Kitabı oku: «Arena Dois », sayfa 2

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“Vê ali?,” eu falo, apontando. “Aquele galpão enferrujado? Está dentro dele.”

Logan percorre mais uns trinta metros e então vira em direção ao galpão. Há um cais velho e destruído, onde Logan consegue atracar o barco, a apenas alguns metros da margem. Ele silencia o motor, pega a âncora e a atira para fora do barco. Depois, pega uma corda, faz um laço em uma ponta e o atira em um poste de metal enferrujado. O laço se fixa e Logan puxa a corda, apertando o nó, para que possamos alcançar o cais.

“Nós vamos sair?” Bree pergunta.

“Eu, sim,” respondo. “Espere por mim, aqui, no barco. É muito perigoso para você ir. Eu voltarei logo. Vou enterrar Sasha. Eu prometo.”

“Não!” ela grita. “Você prometeu que nunca mais iríamos nos separar. Você prometeu! Você não pode me deixar aqui sozinha! NÃO PODE!”

“Eu não irei deixá-la sozinha,” eu digo, meu coração se partindo. “Você vai ficar aqui com Logan, Ben, e Rose. Você estará perfeitamente segura. Eu prometo.”

Mas, para minha surpresa, Bree se levanta, salta por cima da corda, passando pela margem de areia e aterrissa, na neve.

Ela fica em pé na terra, com as mãos nos quadris, me encarando, desafiante.

“Se você for, eu vou também,” ela exige.

Eu respiro fundo ao ver que ela está determinada. Sei que, quando ela quer, ela é teimosa.

Será muita responsabilidade levá-la comigo, mas, tenho que admitir, uma parte de mim se sente bem em tê-la ao meu lado o tempo todo. Se eu tentar convencê-la do contrário, só irei gastar mais tempo.

“Tudo bem,” eu falo. “Mas fique perto de mim o tempo inteiro. Promete?”

Ela assente com a cabeça. “Prometo.”

“Eu tenho medo,” Rose fala, olhando de olhos arregalados para Bree. “Eu não quero sair do barco. Prefiro ficar aqui com a Penélope. Pode ser?”

“Eu quero que você fique,” eu lhe respondo, silenciosamente recusando-me a levá-la junto.

Eu me viro para Ben e ele me encara com seus olhos melancólicos. Seu olhar me faz querer olhar para outro lugar, mas eu me forço a não fazê-lo.

“Você vem?” eu pergunto. Queria que dissesse que sim. Estou chateada por Logan preferir ficar aqui, por me decepcionar, eu certamente precisarei de ajuda.

Mas Ben, ainda claramente em choque, apenas me encara de volta. Ele me olha como se não entendesse. Pergunto-me se ele realmente compreende o que está acontecendo ao seu redor.

“Você vem?” eu pergunto com mais firmeza. Não tenho paciência para isso.

Aos poucos, ele balança a cabeça, recusando. Ele está fora de si, eu tento perdoá-lo – mas é difícil.

Viro-me para sair do barco e saltar para a margem. É uma sensação boa ter os pés em terra firme.

“Esperem!”

Vejo Logan se levantar do assento do motorista.

“Eu sabia que alguma coisa assim iria acontecer,” ele fala.

Ele anda pelo barco, recolhendo suas coisas.

“O que você está fazendo?” eu pergunto.

“O que você acha?” ele retruca. “Não vou deixar vocês duas irem sozinhas.”

Meu coração se enche de alívio. Se eu fosse sozinha, não estaria tão preocupada – mas estou muito feliz de ter outra pessoa para me ajudar a tomar conta de Bree.

Ela salta do barco para a margem.

“Estou te falando agora que isto é uma ideia estúpida,” ele diz, ao ficar ao meu lado. “Deveríamos continuar indo em frente. Logo irá anoitecer. O Hudson pode congelar. Poderíamos ficar presos aqui. Sem falar dos comerciantes de escravos. Você tem 90 minutos, entendeu? 30 minutos para ir, 30 minutos para ficar lá e 30 minutos para voltar. Sem exceções de qualquer tipo. Ao contrário, partirei sem você.”

