Sadece LitRes`te okuyun

Kitap dosya olarak indirilemez ancak uygulamamız üzerinden veya online olarak web sitemizden okunabilir.

Kitabı oku: «Memorias de José Garibaldi, volume II», sayfa 5

Yazı tipi:

Seguimos a estrada de Foligno, de Nami e de Civita-Castelhana. Chegados lá, apoiamos sobre a Sabina para evitar os francezes.

Entramos em Roma pela porta San-Giovanni.

Digamos onde era Roma.

XIV
ROMA

No dia 24 de abril de manhã, a vanguarda da divisão franceza chegou diante do porto de Civita-Vecchia, e um ajudante de campo do general Oudinot desembarcou para fallar na qualidade de parlamentario com o perfeito da republica romana, Manucci. Disse-lhe que o fim da intervenção franceza era garantir os interesses materiaes e moraes do povo romano; que a França queria, inimiga como era do despotismo e da anarchia, assegurar á Italia uma util liberdade; que esperava encontrar no povo romano a antiga sympathia que o tinha unido ao povo francez, mas que entretanto, como a armada corria perigo em se conservar a bordo, necessitava uma prompta licença de desembarque; se esta licença fosse negada, o general francez, com grande sentimento, vêr-se-ia obrigado a empregar a força.

Além d'isto, devia prevenir a cidade de Civita-Vecchia de que lhe lançariam o tributo de um milhão, no caso de se disparar sequer um tiro.

E, dito isto, sem esperar a resposta do governador de Roma, a quem Manucci queria contar o occorrido, o general Oudinot desarmava o batalhão Métara, occupava o forte, fechava a imprensa da cidade, collocava uma sentinella á porta, e oppunha-se ao desembarque de um corpo de quinhentos lombardos.

Estes quinhentos lombardos eram o batalhão de bersaglieri commandado por Manara, que, expulso da sua patria, e repellido pelo Piemonte, vinha pedir um tumulo a Roma.

Este batalhão compunha-se da aristocracia lombarda, e vinha juntar-se aos defensores da republica.

O mesmo Dandolo confessa no livro intitulado Voluntarios e Bersaglieri que não era por sympathia pela causa dos romanos, mas porque não sabia onde pedir um asylo.

Os bersaglieri tinham chegado dois dias depois do general Oudinot; era então o general quem dava as licenças de desembarque de que elle por assim dizer, não tinha feito caso.

Henrique Dandolo, descendente do doge do mesmo nome, usando como o historiador, filho do celebre vencedor de Constantinopla, do sobrenome de Henrique, veiu duas vezes a terra para pedir ao general a licença; não sómente lhe foi recusada, como teve ordem positiva de voltar para bordo.

Levou esta resposta a Manara, que tambem veiu a terra para vêr se era mais feliz do que elle.

A Manara porém foi-lhe negada, como o tinha sido a Henrique Dandolo.

– Sois lombardo? perguntou-lhe o general.

– Sem duvida, respondeu Manara.

– Pois bem, retorquiu Oudinot, se sois lombardo, por que vos intrometteis nos negocios de Roma?

– Tambem vós, que sois francez, vos intrometteis n'elles, e muito, respondeu Manara.

E virando as costas ao general, voltou para bordo.

Mas, quando se soube a bordo que o general francez se oppunha ao desembarque, a exasperação chegou ao seu auge.

Depois da partida de Genova tinham soffrido o mar com todos os seus rigores e muitas privações; bersaglieri e voluntarios queriam deitar-se ao mar e ganhar a costa a nado, arriscando-se ao que podesse acontecer.

Quando Manara viu que a sua gente estava decidida a recorrer a este extremo, voltou segunda vez a fallar com o general Oudinot, e obteve, depois de uma longa resistencia, que o seu batalhão desembarcasse em Porto de Anzio.

O general francez exigiu logo que Manara se conservasse longe de Roma, e totalmente neutral até ao dia 4 de maio, em que, dizia elle, tudo estaria acabado.

Manara porém recusou.

– General, lhe disse elle, não sou mais que um major ao serviço da republica romana, subordinado por tanto ao ministro e ao meu general. Como dependo d'elles, não posso fazer uma tal promessa.

