Kitabı oku: «Alquimistas E Incendiárias»
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Livros de Katherine McIntyre
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Book Description
Dedicatória
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Epílogo
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Sobre a Autora
Livros de Katherine McIntyre publicados pela Totally Bound Publishing
Tribal Spirits
The Whitfield Files
Os Arquivos Whitfield
ALQUIMISTAS
E INCENDIÁRIAS
KATHERINE MCINTYRE
Alquimistas e Incendiárias
ISBN # 978-1-80250-073-8
© Copyright Katherine McIntyre 2021
Capa de Erin Dameron-Hill © Copyright janeiro de 2021
Traduzido por Evelyn Torre 2021
Diagramação de texto interno por Claire Siemaszkiewicz
Totally Bound Publishing
Esta é uma obra de ficção. Todos os personagens, lugares e eventos são da imaginação do autor e não devem ser confundidos com fatos. Quaisquer semelhanças com pessoas, vivas ou mortas, eventos ou lugares é mera coincidência.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida em qualquer forma material, seja por impressão, fotocópia, digitalização ou de outra forma, sem a permissão por escrito da editora Totally Bound Publishing.
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A autora e a ilustradora reivindicaram seus respectivos direitos sob o Copyright Designs and Patents Acts 1988 (conforme emendado) para serem identificadas como autora deste livro e ilustradora da arte apresentada.
Publicado em 2021 pela Totally Bound Publishing, Reino Unido.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, digitalizada, ou distribuída em qualquer meio, impresso ou eletrônico. Por favor, não participe ou incentive a pirataria de materiais protegidos por direitos autorais em violação dos direitos do autor. Compre apenas cópias autorizadas.
Totally Bound Publishing é uma marca do Totally Entwined Group Limited
Livro três da série
"Os Arquivos Whitfield".
Tudo o que Nate Whitfield queria fazer era ficar longe de problemas, mas conheceu Belle…
Ao montar seu empório boticário em Islington, Nate Whitfield sabia que enfrentaria todos os tipos de criminosos e escória, afinal, as primas já fizeram parte daquele submundo. No entanto, quando uma mulher inebriante irrompe em sua loja para se esconder da ex-gangue, ele não pode deixar de oferecer abrigo.
Isobel Griffiths, uma incendiária com talento especial para gerar incêndios invisíveis, deseja liberdade desde que os pais a venderam para o famoso líder de gangue Jack Blair. Atraído pelo redemoinho que Isobel representa, Nate logo se apaixona… assim como ela.
Belle é inteligente, mas para escapar das garras de Blair, ela vai precisar de mais do que inteligência, vai precisar da alquimia de Nate. E se o plano não der certo, pode se transformar em uma rixa mortal de gangues, intensa o suficiente para destruir toda Islington.
Dedicatória
À fantástica tribo de criativos e sonhadores que compõem a comunidade steampunk.
Capítulo Um
Apenas mais um dia neste pesadelo de bairro.
Quando Nate decidiu, ou melhor dizendo, foi forçado a abandonar sua casa em Ipswich, sua melhor e única opção foi o local em Londres onde as primas Theo e Ellie lutavam contra problemas em uma das mãos e o próprio sustento na outra.
Ele deu um suspiro e reorganizou as garrafas de vidro nas prateleiras, tornando a exibição mais uniforme. Líquidos de cores diferentes brilhavam com uma promessa perolada, enquanto outros pareciam a lama raspada dos sapatos ao final do dia.
Na primeira vez em que a loja dele foi invadida, durante a noite, Theo passou por ali para instalar um complexo mecanismo de trava na porta que, com certeza, manteria os ladrões fora.
No segundo episódio, a loja foi arrombada no meio do dia, e Ellie veio e depositou uma derringer não mão dele com um aviso para praticar pontaria.
Seu punho apertou o gargalo de uma das garrafas de vidro que brilhava com uma substância mais azul do que o oceano. Ele fizera cada uma dessas poções com as próprias mãos, só queria ganhar a vida praticando a alquimia que ele estudou por anos para dominar. Esse foi seu plano anterior, até que os Darlingtons se envolveram nos negócios dele. Ele engoliu em seco quando uma onda familiar de torpeza o atingiu, tão amarga quanto o absinto.
Como se ele fosse conseguir encontrar o próprio caminho nesta floresta de tolos.