Olho de volta para ele, impressionada e grata.

“Fechado,” eu falo

Penso em todo esse sacrifício que ele fizera, e começo a sentir algo a mais. Por trás de toda sua postura, começo a sentir que Logan realmente gosta de mim. Ele não é tão egoísta quanto eu havia pensado.

Quando estamos quase partindo, ouço uma movimentação no barco.

“Esperem!” Ben grita.

Eu me viro para encará-lo.

“Você não podem me deixar aqui sozinho com Rose. E se alguém vier? O que eu deveria fazer?”

“Tome conta do barco,” Logan responde, virando-se para ir embora.

“Eu não sei pilotá-lo!” Ben berra. “Eu não tenho nenhum arma!”

Logan se vira mais uma vez, aborrecido, pega uma de suas pistolas da faixa em sua coxa e arremessa na direção de Ben, atingindo-o em cheio no peito, deixando-o confuso.

“Talvez você aprenda como utilizá-la,” Logan fala com desdém ao dar suas costas.

Fico observando Ben, parado ali, parecendo tão indefeso e assustado, segurando uma arma que ele sequer sabe manejar. Parece completamente apavorado.

Gostaria de confortá-lo. Dizer-lhe que tudo ficará bem e que voltaremos logo. Mas, quando olho para a vasta montanha que nos espera, pela primeira vez, não estou tão certa de que vai ser assim.

D O I S

Enquanto caminhamos rapidamente pela neve, olho ansiosamente para o céu escurecendo, sentindo o tempo pressionar. Dou uma olhada para trás por cima de meu ombro e vejo minhas pegadas na neve, além delas, vejo Ben e Rose em pé, balançando com o barco, nos observando de olhos arregalados. Rose segura Penélope, igualmente assustada. Penélope late. Eu me sinto mal pelos três ali, mas sei que nossa missão é necessária. Sei que vamos pegar suprimentos e alimentos que serão úteis para nós, também sinto que temos uma boa vantagem sobre os comerciantes de escravos.

Eu corro em direção ao galpão enferrujado, coberto de neve e abro sua porta retorcida com um baque, rezando para que o caminhão escondido ali, há anos, ainda esteja lá. Era uma picape velha e oxidada, em péssimo estado, mais sucata do que um carro realmente, com apenas um oitavo do tanque de combustível restando. Eu a encontrei um dia por acaso, andando pela Rota 23 e decidi escondê-la aqui, perto do rio, caso um dia precisasse dela. Lembro-me de ter ficado surpresa ao ver que ainda dava para dirigi-la.

A porta do galpão se abre com um rangido e ali está ela, escondida exatamente onde eu a deixei, ainda coberta com feno. Meu coração se enche de alívio. Dou um passo para frente e tiro o feno, minhas mãos congelam quando toco o metal gelado. Vou para a parte de trás do galpão e abro as portas duplas do celeiro, o local se enche de luz.

“Belas rodas,” Logan diz, andando por trás de mim, examinando o veículo. “Tem certeza que ainda anda?”

“Não,” eu respondo. “Mas a casa de meu pai fica a uns trinta quilômetros daqui, não podemos exatamente ir escalando.”

Posso ver pelo seu tom de voz que ele realmente não quer participar desta missão, que ele quer voltar para o barco, continuar indo rio acima.

Sento no banco do motorista e procuro pela chave no chão. Finalmente a encontro, estava bem escondida. Eu a coloco na ignição, respiro fundo e fecho meus olhos.

Por favor, Deus. Por favor.

A princípio, nada acontece. Meu coração aperta.

Eu giro a chave de novo e de novo, virando a chave completamente para a direita e, aos poucos, o motor começa a pegar. No começo, é apenas um som baixo,como se fosse um gato moribundo. Mas eu continuo girando a chave e, eventualmente, o som vai ficando cada vez mais alto.

Vamos, vamos.

O motor finalmente pega, roncando alto. Ele engasga e faz barulhos estranhos, está claramente nas últimas. Mas, pelo menos, está funcionando.

