Kitabı oku: «A Ascensão dos Dragões », sayfa 6
CAPÍTULO SETE
Kyra está sentada no quarto de seu pai, uma pequena sala de pedra nos andares superiores de seu forte, com tetos cônicos altos e uma lareira de mármore maciço, enegrecida após anos de uso, e ambos encaram o silêncio sombrio. Eles estão sentados em lados opostos, cada um em uma pilha de peles, olhando para as toras que queimam na lareira.
A mente de Kyra ainda processa a notícia enquanto ela acaricia a pele do Leo, amontoado aos seus pés, e ainda é difícil acreditar que tudo aquilo é verdade. A mudança tinha finalmente chegado a Escalon, e ela tem a sensação de aquele é o dia em que sua vida havia terminado. Ela olha para as chamas, perguntando-se qual motivo ainda tinha para viver se Pandésia iria levá-la para longe de sua família, de seu forte, e de tudo o que ela conhece e ama para casá-la com o grotesco Lorde Governador. Ela preferiria morrer.
Kyra geralmente encontra conforto em estar ali, naquele quarto, onde ela passava incontáveis horas lendo, perdendo-se em contos de honra e às vezes, de lendas – contos que ela nunca sabia se eram verdade ou fantasia. Seu pai gostava de folhear seus livros antigos e lê-los em voz alta, frequentemente até as primeiras horas da manhã, crônicas de outra época, de um lugar diferente. Acima de tudo, Kyra adorava as histórias de guerreiros, das grandes batalhas. Leo estava sempre aos seus pés e Aidan se juntava a eles; muitas vezes, em mais de um amanhecer, Kyra tinha voltado com os olhos turvos para seu quarto, – embebedada pelas histórias. Ela gosta de ler ainda mais do que ela aprecia as armas, e quando ela olha para as paredes dos aposentos de seu pai, forradas com estantes de livros, cheias de pergaminhos e volumes encadernados em couro passados de geração em geração, ela gostaria de poder se perder neles agora.
Mas olhar para o rosto sério de seu pai a traz de volta para sua terrível realidade. Esta não é uma noite para a leitura. Ela nunca tinha visto seu pai tão perturbado, em tamanho conflito, como se pela primeira vez ele não tivesse certeza qual decisão tomar. O pai dela, ela sabe, é um homem orgulhoso – todos os seus homens são – e nos dias em que Escalon ainda tinha um rei, uma capital, uma corte – todos eles teriam dado suas vidas pela liberdade. Seu pai não é o tipo de homem a se render, ou disposto a negociar. Mas o antigo rei os tinha deixado à própria sorte, oferecendo a rendição em seu nome, deixando todos eles deixaram naquela terrível situação. Como, um exército disperso fragmentado, eles não poderiam lutar contra um inimigo já infiltrado em seu meio.
"Teria sido melhor ter sido derrotado naquele dia no campo de batalha," seu pai fala com a voz pesada, "ter enfrentado Pandésia nobremente e perdido. A rendição do antigo rei foi uma derrota qualquer maneira, apenas mais lenta, e cruel. Dia após dia, ano após ano, liberdade após liberdade nos é tirada, fazendo de todos nós um pouco menos homens."
Kyra sabe que ele está certo; mas também consegue compreender a decisão do rei Tarnis: Pandésia dominava metade do mundo. Com seu vasto exército de escravos, eles poderiam ter devastado Escalon até não sobrar nada. Eles nunca teriam recuado, não importa quantos milhões de homens fossem necessários. Pelo menos agora Escalon continua intacta, o seu povo vivo – se é que isso poderia ser chamado de vida.
"Para eles, isso não é somente sobre levarem nossas meninas," continua seu pai, o seu discurso pontuado pelo fogo crepitante. "Isto diz respeito ao o poder. É subjugação. Eles querem esmagar o que ainda resta de nossas almas."
Seu pai olha para as chamas, e ela pode ver que ele está vendo o seu passado e seu futuro de uma só vez. Kyra ora para que ele olhe para ela e diga que havia chegado o momento de lutar, de defender aquilo em que todos eles acreditam e oferecer resistência, e que ele nunca deixaria que a levassem.