Foi então que M. Manucci, julgou que devia, em nome do ministro da guerra, acceitar as condições impostas pelo general Oudinot, e foi mediante esta promessa que os voluntarios e bersaglieri lombardos poderam desembarcar, em Porto de Anzio, no dia seguinte, de manhã, 27 de abril; partindo no dia 28 para Albano, e pernoitando nas campinas de Roma.

Durante a noite, chegou uma ordem do general José Avezzana, ministro da guerra, que, ou ignorava a promessa feita por M. Manucci em nome de Manara, ou não lhe dava importancia: essa ordem dizia que marchassem para Roma immediatamente.

Entraram em Roma no dia 29 pela manhã, no meio do enthusiasmo de uma innumeravel multidão de povo.

Á noticia da chegada dos francezes a Civita-Vecchia, a assembléa romana declarou-se permanente.

Ventilou-se então esta grave questão: Abrir-se-hão as portas aos francezes, ou resistir-se-lhe-ha?

O triumviro Armellini e muitos outros eram de parecer que os francezes fossem recebidos amigavelmente.

Mazzini, Cernuschi, Sterbini e a maioria queriam que se defendessem com energia até á ultima.

Era necessario, antes de tudo, salvar a honra, diziam elles.

A assembléa não hesitou: no dia 26 de abril, ás duas horas da tarde, foi votado o seguinte decreto com os applausos de toda a Roma.

«Em nome de Deus e do povo,

«A assembléa, segundo a communicação recebida pelo triumvirato, entrega-lhe a honra da republica e encarrega-o de repellir a força com a força.»

Decretada a resistencia, Cernuschi, que tinha feito as barricadas de Milão, foi nomeado inspector das barricadas de Roma: os pontos elevados foram guarnecidos de boccas de fogo, e o povo agitou-se, arquejando, á espera de algum acontecimento importante.

Foi então que appareceu o homem providencial.

De repente um grito unanime se ouviu nas ruas de Roma:

– Garibaldi! Garibaldi!

Depois uma immensa multidão que o precedia, atirava com os chapeus ao ar, e agitava os lenços, gritando:

– Eil-o! eil-o!

Seria impossivel descrever o enthusiasmo que se apoderou da população logo que o viu; dir-se-ia que era o deus salvador da republica que corria a defender Roma; a coragem do povo cresceu então pela confiança que n'elle tinha, e pareceu que a assembléa não só tinha decretado a defeza mas até a victoria.

Algumas linhas da Historia da revolução romana, por Biagio Miraglia darão uma idéa d'este enthusiasmo:

«Este vencedor mysterioso, circundado de uma aureola de gloria tão brilhante, que, estranho ás discussões da assembléa, e ignorando-as, entrava em Roma na vespera mesmo do dia em que a republica ia ser atacada, era, no espirito do povo romano, o unico homem capaz de sustentar o decreto de resistencia.

«Por isso, immediatamente se reuniram ao homem que personificava as necessidades instantaneas e que era a esperança de todos.»

D'esta fórma a necessidade publica dava a Garibaldi o seu posto de general, contestado na ultima guerra por aquelles mesmos por quem elle combatia.

Garibaldi não poude dar-nos os detalhes que se seguem, pela necessidade que tinha de partir immediatamente para a Sicilia; foram-nos porém fornecidos pelo seu amigo, M. Vecchi, o historiador da guerra de 1848, o membro da assembléa romana, o soldado do dia 30 de abril, 3 e 30 de junho; finalmente, o homem em cuja casa Garibaldi passou o ultimo mez da sua estada em Genova, e que d'ali sahiu para embarcar.

Deixamos fallar M. Vecchi, ou antes damos as suas notas originaes.

M. Vecchi falla o francez tão bem como o italiano.

Garibaldi estava em Ravenne, alistando uma forte legião de voluntarios, quando soube da morte de Rossi e da fuga do papa.

