Kitabı oku: «Levada pelos seus parceiros», sayfa 2

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A Guardiã Egara franziu a testa. — De quem?

— Do meu parceiro?

Ela hesitou, como se fosse divulgar segredos de estado, depois, encolheu os ombros. — Príncipe Nial. O filho mais velho do Prime.

Eu ri, porque se eu tivesse saído da Terra teria me tornado verdadeiramente numa princesa. Emparelhada com um príncipe alienígena, em vestidos de baile e sapatos ridículos, com os meus longos cabelos loiros domados não por um rabo de cavalo normal, mas por presilhas decoradas com joias e tranças elaboradas mais adequadas ao meu status real. Céus, eu teria que usar rímel e batom, visto que a minha tez pálida não era tão bonita com a cara limpa.

Uma princesa? De modo algum. Talvez esse tenha sido o motivo de eu ter sido rejeitada. Eu não era de modo e forma alguma uma Cinderela.

— Creio que tenha sido melhor assim, Guardiã. Eu não sou o tipo de garota que sirva para princesa. — Eu era mais hábil com uma adaga do que com um palavreado polido de político, era mais apta com uma espingarda do que na pista de dança. E isso, tristemente, era a simples constatação dos fatos. Quem quer que fosse esse tal Príncipe Nial, ele tinha se safado e bem.

De mim.

Talvez esse príncipe ficasse muito melhor sem mim. Aquilo não significava que lá no fundo, onde as emoções daquela outra mulher na cerimônia de reivindicação se mantinham, no sonho onde, há alguns momentos, eu sabia o que era ser desejada, amada, fodida e tomada pelos parceiros dela, não significava que isso tudo não doía.


Príncipe Nial de Prillon Prime, a bordo da Nave de Combate de Deston

Enquanto eu ia até a tela de visualização para falar com o meu pai, sentia-me dormente. Eu me sentia como se o meu corpo não pesasse quase nada, não mais do que uma criança. Era mais fácil lidar com o meu pai se eu não apresentasse nenhuma emoção.

Os implantes que os ciborgues injetaram no meu corpo durante o meu tempo numa Câmara de Integração da Colmeia eram microscópicos e impossíveis de remover sem me matar. Portanto, eu era considerado contaminado, um perigo para os homens sob o meu comando e para as pessoas do meu planeta. Eu devia ser tratado como um charlatão altamente perigoso. Pelo menos isso era o que todo mundo pensava. Os guerreiros que eram contaminados pela tecnologia da Colmeia normalmente eram banidos para as colônias para viver o resto das suas vidas fazendo trabalhos árduos. Eles não tomavam noivas. E não se tornavam Primes dos mundos gêmeos de Prillon.

O meu direito de nascimento, como herdeiro do Prime e príncipe do meu povo, tinha me impedido de ser banido imediatamente para as colônias, mas havia uma coisa com a qual eu me preocupava mais do que isso e não era a pessoa que preenchia a tela perante mim.

Eu observei cuidadosamente a expressão vazia do homem que tinha o dobro da minha idade. Ele era bastante parecido comigo, só que mais velho e sem implantes de ciborgues. Ele era enorme, com um rosto feroz e uma armadura feita sob medida e concebida para fazê-lo parecer ainda maior do que o seu porte corpulento de dois metros. Ele era o Prime de dois planetas de guerreiros enormes. Ele tinha de ser forte. Uma pitada de fraqueza e os seus inimigos o derrubavam.

Neste momento, eu era a sua fraqueza. Eu era o filho charlatão que tinha se transformado numa ameaça ciborgue perigosa.

— Pai. — Inclinei a minha cabeça ligeiramente, cumprimentando-o, apesar da raiva que percorria o meu corpo. Ele podia ser o meu progenitor biologicamente, mas não era um pai para mim.

— Nial, eu falei com o Comandante Deston. Preenchi uma ordem formal para que seja transferido para as colônias.

