Kitabı oku: «Artesãos E Tecnomantes»
Table of Contents
Books by Katherine McIntyre
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Book Description
Dedicatória
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
More exciting books!
Sobre a Autora
Livros de Katherine McIntyre publicados pela Totally Bound Publishing
Tribal Spirits
The Whitfield Files
Os Arquivos Whitfield
ARTESÃOS E TECNOMANTES
KATHERINE MCINTYRE
Artesãos e Tecnomantes
ISBN # 978-1-80250-031-8
© Copyright Katherine McIntyre 2019
Arte Original de Capa por Erin Dameron-Hill ©Copyright março de 2019
Traduzido por Evelyn Torre 2021
Diagramação de texto interno original por Claire Siemaszkiewicz
Publicação Original por Totally Bound Publishing
imaginação do autor e não devem ser confundidos com fatos. Quaisquer semelhanças com pessoas, vivas ou mortas, eventos ou lugares é mera coincidência.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida em qualquer forma material, seja por impressão, fotocópia, digitalização ou de outra forma, sem a permissão por escrito da editora Totally Bound Publishing.
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A autora e a ilustradora reivindicaram seus respectivos direitos sob o Copyright Designs and Patents Acts 1988 (conforme emendado) para serem identificadas como autora deste livro e ilustradora da arte apresentada.
Publicado em 2021 pela Totally Bound Publishing, Reino Unido.
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Livro um da série Os Arquivos Whitfield
Quando a tecnomante Theo Whitfield une forças com o insuportável, e lindo, Silas Kylock para encontrar sua irmã desaparecida, as discussões acaloradas passam da irritação ao desejo…
Quando a irmã da tecnomante Theo Whitfield desaparece, ela é forçada a trabalhar ao lado de um idiota arrogante a quem despreza há muito tempo, o artesão Silas Kylock. Sua irmã Ellie roubou uma boneca de corda mecânica dele, e Theo precisa da ajuda dele para conseguir rastrear a mercadoria roubada e, por conseguinte, Ellie. No entanto, quanto mais tempo passam juntos, mais ela vê Silas como o homem que corria com ela pelas ruas de Islington e não o cavalheiro insuportável que ele se tornou.
Theo não é a única aflita. Silas nunca se esqueceu da mulher leal e teimosa cujo autocontrole ele nunca consegue deixar de cutucar, e à medida que a busca dos dois fica mais extrema, a dedicação dela à família o inspira a fazer sacrifícios próprios. Então, quando a caçada irrompe em um confronto mortal com as gangues de Islington, Theo e Silas não estão apenas arriscando seus corações: suas vidas estão em jogo.
Dedicatória
Para a comunidade maravilhosa e solidária do Universo Steampunk.
Capítulo Um
Theo Whitfield temia essa visita antes mesmo de entrar no prédio. Qualquer uma, de uma variedade de tarefas horríveis, parecia mais atraente do que a que ela enfrentava agora; fosse sugar nuvens nocivas de vapor preto enquanto consertava a ventilação de uma aeronave, ou pisando no esgoto e na lama do subsolo. Ora essa, ela até preferia devorar as tentativas carbonizadas de sua mãe no jantar, uma façanha que fazia até os estômagos mais calejados vacilarem.
No entanto, sua irmã Ellie não havia voltado para casa na noite anterior, e Theo precisava de respostas.
Ela engoliu em seco ao chegar na fachada, e apoiou os nós dos dedos na porta recém-pintada. A placa de bronze polido das Indústrias Kylock a encarava da saliência, e ela cerrou os dentes enquanto reunia coragem.
Autocarros a vapor chacoalhavam atrás dela enquanto corriam ao longo dos paralelepípedos, parte da agitação comum de Barnsbury. Cada um que passava provocava uma série de palavrões dos bandidos de rua que eram como ratos ao meio-dia e cheiravam a gim.
Ela agarrou a maçaneta e girou-a, entrando na loja.
As fracas lâmpadas a gás na entrada piscaram suas luzes amareladas na direção das tábuas manchadas do assoalho. Uma mulher sentada detrás de uma mesa de mogno, posicionada na frente de uma ampla sala de estar, se assustou ainda na cadeira, como se tivesse sido pega cochilando. Mesmo com a entrada elegante e polida da loja, os cheiros de ferro, aço e cobre faziam cócegas no nariz de Theo, faziam seus dedos coçarem. Para uma tecnomante como ela, as engenhocas criadas neste lugar eram abundantes para exploração.
