Kitabı oku: «Morte e um Cão»
MORTE E UM CÃO
(UM MISTÉRIO DE LACEY DOYLE – LIVRO DOIS)
FIONA GRACE
Fiona Grace
A nova autora Fiona Grace apresenta a série de MISTÉRIOS LACEY DOYLE, que inclui ASSASSINATO NA MANSÃO (Livro 1), MORTE E UM CÃO (Livro 2), CRIME NO CAFÉ (Livro 3), VISITA FORA DE HORA (Livro 4) e MORTO COM UM BEIJO (Livro 5). Fiona adora ouvir a opinião de seus leitores, então, visite www.fionagraceauthor.com para ganhar ebooks de graça, saber as últimas novidades e manter contato.
Copyright © 2019 por Fiona Grace. Todos os direitos reservados. Exceto como permitido pelo Ato de Direitos Autorais dos EUA, publicado em 1976, nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida em qualquer formato ou por qualquer meio, ou armazenada num banco de dados ou sistema de recuperação, sem permissão prévia da autora. Este eBook está licenciado apenas para uso pessoal. Este eBook não pode ser revendido ou doado a outras pesoas. Se você quiser compartilhar este eBook com outra pessoa, por favor, compre uma cópia adicional para cada indivíduo. Se você está lendo este livro sem tê-lo comprado, ou se não foi adquirido apenas para seu uso, por favor, devolva-o e compre seu próprio exemplar. Obrigado por respeitar o trabalho da autora. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, lugares, eventos e incidentes são produto da imaginação da autora ou usados de forma fictícia. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência. Foto da capa: Helen Hotson, todos os direitos reservados. Usada sob licença da Shutterstock.com.
LIVROS DE FIONA GRACE
MISTÉRIOS DE LACEY DOYLE
ASSASSINATO NA MANSÃO (Livro 1)
MORTE E UM CÃO (Livro 2)
CRIME NO CAFÉ (Livro 3)
CAPÍTULO UM
O sino acima da porta tilintou. Lacey levantou os olhos e viu que um cavalheiro idoso havia entrado em sua loja de antiguidades. Ele estava usando roupas tradicionais inglesas, que seriam consideradas peculiares na cidade em que Lacey morava antes, Nova York, mas aqui, numa cidade litorânea de Wilfordshire, na Inglaterra, ele parecia apenas mais um dos moradores locais. Só que Lacey não o reconheceu, como já acontecia com a maioria dos moradores da pequena cidade. A expressão surpresa do homem a fez se perguntar se ele estava perdido.
Percebendo que ele podia estar precisando de ajuda, ela rapidamente cobriu o bocal do telefone que estava segurando – no meio de uma conversa com a SRPCA, a Sociedade Real para a Prevenção da Crueldade contra Animais – e falou de trás do balcão com ele: "Vou atendê-lo em um minuto. Só preciso terminar esta ligação".
Mas ele pareceu não ouvi-la. Seu foco estava fixo em uma prateleira cheia de estatuetas de cristal fosco.
Lacey sabia que teria que apressar a conversa com a SRPCA para poder atender o cliente de aparência confusa, então, retirou a mão do bocal. "Desculpe. Você poderia repetir o que estava dizendo?"
O homem do outro lado da linha suspirou, parecendo cansado. "Srta. Doyle, o que eu estava dizendo é que não posso fornecer detalhes dos funcionários. É por razões de segurança. Certamente, a senhora entende, não é?"
Lacey já tinha ouvido isso antes. Ela ligou pela primeira vez para a SRPCA para adotar oficialmente Chester, o cão pastor inglês que tinha meio que entrado em sua vida junto com a loja de antiguidades que ela estava alugando (seus proprietários anteriores, que haviam alugado a loja antes dela, morreram em um trágico acidente, e Chester fez todo o caminho de volta para sua antiga casa). Mas, na época, ela ficou em choque quando a mulher do outro lado da linha perguntou se ela era parente de Frank Doyle, o pai que a abandonou aos sete anos de idade. A ligação caiu e desde então ela vinha ligando todo dia para rastrear a mulher com quem havia conversado. Só que agora todas as ligações iam para uma central de atendimento localizada na cidade vizinha de Exeter, e Lacey nunca conseguiu localizar a mulher que, de alguma forma, conhecia o pai pelo nome.
