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Kitabı oku: «O Napoleão de Notting Hill», sayfa 11

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A Última Batalha

O dia estava nublado quando Wayne foi para a morte junto com todo o seu exército em Kensington Gardens; estava novamente nublado quando o exército foi engolido pelos vastos exércitos de um novo mundo. Houve um intervalo quase sobrenatural de brilho solar, em que o superintendente de Notting Hill, com toda a placidez de um espectador, olhou os exércitos hostis sobre os grandes espaços de vegetação do lado oposto; as longas tiras de verde, azul e ouro estavam sobre todo o parque em quadrados e retângulos como uma proposição de Euclides forjada em um rico bordado. Mas a luz do sol estava fraca, como se fosse úmida, e foi logo engolida. Wayne falou ao rei, com uma estranha espécie de frieza e apatia, como para operações militares. Era como havia dito na noite anterior, que ao ser privado de seu sentido de impraticável retidão, estava, de fato, sendo privado de tudo. Ele estava fora de lugar, no mar de um mundo apenas de compromisso e competição, de Império contra Império, do razoavelmente certo e do razoavelmente errado. No entanto quando seus olhos caíram sobre o rei, que marchava muito grave com uma cartola e uma alabarda, se animou um pouco.

– Bem, vossa Majestade, pelo menos deve se orgulhar hoje. Se os seus filhos estão lutando entre si, pelo menos os que ganham são vossos filhos. Outros reis Outros distribuíram justiça, você distribuiu vida. Outros reis governaram uma nação, você criou nações. Outros fizeram reinos, você os gerou. Olhe para seus filhos, pai! – e estendeu a mão para o inimigo.

Auberon não levantou os olhos.

– Veja como esplendidamente – gritou Wayne – novas cidades chegam, as novas cidades além do rio. Veja onde Battersea avança sob a bandeira da Cão Perdido; e Putney, não vê o Homem no Javali Branco brilhando em seu emblema quando o sol o ilumina. É a chegada de uma nova era, vossa Majestade. Notting Hill não é um império comum, é como Atenas, a mãe de um modo de vida, de uma maneira de viver, que deverá renovar a juventude do mundo como Nazaré. Quando era jovem me lembro, nos velhos tempos sombrios, sabichões costumavam escrever livros sobre como os trens ficariam mais rápidos, e todo o mundo seria um império, e como carros elétricos iriam para a lua. E mesmo quando criança, costumava dizer a mim mesmo: “Muito mais provável que comecemos as cruzadas novamente, ou adoraremos os deuses da cidade.” E assim foi. E estou contente, embora esta seja minha última batalha.

Enquanto falava, veio um estrondo de aço a partir da esquerda, e virou a cabeça.

– Wilson! – gritou, com uma espécie de alegria. – Red Wilson atacou nossa esquerda. Ninguém pode segurá-lo; ele come espadas. Ele é tão afiado como soldado quanto Turnbull, mas menos paciente, realmente excelente. Ha! E Barker está se movendo. Como Barker melhorou; quão bonito está! Não é apenas as plumas, mas também ter uma alma na vida diária. Ha!

E outro estrondo de aço à direita mostrou que Barker fechou Notting Hill no outro lado.

– Turnbull está lá! – gritou Wayne. – Eu o vejo empurrá-los de volta! Barker está marcado! Turnbull ataca… e ganha! Mas nossa esquerda está aberta. Wilson esmagou Bowles e Mead, e pode revelar nosso flanco. Em frente, guarda do superintendente!

E todo o centro moveu-se para a frente, o rosto, cabelo e espada flamejante de Wayne na vanguarda.

O rei correu de repente para a frente.

No instante seguinte, um grande sobressalto indicou que haviam encontrado o inimigo. E bem defronte deles, através da madeira de suas próprias armas, Auberon viu a Águia Púrpura de Buck de North Kensington.

À esquerda, Red Wilson assaltou as fileiras quebradas, sua pequena figura verde visível até mesmo no emaranhado de homens e armas, com os bigodes flamejantes vermelhos e a coroa de louros. Bowles o cortou na altura da sua cabeça e arrancou parte da coroa, deixando o resto ensanguentado, e, com um rugido de um touro, Wilson saltou sobre ele, e depois de um ruído de esgrima, mergulhou sua arma no farmacêutico, que caiu, gritando: “Notting Hill!” Em seguida, os habitantes de Notting Hill vacilaram e Bayswater varreu-os de volta em confusão. Wilson levou tudo adiante dele.

