Kitabı oku: «A Ascensão dos Dragões », sayfa 3
Ele faz um gesto para seus homens e eles andam na direção ao javali, se preparando para agarrá-lo.
Assim que eles se aproximam, Anvin de repente dá um passo adiante, com Vidar ao seu lado, e bloqueia o caminho deles.
Um silêncio atônito cai sobre a multidão – ninguém jamais havia confrontado os homens do Lorde; como se houvesse uma regra não escrita. Ninguém propositalmente provocava a ira de Pandésia.
"Ninguém lhe ofereceu um presente, que eu tenha visto," ele diz, sua voz firme como o aço, "ou ao Lorde Governador."
A multidão engrossa, centenas de moradores se reúnem para assistir o tenso impasse, sentindo que um confronto está prestes a acontecer. Ao mesmo tempo, outros recuam, abrindo espaço em torno dos dois homens, à medida que a tensão no ar se intensifica.
Kyra sente seu coração batendo acelerado. Inconscientemente, ela apertou a mão em torno de seu arco, sabendo que a situação está ficando séria. Por mais que ela queria uma briga, queria sua liberdade, ela também sabe que seu povo não pode dar-se ao luxo de incitar a ira do Lorde Governador; mesmo se por algum milagre eles o derrotarem, o Império Pandesiano os defenderia. Eles poderiam convocar divisões de homens tão vastas quanto o oceano.
No entanto, ao mesmo tempo, Kyra se sente orgulhosa de Anvin por defender seu povo. Finalmente, alguém o tinha feito.
O soldado olha com raiva, encarando Anvin.
"Você se atreve a desafiar o seu Lorde Governador?" ele pergunta.
Anvin se mantém firme.
"Esse javali é nosso, ninguém está dando ele pra vocês" afirma Anvin.
"Ele era seu," o soldado o corrige, "e agora ele nos pertence." Ele se vira para os seus homens. "Peguem o javali", ele ordena.
Os homens do Governador se aproximam e uma dúzia dos homens de seu pai dá um passo adiante, oferecendo apoio para Anvin e Vidar, que bloqueiam o caminho dos homens do Governador com as mãos em suas armas.
A tensão aumenta, e Kyra aperta seu arco até que as juntas de seus dedos ficam brancas, sentindo-se mal, como se de alguma forma ela fosse responsável por tudo aquilo, já que ela havia matado o javali. Ela sente que algo muito ruim está prestes a acontecer, e ela amaldiçoa seus irmãos por trazer o animal de volta para a sua aldeia, especialmente durante a Lua de Inverno. Coisas estranhas sempre acontecem nos feriados, épocas místicas em que os mortos são capazes de passar de um mundo para o outro. Por que seus irmãos tinham de provocar os espíritos desta forma?
Enquanto os homens se enfrentam, e os homens de seu pai se preparam para sacar suas espadas, prestes a começarem o derramamento de sangue, uma voz autoritária de repente corta o ar, atravessando o silêncio.
"A caça pertence à garota!" diz a voz.
É uma voz forte, cheia de confiança, uma voz que chama a atenção, e que Kyra admira e respeita mais do que qualquer outra coisa no mundo: a voz de seu pai, o Comandante Duncan.
Todos os olhos se voltam para seu pai, que se aproxima à medida que a multidão abre caminho, dando-lhe amplo espaço para passagem em sinal de respeito. Lá está ele, grande como uma montanha, duas vezes mais alto que os outros homens, com os ombros duas vezes mais largos, uma barba castanha indomada e cabelos castanhos compridos com mechas cinza, vestindo peles sobre os ombros e com duas longas espadas em seu cinto e uma lança em suas costas. Sua armadura, na cor negra de Volis, tem um dragão esculpido em seu peitoral, o símbolo de sua casa. Suas armas apresentam riscos e arranhões de batalhas anteriores e ele sua imagem projeta toda a sua experiência. Ele é um homem a ser temido, um homem a ser admirado, um homem que todos sabiam ser justo e correto. Um homem amado e, acima de tudo, respeitado.