Até agora, ele apenas trouxera decepção para a família.
Ele terminou de arrumar as garrafas de vidro e voltou para ficar atrás do balcão. Ele o havia montado no final da loja, com uma caixa registradora, às vezes utilizada, e muitas prateleiras embutidas na estrutura, o que deixava espaço para separar seu volumoso estoque de ervas. A maioria de suas poções não seria possível sem um boticário bem abastecido de tônicos, ervas e digestivos. Ele usava esses princípios básicos para realizar sua alquimia: um chá de lavanda pode ser transmutado em um frasco de luar, enquanto a camomila e casca de limão podem se transformar em sol engarrafado. As possibilidades eram infinitas.
Nate ergueu um dos sacos de lavanda, inalando como se a suave fragrância pudesse ajudá-lo a acalmar os nervos. Cada dia que ele abria a loja para o mundo se transformava em mais um triunfo e outro risco, fosse dos clientes irritados ou dos ladrões que corriam desenfreados por esta parte da cidade. Apertou mais a bolsa. Sentia saudades terríveis de casa.
Cantarolou uma melodia para si e tirou um saco de hortelã e um de poejo, colocando-os na bancada perto da balança. Enquanto esperava que a gentalha normal passasse por aquelas portas implorando para negociar ou oferecer menos moedas do que o razoável, ele pelo menos continuaria criando mais produtos. Ele aprendeu toda a alquimia com o tio, uma alma roubada muito cedo deste mundo. Tuberculose era uma doença cruel.
Ele balançou um pouco de hortelã-pimenta na balança, as pequenas folhas secas acumulando-se no centro.
A porta se abriu com força suficiente para o vidro fazer barulho.
Nate parou no meio do giro e deslizou a mão livre sob o balcão para a derringer que Ellie trouxera.
Não outro roubo. Uma terceira vez, e ele ficaria tentado a se jogar no Tâmisa.
Uma mulher entrou de maneira repentina, os ombros arfando e a respiração saindo como sinais de pontuação.
Ela bateu a porta, mas ele não teve um vislumbre dela até que ela girou para encará-lo. Estava vestida como uma operária, com calças marrons, uma camisa azul enrolada até os cotovelos e um lenço vermelho em volta do pescoço. Os cabelos castanho-escuros estavam presos em um rabo de cavalo, e o olhar penetrante vindo daqueles olhos fundos o manteve imóvel. Com lábios carnudos e traços delgados, ela possuía uma beleza impressionante.
Pânico brilhava nos olhos dela.
— Ajude-me. — ela cruzou o espaço entre eles. — Preciso de um lugar para me esconder.
Nate engoliu em seco.
Qualquer pessoa em fuga traria mais problemas consigo do que ele gostaria de lidar por uma vida. No entanto, assim que ela chegou ao balcão, a súplica naqueles olhos castanhos o balançou.
— Aqui. — ele disse, gesticulando para trás do balcão.
A prateleira de baixo era grande o suficiente para caber a cesta de lixo que ele havia colocado ali. Ele puxou a cesta e a colocou ao lado dele, onde trabalhava com a balança:
— Pode tentar se espremer.
Ela assentiu, o rabo de cavalo balançando com o movimento. A mulher se agachou e começou a se enfiar no espaço confinado, dobrando-se com surpreendente facilidade.
— Obrigada. — ela disse assim que se acomodou no espaço, embora a voz tenha saído abafada.
Nate passou os dedos pelos cabelos e soltou um suspiro. Ele saiu de casa para evitar problemas, mas desde o momento em que chegou em Islington, encontrava-os mais e mais. Como as primas sobreviveram por aqui o deixava perplexo. A balança oscilou quando ele pegou o saco de hortelã e voltou a se dedicar à tarefa, mesmo com o coração disparado a mil léguas por segundo.
Em que tipo de problema essa mulher se encontrava?
As figuras ameaçadoras, aglomerando-se em frente à sua porta, responderam à pergunta. Com base nas carrancas dos sujeitos, suas calças em mau estado e as armas pesando nos cintos, os aparatos de uma gangue.
Mais uma vez, sua pobre porta de vidro foi aberta, batendo contra a parede com uma reverberação que o fez estremecer. O maior dos três homens galopou na direção dele, os passos pesados audíveis pelo cômodo, fazendo as garrafas de vidro nas prateleiras chacoalharem. Nate teria que reorganizá-las.