Mas em vez disso, para sua crescente decepção e raiva, ele se senta em silêncio, olhando, meditando, sem lhe oferecer as garantias que ela precisa. Ela não tem ideia sobre o que ele está pensando, especialmente depois de seu argumento anterior.
"Eu me lembro da época em que eu servia o rei," diz ele lentamente, sua voz profunda acalmando-a como sempre, "quando toda a terra era uma só voz. Escalon era invencível. Tínhamos apenas que defender as Chamas para conter os trolls e o Portão Sul para conter Pandésia. Éramos um povo livre durante séculos, e é assim que deveríamos continuar."
Ele fica em silêncio por um longo tempo, o fogo ardendo, e Kyra espera impacientemente que ele termine, acariciando a cabeça de Leo.
"Se Tarnis nos tivesse ordenado a defender o portão," continua ele, "nós o teríamos defendido até o último homem. Todos nós morreríamos com prazer por nossa liberdade. Mas uma manhã todos nós acordamos para descobrir nossas terras já ocupadas," ele diz, arregalando os olhos em agonia, como se revivendo tudo novamente diante de seus olhos.
"Eu sei de tudo isso," Kyra lembra impaciente, cansada de ouvir a mesma história.
Ele se vira para ela, seus olhos transmitindo a sensação de derrota.
"Quando o seu próprio rei desiste," ele pergunta: "quando o inimigo já está entre nós, que motivo nos resta para lutar?"
Kyra se irrita.
"Talvez reis nem sempre mereçam o título," ela comenta, não tendo mais paciência. "Reis são apenas homens, afinal, e homens cometem erros. Talvez, às vezes, o caminho mais honroso seja desafiar o seu rei. "
Seu pai suspira, olhando para o fogo, sem realmente ouvi-la.
"Nós, aqui em Volis, vivemos bem em comparação com o resto de Escalon. Eles nos permitem manter armas – armas de verdade – ao contrário dos outros, que são despojados de todo aço sob pena de morte. Eles nos permitem treinar, nos dando a ilusão de liberdade, apenas o suficiente para nos manter complacentes. Você sabe por que fazem isso?" Ele pergunta, olhando para ela.
"Porque você era o maior cavaleiro do Rei," ela responde. "Porque eles desejam dar-lhe honras condizentes com a sua posição."
Ele balança a cabeça.
"Não," responde ele. "É apenas porque eles precisam de nós. Eles precisam que Volis defenda as Chamas. Nós somos tudo que resta entre Marda e eles. Pandésia teme Marda mais do que nós. É só porque nós somos os Guardiões. Eles patrulham as Chamas com seus próprios homens, seus próprios recrutas, mas nenhum deles é tão vigilante quanto nós."
Kyra pensa sobre isso.
"Eu sempre achei que estávamos acima de tudo, acima do alcance de Pandésia. Mas esta noite," ele diz gravemente, voltando-se para ela, "percebi que não é verdade. Esta notícia… Eu estava esperando por algo do tipo há anos. Eu não percebi a passagem do tempo. E, apesar de todos esses anos de preparação, agora que ele chegou… não há nada que eu possa fazer."
Ele abaixa a cabeça e ela olha para ele, chocada, sentindo a indignação brotar dentro dela.
"Você está dizendo que vai deixar que eles me levem?" ela pergunta. "Você está dizendo que não pretende lutar por mim?"
Sua expressão se torna sombria.
"Você é jovem," ele fala irritado, "ingênua. Você não entende como o mundo funciona. Você olha para esta luta – e não considera o reino. Se eu lutar por você, se os meus homens lutarem por você, podemos ganhar uma batalha. Mas eles vão voltar, não com uma centena de homens, ou mil, ou dez mil – mas com um mar de homens. Se eu lutar por você, estarei condenando todo o meu povo à morte."
Suas palavras cortam o coração dela como uma faca, deixando Kyra tremendo por dentro, não apenas pelas palavras, mas pelo desespero atrás delas. Uma parte dela quer sair dali, nauseada, decepcionada com aquele homem que ela um dia ela havia idolatrado. Ela sente vontade de chorar por dentro pela sensação de traição.
