Kitabı oku: «Agentes Da Lei E Assaltantes», sayfa 2

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A verdade que ela falava raspou em sua pele como cascalho. Ele cresceu nesta miséria e viu como essas ruas podiam ser feias. Razão pela qual, quando ele se tornou um detetive, se comprometeu a rastrear os piores indivíduos desta cidade, não aqueles que lutam para sobreviver.

Ellie cruzou os braços a frente do corpo, olhando para ele com um interesse que não se incomodou em esconder.

— Bernard Taylor, você é uma contradição enlouquecedora.

Ele tossiu na mão para esconder seu bufo.

— Apenas seguindo o exemplo da minha atual companhia.

As sobrancelhas de Ellie se juntaram, e a mandíbula cerrou como se estivesse processando uma ideia.

— Tudo bem, vamos trabalhar juntos.

Bernard se engasgou no meio de um gole de gim.

— E o que deu a ideia de que preciso de um parceiro? Em especial, uma com tantos passatempos detestáveis?

O peito dele batia um pouco mais forte com a audácia dessa mulher. Conhecer alguém tão ousado era um deleite raro.

— Se seus colegas fossem de muita utilidade, esse sujeito não teria assassinado sete mulheres. Além disso, está claro que está alguns passos atrás. Nesse ínterim, conheço essas ruas melhor do que qualquer patrulheiro, todos os becos escondidos, casas abandonadas que viraram mercado negro, e os cantos queimados onde o pior da cidade mora. O tom de Ellie não vacilou enquanto ela o encarava com uma confiança de que ele gostava.

Bernard apertou os lábios como se refletisse acerca da declaração. Verdade seja dita, ele vinha circulando pelos mesmos fatos há semanas. Se ela pudesse oferecer o mais leve sopro de uma nova direção, ele aproveitaria a oportunidade.

— Teríamos que trabalhar em segredo. — disse ele, lançando um olhar para ela. — Só à noite e tal.

Ellie puxou a ponta do rabo de cavalo e deu um olhar incrédulo.

— Como se eu fosse gostar de ser flagrada dando as mãos ao inimigo.

— Palavras das mais verdadeiras. — ele concordou, erguendo o copo de gim, ela ergueu o dela para tilintar contra o dele. — Então está combinado.

— Ellie Whitfield. — uma voz explodiu do outro lado do bar. — O que está fazendo deste lado da rua?

Um sujeito rude como uma lixa, sem alguns dentes, se aproximou com uma carranca e caneca em mãos, e algo nada agradável queimando em seus olhos. Os ombros de Bernard enrijeceram, as velhas disciplinas prontas para sua convocação.

— Maldição do cacete. — Ellie xingou, os pés alcançando o chão com um baque. — Fique alerta, Taylor. Estamos cara a cara com um dos homens mais covardes que terá a chance de conhecer na vida.

Ela bateu o copo vazio de gim na mesa e se levantou. A mão escorregou para o lado, de prontidão nas facas. Bernard seguiu a deixa, levando a mão à pistola.

Ellie gritou:

— Não tem mais ninguém para tornar miserável esta noite, James?

Ele se aproximou, alguns homens, que o seguiram pela porta, atrás dele. Com base nas expressões enfadonhas, e no balanço de seus grandes membros, o conhecido dela trouxe agressores com ele.

Ellie franziu os lábios e piscou na direção de Bernard.

— Sempre pode fugir agora se ficou assustado. Prometo conter meu escárnio.

Um sorriso apareceu nos lábios dele, um movimento de que ele se esquecera de que conseguia fazer. Ele balançou a cabeça e sacou a pistola.

— E perder este entretenimento desenfreado? Creio que não.