À direita, no entanto, Turnbull tinha levado a bandeira do Leão vermelho com uma arrancada contra os homens de Barker, e a bandeira dos Pássaros Dourados estava com dificuldades diante dele. Os homens de Barker caíram rapidamente. No centro Wayne e Buck estavam engajados, teimosos e confusos. A luta estava precisamente equilibrada. Mas a luta era uma farsa. Por trás dos três pequenos exércitos contra os quais o pequeno exército de Wayne estava engajado, apresentava-se o grande mar dos exércitos aliados, que pareciam ainda como espectadores escarnecedores, mas poderiam ter quebrado todos os quatro exércitos com o mover um dedo.

De repente, eles se moveram. Alguns dos contingentes da frente, os chefes pastorais de Shepherd´s Bush, com suas lanças e telas, foram vistos avançando, e os rudes clãs de Paddington Green. Estavam avançando por uma razão muito boa. Buck, de North Kensington, estava sinalizando descontroladamente, estava cercado e totalmente isolado. Seus regimentos eram uma massa de pessoas em dificuldades, ilhados num mar vermelho de Notting Hill.

Os aliados tinham sido muito descuidados e confiantes. Haviam permitido a força de Barker ser quebrada em pedaços por Turnbull, e no momento em que isso foi feito, o astuto velho líder de Notting Hill virou os homens e atacou Buck por trás e em ambos os lados. No mesmo instante, Wayne gritou: “Carga!” e o golpeou pela frente como um raio.

Dois terços dos homens de Buck foram cortados em pedaços antes de seus aliados poderem alcançá-los. Em seguida, o mar de cidades veio com suas bandeiras, como quebradores de linhas, e engoliram Notting Hill para sempre. A batalha não acabou, pois nenhum dos homens de Wayne iria se render, e durou até o pôr do sol, e ainda depois. Mas estava decidida, a história de Notting Hill foi encerrada.

Quando Turnbull viu isso, parou um momento de lutar, e olhou em volta dele. A luz do sol do entardecer atingiu seu rosto, ele parecia uma criança.

– Tive a minha juventude – disse ele. Então, pegando um machado, correu para o grosso das lanças de Shepherd’s Bush, e morreu em algum lugar dentro das profundezas de suas cambaleantes fileiras. Então a batalha rugia; todo homem de Notting Hill foi morto antes da noite.

Wayne estava só apoiado em uma árvore depois da batalha. Vários homens aproximaram-se dele com machados. Um atingiu-o. Seu pé parecia parcialmente escorregar, mas ele firmou a mão na árvore.

Barker surgiu depois dele, a espada na mão, tremendo de emoção:

– Quão grande agora, meu senhor, é o império de Notting Hill?

Wayne sorriu na escuridão crescente.

– Sempre tão grande quanto isto – disse ele, e varreu sua espada ao redor em um semicírculo de prata.

Barker caiu, ferido no pescoço, e Wilson pulou sobre o seu corpo como um tigre, apressando-se até Wayne. No mesmo instante, veio por trás do Lorde do Leão Vermelho um grito e um clarão amarelo, e uma massa de alabardeiros de West Kensington lavrou a encosta, na grama até os joelhos, tendo a bandeira amarela da cidade diante deles, e gritando em voz alta.

Ao mesmo tempo, Wilson caiu debaixo da espada de Wayne, aparentemente esmagado como uma mosca. A grande espada subiu novamente como um pássaro, mas Wilson pareceu subir com ele, e, com a espada quebrada, saltou para a garganta de Wayne como um cão. O mais importante dos alabardeiros amarelos alcançou a árvore e girou o machado acima de Wayne em dificuldades. Praguejando o rei virou sua própria alabarda, e disparou a lâmina no rosto do homem. Ele cambaleou e rolou ladeira abaixo, assim como o furioso Wilson que foi arremessado de costas novamente. E mais uma vez ele estava de pé, e novamente atacando a garganta de Wayne. Em seguida, foi arremessado novamente, mas desta vez rindo triunfante. Na sua mão estava o distintivo vermelho e amarelo que Wayne usava como superintendente de Notting Hill. Ele o rasgou do lugar onde esteve por vinte e cinco anos.

Com um grito, os homens de West Kensington cercaram Wayne, a grande bandeira amarela batendo sobre a sua cabeça.

– Onde está o seu distintivo agora, superintendente? – gritou o líder de West Kensington.