O homem parou em frente ao balcão, os olhos escuros brilhando com ameaça intencional.
— Onde está a garota?
Capítulo Dois
Belle Griffiths não planejava fugir para salvar a própria vida hoje; mas descobriu, ao longo dos anos, que esse tipo de peripécia não costumava vir acompanhada de batidas educadas à porta ou leves cutucadas de dedo.
Trabalhar durante anos como a principal incendiária de Jack Blair significava colecionar inimigos como suas roupas colecionam buracos.
Tentar deixar a equipe dele?
Eu posso muito bem ter assinado minha sentença de morte.
Belle puxou os joelhos mais contra o peito, as paredes das prateleiras fechando-se em torno dela. Se fosse claustrofóbica, poderia ser um problema, contudo, os medos dela sempre envolveram alturas. O homem que ela assustou atrás do balcão trocava o peso entre os pés, fazendo uma tentativa de normalidade, apesar da interrupção dela. Ele estava perto o suficiente para ela ter um vislumbre dele, e do cheiro de bergamota e ervas.
O homem, esguio, usava um colete grosso cinza e uma camisa branca clara, os suspensórios combinando acentuados por um cinto preto. Os traços dele eram suaves, do queixo ao nariz, e os cabelos escuros e espessos estavam penteados para o lado. Tudo na aparência gritava limpeza.
Belle engoliu em seco e enterrou o queixo ainda mais nos joelhos. Culpa trovejou por ela, mas com o pânico agarrando-a pela garganta, ela não ousou se mexer. A porta se abriu, e ela ouviu o tom familiar de Leonard.
O dono da loja deslizou uma garrafa de vidro para ela e a girou.
Belle estendeu a mão e aceitou a garrafa.
Ele não provou, então talvez ele quisesse que ela derramasse o líquido. Era veneno? Algum tipo de gás para matá-la no local? Ela aproximou a garrafa de vidro para olhar o líquido ali, que parecia tinta.
— Que garota procura? — o sotaque polido e educado do homem deixou claro que ele não era daqui. — Algumas já passaram na loja hoje.
Belle agarrou a garrafa de vidro com um pouco mais de força. Ela esperava que ele começasse a suar no instante em que Leonard entrasse. Em vez disso, ele falou em um tom calmo e uniforme.
— Ela é franzina, de cabelos escuros e uma boca suja. — Leonard se aproximou o suficiente para que ela o ouvisse com clareza.
Suor formigava a testa dela. A qualquer segundo, ele poderia contornar o balcão e localizá-la, e ela estaria encurralada. Não havia para onde fugir.
O dono da loja pegou uma sacola de ervas esverdeadas secas e continuou a despejá-las na balança.
— Não vejo ninguém há algum tempo. Estou apenas trabalhando em um novo produto. Ela passou mais cedo?
— Nós a vimos correr para este lado. — Leonard rosnou. — Sem histórias para boi dormir. Se a está escondendo, ganhará a ira da gangue de Jack Blair, e ele não é um inimigo que queira fazer.
O coração de Belle batia tão forte que ela não conseguia ouvir mais nada. O ruído dos sapatos de Leonard fez soar um alarme interno nela. Ela cerrou os dentes e desarrolhou a garrafa de vidro antes de derramá-la. Ela se encolheu, esperando que o líquido espirrasse no chão, mas em vez disso, uma névoa escura se espalhou diante dela, obscurecendo até mesmo os próprios membros para a vista dela. O miasma agarrou-se à pequena área onde ela se escondia, como sombras trazidas à vida.
— Não sei o que dizer, senhor. — respondeu o lojista, sem se mover um centímetro. — Se acontecer de eu ver alguma fugitiva, a enviarei para você.
— Então, não se importará se eu olhar atrás do seu balcão? — Leonard perguntou.
Com base no barulho das botas dele, ele estava avançando. Belle agarrou os joelhos com mais força, sem fazer nenhum som.
— Fique à vontade. — o vendedor continuou, o tom suave e uniforme.
Ela controlou a respiração até que saísse mais silenciosa do que um sussurro. Nuvens negras ainda se agarravam a ela como uma teia, provocando uma leve cócega contra a pele.