Determinou ir elle só a Roma para se entender com o governo provisorio, cujo factotum era Sterbini; mas fizeram-lhe comprehender que a sua presença em Roma era tão perigosa como os aquartelamentos dos seus legionarios nas legações; e recebeu ordem de se aquartelar em Macerata, cidade socegada, onde o fizeram preceder pela reputação de salteador.

Tendo chegado ali, recebeu ordem de passar com a legião para Rieti. A tropa encaminhou-se por Tolentin, Foligno e Spoléte.

Garibaldi veiu a Ascoli porque soube que a policia bourboneza e papista começava a sublevar a povoação dos Apenninos contra o governo de Roma empregando para isso o dinheiro, o temor e o anathema.

N'esse tempo era eu capitão do 23.o de linha no exercito piemontez e estava em Ascoli gosando dois mezes de licença quando os meus compatriotas me elegeram deputado na constituinte romana.

Garibaldi visitou-me no dia 20 de janeiro, no dia seguinte quiz partir para Rieti atravessando a montanha que estava coberta de neve e onde havia um grande numero de salteadores; os conselhos prudentes que lhe deram, a opposição dos patriotas não fizeram mais que reascitar o seu desejo de intrepido militar; por espaço de uma legua fomos acompanhados pela multidão que se lamentava e chorava: muitos me abraçaram pensando que não tornariam a vêr-me.

Seguiam o general, Nino Bixio seu oficial de ordenança, o capitão Sacchi seu companheiro de armas no novo mundo, e de Aguyar seu negro.

O resto da comitiva compunha-se de mim e de um cãosinho que ferido n'um pé no dia do combate de Santo Antonio tinha desertado da bandeira de Buenos-Ayres com a qual tinha andado até ali para se alistar na bandeira de Garibaldi.

Chamava-se Guerillo.

O intelligente animal caminhava coxeando sempre entre as quatro pernas do cavallo de Garibaldi.

Na primeira noite alojamo-nos em casa do governador de Arguata, Caetano Rinaldi, chefe da reacção clerical que surgia atraz de nós a pouco e pouco e á medida que avançavamos.

Ficámos n'uma sala ao rez-de-chaussée ás escuras até ás dez horas da noite com pessoas que entravam, sahiam e fallavam em segredo. Notei isto ao general que me respondeu com o seu habitual socego.

– Estão detalhando o jantar.

Nada podia dizer mais verdadeiro, levantamo-nos da mesa á meia noite tendo sido tratados como se fossemos cardeaes. Quando partimos o governador deu-nos quatro arrateis de batatas para a viagem. Ás quatro horas da manhã montámos a cavallo e fomos acompanhados até ao cume da montanha pelo filho de M. Rinaldi que trazia uma bandeira tricolor de seda. Ao meio dia devorámos um cordeiro que o general mandou assar por partes n'uma fogueira de lenha, e á noite alojamo-nos n'uma estalagem isolada cheia de camponezes armados. Talvez tivessem recebido a palavra de ordem de Arguata, as physionomias eram sinistras, convidamol-os todos para beber e recusaram.

Fomos deitar-nos e dormimos com o sabre ao lado e a mão sobre o gatilho da pistola.

Garibaldi levantou-se, tinha o cotovelo esquerdo dorido e o joelho direito inchado pelo rheumatismo apanhado na America, não poude calçar a bota e foi de braço ao peito.

Depois de meia hora de marcha os cavallos não poderam continuar. Com effeito trepavamos uma montanha escarpada que o gelo da noite tornara escorregadia como um espelho.

Pelo espaço de uma legua os cavallos caminharam sobre os nossos capotes que estendiamos diante d'elles, atravessamos em seguida uma planicie coberta de neve onde os cavallos se enterravam até aos peitos; para me aquecer apeei-me e fui saber da saude do general que cavalgava na minha frente só com uma bota calçada e no outro pé uma meia de algodão.

– Então, perguntei-lhe eu, como vae, general?

Cumprimentou-me com o sorriso affavel que é habitual á sua natureza forte e serena, e disse-me:

– Perfeitamente, obrigado.

Como eu ia ao lado d'elle, sem duvida para se distrahir das dôres pungentes que lhe torturavam a carne, mostrou-me com a mão o aspecto grandioso d'esta natureza selvagem. Effectivamente achavamo-nos no meio de elevadas montanhas cujos cumes cheios de rochas se assimilhavam aos fortes castellos edificados pelos Titans.

