A Fábrica Mágica

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Aquilo despertou seu interesse. Amanhã, decidiu, encontraria a fábrica. E se Armando Illstrom ainda estivesse vivo, ele lhe perguntaria, frente a frente, o que aconteceu com sua máquina do tempo.

Seus pais apareceram do outro lado da cozinha, cobertos de comida.

"Vamos dormir", disse a mãe.

"E quanto aos meus cobertores e roupas?" Oliver perguntou, olhando para a alcova sem nada.

Seu pai suspirou. "Suponho que você quer que eu busque tudo no carro, não é?"

"Seria bom", Oliver respondeu. "Eu gostaria de ter uma boa noite de sono antes da escola amanhã".

A sensação de medo que ele sentia em relação ao dia de amanhã começava a aumentar, refletindo a tempestade que estava se formando. Já sentia que teria o pior dia de sua vida. Pelo menos, gostaria de estar descansado para se preparar. Ele teve tantos primeiros dias horríveis em novos colégios que tinha certeza que amanhã seria mais um para adicionar à lista.

Seu pai saiu relutantemente da casa, e uma lufada de vento entrou rugindo quando ele abriu a porta da frente. Voltou alguns momentos depois, com um travesseiro e um cobertor para Oliver.

"Vamos arrumar uma cama para você em alguns dias", ele disse, enquanto entregava-lhe o cobertor. Estava frio, por passar o dia todo no carro.

"Obrigado", Oliver respondeu, agradecido por ter ao menos algum nível de conforto.

Seus pais saíram e apagaram a luz, deixando Oliver mergulhado na escuridão. Agora, a única luz vinha de um poste na rua.

O vento começou a rugir de novo e as vidraças chacoalharam. Oliver sabia que o tempo estava fechando, que havia algo estranho no ar. Ouviu no rádio que uma tempestade sem precedentes se aproximava. E não podia deixar de estar animado com isso. A maioria das crianças tinha medo de tempestade, mas ele só tinha medo do seu primeiro dia em seu novo colégio.

Foi até a janela, apoiando os cotovelos no peitoril, como havia feito antes. O céu estava quase completamente escuro. Uma árvore espigada e fina soprava ao vento, bastante inclinada para um lado. Oliver se perguntou se ela poderia se soltar. Podia até imaginar agora, o caule fino estalando, a árvore sendo lançada no ar, carregada pelos ventos ferozes.

E foi quando ele os viu. No momento em que estava passando para seu estado de devaneio, notou duas pessoas de pé ao lado da árvore. Uma mulher e um homem que se pareciam muito com ele, como se pudessem ser confundidos com seus pais. Eles pareciam gentis e sorriram para ele enquanto seguravam as mãos um do outro.

Oliver afastou-se da janela, assustado. Pela primeira vez, percebeu que não se parecia nem com seu pai, nem com sua mãe. Ambos tinham cabelos escuros e olhos azuis, assim como Chris. Oliver, por outro lado, era a combinação, mais rara, de cabelos loiros e olhos castanhos.

De repente, ele se perguntou que talvez seus pais não fossem seus pais. Talvez por isso parecessem odiá-lo tanto? Ele olhou pela janela, mas o casal já tinha ido embora. Era apenas sua imaginação. Mas pareciam tão reais. E tão familiares.

Estou sonhando acordado, Oliver concluiu.

Sentou-se contra a parede fria, enfiando-se no canto que agora era seu novo quarto, puxando as cobertas sobre si. Abraçou os joelhos junto ao peito, bem apertado, e sentiu uma repentina sensação estranha, um momento de percepção, de clareza: de que tudo estava prestes a mudar.

CAPÍTULO DOIS

Oliver acordou sentindo-se ansioso. Seu corpo inteiro doía depois de dormir no chão duro. Os cobertores não eram grossos o suficiente para evitar que o frio penetrasse em seus ossos. Ficou surpreso por ter dormido, considerando que era seu primeiro dia de aula.