Capítulo Três

James Donovan era um rato-de-esgoto traidor da mais alta ordem. Ellie o vira pela última vez no trabalho que deveriam fazer juntos na casa de algum cavalheiro rico no extremo oposto da cidade. Ao menor sinal de problema, ele a abandonou junto do outro sujeito com quem trabalharam, e chorou bicas quando ele não recebeu sua parte. Em vez de culpar os dois, James decidiu colocar o peso apenas nos ombros dela.

E, claro, ele a encontrou agora. Tudo que Ellie queria era beber um pouco de gim e ficar um pouco alegre, secar-se após a fascinante noite que teve, fugindo dos policiais. No entanto, não importa o quão longe ela viajou por esta cidade apodrecida, o problema estava a um paralelepípedo de distância.

Bernard Taylor saltou da cadeira ao lado dela, uma prontidão na postura sugerindo que ele viu seu quinhão de brigas. Não que o colete e as calças fizessem muito para esconder sua figura musculosa, que ela notou poucos minutos depois que ele engatilhou a arma carregada na têmpora dela. O homem parecia mais um arruaceiro do que um detetive.

— Ellie, aonde pensa que vai? — James perguntou, os lacaios clamando ao lado dele. O ridículo cruzou os braços e formou uma carranca de bom tamanho, como se a pose pudesse fazê-la tremer nas botas. — Creio que me deva um pouco mais do que uma bebida. — o tom sugestivo da voz dele a fez querer vomitar.

— Eu bem sei o que merece, Donovan, e não é nada agradável. — disse Ellie, dando alguns passos para diminuir a distância entre eles.

Os fregueses do bar que não eram nada estúpidos pararam para olhar entre os dois, ninguém ousou se envolver. O aperto de Ellie aumentou em torno das facas. Ela não deixou de notar como James baixou as mãos. Com certeza, o desgraçado puxaria uma pistola.

Ellie captou o lampejo de cobre de trás das costas dele. Não era uma pistola, nem uma lâmina.

Ah, não.

Ela encontrou os olhos de Bernard.

— Quando eu disser, precisamos correr.

Porque James Donovan era um covarde idiota que havia levado uma bomba a um bar cheio de pessoas inocentes. O estilhaço da bomba destruiria a maior parte da multidão ali dentro. Donovan se aproximou, os companheiros o flanqueando atrás dele para bloquear a fuga deles.

Sem saída, a não ser para cima.

— Corra. — Ellie gritou enquanto mergulhava para a esquerda, em direção ao bar.

Um guincho rápido, e ela subiu no balcão para começar a correr pela superfície. Gritos seguiram seu rastro enquanto ela pulava por cima das canecas de cerveja e copos de uísque amarelado chacoalhando ao seu redor. Ela arriscou um único olhar para trás.

Bernard não a seguiu por cima do bar. Em vez disso, o homem endireitou os ombros largos, baixou a testa e atacou.

Com a atenção de Donovan voltada para ela, ele não percebeu Bernard correndo até que fosse tarde demais.

Ellie pulou mais uma cerveja, os passos batendo nas vigas da taverna. Alguns bêbados tentaram golpear os tornozelos dela, mas ela sempre foi mais leve do que uma mulher comum.

O fim do bar apareceu à vista, a poucos metros de distância. A essa altura, mais gritos estouraram, os sons ásperos ecoando atrás dela.

Ellie não parou no final do bar, ela se lançou para fora da margem. Seus pés bateram no chão de madeira. Ela se virou a tempo de localizar cada sujeito por quem passou correndo, olhando em sua direção.

Novos amigos, por toda parte.

O velho grisalho nos fundos do bar se lançou sobre ela, os dedos quebradiços tentando se apoiar. Ela se esquivou com facilidade, muito menos embriagada do que a maioria dos clientes daqui.

Bernard se esquivou de James Donovan, mas os outros dois meliantes tentaram interferir na trajetória dele. Ellie trouxe seu olhar para o lado direito quando ele atacou com velocidade mortal. Bernard atirou o punho sob a mandíbula de um homem e, um instante depois, ele girou sobre os calcanhares, erguendo o cotovelo para cumprimentar o nariz do outro homem. Bernard Taylor possuía profundezas ocultas, para dizer o mínimo.

