Kitabı oku: «O Homem À Beira-Mar», sayfa 2
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O exército, apesar de toda sua rigidez e regras, ensinou a Slim a desenvoltura, e o fez mestre de uma panóplia de disfarces que ele poderia assumir à vontade. Armado com uma prancheta, um caderno em branco e uma caneta emprestada sem prazo de devolução do correio local, ele bebeu durante algumas horas fingindo ser um pesquisador de documentário de história local, batendo de porta em porta, fazendo perguntas apenas para aqueles com idade suficiente para poder saber, desviando o assunto para distrair aqueles muito jovens para saberem.
Nove ruas e nenhuma pista substancial depois, ele voltou, bêbado e exausto, para uma chamada perdida de Kay Skelton no telefone fixo de seu apartamento, seu amigo tradutor do exército, que agora trabalhava como linguista forense.
Ele ligou de volta.
"É latim," disse Kay. "Mas ainda mais arcaico do que o normal. O tipo de latim que nem mesmo as pessoas que falam latim geralmente conhecem."
Slim sentiu que Kay estava simplificando um conceito complicado que ele poderia não entender, mas continuou a explicar que as palavras eram um chamado para os mortos, um lamento para um amor perdido. Ted estava implorando por uma lembrança, uma ressurreição, um retorno.
Kay tinha procurado a transcrição on-line e descobriu se tratar de uma citação direta, tirada de uma publicação de 1935 intitulada Pensamentos abrangidos pelos mortos.
"Provavelmente seu alvo achou o livro em um sebo," afirmou Kay. "Está fora de circulação há 50 anos. Que tipo de homem quer algo assim?"
Slim não tinha resposta, porque, francamente, ele não sabia.
7
Outra semana fingindo que pesquisava trouxe Slim a outra pista. Com a menção do nome de Joanna, um sorriso veio ao rosto de uma velha senhora que se apresentara como Diane Collins, residente local. Ela acenou com o tipo de entusiasmo de alguém que não recebia um convidado há muito tempo, então convidou Slim para sentar-se em uma sala de estar clara com janelas com vista para fora sobre um gramado artesanal que se inclinava até um lago limpo e oval. A única coisa destoante era uma amora-silvestre subindo a cerca de madeira na parte traseira do jardim. Slim, cujo conhecimento de jardinagem se limitava a ocasionalmente chutar para o lado as ervas no degrau da frente de seu prédio, se perguntou se poderia ser, na verdade, um ramo de rosas sem flores.
"Eu era a professora de classe de Joanna," afirmou a senhora, com as mãos cercando uma xícara de chá fraco, que ela tinha o hábito de girar em seus dedos como se estivesse tentando afastar a artrite. "A morte dela chocou a todos na comunidade. Foi tão inesperado, e ela era tão amável. Tão brilhante, tão bonita. Quero dizer, havia alguns verdadeiros terrores naquela classe, mas Joanna, ela sempre foi tão bem comportada."
Slim ouviu pacientemente quando Diane começou um longo monólogo sobre os méritos da garota há muito falecida. Quando ele teve certeza que ela não estava olhando, ele tirou um cantil de bolso e derramou uma gota de uísque em seu chá.
"O que aconteceu no dia em que ela se afogou?" Slim perguntou, quando Diane começou a divagar em histórias de seus dias de ensino. "Ela não sabia sobre as correntes na Enseada Cramer? Quero dizer, Joanna não foi a primeira a morrer lá em baixo. Nem a última."
"Ninguém sabe o que realmente aconteceu, mas o corpo dela foi encontrado na linha da maré alta no início da manhã por alguém passeando com um cachorro. Nessa hora, é claro, já era tarde demais."
"Para salvá-la? Bem-"
"Para o casamento dela."
Slim sentou-se. "Repita?"
"Ela desapareceu na noite anterior ao seu grande dia. Eu estava lá, entre os convidados enquanto esperávamos por ela. Claro, todo mundo assumiu que ela tinha abandonado ele."
"Ted?"
A velha franziu a testa. "Quem?"
"O noivo dela? Seu nome era-"
Ela balançou a cabeça, acenando para Slim com o movimento de uma mão manchada pela idade.