"O animal pertence à Kyra," ele repete, olhando com desaprovação para os irmãos dela e, em seguida, voltando-se e olhando para Kyra, ignorando os homens do Governador. "Ela deve decidir o seu destino."
Kyra fica chocada com as palavras de seu pai. Ela não esperava por isso, não esperava que ele fosse colocar a responsabilidade em suas mãos, deixando para ela uma decisão tão importante. Pois não se trata apenas da decisão sobre o javali, ambos sabem, mas do destino de seu próprio povo.
Soldados tensos se alinham em ambos os lados, todos com as mãos sobre suas espadas, e quando ela olha para seus rostos, todos olhando para ela e aguardando sua resposta, ela sabe que sua escolha, – suas próximas palavras, seriam as mais importantes ela já havia pronunciado.
CAPÍTULO QUATRO
Merk caminha lentamente pela trilha na floresta, abrindo caminho através da Floresta Branca e refletindo sobre sua vida. Seus quarenta anos tinham sido duros; ele nunca tinha tido a oportunidade de caminhar através de uma floresta, admirando a beleza ao seu redor. Ele olha para as folhas brancas sendo esmagadas sob seus pés, ouvindo o som de seu cajado batendo no chão macio da floresta; ele olha para cima enquanto caminha, admirando a beleza das árvores de Esopo, com suas resplendorosas folhas brancas e brilhantes galhos vermelhos, brilhando sob sol da manhã. As folhas caem, derramando sobre ele como neve, e pela primeira vez em sua vida, ele sente uma sensação real de paz.
De tamanho e altura medianos, com cabelos castanhos escuros, a barba perpetuamente por fazer, uma grande mandíbula, maçãs do rosto proeminentes, e grandes olhos negros com enormes olheiras, Merk sempre aparentava não ter dormido há dias. E é exatamente assim que ele se geralmente se sentia. Exceto agora. Agora, finalmente, ele se sente descansado. Ali, em Ur, no lado noroeste de Escalon, não há neve. A brisa temperada do oceano, apenas um dia de viagem a oeste, lhe oferece um clima mais quente e permite que folhas de todas as cores floresçam. O clima também permite que Merk faça sua peregrinação vestindo apenas um manto, sem a necessidade de se esconder dos ventos congelantes, como as pessoas fazem em grande parte de Escalon. Ele ainda está se acostumando com a idéia de usar um casaco em vez de armadura, de empunhar um cajado em vez de uma espada, de tocar as folhas com o seu cajado, em vez de perfurar seus inimigos com um punhal. É tudo novo para ele. Ele está tentando ver como se sentiria ao se tornar a nova pessoa que ele tanto deseja ser. É tranquilo, mas estranho, como se ele estivesse fingindo ser alguém que não é.
Pois Merk não é um viajante, ou um monge – ou um homem pacífico. Ele ainda é, no fundo de seu ser, um guerreiro. E não apenas qualquer guerreiro; ele é um homem que luta segundo suas próprias regras, e que nunca havia perdido uma batalha. Ele é um homem que não tem medo de levar suas batalhas das pistas de justas para os becos atrás das tabernas que ele adora frequentar. Ele é o que algumas pessoas gostam de chamar de mercenário. Um assassino, uma espada contratada. Há muitos nomes para ele, alguns até menos lisonjeiros, mas Merk não se importa com rótulos, ou sobre o que as outras pessoas pensam. Tudo o que lhe importa é que ele é um dos melhores.
Merk, como se para se ajustar ao seu papel, tinha usado muitos nomes, alterando-o segundo seu próprio capricho. Ele não gosta do nome que seu pai havia lhe dado – na verdade, ele também não gostava de seu pai, – e não estava disposto a passar o resto de sua vida carregando um nome que lhe tinha sido imposto. Merk é o nome que ele usa com mais frequência, e ele gosta do nome, por ora. Ele não importa com o nome que as pessoas usam para chamá-lo. Ele se preocupa apenas com duas coisas na vida: encontrar o local perfeito para a ponta de sua adaga, e que seus empregadores o paguem com ouro recém cunhado – e em grande quantidade.