— Pare. — James gritou, levantando a bola de cobre na mão, um dispositivo do tamanho de um punho. — Ou esse bar inteiro vai abaixo com você.

Ele jogaria. Ela sabia que ele o faria.

— Rapazes, querem queimar junto do bar? — Ellie gritou para a multidão. — Se não, sugiro parar o idiota com a bomba. Ou o param, ou correm.

Bernard irrompeu entre os capangas e disparou na direção dela. Ellie estava mudando de um pé para o outro. Assim que ele a alcançou, ela voou.

Vários sujeitos no bar pularam de seus banquinhos, que caíram no chão. Alguns dos outros seguiram a recomendação de abordar James. Infelizmente para muitos deles, Donovan balançou o braço e a bola de cobre voou de suas mãos.

Ellie seguiu para a saída, ciente da morte garantida sendo arremessada em sua direção.

Bernard a ultrapassou com as longas pernas, mas para surpresa dela, ele estendeu a mão para trás e a agarrou pela mão, arrastando-a para frente com ele. A bomba girava na direção deles, pronta para bater nas tábuas do chão, passou pelas mesas e o bar, bem perto da entrada para a qual estavam correndo.

As panturrilhas de Ellie se contraíram com intensidade quando ela se lançou para a porta, segurando a mão de Bernard com força. O ombro dela acertou o batente da porta enquanto ela se arremessava.

Um clique deliberado ecoou em algum lugar do bar

Ellie caiu nas pedras do lado de fora, os joelhos batendo na pedra lascada. Bernard largou a mão dela e se jogou no chão.

Um zumbido encheu o ar, cada vez mais alto.

Tique, tique, tique… pop.

A rajada de calor saiu primeiro pela porta aberta, seguida pelo estrondo que sacudiu as madeiras do prédio antigo.

Os gritos vieram em seguida. Gemidos horrorizados, uma raiva alta e ensurdecedora, uivos roucos que fizeram a pele dele arrepiar. Ellie tapou os ouvidos com as mãos, tentando bloquear os sons. Ela fechou os olhos com força e respirou fundo. A culpa a assolava como carne viva, mas já fazia um bom tempo que dilacerava sua pele até os ossos.

Ela se levantou em meio à fumaça metálica que saía da porta aberta. Rajadas de fumaça preta e oleosa escapavam e, com base na contração de seu nariz, focos de incêndio surgiram lá dentro. Ninguém havia pedido àquele canalha que trouxesse uma bomba para o interior do estabelecimento, embora ela não conseguisse se livrar do puxão persistente em seus calcanhares que causava problemas aonde quer que fosse. Não como se ela algum dia fosse uma boa filha.

Bernard pairou sobre ela, com a mão estendida.

— Vamos sair daqui.

Ela aceitou a mão áspera e quente contra a dela, e ele a puxou com facilidade. Os músculos do homem se contraíram com o movimento, fazendo com que o tecido das mangas dele se enrugasse. Aqueles olhos escuros traziam uma intensidade sedutora enquanto ele a erguia como se pesasse pouco mais do que uma folha seca.

— Minha casa ou a sua? — Ellie falou devagar, as palavras saindo muito mais sensuais do que o previsto.

Ela não costuma ceder a impulsos urgentes, embora os sentisse aqui e ali.

O canto da boca dele se contraiu, revelando um sorriso delicioso emoldurado pelo bigode e barba pretos e grossos.

— Que tipo de cavalheiro eu seria se não acompanhasse uma dama até em casa? — ele lançou um olhar rápido para a taverna detrás deles, uma primeira chama dourada tremeluzindo no interior.

Alguns homens saíam cambaleando pela porta da frente, tossindo e cuspindo.