Os passos pesados de Leonard soaram e, um segundo depois, ele apareceu atrás do balcão. O homem era tão feio quanto as monstruosidades aramadas de saias que desfilavam pela parte chique da cidade, os traços grandes demais para o rosto. Ele carregava consigo o fedor de cerveja rançosa e suor pegajoso, que inundou as narinas dela imediatamente.
Belle congelou no lugar.
O miasma preto era um truque barato, e o menor movimento ou som poderia alertá-lo. O ex-colega de gangue estava a centímetros dela e vasculhava ao redor.
— Está bem satisfeito? — o lojista perguntou com o mesmo tom entediado de antes. — Ou precisa verificar as gavetas também?
Leonard soltou um grunhido ao se agachar a trinta centímetros dela.
Ela fechou os olhos, incapaz de tolerar a chance de os olhares deles se encontrarem. Ela podia sentir a pressão do olhar dele ao examinar a área.
— Cuidado com o tom. — respondeu Leonard, antes de se levantar. — Uma só desavença com Jack Blair, e se verá sem esta lojinha bonita, isso se tiver sorte.
— Minhas desculpas, senhor. Não quis ofender. — continuou o vendedor com surpreendente firmeza. — Apenas não tenho como ajudá-lo em sua busca aqui.
Leonard soltou um suspiro pesado.
— Tudo bem, homens. — disse ele, os passos pesados batendo na direção da porta. — Vamos procurá-la na próxima loja.
Um farfalhar soou, seguido pelo barulho da saída deles. Belle prendeu a respiração até que a porta rangeu e fechou com um baque.
O ar escapava dos lábios em um fluxo constante, mas ela não ousou se mexer. A qualquer momento, Leonard poderia irromper de volta e localizá-la aqui, e ela não poderia se dar ao luxo de ser pega. Ela declarou a própria liberdade uma semana atrás, e desde então, mal teve um momento para si. Viu-se correndo por becos, evitando prédios abandonados, se escondendo em esgotos, qualquer coisa para escapar da gangue de Blair. Sua melhor oportunidade seria sair da cidade de barco, mas exigia uma grana que ela não possuía.
O vendedor não tentou falar com ela. Em vez disso, ele mexeu na bolsa e continuou o trabalho na balança, colocando mais algumas garrafas de vidro no balcão. O silêncio se espalhou, tornando o ar mais espesso a cada minuto que passava.
Belle deslizou os pés primeiro, estabelecendo as solas no chão. Ela pensou que o miasma poderia segui-la, mas a nuvem negra permaneceu no espaço onde ela o derramou. Ela se empurrou para fora do cubículo em que se amontoou. Belle se levantou e passou os braços acima da cabeça para esticar os músculos tensos. O vendedor ainda não olhara na direção dela.
Belle pigarreou. Enquanto crescia a tentação de fugir daquele lugar, ela devia ao menos expressar gratidão ao homem. Poucos teriam feito o que ele fez, oferecer refúgio e permanecer inabalável frente aos homens de Blair.
— Obrigada.
Ele se virou para ela e ofereceu a mão.
— Nate Whitfield. Prazer em conhecê-la.
Belle lutou com o sorriso que ameaçou surgir quando ela aceitou a mão e a apertou. A palma do homem era quente, os dedos delicados. Ela não notara como era atraente ao primeiro vislumbre, mas os cabelos escuros e espessos, o nariz inteligente e os olhos castanho-escuros que não podiam ser classificados como nada além de doces a fizeram o encarar. Era óbvio que ele não era daqui.
— Isobel Griffiths, embora possa me chamar de Belle. — ela respondeu, oferecendo um sorriso genuíno. — Lidou bem com os homens de Blair.
Nate deu de ombros, o cansaço pesando nos ombros.
— Minha loja já foi saqueada duas vezes desde que a abri há um mês. Se acontecer de novo, ficarei tentado a fechar e vagar para outro lugar.
— Gostaria de dizer que somos melhores do que isso, mas bem-vindo a Islington. — ela se encostou no balcão, os braços cruzados. — O que havia na garrafa que me entregou?
Ele franziu os lábios, antes de olhar para ela.
— Uma poção alquímica para se embrenhar em sombras. Não percebeu em que loja entrou?
Belle soltou um assobio baixo, girando uma mecha do rabo de cavalo.