Ela se levanta, trêmula, e se dirige a ele.
"Você," ela dispara, "você, o maior lutador da nossa terra – com medo de proteger a honra de sua própria filha?"
Ela vê seu rosto corar, humilhado.
"Cuidado com o que diz," ele alerta ameaçadoramente.
Mas Kyra não pretende recuar.
"Eu te odeio!" Ela grita.
Agora é a vez dele de ficar em pé.
"Você quer que todos os nossos homens morram?" Ele grita de volta. "Tudo pela sua honra?"
Kyra não se contém. Pela primeira vez em muito tempo, ela explode em lágrimas, profundamente ferida pela falta de preocupação de seu pai em relação ao seu bem estar.
Ele se aproxima para consolá-la, mas ela abaixa a cabeça e se afasta, chorando. Então ela rapidamente se controla e se vira, enxugando suas lágrimas enquanto olha para o fogo com os olhos marejados.
"Kyra", ele diz suavemente.
Ela olha para ele e vê que seus olhos também estão lacrimejando.
"É claro que eu lutaria por você," ele declara. "Eu lutaria por você até meu coração parar de bater. Eu, e todos os meus homens, morreríamos por você. Na guerra que se seguiria, você também morreria. É isso que você quer?"
"E a minha escravidão?" Ela rebate. "É isso que você quer?"
Kyra sabe que está sendo egoísta, que está se colocando em primeiro lugar, o que não é a sua natureza. É claro que ela não permitiria que todo seu povo morresse em seu nome. Mas ela gostaria de ouvir seu pai dizer as palavras: Eu vou lutar por você. Quaisquer que sejam as consequências. Você vem em primeiro lugar. Você importa mais.
Mas ele permanece em silêncio, e seu silêncio a magoa mais do que qualquer coisa.
"Eu vou lutar por você!" diz uma voz.
Kyra se vira, surpresa ao ver Aidan entrar no quarto segurando uma pequena lança, tentando parecer valente.
"O que você está fazendo aqui?" Seu pai retruca. "Eu estou falando com sua irmã."
"E eu ouvi tudo!" Aidan afirma, marchando para dentro do quarto, enquanto Leo corre até ele para lambê-lo.
Kyra não consegue deixar de sorrir. Aidan e ela compartilham o mesmo traço de rebeldia, mesmo que ele seja muito jovem e muito pequeno para que sua vontade corresponda a sua força.
"Vou lutar pela minha irmã!" continua ele. "Mesmo contra todos os trolls de Marda!"
Ela se aproxima dele o abraça, beijando sua testa.
Ela, então, enxuga suas lágrimas e olha para seu pai com um olhar sombrio. Ela precisa de uma resposta; ela precisa ouvir a verdade da boca dele.
"Eu não sou mais importante para você do que seus homens?" Ela pergunta para ele.
Ele olha para ela com os olhos cheios de dor.
"Você é mais importante para mim do que o mundo," ele responde. "Mas eu não sou apenas um pai – eu sou um comandante. Meus homens são minha responsabilidade também. Você não consegue entender isso? "
Ela franze a testa.
"E onde fica o limite disso, papai? Quando, exatamente, seu povo passa a importar mais do que a sua família? Se o rapto de sua única filha não é esse limite, então o que será? Estou certa de que, se fosse um de seus filhos, você iria para a guerra. "
Ele faz uma careta.
"Não é nada disso," ele retruca.
"E não é?" Ela responde determinada. "Porque é que a vida de um menino vale mais do que a de uma menina?"
Seu pai se irrita, ofegante, e solta seu colete, mais agitado do que ela já o tinha visto.
"Não há outra saída," ele finalmente diz.
Ela olha para trás, intrigada.
"Amanhã," ele diz lentamente, sua voz assumindo um tom de autoridade, como se estivesse falando com seus vereadores, "você deve escolher um garoto. Qualquer menino que você goste entre o nosso povo. Você deve se casar antes do entardecer. Quando os homens do Governador chegarem, você vai se casar. Intocável. Você ficará em segurança, aqui conosco."
