Kitabı oku: «Arena Um: Traficantes De Escravos », sayfa 16
TRINTA
Acordo com a luz do dia me cegando. É como se o mundo estivesse vivo de novo. Raios de sol atravessam as janelas a minha volta, mais brilhantes do que nunca, refletindo em tudo. O vento parou. A tempestade acabou. A neve derrete na beira da janela, o som de água gotejando ecoa por todo lado. Há um estalo, um pedaço de gelo se partiu no chão.
Olho a minha volta, desorientada, e percebo que ainda estou no mesmo lugar de ontem à noite, o casaco de Logan ainda está me cobrindo. Sinto-me completamente rejuvenescida.
De repente, me lembro e me sento, atordoada. O amanhecer. Tínhamos que acordar ao amanhecer. A vista da luz brilhante da manhã me aterroriza, olho para o lado e vejo Logan deitado, ao meu lado, de olhos fechados. Está dormindo. Meu coração para. Dormimos demais.
Fico em pé, me sentindo com energia pela primeira vez e chacoalho seus ombros, com pressa.
“LOGAN!” digo com urgência.
Imediatamente, seus olhos se abrem e ele pula para se levantar. Ele olha a sua volta, alerta.
“É de manhã!” eu falo. “O barco. Nós vamos perdê-lo!”
Seus olhos se arregalam de surpresa quando ele percebe.
Nós dois entramos em ação, correndo pela porta. Minha perna ainda dói, mas estou agradavelmente surpresa ao ver que eu consigo correr agora. Eu desço a escada de metal atrás de Logan, meus passos ecoam. Seguro o corrimão de metal enferrujado, tenho cuidado ao passar por degraus que estão apodrecidos.
Nós chegamos ao térreo e saímos da construção, diretamente para a cegante luz da neve. É um inverno na terra das maravilhas. Invado a neve, que chega até minhas coxas e me deixa mais devagar, cada passo é uma luta. Mas eu sigo os rastros de Logan, ele vai abrindo caminho, tornando tudo mais fácil.
A água está lá na frente, estamos a apenas um quarteirão de distância. Para meu grande alívio, vejo o barco atracado no píer e só consigo ver a rampa de carga se levantando quando o último grupo de meninas acorrentadas é colocado para dentro. O barco está prestes a sair.
Eu corro mais rápido, caminhando penosamente na neve, o mais rápido que consigo. Enquanto nos aproximamos do cais, a uns cem metros de distância do barco, a rampa é removida. Eu ouço o ronco do motor e uma enorme nuvem negra sai da parte de trás do barco. Meu coração dispara.
Quando estamos próximos ao píer, eu me lembro de Ben, de nossa promessa – de nos encontrarmos no píer ao amanhecer. Enquanto corro, olho para esquerda e para direita, procurando por qualquer sinal dele. Mas não há nada. Meu coração afunda, me dou conta que isso só pode significar uma coisa: ele não sobreviveu.
Estamos próximos ao barco, nem trinta metros de distância, quando, de repente, ele começa a se mover. Meu coração palpita. Estamos tão perto. Agora não. Agora não!
Estamos a apenas vinte metros, mas o barco já deixou o cais. Já avançou uns três metros na água.
Eu aumento minha velocidade, agora correndo ao lado de Logan, abrindo meu caminho pela pesada neve. O barco já está a uns cinco metros da margem e se movendo mais depressa. Longe demais para pular.
Mas eu continuo correndo, a toda velocidade, até a borda, e, enquanto isso, eu repentinamente vejo cordas grossas, penduradas no barco e chegando ao cais, lentamente sendo arrastadas na margem.
As cordas se estendem atrás dele, como uma enorme cauda.
“AS CORDAS!” eu grito.
Logan aparentemente teve a mesma ideia. Nenhum de nós desacelera – pelo contrário, continuamos na corrida e, quando chegamos à margem, sem pensar, eu olho para a corda e salto.
Voo pelo ar, esperando, rezando. Se eu não pegá-la, será uma queda alta, pelo menos uns dez metros, e eu cairia na água congelante, sem ter como retornar. A água é tão gelada e as ondas são tão fortes que tenho certeza que eu morreria em segundos após o impacto.