Não consigo evitar um sorriso, cheio de alívio. Está funcionando. Está realmente funcionando. Vamos conseguir chegar em casa, enterrar minha cahorra, pegar alimentos. Sinto como se Sasha estivesse nos observando lá de cima, nos ajudando. Talvez meu pai também esteja.

A porta de passageiro se abre e Bree entra, eriçada de animação, se lançando sobre o banco de vinil ao meu lado, Logan se senta ao lado dela e fecha a porta, olhando fixamente para frente.

“O que você está esperando?” ele diz. “O tempo está passando.”

“Você não precisa repetir,” eu respondo, igualmente seca.

Ponho em marcha e começo a acelerar, saindo do galpão e entrando na neve, sob o céu noturno. A princípio, os pneus ficam encalhados na neve, mas eu acelero mais e faíscas saem quando conseguimos avançar.

Nós continuamos seguindo, fazendo curvas com os pneus carecas, atravessando um campo desnivelado, somos sacudidos o tempo inteiro, em todas as direções. Mas vamos em frente, que é a única coisa que importa agora.

Logo, chegamos a uma pequena estrada de terra. Que bom que a neve foi derretendo ao longo do dia – se não, não iríamos conseguir.

Começamos a pegar uma boa velocidade. O caminhão me impressiona, me tranquilizando à medida que o motor esquenta. Alcançamos quase 50 km/h seguindo pela rota 23 na direção leste. Continuo pisando até que passamos por um buraco, o que eu lamento muito. Todos nós gememos ao batermos nossa cabeça no teto. Eu desacelero um pouco, os buracos são quase impossíveis de serem vistos na neve, eu havia me esquecido de como estas ruas ficaram ruins.

É estranho estar de volta a essa estrada, em direção ao local aonde um dia fora meu lar. Estou refazendo o caminho de quando persegui os comerciantes de escravos, memórias vêm à tona. Lembro-me de correr aqui, de motocicleta, achando que iria morrer, tentando não pensar sobre isso.

No caminho, passamos pela enorme árvore derrubada na estrada, agora coberta de neve. Eu a reconheço como a árvore que foi derrubada no meio do meu caminho, aquela que foi abatida para bloquear o percurso dos comerciantes de escravos, por algum sobrevivente desconhecido que estava nos observando. Não deixo de imaginar se ainda há outras pessoas por aqui, sobrevivendo, talvez nos espionando. Olho atentamente para as árvores, de um lado para o outro. Mas não encontro nenhum sinal.

Estamos indo rápido e, para o meu alívio, nada deu errado. Mas eu não acredito ainda. É quase como se tudo estivesse fácil demais. Olho para o ponteiro de combustível e vejo que ainda não usamos muito, mas também não sei o quão confiável esse medidor ainda é; e, por um momento, me pergunto se teremos gasolina suficiente para ir e voltar. Penso se não tentar essa missão não fora uma péssima ideia.

Finalmente deixamos a estrada principal e entramos na estreita estradinha de terra que irá nos levar montanha acima, para a casa de papai. Estou ainda mais ansiosa agora, enquanto ziguezagueamos pelo caminho, os penhascos repentinamente se abrem a minha direita. Eu dou uma olhada para o lado e não deixo de notar que uma vista incrível se estende por todas as montanhas Catskill. Mas o penhasco é íngreme e a neve está mais grossa aqui em cima, sei que, um movimento errado, uma derrapagem errada e este monte de sucata enferrujada cai.

Para minha surpresa, o caminhão está aguentando. É como se fosse um buldogue. Logo já teremos passado pelo pior e, quando faço uma curva, avisto nossa antiga casa.

“Olhem! A casa de papai!” Bree grita, sentando-se com entusiasmo.

Estou muito aliviada em vê-la também. Estamos aqui, chegamos rápido.

“Olhe,” eu digo para Logan, “não foi tão ruim.”

Porém, Logan não parece aliviado; sua cara se contorce em uma careta enquanto ele olha para as árvores.

“Chegamos aqui,” ele resmunga. “Mas ainda não voltamos.”

Típico. Se recusa a admitir que estava errado.