Kyra olha para ele, horrorizada.
"Você realmente espera que eu me case com um rapaz estranho?" ela pergunta. "Que eu simplesmente escolha uma pessoa, assim? Alguém que eu não ame?"
"Você vai!" seu pai grita, seu rosto vermelho, igualmente determinado. "Se sua mãe estivesse viva, ela providenciaria isso, ela teria lidado com isso há muito tempo, antes que chegássemos a este ponto. Mas ela não está. Você não é um guerreiro, você é uma garota, garotas se casam. E isso é o fim da discussão. Se você não tiver escolhido um marido no final do dia, eu escolherei um para você e o assunto está encerrado!"
Kyra continua olhando para seu pai, revoltada, enfurecida, mas acima de tudo, decepcionada.
"Então é assim que o grande comandante Duncan vence suas batalhas?" Ela pergunta, querendo magoá-lo. "Encontrando brechas na lei para se esconder de seus agressores?"
Kyra não espera por uma resposta, dando-lhe as costas e saindo do quarto com Leo em seus calcanhares, batendo a porta de carvalho atrás dela ao sair.
"KYRA!" seu pai grita, mas a batida da porta abafa sua voz.
Kyra anda pelo corredor, sentindo todo o seu mundo se desmoronando, como se ela já não estivesse caminhando em terreno firme. Ela percebe, a cada passo, que não poderia mais ficar ali, pois sua presença colocaria todos eles em risco. E isso é algo que não pode permitir.
Kyra não consegue entender as palavras de seu pai. Ela nunca, jamais se casaria com alguém que ela não ama. Ela nunca desistiria ou concordaria em viver uma vida doméstica como todas as outras mulheres. Ela prefere morrer a ter que fazer isso. Será que ele não sabe disso? Será que ele não conhece sua própria filha?
Kyra para em seu quarto, calça suas botas de inverno e veste suas peles mais quentes; então ela pega seu arco e cajado e continua andando.
"KYRA!" A voz irada de seu pai ecoa de algum lugar no corredor.
Ela não quer lhe dar a chance de alcançá-la. Ela continua sua caminhada, atravessando corredor após corredor, determinada a nunca mais voltar a ver Volis. O que quer que a espere lá fora, no mundo real, ela pretende enfrentá-lo de frente. Ela pode morrer, e sabe disso, mas, pelo menos, essa seria sua escolha. Pelo menos ela não viveria de acordo com os planos de outra pessoa.
Kyra chegou às portas principais do forte, acompanhada por Leo, e os servos, parados embaixo das tochas quase extintas, olham para ela intrigados.
"Minha senhora," um deles fala. "É tarde. A tempestade está se intensificando. "
Mas Kyra continua ali, determinada, até que eles finalmente percebem que ela não pretende desistir. Eles trocam um olhar inseguro, e então estendem os braços e lentamente abrem a porta pesada.
Assim que eles abrem a porta, um vento gélido assopra o rosto de Kyra, trazendo com ele flocos de neve. Ela se cobre ainda mais com as peles ao olhar para o chão e ver que a neve se acumula até a altura de suas canelas.
Kyra sai, sabendo que é inseguro viajar à noite, com os bosques cheios de criaturas, criminosos experientes, e às vezes trolls. Especialmente naquela noite, a Lua de Inverno, a única noite do ano em que todos deviam ficar dentro de casa e barrar as portas a noite, uma noite em que os mortos atravessam para este mundo e tudo pode acontecer. Kyra olha para cima e vê a grande lua cor de sangue pendurada no horizonte, como se estivesse chamando por ela.
Kyra respira fundo e dá o primeiro passo, sem olhar para trás, pronta para enfrentar qualquer coisa que a noite quisesse lhe oferecer.