Merk havia descoberto em tenra idade que ele tinha um dom natural, que era superior a todos os outros no que conseguia fazer. Seus irmãos, assim como seu pai e todos os seus antepassados famosos, são cavaleiros orgulhosos e nobres, que usam as melhores armaduras, empunham as melhores armas, e desfilam em seus cavalos agitando suas bandeiras com cabelos esvoaçantes, acostumados a ganhar competições enquanto mulheres jogam flores aos seus pés. Eles não poderiam se sentir mais orgulhosos de si mesmos.
Merk, porém, odeia a pompa, detesta ser o centro das atenções. Aqueles cavaleiros lhe parecem desajeitados ao matar, muito ineficientes, e Merk não tem qualquer respeito por eles. Ele também não precisa do reconhecimento, das insígnias ou bandeiras e brasões pelos quais os cavaleiros tanto anseiam. Isso é para pessoas que não possuem o que mais importa: a habilidade de tirar a vida de um homem, rapidamente, em silêncio, e de forma eficiente. Em sua mente, não há mais nada a discutir.
Quando ele era jovem e seus amigos, muito pequenos para se defenderem, tinham sofrido nas mãos de valentões, eles o procuravam, pois suas habilidades com a espada já eram conhecidas, e ele aceitava um pagamento para defendê-los. Seus agressores nunca mais os atormentavam, pois Merk se certificava disso. As notícias de suas proezas haviam se espalhado rapidamente, e à medida que Merk aceitava pagamentos com mais e mais freqüência, suas habilidades progrediam.
Merk poderia ter se tornado um cavaleiro, um guerreiro famoso como seus irmãos. Mas ele preferia trabalhar nas sombras. Vencer é o que lhe interessa; com sua eficiência letal, ele havia descoberto rapidamente que cavaleiros, por mais belas que fossem suas armas e armaduras, não poderiam matar com metade da velocidade e eficiência dele, um homem solitário com uma camisa de couro e um punhal afiado.
Enquanto caminha, cutucando as folhas com o seu cajado, ele se lembra de uma noite em uma taverna com seus irmãos, quando espadas tinham sido empunhadas contra alguns cavaleiros rivais. Seus irmãos tinham sido cercados, em menor número, e enquanto todos os cavaleiros assistiam com cerimônia, Merk não havia hesitado. Ele correu por todo o beco com sua adaga e cortou todas as suas gargantas antes que os homens pudessem reagir.
Seus irmãos deveriam ter lhe agradecido por salvar suas vidas, mas em vez disso, todos se distanciaram dele. Eles o temiam, e olhavam para ele com desdém. Essa é a gratidão que ele havia recebido, e a dor da traição tinha afetado Merk mais do que ele era capaz de dizer. O ocorrido havia aprofundado ainda mais a divisão entre ele e seus irmãos, e toda a nobreza. Eles são todos hipócritas e autosservientes em seus olhos; com suas armaduras brilhantes e desdém, se não fosse por ele e sua adaga todos eles estariam mortos no beco até hoje.
Merk caminha sem parar, suspirando, e tentando se liberar do passado. Enquanto ele reflete, Merk percebe que realmente não compreendia a origem do seu talento. Talvez fosse porque ele era muito rápido e ágil; talvez porque ele era rápido com as mãos e os pulsos; talvez fosse porque ele tinha um talento especial para encontrar os pontos vitais dos homens; ou talvez fosse porque ele nunca hesitava em dar o último passo, um impulso final que outros homens temiam; talvez fosse porque ele nunca tinha que atacar duas vezes; ou porque ele sabia como improvisar, e era capaz de matar com qualquer ferramenta à sua disposição – uma pena, um martelo, um tronco velho. Ele é mais habilidoso que outros, mais adaptável e mais rápido em seus pés – uma combinação mortal.