Rangi os meus dentes para conter a minha resposta imediata. Tudo isso graças ao fato de estar dormente. Portanto, o meu status como herdeiro legítimo ao trono não me impediria totalmente de ser banido. Ele não se importava minimamente com o fato de eu ser seu filho. Eu estava danificado, destruído pela Colmeia e não era digno de ser um líder. De ser o filho dele.

Alguém lhe passou um tablet e ele leu atentamente o seu conteúdo enquanto falava comigo, não se importando em olhar para cima. — Vou partir para a frente dentro de alguns dias para visitar os nossos guerreiros e avaliar as condições de várias naves de combate antigas. Espero que a tua transferência tenha sido concluída até o meu retorno.

Inspirei fundo e tentei manter o meu tom de voz tão neutro e benigno quanto o dele. — Compreendo. E a minha noiva? Ela deveria chegar pelo transporte há três dias.

— Você não tinha o direito de solicitar uma noiva. Eu tinha um acordo com o Governador Harbart. Você deveria tomar a filha dele como parceira.

Não pude evitar a forma como as minhas mãos agarraram a cadeira que estava diante de mim.

— Harbart era um covarde idiota que planejava me matar e a noiva do Comandante Deston. Por que eu tomaria a filha dele?

O Prime ergueu uma sobrancelha e chegou mesmo a olhar para mim, como se estivesse confuso. — Essa pergunta agora é irrelevante tendo em conta que você é… inadequado para tomar uma parceira. Não vai tomar ninguém. O transporte da tua noiva da Terra foi negado, como é óbvio. Não é permitido a nenhum guerreiro contaminado a honra de ter uma noiva. Você sabe disso. A esta altura, ela provavelmente já foi emparelhada com outro guerreiro que não esteja…

A voz dele falseou e ele inclinou a sua cabeça, estudando-me. Deixei que ele me observasse. Se ele fosse um pai de verdade, olharia para além das modificações ciborgue da Colmeia e veria que eu ainda era a mesma pessoa, ainda era o seu filho. Ainda era o príncipe.

— Que não esteja o quê?

Aquela era a primeira vez que ele me via desde o meu resgate da Colmeia. Com os braços cruzados, deixei que ele observasse o brilho metálico ligeiro na pele do lado esquerdo do meu rosto, a coloração prateada estranha da íris do meu olho esquerdo de agora, que antes era de um dourado escuro. Eu tinha deixado os meus antebraços despidos propositalmente para que ele pudesse ver a folha fina de biotecnologia que tinha sido transplantada em metade do meu braço e parte da minha mão esquerda. Eu queria que ele visse tudo, e que ainda assim visse a mim.

Os olhos dele pairavam no meu braço. — Os implantes e os transplantes de pele metálicos não podem ser removidos?

A minha esperança ridícula morreu com aquela única pergunta. Eu pensei que talvez nada daquilo importasse, mas não. Ele só via aquilo que a Colmeia tinha feito, não o seu filho.

— O Dr. Mordin disse que os transplantes são permanentes. Eles teriam que retirar todo o meu braço para retirá-los.

— Entendo.

— Será que entende mesmo, pai? O que você vê? — Ele não tinha visto os outros transplantes da Colmeia que cobriam metade do meu ombro esquerdo, a maior parte da minha perna esquerda e parte das minhas costas. Eu conseguia ver pela frieza nos seus olhos que o que ele tinha visto já era o suficiente.

O meu pai, o homem que eu nunca amei, mas que respeitei e passei toda a minha vida tentando agradar, balançou a cabeça.

— Eu vejo um guerreiro que já foi o meu filho. — Ele inclinou-se para trás na sua cadeira, e o olhar nos seus olhos tornou-se ainda mais frio. — Você será retirado da lista de herdeiros e transferido para as colônias. Peço desculpa, filho.

— Filho? Filho? Ousa me chamar de filho na mesma frase em que me bane para as colônias? — Ergui o meu tom de voz. Não adiantava nada permanecer calmo. Não ganhava nada com isso.

Ele inclinou-se para frente para cortar a nossa ligação, mas a minha próxima pergunta impediu-o. — E quem será o teu herdeiro?

