turcos e não podia permitir-se parar mais uma vez as rotas comerciais com o oriente.
Apesar da tardia, mas imponente mobilização cristã, os otomanos não apenas conseguiram manter sob seu controle a Terra de Otranto e parte da Terra de Bari e Basilicata, mas estavam prestes a voltar seu exército para o norte sobre a Capitanata, e para o oeste sobre Nápoles.
Foi graças a nossa diplomacia que se conseguiu interceptar uma mensagem de Maomé II na Anatólia; oportunamente modificada e acondicionada, entregamos a Ahmed Paxá por um espião nosso. O capitão turco mordeu a isca: com dois terços de seu exército, deixou Otranto temporariamente e embarcou para Valona; durante a travessia, foi cercado pelas naves da liga cristã e finalmente, depois de meses de conquistas e vitórias, sofreu uma derrota devastadora, pesadíssima, tão grande que foi obrigado a fugir em uma pequena embarcação na Albânia.
A notícia da vitória naval e, ainda mais, da terrível fuga do chefe bárbaro, reergueu a moral dos napolitanos e seus aliados… o duque Afonso conseguiu reorganizar um discreto exército de mercenários apoiados também pelos outros senhores católicos, que agora viam a reconquista de Otranto e da Apúlia como uma possibilidade. A Espanha enviou 20 naves, e a Hungria, 500 soldados escolhidos.
Foi um dos mais imponentes cercos navais que a História registra: o colossal cerco de Otranto.
Enquanto Tristano falava, os cavalos começavam a cansar-se e precisavam de água limpa. Ele olhou em volta e parou a épica narrativa.
Pietro estava como sempre encantado e mudo, sonhador como as crianças que ouvem pela primeira vez os poemas homéricos e virgilianos.
– E depois? O que aconteceu? Como acabou, senhor?
– Bem, o resto é bastante recente: depois da morte de Maomé II, o novo sultão proibiu Ahmed Paxá de retornar à Itália. No fim do verão do ano seguinte, esgotados pela fome, a sede e a peste, os otomanos renderam-se, e os aragoneses finalmente retomaram controle da cidade. Segundo alguns, o famigerado líder turco está preso, outros dizem que foi executado por seus próprios soldados em Edirne. “O quam cito transit gloria mundi”, concluiu Tristano.
– Como, excelência?
– Nada, Pietro, nada. Apressemos o passo. Os fartos e hirtos seios da sereia Partenope nos esperam.
Acariciando o cavalo, apressou o passo, deixando para trás um Pietro ainda mais confuso.
VII
Dom Ferrante e os porquês de Nápoles
A emboscada e a criada
Depois de dois dias, chegaram a uma ensolarada e atarefada capital, bem no meio de um colorido mercado que vendia qualquer coisa que se pudesse conceber: frutas sobre móveis, peixes em cordas de cânhamo, da música à esculturas, de doces a animais, de relíquias a prostitutas.
– Quem faz uma viagem a Nápoles deve estar preparado para conhecer pelo menos 3 divindades: a massa, a muçarela e os strufolis – disse Tristano brincalhão a seu companheiro.
– Espero conhecê-las todas logo, senhor – retrucou Pietro.
Deixaram os cavalos em um pequeno estábulo e seguiram a pé pelos becos, por onde se articulava aquela confusa exposição de rua.
Mas logo os forasteiros perceberam que estavam sendo seguidos. Tentaram então confundir-se com a multidão, entre as tendas dos bancos, abrindo caminho entre os mercadores, mas aquele sujeito parecia conhecer aquele ambiente melhor que qualquer outro e não tinha nenhum problema em segui-los de perto. Pietro decidiu então confrontá-lo; gesticulou a Tristano que se desviasse por uma viela secundária e, assim que o homem dobrou a esquina, sacou sua espada, tentando dissuadi-lo.
A ele juntaram-se logo outros dois, muito bem equipados.
Cinicamente ameaçadores, começaram a aproximar-se, abaixando-se e curvando-se como leões sobre a presa. Depois de algumas voltas ao redor de Pietro, começou a luta: o de veste escura adornada com penas lançou um ataque duplo sobre Pietro, da direita e do alto, e de chofre avançou com o sabre na altura da cintura, fazendo aquele recuar. O outro usava um gibão vibrante com adorno octogonal de preciosos lápis-lazúli incrustados. Virando-se, levantou a espada ao céu, convidando Tristano a fazer o mesmo; lançou então a espada na direção do punhal de Tristano, que prontamente deteve o golpe, contra-atacando com sua espada e um chute na perna do adversário. Enquanto isso, o terceiro homem, de calças listradas, sacou uma espada e começou a ajudar o primeiro, alternando-se com este contra o espadachim bolonhês; lançou a espada na altura da cabeça, que Pietro bloqueou levantando o braço e invertendo a espada com a lâmina para baixo; depois, fez um amplo arco no ar e respondeu ao golpe, forçando o adversário a mudar de posição.