Enquanto tento alcançar a corda grossa e cheia de nós, me pergunto se este poderia ser meu último momento na terra.
TRINTA E UM
Meu coração palpita na minha garganta enquanto tento pegar a grossa corda, cheia de nós. Eu consigo alcançá-la e a agarro com toda a minha vida. Como um pêndulo, fico balançando com ela, cortando o ar com velocidade total em direção à imensa carcaça enferrujada do barco. O metal vem em minha direção, me preparo para o impacto.
É extremamente doloroso colidir a toda velocidade, o metal batendo na lateral de minha cabeça, costelas e ombro. A dor e o choque do impacto quase me faz soltar a corda. Escorrego alguns centímetros, mas, de alguma forma, consigo me segurar.
Eu envolvo meus pés em torno da corda antes que eu escorregue e caia na água. Me seguro à corda, balançando, o barco continua em movimento, ganhando velocidade. Logan conseguiu pegar uma corda também. Ele está pendurado a alguns metros de mim.
Olho para baixo, para as água turbulentas a alguns metros abaixo de mim, elas ficam brancas à medida que o barco corta um caminho no rio. Essas correntes embaixo são muito fortes, especialmente para um rio, são fortes o bastante para levar este enorme barco para cima e para baixo.
Do meu lado direito, está a Estátua da Liberdade. Incrivelmente, ela sobreviveu intacta. Vê-la me inspira, sinto que talvez eu também consiga.
Felizmente, a Ilha dos Governadores está próxima, menos de um minuto de viagem. Lembro-me dos passeios de barco que fazia lá com Bree, nos dias quentes de verão e como ficávamos impressionadas de ser tão perto. Agora, estou grata por essa curta distância: se fosse mais longe, não sei se iria aguentar. A corda molhada raspa em minhas mãos congeladas, fazendo de cada segundo, um enorme esforço. Pergunto-me como vou sair dessa situação. Não há escada do lado do barco e, quando chegarmos à ilha, não terei outra saída a não ser descer da corda e pular na água. O que, sem dúvida, me mataria de tanto frio.
Eu percebo um movimento ao meu lado e vejo que Logan está, pouco a pouco, subindo a corda. Ele desenvolveu um engenhoso método de elevar seus joelhos, apertar as plantas de seus pés com força contra a corda grossa e, então, usar suas pernas para subir.
Eu tento fazer o mesmo. Levanto meus joelhos e aperto meu pé na corda. Fico, felizmente, surpresa ao ver que minha bota se fixa na corda. Estico minhas pernas e me impulsiono. Funciona. Faço isso de novo e de novo, imitando Logan e, dentro de um minuto, o tempo que levamos para chegar à ilha, eu já estou no topo da corda. Logan está lá, me esperando, oferecendo sua mão. Eu a alcanço e ele me puxa rápido e silenciosamente pela beira.
Nós dois nos abaixamos atrás de um contentor de metal e, furtivamente, inspeciono o barco. Na frente, de costas para nós, está um grupo de guardas segurando metralhadoras. Eles guiam uma dúzia de meninas, levando-as a por uma rampa baixada do barco. Esta visão me faz arder de indignação e me dá vontade de atacá-los agora mesmo. Mas, eu me forço a esperar, a me conter. Eu teria satisfação temporária, mas não recuperaria Bree.
O grupo começa a se mover, as correntes chacoalham, até todas estarem fora da rampa e entrarem na ilha. Quando o barco é esvaziado, Logan e eu assentimos mutuamente e, silenciosamente, saímos do barco, correndo pelas bordas. Descemos a rampa rapidamente, é uma boa ideia ir atrás de todos. Por sorte, ninguém está olhando para trás, para nós.
Em momentos, estamos em terra firme. Corremos pela neve e nos abrigamos debaixo de uma pequena estrutura, nos escondendo para ver para onde as meninas são levadas. Os comerciantes de escravos vão em direção a um prédio circular, de tijolos, parece uma mistura de anfiteatro e prisão. Há barras de aço em volta de todo o perímetro.