— Como posso ajudá-la? — perguntou a atendente, alisando as saias antes de se levantar.
— Estou aqui para ver Silas. — Theo disse, deslizando as mãos nos bolsos das calças.
Ela não deixou de perceber a maneira como a mulher a olhou com fixação, demorando-se em seu traje chocante. Com seus longos cachos negros soltos e selvagens em vez de presos para trás, e a falta de um espartilho que lhe desse uma cintura irreal, Theo nunca seria confundida com uma dama. Embora o julgamento do populacho não importasse. Sendo uma tecnomante em uma cidade industrial, ela sempre, sempre encontraria emprego, quer seguisse as normas sociais ou não.
— O Sr. Kylock está ocupado. Gostaria de marcar um horário? — a mulher respondeu e forçou um sorriso.
Theo ergueu uma sobrancelha.
O todo-poderoso desgraçado está muito ocupado brincando com seus brinquedos para perder um segundo? Nem me surpreendo.
— Ele vai me ver agora. — ela exigiu, os dedos coçando ainda mais.
Sempre que seu temperamento rugia, o que acontecia com frequência, a magia tendia a se combinar a ele.
A atendente eriçou-se com sua demanda. Com base no brilho aguçado nos olhos da mulher quando abriu a boca, outra negação estava prestes a acontecer.
Uma caneta elegante, acoplada a uma máquina de escrever, estava em cima da mesa e trazia a marca dos artesãos de Kylock: um K com uma roda dentada ao redor. A peça sofisticada de tecnologia poderia imprimir diferentes fontes e caligrafia nas cartas e seria vendida por um alto preço em muitos salões de luxo. Serviria muito bem.
Theo ergueu a mão, e o anel condutor que ela usava quase vibrou com a magia em suas pontas do dedo. Filetes dele se condensaram no ar, como tufos de nuvens cumulus, à vontade dela. Ela impulsionou a energia com um girar de pulso, e os botões da máquina de escrever começaram a bater. A caneta baixou para o bloco de papel em branco.
— Posso colocar esta máquina em um frenesi em cerca de três segundos. — disse Theo. — Suponho que seus empregadores não apreciarão que tais equipamentos sofisticados sejam quebrados. Portanto, leve-me até Silas, agora.
A caneta se movia cada vez mais rápido, rabiscando com cada vez mais fúria a cada teclada que ela dava de longe. Condensação preencheu o ar com a efusão de magia, como o vapor que saía da maquinaria da cidade. Os olhos da mulher se arregalaram, e ela ergueu as mãos em defesa.
— Pare, pare! — ela cuspiu, o medo estampado em sua pele pálida. — Vou levá-la até a oficina dele.
Theo era de uma natureza rara o suficiente para que, quando ela encontrava pessoas normais na rua, respeito ou medo se tornavam uma reação normal. Afinal, nem todos possuíam a habilidade de manipular a mecânica com magia.
A mulher a conduziu em meio aos adornos extravagantes da sala, das estantes cheias de tomos encadernados em couro à mesa e cadeiras de mogno ao lado de um armário exibindo copos de cristal e decantadores de licor fino. Este não era um lugar destinado a rufiões como ela.
Os passos de Theo ecoaram pelo corredor, as botas de sola grossa feitas para pisadas fortes, ao contrário do clique silencioso dos saltos da mulher que a guiava para uma porta dupla no final do corredor principal. Seus cachos soltos faziam cócegas no pescoço, irritando-a o suficiente para tirá-los do caminho antes que parasse na frente das portas da oficina. Sua própria agitação ameaçou borbulhar assim que ela pisou dentro daquele cômodo. A atendente se inclinou e inseriu uma sequência numérica. Uma série de zumbidos e cliques se seguiram até que a fechadura se abriu.
— Pode ir. — disse Theo, desviando das anáguas da mulher para agarrar a maçaneta. — Tenho certeza de que posso me guiar daqui. — para dar ênfase extra, ela balançou os dedos na direção da atendente, o que teve o efeito desejado de fazê-la correr.
