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CAPÍTULO 37
21:02
Washington, D.C.
“E agora…” Anunciou uma voz calma, “O Presidente dos Estados Unidos.”
Luke estava a entrar na autoestrada quando o discurso do Presidente estava prestes a começar. Luke pensava que se o Presidente falasse durante uma hora, quando o discurso terminasse, ele estaria às portas de Mount Weather.
Ouviu as primeiras palavras do Presidente e depois só se ouviu o silêncio.
Surgiu a voz de uma mulher.
“Uh… parece que estamos com algumas dificuldades técnicas. Perdemos a comunicação com o bunker do Presidente em Mount Weather. Estamos a tentar resolver o problema. Entretanto, algumas palavras dos nossos patrocinadores.”
Luke sintonizou outra estação de rádio. A mesma coisa.
Tentou outra. Tocava uma música rock.
Finalmente, a voz de um homem na rádio.
“Caros ouvintes, tivemos conhecimento de que uma explosão terá atingido a unidade governamental de Mount Weather. De momento não temos mais detalhes. Não é possível estabelecer contato com a unidade mas viaturas de emergência já vão a caminho. Atenção que isto não quer dizer–“
Luke desligou o rádio.
Durante um breve momento, Luke não sentiu nada. Estava entorpecido. Lembrou-se de uma manhã distante numa colina no Afeganistão. Estava frio. O sol nascia mas não trazia consigo qualquer calor. O chão era rugoso e duro. Havia corpos por todo o lado. Homens magros e de barba estavam caídos no chão com olhos amplos a fixarem o infinito.
A certa altura durante a noite, Luke tinha tirado a camisa. O peito estava pintado de vermelho. Estava ensopado no seu sangue. Tinha-os cortado. Apunhalado. Desfigurado. E quanto mais os matava, mais eles continuavam a aparecer.
Martinez estava caído virado de costas numa trincheira próxima. Chorava. Não conseguia mexer as pernas. Já não aguentava. Queria acabar com aquilo. “Stone,” Disse. “Ei, Stone. Ei! Mata-me. Mata-me. Ei, Stone! Ouve-me!”
Murphy estava sentado numa colina rochosa, a olhar para o espaço. Nem se tentava proteger.
Stone não sabia o que ele faria se surgissem mais inimigos. E na verdade, nenhum destes homens parecia ter qualquer espírito de luta dentro de si e a única arma que Stone ainda tinha era uma baioneta dobrada na sua mão.
E então uma linha de insetos negros scobriu o céu a alguma distância. Identificou-os de imediato. Helicópteros. E então soube que ainda estava vivo. Não se sentiu nem bem, nem mal. Nâo sentiu absolutamente nada.
Como agora.
Despertou das memórias quando, à sua esquerda, uma ambulância rugiu a uma velocidade furiosa rumo a oeste com as luzes a piscar incessantemente e as sirenes a ecoar. Luke saiu da autoestrada na saída seguinte. No fundo da rampa estava um parque de estacionamento. Luke encostou e abrandou o carro até um stop.
Estacionou o carro e desligou os faróis. Pensou que se gritasse, sentiria algo, e tentou.
Gritou. Fê-lo durante muito tempo.
Não resultou.
CAPÍTULO 38
21:35
Condado de Fairfax, Virginia – Subúrbios de Washington, D.C.
Whisky com gelo.
Havia qualquer coisa de extraodinário na forma como era frio ao entrar na sua boca e depois, quando chegava ao estômago, acionava um fogo reconfortante.
Luke estava sentado no sofá da sua sala de estar. Tinha acabado de chegar há pouco. Olhou para o relógio e pensou. Não estava ali há exatamente vinte horas. Tinha saído com um objetivo e cheio de energia. Tinha trabalhado arduamente para evitar o desastre, tinha arriscado a sua própria vida vezes sem conta e para quê? O desastre tinha acontecido na mesma.