Enquanto o ar aquecia com as faíscas das lâminas e o estrondo dos punhais, eles entravam sem perceber nas escuras vielas da cidade velha.
Pietro fez um recuo sábio e deu um pequeno passo adiante com uma ameaça de investida; após outro vacilo falso, partiu para o ataque decidido: rapidamente, avançou com a espada de baixo para cima e, com um magistral jogo de punho, deu um golpe da direita para a esquerda, forçando o valentão a abrir o braço e deixar seu peito desprotegido; bloqueando então a lâmina com o escudo, afundou inexorável a arma no peito.
No outro fronte, Tristano estava em sérias dificuldades, enfrentando um adversário bem treinado, ágil, que avançava com o joelho esquerdo golpeando com a mão direita e vice versa, simulando rotações com o corpo, mudando com agilidade ritmo e guarda, na busca de qualquer incerteza na vacilante defesa do diplomata. Pietro tentou prestar-lhe socorro, e o teria feito se também não estivesse ocupado com seu osso duro de roer.
Caíram de repente na cabeça dos napolitanos enormes lençóis brancos remendados e chumbados nas pontas; ficaram presos neles por alguns instantes. O assobio de um malandro indicou a Tristano e seu ajudante uma via de fuga e, quando os valentões conseguiram soltar-se, a portinhola de uma cantina subterrânea já havia engolido os forasteiros, dando-lhes segurança por algum tempo.
Cessado o perigo, puderam finalmente retornar ao beco, que no meio-tempo se encheu de alguns pobres coitados, mas não viram nem puderam agradecer os meninos de rua a quem provavelmente deviam a vida; haviam desaparecido, assim como o saco de dinheiro do bravo Pietro!
Enfim, depois de espontâneos e justos palavrões, os dois riram-se e, ao meio dia, chegaram ao Castel Nuovo.
Foram logo recebidos com os maiores cumprimentos do velho soberano, que, embora indisposto com o papa, conservava por Tristano um particular senso de reconhecimento e uma consideração que ia além das respectivas funções públicas: provavelmente via nele o amigo Latino.
Foi na verdade o cardeal Orsini, então legado apostólico a latere, que, dado o boletim de investidura concedido pelo papa Pio II e apoiado pelo cardeal Trevisan, pelo arcebiso de Nazaré em Barletta, Giacomo de Aurilia, pelo arcebipso de Taranto e de muitos outros prelados, em 4 de fevereiro de 1459 d.C., com uma extravagante cerimônia na praça diante do castelo de Barletta, coroou Fernando I de Nápoles, abençoando-o no triplo título de rei da Sicília, de Jerusalém e da Hungria. O episódio e os acontecimentos dos dias seguintes à coroação foram registrados por Latino naquela página de diário estranhamente arrancada e misteriosamente desaparecida do arquivo pessoal do cardeal.
Dom Ferrante e dom Tristano fecharam-se em conclave por mais de duas horas.
Antes de partir, o funcionário pontifício empenhou-se para afastar o principal obstáculo diplomático às relações da Santa Sé com a corte partenopeia: fez que a secretaria real tomasse conhecimento de algumas missivas secretas, obviamente falsas, que o embaixador veneziano em Nápoles enviava ao doge. Nesses despachos, o soberano napolitano era descrito como inepto, vaidoso e libertino. A reação aragonesa foi imediata.
Graças ao retorno do homem da Sereníssima e à pessoal estima do rei, o colóquio foi muito cordial e, ao fim, embora dom Ferrante não tivesse tomado nenhuma decisão, a Tristano pareceu que o soberano estava disposto a considerar as razões expostas e analisar o cenário proposto.
Não se equivocou: dois dias depois, convocou o jovem pupilo do falecido cardeal Orsini e comunicou-lhe verbalmente que o Reino de Nápoles participaria da nova aliança contra Veneza. O comando seria confiado a seu filho Afonso, duque da Calábria, que também assumiu a função de capitão da liga. O acordo seria formalizado e oficializado no dia de Natal.
Tristano estava muito satisfeito.