Estaciono em frente a nossa antiga casa e vejo as antigas pegadas do comerciante de escravos. Isso me traz todas as memórias de volta, todo o pavor que senti quando eles sequestraram Bree. Eu me aproximo dela e ponho meu braço ao seu redor, abraço-a com força, nunca mais irei deixá-la longe de vista.

Corto a ignição e todos nós saímos ao mesmo tempo, vamos rapidamente em direção a casa.

“Desculpe-me se estiver tudo uma bagunça,” eu falo para Logan quando passo por ele e fico na frente da porta. “Eu não estava esperando convidados.”

Apesar da situação, ele reprime um sorriso.

“Ha ha,” ele diz, sem emoção. “Devo tirar os sapatos?”

Senso de humor. Estou surpresa.

Quando abro a porta e entro, qualquer sinal de humor que eu havia sentido desaparece. Quando vejo o que está diante de mim, meu coração se desespera. Ali está Sasha, deitada, seu sangue já está seco, seu corpo já está duro e congelado. A alguns metros dela, está o cadáver do comerciante de escravos que ela havia matado, também congelado, caído no chão.

Olho para a jaqueta que estou vestindo – a jaqueta dele – as roupas que estou usando – as roupas dele – minhas botas – suas botas – e tenho uma sensação esquisita. Quase como se eu fosse sua cópia.

Logan olha para mim e deve pensar a mesma coisa também.

“Você não quis pegar as calças?” ele pergunta.

Olho para baixo e me recordo que eu não quis. Era demais.

Balanço minha cabeça.

“Que besteira,” ele fala.

E, agora que ele diz isso, percebo que tem razão. Meu jeans velho está molhado e frio, grudado em mim.  E, mesmo que eu não queira suas calças, talvez Ben queira. É um desperdício jogá-las fora, afinal, estão em perfeito estado.

Ouço um choro abafado e vejo que Bree está parada, olhando para Sasha. Meu o coração se parte ao vê-la assim, sofrendo, olhando para sua cachorra morta.

Dirijo-me até ela e ponho um braço ao seu redor.

“Está tudo bem, Bree,” eu digo. “Não fique olhando.”

Eu lhe dou um beijo em sua testa e tento fazer com olhe para outo lado, mas ela me evita com uma surpreendente força.

“Não,” ela fala.

Ela dá um passo para frente, se abaixa e abraça Sasha, no chão. Ela a envolve em seus braços e então lhe beija a testa.

Logan e eu trocamos olhares. Nenhum de nós sabe o que fazer.

“Não temos tempo a perder,” Logan fala. “Vocês precisam enterrá-la e ir em frente.”

Eu me ajoelho ao seu lado, me abaixo e acaricio a cabeça de Sasha.

“Vai ficar tudo bem, Bree. Sasha está em um lugar melhor agora. Está feliz. Você está me ouvindo?”

Lágrimas escorrem de seus olhos quando ela se endireita, respira fundo e limpa seu rosto com as costas de suas mãos.

“Não podemos deixá-la aqui, assim,” ela fala. “Temos que enterrá-la.”

“Nós vamos,” eu afirmo.

“Não conseguirão,” Logan fala. “O chão está congelado.”

Fico em pé e olho para Logan, mais aborrecida que nunca. Especialmente porque percebo que ele está certo. E eu deveria ter pensado nisso antes.

“Então, o que você sugere?” pergunto.

“Não é da minha conta. Vou ficar de guarda ali fora.”

Logan se vira e sai da casa, batendo a porta ao sair.

Olho para Bree, tentando pensar rápido.

“Ele está certo,” eu falo. “Não temos tempo para enterrá-la.”

“NÃO!” ela chora. “Você prometeu. Você prometeu!”

Ela está certa. Eu prometi mesmo. Mas não havia pensado nos detalhes. A ideia de deixar Sasha desse jeito, aqui, me mata. Mas também não posso arriscar nossas vidas. Sasha não iria querer isso.

Então, tenho uma ideia.

“Que tal o rio, Bree?”

Ela se vira e olha para mim.

“E se nós lhe fizéssemos um funeral na água? Sabe, tipo quando fazem com os soldados que morreram com honra?”

“Que soldados?” ela pergunta.