Ligou a televisão e carregou no botão MUTE. Sintonizou vários canais, atento às imagens. Mount Weather, onde tinha estado naquele mesmo dia, em chamas. A destroçada primeira-dama a ser entrevistada num resort do Havai. Foi-se abaixo e chorou em frente às câmaras. Vigílias espontâneas em muitos locais. Cem mil pessoas em Paris, cem mil pessoas em Londres. Ruas desertas em D.C. e Manhattan. Distúrbios em Detroit e Los Angeles e Filadélfia, lugares onde o Presidente fora acarinhado. Comentadores a falar, falar, falar, alguns com lágrimas nos olhos e sinceros, outros zangados e a gesticular enfaticamente. Alguém tinha que pagar, é claro. Havia sempre alguém que tinha que pagar.
Agora as notícias mudavam de cenário. Algures, apareciam aviões de combate. Bombas atingiam alvos no Médio Oriente. Submarinos nucleares no Mar do Norte. A frota americana no Golfo Pérsico. O Presidente russo a dar uma conferência de imprensa. Membros de gabinete chinês em Pequim. Mullahs iranianos. Multidões a cantar, homens de turbantes e sandálias a brandir AK-47s, a beijar bebés e elevando-os na direção do céu. Um motim nas ruas de uma cidade antiga, soldados a disparar gás lacrimogénio, pessoas a correr, a serem pisadas na escuridão. Um homem, um traidor, a ser apedrejado até à morte numa cidade poeirenta.
Todas estas imagens fluíam ininterruptamente. O Presidente americano tinha sido assassinado e todo o mundo enlouquecera. Era impossível compreender a magnitude do que tinha acontecido.
Luke baixou-se, desatou as botas e sacudiu-as. Reclinou-se. Há menos de vinte e quatro horas estivera a um passo de se retirar do jogo de inteligência. Os últimos seis meses tinham sido incrivelmente agradáveis a ensinar, a jogar basquete com os estudantes, a relaxar com a família. Talvez os seus dias como soldado e espião e kamikaze tivessem realmente chegado ao fim.
Olhou à sua volta. Tinham uma boa vida aqui. A casa era linda, moderna, com janelas do chão ao teto, um conceito acabado de sair de uma revista de arquitetura. Era como uma caixa de vidro. No inverno, quando nevava, era como um daqueles globos de neve de que se lembrava quando era criança. Imaginou a época natalícia –sentado nesta magnífica sala de estar, a árvore no canto, a lareira acesa, a neve a cair dando a sensação de estarem no exterior, mas estavam dentro de casa, quentes e confortáveis.
Deus, era bom.
Com o salário que ganhava no Governo nunca teria podido comprar aquela casa. Becca também não a podia comprar com o salário de investigadora universitária. Os dois juntos não podiam comprar aquela casa. Tinha sido comprada com o dinheiro da família de Becca.
E aquilo dizia-lhe tudo o que precisava de saber sobre o trabalho. Não importava se ele trabalhava dois dias por semana ou se nunca mais trabalharia. Estavam bem, provavelmente para o resto da vida.
Um pensamento negro ocorreu-lhe. Se a guerra estalasse entre as grandes potências, seria quase impossível pará-la. Mesmo assim, ele podia simplesmente deixar que essas forças gigantes se digladiassem entre si. Ele não tinha que participar. Talvez o tempo o conseguisse fazer esquecer tudo. As piores atrocidades podiam ser algo que acontecesse apenas a outras pessoas, em lugares distantes.
Pegou no telefone e ligou um número.
Agora as linhas estavam desimpedidas. As antenas de comunicação já não estavam sobrecarregadas, as pessoas tinham desistido.
O telefone tocou. Becca atendeu ao terceiro toque.
Tinha a voz densa do sono. “Sim?”
“Querida?”
“Olá, querido,” Disse ela.
“Olá. O que estás a fazer?”
“Oh, estava cansada por isso deitei-me cedo. Brinquei com o Gunner o dia todo e deitei-me logo que acabei de falar contigo. Como correram as coisas? Viste o Presidente?”
Luke respirou fundo. Ela tinha-se deitado antes do discurso do Presidente e não sabia. Não lhe conseguia dizer nada, não agora.