CAPÍTULO OITO
Alec se senta na forja de seu pai com a grande bigorna de ferro diante dele, bem marcada após tantos anos de uso, ergue o martelo e bate no aço brilhante e quente de uma espada recém-retirada das chamas. Ele transpira, frustrado, enquanto ele tenta forjar sua fúria. Tendo acabado de chegar ao seu décimo sexto aniversário, mais baixo do que a maioria dos garotos de sua idade porém mais forte do que eles, com ombros largos, músculos já emergentes, e cabelos fartos, pretos e ondulados, que caem diante de seus olhos, Alec não é de desistir facilmente . Sua vida tinha sido dura – forjada como aquele ferro, e ao se sentar ao lado das chamas, tirando o cabelo da frente de seus olhos continuamente com as costas da mão, ele medita, contemplando a notícia que tinha acabado de receber. Ele nunca tinha sentido tamanha sensação de desespero. Ele bate o martelo repetidas vezes, e à medida que o suor escorre pelo seu rosto e pinga na espada, ele gostaria de martelar todos os seus problemas até que eles desapareçam.
Durante toda sua vida, Alec tinha sido capaz de controlar as coisas, fazendo o que fosse necessário para fazer as coisas certas. Mas agora, pela primeira vez em sua vida, ele teria que sentar e assistir a injustiça chegar à sua cidade, afetando sua família, e não há nada que ele possa fazer quanto a isso.
Alec martela sem parar, o barulho de metal penetra seus ouvidos e seu suor irrita seus olhos, mas ele não se importa. Ele gostaria de martelar o aço até que nada mais restasse e, enquanto ele martela, não pensa na espada, mas sim em Pandésia. Ele mataria todos eles se ele pudesse, todos os invasores que estão vindo para levar seu irmão embora. Alec martela a espada, imaginando que é a cabeça deles, desejando que poder pegar o destino pelas mãos e moldá-lo de acordo com a sua vontade, querendo ser forte o suficiente para enfrentar Pandésia ele mesmo.
Aquele dia, dia da Lua de Inverno, é o seu dia mais odiado, o dia em que Pandésia vasculha todas as aldeias em toda Escalon para recrutar todos os meninos elegíveis que atingiram o seu décimo oitavo aniversário para prestar serviço nas Chamas. Alec, dois anos mais novo, ainda está a salvo. Mas seu irmão, Ashton, tendo completado dezoito durante a última colheita, não está. Por que Ashton, de todas as pessoas? Ele se pergunta. Ashton é o seu herói. Apesar de ter nascido com um pé torto, Ashton sempre tem um sorriso no rosto, está sempre alegre – mais alegre do que Alec – e está sempre disposto a aproveitar o melhor que vida tem para lhe oferecer. Ele é o oposto de Alec, que sente tudo profundamente, que está sempre em meio a uma tempestade de emoções. Não importa o quanto ele se esforce para ser feliz como seu irmão, Alec não consegue controlar suas emoções, e muitas vezes se vê emburrado. Ele sempre ouve que ele leva a vida muito a sério, e que deveria se animar; mas, para ele, a vida é algo sério, e ele simplesmente não sabe como mudar.
Ashton, por outro lado, é calmo, equilibrado e feliz, apesar de sua posição na vida. Ele também é um bom ferreiro, – como seu pai -, e agora está mantendo sozinho toda a família, especialmente desde a doença de seu pai. Se Ashton fosse levado, sua família ficaria na mais completa pobreza. Pior, Alec ficaria arrasado, pois ele tinha ouvido algumas histórias, e sabe que a vida como um recruta significaria a morte de seu irmão. Com o pé de Ashton, seria cruel e injusto se Pandésia decidisse levá-lo. Mas Pandésia não é famosa por sua compaixão e Alec tem a sensação de que hoje poderia ser o último dia que seu irmão dormiria em casa.
Eles não são uma família rica e não vivem em uma vila rica. Sua casa é bastante simples, uma pequena casa térrea com uma forja ao lado, nos arredores de Soli, um dia de viagem ao norte da capital e um dia de viagem ao sul da Floresta Branca. É uma vila tranquila longe do litoral, em um campo aberto longe da maioria das coisas – um lugar que a maioria das pessoas avista a caminho de Andros. Sua família tem apenas o pão suficiente para viver dia após dia, nem mais, nem menos, e isso é tudo o que desejam. Eles usam suas habilidades para levar ferro até o mercado, e isso é o suficiente para tudo o que eles precisam.