“Quando os soldados morrem no mar, às vezes, eles são enterrados no mar também. É um funeral de honra. Sasha amava o rio. Tenho certeza de que ela estaria feliz lá. Podemos levá-la conosco e nos despedir dela no rio. Pode ser?”

Meu coração palpita enquanto espero por uma resposta. O tempo está se esgotando e eu sei como Bree pode ser intolerante se algo significa muito para ela.

Para meu alívio, ela concorda.

“Tudo bem,” ela fala. “Mas eu vou carregá-la.”

“Acho que ela é pesada demais para você.”

“Não vou a não ser que eu a carregue,” ela diz, seus olhos brilhando de determinação, me  encarando, com as mãos na cintura. Posso ver que ela não vai aceitar nenhuma outra possibilidade.

“Tudo bem,” eu falo. “Você pode carregá-la.”

Nós duas erguemos Sasha do chão e, então eu olho pela casa à procura de qualquer coisa que possamos levar. Vou até o corpo do comerciante de escravos, tiro suas calças e, ao fazê-lo sinto algo em seu bolso traseiro. Fico ansiosa ao descobrir algo maciço e metálico dentro. Tiro um pequeno canivete. Fico feliz em tê-lo e o guardo no meu bolso.

Faço uma rápida revista pelo resto da casa, correndo de quarto em quarto, procurando por qualquer coisa que possa ser útil. Encontro alguns sacos de estopa velhos e pego todos eles. Abro um deles e coloco o livro favorito de Bree, A Árvore Generosa e a minha cópia de O Senhor das Moscas. Corro até um armário, pego as velas remanescentes e os fósforos e também os coloco no saco.

Vou até a cozinha e depois até a garagem, as portas ainda escancaradas de quando os comerciantes de escravos invadiram. Espero desesperadamente que eles não tenham tido tempo de procurar na parte de trás, no fundo da garagem, pela caixa de ferramentas. Eu a escondi bem, em um vão da parede, vou desesperadamente procurá-la e fico aliviada de encontrá-la. É muito pesada para eu carregar sozinha e então a abro e dou uma olhada rápida, vou pegando qualquer coisa que eu ache útil. Um pequeno martelo, chave de fenda, uma pequena caixa de pregos. Encontro uma lanterna com bateria dentro. Faço um teste e ainda está funcionando. Pego mais um pequeno alicate, uma chave inglesa e fecho a caixa, estou pronta para partir.

Quando estou quase saindo, algo chama minha atenção. Há um enorme cabo de tirolesa, todo enrolado, preso a um gancho na parede. Havia me esquecido dele. Anos atrás, papai havia comprado este cabo de tirolesa, depois o pendurou nas árvores, achando que iríamos nos divertir. Usamos só uma vez, depois disso, nunca mais e, então, o cabo acabou pendurado na garagem. Olhando para ele agora, sinto que poderá ser útil. Subo em cima da caixa de ferramentas e alcanço o cabo, deixo-o sobre um ombro e, no outro, coloco os sacos de estopa.

Saio logo da garagem e volto para dentro de casa, onde está Bree, segurando Sasha com os dois braços, olhando para ela.

“Estou pronta,” ela fala.

Corremos até a porta da frente, Logan se vira e olha para Sasha. Ele balança a cabeça.

“Para onde vocês irão levá-la?” ele pergunta.

“Para o rio,” eu falo.

Ele balança a cabeça, desaprovando.

“O tempo está passando,” ele diz. “Você tem mais quinze minutos para voltarmos. Onde está a comida?”

“Não está aqui,” eu respondo. “Temos que subir um pouco mais, até uma casinha que eu havia encontrado. Podemos fazer isso em quinze minutos.”

Caminho com Bree até o caminhão e jogo os cabos de tirolesa e o saco de estopa na picape. Fico com os sacos vazios, sabendo que irei utilizá-los para pegar comida.

“Para que esses cabos?” Logan questiona, nos aproximando por trás. “Não iremos utilizá-los.”

“Nunca se sabe,” eu falo.

Eu me viro para Bree, ponho um braço ao redor de Bree, que ainda olha para Sasha e depois me afasto, olhando para o topo da montanha.