“Não, estava demasiado cansado. Tirei a noite para me desligar de tudo. Nada de TV, computador, nada. Tenho a certeza de que amanhã me substituem.”
“Agora estás a falar bem,” Disse Becca.
Luke sorriu. “Ok, querida. Vai dormir, desculpa ter-te acordado.”
Ela já estava a adormecer novamente. “Amo-te.”
Por um momento, sentado no sofá, sorriu de si para si. Tomou outro gole de whisky. Fazia-o feliz pensar na Becca e no Gunner a correr o dia todo e agora a dormirem no silêncio profundo da casa de campo. Luke ia gozar a reforma, ia mesmo.
Mas ainda não tinha chegado o momento.
Ligou um outro número.
Uma voz de mulher atendeu. “Wellington.”
“Trudy, é o Luke.”
“Onde estás, Luke? Está tudo fora de controlo.”
“Estou em casa. E tu?”
“No quartel-general, onde raio devia estar? Luke, metade do Congresso estava em Mount Weather. O Presidente e os assistentes e o chefe de pessoal. A Vice-Presidente, o Secretário de Estado, o Secretário do Tesouro, o Secretário da Educação. Estão todos lá. Aquilo está em chamas e ninguém consegue apagar o fogo. Deflagrou um incêndio nas caixas do elevador. As escadas de emergência explodiram. Os bombeiros não conseguem chegar ao fogo.”
“Não houve nenhum contato?”
Ela emitiu um som. Era quase um riso. “O chefe do pessoal do Presidente, David Halstram, conseguiu fazer uma chamada para o exterior. Ligou para o 911, acreditas nisto? Há uma gravação do 911 que ouvi há pouco. Ele estava apavorado e falava sem parar. Disse que tinha as pernas presas e receava que o Presidente estivesse morto. Diz que tu lhe ligaste antes daquilo acontecer e que lhe disseste para evacuar o Presidente. Ele…” A voz de Trudy tremeu… “disse que te devia ter dado ouvidos.”
Luke não disse nada.
“Ligaste-lhe?” Perguntou Trudy.
“Sim, liguei.”
“Como é que sabias? Como é que sabias o que ia acontecer?”
“Não te posso dizer isso, Trudy.”
“Luke–“
Ele interrompeu-a. “Ouve, preciso que me faças um favor. O Secretário de Defesa está vivo? David Delliger?”
“Está vivo. Está no Site R.”
“Preciso de uma linha direta para ele, alguma forma de entrar em contato com ele.”
“Porquê ele? Não devias antes falar com o Presidente?”
Luke abanou a cabeça. “Não há Presidente.”
“Ainda não. Mas vão ajuramentar o novo daqui a… dez minutos.”
“Quem é, se não o Delliger? Quem está vivo para ser Presidente?”
“Não sabes, Luke? É Bil Ryan, o Presidente da Câmara dos Representantes.”
Luke pensou nos vários Representantes e Senadores que estavam reunidos em Mount Weather naquele dia. “Ryan? Como é que ele sobreviveu?”
A voz de Trudy parecia insegura. “Dizem que foi pura sorte. Ele não foi para Mount Weather.”
Ryan, pensou Luke, atónito. Um falcão entre falcões. Aquilo só tinha um significado: a guerra era inevitável.
*
22:02, Site R – Blue Ridge Summit, Pensilvânia
Era um pesadelo do qual não podia acordar.
O seu nome era David Delliger e era o Secretário de Defesa dos Estados Unidos. Tinha sido nomeado para o cargo pelo seu amigo de longa data e colega de quarto na faculdade, Thomas Hayes, o anterior Presidente dos Estados Unidos.
Delliger era uma escolha surpreendente para o cargo sob qualquer ponto de vista. Era professor de história na Academia Naval e um advogado que passara grande parte da carreira como mediador de terceiros. Nos anos que precederam o cargo que agora ocupava, tinha sido consultor no Carter Center monitorizando eleições em democracias emergentes, países com longas histórias de governo despótico. Um trabalho que era o oposto de fazer a guerra.