Alec não espera muito da vida – mas ele anseia por justiça. Ele estremece com a ideia de ver seu irmão ser levado para servir Pandésia. Ele tinha ouvido muitos contos de como é ser recrutado para servir de guarda nas Chamas que ardem dia e noite, tornando-se um Guardião. Os escravos Pandesianos que trabalham nas Chamas, Alec tinha ouvido, são homens duros, escravos vindos de todo o mundo, pessoas recrutadas, criminosos e os piores soldados Pandesianos. A maioria daqueles homens não são guerreiros nobres de Escalon, ou os nobres Guardiões de Volis. O maior perigo das Chamas, Alec tinha ouvido falar, não são os trolls, mas seus companheiros Guardiões. Ashton, ele sabe, não seria capaz de proteger a si mesmo; ele é um bom ferreiro, mas não é um lutador.
"ALEC!"
O tom estridente de sua mãe corta o ar, superando até mesmo o som de suas marteladas.
Alec solta o martelo, respirando com dificuldade, sem perceber o quanto ele tinha se irritado, e enxuga a testa com as costas da mão. Ele olha para cima e vê sua mãe enfiando a cabeça pela porta com uma expressão de desaprovação.
"Eu já estou chamando há dez minutos!" Ela diz asperamente. "O jantar já está pronto! Nós não temos muito tempo antes que eles cheguem. Estamos todos esperando por você. Venha logo de uma vez!"
Alec sai de seu devaneio, descansando seu martelo, e se levanta relutantemente, atravessando a oficina apertada. Ele já não pode adiar o inevitável.
Ele entra em sua casa pela porta aberta, sob o olhar de desaprovação de sua mãe, e para olhando para a mesa de jantar com tudo que eles têm de melhor, o que não é muito. É um pedaço de madeira simples com quatro cadeiras de madeira, e um cálice de prata está colocado no seu centro, a única coisa de valor que a família possui.
Sentados ao redor da mesa, olhando para ele e esperando, estão seu irmão e seu pai, com tigelas de ensopado diante deles.
Ashton é alto e magro, moreno, enquanto seu pai, sentado ao lado dele, é um homem grande, duas vezes maior que Alec, com uma barriga protuberante, testa pequena e sobrancelhas grossas, assim como as mãos calejadas de um ferreiro. Os dois se parecem – e nenhum deles se assemelha a Alec, que com seus cabelos ondulados rebeldes e olhos verdes, se parece mais com sua mãe.
Ashton olha para eles e imediatamente nota o medo no rosto de seu irmão, a ansiedade em seu pai, ambos aparentando estar um velório. Ele sente um vazio no estômago ao entrar ali. Cada um tem um prato de guisado diante de si, e quando Alec se senta em frente ao seu irmão, sua mãe coloca uma tigela para ele e, em seguida, se senta diante da sua.
Mesmo sendo tarde para jantar, e sabendo que a essa hora ele geralmente estava morrendo de fome, Alec mal consegue sentir o cheiro da comida, sentindo-se nauseado.
"Eu não estou com fome," ele sussurra, quebrando o silêncio.
Sua mãe lança um olhar penetrante na direção dele.
"Eu não me importo," ela retruca. "Você vai comer toda essa comida. Esta pode muito bem ser a nossa última refeição juntos, como uma família – por favor, não desrespeite seu irmão."
Alec olha para sua mãe, uma mulher de aparência simples de uns cinqüenta anos, com o rosto enrugado por uma vida de dificuldades, e ele vê a determinação em seus olhos verdes piscando para ele, o mesmo olhar determinado que ele mesmo possui.
"Então vamos apenas fingir que nada está acontecendo?" ele pergunta.
"Ele é o nosso filho, também," ela retruca. "Você não é o único aqui."
Alec olha para seu pai, sentindo uma sensação de desespero.
"Você vai deixar que isso aconteça, pai?" Pergunta Alec.
Seu pai franze a testa, mas permanece em silêncio.