Alguns podem culpar James Donovan, mas outros apontariam os dedos para ela, e ela não queria ficar por perto para atrair a censura.

Ellie espanou as calças e partiu em um ritmo acelerado ao longo da rua na direção oposta de onde vieram. O cortiço que ela chamava de lar não ficava longe desta taverna, então ela assumiu a liderança. Se o belo oficial quisesse acompanhá-la de volta, ela não reclamaria. Afinal, ela meio que esperava que esta noite terminasse no fundo de um rio ou fosse presa a ferros.

Ela teve mais um vislumbre do Rato Afogado, deixando a culpa lá atrás, para queimar como as vigas que haviam se incendiado. O fogo cintilava nas janelas, e mais e mais homens tropeçaram para fora do bar, alguns sangrando por cortes abertos, enquanto outros tossiam como se tivessem contraído tuberculose. O prédio iria queimar e, talvez, outros próximos, como barris de pólvora esperando por um incêndio. Não que os policiais dessem a mínima, as dificuldades dos pobres nunca preocuparam os homens da lei.

Bernard caminhava ao lado dela, um enigma em um colete feito sob medida e calças compridas. O homem exalava uma masculinidade crua apesar dos suspensórios, algo primitivo que chamou a atenção dela desde o instante em que ele apontou a pistola para ela. Ele poderia ter sido um idiota tenso como a maioria dos gambés com os quais ela se envolvia, mas este detetive continha camadas que ela queria revelar.

— Estou começando a suspeitar que você invoca inimigos toda vez que entra em um lugar novo. — murmurou Bernard, a voz era um timbre rico que ela pensou gostar. O olhar arqueado que ele lançou enviou um arrepio por sua espinha.

— É um dom. — respondeu Ellie. — Considero o tédio abominável.

A respiração dela tornou-se entrecortada. As roupas ainda não haviam secado, a camisa e as calças grudavam na pele com um arrepio profundo. Vigas verdes claras filtravam a luz de uma lamparina a gás quebrada à frente, e as janelas escurecidas dos prédios de dois andares pelos quais passaram a fulminaram com o olhar de condenação.

— Daí a oferta de se juntar à minha caça a um assassino em série? — ele perguntou.

Folhas quebradiças arranhavam os paralelepípedos, um riscar que ecoava como garras. Gemidos vieram do beco mais próximo que eles passaram, mas ela sabia ser melhor não arriscar um vislumbre.

— Testemunhou o grande número de rostos amigáveis que atraio. — respondeu Ellie. — O que o faz pensar que anseio por policiais me perseguindo por esta cidade devido a uma falsidade? — o estômago dela apertou com força. Decerto ela ainda não estava longe demais de merecer perdão. — Além disso, posso ter me envolvido em alguns delitos leves, mas nunca matei a sangue-frio.

— Por que acha que não a arrastei para o cárcere? — Bernard murmurou.

Ela sentiu o cheiro delicioso de pólvora e cedro saindo dele, e a acariciou no núcleo. Atreveu-se a olhar para ele e se viu presa pela maneira como aqueles olhos não apenas deslizaram sobre ela, eles viam através dela.

— Porque você foi vítima de meus encantos multifacetados? — ela provocou, precisando acalmar o elevado tum-tum-tum de seu coração.

— Você é multifacetada. — respondeu ele. — Concordo com isso.

Diversão brilhou nos olhos dele, quase invisíveis à luz medonha da lanterna enquanto eles passavam. Ela já percebera o cortiço espiando por cima dos outros edifícios ao longo do caminho, a apenas alguns quarteirões de distância.

Eles contornaram um canto até a parede do fundo. A velha Susie sentava-se esparramada contra o tijolo, os olhos vidrados na escravidão de qualquer substância que pudesse disparar em suas veias. Benjamin estava parado na entrada dos fundos, fumando seu cachimbo e cuidando da própria vida, como todos faziam na vizinhança.