Nós seguimos seus rastros, nos escondendo atrás de uma árvore a cada vinte metros, tomando cuidado para não sermos vistos. Eu deixo minha mão em minha arma, caso precise utilizá-la. Logan faz o mesmo. Eles podem nos ver a qualquer momento, precisamos estar preparados. Seria um erro atirar – chamaria muita atenção, rápido demais. Mas se precisar, eu o farei.
Eles guiam as meninas até a porta aberta do prédio e então desaparecem na escuridão.
Nós dois entramos em ação, entramos correndo no interior, atrás delas.
Meus olhos precisam de um momento para se ajustar à escuridão. Do meu lado direito, perto da curva, um grupo de comerciantes de escravos leva as meninas, enquanto que, do meu lado esquerdo, um comerciante de escravo sozinho desce um corredor. Logan e eu trocamos olhares de cumplicidade e, sem dizer nenhuma palavra, ambos decidem ir atrás do comerciante de escravos solitário.
Corremos silenciosamente pelo corredor, alguns metros atrás dele, esperando por nossa chance. Ele chega a uma enorme porta de aço, tira um molho de chaves e começa a abri-la. O metal range, ecoando pelos corredores vazios; Antes que eu possa reagir, Logan tira uma faca e ataca o comerciante de escravos, o agarra pela parte de trás de sua cabeça e corta sua garganta em um movimento só. Sangue espirra para todos os lados enquanto ele colapsa, um amontoado sem vida no chão.
Eu pego seu conjunto de chaves, ainda na fechadura, giro e empurro a pesada porta de aço. Eu a deixo aberta para Logan entrar, e o sigo.
Estamos em um bloco de celas, longo, estreito, semicircular, cheio de pequenas celas. Eu ando pelo corredor, olhando para a direita e para a esquerda, visualizando os rostos atormentados e vazios das meninas. Elas me olham de volta, sem esperança, desesperadas. Parece que estão aqui há muito tempo.
Meu coração está martelando em meu peito. Procuro desesperadamente por qualquer sinal de minha irmã. Eu a sinto tão próxima. Enquanto atravesso, as meninas se dirigem às portas de suas celas e estendem suas mãos através das grades. Elas devem perceber que não somos comerciantes de escravos.
“POR FAVOR!” uma suplica. “Socorro!”
“DEIXE-ME SAIR DAQUI!” outra chora.
Logo, um coro de gritos e súplicas se instala. Está chamando a atenção demais. Quero ajudar essas meninas, mas não posso. Não agora. Preciso achar Bree antes.
“BREE!” eu grito, desesperada.
Acelero meus passos e começo a correr, passando de cela em cela.
“BREE? VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO? SOU EU! BROOKE! BREE? VOCÊ ESTÁ AQUI!?”
Enquanto corro de cela em cela, uma menina estica sua mão e agarra meu braço, me puxando para ela.
“Eu sei onde ela está!” ela fala.
Eu paro e fico olhando para ela. Seu rosto é tão desesperado quanto das outras.
“Tire-me daqui e eu contarei a você!” ela diz.
Se eu soltá-la, ela pode chamar atenção indesejada para nós. Mas, novamente, ela é minha melhor aposta.
Eu olho para o número de sua cela, então olho para as chaves em minhas mãos e encontro o número. Eu abro a fechadura, e a garota sai, correndo.
“TIRE-ME DAQUI TAMBÉM!” outra menina berra.
“EU TAMBÉM!”
Todas as garotas começam a gritar.
Eu seguro esta menina pelos ombros.
“Onde ela está!?” Eu exijo.
“Ela está na mansão. Eles a levaram hoje de manhã.”
“Mansão?” Eu pergunto.
“É onde eles levam as garotas novas. Para serem dominadas.”
“Dominadas?” questiono, horrorizada.
“Para sexo,” ela responde. “Para a primeira vez.”
Meu coração afunda com suas palavras.
“Onde?” eu peço. “ONDE FICA?”
“Siga-me,” ela fala e começa a correr.
Estou prestes a segui-la, mas, repentinamente, eu paro.
“Espere,” eu falo, segurando seu pulso.
Sei que eu não deveria fazer isso. Sei que eu deveria dar o fora daqui e me concentrar em salvar Bree. Sei que não há tempo e eu sei que ajudar os outros só me dará atenção não desejada e acabar com meus planos.