Por toda a parte rochedos escarpados, minados pelos seculos, desprendendo-se das cumiadas tinham rolado para os valles estreitos e escarpados e jaziam no leito de uma torrente espumosa, terrivel, murmurante e limosa; a espaço viam-se algumas casas escondidas na espessura de choupos, faias, castanheiros e outras arvores, distinguindo-se pelas alvas nuvens de fumo que sahiam das chaminés.

Esta paysagem á Salvador Rosa assombreada pela tormenta e tornada mais ameaçadora pelo sopro do vento, exaltou a alma de Garibaldi.

– É aqui, disse elle, que eu queria encontrar todo o exercito de Radetzki: os nossos bravos legionarios não deixariam regressar a Vienna um dos seus soldados; aqui vingariamos Varus e nossos irmãos mortos na floresta de Teutberg.

Pelas cinco horas estavamos perto de Cascia, pequena reunião de casas agrupadas no cume de uma collina verdejante; o vento tinha dispersado as nuvens, o sol brilhava sobre as nevosas cumiadas, formando montanhas de prata que se destacavam sobre um fundo azul que se tornava côr de rosa para o lado do poente.

Descançavamos junto a um montão de palha, quando quatro mancebos vieram perguntar-nos quem eramos, ao nome de Garibaldi partiram correndo e passado um quarto de hora o porta-bandeira, as notabilidades, a guarda nacional, e a multidão com musica na frente vieram receber-nos, e convidar o general a ir á villa.

Armou-se, como por encanto, um arco triumphal de folhagem; o theatro illuminou-se; houve jantar e baile em casa do governador, que, não obstante, era um altivo clerical.

Lembro-me de terem apresentado a Garibaldi um camponez que, sem saber lêr nem escrever, tinha dictado um poema completo sobre a vida pastoril.

Perto das nove horas, um visinho me disse em segredo que um rapaz de quinze annos gemia na prisão embrutecido pelas pancadas e maus tratos do pae, que, casando segunda vez, aos sessenta annos, com uma camponeza muito nova, tinha, por conselho d'ella, accusado o filho de lhe ter faltado ao respeito.

O governador recebeu vinte escudos e o rapaz foi lançado na prisão.

Fiz constar o facto e fallei d'elle ao general.

O pae foi chamado, e tambem o desgraçado rapaz. Houve então uma scena ao mesmo tempo comica e horrenda. O pae queria, é verdade, que soltassem o filho; mas reclamava com toda a sinceridade o dinheiro que tinha dado para o prenderem. O rapaz chorava amargamente e abraçava Garibaldi; em quanto ao governador, não sabia que postura havia de tomar. Por fim, fez um discurso ao povo da janella, e o rapaz foi levado em triumpho por todos os galopins da villa.

No dia seguinte, as cinco horas da manhã, um destacamento da guarda nacional partiu comnosco por baixo de uma chuva miuda mas penetrante.

Acompanhou-nos até Rieti e escoltou um empregado das finanças que tinham prendido no sitio onde almoçamos, porque era um espião pago pelo general bourbonez Landi, commandante da columna movel na fronteira dos estados romanos.

A legião italiana aquartelada em Rieti compunha-se de tres batalhões (quinhentos homens) aos quaes se tinham juntado noventa lanceiros equipados e montados á custa do seu commandante, o conde Angelo Masina de Bolonha.

Foi com elles que o conde marchou a soccorrer Roma.

Quando os francezes desembarcaram em Civita-Vecchia, a legião achava-se em Anagni, berço e tumulo de Bonifacio VIII.

Aug. Vecchi.

Mas a este general que tinha todo o povo a seguil-o faltava-lhe soldados.

Improvisaram-lhe uma brigada de elementos estranhos uns aos outros de homens que não se conheciam, e que deviam reunir-se, fundir-se n'um só, misturar-se por effeito do enthusiasmo que elle inspirava.