— Você tem vários primos distantes, Nial. Talvez o Comandante Deston nos dê um herdeiro com a sua nova noiva. Caso contrário, tenho certeza de que as pessoas receberiam bem os costumes antigos novamente.

Os costumes antigos…

— Uma disputa até a morte? — Ele preferia ver guerreiros bons e fortes lutando até a morte pelo direito de ser Prime do que ponderar no seu próprio filho? Simplesmente por esse filho ter alguns transplantes biotecnológicos da Colmeia na sua pele?

— Que viva o guerreiro mais forte.

Se eu conseguisse atravessar a tela e pudesse dar um soco na cara dele, eu o teria feito. — Prefere ver os nossos melhores guerreiros morrer?

Eu pensava que o homem era desinteressado. Sem sentimentos, pelo menos no que dizia respeito a mim. Percebi que isso se estendia a todo mundo. Ele preferia ver homens fortes lutando desnecessariamente, morrendo desnecessariamente, tudo porque ele era… Um. Maldito. Homem cruel.

— Não há um herdeiro. Esta é a nossa maneira de fazer as coisas.

Há mais de duzentos anos que não havia uma Disputa até a Morte, desde que o nosso antecessor venceu uma e tomou posse do trono. — Eu sou forte, pai, a minha mente está intacta. Não é necessário sacrificar os nossos guerreiros mais fortes…

Eu tinha que, no mínimo, apelar ao homem para que poupasse a vida dos outros. Os nossos guerreiros mais fortes se levantariam para tentar tomar posse, e morreriam, desnecessariamente, quando deveriam estar nas fronteiras, lutando contra a Colmeia.

— Você está contaminado.

— Eu tenho conhecimentos acerca dos sistemas da Colmeia, acerca das estratégias deles. Seria tolo da tua parte banir-me para as colônias. Eu deveria estar com os grupos de combate nas fronteiras, onde eu posso…

Ele cortou-me a fala novamente: — Você não é ninguém, é um contaminado. Colmeia. Estás morto para mim.

Eu teria continuado a discutir, mas a comunicação foi cortada do lado dele.

Idiota. Há anos que eu, todos os dias, fiquei balançado, como um pêndulo, entre a necessidade de impressionar aquele idiota e a vontade de o matar.

— Eu deveria tê-lo matado. — murmurei para mim mesmo.

Olhei para a tela vazia durante vários minutos. Eu tinha sido descartado, e sabia que nunca mais falaria com o meu pai. Eu não me sentia triste. Não mais. Talvez o fato de os ciborgues me terem colocado implantes até tenha tido alguma coisa boa. Eu sabia em que pé estava com o meu pai e ele não merecia nem mais um minuto do meu tempo ou dos meus pensamentos.

Não. O pensamento que rodopiava minha mente num temporal crescente angustiava-me muito mais. Ele tinha rejeitado a minha noiva. A minha parceira. Uma fêmea lindíssima da Terra como Hannah Johnson, do Comandante Deston. As minhas esperanças se tinham elevado relativamente àquele emparelhamento, eu esperava por uma fêmea com curvas e suave daquele planeta. Hannah era pequena, mas tão forte e tão apaixonada pelos seus parceiros, pelos dois, que ela tinha implorado para que eles a tomassem na cerimônia de reivindicação.

Os meus implantes da Colmeia tinham me dado uma vantagem naquele dia, um segredo que eu não tinha partilhado com ninguém. Eu tinha a gravação completa da cerimônia deles no meu sistema. Eu repassava-a várias vezes na minha mente, vendo vezes e vezes sem conta a forma como a mulher humana gostava de ser tocada, a forma como ela arqueava as suas costas, os sons que ela fazia enquanto os seus parceiros a beijavam, tocavam e fodiam. Eu desejei aquilo para mim. Eu quis tanto uma parceira assim que repassei aquela gravação até ela ficar gravada na minha alma. Apreendida. Até eu ter memorizado cada pedacinho da foda cerimonial deles.