A casa estava muito silenciosa. Só ele havia acordado. Oliver percebeu que acordou mais cedo do que precisava, graças à suave luz do sol que entrava pela janela.

Levantou-se e espiou pela janela. O vento havia causado estragos durante a noite, derrubando cercas e caixas de correio e espalhando o lixo pelas calçadas. Oliver olhou para a árvore torta e espigada onde tinha visto o simpático casal na noite passada. O homem e a mulher que pareciam com ele e que o fizeram se perguntar se talvez os Blues não eram seus pais biológicos. Mas balançou a cabeça. Era apenas um desejo seu, raciocinou. Qualquer um que tivesse Chris Blue como seu irmão mais velho sonharia em não ter ligação nenhuma com ele!

Sabendo que tinha um pouco de tempo antes de sua família acordar, Oliver saiu da janela e foi até sua mala. Ele a abriu e viu todas as engrenagens, fios, alavancas e botões que havia coletado para suas invenções. Sorriu enquanto olhava para a armadilha de estilingue que usou contra Chris ontem. Mas era apenas uma das muitas invenções de Oliver e não era a mais importante, nem de longe. Sua maior invenção era algo um pouco mais complexo e muito mais importante: ele estava tentando inventar uma maneira de se tornar invisível.

Teoricamente, isso era possível. Havia lido tudo a respeito. Na verdade, eram necessários apenas dois componentes para tornar um objeto invisível. O primeiro era curvar a luz em torno do objeto, para que ele não pudesse projetar uma sombra, semelhante à forma como a água da piscina curvava a luz e fazia com que os nadadores parecessem estranhamente atarracados. O segundo componente necessário para a invisibilidade envolvia eliminar o reflexo do objeto.

Parecia bastante simples no papel, mas Oliver sabia que ninguém tinha conseguido ainda, e por uma boa razão. Mas isso não iria impedi-lo de tentar. Ele precisava desta invenção para escapar de sua vida miserável, e não importava o tempo necessário para chegar lá.

Enfiou a mão no estojo e tirou todos os pedaços de tecido que havia coletado em busca de algo com propriedades refrativas negativas. Infelizmente, ainda não havia encontrado o tecido certo. Então, tirou todas as bobinas de arame fino de que precisava para fazer micro-ondas eletromagnéticas e dobrar a luz artificialmente. Infelizmente, nenhum deles era fino o bastante. Para funcionar, as bobinas precisariam ter menos de quarenta nanômetros, o que era um tamanho tão pequeno que era impossível para a mente humana compreender. Mas Oliver sabia que alguém, em algum lugar, algum dia, teria uma máquina para fazer bobinas finas o suficiente, e um tecido refrativo o bastante.

Nesse momento, do andar de cima, Oliver ouviu o despertador de seus pais tocar. Ele rapidamente guardou seus pertences, sabendo muito bem que eles iriam acordar Chris em seguida, e se o irmão descobrisse o que ele estava tentando fazer, destruiria todo o seu trabalho.

O estômago de Oliver roncou, lembrando-o de que as ameaças de Chris estavam prestes a começar de novo, e que era melhor comer um pouco antes que tudo começasse.

Ele passou pela mesa de jantar ainda quebrada e foi até a cozinha. A maioria dos armários estava vazia. A família ainda não tinha tido tempo de fazer compras para a casa nova. Mas Oliver encontrou uma caixa de cereal que havia vindo com a mudança, e havia leite fresco na geladeira, então ele rapidamente preparou uma tigela de cereal e engoliu tudo. Bem na hora. Alguns momentos depois, seus pais entraram na cozinha.

"Quer café?" a mãe perguntou ao seu pai, com os olhos inchados e o cabelo desgrenhado.

O pai apenas grunhiu um sim. Ele olhou para a mesa quebrada e, com um suspiro, pegou uma fita adesiva. Começou a remendar a perna da mesa, a contragosto.

"É aquela cama", ele murmurou, enquanto trabalhava. "É bamba. E o colchão não é macio". Ele esfregou as costas, para enfatizar seu argumento.