“Vamos indo,” eu falo para Logan.

Relutantemente, ele se aproxima de nós e começa a subir a montanha.

Nós três avançamos firmemente montanha acima, o vento vai ficando cada vez mais forte, é  mais frio aqui em cima. Olho para o céu preocupada, está escurecendo muito mais rápido do que eu esperava. Sei que Logan está certo: temos que voltar ao rio antes do anoitecer. E, com o por do sol  acontecendo praticamente agora, sinto uma inquietação crescente. Mas, ao mesmo tempo, sei que precisamos da comida.

Marchamos montanha acima e, finalmente, alcançamos a clareira no topo, quando uma rajada de vento fere meu rosto. A cada minuto que passa, fica mais frio e mais escuro.

Refaço meus passos até a casinha, a neve está densa aqui em cima, sinto-a atravessando minhas botas enquanto ando. Vejo a pequena construção, coberta de neve, escondida e anônima como sempre. Vou depressa em direção a ela e abro a pequena porta; Logan e Bree estão bem atrás de mim.

“Bela descoberta,” ele diz e, pela primeira vez, ouço admiração em sua voz. “Bem escondida. Quase tão boa que me faz querer ficar aqui – se os comerciantes de escravos não estivessem em nosso encalço, e se tivéssemos algum abastecimento de comida.”

“Eu sei,” eu falo, quando entro na casinha.

“É linda,” Bree fala. “É a casa para onde iríamos nos mudar?”

Olho para Bree, me sentindo triste. Eu aceno com a cabeça.

“Depois falamos disso, pode ser?”

Ela entende. Também não está nada ansiosa para encontrar os comerciantes de escravos.

Eu me apresso e abro logo o alçapão, desço pela íngreme escada. Está escuro aqui dentro e preciso me guiar através do toque. Estendo as mãos e sinto uma fileira de frascos de vidros, tilintando quando os toco. Os potes de vidro. Não perco tempo. Pego meu saco de estopa vazio e os encho o mais rápido que consigo. Eu mal consigo enxergá-los enquanto o saco vai ficando cada vez mais pesado, mas lembro-me de haver geleia de framboesas, de mirtilos, picles, pepinos… Encho o saco o máximo que consigo e subo a escada para entregá-lo para Logan. Ele o pega e eu então eu encho mais três sacos.

Deixo a parede inteira vazia.

“Chega,” Logan fala. “Não dá para carregar mais. E está ficando escuro. Temos que ir.”

Agora há um pouco mais de respeito em sua voz. Ele está claramente impressionado com este estoque que eu encontrei e, finalmente, reconhece que precisávamos vir para cá.

Ele estende a mão e me oferece ajuda, mas eu consigo subir a escada sozinha, não preciso de sua ajuda e ainda estou brava com suas atitudes anteriores.

Ao sairmos da casinha, eu pego dois dos pesados sacos enquanto Logan se encarrega dos outros. Nós três nos apressamos e logo estamos refazendo nossos passos de volta à íngreme trilha. Em minutos, estamos de volta ao caminhão e estou aliviada de ver que tudo ainda está aqui. Olho para o horizonte e não vejo sinais de movimentação em lugar nenhum da montanha, nem no vale.

Entramos de novo no caminhão, giro a ignição, feliz de ver que ela funciona e partimos. Temos comida, suprimentos, nossa cachorra e eu pude me despedir da casa de papai. Estou satisfeita. Sinto que Bree, ao meu lado, também está contente. Logan olha para fora da janela, perdido em seus próprios pensamentos, mas não consigo deixar de imaginar que ele também acha que fizemos a decisão certa.

*

A trilha de volta, para descer a montanha, é desnivelada, para minha surpresa, os breques desta picape velha estão aguentando bem. Em alguns lugares, onde é bem íngreme, deslizamos controladamente, não brecamos realmente, mas, em alguns minutos, já passamos pelo pior e estamos de volta à estável Rota 23, em direção ao Leste. Vamos acelerando e, pela primeira vez em algum tempo, sinto-me otimista. Temos ferramentas preciosas e comida suficiente para nós para alguns dias. Estou me sentindo bem, realizada, enquanto cruzamos a Rota 23, apenas a alguns minutos de chegarmos ao barco.