Eu faria a minha parceira gritar, como eles tinham feito. Eu a faria estremecer e implorar para que o meu pau a preenchesse.

Testemunhar a cerimônia foi uma honra que não me foi negada pelo meu primo, o Comandante Deston. Eu tinha visto a forma como tanto ele, quanto o seu segundo, Dare, foderam Hannah, como se fossem dois homens selvagens. A sua noiva humana amou o cuidado deles, implorou por mais, olhou para os seus guerreiros como se eles fossem o ar que ela respira, o bater do seu coração.

Lembrei-me da outra cerimônia que testemunhei, esta durante o exame do centro de processamento. Foi o sonho que me emparelhou com a minha parceira. Os homens desse sonho tinham sido exigentes, dominadores e devotos. Visto que a minha parceira tinha sido emparelhada comigo através do mesmo sonho, eu sabia o que ela precisaria que eu fizesse. E que o meu segundo fizesse.

Eu queria aquele tipo de ligação que tinha visto em ambas as cerimônias, e eu a teria.

Eu tinha uma parceira emparelhada comigo. Uma mulher que tinha passado pelo processamento e tinha sido emparelhada comigo. Que tinha sido emparelhada naquela maldita cerimônia excitante de emparelhamento. O emparelhamento do Programa Interestelar de Noivas era quase cem por cento perfeito. Aquilo não deixava dúvidas quanto ao fato de aquela mulher ser a certa para mim. Eu não tinha um segundo, nem um trono e nem um futuro, mas nada daquilo importava. A única coisa – a única pessoa – que importava para mim era essa mulher na Terra, que era a minha parceira. O meu pai lhe tinha negado o transporte. Aquilo não anulava o emparelhamento, a ligação que partilhávamos. O que só me fazia desejá-la ainda mais. Eu não seria impedido de possuí-la. Tinha que me perguntar sobre o que ela pensou sobre mim quando foi rejeitada. A dor deve ter sido semelhante à raiva que ardia dentro de mim ao ouvir sobre a intromissão do meu pai.

Eu não lhe negaria o direito a ter um parceiro, a ter o parceiro que foi emparelhado com ela, só por causa do idiota do meu pai. Ela não seria uma vítima das manobras dele.

Ela era inocente.

Ela era minha.

Se o centro de processamento não iria permitir o transporte, eu teria simplesmente de ir até a Terra e tomá-la.

3


Príncipe Nial, Nave de Combate Deston, Sala de Transporte

Caminhei pelos corredores da nave de combate como se fosse um monstro. Guerreiros experientes desviavam o olhar, incapazes de suportar olhar para a minha pele prateada. Eu duvidava que fosse por minha causa, mas pelo que poderia acontecer com eles. Eu não me importava. Dentro de algumas horas eu estaria na Terra, com a minha noiva nos meus braços. Esta era uma missão que não iria falhar.

Assim que a minha parceira estivesse em segurança, eu encontraria um guerreiro que estivesse disposto a partilhá-la comigo, nomearia um segundo parceiro para protegê-la, depois, pensaria numa forma de reivindicar o meu trono. Enquanto eu caminhava, a raiva se acumulava dentro de mim. O meu pai era um tolo, e eu tinha passado vários anos seguindo cegamente as suas ordens. Agora, estava na hora de tomar o trono dele, até mesmo à força se fosse necessário. As táticas dele na guerra contra a Colmeia eram ineficazes e fracas e eu era a prova disso. Se não fosse pela liderança excepcional da frota de combate por parte do Comandante Deston, nós já estaríamos perdidos.

A sala de transporte estava quase cheia. O Comandante Deston, sua parceira Hannah e o seu segundo, Dare, estavam ao pé da plataforma de transporte. Vi dois guerreiros que eu não reconheci trabalhando na estação de controle, inserindo coordenadas para a minha transferência até o centro de processamento da Terra, onde há alguns dias a minha parceira tinha sido rejeitada. Rejeitada! A minha raiva só aumentava ao pensar na forma como ela foi rejeitada.