Oliver sentiu uma onda de raiva. Pelo menos seu pai dormiu em uma cama! Ele teve que dormir em cobertores em um canto da sala! A injustiça o magoou.

"Não sei como vou passar um dia inteiro no call center", acrescentou a mãe de Oliver, tomando café. Então, colocou sua caneca na mesa, agora provisoriamente consertada.

"Você tem um novo emprego, mãe?" Oliver perguntou.

Mudar de casa o tempo todo tornava impossível para os pais manter o emprego em tempo integral. As coisas em casa eram sempre mais difíceis quando estavam desempregados. Mas, se mamãe estava trabalhando, isso significava comida melhor, roupas melhores e dinheiro para comprar mais engenhocas para suas invenções.

"Sim", disse ela, deixando escapar um sorriso tenso. "Eu e o papai. Mas são longas horas. Hoje é dia de treinamento, mas depois disso, ficaremos com o último turno. Por isso, não estaremos aqui quando voltarem do colécio. Mas Chris vai ficar de olho em você, então não se preocupe".

Oliver sentiu o estômago revirar. Ele preferia que Chris não estivesse na equação. Era perfeitamente capaz de cuidar de si mesmo.

Como se convocado pela menção de seu nome, Chris entrou na cozinha. Ele era o único Blue que parecia revigorado esta manhã. Espreguiçou-se e soltou um bocejo teatral, fazendo a camisa subir por cima de sua barriga redonda e rosada.

"Bom dia, minha família maravilhosa", disse ele, com seu sorriso sarcástico. Passou um braço ao redor de Oliver, puxando-o para um tipo de abraço habilmente mascarado como afeto fraternal. "Como vai você, fracote? Animado com o primeiro dia de aula?"

Oliver mal podia respirar, Chris estava apertando muito. Como sempre, seus pais pareciam alheios ao bullying.

"Mal posso... esperar..." ele conseguiu dizer.

Chris o soltou e se sentou à mesa, em frente ao pai.

Mamãe veio do balcão com um prato de torradas com manteiga. Ela o colocou no centro da mesa. Papai pegou uma fatia. Então Chris se inclinou para a frente e pegou o resto, sem deixar nada para Oliver.

 

"Ei!" Oliver gritou. "Você viu aquilo?"

Mamãe olhou para o prato vazio e soltou um de seus suspiros exasperados. Olhou para o pai como se esperasse que ele dissesse alguma coisa. Mas o homem apenas deu de ombros.

Oliver cerrou os punhos. Era tão injusto. Se ele não tivesse previsto algo assim, teria perdido outra refeição, graças a Chris. Ficou furioso por nenhum de seus pais nunca defendê-lo, ou pelo menos notar quantas vezes ele tinha que ficar sem as coisas por causa de Chris.

"Vocês dois vão andando juntos até a escola?" A mãe perguntou, claramente tentando mudar de assunto.

"Não posso", disse Chris com a boca cheia. A manteiga escorreu pelo queixo dele. "Se eu for visto com um nerd, nunca farei amigos".

Papai levantou a cabeça. Por um segundo, parecia que ele estava prestes a dizer alguma coisa a Chris, e castigá-lo por xingar Oliver. Mas então ele claramente decidiu o contrário, porque apenas suspirou, cansado, e voltou os olhos novamente para a mesa.

Oliver rangeu os dentes, tentando manter sua crescente fúria sob controle.

"Por mim, tudo bem", ele sussurrou, olhando para Chris. "Prefiro mesmo manter distância de você".

Chris soltou uma gargalhada rancorosa.

"Meninos..." Mamãe avisou, com uma voz muito mansa.

Chris cerrou o punho para Oliver, indicando claramente que se vingaria mais tarde.

Depois do café da manhã, a família rapidamente se arrumou e saiu de casa.