E, então, tudo muda.

Aperto os freios repetidamente ao ver uma pessoa surgir do nada e ficar bem no meio da rua, balançando os braços histericamente, bloqueando nosso caminho. Ele está a menos de cinquenta metros de nós e eu preciso pisar nos freios com toda a minha força, fazendo a picape patinar;

“NÃO PARE!” Logan manda. “Continue dirigindo!” Ele está usando seu tom militar.

Mas eu não consigo lhe dar ouvidos. Há um homem ali fora, indefeso, usando uns jeans surrados e um colete sem manga, neste frio. Ele tem uma longa barba preta, cabelos rebeldes e olhos grandes e insanos. É tão magro que não deve comer há dias. Carrega um arco e flecha, preso ao seu peito. É um humano, um sobrevivente, assim como nós, está óbvio.

Ele movimenta seus braços freneticamente e eu não posso atropelá-lo. Também não posso deixá-lo aqui.

Nós paramos bruscamente, a apenas alguns metros do homem. E ele continua lá, de olhos arregalados, como se não esperasse realmente que iríamos brecar.

Logan não perde tempo e sai do carro, com as mãos em sua pistola, mirando na cabeça do homem.

“PARA TRÁS!”ele grita.

Eu também saio.

O homem lentamente levanta os braços, parecendo atordoado enquanto dá vários passos para trás.

“Não atirem!” o homem implora. “Por favor! Eu sou um de vocês! Preciso de ajuda. Por favor. Vocês não podem me deixar morrer aqui. Não como há dias. Deixe-me ir com vocês. Por favor. Por favor!”

Sua voz está fraquejando e eu vejo angústia em seu rosto. Sei como ele se sente. Há pouco tempo, eu estava que nem ele, implorando por qualquer comida nas montanhas. Na verdade, não estou muito melhor que isso agora.

“Aqui, peguem isso!” o homem fala, tirando seu arco e estojo de flechas. “É para vocês! Não quero machucar ninguém!”

“Movimente-se devagar,” Logan avisa, ainda suspeitando.

O homem estende cautelosamente suas mãos e entrega a arma.

“Brooke, pegue,” Logan fala.

Eu dou um passo para frente, pego o arco e as flechas e os jogo dentro do caminhão.

“Veja,” o homem diz, abrindo um sorriso. “Não sou uma ameaça. Só quero me juntar a vocês. Por favor. Não podem me deixar morrendo aqui.”

Lentamente, Logan baixa sua guarda e abaixa um pouco sua arma. Mas continua de olho no homem.

“Desculpe-me,” Logan fala. “Mas não podemos alimentar mais uma boca.”

“Espere!” eu grito para Logan. “Você não é o único aqui. Você não toma todas as decisões.” Viro para o homem. “Qual é o seu nome?” eu pergunto. “De onde você vem?”

Ele olha desesperado para mim.

“Meu nome é Rupert,” ele responde. “Estou sobrevivendo aqui há dois anos. Já vi você e sua irmã antes. Quando os comerciantes de escravos a levaram, eu tentei ajudar. Fui eu quem cortou aquela árvore!”

Meu coração aperta quando ele diz isso. Foi ele quem tentou nos ajudar. Não posso simplesmente deixá-lo aqui. Não é certo.

“Temos que levá-lo,” eu falo para Logan. “Podemos arranjar espaço para mais um.”

“Você não o conhece,” Logan replica. “Além disso, nós não temos comida suficiente.”

“Posso caçar,” o homem fala. “Eu tenho um arco e flechas.”

“E não está te ajudando muito aqui em cima.” Logan retruca.

“Por favor,” Rupert diz. “Posso ser útil. Por favor. Não me interessa a sua comida.”

“Ele vai conosco,” eu falo para Logan.

“Não vai, não,” ele responde. “Você não conhece este home. Não sabe nada sobre ele.”

“Eu mal sei alguma coisa sobre você,” eu falo para Logan, minha raiva crescendo. Odeio como ele consegue ser tão cínico, tão defensivo. “Você não é o único que tem o direito de viver.”