E fora por isso que Hayes, o liberal, o escolhera. Thomas Hayes estava morto agora. Não havia maneira de dizer se estaria alguém vivo e quem estaria morto nos destroços do que fora a unidade de Mount Weather. A Vice-Presidente estava desaparecida e presumivelmente morta. Os fogos ainda estavam ativos em vários andares subterrâneos. Centenas de pessoas estavam encurraladas no interior, incluindo muitos membros do Congresso e alguns dos seus familiares.
Delliger estava numa sala de betão também debaixo do solo, mas a mais de cem quilómetros de distância da catástrofe. Cerca de trinta pessoas estavam nessa sala com ele. Uma cortina azul tinha sido colocada nas paredes de betão para disfarçar a fealdade da sala. Num pequeno estrado estavam de pé dois homens e uma mulher. Fotógrafos tiravam-lhes fotografias.
Um dos homens que se encontrava no estrado era baixo e careca. Usava um roupão comprido. Era Clarence Warren, Juiz Presidente dos Estados Unidos. O nome da mulher era Karen Ryan e tinha vestido um fato azul claro com um rosa vermelha na lapela. Segurava uma bíblia aberta nas mãos. Um homem alto, bem-parecido envergando um fato e gravata azul-escuros pousava a mão esquerda na bíblia. A mão direita estava erguida. Até àquele momento, o homem fora durante vários anos Representante da Carolina do Norte e Presidente da Câmara dos Representantes.
“Eu, William Theodore Ryan,” Começou, “juro solenemente executar com lealdade o cargo de Presidente dos Estados Unidos.”
“E farei tudo o que estiver ao meu alcance,” Incitou o Juiz Warren.
“E farei tudo o que estiver ao meu alcance,” Continuou Ryan.
“Para preservar, proteger e defender a Constituição dos Estados Unidos.”
Ryan repetiu as palavras e com menos cerimónia do que em circunstâncias menos exigentes, tornou-se, de repente, no Presidente dos Estados Unidos. Delliger estava numa espécie de estado de choque. Sim, o seu bom amigo estava morto. Thomas Hayes era um grande homem e a sua perda era uma tragédia, pessoal para Delliger, profunda para o povo americano.
Mas pior que tudo, um dos mais formidáveis inimigos do Presidente no Governo tinha acabado de ocupar o seu cargo. O mesmo homem que naquela mesma manhã havia ameaçado o Presidente com a destituição, era agora o Presidente.
Não tinha lógica. Como é que no mesmo dia são destruídos a Casa Branca e Mount Weather? Porque é que o Presidente e a Vice-Presidente tinham sido evacuados para a mesma unidade? Deviam ter sido separados, assim que os Serviços Secretos se aperceberam que estavam juntos.
Delliger observou Ryan e a mulher a partilhar um beijo. Depois, por um breve momento, Ryan fez umas caretas para as câmaras e várias pessoas na sala se riram. Delliger olhou à sua volta para ver quem eram aquelas pessoas. Reconheceu várias das pessoas da assistência. Eram os maiores defensores da guerra no Governo. Membros do Estado-Maior. O Diretor da CIA. Congressistas com ligações próximas a fornecedores de armamento. Lobistas da indústria da defesa e da indústria do petróleo.
Como é que todos estavam ali? Não, a melhor pergunta era, como é que ele tinha acabado entre eles? Ele era um estranho para eles, um intruso. Ele era o Secretário da Defesa, mas tinha sido nomeado por uma pomba da paz, um homem que tinha feito tudo o que estava ao seu alcance para evitar a guerra. Um homem que estava morto.
Aquele local era o bunker militar. Estas pessoas sentiam-se em casa. David Delliger, mesmo com o seu passado militar, ter-se-ia sentido mais em casa num bunker civil que era onde devia estar…
… e que acabara de ser destruído.
Uma sensação estranha apoderou-se de Delliger. Por um momento, os rostos das pessoas que ali estavam pareceram-lhe distorcidos, como numa casa de espelhos. Todos sorriam. O maior desastre de que havia registo na história da América tinha acontecido há uma hora e as pessoas sorriam. E porque não deviam sorrir? Agora eram eles que mandavam.