"Eu não me lembro agora. Mas lembro-me do rosto dele. A foto estava no jornal. Eles nunca deveriam ter fotografado um homem com o coração partido assim. Embora, devo dizer, houveram rumores..."
"Que rumores?"
"Que ele a deixou. A família dela tinha dinheiro, a dele não."
"Mas antes do casamento?"
"É por isso que nunca fez sentido. Há maneiras melhores de deixar alguém, não há?
A maneira como Diane ergueu o rosto e olhou para ele fez Slim sentir como se ela estivesse olhando dentro de sua alma. Eu nunca matei ninguém, Slim queria dizer a ela. Eu posso ter tentado uma vez, mas nunca matei.
"Houve uma investigação?"
Diane deu de ombros. "Claro que houve, mas não deu em nada. Era o início dos anos 80. Naquela época, muitos crimes não eram resolvidos. Não tínhamos todos esses testes forenses e de DNA e tudo isso que você vê na TV agora. Perguntas foram feitas — lembro-me de ter sido entrevistada — mas sem provas, o que poderiam fazer? O caso foi descartado como um acidente infeliz. Por alguma razão boba, ela foi nadar na noite anterior ao seu casamento, saiu de onde dava pé, e se afogou.
"O que aconteceu com o noivo?"
"Ele se mudou, foi a última coisa que ouvi."
"E as famílias?"
"Ouvi dizer que a dele foi para o exterior. A dela mudou-se para o sul. Joanna era filha única. A mãe dela morreu jovem, mas o pai dela morreu no ano passado. Câncer." Diane suspirou como se este fosse o auge da tragédia.
"Sabe de mais alguém com quem eu poderia falar?"
Diane deu de ombros. "Devem haver velhos amigos por aí. Eu não saberia. Mas cuidado. Não se fala sobre isso."
"Por que não?"
A velha senhora colocou seu chá em uma mesa de café coberta de vidro com borboletas tropicais sob sua superfície prensada.
"Carnwell costumava ser muito menor do que é hoje," disse ela. "Hoje em dia se tornou uma espécie de cidade dormitório. Você pode caminhar até as lojas agora sem ver um único rosto familiar. Nunca foi assim. Todo mundo conhecia todo mundo, e como toda comunidade unida, tínhamos bagagem, negócios que preferimos que fiquem em segredo."
"O que poderia ser tão ruim?"
A velha virou-se para olhar pela janela, e no perfil Slim podia ver seu lábio trêmulo.
"Há aqueles que acreditam que Joanna Bramwell ainda está conosco. Que ela... ainda nos assombra."
Slim desejou ter colocado uma dose mais forte de uísque em seu chá. "Eu não entendo," disse ele, forçando um sorriso falso. "Um fantasma?"
"Você está zombando de mim, senhor? Eu acho que talvez seja hora de você-"
Slim levantou-se antes dela, levantando as mãos. "Sinto muito, senhora. É que tudo isso soa incomum para mim."
A mulher olhou pela janela e murmurou algo sob sua respiração.
"Desculpe, não entendi."
O olhar em seus olhos o fez tremer. "Eu disse que você não diria isso se a tivesse visto."
Como se tivesse ficado sem bateria, Diane não diria mais nada de interesse. Slim acenou com a cabeça enquanto ela o levava de volta para a porta da frente, mas tudo o que ele conseguia pensar era na expressão nos olhos de Diane, e como ela o fez querer olhar por cima de seu ombro.
8
Debruçado sobre um prato de pizza requentada, Slim pensava sobre o que ele deveria dizer a Emma.
"Acho que meu marido está tendo um caso," começava a primeira ligação gravada de Emma para o celular de Slim. "Sr. Hardy, seria possível me retornar?"
Casos eram fáceis de provar ou refutar com um pouco de espionagem e algumas fotografias; eles eram o arroz com feijão dos investigadores particulares, o tipo de trabalho fácil para pagar a hipoteca. Ele já tinha resolvido esse caso. Ted estava limpo, a menos que fosse possível ter um caso com o fantasma de uma garota afogada.
Emma se ofereceu para pagar as informações, e a conta de Slim estava no vermelho. Mas como ele poderia explicar o ritual que Ted fazia toda sexta à tarde?
Ele marcou um encontro com Kay em um café local.