— Então, agente da lei. — disse Ellie, parando devagar ao encarar Bernard. — Amanhã à noite?

Ele enfiou as mãos nos bolsos das calças, o que destacava aqueles ombros largos e a estatura absoluta do homem. O olhar dela demorou-se na forma como o luar roçava a mandíbula quadrada. Enquanto ela o examinava, ela avistou a bolsa dela pendurada no bolso dele.

Aquele desgraçado de uma figa.

Ellie conteve um grunhido, um estrondo de choque filtrando-se por ela. Quando ele roubou dela? Se ele pensava que iria mantê-la na linha enquanto trabalhassem juntos, ele deveria pensar de novo.

— Encontro você aqui amanhã à noite. — disse Bernard, fazendo uma saudação com os dedos, ele girou o calcanhar enquanto se preparava para ir embora.

Não com o meu aluguel do mês nos bolsos.

Ellie agarrou-o pelo pulso.

Assim que os dedos dela roçaram a pele, ele se virou. Tão perto, ela podia sentir o toque de gim no hálito e o calor que emanava dele. Ela se inclinou e deu um beijo na bochecha dele.

O tempo todo, ela deslizou os dedos para a bolsa. Ellie roçou os lábios contra a pele quente da bochecha, e a respiração dele engatou, o foco nela. Bom. O nó se desfez, e ela puxou a bolsa para o lado.

Ellie se afastou e deu uma piscadela. Ele piscou por um momento, então aquele olhar intenso desceu sobre ela. Ele espalmou a cintura, procurando pelo item que faltava.

— Boa tentativa. — ela murmurou, levantando a bolsa enquanto dava mais alguns passos para trás. — Vejo você amanhã, querido.

Capítulo Quatro

A noite caiu, e ele se descobriu ansioso pelo encontro com Eleanor Whitfield muito mais do que esperava.

Bernard caminhou pelas ruas com facilidade, o relógio pesado no bolso. Ele fez questão de deixar os outros adornos e sutilezas em casa. Ele estava menos preocupado com batedores de carteira vagando pelas ruas do que aquela com quem planejava se encontrar. A maneira descarada como ela agarrou a bolsa, sem que ele percebesse, o impressionou, mesmo que talvez a mulher infringisse a lei com a mesma frequência que respirava.

O prédio de apartamentos dela se assomava à distância, dezenas de janelas escuras o encarando com ameaça. As sombras geravam desastres e desgostos por aqui, fosse uma faca escorregadia ou o próprio Açougueiro da Rua Broad à espera em um beco. A maioria das vítimas do assassino foi descoberta em bairros mais pobres, muito após terem deixado este mundo. A única razão para a última ter sido encontrada tão logo foi por ser deixada perto de uma área mais rica.

Os policiais desta cidade há muito eram embolsados pelos ricos. Ele compartilhava o escárnio de Ellie pela corrupção desenfreada em todos os cantos de Londres, mas optou por se posicionar dentro da organização.

Ele passou pelos lampiões a gás que piscavam com feixes doentios até os paralelepípedos rachados que poderiam nunca ser consertados. A luz iluminava os respingos escuros na rua, se bile ou sangue, ele não tinha certeza.

Ao se aproximar, ele avistou Ellie encostada na parede de tijolos do lado de fora do prédio. Seus cachos negros não estavam amarrados hoje, e descansavam livres em seus ombros e costas, emoldurando um belo rosto. Apesar da manobra óbvia que havia sido, Bernard não pôde deixar de reviver a suave pressão dos lábios dela quando ela o beijou na bochecha. As botas de montaria e as calças cargo justas que ela usava a ajudavam a se misturar nas sombras, e até mesmo a camisa de gola alta era cinza-escuro, acentuada por suspensórios que os dedos dele coçavam para deslizar para fora daqueles ombros.

A mulher já infectara sua mente, mas como não poderia? Ele nunca conheceu ninguém com tal faísca e determinação, mesmo se ela fosse o tipo de ladra que seus colegas jogariam detrás das grades em um piscar de olhos.