Mas, algo dentro de mim, um profundo sentimento de indignação, se agita. Não posso deixá-las aqui, desse jeito.
Então, contra meu próprio juízo, eu paro e viro para trás, corro de cela em cela. Ao chegar a cada uma, encontro a chave correta e a abro. Uma por uma, libertando todas as meninas. Elas saem correndo, histéricas, em todas as direções. Um barulho ensurdecedor.
Volto para a primeira que libertei. Por sorte, ela ainda está esperando com Logan.
Ela começa a correr e eu a sigo, passamos com pressa por vários corredores. Momentos depois, estamos sob a luz brilhante do dia.
Enquanto corro, posso ouvir o coro das garotas gritando atrás de nós, celebrando a liberdade. Não demorará muito até que os soldados nos peguem. Corro mais rápido.
A menina para e aponta para um lugar do outro lado do pátio.
“Ali!” ela diz. “Aquele prédio! A casa grande e antiga. Na água. A Mansão do Governador. É lá! Boa sorte!” ela grita, vira e corre para a outra direção.
Eu corro a toda velocidade para o prédio. Logan está bem ao meu lado.
Cruzamos o enorme campo correndo, a neve na altura de nossas coxas, nos atentando aos comerciantes de escravos. Felizmente, eles ainda não estão atrás de nós.
O ar frio queima meus pulmões. Penso em Bree, levada para algum lugar para ter relações sexuais e eu posso não chegar lá a tempo. Estou tão perto agora. Não posso deixar que a machuquem. Não agora. Não depois de tudo isso. Não quando estou a apenas alguns metros.
Eu me forço a continuar indo em frente, sem parar para respirar. Chego à porta da frente e sequer sou cautelosa. Não paro para olhar, simplesmente corro até ela e a chuto para abri-la.
Ela se escancara e eu continuo correndo para dentro da casa. Nem sei para onde devo ir, mas vejo um lance de escadas e meu instinto diz que devo subir. E eu subo, com pressa, sinto Logan bem atrás de mim.
Quando chegamos ao topo da escada, um comerciante de escravos sai de uma sala, sem máscara. Ele olha para mim, seus olhos se arregalam de susto, e ele vai pegar sua arma.
Não hesito. A minha já está na minha mão. Eu atiro a queima-roupa em sua cabeça; ele cai, o disparo é ensurdecedor neste ambiente fechado.
Continuo correndo pelo corredor, entro em uma sala qualquer. Chuto para a porta se abrir e fico horrorizada ao ver um homem em cima de uma garota, presa a uma cama. Não é Bree, mas, mesmo assim, me dá nojo. O homem – um comerciante de escravos sem máscara – pula, olha para mim com medo e vai atrás de sua arma. Eu atiro no meio de seus olhos. A menininha grita, há sangue espalhado sobre ela. Pelo menos, ele está morto.
Eu volto para o corredor, abrindo as portas a chutes enquanto sigo de quarto em quarto, cada um contendo um homem fazendo sexo com uma garota acorrentada. Eu continuo, procurando freneticamente pro Bree.
Chego ao fim do corredor, na uma última porta. Eu a abro com um chute, Logan está atrás de mim, entro no quarto. E congelo.
Uma cama de dossel domina o ambiente. Nela, está um homem grande, gordo e nu fazendo sexo com uma menina, amarrada à cama com cordas. Posso ver que esta menina está inconsciente e me pergunto se ela foi drogada. Este cara deve ser importante, pois, ao seu lado, há um comerciante de escravos sentado, de guarda.
Eu miro no homem gordo e, quando ele se vira, atiro em seu estômago. Ele cai no chão, grunhindo e então, atiro uma segunda vez – desta vez, na cabeça.
Mas me descuido. O guarda aponta sua arma para mim e posso ver, pelo canto dos meus olhos, que ele está prestes a atirar. Erro estúpido. Devia tê-lo matado primeiro.
Eu ouço um tiro e me encolho.
Ainda estou viva. O guarda está morto. Logan está parado em cima dele, segurando sua pistola.