"É um ritual antigo," disse Kay a ele. "Ele chama um espírito errante para voltar ao lugar que chama de lar. O seu cara está pedindo a um espírito para voltar para ele. Parte do texto bate com o manuscrito que encontrei em um arquivo online, mas outra parte foi alterada. É difícil, a gramática é um pouco incerta. Eu acho que o seu cara fez as alterações ele mesmo."
"E o que diz?"
"Ele pede que lhe seja dada uma segunda chance."
"Tem certeza disso?"
"Certeza. Mas o tom... o tom é estranho. Pode ser um erro de tradução, mas... a maneira como ele diz, é como se algo ruim fosse acontecer se ela não voltar."
Kay concordou em traduzir o ritual da semana seguinte também, para ver se havia alguma variação, mas depois disso, infelizmente, ele disse que precisaria receber por seu tempo.
Slim precisava dizer algo à Emma. As despesas, tanto reais quanto possíveis, estavam começando a aumentar. Antes, porém, ele tentou recorrer a um de seus contatos do exército, para ver se ele poderia desenterrar um pouco mais de informação.
Ben Orland trabalhou na polícia militar, antes de assumir um posto de superintendente em Londres. Se por um lado seu tom era frio o suficiente para lembrar Slim da desgraça que ele tinha trazido para sua divisão, Ben se ofereceu para fazer uma chamada em nome de Slim para um velho amigo, o chefe da força policial local de Carnwell.
O chefe de polícia, porém, não estava retornando ligações para investigadores particulares.
Slim decidiu compilar as informações que ele tinha até então para passar para Emma, e deixar por isso. Afinal, ele tinha conseguido sua comissão inicial, e se ele se deixasse cavar muito mais fundo, seria em seu próprio tempo e às suas próprias custas.
Primeiro, ele passou pela Enseada Cramer para dar um passeio, imaginando se as penínsulas poderiam inspirá-lo.
Era quinta-feira, e a praia estava deserta. Com a estrada sinuosa, esburacada, e em certas partes tão danificada que era pouco mais do que uma trilha de terra sobre pedras, não era surpreendente que a Enseada Cramer fosse impopular. No entanto, no topo da praia, ele encontrou fundações de pedra sugerindo que esta tinha desfrutado de uma popularidade muito maior em dias passados.
No planalto acima da costa, Slim encontrou pedaços de madeira deitados nas ervas, traços de tinta colorida ainda visíveis. Ele fechou os olhos e se virou, inspirando o cheiro do ar do mar e imaginando uma praia cheia de turistas, sentados em toalhas, tomando sorvetes, brincando com bolas na areia.
Quando ele abriu os olhos, algo estava de pé à distância na beira da água.
Slim olhou, mas seus olhos não eram os mesmos de antes. Ele tateou o bolso do casaco, mas tinha deixado os binóculos no carro.
A coisa ainda estava lá, uma mistura de cinza e preto em forma humana. A água refletia em suas roupas, e nos longos fios de cabelo emaranhado.
Enquanto Slim observava, a pessoa desapereceu na direção do mar.
Slim olhou por um longo tempo, espantado, e conforme os minutos passavam, ele começou a duvidar se ele realmente tinha visto alguma coisa. Apenas uma sombra, talvez, causada por uma nuvem que passou sobre a praia. Ou mesmo algo não humano, uma das focas cinzentas que povoavam esta seção da costa.
Ele tentou lembrar quantos drinques ele tinha bebido hoje. Teve a dose habitual em seu café da manhã, um copo - ou foram dois?- a do almoço, e talvez uma antes de sair?
Talvez fosse hora de pensar em maneirar. Ele jogava roleta toda vez que entrava no carro, mas ele tinha passado tanto tempo suprimindo a culpa e a vergonha de sua própria existência que ele nem percebia mais.
Ele estava contando possíveis doses nos dedos quando percebeu que a maré ainda não estava baixa. Se algo realmente estivesse lá, as trilhas estariam visíveis na areia molhada.
Slim passou por cima de uma barreira de metal enferrujado, correu pela margem rochosa e pela areia plana. Muito antes de chegar à beira da água, ele sabia que sua busca era inútil. A areia era lisa, pontuada apenas por linhas de ondulação deixadas pelo recuo da maré.
