Kitabı oku: «Arena Um: Traficantes De Escravos », sayfa 8
Estes comerciantes de escravos são mais espertos do que eu imaginava. Foi uma jogada ousada e eles conhecem este terreno muito bem. Sabem exatamente onde estão indo. Acredito que ninguém nunca conseguiu segui-los por tanto tempo como nós. Olho para Ben e vejo que, desta vez, ele conseguiu segurar a arma; outro golpe de sorte. É hora de voltarmos à ação, coloco de novo a marcha e acelero.
De repente, há um barulho de bipe, olho para baixo e vejo uma luz vermelha piscando no painel de controle: POUCO COMBUSTÍVEL.
Meu coração para. Agora não. Não após tudo que já passamos. Não quando estamos tão perto.
Por favor, Deus, nos dê apenas o necessário para pegá-los.
O barulho continua incessantemente, alto em meus ouvidos, como uma sentença de morte. Eu perdi os comerciantes de escravos de vista e tenho que voltar a seguir seus rastros. Subo uma montanha e chego a uma encruzilhada, há trilhas de veículos em todas as direções. Não sei qual caminho eles seguiram e isto também parece ser outra armadilha. Decido permanecer em linha reta, porém, assim que o faço, tenho a impressão de que estes rastros são antigos e que os sequestradores de Bree foram em outra direção.
Inesperadamente, o céu se abre e eu me encontro dirigindo em uma rua estreita, ao lado de onde um dia fora o Reservatório do Central Park, e hoje parece uma enorme cratera na terra, sem água e cheia de neve. Várias ervas daninhas crescem pela parte inferior. Esta rua é apertada e cabe apenas nosso carro, há uma íngreme inclinação à minha esquerda e, à direita, uma descida ainda mais íngreme ainda, que leva para a parte inferior do reservatório. Um movimento errado em qualquer uma das direções e estaremos fritos. Pergunto-me porque os comerciantes de escravos escolheriam um caminho tão perigoso, mas não há sinal deles.
Repentinamente, há uma colisão e minha cabeça é lançada para frente. No início, estou confusa e então percebo: algo bateu na nossa traseira.
Eu olho no retrovisor e vejo que eles estão bem atrás de nós, com sorrisos sádicos em seus rostos. Suas máscaras estão levantadas e eu posso ver que ambos são Biovítimas, com rostos grotescos, artificiais e dentes deformados e enormes. Eu consigo ver o sadismo, a alegria deles em acelerar e nos atingir por trás. Meu pescoço é lançado para frente com o impacto. Eles são bem mais inteligentes do que eu achava: de algum jeito, eles conseguiram ficar atrás de nós e agora têm a vantagem. Eu não esperava por isso. Não tenho espaço para manobrar e nem posso pisar nos freios.
Eles batem em nós de novo e, dessa vez, o carro deles chega a inclinar e o nosso escorrega para o lado. Colidimos contra a grade de aço do reservatório, escorregamos para o outro lado e quase caímos do precipício. Eles nos deixaram em uma má posição. Se baterem em nós de novo desse jeito, vamos rolar ladeira abaixo e estaremos acabados.
Eu piso no acelerador; o único jeito de sobreviver é deixá-los para trás. Mas eles estão muito rápidos também e batem em nós de novo. Desta vez, colidimos com a divisória de metal e deslizamos ainda mais, quase caímos. Com sorte, batemos em uma árvore e ela nos salva, nos mantém na estrada.
Estou me sentindo cada vez mais desesperada. Olho para o lado e vejo Ben bastante atordoado também, parece mais pálido que antes. De repente, tenho uma ideia.
“Atire neles!” eu grito.
Ele imediatamente abre a janela e se inclina para fora com a pistola.
“Eu não consigo acertar os pneus deles daqui!” ele grita por cima do vento. “Eles estão muito perto! O ângulo é muito fechado!”
“Atire no para-brisa!” eu grito de volta. “Não mate o motorista. Atinja o passageiro!”
Posso ver no meu espelho retrovisor que eles copiaram nossa ideia: o passageiro também está abaixando sua janela e pegando sua arma. Só rezo para que Ben atire primeiro, que ele não tenha medo. De repente, vários disparos ressoam, são ensurdecedores, mais altos que qualquer barulho.
Eu me encolho meio que esperando uma bala acertar minha cabeça.