Do outro lado da sala, há duas garotas sentadas, ambas acorrentadas em suas cadeiras. Elas estão inteiramente vestidas, tremendo de medo, claramente, eram as próximas na fila para serem colocadas na cama. Meu coração dispara. Uma delas é Bree.
Bree está lá sentada, acorrentada, amedrontada, olhos arregalados. Mas em segurança. Intocada. Cheguei a tempo. Mais alguns minutos e eu tenho certeza que ela estaria à mercê daquele gordo.
“Brooke!” ela grita, histérica, e começa a chorar.
Eu corro para ela, ajoelhando-me e a abraço. Ela me abraça de volta, da maneira que consegue, com as correntes, chorando em meu ombro.
Logan aparece e, tomando a chave do cinto do comerciante de escravos morto, soltamos as duas. Bree pula em meus braços, me abraçando, todo o seu corpo tremendo. Ela se pendura em mim como se nunca mais fosse me soltar.
Eu sinto as lágrimas rolando em minhas bochechas quando a abraço. Não acredito: é realmente ela.
“Eu disse que voltaria por você,” eu falo.
Quero abraçá-la para sempre, mas sei que não temos tempo. Logo este lugar irá inundar.
Eu a afasto e pego sua mão. “Vamos,” eu falo, me preparando para correr.
“Espere!” Bree grita, parando.
Paro e me viro.
“Temos que levar Rose também!” Bree diz.
A garota ao lado de Bree nos olha, tão sem esperança, perdida. É estranho, mas ela lembra muito Bree; com seu cabelo preto e longo e grandes olhos castanhos, as duas poderiam ser confundidas com irmãs.
“Bree, eu sinto muito, mas não podemos. Não temos tempo e—”
“Rose é minha amiga!” Bree berra. “Não podemos simplesmente deixá-la. Não!”
Olho para Rose e meu coração transborda com a visão. Dirijo meu olhar para Logan, que me lança um olhar de desaprovação – mas que também quer dizer que a escolha é minha.
Trazer Rose junto vai nos deixar mais devagar. E será mais uma boca para alimentar. Mas Bree, pela primeira vez na sua vida, está sendo insistente – e ficar aqui parada só nos atrasa mais ainda. Sem falar que Rose parece tão doce e me lembra tanto Bree, já consigo ver como elas são próximas. E é a coisa certa a se fazer.
Contra meu próprio bom julgamento, eu digo “Tudo bem.”
Eu me aproximo da menina inconsciente, ainda amarrada na cama, uso minha faca para cortar a corda em quatro pedaços. Suas mãos e pés relaxam, caem aos lados da cama. Ela ainda está inconsciente e não sei falar se ela está doente, drogada ou morta. Mas não é hora de pensarmos nisso. Pelo menos agora, ela está livre.
Nós quatro saímos da sala e damos de cara com dois guardas vindo em nossa direção, prestes a pegarem suas armas. Eu reajo rapidamente, atiro na cabeça de um enquanto Logan dispara no outro. As meninas gritam com os tiros.
Pego a mão de Bree, Logan pega a de Rose e vamos correndo, descendo as escadas, pulando dois degraus de cada vez. Um momento depois, saímos da casa diretamente na neve brilhante. Guardas nos atacam do outro lado do jardim, só espero que encontremos um jeito de sair dessa ilha antes que nos alcancem.
TRINTA E DOIS
Eu olho ansiosamente a minha volta, tentando encontrar um jeito de nos tirar daqui. Procuro por veículos, mas não vejo nenhum, Então, me viro completamente, estou agora examinando a água, a costa. E então eu vejo: bem ali, atrás da mansão do governador, amarrada a um cais solitário, está uma pequena lancha luxuosa a motor. Tenho certeza que é reservada para os poucos privilegiados que utilizam esta ilha como parque de lazer.
“Ali!” eu digo, apontando.
Logan também avista o barco e então saímos correndo para a costa.
Corremos até um lindo e brilhante barco a motor, grande o suficiente para abrigar seis pessoas. Ele balança violentamente nessas águas turbulentas e parece poderoso, uma coisa de luxo. Tenho a sensação que este barco era utilizado por aquele homem gordo e pelado. Mais uma vingança.