Esta brigada formou-se de dois batalhões da sua propria legião, entre os quaes havia uns quarenta vindos com elle de Montevideo, trajando blouse vermelha com canhões verdes, de trezentos homens de volta de Veneza, de quatrocentos mancebos da universidade, de trezentos officiaes da alfandega, mobilisados finalmente de trezentos emigrados, ao todo dois mil e quinhentos homens que foram encarregados de defender os muros desde a porta Portese até ás portas San-Pancracio e Cavallegieri, e occupando todos os pontos elevados por fóra das muralhas da villa Corsini, conhecidos sob o nome dos Quatro-Ventos até á villa Pamphili.

Segundo toda a probabilidade era sobre este ponto que empregariam mais força os francezes que queriam conservar Civita-Vecchia para base das suas operações.

No dia 28 de abril a vanguarda franceza estava em Palo, onde tinha chegado na vespera um batalhão de caçadores para explorar o caminho.

No dia 29 estava em Castel-di-Guido, isto é a cinco leguas de Roma.

Então o general em chefe mandou em reconhecimento seu irmão, o capitão Oudinot, e um official de ordenança com quinze soldados de cavallaria ligeira.

Este reconhecimento avançou para o sitio onde se dividiam as duas estradas Aurelianas, antiga e moderna, e a uma legua de Roma encontrou os postos avançados dos romanos.

O official que commandava os postos avançados dirigiu-se então aos francezes e perguntou-lhes:

– Que quereis?

– Ir a Roma, responderam os francezes.

– Não é possivel, disse o official italiano.

– Nós fallamos em nome da republica franceza.

– E nós em nome da republica romana, por tanto para traz senhores!

– E se nós não quizermos voltar para traz?

– Trataremos de os obrigar a isso.

– Por que meio?

– Pela força.

– N'esse caso disse o official francez voltando-se para os seus, se assim é, fazei fogo.

E ao mesmo tempo disparava uma pistola que tirara dos coldres.

– Fogo! respondeu o official italiano.

O reconhecimento muito fraco para resistir, retirou-se a galope deixando em nosso poder um caçador francez debaixo do cavallo que estava morto.

Foi preso e enviado a Roma.

O boletim francez diz que fomos nós que fugimos e fomos perseguidos, mas se assim fosse como era possivel termos enviado a Roma um prisioneiro feito por nós que estavamos a pé, em quanto que os francezes estavam a cavallo?

No seguimento teremos de relevar mais de um engano d'este genero.

O reconhecimento foi pois levar ao general a noticia de que Roma estava prompta a defender-se, e que deviam perder a esperança de entrar ahi sem queimar uma escorva, e no meio das acclamações do povo como esperavam.

O general em chefe nem por isso afrouxou a marcha.

No dia seguinte, 30 de abril, avançou a passo dobrado, deixando em Maglianilla as bagagens dos seus soldados.

Relevemos um novo engano relativo ao dia 30 de abril como relevamos o de 29.

Certos escriptores disseram que victimas de uma vil intriga, os soldados tinham sido attrahidos para a cidade em perseguição de um simples reconhecimento e tinham cahido n'uma cilada.

O negocio do dia 30 não foi um reconhecimento aos francezes, não se lhe armou cilada alguma.

O successo do dia 30 foi um combate em que muito esperava o general francez, e a prova é o plano de batalha que se segue achado a um official francez morto, e transmittido pelo coronel Masi ao general ministro da guerra.2

«Dever-se-ha dirigir um duplo ataque pelas portas Angelica e Cavallegieri, com o fim de dividir a attenção do inimigo.

«Pela primeira forçar-se-hão as tropas inimigas que acampam em Monte-Mario, e em seguida poder-se-ha occupar a porta Angelica.

«Quando os nossos tiverem occupado estes dois pontos apertaremos o inimigo com toda a força possivel em todos os sentidos e o ponto geral de reunião será na Praça de S. Pedro.

«Recommenda-se sobre tudo poupar o sangue francez.»

A idéa do general francez não só era má, mas foi mal executada; vamos tentar proval-o.

A estrada que conduz de Civita-Vecchia a Roma separa-se em duas a quinhentos metros pouco mais ou menos das muralhas, conduzindo pela direita á porta San-Pancracio, e pela esquerda á porta Cavallegieri visinha do angulo saliente do Vaticano.