Oliver viu seus pais entrarem em seu carro surrado e partirem. Então Chris se afastou sem dizer mais nada, com as mãos nos bolsos e uma expressão carrancuda no rosto. Oliver sabia o quanto era importante para Chris deixar imediatamente claro que ele não deveria ser incomodado. Era sua armadura, a maneira como ele lidava com o primeiro dia em um novo colégio seis semanas após o início do ano letivo. Mas Oliver era muito magro e muito baixinho para tentar cultivar tal imagem. Sua aparência só o fazia se destacar ainda mais.

Chris caminhou rapidamente, sumindo de vista, deixando Oliver sozinho para caminhar pelas ruas desconhecidas. Não foi a caminhada mais agradável da sua vida. O bairro era difícil, com muitos cachorros raivosos latindo atrás de cercas fechadas com correntes, e carros barulhentos e desordeiros percorrendo as estradas esburacadas, sem se importar com as crianças que atravessavam.

Quando o Colégio Campbell apareceu à sua frente, Oliver sentiu um arrepio. Era um prédio horrível, feito com tijolos cinzentos, completamente quadrado e com uma fachada desgastada pelo tempo. Não havia nem grama para se sentar, apenas uma grande quadra de asfalto com aros de basquete quebrados dos dois lados. Crianças se empurravam, lutando pela bola. E o barulho! Era ensurdecedor, e tinha de tudo, de brigas a cantorias, de gritos a conversas.

Oliver queria se virar e voltar correndo pelo mesmo caminho pelo qual tinha vindo. Mas engoliu o medo e caminhou, de cabeça baixa e com as mãos nos bolsos, atravessando o parquinho e passando pelas grandes portas de vidro.

Os corredores da Campbell Junior eram escuros. Cheiravam a água sanitária, apesar de parecerem que não tinham sido limpos há uma década. Oliver viu uma placa indicando a recepção e a seguiu, sabendo que ele teria que pedir informações a alguém. Quando chegou no balcão, havia uma mulher muito entediada, com expressão raivosa, digitando num computador com longas unhas vermelhas.

"Com licença", disse Oliver.

Ela não respondeu. Ele pigarreou e tentou de novo, um pouco mais alto.

"Desculpe. Eu sou um novo aluno, hoje é meu primeiro dia".

Finalmente, ela desviou os olhos do computador e olhou para Oliver. Apertou os olhos. "Aluno novo?" perguntou, com um olhar de suspeita. "Estamos em outubro".

"Eu sei", Oliver respondeu. Ela não precisava lembrar. "Minha família acabou de se mudar para cá. Eu sou Oliver Blue".

Ela o observou em silêncio por um longo momento. Então, sem dizer nada, voltou sua atenção para o computador e começou a digitar. Suas longas unhas se chocavam contra as teclas.

"Blue", ela disse. "Blue. Blue. Blue. Ah, achei. Christopher John Blue. Oitava série".

"Ah, não, este é meu irmão", Oliver respondeu. "Eu sou Oliver. Oliver Blue".

"Não estou achando nenhum Oliver", ela respondeu, indiferente.

"Bem... mas aqui estou eu", Oliver disse, com um sorriso sem graça. "Eu devo estar na lista. Em algum lugar".

A recepcionista parecia não estar nem aí. Todo aquele drama não lhe incomodava nem um pouco. Ela digitou de novo, e depois suspirou longamente.

"Ok. Achei. Oliver Blue. Sexta série. Então, se virou na cadeira giratória e jogou uma pasta na mesa. "Aqui estão sua agenda, mapa do colégio, contatos úteis, etc. Você encontrará tudo aqui". Bateu preguiçosamente com uma de suas unhas vermelhas brilhantes. "Sua primeira aula é inglês".

"Que bom", disse Oliver, pegando a pasta e colocando-a debaixo do braço. "Eu sou fluente".

Ele sorriu para indicar que havia feito uma piada. Os lábios da recepcionista repuxaram um pouco para o lado, quase imperceptivelmente, numa expressão que poderia indicar ao menos remotamente algum sinal de diversão. Percebendo que não havia mais nada a ser dito entre eles, e sentindo que a recepcionista gostaria muito que ele saísse, Oliver saiu da recepção segurando sua pasta.