Dois guerreiros enormes estavam diante da porta guardando-a. Ao vê-los, eu apercebi-me do quanto o meu primo se arriscava por mim. Nem todos a bordo da nave estavam contentes por saber que um guerreiro contaminado caminhava entre eles, quer ele fosse um príncipe ou não.

— Comandante. — Eu agarrei o antebraço do meu primo numa saudação antiga, incapaz de expressar por palavras o que esta oportunidade significava para mim. Ao enviar-me para a Terra para procurar por minha noiva, ele estava desafiando tanto o meu pai, quanto todo o conselho planetário. Mostrava que ele tinha pouca consideração pelo meu pai e uma enorme confiança no sistema de emparelhamento.

Eu olhei para Hannah, que estava ao seu lado. Tão pequena e tão frágil em comparação com os seus dois parceiros, e, no entanto, era forte e poderosa. Ela era verdadeiramente a mais forte na ligação deles. Eu olhei para os colares combinados que usavam e invejei a ligação deles.

Eu também teria aquela ligação. Em breve. Eu só tinha que chegar à Terra, encontrá-la e trazê-la para casa.

— Faça boa viagem, Nial. — disse Deston. — Assim que te transportarmos, o teu pai certamente fechará as estações de transporte e, muito provavelmente, enviará caçadores de prêmios à tua procura.

— Eu não tenho medo do meu pai.

O Comandante Deston acenou com um respeito profundo que eu antes não tinha visto nele. Eu antes era um garoto mimado. Agora eu o sabia e não tinha vergonha de admitir. Eu era um príncipe mimado que queria brincar nas guerras, mas que não compreendia totalmente o preço dela. Eu já não era aquele homem. Deixei o comandante e curvei-me perante a sua noiva. — Dama Deston.

— Boa sorte. — Ela inclinou-se para frente nas pontas dos pés e deu-me um beijo na bochecha, na minha bochecha esquerda. Aquela atitude convenceu-me ainda mais do que tudo de que uma noiva da Terra era a minha única chance de encontrar uma fêmea que me aceitaria como eu sou agora.

O seu segundo parceiro, Dare, olhou-me e eu invejei aquele brilhozinho prateado nos seus olhos. Ele também tinha sido capturado. Mas sendo o herdeiro do Prime, eles priorizaram-me na Colmeia e começaram o seu trabalho em mim. Dare tinha escapado à tecnologia deles com apenas um pouco de prateado num dos olhos, algo que apenas aqueles que eram próximos a ele sabiam.

Dare estendeu-me o seu braço, e eu tomei-o. — Como vai proteger a tua parceira sem um segundo? — Ele continuou agarrado a mim, mesmo eu já o tendo largado. — Devia escolher um segundo, Nial. Leve-o contigo.

— Eu sou um forasteiro, um contaminado. — Neguei com a cabeça. — Não poderia pedir isso a nenhum guerreiro. Ainda não.

Ainda assim, Dare continuou agarrado a mim. — Pedir o quê? Para proteger e cuidar de uma noiva linda? Para partilhar o corpo dela e fodê-la até ela gritar enquanto goza? — Ele sorriu e viu Hannah corar. — Confia em mim, Nial, ser um segundo parceiro não é nenhum sofrimento.

Eu sabia que o que ele dizia era verdade ao ver a sua – deles, na verdade – cerimônia de emparelhamento na minha mente.

Talvez o que ele dizia fosse verdade, mas eu era um contaminado que estava prestes a infringir as leis Prillon e viajar para um planeta restrito. Eu tinha sido emparelhado com uma noiva que não me conhecia e que, muito provavelmente, sairia correndo e gritando ao avistar pela primeira vez as minhas feições arruinadas. Eu não conseguia pedir a nenhum guerreiro para que se juntasse a mim dadas as circunstâncias.