Lacey apertou ainda mais o fone e lutou para manter a voz firme. "Sim, eu entendo que você não possa me dizer o nome dela. Mas você não pode transferir a ligação para ela?"
"Não, senhora", respondeu o jovem. "Além de não saber quem é essa mulher, temos um sistema de call center. As chamadas são alocadas aleatoriamente. Tudo o que posso fazer – e já fiz – é colocar um aviso em nosso sistema com seus detalhes de contato". Ele estava começando a se exasperar.
"Mas e se ela não vir o aviso?"
"Essa é uma possibilidade muito concreta. Temos muitos membros na equipe que trabalham voluntariamente, de forma esporádica. A pessoa com quem você falou antes pode nem ter vindo mais trabalhar desde a ligação telefônica original".
Lacey também já tinha ouvido essas palavras durante as numerosas ligações que havia feito, mas toda vez ela ansiava e rezava por um resultado diferente. A equipe de atendimento parecia estar ficando bem irritada com ela.
"Mas, se ela era voluntária, isso não significa que talvez nunca mais voltasse para outro turno?" perguntou Lacey.
"Claro. Existe uma chance. Mas não sei o que a senhora quer que eu faça sobre isso".
Lacey havia insistido o máximo que podia por hoje. Ela suspirou e admitiu a derrota. "Ok, bem, obrigada de qualquer forma".
Ela desligou o telefone com o peito apertado. Mas não iria desistir. Suas tentativas de encontrar informações sobre o pai pareciam dar dois passos para a frente e um e meio para trás, e ela estava se acostumando aos becos sem saída e às decepções. Além disso, ela tinha um cliente para atender, e sua amada loja era sempre a prioridade em sua mente em relação a tudo o mais.
Desde que os dois policiais, Karl Turner e Beth Lewis, haviam publicado sua nota oficial dizendo que ela não teve nada a ver com o assassinato de Iris Archer – e que ela tinha, na verdade, ajudado a polícia a solucionar o caso – a loja de Lacey tinha voltado aos trilhos. Agora, estava florescendo, com um constante fluxo de clientes diários composto por moradores locais e turistas. Agora ela tinha renda suficiente para comprar o Chalé do Penhasco (e já estava negociando a compra com Ivan Parry, o atual proprietário), e até tinha renda suficiente para pagar Gina, sua vizinha de porta e amiga, por horas de trabalho semi-permanentes. Não que Lacey tirasse uma folga durante o turno de Gina; ela usava esse tempo para estudar mais sobre leilões. Ela havia gostado tanto do leilão que havia realizado para vender os bens de Iris Archer que decidiu realizar um todo mês. Amanhã, Lacey iria realizar seu próximo leilão, e ela estava muito animada por isso.
Ela saiu de trás do balcão – fazendo seu cão, Chester, erguer a cabeça para lhe dar sua saudação habitual – e se aproximou do homem idoso. Ele era um estranho, não um de seus clientes regulares, e estava olhando atentamente para a prateleira das bailarinas de cristal.
Lacey afastou os cachos escuros do rosto e foi na direção do cavalheiro.
"O senhor está procurando algo em particular?" ela perguntou enquanto se aproximava dele.
O homem deu um salto. "Meu Deus, você me assustou!"
"Sinto muito", disse Lacey, notando o aparelho auditivo dele pela primeira vez e pensando que tinha de se lembrar que não deveria aparecer do nada atrás de idosos no futuro. "Eu só me perguntei se você estava procurando algo específico, ou se estava apenas dando uma olhada?"
O homem se voltou novamente para as estatuetas, com um pequeno sorriso nos lábios. "É uma história engraçada", disse ele. "É o aniversário da minha falecida esposa. Eu vim à cidade para um chá com bolo, como uma espécie de celebração das nossas lembranças, sabe? Mas quando passei pela sua loja, senti vontade de entrar". Ele apontou para as estatuetas. "Elas foram a primeira coisa que vi". Ele deu a Lacey um sorriso de cumplicidade. "Minha esposa era dançarina".
Lacey retribuiu o sorriso, emocionada com a história. "Que amor!"