— Um alquimista? Não temos muitos desses por aqui, e não, não estava prestando atenção, assim que os notei por perto, eu precisava desaparecer e rápido.
— Problemas com gangue? — ele perguntou, embora o olhar dele tenha vagado para o balcão.
Belle puxou o rabo de cavalo.
Deus, ela precisava aprender a ter um pouco de discrição se quisesse sobreviver. Hoje não era este dia.
— Digamos que ao tentar abandonar essa vida não se encontra muitos apoiadores.
Ele não respondeu, mas quando o olhar dele a percorreu, uma consciência despertou a pele dela para a vida com uma eletricidade que ela havia a muito descartado.
Belle mordeu o lábio e inclinou a cabeça em um aceno.
— Olha, posso ver que é um homem ocupado e peço desculpas por desperdiçar tanto do seu tempo. E sua poção. Se acontecer de estar por perto amanhã à noite, ficarei feliz em pagar uma bebida para você no Águia de Ferro, ou posso desaparecer nesse entardecer, e você pode esquecer que sequer entrei em sua loja.
Ela começou a caminhar para a porta, a mão pousou na maçaneta de metal frio.
— Uma pergunta. — Nate perguntou por trás.
Belle se virou para ele.
— Qual era o seu papel na gangue?
Não havia julgamento algum na voz dele, apenas curiosidade genuína.
Um sorriso agridoce puxou os lábios dela.
— Incendiária.
Com isso, ela abriu a porta e saiu para as ruas de Islington.
Capítulo Três
Nate ainda não se ajustara ao apartamento que adquirira no prédio residencial, cortesia de tia Eleanor. Ela foi morar em uma casa melhor com Theo e o genro, Silas, e Ellie também se mudou com o marido, Bernard. O que deixava um apartamento vazio, e quando ele chegou na cidade, parecia a oportunidade perfeita. O pequeno apartamento continha dois quartos do tamanho de um armário e um cômodo principal, algo pelo que ele deveria ser grato. No entanto, o conforto anterior era difícil de esquecer: os quartos espaçosos em mansões elegantes e extensos gramados verdes em todas as direções.
Antes de perder tudo, a herança familiar e a reputação.
Nate estava sentado na cozinha com a xícara fumegante de Earl Grey. Ele aceitaria qualquer paz e sossego que pudesse reivindicar. O Senhor sabia que não receberia nenhum nos corredores, ou mesmo nas primeiras horas da noite, quando gritos, berros e batidas ecoavam por este edifício. E após o surpreendente aparecimento e desaparecimento de Belle Griffiths ontem, ele precisava de algum tempo para contemplar.
Ele não se decidira se iria ao encontro dela no Águia de Ferro esta noite. Verdade seja dita, ele não conseguia parar de pensar na maneira tímida com que ela mordeu o lábio inferior, ou no brilho daqueles olhos castanhos profundos, como se muito mais borbulhasse sob a superfície. A mulher havia despertado a curiosidade dele, como se acendesse um fósforo, e fazia muito, muito tempo que ninguém chamava a atenção dele dessa maneira.
Um barulho soou na porta e, um segundo depois, ela se abriu. O aperto de Nate aumentou em torno da caneca de chá enquanto se preparava para jogar o líquido quente no intruso.
No momento em que Ellie Whitfield entrou pela porta, ele relaxou no lugar. Nate tomou outro gole do Earl Grey. Tanto por paz e sossego, as primas eram a antítese. Ellie usava um boné de jornaleiro e suspensórios, um brilho selvagem nos olhos e os cabelos pretos e espessos estavam presos em um rabo de cavalo baixo. A mulher caminhava com uma arrogância inegável onde quer que entrasse.
— Querido primo. — Ellie cantou ao agarrar a cadeira na frente dele e se afundar nela. — Eu esperava encontrar você aqui.
— Eu moro aqui. — ele murmurou, levantando uma sobrancelha. — Não é um palpite muito complicado.
— Cuidarei de você no caminho para a loja hoje. — ela disse, dando um sorriso fácil.
Ellie se recostou na cadeira, esticando os suspensórios com o movimento.
Nate não pôde evitar o sorriso pesaroso pela impudência da mulher. Era evidente que ela queria algo da loja dele e estava escolhendo o caminho indireto. Embora, verdade seja dita, Ellie e Theo encontravam desculpas para se juntar a ele no café-da-manhã ou passar por aqui sem avisar quase como se o par o estivesse verificando.