Está balançando tão violentamente que não quero arriscar que Bree e Rose tentem entrar a bordo sozinhas. Então, eu levanto Bree enquanto Logan cuida de Rose.
“Corte a corda!” Logan fala, apontando.
Uma corda grossa ata o barco a um poste de madeira. Corro até o poste, tiro minha faca e a corto. Eu volto para o barco onde Logan já está no interior, segurando-se ao caia para que o barco não saia flutuando. Ele me estende a mão e me ajuda a entrar. Olho por trás de meu ombro e vejo uma dúzia de comerciantes de escravos vindo em nossa direção. Eles estão a menos de vinte metros de distância e se aproximam rapidamente.
“Eu cuido deles,” Logan fala. “Fique com timão.”
Eu vou rapidamente até o banco do condutor. Por sorte, pilotei barcos minha vida toda. Logan nos empurra para fora e se posiciona na parte posterior do barco, de joelhos, atirando nos soldados que estão vindo. Eles precisam procurar por proteção e isso os atrasa.
Olho para baixo e meu coração aperta quando vejo que não há chaves na ignição. Eu olho no painel de controle, e então procuro nos bancos da frente, agitada, meu coração disparado. O que faremos se não houver nenhuma?
Olho por cima de meu ombro e vejo os comerciante de escravos bem próximos, uns dez metro de distância apenas.
“VAMOS!” Logan grita, por cima do som dos tiros.
Tenho a ideia de procurar no porta-luvas, com esperança. Meu coração se alivia quando eu as encontro. Coloco as chaves na ignição, giro e o motor ronca para a vida. Fumaça negra vem do escapamento e o indicador de gasolina sobe até o topo. Tanque cheio.
Eu acelero e sou jogada para trás quando o barco pega no tranco. Posso ouvir corpos caindo atrás de mim, olho para trás e vejo que Bree, Rose e Logan foram todos deslocados pelo torque também. Eu acho que pisei forte demais – por sorte, ninguém caiu do barco.
Também tivemos sorte porque os comerciantes de escravos estão na beira da costa, a dez metros de distância. Saímos bem em tempo. Eles atiram em nossa direção e, como todos caíram no deck, as balas passam por cima de nossas cabeças. Uma delas raspa pelos painéis de madeira e outra destrói um dos espelhos retrovisores.
“ABAIXEM-SE!” Logan grita para as garotas.
Ele fica de joelhos na parte de trás, se levanta e atira. Pelo retrovisor, eu o vejo atingindo vários deles.
Continuo acelerando, forçando o motor com toda a sua força e, em questão de minutos, estamos bem longe da ilha. Quarenta e cinco metros, depois noventa, cento e oitenta… Logo, estamos a salvo, fora do alcance de suas balas. Os comerciantes de escravos ficam em pé, na costa, sem pode fazer nada, agora, são apenas pontinhos no horizonte, observando como nos distanciamos.
Não acredito. Estamos livres.
*
À medida que avançamos, mais e mais no rio, sei que deveria estar no meio da hidrovia, distante da costa e navegar rio acima, nos afastando da cidade o máximo possível. Mas algo dentro de mim me impede. Pensamentos de Ben aparecem de novo e eu não consigo deixá-lo para lá tão facilmente. E se, de algum jeito, ele conseguiu chegar em Seaport? E se ele só estivesse atrasado?
Simplesmente não consigo deixar isso de lado. Se, por alguma chance, ele estiver lá, não posso simplesmente abandoná-lo. Tenho que vê-lo. Eu preciso ter certeza.
Então, ao invés de navegar rio acima, eu direciono o barco para o lado oposto – de volta para Seaport. Em poucos minutos, a costa de Manhattan vai aparecendo, cada vez mais próxima. Meu coração dispara com o potencial perigo que pode estar nos esperando – numerosos comerciantes de escravos armados, esperando às margens para atirar em nós.
Logan percebe que estou indo na direção errada e, de repente, vem correndo ao meu lado, agitado.
“Para onde você está indo!?” ele grita. “Você está voltando para a cidade!”
“Preciso ver uma coisa,” eu falo, “antes de ir.”