— Qualquer homem com meia mente não teria vindo a este encontro. — gritou Ellie como forma de saudação. — Após as aventuras emocionantes que tive em sua companhia ontem, aposto que desaparecerá na noite para nunca mais ser vista.

Bernard ergueu uma sobrancelha para ela quando parou a poucos metros de distância.

— Está revelando seus planos derradeiros para mim? Não creio ser muito bom, minha querida.

Ellie franziu os lábios para reprimir um sorriso crescente.

— Talvez. — ela murmurou. — Embora eu ame manter um ar de mistério. Agora, vamos parar de apodrecer por aqui e seguir para o primeiro destino.

Bernard ofereceu o braço, meio que esperando que ela o recusasse. Em vez disso, ela enrolou o braço no dele, trazendo o corpo para mais perto dele. Ela cheirava a laranja e óleo de cravo, os aromas nítidos e brilhantes, assim como a mulher. As sombras destacavam seu nariz reto e aprofundavam a franja dos cílios atraentes. Apesar da presença barulhenta, a mulher era pequena, de sua altura à curva esguia de sua cintura.

— No entanto, conseguiu poupar tempo de sua agenda lotada de ladroagens? — Bernard mencionou, permitindo-se um pequeno sorriso. — Sabe que não se pode roubar algumas bolsas enquanto um oficial está ao seu lado.

— Estraga toda a minha diversão. — Ellie atirou de volta, dando um leve puxão no braço dele para sinalizar a direção. Eles caminharam por outra rua em Islington, esta em pior estado do que a dela. — Para recompensá-lo, estou prestes a apresentá-lo a alguns dos lugares mais decadentes de toda Londres. Esteja preparado.

Bernard bufou.

— Acredite em mim, estou bem ciente do que Londres tem a oferecer. O que não estou informado é como tudo mudou desde meu tempo no mar. Desde que me tornei um detetive da polícia, não tive acesso aos acontecimentos do submundo que costumava ter.

Ellie ergueu uma sobrancelha.

— Isso é chocante. Era de se pensar que todo criminoso daria as boas-vindas aos gambés de braços abertos.

Bernard tentou suprimir a vibração de calor que teve no peito ante a conversa fácil. Verdade seja dita, ele sentia-se mais sozinho do que jamais gostaria de admitir desde que voltou. Como um detetive que se concentrava mais no pior que a cidade oferecia, ele não compartilhava muita camaradagem com o resto da polícia, e não conseguia frequentar os bordéis para obter companhia. Em vez disso, ele se dedicou a rastrear esses assassinos em série que infestavam Londres mais do que a peste.

Estaria mentindo se a ideia de uma mulher tão linda como Eleanor Whitfield compartilhando a cama dele não fizesse seu sangue queimar. No entanto, havia uma tarefa a cumprir, um assassino em série para rastrear, e tais pensamentos serviriam apenas para distraí-lo, como ela já havia provado.

No final da rua, uma casa abandonada se destacava.

O lugar deve ter sido uma loja no passado, as grandes janelas quebradas na frente parecendo mais comerciais. Uma varanda nada acolhedora se estendia na frente da porta, degraus estilhaçados levavam para baixo. Bernard encolheu os ombros. Nenhum sinal de vida se destacava, mas uma mancha oleosa permaneceu ao redor da área como se alguma presença permanecesse lá. Por mais que tenha sido treinado para observar o que seus sentidos registravam e não viajar em nenhum voo da fantasia, confiar na pontada em seu estômago foi o que o salvou muitas vezes.

— Aperte as botas, querido. — murmurou Ellie ao se aproximar. — Com certeza, a menos que já esteja familiarizado com esta casa, você ainda não viu lugares como estes.