Sem responder, fiz com que Dare me soltasse e entrei na plataforma de transporte e vi a Dama Deston lançar-me um sorriso malandro, olhando para mim com os seus olhos escuros invulgares. O cabelo negro dela se destacava entre a raça dourada de Prillon Prime como uma estrela na escuridão do espaço. — Você estará nu quando chegar lá, sabia?

— Sim. — Assenti. Sem roupas, sem armas. Sim, eu conhecia o protocolo Prillon, sabia como nossos transportes estavam programados para funcionar. Nenhuma roupa ou armas passariam pelo transporte de longa distância. A espera por uma noiva nua e ávida era um dos eventos mais aguardados em toda a Aliança Interestelar. Eu tinha que me perguntar quanto ao que as pessoas do centro de processamento da Terra pensariam quando vissem um homem nu – não, um homem meio ciborgue nu – aparecer ali.

— Você também é meio metro mais alto do que a maioria dos homens da Terra. Vai se sobressair como um varapau.

— Eu não sei o que significa essa expressão, mas tenho que presumir que serei uma curiosidade somente pela minha altura, e não por isto. — Apontei para a lateral do meu rosto.

Hannah enrugou os lábios e acenou.

— Que assim seja.

Franzi a testa devido ao atraso, e lancei uma olhadela sombria ao guerreiro por trás dos controles para que prosseguisse. O guerreiro nos controles acenou para mim reconhecendo a minha ordem silenciosa.

— Esperem.

Uma voz profunda fez com que todos nós virássemos. Um dos guardas à porta caminhou na minha direção.

O nome dele era Ander e ele tinha sido um dos guerreiros que tinha me resgatado e a Dare da Colmeia. Ele era ainda maior do que eu, com ombros largos e uma cicatriz enorme que atravessava toda a lateral direita do seu rosto. Aquela marca era um sinal da sua ferocidade enquanto guerreiro, era o sinal do preço que ele tinha pago ao lutar pelo nosso regresso.

A minha cor era de um dourado claro, comum entre o nosso povo. A de Ander era mais escura, os olhos dele eram de um tom de aço enferrujado, e o seu cabelo e a sua pele de uma tonalidade mais escura, mais para o castanho e era mais comum nas famílias mais antigas. Eu já o conhecia, mesmo antes do nosso resgate. Ele era bastante temido e respeitado na nave de combate, e era um dos guerreiros de elite do Comandante Deston. Eu devia-lhe a minha vida. E Dare também. A sua presença na sala de transporte mostrava que o comandante e o seu segundo confiavam nele como pertencendo ao círculo mais íntimo e mais fiel de guerreiros, como uma pessoa de confiança.

Olhei-o nos olhos, de forma rigorosa, de um forasteiro marcado para outro. Observei-o, curioso, enquanto ele colocava de lado as suas armas e caminhava para se colocar diante de mim. — Ofereço-me como teu segundo.

Ander era um filho da mãe horrível e muitos anos mais velho do que eu, mas era feroz no campo de batalha. Eu não podia pedir por um guerreiro melhor para me ajudar a encontrar e a proteger a minha noiva. Ele tinha se mostrado leal para comigo, para Dare, e para o comandante durante muitos anos de combate. Eu não o conhecia muito bem, mas sabia o suficiente. Ele era digno de uma noiva. Céus, talvez fosse até mais digno do que eu.

Pensei na cerimônia de acasalamento que tinha servido como base para o meu emparelhamento, pensei naquele que tinha um segundo dominador que tinha fodido o traseiro da sua parceira com uma precisão prazerosa e hábil. Sabendo das necessidades da minha parceira só por aquele sonho, eu sabia que Ander serviria. Ele serviria bastante bem.

Virei-me para o comandante, visto que eu não levaria um dos seus melhores guerreiros sem a sua permissão. O meu antigo eu, o príncipe mimado que pensava que tudo lhe era devido, teria levado o guerreiro e não teria pensado minimamente nas responsabilidades daquele homem para com aqueles que estavam na nave, para com aqueles que estavam sob o seu comando, aqueles a quem ele protegia.