E subiu uma gargalhada.

Adam atacou um porta-estandarte e o levou cambaleando para a frente. Com a bandeira encurvada, agarrou as dobras amarelas e arrancou um fiapo. Um alabardeiro atingiu-lhe no ombro, fazendo uma ferida sangrenta.

– Aqui está uma das cores| – gritou, empurrando o fiapo amarelo no cinto. – E aqui – gritou, apontando para o seu próprio sangue – está a outra.

No mesmo instante, o choque súbito de uma forte alabarda deixou o rei atordoado ou morto. Nas visões selvagens enquanto a consciência desaparecia, viu novamente algo que pertencia a uma época totalmente esquecida, algo que tinha visto em algum lugar há muito tempo em um restaurante. Ele viu, com os olhos úmidos, vermelho e amarelo, as cores da Nicarágua.

Quin não viu o fim. Wilson, selvagem e alegre, saltou novamente para Adam Wayne, e a grande espada de Notting Hill girou novamente. Em seguida, os homens se abaixaram instintivamente com o ruído da espada descendo do céu, e Wilson de Bayswater foi esmagado e varrido no chão como uma mosca. Nada restou dele, exceto destroços; mas a lâmina que o quebrou estava quebrada. Ao morrer, estalou a grande espada e o encanto desta, a espada de Wayne estava quebrada no punho. Uma arremetida do inimigo forçou Wayne contra a árvore. Estavam muito perto para usar alabarda ou mesmo espada, pois estavam peito contra peito, até mesmo narina contra narina. Mas Buck conseguiu libertar sua adaga.

– Matem-no! – gritou, com uma voz abafada estranha. – Matem-no! Bom ou mau, ele não é nenhum de nós! Não se deixem cegar pelo rosto… Deus! Se não estivéssemos cegos o tempo todo! – e puxou o braço para trás para uma facada, e pareceu fechar os olhos.

Wayne não soltou a mão que estava pendurada no galho da árvore. Mas um poderoso suspiro passou sobre seu peito e toda a sua enorme figura, como um terremoto ao longo de grandes colinas. E com essa convulsão de esforço, arrancou o ramo da árvore, com farpas de madeira; e, balançando-o apenas uma vez, jogou a clava lascada em Buck, quebrando seu pescoço. O planejador da Grande Estrada caiu morto, com sua adaga em um aperto de aço.

– Para você e para mim, e para todos os homens valentes, meu irmão – disse Wayne, numa estranha oração – haverá bom vinho vertido na pousada do fim do mundo.

Os homens ao redor fizeram outros movimentos em direção a ele; era quase escuro demais para uma luta clara. Ele agarrou-se no carvalho novamente, desta vez colocando a mão em uma grande fenda e prendendo-se, por assim dizer, nas entranhas da árvore. A multidão toda, em torno de trinta homens, fez um esforço para afastá-lo dela, pendurando todo o seu peso e número, e nada se mexeu. A solidão não poderia ter sido mais imóvel do que aquele grupo de homens tensos. Então, houve um som fraco.

– A mão dele está escorregando – gritaram dois homens em júbilo.

– Você não o conhece – disse outro, tristemente (um homem da velha guerra). – É mais provável que seus ossos estejam quebrando.

– Não é nem um, nem outro. Meu Deus! – disse um dos dois primeiros.

– O que, então? – perguntou o segundo.

– A árvore está caindo.

– À medida que a árvore cai, assim deita-se – disse a voz de Wayne para a escuridão, e tinha o mesmo ar doce mas ainda horrível de estar por toda parte, vindo de uma grande distância, de antes ou depois do evento. Mesmo quando estava lutando como uma enguia ou golpeando como um louco, falava como um espectador. – À medida que a árvore cai, assim deita-se – disse ele. – Os homens chamaram de um texto sombrio. É a essência de toda a exultação. Estou fazendo agora o que tenho feito toda a minha vida, que é a única felicidade, que é a única universalidade. Estou agarrado a alguma coisa. Deixe-o cair, e deixe-o deitar. Tolos, vão passear e ver os reinos da terra, tão liberais, sábios e cosmopolitas, que é tudo que o diabo pode lhes dar, tudo o que ele poderia oferecer a Cristo, apenas para ser rejeitado imediatamente. Estou fazendo o que o verdadeiro sábio faz. Quando uma criança sai para o jardim e se apodera de uma árvore, dizendo: ‘Que esta árvore seja tudo o que tenho’, naquele momento suas raízes tomam posse no inferno e seus ramos sobre as estrelas. A alegria que tenho é a do amante que sabe quando uma mulher é tudo. É a de um selvagem que sabe quando seu ídolo é tudo. É a que tenho quando sei quando Notting Hill é tudo. Eu tenho uma cidade. Esteja ela de pé ou caída.