Enquanto Merk crescia, todos aqueles cavaleiros orgulhosos tinham se distanciado dele, e até zombado dele por trás (ninguém zombaria dele abertamente). Mas agora, quando eles estão mais velhos, e seus poderes começam a diminuir enquanto a fama dele se espalha, ele é o único alistado por reis, enquanto todos eles são esquecidos. Porque o que seus irmãos jamais entenderiam é que o cavalheirismo não transforma homens em reis. É a violência brutal, o medo primitivo, a total eliminação de seus inimigos, um de cada vez, a matança horrível que ninguém está disposto a fazer, que tornava um homem um rei. E é ele a quem os reis recorriam quando tinham um verdadeiro serviço real a ser feito.
Com cada toque do seu cajado, Merk se lembra de cada uma de suas vítimas. Ele tinha matado os piores inimigos do rei – não com veneno – para isso, eles costumavam usar assassinos mesquinhos, boticários e mulheres sedutoras. Para os piores inimigos, muitas vezes os reis desejavam mandar algum recado, e para isso, eles precisavam dele. Algo horrível, algo público: um punhal no olho; um corpo exibido em uma praça pública, pendurado em uma janela, para que todos possam ver com o nascer do sol, para que todos vejam o que espera aqueles que ousavam se opor ao rei.
Quando o velho rei Tarnis havia rendido o reino, abrindo as portas para Pandésia, Merk havia se sentido vazio, sem propósito, pela primeira vez em sua vida. Sem um rei a quem servir, ele sentia à deriva. Algo que há muito tempo existia dentro dele, e por algum motivo que ele não compreendia, ele havia começado a se perguntar sobre a vida. Durante toda sua vida ele tinha sido obcecado com a morte, com a matança, em tirar a vida das pessoas. Isso havia se tornado fácil – fácil até demais. Mas agora, algo dentro dele está mudando; é como se ele mal pudesse sentir o chão estável sob seus pés. Ele sempre soube, em primeira mão, como a vida era frágil, a facilidade com que pode ela podia lhe ser tirada, mas agora ele começa a se perguntar sobre como preservá-la. A vida é tão frágil, preservá-la não seria um desafio maior do que tirá-la?
E, apesar de si mesmo, ele começa a se perguntar: o que era essa coisa que ele estava arrancando dos outros?
Merk não sabe o que tinha causado aquela autorreflexão, mas ela o deixa profundamente desconfortável. Algo tinha surgido dentro dele, uma grande náusea, e ele havia se sentido cansado de matar, e tinha desenvolvido um sentimento de repulsa por aquilo de que tanto gostava. Ele gostaria de ser capaz de indicar algo que pudesse ter ocasionado essa mudança – o assassinato de uma pessoa em particular, talvez, mas ele não consegue. A sensação tinha simplesmente tomado conta dele, sem qualquer motivo aparente. E isso o perturba mais que tudo.
Ao contrário de outros mercenários, Merk só aceitava causas em que acreditava. Foi apenas mais tarde na vida, quando ele havia se tornado bom no que fazia, quando os pagamentos se tornaram muito grandes, as pessoas que o contratavam demasiado importantes, que ele tinha começado a misturar as coisas, aceitando pagamento para matar pessoas que não eram necessariamente culpadas – e algumas até eram inocentes. E é o que o está incomodando.
Merk tinha desenvolvido uma paixão igualmente forte por desfazer tudo o que ele tinha feito, para provar aos outros que ele poderia mudar. Ele queria acabar com seu passado, consertar todos os erros que havia cometido no passado, para fazer penitência. Ele havia feito um voto solene para si mesmo de nunca mais voltar a matar; nunca mais levantar um dedo contra ninguém; passar o resto de seus dias pedindo perdão a Deus, dedicando-se a ajudar os outros e se tornar uma pessoa melhor. E isso o tinha levado até aquela trilha na floresta, ouvindo o clique de seu cajado no chão.