Se senhoras e cavalheiros a tratavam como uma aberração, ela poderia muito bem colher os benefícios.
A porta emitiu um sussurro enquanto ela a abria e entrava em meio ao vapor que beijava suas bochechas e metal em chamas que fazia cócegas em seu nariz. Éter de cor de absinto borbulhava em tubos que alinhados na sala. A fonte de energia não apenas servia como combustível, mas também lançava raios de luz para aumentar a fraca oscilação que as projeções escuras ofereciam. Uma grande bancada de trabalho ocupava toda a parede dos fundos, e cada centímetro de superfície da monstruosidade estava coberto de projetos.
O tique-taque dos relógios ecoava pelo lugar, vindo de pelo menos seis fontes diferentes, e rolos de plantas e desenhos cobriam, por completo, prateleiras das três estantes que se elevavam ao longo da parede direita. Engrenagens, pias, polidores e brocas estavam espalhados, metade no chão, metade na mesa, sem ordem específica. Em meio ao caos da sala, um homem debruçado sobre a mesa de trabalho, mergulhado no pescoço em seu último projeto.
— Silas, sei onde está o seu autômato perdido. — Theo gritou, a voz ecoando pela sala.
Os ombros do homem ficaram tensos, e ele baixou tudo em que estava mexendo antes de girar em seu banco para encará-la. Seus cabelos de cor vermelho-ferrugem brilhavam com a enorme quantidade de vapor que bombeava pela sala, e ele ergueu os óculos com as lentes de aumento para colocá-los sobre a cabeça. Sorriu ao encontrar o olhar dela, a quantidade de arrogância em seus olhos castanhos escuros fazendo o temperamento dela chegar ao ponto de ebulição. O homem era bonito demais para o seu próprio bem, mas Theo se recusava a ser influenciada.
— Bem, bem, o que eu fiz para uma das garotas Whitfield me fazer uma visita? — ele ergueu uma sobrancelha grossa, o arco elegante deixando seus traços definidos mais perfeitos. — A última vez que a vi, querida Theo, seu empregador solicitou minha consulta sobre uma situação porque você se recusava a admitir sua total falta de conhecimento sobre o assunto.
Os dedos dela se fecharam em punhos. Os dois cresceram em Islington, até mesmo se metendo em brigas nas ruas na adolescência, mas à medida que envelheceram, ele se tornou cada vez mais insuportável. Após tornar-se um Artesão de Ofício, e ela encontrar trabalho como Tecnomante, uma faz-tudo, seus caminhos continuaram a se cruzar, uma e outra vez. Infelizmente, dar um soco na cara dele bem em seu local de trabalho faria com que seu pagamento fosse reduzido, e ela precisava de cada centavo para os tratamentos da mãe.
— Quer falar de total falta de conhecimento? — ela gritou. — Onde está o último modelo de sua linha de criadas mecânicas?
Os olhos dele brilharam de irritação. Ele se encostou na mesa de trabalho e cruzou os braços sobre o peito, era um dos poucos que não temia a espécie dela.
— Em que confusão a sua irmã se meteu dessa vez?
Theo se irritou.
Embora ele estivesse certo, das duas garotas Whitfield, ela era a certinha enquanto a irmã começara a roubar com uma naturalidade que preocupava mamãe até não poder mais. Ela não gostou do deboche no tom dele.
— Quer recuperar o autômato que ela roubou ou não? — ela perguntou, pronta para sair daquela sala infernal ocupada pelo homem que se tornou um pesadelo em sua vida profissional, bem como irritante a nível pessoal.
— Você a trará de volta aqui esta noite, ou darei o nome de sua irmã ao comissário. — ele respondeu, mantendo os olhares nivelados.
Apesar da firmeza na voz dele, sombras rastejaram sob seus olhos e a barba de três dias que cobria seu queixo implicava que o desaparecimento lhe causou mais problemas do que ele jamais admitiria. Ele mexeu em uma de suas abotoaduras, o movimento constante traindo seus nervos.
— Esse é o problema. — Theo engoliu em seco, um buraco se formando em seu estômago. — Ela desapareceu antes mesmo de fazer a entrega da sua criada mecânica.
A batida parou.