Enquanto falava, a turfa levantou-se como uma coisa viva, e dela subiram lentamente, como uma crista de serpentes, as raízes do carvalho. Então, a grande cabeça da árvore, que parecia uma nuvem verde entre as cinzas, varreu o céu de repente como uma vassoura, e toda a árvore balançou como um navio, esmagando todos na sua queda.

Duas vozes

Num lugar onde havia escuridão total durante horas, havia também silêncio total por horas. Então uma voz falou da escuridão, ninguém poderia dizer de onde, e disse em voz alta:

– Então assim termina o Império de Notting Hill. Como começou em sangue, então acabou em sangue, e tudo continua como sempre.

E fez-se silêncio novamente, e novamente havia uma voz, mas não tinha o mesmo tom, parecia que não era a mesma voz.

– Se todas as coisas são sempre as mesmas, é porque são sempre heroicas. Se todas as coisas são sempre as mesmas, é porque são sempre novas. Para cada homem apenas uma alma é dada; e para cada alma é dado apenas um pouco de poder – o poder de, em alguns momentos, superar e engolir as estrelas. Se era após era este poder vem para os homens, seja o que for que tal poder fornece, é grande. O que faz os homens se sentirem velhos é ruim, um império ou uma loja miserável. O que faz os homens se sentirem jovens é bom, uma grande guerra ou uma história de amor. E no mais escuro dos livros de Deus está escrita uma verdade que é também um enigma. É das coisas novas que os homens se cansam – modas, propostas, melhorias e mudanças. São as coisas velhas que assustam e intoxicam. São as coisas velhas que são jovens. Não há cético que não sente que muitos duvidaram antes. Não há homem rico e volúvel que não sente que todas as suas novidades são antigas. Não há adorador da mudança que não sente sobre o pescoço o grande peso do cansaço do universo. Mas nós que fazemos as coisas antigas somos alimentados pela natureza com uma infância perpétua. Nenhum homem que está apaixonado pensa que qualquer um tenha se apaixonado antes. Nenhuma mulher que tenha uma criança pensa que houve coisas como crianças. Não há pessoas que lutam por sua própria cidade que sejam assombradas com o fardo dos impérios quebrados. Sim, ó voz escura, o mundo é sempre o mesmo, pois é sempre inesperado.

Uma pequena rajada de vento soprou a noite, e então a primeira voz respondeu:

– Mas neste mundo há alguns, sejam sábios ou tolos, a que nada intoxica. Há alguns que veem todos os seus distúrbios como uma nuvem de moscas. Eles sabem que enquanto os homens riem de sua Notting Hill, e estudam, escrevem ensaios e cantam sobre Atenas e Jerusalém, Atenas e Jerusalém foram apenas subúrbios tolos como Notting Hill. Eles sabem que a própria Terra é um subúrbio, e sentem-se apenas monótona e respeitavelmente entretidos enquanto movem-se sobre ela.

– São filósofos ou são tolos – disse a outra voz. – Não são homens. Homens vivem, como disse, regozijando-se de geração em geração com algo mais fresco do que o progresso: no fato de que de a cada bebê ser feito um novo sol e uma nova lua. Se nossa antiga humanidade fosse um único homem, talvez não aguentaria a memória de tantas lealdades, o peso de tantos diversos heroísmos, a carga e o terror de toda a bondade dos homens. Mas aprouve a Deus isolar a alma individual que só pode aprender de todas as outras almas por ouvir dizer, e a cada um a bondade e a felicidade vem com a juventude e a violência de um raio, tão momentânea e tão pura. E a desgraça da falha que se encontra em todos os sistemas humanos não os afeta realmente, não mais do que os vermes da sepultura inevitável afetam um jogo infantil em um prado. Notting Hill caiu; Notting Hill morreu. Mas isso não é um problema tremendo. Notting Hill viveu.

– Mas – respondeu a outra voz – se o que é conseguido através de todos estes esforços é apenas o contentamento comum da humanidade, por que os homens tão extravagantemente trabalham e morrem? Nada foi feito por Notting Hill que qualquer aglomeração de agricultores ou clã de selvagens não teria feito? O que poderia ter acontecido com Notting Hill se o mundo tivesse sido diferente pode ser uma questão profunda, mas há uma mais profunda. O que poderia ter acontecido ao mundo se Notting Hill não tivesse existido?