"Foi nos anos setenta", continuou o idoso, estendendo a mão trêmula e tirando um modelo da prateleira. "Ela dançava na Royal Ballet Society. Na verdade, ela foi a primeira bailarina do balé com…"
Naquele momento, o som de uma van grande passando rápido demais sobre a lombada bem em frente à loja interrompeu o final da frase do homem. O estrondo subsequente, quando o veículo saltou do outro lado da lombada, fez o senhor dar um salto, e a estatueta voou de suas mãos, batendo no assoalho de madeira. O braço da bailarina se soltou e saiu deslizando para baixo da prateleira.
"Ai, meu Deus!" o homem exclamou. "Eu sinto muito!"
"Não se preocupe", garantiu Lacey, olhando fixamente através da vitrine para a van branca, que havia encostado no meio-fio e parado, com o motor agora desligando e soltando fumaça pelo cano de escape. "Não foi culpa sua. Acho que o motorista não viu a lombada. Ele provavelmente danificou a van!"
Ela se agachou e esticou o braço por baixo da estante, até que as pontas dos dedos roçaram a pequena borda irregular do cristal. Ela puxou o braço da bailarina – que agora estava coberto por uma fina camada de poeira – e voltou a ficar de pé, assim que viu pela janela o motorista da van saltando da cabine para a rua de paralelepípedos.
"Só pode ser brincadeira…" – Lacey murmurou, estreitando os olhos para ver a culpada que ela agora podia identificar. "Taryn".
Taryn era dona da loja ao lado. Era uma mulher esnobe e mesquinha, a quem Lacey havia concedido o título de Pessoa Mais Chata de Wilfordshire. Ela estava sempre tentando prejudicar Lacey para expulsá-la da cidade. Taryn fez tudo o que estava ao seu alcance para frustrar as tentativas de Lacey de iniciar um negócio na cidade, até furou buracos na parede de sua própria loja só para irritá-la! E embora a mulher tenha pedido uma trégua depois que seu ajudante levou as coisas um pouco longe demais e foi pego perambulando do lado de fora do chalé de Lacey uma noite, Lacey não estava tão certa de que podia confiar nela novamente. Taryn havia jogado sujo. Aquele certamente era mais um de seus truques. Para começar, não havia como ela não saber que a lombada estava lá – dava para vê-la da vitrine de sua própria loja, pelo amor de Deus! Então, ela passou pela lombada rápido demais de propósito. Depois, para completar, ela estacionou em frente à loja de Lacey, em vez de para em frente à sua, na tentativa de bloquear a vista ou para bombear fumaça na direção dela.
"Sinto muito", repetiu o homem, trazendo a atenção de Lacey de volta ao momento. Ele ainda estava segurando a estatueta, agora com apenas um braço. "Por favor. Deixe-me pagar pelo dano".
"De jeito nenhum", Lacey falou com firmeza. "O senhor não fez nada de errado". Ela olhou por cima do ombro, em direção à vitrine, estreitando os olhos e fixando-os em Taryn, seguindo a mulher enquanto ela caminhava cautelosamente para a traseira da van como se nada tivesse acontecido. A irritação de Lacey com a dona da boutique ficou mais forte. "Se alguém tem culpa, é a motorista". Ela fechou as mãos em punhos. "Parece até que foi de propósito… Ai!"
Lacey sentiu algo afiado na palma da mão. Ela havia apertado o braço quebrado da bailarina com tanta força que se cortou.
"Ah!" o homem exclamou ao ver o glóbulo brilhante de sangue crescendo na palma da mão dela. Ele tirou rapidamente o braço de cristal ofensivo da mão dela, como se removê-lo pudesse, de alguma forma, curar a ferida. "Você está bem?"
"Por favor, me dê licença por um instante", disse Lacey.
Então, ela se dirigiu para a porta, deixando o homem confuso para trás em sua loja, segurando uma bailarina quebrada em uma mão e um braço sem corpo na outra, e caminhou pisando forte até a rua. Ela só parou quando se viu diante de sua vizinha/nêmesis.
"Lacey!" Taryn falou sorrindo enquanto levantava a porta da mala da van. "Espero que você não se importe de eu estacionar aqui? Preciso descarregar o estoque da nova temporada. O verão não é a melhor estação da moda?"
"Eu não ligo para você estacionar aí", disse Lacey. "Mas lembro que você passou rápido demais pela lombada. Você sabe que ela fica bem na frente da minha loja. O barulho quase causou um ataque cardíaco no meu cliente".