Ahi foi o grande erro que os francezes commetteram. Lançaram na direita os caçadores a pé do 20.o de linha que acharam um caminho aspero e cortado de bosques e de um difficil accesso e nas alturas da esquerda os caçadores de Vincennes; cerca de cento e cincoenta metros dos muros estes bravos rapazes perdidos do exercito inimigo foram fulminados com o chuveiro de metralha que vomitava a bateria do bastião San-Mario.

Comtudo o mal não foi para elles tão grande como podia ser, por causa da habilidade adquirida na guerra contra os arabes, de fazerem muralhas de todos os accidentes do terreno.

O seu fogo admiravelmente dirigido causava-nos grandes perdas. Foi ali que morreram, o tenente Marducci mancebo que dava as maiores esperanças, cuja mãe depois da entrada do Papa Pio IX foi condemnada a oito dias de prisão por ter ido depôr flôres sobre o tumulo de seu filho; o major ajudante Enrico Pallini, o brigadeiro della Ridova, o capitão Pifferi, o tenente Belli, e outros mais desconhecidos ao mundo, mas charos para nós; taes como de Stephanis, Ludovico e o capitão Leduc, bravo belga que combatêra por nós na guerra da independencia.

Não faltavam porém vivos para substituir os mortos.

Desde manhã o rufar dos tambores annunciou aos romanos que os francezes estavam já á vista e n'um momento os muros e os bastiões cobriram-se de homens.

Em quanto o fogo dos caçadores do 20.o de linha e o dos caçadores de Vincennes respondiam ao nosso, o grosso da columna franceza avançava sempre.

No momento della apparecer uma bateria de quatro peças collocadas n'um bastião, começou a metralhal-a.

O general francez estabeleceu logo uma bateria sobre os aqueductos, encarregada de responder ao nosso fogo, e fez montar sobre uma collina duas outras peças que fizeram face aos jardins do Vaticano, onde estavam poucos soldados, mas uma grande quantidade de povo armado.

O general francez vendo que o nosso fogo tinha afrouxado, por causa da certeza do tiro dos caçadores de Vincennes, mandou a brigada Moliére que avançou com bravura até ao pé das muralhas; mas como já disse os mortos tinham sido substituidos com ligeireza, e o fogo animou-se mais ardente ainda, destruindo a frente das columnas Marulaz e Bouat, forçoso lhe foi pois retirarem-se e procurarem um abrigo nas curvas que o terreno fazia.

Garibaldi seguia todos estes movimentos dos jardins da villa Pamphili. Entendeu que tinha chegado a sua vez e mandou varios destacamentos através as vinhas, esta manobra porém foi descoberta, e do 20.o de linha mandaram um reforço para impedir que os caçadores de Vincennes fossem surprehendidos e para protegêl-os.

Garibaldi então mandou dizer que se lhe enviassem um reforço de mil homens responsabilisava-se pelo exito d'aquelle combate.

Enviou-se-lhe logo o batalhão do coronel Galleti e o primeiro batalhão da legião romana commandado pelo coronel Morelli. Dispoz varias companhias para defenderem as passagens ameaçadas, outras foram encarregadas de proteger os flancos e a retaguarda da sahida, e á frente dos homens que lhe restavam Garibaldi lançou-se sobre os francezes.

Por fatalidade os nossos tomaram os homens de Garibaldi por francezes e do alto das muralhas fizeram fogo sobre elles. Garibaldi parou até que se conhecesse o engano, e então á bayoneta lançou-se a descoberto sobre o centro do exercito francez.

Empenhou-se então um combate terrivel, entre os tigres de Montevideo como lhes chamavam e os leões de Africa. Francezes e romanos luctavam corpo a corpo, matavam-se á bayoneta, cahiam, mas tornavam a levantar-se para começar de novo.

Garibaldi achava emfim inimigos dignos d'elle.