Quando chegou no corredor, ele a abriu e começou a estudar o mapa, procurando a sala de inglês e sua primeira aula. Era no terceiro andar, então Oliver seguiu na direção da escada.

Na sala, o empurra-empurra das crianças parecia ainda maior. Oliver se viu no meio de um mar de corpos, sendo empurrado escada acima pela multidão e não por vontade própria. Teve que lutar contra o enxame de alunos para entrar no terceiro andar.

Ofegante, chegou no corredor do terceiro andar. Aquela não era uma experiência que ele queria repetir várias vezes ao dia!

Usando seu mapa, Oliver logo encontrou a sala de aula de inglês. Espiou pela janelinha quadrada da porta. A sala já estava meio cheia de estudantes. Sentiu o estômago revirar de angústia ao pensar em conhecer pessoas novas, em ser visto, julgado e avaliado. Ele girou a maçaneta da porta e entrou.

É claro que ele tinha razão de ter medo. Já havia passado por aqui o suficiente para saber que todos olhariam para ele, curiosos sobre o garoto novato. Oliver havia tido essa sensação mais vezes do que se lembrava. Tentou não encontrar os olhos de ninguém.

"Quem é você?", disse uma voz áspera.

Oliver girou e viu o professor, um homem velho com cabelos extremamente brancos, olhando para ele de sua mesa.

"Eu sou Oliver. Oliver Blue. Eu sou novato".

O professor franziu a testa. Seus olhos redondos eram negros e desconfiados. Ele observou Oliver por um tempo desconfortavelmente longo. Claro, isso só aumentou o seu estresse, porque agora mais colegas estavam prestando atenção nele, enquanto outros alunos continuavam a chegar. Um público cada vez maior o observava com curiosidade, como se ele fosse algum tipo de espetáculo de circo.

"Eu não sabia que chegaria mais um", disse o professor, finalmente, com ar de desdém. "Deveriam ter me informado". Suspirou, cansado, fazendo Oliver se lembrar de seu pai. "Escolha um lugar para sentar, então".

Oliver correu para uma carteira sobressalente, sentindo os olhos de todos fixos nele. Tentou se tornar o menor possível, o mais invisível possível. Mas é claro que ele se destacava dentre todos, por mais que tentasse se esconder. Afinal, era o garoto novato.

Quando todos estavam sentados, o professor começou.

"Vamos continuar de onde paramos na última aula", disse ele. "Estávamos falando de regras gramaticais. Alguém pode explicar ao Oscar do que se trata?"

Todos começaram a rir de seu erro.

Oliver sentiu a garganta apertar ainda mais. "Hum, desculpe interromper, mas meu nome é Oliver, não Oscar".

A expressão do professor mudou no mesmo instante. Oliver percebeu imediatamente que ele não era o tipo de homem que gostava de ser corrigido.

"Eu vivi 66 anos com o nome Sr. Portendorfer", disse o professor, franzindo o cenho, "e aprendi a superar as pessoas que pronunciam meu nome errado. Profendoffer. Portenworten. Eu já ouvi de tudo. Então, sugiro que você, Oscar, se preocupe menos com a pronúncia correta do seu nome!"

Oliver levantou as sobrancelhas, atordoado e em silêncio. Até mesmo os seus colegas pareciam chocados com aquela cena, porque eles nem sequer estavam rindo. A reação do Sr. Portendorfer foi exagerada pelos padrões de qualquer pessoa, e o fato dela ter sido direcionada a um novato piorou ainda mais as coisas. Da recepcionista rabugenta ao volúvel professor de inglês, Oliver se perguntou se havia uma única pessoa legal em todo o colégio!

O Sr. Portendorfer começou a falar sobre os pronomes. Oliver se encolheu ainda mais em seu assento, sentindo-se tenso e infeliz. Por sorte, o Sr. Portendorfer não o provocou mais, mas quando o sinal tocou, uma hora depois, suas palavras grosseiras ainda ressoavam nos seus ouvidos.