A outra voz respondeu:

– O mesmo que teria acontecido com o mundo e todos os sistemas estrelados se uma macieira tivesse seis maçãs em vez de sete; algo teria sido eternamente perdido. Nunca houve nada no mundo absolutamente como Notting Hill. Nunca haverá algo parecido com ela até o final do destino. Não posso acreditar em nada, mas que Deus a amou como Ele deve amar tudo o que é próprio e insubstituível. Mas mesmo isso não me importa. Se Deus, com todo os seus trovões, a odiava, eu a adorei.

E com a voz uma figura alta e estranha levantou-se para fora dos detritos na penumbra.

A outra voz veio depois de uma longa pausa, como se fosse rouca:

– Mas suponha que toda a questão fosse realmente um hocus-pocus. Suponha que qualquer significado que você pode atribuir a sua fantasia, o real significado de tudo era uma zombaria. Suponha que tudo era loucura. Suponha…

– Eu estava lá – respondeu a voz da figura alta e estranha – e sei que não era.

A figura menor parecia meio que levantar no escuro.

– Suponha que sou Deus – disse a voz – , e suponha que fiz o mundo em ociosidade. Suponha que as estrelas, que você considera eternas, são somente os fogos de artifício idiotas de uma criança perpétua. Suponha que o sol e a lua, que você louva alternadamente, são apenas os dois olhos de um vasto e sarcástico gigante, abertos alternadamente num piscar de olhos que nunca termina. Suponha que as árvores, aos meus olhos, são tão tolas quanto enormes cogumelos. Suponha que Sócrates e Carlos Magno são para mim apenas animais engraçados caminhando sobre as patas traseiras. Suponha que sou Deus, e tendo feito coisas, rio delas.

– E suponha que eu sou um homem – respondeu o outro. – E suponha que lhe dou a resposta que destrói até mesmo uma risada. Suponha que eu não ria em resposta, não blasfeme, não te amaldiçoe. Mas suponha que, levantando-me reto sob o céu, com todo o poder do meu ser, agradeça por este paraíso de tolos que fizeste. Suponha que eu te louve, com uma literal dor de êxtase, pela brincadeira que me trouxe tão terrível alegria. Se tivemos jogos de criança, e dado-lhes a seriedade de uma Cruzada, se encharcamos seu grotesco jardim holandês com o sangue dos mártires, transformamos um berçário em um templo. Pergunto-lhe, em nome dos Céus, quem vence?

O céu perto das cristas das colinas e árvores estava começando a mudar do preto ao cinza, com uma sugestão aleatória da manhã. A pequena figura parecia rastejar em direção a maior, e a voz estava mais humana:

– Mas suponha, amigo, suponha que, em um sentido mais amargo e mais real, tudo era uma farsa. Suponha que tinha havido, desde o início dessas grandes guerras, um que observava com um sentimento que está além da expressão, um sentimento de desapego, de responsabilidade, de ironia, de agonia. Suponha que havia alguém que sabia que era tudo uma brincadeira.

A figura alta respondeu:

– Ele não podia saber. Pois tudo não era uma brincadeira.

E uma rajada de vento soprou para longe algumas nuvens que selavam a linha do horizonte, e mostrou uma faixa prateada por trás de suas grandes pernas escuras. Em seguida, a outra voz veio, tendo rastejado ainda mais perto.

– Adam Wayne, há homens que confessam apenas no articulo mortis (momento da morte), há pessoas que se culpam somente quando já não podem ajudar os outros. Eu sou um destes. Aqui, sobre o campo do final sangrento de tudo, venho dizer-lhe claramente o que você nunca iria entender antes. Sabe quem eu sou?

– Eu conheço você, Auberon Quin – respondeu a alta figura – , e estarei feliz em aliviar seu espírito de qualquer fardo que tenha.