— Então, veio até mim por quê? — Silas perguntou, a voz cortante.
A maneira faminta com que ele a olhava sugeria que ela estava pisando em terreno perigoso.
No entanto, Theodosia Whitfield adquiriu o hábito de pisar em territórios delicados.
— Porque eu posso pegar seu autômato de volta, entregá-lo sem ninguém saber o que houve. Apenas preciso da sua ajuda. Para ser mais específica, preciso de sucata do material que usou para o criar, assim poderei rastreá-lo. — ela ergueu o queixo e olhou para ele.
Ele pode ser mais alto e ter desenvolvido mais músculos do que o necessário por trabalhar muito com forja, mas ela lançava um gancho de direita dos bons e conhecia os pontos fracos dele. Se chegassem a uma luta, ela ainda apostaria nela mesma.
— O que recebo em troca? — ele perguntou, um sorriso irritante voltando ao rosto. — Porque eu tenho as plantas, sempre posso fazer uma nova. No entanto, você só tem uma irmã.
Theo deu um suspiro, sem se preocupar em esconder a irritação.
— Você teria a satisfação de ser um homem decente pela primeira vez.
Silas bufou.
— Isso não é, nem de longe, uma troca. Ofereça-me algo que valha a pena.
Theo não deixou de notar a maneira como os olhos dele se demoraram nela, ou o calor queimando neles.
Ele pode ser um homem mais bonito do que a média, com o tipo de corpo como o de um ferreiro, que faz a maioria das mulheres cair em sua cama — e muitas caíram —, mas ele tinha a personalidade de um nabo em conserva.
Theo pousou as mãos nos quadris enquanto o olhava, recusando-se a aceitar a implicação flagrante que ele colocava por trás de suas palavras. Ela deveria tirar a expressão presunçosa daquele rosto e apenas roubar a sucata, danem-se as consequências.
— Um favor. — ela disse, por fim. — Dentro da minha capacidade profissional. — ela enfatizou a palavra profissional para dissipar quaisquer ideias que ele pudesse estar desenvolvendo.
Quanto mais cedo ela pudesse adquirir a sucata e dar o fora de lá, melhor. Pelo que sabia, a irmã podia estar sangrando em um beco.
Silas bateu na lateral do queixo como se estivesse meditando sobre a proposta, como se já não tivesse tomado a decisão.
— Embora um favor seu possa ser útil, subcontratamos muitos tecnomantes. Não vou entregar minha sucata e apenas esperar que você traga nosso autômato. Vou negociar um favor seu, se eu for junto nessa busca por sua irmã.
As sobrancelhas de Theo baixaram ante o brilho. Passar mais tempo perto de Silas Kylock não era apenas perigoso para sua saúde, mas a aproximava cada vez mais do risco de ser presa por homicídio.
Exceto que ele possuía o item exato de que ela precisava para rastrear Ellie. E não importava em que encrenca sua irmãzinha tivesse se metido dessa vez, Theo faria qualquer coisa por aquela garota.
Ela deu um suspiro.
— Tudo bem. Encontre-me, em uma hora, na minha casa com a sucata. Também pode limpar o resto de sua agenda por hoje. Não sei quanto tempo isso vai demorar.
As palavras gotejavam com um escárnio que ela não se incomodou em mascarar. Os Kylock haviam ganhado alguns xelins entre os contatos comerciais de seu pai e os consertos de Silas, mas, como ela, eram o lixo da sarjeta de Islington. Rufiões do fundo do poço não se encaixavam entre as pessoas elegantes e pretensiosas, por mais que os Kylock tentassem fingir o contrário.
— Trato feito. — ele respondeu, puxando as luvas grossas de trabalho que usava e jogou-as no chão.
Ele se levantou do banco com um rangido e cruzou a distância entre eles até ficarem a poucos centímetros de distância. As mãos de Theo não se moveram de seus quadris embora o olhasse com as costas grudadas à porta. Com quase dois metros de altura, ele se elevava quase trinta centímetros acima dela, mas ela nunca o havia considerado intimidador.
Silas estendeu a mão entre eles para um aperto. Ela ofereceu a sua, e o calor emanou da palma calejada dele quando selaram o acordo. Tão perto, ela podia sentir o cheiro de cobre, terra e âmbar, uma infusão que fez sua mente girar. Theo percebeu que o aperto de mão durou segundos a mais quando um sorriso malicioso curvou o lábio superior de Silas. Ela puxou a mão de volta.