"Você está arruinando uma bela refeição," afirma sua mãe.
Seu pai levanta a mão, e ela se cala. Ele se vira para Alec e o encara.
"O que você quer que eu faça?" Ele pergunta, sua voz grave.
"Nós temos armas!" Alec insiste, esperando uma pergunta como aquela. "Temos aço! Nós somos um dos poucos com esses recursos! Podemos matar qualquer soldado que chegar perto dele! Eles nunca vão esperar por isso!"
Seu pai sacode a cabeça em desaprovação.
"Esses são os devaneios de um jovem," ele diz. "Você, que nunca matou um homem em sua vida. Suponhamos que você mate o soldado que agarrar Ashton – e o que fazer com os duzentos soldados atrás dele?"
"Vamos esconder Ashton, então!" Alec insiste.
Seu pai balança a cabeça.
"Eles têm uma lista de todos os meninos nesta vila. Eles sabem que ele está aqui. Se não entregá-lo, eles matarão todos nós." Ele suspira irritado. "Você não acha que eu não tenha pensado nisso, rapaz? Você acha que você é a única pessoa que se importa? Você acha que eu quero que o meu único filho seja levado embora?"
Alec faz uma pausa, intrigado com as palavras dele.
"O que quer dizer com seu único filho?" ele pergunta.
Seu pai enrubesce.
"Eu não disse que única – eu disse o mais velho."
"Não, você disse único," insiste Alec, pensando.
Seu pai fica vermelho e levanta a sua voz.
"Pare de se prender aos detalhes!" Ele grita. "Não em um momento como este. Eu disse mais velho e é isso que eu quis dizer e isso é o fim da conversa! Eu não quero que meu filho seja levado, tanto quanto você não quer que seu irmão se vá!"
"Alec, relaxe," fala uma voz compassiva, o único calmo no lugar.
Alec olha para o outro lado da mesa e vê Ashton sorrindo para ele, controlado e bem disposto como sempre.
"Vai ficar tudo bem, meu irmão," declara Ashton. "Vou cumprir com o meu dever e vou voltar."
"Voltar?" Alec repete. "Eles ficam com os Guardiões por sete anos."
Ashton sorri.
"Então eu o verei de novo em sete anos," responde ele, sorrindo abertamente. "Eu suspeito que você deva estar mais alto do que eu até lá."
Esse é Ashton, sempre tentando fazer Alec se sentir melhor, sempre pensando nos outros, mesmo em um momento como aquele.
Alec sente seu coração se partindo dentro dele.
"Ashton, você não pode ir," ele insiste. "Você não vai sobreviver às Chamas."
"Eu-" Ashton começa.
Mas suas palavras são interrompidas por um grande tumulto do lado de fora. Eles ouvem o som de cavalos chegando na aldeia e de homens gritando. Toda a família se entreolha, com medo. Eles permanecem sentados ali, paralisados, enquanto pessoas começam a correr para um lado e para o outro do lado de fora da janela. Alec já consegue ver todos os meninos e famílias fazendo fila do lado de fora.
"Não faz sentido adiarmos o inevitável," diz seu pai, ficando em pé e colocando as mãos sobre a mesa, sua voz quebrando o silêncio. "Nós não devemos sofrer a indignidade de termos nossa casa invadida por eles para que o arrastem para fora. Devemos fazer fila do lado de fora com os outros, com orgulho, e rezaremos para que quando eles virem o pé de Ashton, façam a coisa certa e deixem que ele fique."
Alec se levanta relutantemente da mesa quando os outros se dirigem para fora da casa.
Quando ele sai na noite fria, Alec se depara com uma cena: há um tumulto na sua aldeia como nunca antes. As ruas estão iluminadas com tochas, e todos os meninos com mais de dezoito estão alinhados, cercados por todas as suas famílias, que observam tudo, nervosos.. Nuvens de poeira enchem as ruas à medida que uma caravana de Pandesianos entra na cidade, dezenas de soldados vestidos com armadura escarlate de Pandésia, montando carruagens dirigidos por grandes garanhões. Atrás deles, são rebocadas carroças feitas com barras de ferro, que sacodem na estrada esburacada.