Eles alcançaram a entrada da frente, mas Ellie não se incomodou em tentar os galhos que os degraus haviam se tornado. Em vez disso, ela o conduziu em torno da casa. O olhar dele permaneceu para cima enquanto procurava por outras portas ou entradas, pegando um vislumbre de janelas fechadas acima e mandíbulas escuras que o encaravam. No entanto, Ellie não olhou para nada disso. Ela deu a volta na ponta dos pés, até a parte de trás, e se agachou na frente das portas descascadas do porão.

Um arrepio percorreu a espinha dele. Ele acreditava conhecer a maioria dos lugares secretos de Londres, mas essa ladra poderia ensinar um ou dois truques para ele.

Ellie fez uma pausa com os dedos na trava e olhou para ele.

— Se você tentar fechar este local, o mercado apenas reabrirá em outro lugar, e dificultará descobri-lo. Já se mudaram antes e não hesitarão em fazê-lo de novo.

Bernard ergueu a mão em defesa.

— Estou aqui como observador, nada mais. Meu objetivo é descobrir o paradeiro do Açougueiro da Broad.

Os lábios de Ellie franziram, e um nível de ceticismo cintilou em seus olhos, porém, ela destrancou a trava e abriu as portas do porão com um rangido. Ellie não olhou para trás enquanto descia os degraus, sem medo.

Bernard foi atrás dela, envolto pelo cheiro de mofo, de musgo e de qualquer outra coisa. Eles mergulharam na escuridão aveludada tão espessa quanto enxofre, e a respiração dele ficou presa na garganta. Um barulho ecoou enquanto Ellie mexia na maçaneta da porta. Quando ela se abriu, um corredor se estendeu diante deles, iluminado por éter que fluía em círculos presos às paredes por garras de cobre.

Passaram por portas pretas fechadas de cada lado deles. Mesmo que não pudesse ouvir nenhum som antes de entrarem, assim que caminharam pelo corredor, os ruídos começaram a chegar. Lamentos distantes, vários guinchos e soluços fizeram o sangue dele gelar, mas Ellie avançou imperturbável.

— Ninguém está em perigo. — ela murmurou. — As pessoas pagam generosas quantias aqui para liberar certas tendências, aquelas que podem não encontrar alívio em um bordel.

As sobrancelhas de Bernard se ergueram alguns centímetros, mas as palavras dela o acalmaram. Quaisquer que fossem as fantasias sombrias a que as pessoas sucumbiam, não era da conta dele. Ele apenas queria tirar os verdadeiros monstros das ruas. Quando avançaram pelo corredor, arrepios percorreram os braços dele. Era como se ele tivesse voltado no tempo, para os corredores mofados do cortiço em que havia crescido, esgueirando-se até o apartamento da amiga Tabitha porque não havia mais ninguém na casa dele e seu estômago não parava de roncar.

Ele encontrava segurança lá, pelo menos até que o pai dela chegasse em casa, e a voz severa daquele homem o atingisse com mais força do que qualquer punho ou palma que Bernard tentasse levantar.

Bernard sacudiu a manga da camisa, como se o movimento pudesse livrá-lo dos resíduos que as lembranças haviam deixado nele. Ele escapou daquela vida, há muito tempo.

Ellie parou em frente a uma velha porta de carvalho com uma maçaneta preta ornamentada. Aqui embaixo, as luminárias e as tábuas do assoalho estavam em muito melhor estado do que ele previra à primeira vista da casa macilenta acima.

— Deixe-me falar. — disse ela, lançando um olhar de advertência para ele, antes de girar a maçaneta e entrar.

Bernard deslizou os dedos ao longo da aba do chapéu-coco enquanto a seguia para dentro.