Ela observou então que Taryn também havia estacionado de tal maneira que sua volumosa van bloqueou a visão que Lacey tinha do outro lado da rua até a confeitaria de Tom. Aquilo definitivamente foi proposital!
"Entendi", disse Taryn, fingindo simpatia. "Vou dirigir mais devagar quando chegar a hora de abastecer a loja com o estoque da temporada de outono. Ei, você devia dar uma passadinha na boutique depois que eu arrumar tudo isso. Mudar seu guarda-roupa. Dar um mimo para si mesma. Você merece". Seus olhos percorreram a roupa de Lacey. "E certamente está na hora".
"Vou pensar sobre isso", disse Lacey sem emoção, imitando o sorriso falso de Taryn.
No segundo em que ela deu as costas para a mulher, seu sorriso se transformou em uma careta. Taryn realmente era a rainha das indiretas.
Quando voltou à loja, Lacey descobriu que seu cliente idoso estava esperando no balcão e uma segunda pessoa – um homem de terno escuro – também havia entrado. Ele examinava a prateleira repleta de itens náuticos que Lacey planejava leiloar amanhã, sendo observado atentamente por Chester, o cachorro. Ela podia sentir o cheiro de loção pós-barba, mesmo a distância.
"Eu atenderei você em um instante", Lacey falou para o novo cliente enquanto corria em direção à parte de trás da loja, onde o senhor idoso estava esperando.
"Sua mão está bem?" o homem perguntou a ela.
"Perfeitamente bem". Ela olhou para o pequeno corte na palma da mão, que já havia parado de sangrar. "Desculpe por sair assim. Eu tinha…", ela escolheu as palavras com cuidado, "algo para tratar".
Lacey estava determinada a não deixar Taryn derrubá-la. Se deixasse a dona da boutique irritá-la, seria como marcar um gol contra.
Quando Lacey deslizou para trás do balcão de vendas, ela notou que o senhor idoso havia colocado a estatueta quebrada sobre ele.
"Gostaria de comprá-la", ele anunciou.
"Mas está quebrada’", respondeu Lacey. Obviamente, ele estava apenas tentando ser gentil, apesar de não ter motivos para se sentir mal com o incidente. Realmente não tinha sido culpa dele.
"Eu a quero mesmo assim".
Lacey corou. Ele realmente estava inflexível.
"Posso tentar consertar primeiro, pelo menos?" ela disse. "Eu tenho um pouco de super cola e…"
"De jeito nenhum!" o homem interrompeu. "Eu a quero exatamente como está. Veja bem, agora ela me lembra ainda mais minha esposa. Era isso que eu estava prestes a dizer quando a van nos interrompeu. Ela foi a primeira bailarina da Royal Ballet Society com uma deficiência". Ele levantou a estatueta, girando-a na luz. A luz captou o braço direito estendido, que ainda parecia elegante, apesar de parar em um toco irregular no cotovelo. "Ela dançava com um braço só".
As sobrancelhas de Lacey se levantaram. A boca dela se abriu. "Não pode ser!"
O homem assentiu ansiosamente. "É verdade! Você não vê? Isso foi um sinal dela".
Lacey não pôde deixar de concordar. Ela estava procurando seu próprio fantasma, afinal, na figura de seu pai, por isso vivia particularmente sensível aos sinais do universo.
"Então o senhor tem razão, precisa levá-la", disse Lacey. "Mas não posso cobrar por isso".
"Você tem certeza?" o homem perguntou, surpreso.
Lacey sorriu. "Cem por cento! Sua esposa enviou um sinal para você. A estatueta é sua por direito".
O homem pareceu emocionado. "Obrigado".
Lacey começou a embrulhar a estatueta em papel de seda para ele. "Vamos garantir que ela não perca mais nenhum membro, não é?"
"Você vai realizar um leilão, pelo que vejo", disse o homem, apontando por cima do ombro para o pôster pendurado na parede.
Ao contrário dos cartazes grosseiros desenhados à mão que divulgaram seu último leilão, Lacey havia contratado um profissional para fazer aquele cartaz. Era decorado com imagens náuticas: barcos, gaivotas e uma moldura inspirada nas bandeirolas azuis e brancas em xadrez, em homenagem à obsessão por bandeirolas de Wilfordshire.