Quando voltou ao carro, ele se convencera de que a figura que o observava da costa era fruto de sua imaginação.
Afinal, o que mais poderia ser?
9
Na próxima sexta-feira, Ted repetiu seu ritual como sempre. Slim tinha considerado encontrar-se com Emma pela manhã e então trazê-la com ele para provar sua história, mas depois de uma noite perturbada por sonhos perversos de demônios marinhos e tempestades, ele mudou de ideia. Observando Ted do mesmo gramado que ele observara nas cinco semanas anteriores, ele se sentiu estranhamente redundante, como se tivesse batido forte em uma parede de tijolos e não tivesse para onde ir.
Caminhando de volta para a praia depois que Ted fora embora, ele chutou os restos rosados de uma pá de plástico e decidiu que era hora de procurar mais um pouco.
Ele imaginou que sábado e domingo fossem os dias em que a maioria das pessoas estaria em casa, então ele percorreu as ruas, batendo em portas e fazendo perguntas em seu novo disfarce familiar de documentarista falso. Poucas pessoas lhe cederiam algum tempo, e quando ele parou em três pubs de Carnwell para revisar o que havia aprendido até então, ele duvidou que estivesse no tipo de estado para fazer muito progresso.
Ele estava cambaleando ao longo de uma última rua no extremo norte da cidade quando uma sirene deu um toque rápido para anunciar um carro da polícia parando atrás dele.
Slim parou e se virou, apoiando-se em um poste de luz para recuperar o fôlego. Um policial abaixou a janela e acenou para Slim entrar.
Com cinquenta e poucos anos, o homem tinha dez anos a mais que Slim, mas parecia em forma e saudável, o tipo de homem que comia cereais e suco de laranja no café da manhã e saía para correr na hora do almoço. Slim lembrou com carinho dos dias em que vira um homem assim olhando para ele, mas já fazia alguns anos desde que ele havia derrubado e quebrado o único espelho de seu apartamento, e ele nunca olhava muito para os reflexos, para evitar má sorte.
O policial sorriu. "O que está acontecendo? Recebi três ligações hoje. O dobro da média semanal. Qual casa você está planejando roubar?"
Slim suspirou. "Acho que, se tivesse que escolher, escolheria aquela verde da Billing Street. Número seis, eu acho? Marido no trabalho e ainda tem duas Mercedes na garagem? Você pode dizer só pelo som do ar-condicionado que a casa é um tesouro. Quero dizer, quem tem ar-condicionado no noroeste da Inglaterra? Eu já estaria lá, mas não gostaria de arriscar que o alarme logo atrás da porta tivesse uma ligação direta com a polícia."
"E tem mesmo. Terry Easton é um advogado local."
"Sanguessugas."
"Você tem razão. Então, estou supondo, Sr..."
"John Hardy. Me chame de Slim. É como todos me chamam."
"Slim?"
"Não pergunte. É uma longa história..."
"Não seria apropriado. Então, suponho, Sr. Hardy, que você não está realmente interessado em mitos e lendas locais. O que você é, agente à paisana da Scotland Yard?"
"Quem dera. Inteligência militar, dispensado. Ataquei um homem que não estava realmente transando com minha esposa. Cumpri minha pena, saí com um conjunto de habilidades pré-adquiridas e um problema com álcool esperando para acontecer."
"E agora?"
"Investigador particular. Trabalho principalmente nos arredores de Manchester. A fome me trouxe tão ao norte." Ele deu um tapinha no estômago. "Não se deixe enganar. É só cerveja e água."
Como se não tivesse certeza de onde Slim separava a verdade do humor, o homem deu um meio sorriso. "Bom, Hardy, meu nome é Arthur Davis. Sou o inspetor-chefe da nossa pequena polícia aqui em Carnwell, embora com o tamanho da nossa força eu mal mereça o título. Acredito que tentou me contatar sobre um caso arquivado. Joanna Bramwell?"
"É assim que você costuma retornar chamadas?"
Arthur riu, um barítono que fez os ouvidos de Slim tremerem. "Eu estava indo para casa. Pensei em procurar por você. Agora, você quer dizer do que se trata? Ben Orland é um velho amigo, que é a única razão pela qual eu considerei falar com você. Há casos arquivados, e há o caso de Joanna Bramwell. É um que esta comunidade sempre esteve feliz em manter enterrado."