“Ver o que!?”
“Ben,” eu respondo. “Ele pode estar lá.”
Logan franze a testa.
“Isso é loucura!” ele fala. “Você está nos levando de volta para o ninho de cobras. Colocando todos nós em perigo! Ele teve a chance dele! Ele não estava lá!”
“Eu preciso ter certeza,” eu grito de volta. Estou determinada, nada irá me impedir. Percebo que, em certas coisas, sou igual mamãe.
Logan se vira e se afasta, mal-humorado, posso ver o quanto ele desaprova isso. Eu não o culpo. Mas preciso fazer isso. Sei que, se fosse Ben, ele voltaria e iria me procurar também.
Em minutos, o porto está à vista. Vamos nos aproximando, trezentos metros… duzentos… e então, quando estamos a cem metros de distância, juro ver alguém, em pé, sozinho, no final do cais. Ele está olhando para a água, meu coração dispara.
É Ben.
Mal consigo acreditar. Ele realmente está ali. Vivo. Parado, com neve até as coxas, tremendo. Meu coração aperta quando percebo que está sozinho. Isso só pode significar uma coisa: seu irmão não resistiu.
Estamos perto agora, talvez uns vinte metros de distância, perto o suficiente para eu ver as linhas de dor gravadas no rosto de Ben. A distância, vejo uma caravana de veículos comerciantes de escravos atravessando a neve, em direção ao píer. Não temos muito tempo.
Eu paro o barco e o encosto no píer; Ben, esperando, corre para a borda. Estamos parados, mexendo violentamente com as ondas e, imediatamente, me pergunto como Ben irá entrar. É uma queda de uns três metros do cais. Ben olha para baixo, há medo em seus olhos, ele deve estar pensando a mesma coisa, tentando descobrir um jeito de pular.
“Não pule!” Logan grita. “Pode destruir o barco!”
Ben para e olha para ele, paralisado de medo.
“Fique sobre suas mãos e joelhos, vire e se arraste para trás,” Logan comanda. “ Mova-se lentamente para baixo. Pendure-se na borda do píer e depois solte suas mãos. Eu vou segurá-lo.”
Ben faz o que ele diz e, lentamente, desliza até a borda, até estar pendurado, sustentado pelas mãos. Logan, tenho que reconhecer, se aproxima e o segura e então o coloca no barco. Bem a tempo: os comerciantes de escravos estão a menos de cinquenta metros de nós, e se aproximam rapidamente.
“VAMOS!” Logan grita.
Eu piso no acelerador e partimos, voando rio acima. Enquanto isso, tiros são disparados de novo, passam de raspão por nosso barco e afundam na água, em pequenos respingos. Logan se ajoelha e atira de volta.
Felizmente, não são páreos para nossa velocidade: em poucos minutos, estamos bem longe da costa, no meio do rio, longe do alcance das balas. Continuo indo para o norte, rio acima, na direção de casa.
Agora, finalmente, não há mais nada para nos impedir.
Agora, estamos livres.
*
Avançamos pelo Rio do Leste e, enquanto navegamos, é extraordinário ver os restos das pontes tão de perto. Passamos pelos destroços da Ponte do Brooklyn, seu metal enferrujado saindo da água como se fosse algo pré-histórico. Ela se eleva sobre nós, vários andares acima, como um arranha-céu surgindo da água. Sinto-me uma anã quando passamos por ela e não deixo de me perguntar se um dia ela será reconstruída.
Próximo a ela, está o avião de bombardeiro sobressaindo da água, eu desvio e mantenho uma boa distância dele. Não sei que tipo de metal sai dessas águas geladas e não quero saber.
Logo atravessamos os remanescentes da Ponte de Manhattan, e então a Ponte Williamsburg. Piso no acelerador, querendo nos livrar dessas visões horríveis o quanto antes.
Um pouco depois, passamos por onde um dia fora a Ilha Roosevelt, sua estreita faixa de terra agora é um terreno baldio, como todo o resto. Viro à esquerda e encontro a ponte da Rua 59 também destruída – junto com o bonde que costumava conectar a ilha a Manhattan. O bonde, enferrujado e demolido, flutua no rio como uma boia enorme. Tenho que tomar cuidado para evitar hidrovias estreitas.