"Isso mesmo", disse Lacey, sentindo uma onda de orgulho no peito. "É o meu segundo leilão. Será composto exclusivamente por itens da Marinha antigos. Sextantes. Âncoras. Telescópios. Vou vender uma variedade de tesouros. Talvez você queira participar?"
"Talvez eu queira", o homem respondeu com um sorriso.
"Vou colocar um folheto na sacola para você".
Lacey fez exatamente isso, depois entregou ao homem sua preciosa estatueta do outro lado do balcão. Ele agradeceu e se afastou.
Lacey observou o homem idoso sair da loja, tocada pela história que ele compartilhou com ela, antes de lembrar que tinha outro cliente para atender.
Ela olhou para a direita para voltar sua atenção para o outro homem. Só que agora notou que ele havia ido embora. Ele saiu silenciosamente, despercebido, antes que ela tivesse a chance de ver se precisava de ajuda.
Ela foi até a área que ele estava examinando – a prateleira inferior onde havia colocado caixas cheias de todos os itens que venderia no leilão de amanhã. Um cartaz com a letra de Gina dizia: Nada deste lote é para venda normal. Tudo será leiloado! Ela havia desenhado o que parecia ser uma caveira e ossos cruzados embaixo, evidentemente confundindo o tema da Marinha com um tema pirata. Espero que o cliente tenha visto a placa e voltasse amanhã para dar lances no item em que parecia estar tão interessado.
Lacey pegou uma das caixas cheias de itens que ela ainda não tinha avaliado e a levou de volta para a mesa. Enquanto pegava item após item, alinhando-os sobre o balcão, um sentimento de animação percorreu-a. Seu último leilão foi maravilhoso, mas moderado pelo fato dela estar procurando por um assassino, na época. Este ela seria capaz de desfrutar plenamente. Ela realmente teria a chance de exercitar suas habilidades como leiloeira, e literalmente mal podia esperar!
Ela havia acabado de entrar num estado de total concentração, avaliando e catalogando os itens, quando foi interrompida pelo som estridente de seu celular. Um pouco frustrada por ser perturbada por, sem dúvida, sua irmã caçula exagerada, Naomi, a respeito de uma crise melodramática de mãe solteira, Lacey olhou para o celular, que estava com a tela voltada para cima, sobre o balcão. Para sua surpresa, o nome que piscava no visor era o de seu ex-marido David, de quem havia recentemente se divorciado.
Lacey olhou para a tela piscando por um momento, atordoada demais para agir. Um tsunami de emoções diferentes a invadiu. Ela e David não haviam trocado uma palavra desde o divórcio – embora ele ainda parecesse conversar com a mãe de Lacey, justo ela – e havia lidado com todo o processo através de seus advogados. Mas ele estar ligando diretamente para ela? Lacey nem sabia por onde começar a teorizar por que ele estaria fazendo isso.
Contrariando seu instinto, Lacey atendeu.
"David? Está tudo bem?"
"Não, não está", ele falou com a voz aguda, trazendo à tona um milhão de lembranças latentes que estavam adormecidas na mente de Lacey, como poeira levantada.
Ela ficou tensa, preparando-se para uma terrível bomba. "O que foi? O que aconteceu?"
"Sua pensão não chegou".
Lacey revirou os olhos com tanta força que doeu. Dinheiro. Claro. Nada importava mais para David do que dinheiro. Um dos aspectos mais ridículos de seu divórcio foi o fato de ela ter que pagar apoio financeiro conjugal a ele, porque ela era o membro do casal que ganhava mais. Lacey concluiu que a única coisa que o obrigava a fazer contato real com ela seria isso.
"Mas eu coloquei em débito automático", disse Lacey. "O banco paga automaticamente".
"Bem, é claro que os britânicos têm uma interpretação diferente da palavra automático", disse ele, arrogante. "Jé que nenhum valor foi depositado na minha conta bancária e, se você não sabia, o prazo vence hoje! Então, sugiro que você ligue imediatamente para o seu banco e resolva a situação".
Ele parecia um diretor de escola. Lacey esperava que ele terminasse seu monólogo com a frase "sua garotinha boba".