Merk vê a trilha na floresta subir um pouco à frente, e em seguida desaparecer, brilhando com folhas brancas, e ele procura no horizonte pela Torre de Ur mais uma vez. Ainda não há sinal dela. Ele sabe que, eventualmente, o caminho o levaria até lá, em uma peregrinação que havia chamado por ele há meses. Desde quando ainda era um menino, ele se interessava pelos contos dos Vigilantes, a ordem secreta de monges / cavaleiros, parte homens e parte alguma outra coisa, cujo trabalho era residir nas duas torres – a Torre de Ur, a noroeste e da Torre de Kos a sudeste – para vigiar a relíquia mais preciosa do Reino: a Espada de Fogo. Era a Espada de Fogo, dizia a lenda, que mantinha as Chamas acesas. Ninguém sabia ao certo em qual torre ela estava guardada, um segredo muito bem guardado conhecido por ninguém, exceto os Vigilantes mais antigos. Se ela fosse movida, ou roubada, as chamas seriam perdida para sempre e Escalon ficaria vulnerável a ataques.
Dizia-se que vigiar as torres era uma vocação, um dever sagrado e honroso – se os Vigilantes o aceitassem. Merk sempre havia sonhado com os Vigilantes enquanto criança, indo para a cama à noite se perguntando como seria juntar-se às suas fileiras. Ele quer se perder na solidão, no serviço, na autorreflexão, e sabe que não há maneira melhor do que se tornar um Vigilante. Merk se sente pronto. Ele havia descartado sua cota de malha de couro, trocando sua espada por um cajado e, pela primeira vez em sua vida, ele tinha passado uma lua inteira sem matar ou ferir uma alma. Ele está começando a se sentir melhor.
Quando Merk alcança o topo de uma pequena colina, ele olha pra frente esperançoso, como já fazia há dias, que aquele pico pudesse revelar a Torre de Ur em algum lugar no horizonte. Mas não há nada para ser visto – nada, exceto mais floresta, chegando até onde seus olhos podem ver. No entanto, ele sabe que está chegando perto – depois de tantos dias de caminhada, a torre não poderia estar muito mais longe.
Merk continua descendo a trilha e a floresta se torna mais densa, até que lá embaixo, ele chega a uma enorme árvore derrubada bloqueando o caminho. Ele para e olha para ela, admirado com o seu tamanho e se perguntando como faria para contorná-la.
"Eu diria que você já foi longe o suficiente," diz uma voz sinistra.
Merk reconhece o mal naquela voz imediatamente, algo em que ele havia se tornado especialista, e nem sequer precisa se virar para saber o que está por vir. Ele ouve as folhas sendo esmagadas em torno dele, e de dentro da floresta surgem rostos para combinar com a voz: assassinos, cada um mais desesperado do que o outro. São os rostos dos homens que mataram sem motivo. Os rostos de ladrões e assassinos comuns que atacavam os fracos com violência aleatória e sem sentido. Aos olhos de Merk, eles eram os mais baixos dos baixos.
Merk vê que ele está cercado e sabe que ele tinha caído em uma armadilha. Ele olha a sua volta rapidamente, sem deixar que eles percebam, deixando seus velhos instintos agirem, e consegue contar oito deles. Todos eles seguram punhais, vestidos com trapos, com rostos, mãos e unhas sujos e a barba por fazer, todos com um olhar desesperado que mostra que não eles não comem nada há vários dias. E que eles estão entediados.
Merk fica tenso quando o líder dos ladrões se aproxima, não porque ele o teme; Merk poderia matá-lo – poderia matá-los em um piscar de olhos, se assim desejasse. O que o deixa tenso é a possibilidade de ser forçado a praticar um ato de violência. Ele está determinado a manter seu voto, custe o que custar.
"E o que temos aqui?" Pergunta um deles, aproximando-se, rodeando Merk.
"Parece que um monge," diz outro, em tom de zombaria. "Mas essas botas não combinam."
"Talvez ele seja um monge que pensa que é um soldado," fala outro.
Todos eles caem na gargalhada, e um deles, um idiota de um homem na casa dos quarenta anos com um dente da frente faltando, inclina-se com seu mau hálito e cutuca Merk no ombro. O velho Merk teria matado o homem que ousasse chegar tão perto.