— É capaz de encontrar a saída? — ele perguntou, sem se mover um centímetro, apesar da proximidade entre eles.
— Sou bastante capaz, obrigada. — ela retrucou, girando para as portas duplas.
Atrás dela, ela ouviu o barulho de passos e o barulho de peças de metal de uma miríade de ferramentas sendo movidas na mesa.
Theo Whitfield continuou marchando para frente. Mesmo que fosse obrigada a trabalhar com o maior e mais desagradável puxa-saco deste lado da cidade, Ellie estava vagando por aí e precisava da ajuda dela.
Theo não a decepcionaria.
Capítulo Dois
Silas ajeitou a mochila no ombro enquanto colocava a mão no bolso em que estava seu canivete. Sabia que não devia andar por essas ruas desprotegido. Espreitadores esperavam em cada beco, procurando destituir os transeuntes de qualquer moeda que aparecesse. Havia trocado de roupas, escolhido um traje condizente com a tarefa à frente: calças surradas, um velho par de suspensórios e uma camisa de botões, outrora branca. Estas poderiam ser ruas familiares, mas ele não sentia falta de discutir com os meninos locais acerca da única chance de comer durante a noite.
Theo Whitfield havia chegado como a brisa, e os problemas a seguiram. Se uma mulher podia arrastá-lo aos meandros da fossa em que ele cresceu, era ela. Ele não conseguia evitar incitar a mulher, mesmo que pela oportunidade de ter um vislumbre daquela esperteza afiada.
Ellie e Theo Whitfield eram o tipo de beldades que faziam os homens pararem e olharem. Ambas tinham a mesma pele cor de canela e os cabelos pretos e brilhantes, sempre soltos e livres, ao contrário das senhoras normais. E desde que Theo ingressou no mercado de trabalho, as calças e o chapéu que ela usava faziam com que cavalheiros como o pai dele fofocassem mais que matronas de igreja.
Silas passou a mão pelos cabelos acobreados, os fios ainda emaranhados nas laterais devido às hastes dos óculos. Ele arrastava as botas pelos paralelepípedos irregulares e passou pelo boticário vazio, que há muito se transformara em teias de aranha e sombras. Nesse trecho da cidade, os cheiros de urina e gim pairavam no ar, pesados. Misturavam-se com o odor adocicado que emanava de algumas das casas abandonadas transformadas em antros de ópio.
À frente, os cortiços se estendiam, edifícios de tijolos que haviam visto anos melhores. As janelas sem painéis brilhavam para ele como dentes abertos, entradas abertas, as portas balançando com a brisa. Nenhuma parte dele queria voltar para sua antiga casa, mas aqui estava ele enquanto as memórias desabavam como um maremoto.
Silas torceu o nariz ao entrar, e suas botas afundaram no carpete mofado que se estendia de uma ponta à outra do corredor. O papel de parede descascara, e o fedor de cola velha havia se infiltrado no ar viciado do local mal ventilado. Ele passou anos em seu apartamento de um cômodo mexendo em qualquer espaço que pudesse reivindicar, coletando engrenagens sobressalentes que encontrava no lixo e dissecando os autômatos esmagados que ele roubava das lixeiras.
No dia em que seu pai teve sorte em um negócio, tudo mudou. As Indústrias Kylock surgiram e, desde então, sua família vinha fazendo todo o possível para se desprender da sarjeta.
Silas acelerou o passo ao longo do corredor, em direção à terceira porta, um apartamento de que ele se lembrava bem. Ele ergueu os nós dos dedos até a porta e bateu.
A porta se abriu com um rangido, e Theo apareceu, impedindo-o de entrar. Seus cabelos pretos e brilhantes caiam nas costas, e ela usava uma roupa semelhante à dele. As calças destacavam a curva dos quadris, e um botão aberto revelava um indício de decote. Ela franziu os lábios, mantendo a mão na porta, mesmo enquanto ele espiava por ela. Com base no movimento de queixo e na maneira como ela desviou o olhar, ele precisava fazer suposições, ela estava envergonhada com o estado de miséria.