Ali morreram dos nossos o capitão Montaldi, os tenentes Rigli e Zamboni, foram feridos o major Marochetti, o cirurgião Schienda, o official Gliglioni, o capellão Ugo Bassi que desarmado affrontava os ferimentos e a morte, para soccorrer os feridos e consolar os moribundos; coração piedoso, alma misericordiosa, de que os sacerdotes fizeram um martyr; finalmente os tenentes d'All'Oro, Tressoldi, Rolla, e o joven Stadella, filho do general napolitano.

Depois de uma hora de lucta os francezes foram obrigados a ceder: uma parte debandou pelo campo e outra refugiou-se no corpo principal.

Ficaram prisioneiros duzentos e sessenta francezes.

Foi então que o capitão de artilheria Faby, official de ordenança do general em chefe, vendo o mau exito do ataque tão mal combinado pelo general, julgou remedial-o propondo ao seu chefe guiar um novo ataque por um caminho seu conhecido, dizia elle, e que o conduziria desapercebido até debaixo dos muros de Roma, diante do jardim do Vaticano.

Este caminho era flanqueado por quatro ou cinco casas onde se poderiam deixar destacamentos, e que estavam occultas pelas vinhas.

O general em chefe acceitou, deu-lhe uma brigada do corpo Levaillant, e o capitão Faby partiu.

A empreza foi facil a principio, e a marcha da columna ficou effectivamente desapercebida dos defensores de Roma até á estrada consular da porta Angelica; ali porém ao primeiro brilho das armas francezas um fogo terrivel lançado de todo o circuito dos jardins pontificaes recebeu a columna, e uma das primeiras balas matou o capitão Faby que a conduzia.

Apezar de privada do seu guia a columna defendeu-se valerosamente por algum tempo, respondendo ao fogo das muralhas, mas dizimados e destruidos tendo na retaguarda as nossas tropas de Monte-Mario, na frente o fogo do castello Saint-Ange que lhes tomava o caminho da porta Angelica, expostos a descoberto ao chuveiro de balas e metralha que sahia dos jardins do Vaticano, e que lhes não permittia readquirir as suas antigas posições; os francezes foram obrigados a refugiar-se nas casas dispersas nas vinhas e espalharem-se pelo comprimento da estrada onde a nossa artilheria continuou a fulminal-os.

Assim pois uma brigada completa que formava o flanco esquerdo do corpo do exercito francez achou-se separada do seu centro, e correndo perigo de ser toda prisioneira.

Por felicidade para o general Levaillant as nossas tropas de Monte-Mario não desceram, e dois mil homens agglomerados atraz da porta Angelica não se moveram.

O general em chefe não era mais feliz á direita, quero dizer, no ponto em que havia combatido Garibaldi; um instante o fogo e a lucta haviam cessado pela retirada dos francezes; mas sendo sua gente repellida, o general Oudinot receiava vêr cortadas as suas communicações com Civita-Vecchia, e tinha compellido para a frente os restos da brigada Moliére, e o combate resfriado um instante, retomara novo ardor. Mas a sciencia da guerra, a disciplina, a coragem, o ataque impetuoso tudo cahiu ante os nossos soldados, apezar de sua juventude e inexperiencia.

É que Garibaldi estava ahi, erguido a cavallo, com os cabellos soltos ao vento, como a estatua de bronze do deus dos combates.

Á vista do invulneravel, cada um se recordou das façanhas dos immortaes antepassados e d'esses conquistadores do mundo de que elles pisavam as sepulturas; ter-se-hia dito que todos sabiam que a sombra dos Camillos, dos Cincinnatos e dos Cesares os olhavam do alto do Capitolio. Á violencia, á furia franceza, oppunham o socego romano, a vontade suprema da desesperação.

No fim de quatro horas de um combate obstinado, o chefe de um batalhão do 20.o de linha, hoje general Picard, graças a prodigiosos esforços, a uma coragem desmedida, apoderou-se com trezentos homens de uma posição bella, forçando os jovens universitarios a abandonal-a; mas quasi immediatamente, Garibaldi tendo recebido um batalhão de exilados commandado por Arcioni, um destacamento da legião romana, com duas companhias da mesma legião, poz-se-lhe á frente, e de cabeça baixa, bayoneta cruzada, retomou a seu turno a offensiva, e com um fogo irresistivel, destruindo todos os obstaculos, envolveu na casa de que elle havia feito uma fortaleza, o chefe do batalhão, Picard, que atacado de todos os lados pelos nossos, e de face por Nino Bixio, que luctou corpo a corpo com elle, foi forçado a render-se com os seus trezentos homens.