Continuo indo rio acima, cada vez mais longe, passando por destruição atrás de destruição até que, finalmente, eu viro a esquerda na hidrovia do Rio Harlem. É muito mais estreito, com terra a apenas quinze metros de cada um dos nossos lados. Sinto-me muito mais apreensiva ao atravessá-lo. Fico de olho nas margens, caso aconteça uma emboscada.
Mas não vejo nada. Talvez eu esteja sendo paranoica. Se os comerciantes de escravos forem se mobilizar para nos perseguir – e tenho certeza que o farão – possivelmente temos pelo menos uma hora de vantagem sobre eles. Especialmente devido a toda neve. E até lá, espero que a gente já esteja muito longe no Hudson para eles nos pegarem.
O Rio Harlem serpenteia entre Manhattan e o Bronx, e finalmente nos entrega à vasta extensão aberta do Rio Hudson. O Hudson, pelo contrário, é tão largo quanto dez campos de futebol e eu tenho a impressão de ter entrado no oceano. Finalmente, estou à vontade de novo. Finalmente estamos de volta ao rio que eu me recordo. O rio que nos leva para casa.
Viro à direita e nos dirigimos para o norte, indo de volta para casa, rumo às Montanhas Catskills. Em apenas duas horas, estaremos lá.
Não que eu planeje voltar para casa. Não. Voltar agora seria uma besteira: os comerciantes de escravos sabem onde vivemos e certamente seria o primeiro lugar onde eles procurariam por nós. Quero parar em casa, enterrar Sasha, me despedir. Mas não ficarei. Nosso destino deveria ser algum lugar ao norte. O mais longe que pudermos chegar.
Penso na casinha de pedra que eu havia encontrado, no alto da montanha, e sinto uma angústia quando lembro o quanto eu queria morar nela. Sei que talvez um dia seja uma ótima casa para nós. Mas este dia ainda não chegou. É muito próximo de onde morávamos antes, muito perigoso agora. Precisamos esperar que as coisas tranquilizassem. Talvez, um dia, poderemos retornar. Além disso, há cinco de nós agora. Cinco bocas para alimentar. Precisamos achar um lugar que sustente todos nós.
Enquanto nós dirigimos rio acima, eu finalmente começo a relaxar, repousar. Sinto a tensão lentamente desaparecer do meu pescoço e ombros. Respiro fundo pela primeira vez. Não acredito que realmente conseguimos. É mais do que consigo processar. Sinto as dores, hematomas e ferimentos por todo o meu corpo, mas nada mais importa agora. Estou simplesmente feliz pois Bree está segura. Estamos juntas.
Tiro um momento para olhar ao meu redor, fazer um balanço e observar todos que estão no barco. Estive tão focada em nos tirar da cidade que nem parei para pensar nos demais. Olho para Logan, ali sentado, satisfeito, no banco de passageiro, ao meu lado. Olho para trás e vejo os outros sentados em fileiras atrás de mim. Cada um olhando para a água, em sua direção, cada um perdido em seus próprios pensamentos.
Estico minha mão e toco no ombro de Logan. Ele se vira para mim.
“Você se importa de pilotar?” eu peço.
Ele se levanta de seu assento rapidamente, feliz por me ajudar e pega o timão enquanto trocamos de lugar.
Eu volto para a parte posterior do barco. Estou morrendo de vontade de conversar com Bree, e também de falar com Ben, saber o que aconteceu com seu irmão. Quando me dirijo para trás, vejo Ben sentado em um estado catatônico, olhando para o rio. Parece que ele envelheceu dez anos da noite para o dia, há sofrimento gravado em seu rosto. Só posso imaginar o que ele passou, a culpa que deve sentir por não salvar seu irmão. Se fosse eu, não sei se iria suportar isso. Eu o admiro por conseguir estar aqui.
Quero conversar com ele, mas preciso ver Bree primeiro. Vou até a última fileira e me sento ao seu lado, seus olhos brilham ao me ver. Ela me dá um forte abraço, ficamos assim por um longo tempo. Ela me aperta, claramente não querendo me soltar.