"Algum motivo especial?"
"O que você quer saber?"
Sem perguntar, Arthur tinha entrado em um Drive-through do McDonald's e presenteou Slim com uma xícara fumegante de café preto.
"Eu tomo com três açúcares," disse Arthur, rasgando um sachê. "E você?"
Slim deu-lhe um sorriso cansado. "Uma dose de Bells se eu tivesse uma a mão," disse ele. "Mas vou tomar puro. Fica mais forte."
Arthur parou em uma vaga de estacionamento livre e desligou o motor. Sob a luz do poste mais próximo, o rosto do chefe de polícia era como a superfície da lua, uma série de crateras sombreadas.
"Eu vou te dizer diretamente que você deve esquecer esse caso," disse Arthur, tomando seu café, olhando em frente para as grades que os separavam de uma rotatória. "O caso Joanna Bramwell destruiu um dos melhores policiais que Carnwell já teve. Mick Temple foi meu primeiro mentor. Ele liderou o caso, mas se aposentou logo depois, com apenas 53 anos. Enforcou-se um ano depois."
Slim franziu a testa. "Tudo por causa de uma garota morta na praia?"
"Você é um militar," disse Arthur. Slim assentiu com a cabeça. "Eu acho que você já viu coisas sobre as quais não gosta de falar muito. A menos que você tenha bebido, e nesse caso você não fala sobre outra coisa?"
Slim olhou as luzes embaçadas dos carros passando pela estrada. "Uma explosão," ele murmurou. "Um par de botas e um chapéu jogados na poeira. Todo o resto... desaparecido."
Arthur ficou em silêncio por alguns segundos como se digerisse essa informação e lhe desse um período de respeito habitual. Slim não falava de seu antigo líder de pelotão há 20 anos. Bill Allen não tinha desaparecido completamente, é claro. Encontraram pedaços dele mais tarde.
"Mick sempre disse que ela voltava," disse Arthur. "Eles a encontraram deitada no alto da costa, como se levada para lá por uma onda estranha. Você esteve na Enseada Cramer, eu suponho? Ela estava 30 metros acima da linha da maré de primavera. Não tinha como Joanna ter chegado lá a menos que alguém tivesse arrastado ela.
"Ou ela rastejou até lá."
Arthur colocou a mão na cabeça como se tentasse expulsar o pensamento de sua mente.
"O relatório oficial afirmou que os dois passeadores de cães que a encontraram deviam tê-la movido, para mantê-la longe da maré, mas ambos eram moradores locais. Eles saberiam que a maré estava diminuindo."
"Mas ela estava morta?"
"Sim. Com exame do legista e tudo mais. Oficialmente, ela se afogou. Eles a colocaram no necrotério e depois a enterraram."
"Só isso? Não teve investigação?"
"Nós não tínhamos nada para investigar. Nenhum indício que fosse outra coisa além de um acidente. Sem testemunhas, nada circunstancial. Foi um acidente, isso era tudo."
Slim sorriu. "Então por que você chamou de caso arquivado? Isso é uma investigação de assassinato não resolvida, não é?"
Arthur bateu os dedos no painel. "Me pegou. Isso foi esquecido por todos, exceto para os poucos de nós que se lembram de Mick."
"O que mais você sabe?"
Arthur virou-se para Slim. "Já te disse o suficiente, eu acho. Que tal você me dizer o que está fazendo perambulando pelas ruas de Carnwell em busca de informações?"
Slim pensou em mentir para o chefe de polícia. Afinal, se ele abrisse o jogo e a polícia se envolvesse, ele provavelmente nunca seria pago. No final, ele disse: "Eu tenho um cliente que tem uma obsessão por Joanna. Estou tentando descobrir por quê."
"Que tipo de obsessão?"
"Um, do tipo ocultista."
"Você é um daqueles caçadores de fantasmas malucos?"
"Eu não era até uma ou duas semanas atrás."
Arthur suspirou. "Bem, este seria um bom ponto para começar. Já ouviu falar de Becca Lees?"
Slim franziu a testa, procurando em sua memória recente. Ele tinha ouvido o nome em algum lugar...