Ander também se virou para o comandante. O comandante estava de pé, com o seu braço em volta da cintura curva da sua parceira, com um raro sorriso no rosto. — Vão. Que os deuses os protejam.

A Dama Deston repousou a sua cabeça no ombro dele, o sorriso dela era genuíno. — Tentem não matar muitos idiotas. E tentem não a matar de susto. — Ela estendeu a sua mão e Dare colocou três colares pretos na palma da sua mão. Ela voltou-se para mim. — Penso que venham a precisar disto.

Neguei com a cabeça. — Temo, minha senhora, que eles não sobrevivam ao transporte. E que também não funcionem bem fora do alcance da nave.

— Oh. Então, eles ficarão aqui para quando vocês voltarem. — A mão dela caiu sobre a de Dare e ela agarrou-se aos seus dois parceiros, claramente triste enquanto nos observava um ao lado do outro no bloco de transporte. — Boa sorte. Vocês vão fazê-la surtar. Tentem ser pacientes.

Acenei enquanto me preparava para a torção dolorosa do transporte de longa distância, com Ander diretamente atrás de mim. Senti o pico de energia fluir pelas minhas células, o que significava que o protocolo de transporte tinha começado. Eu não entendi aquela frase, fazê-la surtar. E também não precisava ser paciente. Essa mulher da Terra, ela era a minha parceira. Nós tínhamos sido emparelhados. Ela ia conhecer a ligação tão bem quanto eu. Ela poderia perguntar-se quanto a Ander, mas eu tinha o escolhido como meu segundo, ela não tinha que me questionar. Eu sou o parceiro dela. Não há motivo algum para desperdiçarmos o nosso tempo cortejando a nossa nova noiva com rostos agradáveis ou palavras mansas.

Eu sou o parceiro dela!

Eu planejava simplesmente tomá-la. E se a minha noiva tivesse medo? E se ela protestasse contra o emparelhamento? Não importaria. Ela é minha e eu não desistirei dela. Eu vou conquistá-la, quer leve uma semana ou um ano, mas ela vai ceder.


Jessica, Terra

Agachei-me no telhado, mirando os policiais da Agência de Combate às Drogas através das longas lentes da câmera que estava escondida na minha mochila. O meu alvo estava sentado sob um guarda-sol, um de entre sete mesas num Café com jardim privado no coração da cidade. Eu estava vestida com a minha roupa de reconhecimento habitual, camisa preta e calça.

Os policiais eram convidados do cartel, a presença deles era a prova da natureza suspeita deles e a prova de que eles faziam parte da gangue. Era a prova de que eu tinha sido incriminada. O local estava fortemente vigiado com capangas rondando o terreno, armados, e mais homens varrendo o telhado a cada hora.

O que significava que eu tinha cerca de quinze minutos para me mandar daqui ou seria apanhada.

Uma mulher ajoelhou-se no cimento entre as pernas de um dos homens, dando-lhe um boquete por debaixo da mesa enquanto ele bebericava whiskey e gozava com o seu amigo. Ele nem sequer parou de falar enquanto a mulher drogada engolia profundamente o pau dele e brincava com as bolas dele. Toda a área estava abarrotada de traficantes de drogas, ladrões e prostitutas que os serviam, as escravas deles.

Eu não tinha certeza de quem era pior, a mulher que morreu devido à overdose de droga inicial por causa da bomba-P ou os sobreviventes obrigados a fazer trabalho escravo para conseguir mais uma dose.

Eu não tinha comido uma refeição completa por dois dias, o meu corpo estava desidratado e o meu estômago estava completamente vazio, excetuando os pacotes de proteína em gel e café. Eu não precisava sobreviver. Eu não tinha casa, nem dinheiro e nem família. Até mesmo o meu parceiro alienígena, o homem perfeito para mim em todo o universo, tinha me rejeitado. Tudo o que me restava era a minha honra e a oportunidade de me certificar de que mais nenhuma mulher fosse raptada e obrigada a se meter em redes de drogas e prostituição. O método de recrutamento desse grupo era injetar mulher cativas com um cocktail de drogas – chamado P, ou bomba-P nas ruas, diminutivo para bomba para putas – concebido para tornar qualquer mulher numa vadia insana. A droga funcionava incrivelmente bem. Depois de uma dose, ou a mulher se tornava numa viciada facilmente controlável ou morria.