Delliger relanceou a sala mais uma vez. Ninguém lhe dava atenção. E porque dariam? Ele era o Secretário da Defesa de um Presidente morto. Era uma piada para eles, parte de um regime que tinha acabado de colapsar.
No estrado, Ryan estava novamente sério a contemplar a pequena multidão que tinha diante de si.
“Ninguém deseja tonar-se Presidente da forma como eu me tornei. Mas não vou fingir que não queria assumir o cargo. Queria e ainda quero. E quero-o para tornar a América grandiosa novamente. Thomas Hayes era um grande homem sob diversos prismas, mas também era um homem fraco. Não suportava agir com firmeza contra os nossos inimigos e, como resultado, pagou o preço mais elevado. Essas políticas, as políticas da fraqueza, acabam aqui e agora.”
A multidão aplaudiu. Alguém soltou um uivo de lobo. Os aplausos continuaram por um longo período de tempo. Ryan ergueu as mãos, pedindo silêncio.
“Esta noite vou-me dirigir ao povo americano e a todo o mundo. O que lhes disser vai dar esperança aos que foram aterrorizados pelos acontecimentos do último dia e dos últimos meses. Planeio dizer-lhes que vamos para a guerra com o objetivo de não recuar até os perpetradores desta horrível atrocidade serem castigados. E mesmo nessa altura não pararemos. Não pararemos até os seus palácios e torres serem consumidos pelo fogo e os seus povos saírem a correr aos gritos pelas ruas. E mesmo nessa altura, não pararemos.”
Os aplausos eram tão ruidosos agora que Ryan teve que parar de falar. Não valia a pena continuar. Ninguém o ouvia.
Esperou. Lentamente, o ruído desvaneceu-se. Ryan olhou diretamente para Delliger.
“Iremos vingar as nossas perdas,” Prosseguiu. “E iremos vingar os nossos entes queridos. E não pararemos até o Irão não conseguir projetar o seu poder no mundo nunca mais. Não pararemos até que não se consigam alimentar a não ser que nós os alimentemos, ou vestir-se se nós os vestirmos. Haverá um tempo para o luto e para a recordação. Mas este não é momento. O tempo agora é de vingança!”
Novo aplauso e o telefone de Delliger vibrou no bolso. Tirou-o e olhou para uma mensagem de texto. O seu telefone era privado, raramente recebia mensagens. Abriu-a.
Chamo-me Luke Stone. Sei porque é que o Presidente morreu. Encontre-se comigo.
CAPÍTULO 39
22:47
Davis Memorial Hospital – Bethesda, Maryland
Os três homens entraram no seu quarto como sombras.
Eram sorrateiros, quase silenciosos. Haviam desligado as luzes no corredor por isso, quando abriram a porta do quarto de Ed Newsam e entraram no compartimento escuro, a luz não se alterara.
Não importava. Ed Newsam não acreditava no sono. Não numa altura daquelas. Tinha-lhe sido receitado um analgélsico forte à base de morfina para os ferimentos de bala e para a anca fraturada. O analgésico seria suficiente para o fazer dormir. Mas Ed acreditava na dor e esta dor era demasiado real para não acreditar nela. Não recusou o analgésico. Agarrou nele e quando a enfermeira saiu do quarto, colocou-o debaixo do colchão.
Podia ter recusado mas queria que constasse da sua ficha médica. Talvez no seu subconsciente estivesse à espera de uma visita daquelas. Homens como aqueles olhariam para a ficha médica de Ed antes de entrarem no quarto.
Ed estava de rastos. Ed estava a analgésicos. Ed estava a desfrutar de um bem merecido descanso.
Respirou profundamente como se estivesse a vaguear na terra do nunca. Tinha os olhos semicerrados. Muitas pessoas dormiam daquela forma. As mãos estavam debaixo do lençol. Na mão direita segurava uma Beretta M9 carregada. Estava pronta para a ação.
Os homens aproximaram-se da cama. Vestiam camisas pretas, calças pretas e capuzes pretos que cobriam tudo menos os olhos.
Uma coisa era certa, não eram médicos.