Alec examina as carroças e vê que elas estão cheias de meninos de todo o reino, olhando para fora com rostos assustados e endurecidos. Ele engole em seco ao ver aquilo, imaginando o que espera pelo seu irmão.
Todos eles param no meio da aldeia, e um silêncio tenso toma conta do lugar, enquanto todos esperam, prendendo a respiração.
O comandante dos soldados Pandesianos salta de sua carruagem, um homem alto sem qualquer sinal de bondade em seus olhos negros e uma longa cicatriz atravessando uma sobrancelha. Ele caminha lentamente, examinando as fileiras de meninos, a cidade tão silenciosa que é possível ouvir suas esporas tilintando enquanto ele anda.
O soldado olha para cada menino, levantando o queixo e olhando-os nos olhos, cutucando seus ombros, dando um pequeno empurrão em cada um deles para testar seu equilíbrio. Ele balança a cabeça enquanto avança e, quando ele faz isso, seus soldados rapidamente pegam os meninos e os arrastam para a carroça. Alguns meninos vão em silêncio; mas alguns protestam, e estes são rapidamente calados com pauladas e jogados dentro da carroça com os outros. Às vezes uma mãe chora ou um pai grita, mas nada consegue parar os Pandesianos.
O comandante continua, esvaziando a aldeia de seus ativos mais valiosos, até que finalmente ele para diante de Ashton, no final da linha.
"Meu filho é manco," sua mãe rapidamente grita, implorando desesperadamente. "Ele seria inútil para vocês."
O soldado olha Ashton de cima para baixo, e para ao olhar seu pé.
"Erga suas calças," ele ordena, "e tire sua bota."
Ashton obedece, apoiando-se em Alec para conseguir se equilibrar, e quando Alec o observa, ele conhece seu irmão bem o suficiente para saber que se sente humilhado; o pé sempre tinha sido uma fonte de vergonha para ele, menor que o outro, torcido e mutilado, forçando-o a mancar enquanto caminha.
"Ele também trabalha para mim na forja," o pai de Alec entra na conversa. "Ele é a nossa única fonte de renda. Se você levá-lo, a nossa família ficará sem nada. Nós não seremos capazes de sobreviver."
O comandante termina de analisar o pé dele e faz um gesto para Ashton colocar a bota novamente. Ele então se vira e olha para seu pai, seus olhos negros frios e firmes.
"Você vive em nossa terra agora," ele diz, sua voz dura como cascalho, "e seu filho é nossa propriedade para fazermos o que quisermos. Levem-no!" O comandante ordena e os soldados correm até Ashton.
"NÃO!" A mãe de Alec grita de dor. "O MEU FILHO NÃO!"
Ela corre e abraça Ashton, agarrando-se a ele, e um soldado Pandesiano se aproxima e dá uma bofetada no rosto dela.
O pai de Alec agarra o braço do soldado e, assim que ele faz isso, vários soldados o atacam, derrubando-o no chão.
Alec fica ali, observando os soldados arrastarem Ashton embora, até que não consegue mais aguentar. A injustiça de tudo aquilo o dilacera – ele sabe que não seria capaz de conviver com aquilo pelo resto de seus dias. A imagem de seu irmão sendo arrastado ficaria impresso em sua mente para sempre.
Algo dentro dele explode.
"Levem-me no lugar dele!" Alec se vê gritando, involuntariamente correndo e ficando entre Alec e os soldados.
Todos param e olham para ele, claramente surpresos.
"Somos irmãos de uma mesma família!" continua Alec. "A lei diz para levar um menino de cada família. Deixem que eu seja esse garoto!"
O comandante se aproxima e olha para ele com cautela.
"E quantos anos você tem, rapaz?" ele pergunta.
"Eu já completei dezesseis anos!" Alec declara com orgulho.
Os soldados riem, enquanto seu comandante parece zombar dele.
"Você é muito jovem para ser recrutado," conclui ele, dispensando-o.
Mas quando ele se vira, Alec corre para a frente, recusando-se a ser rejeitado.