Mas o novo Merk está determinado a ser um homem melhor, a se elevar acima da violência, mesmo que ela pareça persegui-lo. Ele fecha os olhos e respira fundo, obrigando-se a manter a calma.
Não recorra à violência, ele diz a si mesmo uma e outra vez.
"O que é este monge está fazendo?" Pergunta um deles. "Orando?"
Todos caem na gargalhada novamente.
"Seu Deus não vai te salvar agora, garoto!" Exclama outro.
Merk abre os olhos e olha para o cretino.
"Eu não quero machucá-lo" ele diz calmamente.
As risadas ficam ainda mais altas do que antes, e Merk percebe que ficar calmo e não reagir com violência é a coisa mais difícil que ele já tinha feito.
"Sorte para nós, então!" Responde um deles.
Eles riem de novo, então todos ficam em silêncio enquanto o líder se adianta e para diante de Merk.
"Mas talvez," ele fala com a voz grave, tão perto que Merk pode sentir seu mau hálito, "nós queremos machucá-lo."
Um homem se aproxima por trás Merk, passa um braço em torno de sua garganta, e começa a apertar. Merk engasga quando começa a ser sufocado, o aperto é forte o suficiente para causar dor, mas não para cortar todo seu ar. Seu reflexo imediato é esticar o braço e matar o homem. Seria fácil; ele conhece o ponto de pressão perfeito no antebraço para fazer com que o bandido o solte. Mas ele se obriga a não fazer nada.
Deixe-os passar, ele repete para si mesmo. O caminho para a humildade deve começar em algum lugar.
Merk enfrenta o líder.
"Peguem o que desejarem," diz Merk, ofegante. "Peguem o que quiserem e sigam o seu caminho."
"E se nós pegarmos o que quisermos e quisermos continuar aqui?" O líder responde.
"Ninguém está perguntando o que podemos ou não podemos fazer, garoto,” diz outro.
Um deles se adianta e pega os itens na cintura de Merk, vasculhando seus bolsos com mãos gananciosas à procura dos poucos pertences que ele ainda possui. Merk se obriga a manter a calma enquanto aquelas mãos vasculham os seus pertences. Finalmente, eles extraem sua adaga revestida de prata, sua arma favorita e Merk, ainda assim e por mais doloroso que seja, não reage.
Deixe, ele diz para si mesmo.
"O que é isso?" Pergunta um dos bandidos. "Uma adaga?"
Ele olha para Merk.
"O quê um monge extravagante como você está fazendo com um punhal?" Pergunta um deles.
"O que você está fazendo, menino, esculpindo árvores?" Pergunta outro.
Todos riem, e Merk range os dentes, se perguntando quanto mais ele poderia suportar.
O homem que havia tirado a adaga dele para, olha para o pulso de Merk, e puxa a manga de sua túnica para cima. Merk se prepara, sabendo que eles haviam encontrado.
"O que é isso?" Pergunta o ladrão, segurando seu pulso para examiná-lo.
"Parece que é uma raposa," um deles responde.
"O que é um monge fazendo com uma tatuagem de uma raposa?" Pergunta outro.
Outro homem dá um passo à frente, um homem ruivo, alto e magro, que agarra seu pulso e o examina de perto. Ele solta o braço de Merk e olha para eles com um olhar cauteloso.
“Isso não é raposa, seu idiota," ele fala para seus homens. "É um lobo. É a marca dos homens do rei – ele é um mercenário."
Merk sente seu rosto corar quando ele percebe que eles estão olhando para sua tatuagem. Ele não queria ser descoberto.
Os ladrões permanecem em silêncio, olhando para ele e, pela primeira vez, Merk sente a hesitação em seus rostos.
"Essa é a ordem dos assassinos," um deles fala, em seguida, olha para ele. "Como você conseguiu essa marca, menino?"
"Provavelmente ele mesmo a fez," um dos bandidos responde. "A marca deixa a estrada mais segura."