"A segunda vítima," disse Arthur. "Cinco anos depois da primeira. 1992. Houve uma terceira em 2000, mas vamos chegar lá."
"Devo anotar isso?"
No escuro, o gesto de Arthur poderia ter sido uma confirmação ou um encolher de ombros. "Não estou falando com você agora," disse ele. "Você vai descobrir isso por conta própria, no final."
"Mas seria útil ao seu propósito se o caso Joanna Bramwell fosse...reaquecido?
"Mick era um bom amigo," disse Arthur.
Slim sentiu que o assunto estava encerrado. "O que você tem para mim?"
"Becca Lees tinha nove anos," continuou Arthur. "Encontrada nas poças do lado sul da praia na maré baixa."
"Afogada," disse Slim, lembrando o que tinha lido da história. "Morte acidental."
"Nem uma marca nela," acrescentou Arthur. "Eu estava no primeiro carro na cena. Eu-" Slim ouviu um som como um soluço suprimido. "- Eu a enrolei."
"Ouvi muito sobre essas correntes de retorno," disse Slim.
"Era outubro," disse Arthur. "Nessa mesma época do ano. Meio da semana, mas tivemos uma tempestade e a praia estava coberta de escombros. A jovem Becca, de acordo com sua mãe, tinha ido catar madeira para um projeto de arte escolar."
Slim suspirou. "Lembro-me de uma vez fazer o mesmo. E ela decidiu dar um mergulho rápido, e foi puxada pela corrente."
"A mãe dela a deixou no caminho para Carnwell. Voltou uma hora depois para buscá-la, e era tarde demais."
"Você acha que ela foi assassinada?"
Arthur bateu no painel com uma ferocidade que assustou Slim.
"Droga, eu sei que ela foi assassinada. Mas o que eu podia fazer? Você não mata alguém na praia a menos que já seja maré baixa. Sabe por quê?
Slim balançou a cabeça.
"Você deixa rastros. Já tentou limpar rastros deixados na areia? Impossível. No entanto, havia alguns. Isso é tudo. Até a beirada da água, então havia um pequeno espaço onde a maré tinha abaixado. A menina tinha sido arrastada pela água e jogada nas rochas, deixada à deriva quando a água recuou."
"Parece afogamento. Ela chegou muito perto, foi puxada, e arrastada pela praia."
"É o que parece. Exceto que Becca Lees não sabia nadar. Ela nem gostava da praia. Ela não tinha maiô com ela. Nós aparecemos, e há um ziguezague pela areia onde ela estava recolhendo coisas. Em seguida, a cerca de meio caminho até a marca da maré baixa, há uma única linha reta até a borda da água, que termina com duas pegadas na areia, voltadas para o mar. O que isso te diz?"
Slim soltou uma respiração profunda. "Que ou uma garota que não gostava de água sentiu uma vontade repentina de andar até a costa... ou ela viu algo que chamou sua atenção."
Arthur assentiu com a cabeça. "Algo que veio da água."
Slim pensou na figura que ele pensou ter visto na costa. Becca Lees teria visto algo parecido? Algo que a compeliu a deixar sua coleta de madeira e andar direto para a beira da água?
Algo que a atraiu para a morte?
"Há outra coisa," disse Arthur. "O legista percebeu, mas não foi o suficiente para impedir uma sentença de morte acidental. Os músculos na parte de trás de seus ombros e pescoço exibiam uma tensão não natural, como se tivessem endurecido imediatamente após sua morte."
"Como isso pôde acontecer?"
"Falei com o legista, e coloquei ao superintendente como meu motivo para estender a investigação, mas não havia outra evidência. O que poderia ter provado é que Becca estava tentando suportar uma grande pressão no momento de sua morte."
Slim assentiu com a cabeça. Ele esfregou os olhos como se quisesse banir uma imagem indesejada de sua mente. "Alguém estava segurando-a debaixo d'água."
Os dois trocaram números antes de Arthur deixar Slim perto da casa dele com a promessa de desenterrar o que pudesse encontrar dos arquivos do caso. Havia mais para contar, ele disse, mas com sua esposa e o jantar esperando teria que deixar para outra hora.
Slim, com o cérebro desgastado depois de um dia exaustivo, chegou a apenas uma conclusão concreta: ele precisava falar com Emma sobre Ted.