— Muito obrigado. — disse ele, levantando a caneca. — Sou péssimo em defesa pessoal.
Ellie deu um tapa no ombro dele, quase fazendo com que o líquido da xícara espirrasse na mesa.
— Não há nada do que se envergonhar. Qualquer pessoa que não tenha crescido por aqui teria problemas.
Nate terminou a xícara de chá antes que ela pudesse perturbá-lo mais e foi até a pia.
— Que tipo de poções está procurando?
Ellie colocou a mão no peito.
— Fico magoada, Nathaniel Whitfield, por acreditar que eu estaria aqui para fins tão egoístas e não para verificar o bem-estar de meu querido primo. — ele a encarou com um olhar penetrante, e ela sorriu. — No entanto, farei um pagamento generoso por um pouco do seu soro da verdade.
Os lábios dele se curvaram.
Há não muito tempo, Ellie havia começado a trabalhar nas sombras do submundo, mas Theo e tia Eleanor pareciam estar bem com os novos arranjos. Além disso, se ela estivesse envolvida mesmo em algo problemático, o marido detetive trocaria algumas palavras com ela.
E após morar aqui neste curto período, ele já percebeu que nem todo mundo imerso em uma vida de crime pertencia ao crime. Ele refletiu acerca do convite de Belle pelo menos uma centena de vezes na noite anterior, e ainda não decidira se queria ir ou não.
A mulher era perigo garantido, e ele atraía tanto para si sem ajuda, que não precisava dar boas-vindas a mais.
Ainda assim, ele não conseguia tirá-la da cabeça. Além das curvas suaves, feições delgadas e o tipo de atração que o mantinha atento, Belle Griffiths ofereceu um vislumbre de algo real além de sorrisos e bravatas.
— Ficará sonhando acordado até o torpor, ou vamos partir para o centro da cidade até o seu local de trabalho? — Ellie chamou, tirando-o de seus devaneios.
Nate se sacudiu para voltar ao presente, percebendo que os dedos estavam à deriva na caneca de porcelana na pia.
— Certo. Deixe-me pegar o casaco e vamos embora.
Ele pegou o casaco da cadeira e vestiu a peça de tecido grosso. Tal como acontece com vários de seus pertences, este casaco o lembrava da riqueza que ele uma vez teve nas mãos: da sociedade, do conforto e do status.
— Peça chique como se fosse ao encontro da nata, não? — Ellie comentou, demorando-se na porta.
— Creio que estou andando pelas ruas com proteção suficiente para justificar um casaco de qualidade. — Nate respondeu, dando um olhar aguçado.
Ellie encolheu os ombros, um sorriso eterno nos lábios.
— Quando estiver sozinho, pode ser melhor se misturar, querido primo.
— Levarei isso em consideração no dia em que você aprender a visitar de maneira normal, em vez de invadir o café-da-manhã de alguém. — Nate trancou a porta atrás de si, e juntos caminharam pelo corredor do prédio residencial.
— Sentiria falta das minhas visitas matinais. — Ellie insistiu, caminhando pelo corredor com uma familiaridade que ele ainda não havia assumido.
O fedor no lado de fora; de vômito, mofo e madeira podre, que formigava seu nariz e revirou seu estômago, aumentou. Ele se esquivou de algumas manchas questionáveis no carpete manchado, com os ombros retos. A qualquer momento, alguém pode cambalear para fora de um dos apartamentos, os punhos balançando.
Ele deveria ser grato a Ellie e Theo por cederem este lugar, que era tudo o que ele podia pagar. No entanto, o ressentimento pela vida que ele abandonou borbulhava nele como ácido sulfúrico, corroendo as entranhas com o tempo.
Eles saíram para as ruas, o que não oferecia um fedor muito melhor. O frio da manhã o deixou feliz por ter escolhido seu casaco mais grosso. Andar pelas ruas de Islington durante o dia não era nada como passear à noite. À noite, os bêbados faziam barulho, os batedores de carteira corriam soltos, e as gangues vagavam livres. De manhã, metade dos habitantes já havia pisado para trabalhar nas fábricas, enquanto os vagabundos restantes dormiam após noites turbulentas.