Eles entraram em uma sala tão grande quanto uma sala de visitas social, com uma fraca iluminação âmbar banhando o lugar com um brilho inebriante. Uma mulher em um vestido de noite listrado estava sentada em uma grande poltrona enfiada no canto mais distante, e dois cavalheiros reclinados em um sofá marrom juntos, em uma discussão profunda. Uma enorme escrivaninha de mogno ocupava o canto oposto da sala, onde um homem magro com um grande bigode estava curvado, examinando um livro grosso à sua frente. Pilhas de papéis balançavam na mesa como se fossem desabar a qualquer momento.

Ao longo da parede, uma mulher em vestes escarlates estava sentada em frente a uma pequena mesa. Uma bola de cristal empoleirada entre suas palmas, brilhando em um roxo não natural. A respiração dela permanecia uniforme, mas os olhos estavam fechados em concentração. O olhar de Bernard se demorou nas cartas espalhadas pela mesa, desenhos ornamentados retratados em cada uma.

Ellie não se incomodou em se anunciar ao entrar, e ninguém se incomodou em olhar para eles também. Ela se dirigiu ao homem sentado atrás da mesa.

— Negociador das Sombras, solicito seus serviços. — Ellie exigiu, a voz sendo carregada claramente através da sala. Bernard começou a duvidar que a mulher possuísse outro tom além do direto.

O homem ajustou os óculos e olhou para eles.

— Pagamento ou permuta?

— Permuta. — disse Ellie.

Ela espalmou as mãos na mesa de mogno e se inclinou para sussurrar algo no ouvido do homem. Bernard deslizou o polegar na superfície lisa do relógio em seu bolso. Ele detestava se sentir inútil, mas todo esse lugar o fazia perder o controle. Mesmo quando vivia em bairros mais pobres, ele nunca descobriu o funcionamento interno do submundo do crime. Verdade seja dita, todo esse mercado o fascinava.

— Sempre me traz as notícias mais interessantes, Eleanor. — respondeu o velho, tirando o pó das teias de aranha de sua voz. — Agora, sobre o que deseja saber mais?

— Estamos procurando o paradeiro do Açougueiro da Rua Broad. — disse Ellie, endireitando-se da posição agachada.

Ela enfiou os polegares nos bolsos das calças, os ombros para trás com uma confiança pela qual Bernard se sentira atraído desde o início.

O velho fingiu folhear algumas páginas de um grosso volume para a frente e para trás, como se o estivesse consultando em busca de respostas. No entanto, Bernard percebeu o olhar quase reptiliano no rosto do homem, uma inteligência incomparável. Se ele tivesse que fazer uma aposta, aqueles livros eram adereços, e o homem retinha todas as informações por conta própria.

Por fim, ele disse:

— Siga os ratos.

As perguntas saltaram à língua de Bernard, mas ele se lembrou do aviso de Ellie para deixá-la falar. Talvez a informação que ela ofereceu não valesse mais, ou talvez essa fosse a única informação que ele detinha. A presença de um Negociante das Sombras nesta cidade era algo que ele guardaria para referência futura. Ouvira contos por anos de sua existência, os evasivos permutadores de informações espalhados por Londres, mas ele nunca conhecera um de verdade até agora.

— Nossa transação está encerrada. Obrigada pelo seu tempo. — Ellie respondeu, uma formalidade no tom sugerindo que ela memorizou os movimentos desta dança.

Bernard deu o primeiro passo em direção à porta quando um farfalhar veio da mulher à mesa. Os olhos dela se abriram, revelando orbes brancas e transparentes. A boca da mulher se abriu, e ele se viu congelado no lugar, esperando para ver o que viria dessa mulher misteriosa.

— Pare. — ela gritou, a ordem reverberando pelo ar.

O braço dela estendeu-se, a ponta do dedo apontada na direção de Ellie, que empalideceu mesmo enquanto obedecia.

— Esta está marcada para morrer.

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Yaş sınırı:
0+
Litres'teki yayın tarihi:
04 ekim 2021
Hacim:
158 s. 14 illüstrasyon
ISBN:
9781802500516
Okuyucu:
Telif hakkı:
Tektime S.r.l.s.
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