Oliver se arrastou pelos corredores, procurando a sala de matemática. Quando encontrou, foi direto para a última fileira, lá atrás. Se o Sr. Portendorfer não sabia que ele tinha um novo aluno, talvez o professor de matemática também não soubesse. Esperava poder ficar invisível pela próxima hora.

Para o alívio de Oliver, funcionou. Ele se sentou, silencioso e anônimo, durante toda a aula, como um fantasma obcecado por álgebra. Mas mesmo isso não parecia ser a melhor solução para seus problemas, raciocinou. Passar despercebido era tão ruim quanto ser humilhado publicamente. Aquilo o fazia se sentir insignificante.

A campainha tocou novamente. Era hora do almoço, então Oliver seguiu as instruções do seu mapa até o corredor. Se o playground tinha sido intimidante, não era nada comparado ao refeitório. Aqui, os alunos pareciam animais selvagens. Suas vozes estridentes ecoavam nas paredes, tornando o barulho ainda mais insuportável. Oliver baixou a cabeça e andou apressadamente em direção à fila.

Paf. De repente, ele bateu em um corpo grande e nada simpático. Lentamente, Oliver levantou os olhos.

Para sua surpresa, estava encarando o rosto de Chris. Dos dois lados dele, como se formassem uma flecha, havia três garotos e uma garota, todos com o cenho franzido. Comparsas foi a palavra que surgiu na mente de Oliver.

"Você já fez amigos?" Oliver disse, tentando não parecer surpreso.

Chris estreitou os olhos. "Nem todos nós somos esquisitos antissociais", respondeu.

Oliver percebeu então que aquela não seria uma interação agradável com seu irmão. Mas nunca havia sido.

Chris olhou para seus novos companheiros. "Este é o meu irmão insignificante, Oliver", anunciou. Então, deu uma gargalhada. "Ele dorme num canto da sala".

Seus novos amigos valentões começaram a rir também.

"Ele está disponível: podem puxar suas calças, empurrá-lo, sufocá-lo e, o que eu mais gosto de fazer", Chris continuou. Ele agarrou Oliver e pressionou os nós dos dedos em sua cabeça. "Podem lhe dar muita dor de cabeça".

Oliver se contorceu e se debateu para se soltar das garras de Chris. Preso naquele horrível e doloroso "abraço", lembrou-se dos poderes de ontem, do momento em que quebrou a perna da mesa e cobriu o colo de Chris com batatas. Se soubesse como havia manisfetado esses poderes, poderia fazer isso agora e se libertar. Mas não tinha ideia de como havia feito aquilo. Tudo o que ele fez foi visualizar mentalmente a mesa quebrando, e o soldado de plástico voando pelo ar. Só precisava disso? De sua imaginação?

Ele tentou agora, imaginando-se numa luta livre com Chris. Mas não funcionou. Com os novos amigos de Chris assistindo, rindo, ele estava muito sintonizado com a realidade de sua humilhação para transferir sua mente para o mundo da imaginação.

Finalmente, Chris o soltou. Oliver cambaleou para trás, esfregando a cabeça dolorida. Ele deu um tapinha no cabelo, que havia se tornado frisado com a estática. Mas mais do que a humilhação do bullying de Chris, Oliver sentiu a pontada de desapontamento por não conseguir usar seus poderes. Talvez a coisa toda da mesa da cozinha fosse apenas uma coincidência. Talvez ele não tenha nenhum poder especial.

A garota que estava ao lado de Chris falou. "Mal posso esperar para conhecê-lo melhor, Oliver". Falou com uma voz ameaçadora que, Oliver percebeu, queria dizer o contrário.

 

Ele estava preocupado com os valentões. É claro que deveria ter antecipado que o pior de todos seria seu irmão.

Oliver passou por Chris e seus novos amigos e foi para a fila do almoço. Com um suspiro triste, pegou um sanduíche de queijo da geladeira e se dirigiu, de coração pesado, para o banheiro. O banheiro era o único lugar em que se sentia seguro.