Dois homens estavam no seu lado direito e um no lado esquerdo. Um dos homens tirou uma seringa. À meia-luz, Ed viu-o a segurá-la e a retirar-lhe a tampa. Líquido esguichou. Olhou para os outros dois homens e acenou.
Os dois homens movimentaram-se rapidamente, mas Ed era mais rápido. Saltaram para a cabeceira da cama e tentaram prender-lhe os braços, mas Ed alcançou a arma antes do homem da direita se mexer. Balançou a arma até ao seu rosto. O cano estava a um centímetro da testa do homem.
BAM!
O som era ensurdecedor no quarto fechado. Estrelas desfilavam diante dos olhos de Ed devido ao flash do disparo.
A cabeça do homem desfez-se. Por todo o quarto espalharam-se sangue, ossos e massa cefálica. O homem caiu para a frente, abraçando as proteções da cama do hospital. Ed afastou-o com a arma e o corpo tombou no chão.
Oscilou a arma para cima e apontou-a ao peito do homem que segurava na seringa. O homem ergueu ambas as mãos com os olhos muito abertos atrás da máscara. A seringa ainda estava na sua mão direita.
BAM!
O cano da arma a poucos centímetros do peito do homem. O tiro despedaçou-lhe o coração e parte dos pulmões. O homem caiu no chão como se um alçapão se tivesse aberto debaixo dele.
O terceiro homem recuara para o outro lado da sala. Estava tão surpreendido que nem tentara correr para a porta. Se tivesse fugido logo, ainda teria conseguido escapar. Agora, porém, encontrava-se a um canto a poucos metros de Ed. Ed apontou-lhe a arma. O homem olhou para a janela. Oitavo andar, lembrou-se Ed, sem escada de incêndio. Boa sorte.
“Bela arma, não é?” Disse Ed. “Chamo-lhe Alice. Queres perguntar-lhe alguma coisa?”
O homem levantou as mãos. “Ei, acho que estás a cometer um grande erro.”
“Não, tu é que cometeste um erro, filho da puta. Queres matar-me? Não entrem aqui a tentar fazer parecer que foi uma overdose. Se me querem matar, o melhor é matarem-me logo.” Abanou a cabeça e baixou o tom de voz. “De outra forma, bem vês o que te acontece.”
Algures no hospital, alarmes soavam. A segurança chegaria em pouco tempo.
“Quem és tu?” Perguntou Ed.
O homem sorriu debaixo da máscara. “Sabes que nunca te vou dizer.”
Ed era um atirador exímio. Era uma das habilidades que mantinha intacta. A três metros de distância podia atingir o que quisesse. Atingiu o homem na perna direita, logo acima do joelho.
BANG.
Ed sabia exatamente o que o tiro fizera. Despedaçara o fémur. Rebentou-o em pedaços.
Os médicos tinham dito a Ed que a extremidade direita da sua pélvis estava fendida, possivelmente devido a uma bala que fizera ricochete e perdera grande parte da energia ao atingi-lo. O tratamento era descanso na cama, analgésicos e fisioterapia. Teria que usar um andarilho durante algum tempo, depois muletas. Dali a mais ou menos oito semanas, podia ainda sentir-se dorido, mas já estaria quase bom. Dali a seis meses, era como se nada tivesse acontecido.
Em contraste, o homem que agora gritava no chão, nunca mais voltaria a andar normalmente. Isto se Ed o deixasse viver.
Ed baixou a proteção da parte lateral da cama. Havia um andarilho perto da cadeira com rodas e apoios em forma de meia bola de ténis. Ed puxou-o para perto de si e tentou colocar-se numa posição ereta ao lado da cama. Cerrou os dentes com a dor.
Meu Deus. Se ser velho implicava aquilo, não queria lá chegar.
Olhou para o homem caído no canto. Ed usou o andarilho para abrir caminho pelos dois corpos caídos no chão, com cuidado para não escorregar. O chão polido estava coberto de sangue. Dirigiu-se ao homem ferido.
“Não tens muito tempo,” Avisou o homem. “Vamos ver se te consigo sacar um nome em menos de um minuto.”