Não que devesse estar… eu cresci aqui também.
— Volto logo, mãe. — Theo gritou e fechou a porta, bloqueando a visão dele.
— Não está pensando em me convidar para uma xícara de chá? — ele perguntou, um sorriso se aprofundando no rosto.
Sempre que ela o encarava com muita seriedade, ele não conseguia evitar a provocação. Ele a provocava mil e uma vezes e, em alguns desses casos, foi bem idiota, mas ele preferia as palavras ásperas a desinteresse, era indiscutível.
— Como se você tivesse tanta sorte. — disse ela, descendo o corredor sem olhar para trás.
Os quadris iam de um lado a outro conforme ela descia com graça natural pelo corredor. Ele se arrastou atrás dela, o barulho das botas no carpete nojento fazendo sua pele coçar.
— Tem certeza de que não mudou de ideia? — Theo perguntou quando alcançou a porta. — Tudo seria muito mais fácil se apenas me entregasse as peças, e eu poderia começar a trabalhar. Sabe que não estamos indo a um passeio no parque. Não quero que suje essas mãos brancas como lírio.
Silas parou na frente dela, à porta, e colocou a mão na maçaneta. Ele levantou a outra na frente dela.
— Estas? Estão cobertas de todos os tipos de sujeira, calejadas além do recuperável.
Tão perto, ela se concentrou nele com a intensidade que entregava a tudo, e ele sentiu o cheiro forte de ferro e o doce aroma de lírios. O olhar dela se demorou percorrendo o comprimento dele de uma forma que atiçava o interesse dele.
Theo passou por ele para empurrar a porta, quebrando qualquer ilusão de que ela pudesse olhar para ele com algo diferente de ódio.
— A menos que você seja hábil com uma arma, não tenho uso para essas mãos. — disse ela, assumindo a liderança pelas ruas de paralelepípedos de Islington.
Alguns sujeitos vadeando pela calçada ergueram as facas e deram vários passos para se aproximar, até avistarem Theo. A gangue congelou quando ela tirou a pistola Derringer modificada do coldre de couro em sua cintura.
Ela soprou um beijo para os homens antes de dizer:
— Estaria morto antes de dar o próximo passo.
Silas passou a mão pelos cabelos, incapaz de esconder a admiração. Theo Whitfield comandava essas ruas como naquela época, porém, no passado, ele nunca admitiria o quanto a respeitava. Nunca o faria. As Indústrias Kylock tinham um futuro, e eles não.
— Parece que não vou precisar seguir o caminho usual de devolver insultos para evitar o perigo. Só vai se pavonear e mostrar os punhos. — gritou ele, acelerando o passo para alcançá-la.
Não era como se ele não pudesse lidar com a situação sozinho. Ele mantinha ao menos cinco facas escondidas pelo corpo, bem como uma granada de corda. Até mesmo carregava algumas das bombas de éter para situações mais extremas.
— Precisamos de um local fora da vista do público para eu poder realizar o rastreamento. — disse Theo, com o queixo erguido enquanto se concentrava em uma faixa de casas antigas mais adiante que haviam sido abandonadas.
Silas enfiou os polegares nos bolsos das calças e assumiu a liderança, imaginando que ela gostaria de acampar em uma dessas cabanas de pesadelo. Por mais que preferisse voltar a trabalhar em seu projeto atual, ele precisava rastrear o protótipo da criada mecânica. Ele foi cheio de bravatas para cima de Theo quando ela apareceu para negociar. Verdade seja dita, ele usou um de seus núcleos de diamante no modelo, embora as normais funcionassem com quartzo. O núcleo sozinho valia mais do que o preço de todo o autômato, o que Ellie Whitfield não poderia saber quando o roubou.
E se ele não encontrasse o núcleo, seu pai teria mais um motivo para apertar as rédeas de sua liberdade. Qualquer esperança de ganhar o suficiente para romper com os negócios da família seria frustrada, e ele acabaria em dívida para sempre com as Indústrias Kylock.
— Sabe mostrar aos outros como se divertir. — disse ele ao entrarem na loja mais próxima, por uma porta que quase caiu ao ser aberta. — Tem algum outro lugar que frequenta, ou este é especial?