*

A próxima aula de Oliver depois do almoço era Ciências. Ele vagou pelos corredores procurando a sala correta, seu estômago revirando com a certeza de que seria tão ruim quanto suas duas primeiras aulas.

Quando encontrou a sala, bateu na janela. A professora era mais nova do que ele estava antecipando. Os professores de ciências que havia tido até agora tendiam a ser velhos e um pouco estranhos, mas Belfry parecia mais lúcida. Ela tinha cabelos castanhos claros compridos e lisos, quase da mesma cor de seu vestido de algodão e cardigã. Ela se virou quando ouviu-o bater na porta e sorriu, mostrando covinhas nas duas bochechas, e fez sinal para ele entrar. Oliver abriu a porta timidamente.

"Olá", disse a Srta. Belfry, sorrindo. "Você é Oliver?"

Oliver assentiu. Embora fosse o primeiro a chegar, sentiu-se, de repente, muito tímido. Pelo menos esta professora parecia estar esperando por ele. Que alívio.

"Estou muito feliz em conhecê-lo", disse a Srta. Belfry, estendendo a mão para ele apertar.

Aquilo tudo era muito formal e não era o que Oliver estava esperando, considerando o que tinha experimentado do Colégio Campbell até agora. Mas apertou a mão dela. Ela tinha uma pele muito macia e seu comportamento amigável e respeitoso deixava-o à vontade.

"Você teve a chance de ler agluma coisa do material?", a professora perguntou.

Os olhos de Oliver se arregalaram e ele sentiu um pouco de pânico. "Eu não sabia que havia algo para ler".

"Tudo bem", disse a Srta. Belfry, tranquilizando-o com seu sorriso amável. "Não se preocupe. Estamos aprendendo sobre cientistas neste semestre, e sobre algumas figuras históricas importantes. Ela apontou para um retrato em preto e branco na parede. "Este é Charles Babbage, ele inventou a..."

"...calculadora", Oliver terminou.

A Sra. Belfry sorriu e bateu palmas. "Você já sabe?"

Oliver assentiu. "Sim. E ele também é frequentemente mencionado como o pai do computador, uma vez que foram seus projetos que levaram à sua invenção". Ele olhou para a próxima foto na parede. "E esse é James Watt", disse. "O inventor do motor a vapor".

A Srta. Belfry assentiu. Ela parecia emocionada. "Oliver, já posso ver que vamos nos dar bem".

Só então, a porta se abriu e os colegas de Oliver entraram. Ele engoliu em seco, sua ansiedade retornando numa velocidade enorme.

"Por que você não se senta?" sugeriu a professora.

Ele assentiu e correu para a carteira mais próxima da janela. Se tudo ficasse insuportável, pelo menos ele poderia olhar para fora e se imaginar em outro lugar. Dali, ele tinha uma excelente vista da vizinhança, de todos os pedaços de lixo e folhas de outono que sopravam ao vento. As nuvens pareciam ainda mais escuras do que naquela manhã. Isso realmente não ajudou a diminuir a sensação de mau presságio que Oliver estava sentindo.

Os outros alunos eram muito barulhentos e indisciplinados. Levou muito tempo para a Srta. Belfry acalmá-las, para que pudesse começar a aula.

"Hoje, estamos continuando de onde paramos na semana passada", disse ela, precisando levantar a voz, Oliver percebeu, para ser ouvida apesar do barulho. "Falando sobre alguns inventores incríveis da Segunda Guerra Mundial. Será que alguém sabe quem é este?"

Ela levantou uma foto em preto e branco de uma mulher sobre a qual Oliver lera em seu livro de inventores. Katharine Blodgett, que inventou a máscara de gás, a cortina de fumaça e o vidro não reflexivo usado para os periscópios de submarinos de guerra. Depois de Armando Illstrom, Katharine Blodgett era uma das inventoras favoritas de Oliver, porque ele achava fascinantes todos os avanços tecnológicos que ela realizou na Segunda Guerra Mundial.