A mulher que estava humilhando-se ao engolir o pau daquele homem garganta abaixo estava obviamente chapada.

Observei enquanto um dos tenentes do barão da droga local deslizou um saco cheio de drogas, dinheiro e sabe lá Deus mais o que para as mãos do agente da ACD que estava do outro lado da mesa e que abriu o saco, sorriu e pegou um único comprimido – eu conseguia ver a cor rosa clara do comprimido através das minhas lentes – que estavam na mala. Colocando-a entre o seu polegar e o seu dedo indicador, ele o ofereceu à mulher que chupava o seu pau por debaixo da mesa. Ela colocou-o debaixo da língua. Quase que imediatamente ela enrijeceu, e depois, sorriu numa névoa insana enquanto abaixava a cabeça e redobrava os seus esforços para fazê-lo gozar pela goela dela.

Fiz uma careta e apertei o botão e tirei fotografia atrás de fotografia, tendo o cuidado de não me mexer. Ainda não. Eu só precisava de mais um nome, de mais um rosto. Eu já tinha denunciado três dos melhores chefes de operação do grupo. Uma nota bem colocada e algumas fotos enviadas para alguns policiais honestos era todo o necessário para vê-los atrás das grades. Agora, eu só precisava saber quem nesse grupo comandava na câmara municipal e o meu trabalho estaria concluído. Eu iria derrubar os idiotas que estavam destruindo a minha cidade ou morreria tentando.

Respirando devagar e regularmente, eu nem sequer me contraía, nem um centímetro. Estava calor por debaixo da lona cinzenta que eu utilizava como camuflagem, mas não ousava me mexer. Os reflexos mais ligeiros do sol nas lentes da minha câmera poderiam alertá-los da minha presença. Eu me sentia como se fosse uma atiradora furtiva, mas a minha arma tinha informação, não balas. Pelo menos não por agora. Quando eu estava no exército, o meu equipamento de espingarda M24 SWS era muito mais mortífero.

A minha paciência foi recompensada quando um homem que eu conhecia bem demais finalmente saiu das sombras para se sentar diante dos dois agentes de combate às drogas.

Pisquei três vezes, com dificuldades, para livrar os meus olhos das lágrimas que se acumulavam ali. Eu deveria estar surpresa.

Mas não, e isso dizia-me tudo o que eu precisava saber. Cada pedaço da minha formação como sniper valeu a pena naquele momento. Eu não desmaiei. Mantive a calma, respirei devagar e compassadamente, mesmo enquanto a minha mente corria muito rápido. Merda. Caralho! Aquele idiota de uma figa!

Movendo-me com rapidez, tirei várias fotografias antes de me retirar, guardei o meu equipamento e fui direto para a casa dele. Eu sabia exatamente onde ficava porque já tinha estado lá antes. Várias vezes. Eu armaria uma cilada e o confrontaria, gravando tudo. A cidade precisava saber quem era o idiota que estava por detrás dos homicídios em série mais recentes, mas o mundo nunca acreditaria em mim. Eu era uma criminosa condenada, uma criminosa que ele tinha incriminado. Eu precisava de uma confissão, e precisava que fosse gravada.

Duas horas mais tarde, ele voltou para a sua casa colonial de quatro quartos para dar de cara comigo, à sua espera na sua sala de jantar formal no piso principal; a arma calibre doze que ele tinha comprado há anos num espetáculo de armas estava carregada, o cano repousava sobre a cadeira de jantar de costas altas cor cereja. Eu apontei a arma para o meio do seu peito. Ele sabia que eu era boa nos meus tiros. Eu tinha competido em concursos de tiro durante os meus quatro anos no Exército, ele próprio treinou-me.

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214 s. 7 illüstrasyon
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9783985221424
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