— O que sabe sobre o Águia de Ferro? — Nate perguntou, querendo um pouco mais de informação, antes de tomar a decisão sobre esta noite.
Ellie lançou um olhar curioso, embora a mulher estivesse atenta aos seus arredores o tempo todo.
— É seguro o suficiente para visitar após fechar a loja, se é o que está perguntando. O bar fica na próxima seção da cidade, e é frequentado pelos operários, não pelos ladrões.
Nate franziu os lábios. Se a mulher estava tentando evitar as gangues, a localização fazia sentido.
Passaram por um dos bares locais e algumas lojas abrindo para o dia. Ele não se preocupou em fazer amizades com os vizinhos ainda, mas supôs que deveria. Pelo menos, se as invasões à loja pudessem parar para ele ganhar tempo.
Eles dobraram a esquina para a rua onde ficava a loja. Os dedos já coçavam para começar a trabalhar em novas poções, diferentes tipos de transmutação para tentar vender aos rufiões por aqui. Se ele quisesse se envolver no submundo, seria muito fácil começar a fornecer às gangues as poções mais sombrias das quais ele se esquivava. O retorno financeiro seria muito maior do que ele conseguia agora, mas ele teria que vender a alma no processo. Não importa o quão longe ele tenha caído, ele não chegara a este nível de desespero. Ainda não.
Eles se aproximaram do empório, e ele sentiu o estômago revirar. A sensação foi confirmada no instante em que o olhar dele recaiu para a porta, uma fresta aberta.
Alguém invadira o local. Outra vez.
A náusea tomou conta dele, e ele deu um passo um pouco mais rápido. Ellie começou a correr, deixando escapar um xingamento baixo sob a respiração. Após a incursão de ontem, ele deveria ter previsto tal resultado. Afinal, James Blair e seus capangas não pareciam ser criminosos aleatórios, mas uma gangue organizada. Eles teriam um arrombador capaz de superar os mecanismos de segurança de Theo, e estariam bem acostumados a invadir instalações.
Quando ele deu um passo para a entrada, estremeceu.
As poções exibidas haviam sido espalhadas, algumas garrafas estavam quebradas no chão, o líquido escorrendo para a madeira dura. A balança estava inclinada para o lado, camomila e lavanda perdidas espalhadas pelo balcão dos fundos. As luminárias estavam quebradas, e a pequena escrivaninha no canto mostrava um grande amassado na superfície. Ele deixara a caixa registradora vazia, então pelo menos não puderam roubar o dinheiro, mas ainda assim. Substituir o estoque e consertar a loja demandaria tempo e dinheiro que ele não tinha.
Ele engoliu seco.
Ellie pisou forte pelo lugar, o olhar brilhando, e um fluxo constante de xingamentos voando de sua boca.
— Por que uma gangue viria atrás de você, Nate? — Ellie perguntou, o olhar fixo nele. — A fechadura que Theo instalou afastaria qualquer um de baixo escalão, e eu já bati vitrines o suficiente para reconhecer uma mensagem de gangue quando vejo uma.
Ele caminhou até o balcão, os passos instáveis enquanto ele se encostava nele para se manter de pé. Nate correu os dedos pelos cabelos como se alisando as mechas ele pudesse ter esperança de remontar sua loja.
— Ontem… — ele começou, antes que a enormidade da tarefa à sua frente brotasse como a maré alta. Nate fez uma pausa para se recompor antes de continuar. — Ofereci um esconderijo para uma garota em fuga. Eles não a encontraram aqui, mas talvez não os tenhamos enganado tanto quanto eu acreditava.
— De quem ela estava fugindo? — Ellie perguntou, a voz cortante. Se alguém conhecia as gangues da cidade, era a prima.
— Jack Blair. — respondeu Nate, flexionando a mão e fechando-a em punho, uma e outra e outra vez.
Quando ele olhou para cima, o queixo de Ellie estava caído.
— Ela é a razão para perguntar do Águia de Ferro? — Ellie perguntou, reavendo a compostura. Nate assentiu, e ela franziu a testa, um olhar severo no rosto. — Nate, quando Jack Blair o coloca na mira, ele não para. Sei disso por experiência própria.
Ele olhou para cima, incapaz de reprimir o desamparo que tomou conta dele. Tudo o que ele queria era recomeçar em paz e anonimato.