Nesse momento, notou a Srta. Belfry olhando para ele com expectativa. Pela expressão em seu rosto, Oliver percebeu que ela sabia que ele sabia exatamente quem estava na foto. Mas depois de suas experiências de hoje, ele estava com medo de dizer alguma coisa em voz alta. Seus colegas perceberiam em algum momento que ele era um nerd; Oliver não queria adiantar o processo.

Mas a professora acenou para ele, ansiosa e encorajadora. Contra seus instintos, Oliver se pronunciou.

"Esta é Katharine Blodgett", disse ele, finalmente.

O rosto da professora se abriu num sorriso, trazendo suas lindas covinhas com ele. "Correto, Oliver. Você pode dizer à classe quem ela é? O que ela inventou?"

Atrás dele, Oliver podia ouvir uma risada. As crianças já estavam se dando conta do status de nerd dele.

"Foi uma inventora durante a Segunda Guerra Mundial", disse. "Ela criou muitas invenções de guerra úteis e importantes, como periscópios de submarinos. E máscaras de gás, que salvaram muitas vidas".

A Srta. Belfry parecia emocionada.

"ESQUISITO!", alguém gritou da parte de trás.

"Não, obrigada, Paul", disse a professora severamente para o menino que gritou. Então, virou-se para o quadro e começou a escrever sobre Katharine Blodgett.

Oliver sorriu. Depois do bibliotecário que o presenteou com o livro de inventores, a Srta. Belfry era a adulta mais gentil que ele já conhecera. Seu entusiasmo era como um escudo à prova de balas que Oliver poderia envolver em torno de seus ombros, desviando o resto das palavras cruéis de sua classe. Ele começou a prestar atenção na aula, sentindo-se finalmente à vontade.

*

Mais cedo do que esperava, a campainha tocou, indicando o final do dia. Todos saíram apressados da sala, correndo e gritando. Oliver recolheu suas coisas e saiu.

"Oliver, estou muito impressionada com o seu conhecimento", disse a professora quando o encontrou no corredor. "Onde você aprendeu sobre todas essas pessoas?"

"Eu tenho um livro", explicou. "Gosto de inventores. E quero ser um".

"Você faz suas próprias invenções?", ela perguntou, parecendo animada.

Ele assentiu, mas não contou sobre o casaco de invisibilidade. E se ela pensasse que era uma ideia tola? Ele não seria capaz de lidar com qualquer coisa parecida com zombaria em seu rosto.

"Eu acho isso fantástico, Oliver", disse a professora, assentindo. "É muito importante ter sonhos para conquistar. Quem é seu inventor favorito?"

Oliver se lembrou do rosto de Armando Illstrom na foto desbotada de seu livro.

"Armando Illstrom", disse ele. "Ele não é muito famoso, mas inventou muitas coisas legais. Até tentou fazer uma máquina do tempo.

"Uma máquina do tempo?", disse a Srta. Belfry, levantando as sobrancelhas. "Que emocionante".

Oliver assentiu, sentindo-se mais seguro para se abrir, graças ao encorajamento dela. "Sua fábrica fica perto daqui. Eu gostaria de visitá-lo".

"Você deve fazer isso", disse a professora, sorrindo com seu jeito caloroso. "Sabe, quando eu tinha a sua idade, eu amava física. Todos os outros alunos me provocaram, eles não entendiam por que eu queria fazer circuitos ao invés de brincar com bonecas. Mas um dia, meu físico favorito veio à cidade para gravar um episódio de seu programa de TV. Eu também fui e falei com ele depois. Ele me disse para nunca desistir da minha paixão. Mesmo que outras pessoas me dissessem que eu era estranha por estar interessada nisso, se eu tivesse um sonho, eu teria que segui-lo. Eu não estaria aqui hoje se não fosse por essa conversa. Nunca subestime como é importante receber encorajamento de alguém que te entende, especialmente quando parece que ninguém mais o faz".