O líder acenou para seu homem, que solta a garganta de Merk, que respira fundo, aliviado. Mas o líder então estende o braço e segura a faca na garganta dele, e Merk se pergunta se iria morrer ali, hoje, naquele lugar. Ele se pergunta se aquele seria sua punição por toda a matança que tinha feito. E se pergunta se ele está pronto para morrer.
"Responda a pergunta," o líder dispara. "Você fez isso em si mesmo, rapaz? Dizem que é preciso matar uma centena de homens para conseguir essa marca."
Merk respira e, durante o longo silêncio que se segue, reflete sobre o que dizer. Finalmente, ele suspira.
"Mil," ele fala.
O líder continua olhando para ele, confuso.
"O quê?" ele pergunta.
"Mil homens," explica Merk. "É então que você recebe a tatuagem. Ela me foi dada pelo próprio Rei Tarnis."
Todos olham para ele, chocados, e um longo silêncio cai sobre a floresta, que fica tão silenciosa que Merk pode ouvir o barulho dos insetos. Ele se pergunta o que aconteceria em seguida.
Um deles dá um riso histérico e todos os outros o seguem. Eles riem enquanto Merk fica ali, claramente pensando que aquilo é a coisa mais engraçada que já tinham ouvido.
"Essa é boa, rapaz," diz um deles. "Você é tão bom mentiroso quanto você é um monge."
O líder empurra o punhal contra sua garganta, com força suficiente para começar a tirar sangue.
"Eu lhe disse para responder a pergunta," o líder repete. "Diga a verdade. Você quer morrer agora, rapaz?"
Merk fica ali, sentindo a dor, e considera a pergunta – ele realmente pensa em sua resposta. Será que ele quer morrer? É uma boa pergunta, uma pergunta ainda mais profunda do que o ladrão supunha. Enquanto pensa sobre isso, realmente considerando como responder, ele percebe que uma parte dele quer morrer. Ele está cansado da vida, cansado de tudo aquilo.
Mas, ao continuar pensando, Merk em última análise percebe que não está pronto para morrer. Não agora, não hoje. Não quando ele está pronto para começar de novo. Não quando ele está apenas começando a aproveitar a vida. Ele quer uma chance de mudar. Ele quer uma chance para servir na Torre, e se tornar um Vigilante.
"Não, na verdade não quero," Merk responde.
Ele finalmente olha diretamente nos olhos de seu captor, sentindo uma vontade crescente dentro dele.
"E por causa disso," ele continua, "eu vou lhe dar uma chance para me soltar, antes que eu mate todos vocês."
Todos olham para ele em choque e silêncio, até que o líder faz uma careta e começa a partir para a ação.
Merk sente a lâmina começar a cortar sua garganta, e algo dentro dele o força a agir. É o seu lado profissional, algo que ele havia treinado durante toda a sua vida, uma parte dele que ele não consegue mais controlar. Aquilo significaria quebrar seu voto, mas ele não se importa mais com isso.
O velho Merk assume o controle rapidamente, como se nunca tivesse sido abandonado – e em um piscar de olhos, Merk se vê mais uma vez no modo assassino.
Merk se concentra e consegue enxergar todos os movimentos de seus oponentes, cada contração, cada ponto de pressão, cada vulnerabilidade. O desejo de matá-los toma conta dele, como um velho amigo, e Merk permite que ele assuma o controle de suas ações.
Em um movimento extremamente rápido, Merk agarra o pulso do líder, enfiando o seu dedo em um ponto de pressão, e torce o braço dele até ouvir um estalo; em seguida, ele pega a adaga quando ela cai e com outro movimento rápido, corta a garganta do homem de orelha a orelha.
O líder olha para ele com um olhar espantado antes de cair ao chão, morto.
Merk se vira e olha para os outros, que o encaram atordoados.
Agora é a vez de Merk sorrir, e ele olha para todos eles, saboreando o que está prestes a acontecer.
"Às vezes, meninos," ele diz, "vocês escolhem o homem errado para importunar."