Depois de uma abundante ceia de massas e doces natalícios, certamente desprezados pelos barões e demais cortesãos representantes da nobreza napolitana, o jovem decidiu retirar-se a seu apartamento para tentar relaxar, tomando um banho na banheira quente que sua majestade tão generosamente mandou preparar.
A velha senhora que lhe havia preparado o banho, enquanto arrumava os últimos lençóis em um armário, continuava a mirá-lo fixamente, mas Tristano não lhe fez caso, pois estava imerso em seus pensamentos e questões futuras.
– Vocês têm os mesmos olhos. Sua mãe era uma santa mulher – disse a mulher, antes de desaparecer atrás da porta do quarto.
O sonhador voltou-se de chofre. Aquelas palavras puxaram-no de volta à realidade em um instante.
– Espere – gritou em vão.
Como aquela criada conhecia sua mãe? Seria possível que tivesse encontrado ou trabalhado com ela durante o período em que a jovem havia servido aquela corte? Tristano precisava saber… Saltou da banheira e, tapando-se como pôde, colocou a camisa, as calças, as botas e correu para procurá-la pelo palácio.
Subindo ao piso de serviço, ouviu inconfundíveis gemidos humanos, alternados por murmúrios mais agudos misturados com o estalar regular de madeira queimando, vindos do quarto ao fundo das escadas.
O confeiteiro, sublime artífice daquelas deliciosas obras de açúcar dispostas sobre a mesa de banquetes do palácio, costumava satisfazer as criadas malandras que ao fim do dia limpavam a cozinha. No entanto, naquele momento o jovem embaixador não tinha tempo para aquele tipo de espetáculo e, dando uma rápida olhadela, passou decidido adiante.
Depois da cozinha, em um estreito corredor, entreviu metade do perfil corpulento de uma mulher, caído de costas através da porta aberta de um quarto com a lareira acesa, que iluminava o entorno como se alguém tivesse tentado mover o corpo depois de derrubá-lo. Era exatamente a senhora que Tristano procurava.
Correu até a criada, que tinha os olhos arregalados e a boca semiaberta, e já não respirava. No chão do quarto, percebeu uma pequena pedra de um intenso azul, provavelmente parte de uma joia de lápis-lazúli similar àquelas incrustadas no adorno da arma do rival de alguns dias antes.
Ouviu, no entanto, um barulho vindo do corredor e decidiu ir embora antes que alguém se desse conta de sua presença, dificilmente justificável naquela inconveniente situação.
Na manhã seguinte, deixou o castelo com seu ajudante. Sob a sombra de uma torre, Pietro reconheceu, entre os capangas do duque da Calábria, um dos homens que os haviam atacado no dia da chegada e chamou a atenção de seu senhor discretamente. No entanto, dados os resultados diplomáticos alcançados e a situação ainda incerta, Tristano decidiu não dizer nada e partiu.
Por fim, antes de dar fim à missão, na porta do estábulo onde deixaram os cavalos, Tristano percebeu um pequeno corpo maltratado que se arrastava pela rua. Era o menino que os escondeu da ameaça dos capangas de Afonso no dia anterior; não falava, estava sujo e machucado, tinha um terrível corte na perna. Fazia muito frio; Tristano levou-o para dentro e pagou a uma dona para que curasse pelo menos a lesão mais evidente. No dia seguinte, acompanhou-o até sua família, entregando-o ao irmão mais velho, que o esperava na porta. Este, agradecido, convidou o jovem diplomata a entrar em casa (ou pelo menos naquela barraca que se assemelhava um pouco a uma residência): um homem, que podia ser o pai, arranjava as provisões de grãos em uma pequena despensa, a mãe fiava a lã com uma mão enquanto embalava a pequena com a outra; uma mulher mais velha contava histórias ao resto da família sentada em um velho baú de castanheira. Diante de tão mísero quadro, Tristano aproveitou um momento de distração da mulher, quando cuidava de um caldeirão que transbordou, para deixar um florim de ouro sob a almofada de palha daquele colchão esburacado de folhas secas sobre o qual dormia uma menina rosada, ainda com sapatos de pano nos pés. Despediu-se e partiu.
Retornando a Roma, com as imagens daquela missão ainda vívidas em sua mente, encontrou na cama um belo chapéu de feltro com abas largas, enfeitado com penas de faisão, seguramente um presente de seu amigo Ludovico.
A missão correu muito bem, mas aumentou significativamente os por quês que sempre correram por sua cabeça: o que realmente tinham a ver aquela mulher, Latino, Ferrante,… Nápoles, .... com sua mãe?
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