– Adam Wayne – disse a outra voz – , o que tenho que dizer, você não pode, em comum razão, ter prazer de me aliviar. Wayne, era tudo uma brincadeira. Quando fiz estas cidades, não me importava mais com elas do que me importo com um centauro ou um tritão, ou um peixe com pernas, ou um porco com penas, ou qualquer outro absurdo. Quando falei solenemente e encorajadoramente sobre a bandeira de sua liberdade e a paz de sua cidade, estava fazendo uma brincadeira vulgar com um cavalheiro honesto, uma brincadeira vulgar que durou 20 anos. Embora ninguém possa acreditar em mim, talvez, a verdade é que sou um homem um tanto tímido e de bom coração. Nunca ousei nos primeiros dias de sua esperança, ou nos dias centrais da sua supremacia, te contar isso; nunca me atrevi a quebrar a calma colossal do seu rosto. Só deus sabe porque deveria fazê-lo agora, quando minha farsa acabou em tragédia e à ruína de todas as pessoas! Mas digo agora. Wayne, tudo foi feito como uma brincadeira.

Houve um silêncio, e a brisa soprando refrescante deixou o céu mais claro, deixando grandes espaços na branca madrugada.

Finalmente Wayne disse, muito lentamente:

– Fez tudo isto apenas como uma piada?

– Sim – disse Quin, brevemente.

– Quando concebeu a ideia – continuou Wayne, sonhador – de um exército para Bayswater e uma bandeira para Notting Hill, não havia brilho, nenhuma sugestão em sua mente que essas coisas podiam ser reais e apaixonantes?

– Não – respondeu Auberon, virando o rosto branco e redondo para a manhã com uma maçante e esplêndida sinceridade. – Não tinha ideia nenhuma disso.

Wayne desceu e estendeu a mão.

– Não vou parar de agradecê-lo – disse com uma curiosa alegria em sua voz – pelo grande bem ao mundo que você trouxe. Tudo o que penso que lhe disse há pouco, mesmo quando pensei que a sua voz era a voz de uma irônica onipotência, é riso mais velho do que os ventos do céu. Mas deixe-me dizer o que é imediato e verdadeiro. Você e eu, Auberon Quin, durante toda a nossa vida fomos de novo e de novo chamados de loucos. E nós somos loucos. Somos loucos, porque não somos dois homens, mas um homem. Somos loucos, porque somos dois lóbulos do mesmo cérebro, e cujo o cérebro foi partido em dois. E se você pedir a prova disso, não é difícil de encontrar. Não é apenas que você, o humorista, tenha, nestes dias sombrios, sido despojado da alegria da gravidade. Não é apenas que eu, o fanático, tive que tatear sem humor. É que, embora parecemos ser opostos em tudo, temos sido opostos como homem e mulher, visando ao mesmo tempo a mesma coisa prática. Nós somos o pai e a mãe da Carta das Cidades.

Quin olhou para os restos de folhas e madeira, as relíquias da batalha e do tumulto, agora brilhando à luz do dia em crescimento, e finalmente disse:

– No entanto, nada pode alterar o antagonismo, o fato de que eu ri dessas coisas e você as adorava.

O rosto selvagem de Wayne ficou inflamado como de deus, enquanto virava-se para ser atingido pelo nascer do sol.

– Sei de algo que vai alterar esse antagonismo, algo que está fora de nós, algo que você e eu em todas as nossas vidas, talvez levamos muito pouco em conta. O igual e eterno ser humano irá alterar esse antagonismo, pois o ser humano não vê antagonismo real entre riso e respeito, o ser humano, o homem comum, que meros gênios como eu e você só podemos adorar como um deus. Quando os dias escuros e tristes vêm, você e eu somos necessários, o fanático puro, o humorista puro. Entre nós sanamos um grande erro. Levantamos as cidades modernas para a poesia que todo aquele que conhece a humanidade sabe que é infinitamente mais comum do que o comum. Mas, em pessoas saudáveis, não há guerra entre nós. Nós somos apenas os dois lóbulos do cérebro de um lavrador. O riso e o amor estão em toda parte. As catedrais, construídas nas eras que amavam a Deus, estão cheias de blasfemas grotescas. A mãe ri continuamente para a criança, o amante ri continuamente à amante, a esposa ao marido, o amigo ao amigo. Auberon Quin, estamos a muito separados, vamos embora juntos. Você tem uma alabarda e eu uma espada, vamos começar nossas andanças pelo mundo inteiro. Pois somos seus dois fundamentos. Venha, já é dia.

Na luz branca, Auberon hesitou por um momento. Então fez a saudação formal com sua alabarda, e foram embora juntos para o mundo desconhecido.

FIM
Yaş sınırı:
12+
Litres'teki yayın tarihi:
22 ekim 2017
Hacim:
200 s. 1 illüstrasyon
Telif hakkı:
Public Domain