Ela apertou o celular com força, tentando ao máximo não deixar David irritá-la, não hoje, na véspera do seu leilão, pelo qual ela estava tão ansiosa!
"Que sugestão inteligente, David", respondeu, apoiando o telefone entre a orelha e o ombro e usando as mãos livres para acessar sua conta bancária online. "Eu nunca teria pensado nisso sozinha".
Suas palavras foram recebidas pelo silêncio. David provavelmente nunca a ouvira usar sarcasmo antes e ficou desconcertado. Ela culpava Tom. O senso de humor inglês de seu novo namorado estava sendo absorvido por ela rapidamente.
"Você não está levando isso muito a sério", respondeu David, depois que finalmente entendeu.
"Eu deveria?" Lacey respondeu. "Deve ter sido apenas algum mal-entendido no banco. Provavelmente poderei resolver até o final do dia. De fato, sim, há um aviso aqui na minha conta". Ela clicou no pequeno ícone vermelho e uma mensagem apareceu. Ela leu em voz alta. "Devido ao feriado bancário, qualquer transferência agendada para domingo ou segunda-feira chegará na terça-feira. A-ha. Aí está. Eu sabia que era algo simples. Um feriado bancário." Ela fez uma pausa e olhou pela vitrine, para a turba de pessoas passando. "Eu realmente achei as ruas muito movimentadas hoje".
Ela praticamente podia ouvir David rangendo os dentes do outro lado da linha.
"Na verdade, é extremamente inconveniente", ele retrucou. "Eu tenho contas a pagar, você sabe".
Lacey olhou para Chester, como se precisasse de um camarada naquela conversa particularmente frustrante. Ele ergueu a cabeça das patas e levantou uma sobrancelha.
"Frida não pode emprestar alguns milhões de dólares para você, se estiver duro?"
"Eda", David corrigiu.
Lacey sabia muito bem o nome da nova noiva de David. Mas ela e Naomi começaram a chamá-la de Frida Express, em referência à velocidade com a qual os dois haviam ficado noivos, e agora não conseguia pensar nela de outra forma.
"E, não", ele continuou. "Ela não deveria ter que fazer isso. Quem te contou sobre Eda?"
"Minha mãe pode ter deixado escapar uma ou vinte vezes. Por que você continua conversando com minha mãe, afinal?"
"Ela faz parte da minha família há catorze anos. Eu não me divorciei dela".
Lacey suspirou. "Não. Eu acho que não. Então, qual é o plano? Vocês três vão se reunir para fortalecer os laços durante uma sessão de manicure?"
Agora ela estava tentando irritá-lo, e não conseguia se conter. Era divertido.
"Você está sendo ridícula", disse David.
"Ela não é a herdeira de um empório de unhas postiças?" ela falou, fingindo inocência.
"Sim, mas você não precisa falar isso desse jeito", disse David, com um tom de voz que catapultou a imagem dele fazendo beicinho na mente de Lacey.
"Eu estava especulando sobre como vocês passarão seu tempo juntos".
"Com um monte de criticismo".
"Mamãe me disse que ela é jovem", disse Lacey, mudando de rumo. "Vinte anos. Quero dizer, acho que vinte pode ser um pouco jovem demais para um homem da sua idade, mas pelo menos ela tem dezenove anos para decidir se quer ou não filhos. Trinta e nove é o ponto de corte para você, afinal".
Assim que ela disse isso, percebeu que estava parecendo com Taryn falando. Ela estremeceu. Embora não se importasse em pegar os maneirismos de Tom, ela certamente queria distância das manias de Taryn!
"Desculpe", ela murmurou, voltando atrás. "Isso foi desnecessário".
David pausou um instante. "Apenas envie meu dinheiro, Lace".
A ligação foi encerrada.
Lacey suspirou e desligou o telefone. Por mais irritante que tenha sido a conversa, ela estava absolutamente determinada a não deixar que aquilo a derrubasse. Agora, David estava no seu passado. Ela havia construído uma vida totalmente nova em Wilfordshire. E, de qualquer maneira, David ter seguido em frente com Eda era uma bênção disfarçada. Ela não precisaria mais pagar pensão alimentícia quando se casassem, e o problema seria resolvido! Mas sabendo como as coisas costumavam ser para ela, tinha a sensação de que seria um noivado muito longo.