Esta lucta agigantada decidiu a refrega, e mudou completamente a face ás cousas. Já não era questão saber se Oudinot entraria em Roma, mas sim se poderia volver para Civita-Vecchia.

Garibaldi, com effeito, senhor da villa Pamphili e da posição dos aqueductos, dominava a via Aureliana, e por um movimento rapido podia preceder os francezes em Castel-di-Guido e fechar-lhes a estrada.

O resultado d'este movimento era certo; a ala esquerda dos francezes, esmagada nos jardins do Vaticano e abrigada, como o dissemos, nas casinhas dispersas, não podia bater em retirada sem se expôr ao fogo exterminador da artilheria e da fusilaria dos muros.

A ala direita, batida e dispersada por Garibaldi, achava-se n'esse momento de desanimação fatal que se segue a uma derrota inesperada, e podia apenas oppôr uma fraca resistencia. Alem d'isto, os francezes estavam extenuados por um combate de dez horas, e sem cavallaria alguma que protegesse a sua retirada.

Nós tinhamos dois regimentos de linha em reserva, dois regimentos de dragões a cavallo, dois esquadrões de carabineiros, o batalhão dos lombardos, commandado por Manara, preso, é verdade pela palavra de Manucci, e por detraz d'elles um povo inteiro.

Garibaldi tinha previsto a situação porque do campo de batalha, escrevia ao ministro da guerra Avezzana:

«Enviae-me tropas frescas, e da mesma fórma que eu vos havia promettido de bater os francezes, palavra que sustentei, eu vos prometto de impedir que um só regresse aos seus navios.»

Mas então, diz-se, o triumviro Mazzini oppoz sua palavra potente a este projecto.

– Não façamos, disse elle, da França um inimigo mortal, por uma derrota completa, e não exponhamos nossos jovens soldados de reserva em campo raso, contra um inimigo batido, mas valoroso.

Este grave erro de Mazzini roubou a Garibaldi a gloria de um dia á Napoleão, e tornou infructuosa a victoria de 30; erro fatal e entretanto desculpavel para um homem que tinha firmado todas as esperanças no partido democratico francez de que Ledru-Rollin era chefe, erro que teve para a Italia incalculaveis consequencias.

O plano de Garibaldi, se se houvesse adoptado, podia mudar os destinos da Italia.

De feito a posição era das mais simples, e eu o recordo, hoje que os odios politicos estão extinctos, e que um novo dia brilha para a Italia á lealdade dos nossos proprios adversarios.

Oudinot tinha atacado Roma com duas brigadas, uma sob as ordens do general Lavaillant, outra sob as do general Manara: um batalhão de caçadores a pé, doze peças de campanha e cincoenta cavallos, completavam a divisão; vimos a que penoso estado ficara reduzido na noite de 30 de abril este corpo de exercito, cuja ala esquerda tinha sido inconvenientemente alongada e a ala direita reunida sobre seu centro por Garibaldi, senhor da villa Pamphili, dos aqueductos e da antiga via Aurelianna; era preciso sem perder um instante e com todas as tropas disponiveis, marchar para a frente, forçar os francezes ou a uma fuga rapida, necessaria se quizessem ganhar Civita-Vecchia, ou a um novo combate, que terminasse por sua completa destruição na desfavoravel situação em que se achavam.

2.Não estou escrevendo um romance, estou publicando Memorias. Vejo-me pois forçado a traduzir textualmente. Não nego nem affirmo, instruo um processo diante d'esse grande e ultimo juizo que se chama a Verdade.
Yaş sınırı:
12+
Litres'teki yayın tarihi:
27 eylül 2017
Hacim:
170 s. 1 illüstrasyon
Tercüman:
Telif hakkı:
Public Domain

Bu kitabı okuyanlar şunları da okudu