“Se você levá-lo, estará prejudicando todos nós,” ele diz. “Não apenas você. Sua irmã também.”

“Há três de nós aqui pelo que eu saiba,” ouço a voz de Bree.

Eu me viro e vejo que ela saiu do caminhão e está atrás de nós.

“E isto significa que nós somos uma democracia. E meu voto conta. E eu voto para a gente levá-lo junto conosco. Não podemos deixá-lo aqui para morrer.”

Logan balança sua cabeça, parece enojado. Sem mais uma palavra sequer, com sua mandíbula enrijecida, ele entra de volta no caminhão.

O homem olha para mim com um enorme sorriso, sua cara se contrai em milhares de rugas.

“Obrigado,” ele sussurra. “Não sei como posso agradecer.”

“Apenas ande, antes que ele mude de ideia,” eu respondo enquanto retornamos ao caminhão.

Quando Rupert se aproxima da porta, Logan fala, “Você não vai sentar aqui na frente. Fique na parte de trás da picape.”

Antes que eu possa argumentar, Rupert alegremente vai para a parte de trás. Bree entra comigo e logo partimos.

O restante do caminho de volta é desesperador. Enquanto dirigimos, o céu escurece. Eu olho constantemente para o pôr-do-sol através das nuvens, cor de sangue. A cada segundo que passa, fica mais frio e a neve se endurece, vira gelo em alguns lugares, dirigir vai ficando perigoso. O ponteiro do combustível vai caindo, piscando uma luzinha vermelha e, apesar de faltar um quilômetro e meio mais ou menos, sinto como se o caminhão estivesse lutando para andar cada centímetro. Também me sinto muito inquieta com a opinião que Logan tem de nosso novo passageiro. É só mais um desconhecido. Só mais uma boca para alimentar.

Eu silenciosamente desejo que o caminhão continue andando, que o céu continue claro, que a neve não congele enquanto eu piso no acelerador. E, quando acho que nunca iremos chegar, fazemos uma curva e eu finalmente vejo o nosso desvio. Piso com força pela estradinha de terra, descendo na direção do rio, rezando para que o caminhão aguente. O barco, eu sei, está a apenas uns cem metros de distância.

Damos outra curva e, ao fazê-lo, meu coração se alivia quando vejo o barco. Ainda está ali, balançando na água, vejo Ben em pé, parece nervoso, olhando para o horizonte, procurando por nós.

“Nosso barco!” Bree grita entusiasmada.

Esta rua tem ainda mais lombadas quando aceleramos pela descida. Mas vamos conseguir. Nunca me senti tão aliviada.

Enquanto olho para o horizonte, à distância, vejo algo que faz meu coração se apertar. Não posso acreditar. Logan deve ter visto ao mesmo tempo que eu.

“Maldição,” ele sussurra.

Ao longe, no Hudson, está um barco de comerciantes d escravos – um belo, enorme, negro barco a motor, vindo rapidamente em nossa direção. Tem duas vezes o tamanho do nosso e, certamente, é mais bem equipado. Para piorar, tem outro barco atrás desse, mais distante.

Logan estava certo. Eles estavam bem mais perto do que eu imaginava.

Piso nos freios com tudo e derrapamos até pararmos, a uns dez metros da margem. Estaciono de qualquer jeito, abro a porta e saio, me preparando para correr.

De repente, sinto que há algo muito errado. Sinto que não consigo respirar, tem um braço apertando minha garganta e então sinto que estou sendo arrastada para trás. Estou perdendo ar, vendo estrelas e não entendo o que está acontecendo. Os comerciantes de escravos nos emboscaram?

“Não se mexa,” sibila uma voz em meu ouvido.

Sinto algo afiado e frio contra minha garganta e percebo que é uma faca.

E então eu entendo o que aconteceu: Rupert. O estranho. Foi ele quem me atacou.

₺140,02
Yaş sınırı:
16+
Litres'teki yayın tarihi:
09 eylül 2019
Hacim:
262 s. 5 illüstrasyon
ISBN:
9781632911377
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