Theo olhou de soslaio para ele, a mão dela vagando com perigo perto de sua pistola.— Se não vai ajudar, pelo menos me poupe do som da sua tagarelice.
Ele sorriu, passando por algumas tábuas quebradas do chão no que parecia ter sido uma sala de estar quando o local era uma moradia. Uma luz rançosa era filtrada pelas janelas quebradas, mas as sombras envolviam o resto do lugar. Com base nas marcas retangulares no piso de madeira, móveis já compuseram a decoração, mas os ladrões devem ter feito uma festa na residência assim que foi abandonada. Além do farfalhar silencioso dos passos deles, nenhum outro som se seguiu. Nem os gemidos dos viciados, os murmúrios de invasores ou quaisquer outros sinais de que alguém habitava este lugar.
Theo deu um passo mais para dentro do cômodo principal da casa, parando no meio, onde só restava poeira.
— Entregue a sucata. Vamos encontrar esse seu autômato. — disse ela, gesticulando para que ele avançasse com a brusquidão de um chicote.
Silas deixou a mochila escorregar do ombro e cair no chão. Ele se agachou antes de pegar os pedaços de cobre que havia escondido. Quando esticou o metal para entregá-lo, ela havia aberto um mapa. O papel fez barulho quando ela o esticou no chão empoeirado, enviando partículas ao redor. Precisou admitir, por mais que a criticasse por seu desempenho de má qualidade, ele nunca a vira praticar tecnomancia de perto. Durante os projetos em que o trabalho de ambos chegou a se cruzar, ele entregava o produto e a deixava com seus dispositivos. No entanto, ela desenvolveu uma grande reputação entre a comunidade de artesãos devido à sua habilidade.
Theo se agachou na frente do mapa de Londres, direcionando o foco intenso para as marcações intrincadas. Em uma das mãos, ela agarrava os quadrados de cobre que haviam sobrado da criada mecânica, aqueles com sua marca pessoal de artesão. Ela pressionou os outros dedos no mapa à sua frente e fechou os olhos. O anel condutor ao redor do dedo dela começou a brilhar, os metais brilhavam como se estivessem sendo derretidos em uma forja. O fogo-fátuo se juntou no ar devido à condensação pesada como resultado da magia que ela invocava, e ele quase podia sentir o gosto do resíduo oleoso.
Alguns tecnomantes eram grandes potências, lançando suas habilidades com a sutileza de uma bola de demolição. Theo empregava uma abordagem diferente, a elegância e economia de seus movimentos mantendo-o fascinado.
As pontas dos dedos dela patinaram pela superfície do mapa como se fossem compelidas. Ela não apenas balançou um pêndulo sobre a superfície e apontou para um ponto. Não. Sua magia dirigiu seus dedos por uma rua, depois outra, seguindo um caminho e padrão bastante específicos por toda Londres. O anel condutor começou a zumbir em torno do dedo, emanando poder enquanto ela canalizava tais habilidades para encontrar a máquina perdida. Rajadas de vapor percorriam a sala como um subproduto.
Os olhos dela permaneceram fechados enquanto as pontas dos dedos corriam pelo papel, percorrendo uma trilha predeterminada. Aqueles lábios lilases pressionados pela concentração, e seus longos cílios escuros em plena exibição contra a pele canela. A rendição absoluta em seu rosto enquanto canalizava a magia inerente era o tipo de beleza que ele nunca seria capaz de tirar da cabeça. Silas deveria ter deixado que fizesse a busca sozinha. Ele sabia que não devia ficar perto de Theo, a presença dela mexia com sua cabeça.
— Pronto. — disse ela, quebrando o silêncio que se instalara na sala destruída. O dedo indicador dela pousado em um ponto de Camden Town. — O autômato deve estar nesse local.
Silas se inclinou com uma caneta em mãos e marcou o local no mapa.
— E o que sua irmã pode estar fazendo na cidade vizinha? Os espreitadores com quem ela anda ficam perto das fronteiras de Islington.
A expressão séria de Theo cintilou por um instante enquanto uma vulnerabilidade brilhava nas profundezas de seus olhos cor de chocolate. — Não sei. Nos últimos dois anos em que trabalhou com eles, só fez trabalhos em Islington. As gangues são muito territoriais.
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