Estou surpresa de ver que foi Ben quem atirou. Olho no retrovisor e não consigo acreditar no que vejo: a mira dele foi perfeita. Ele atingiu o para-brisa do lado do passageiro várias vezes – tantas, no mesmo lugar, que parece que conseguiu ultrapassar o vidro a prova de balas. Eu vejo algo vermelho espalhado no interior no para-brisa e isso só pode significar uma coisa. Sangue.
Não consigo acreditar. Ben conseguiu matar o passageiro. Ben. O menino que, minutos atrás, estava traumatizado ao ver um cadáver. Não acredito que ele realmente acertou, a essa velocidade.
E funcionou. O carro deles desacelera dramaticamente e eu uso essa oportunidade para acelerar.
Um pouco depois, estamos fora do reservatório e de volta aos campos. Agora, o jogo mudou: eles têm um homem a menos e nós os alcançamos. Finalmente, nós temos a vantagem. Se ao menos o indicador de “pouco combustível” parasse de fazer barulho, eu estaria mais otimista.
O carro deles vem voando atrás de nós e eu diminuo a velocidade, fico lado a lado com eles e vejo uma expressão preocupada no rosto do motorista. É a confirmação que eu preciso: fico aliviada de ver que o passageiro foi atingido e Bree não. Eu a vejo de relance no banco de trás e meu coração aperta de esperança. Pela primeira vez, eu sinto que eu posso realmente conseguir fazer isso. Levá-la de volta.
Agora estamos correndo lado a lado no campo aberto e eu viro o volante com força para bater neles. O carro deles voa pelo campo, fazendo curvas descontroladamente. Mas ele não para. Sem perder o ritmo, o motorista vem em minha direção e colide em nós. E agora nós vamos girar loucamente. Esse homem simplesmente não desiste.
“Atire!” eu grito para Ben. “Acabe com o motorista!”
Eu percebo que o carro deles vai bater de novo, mas não temos escolha. E, se for para bater em algum lugar, este campo aberto, rodeado de árvores, seria o melhor lugar.
Ben imediatamente abaixa sua janela e começa a mirar, mais confiante desta vez. Estamos dirigindo bem ao lado dele, perfeitamente alinhados, temos o motorista exatamente na nossa linha de fogo. É a nossa chance.
“ATIRE!” eu grito de novo.
Ben aperta o gatilho e, de repente, ouço um barulho que faz meu estômago revirar.
O clique de uma arma sem munição. Ben aperta o gatilho várias vezes, mas não há nada a não ser estalos. Usamos todas as balas no reservatório.
Consigo captar um sorriso maldoso e vitorioso no rosto do comerciante de escravos quando ele vira em nossa direção. Ele bate com força em nosso carro e somos jogados pelo campo coberto de neve, para uma colina de grama. De repente, vejo uma parede de vidro. Tarde demais.
Preparo-me para colidir contra a parede, o vidro se estilhaça como uma bomba ao nosso redor, fazendo chover cacos de vidro pelos buracos no teto. Levo um tempo para perceber onde estamos: no Museu Metropolitano de Arte. Na Ala Egípcia.
Olho ao meu redor e percebo que não há nada mais no museu, saqueado há muito tempo – nada exceto por uma enorme pirâmide, ainda na sala. Eu finalmente consigo desviar e parar de atravessar vidros. O comerciante de escravos conseguiu alguma distância e está uns quarenta e cinco metros a nossa frente, a minha direita, mais uma vez, eu acelero.
Eu o sigo correndo pelo parque, indo na direção sul, subindo e descendo colinas. Preocupada, verifico o medidor de combustível que não para de apitar. Passamos por remanescentes de um anfiteatro, ao lado de um lago, na sombra do Castelo Belvedere, que agora é apenas uma ruína no. O teatro está coberto de neve e mato e suas grades, enferrujadas.
Cruzamos o local onde um dia foi o Great Lawn, e eu imito seus passos na neve, ziguezagueando, evitando buracos. Sinto-me tão mal por Bree, quando penso tudo que ela deve estar passando. Apenas rezo para que ela não esteja tão traumatizada. Rezo para que alguma parte de nosso Pai esteja com ela, mantendo-a forte e corajosa nesse momento.
De repente, tenho um golpe de sorte: adiante, ele passa por um grande buraco. O carro dele chacoalha e faz uma curva violentamente, ele perde o controle, fazendo um giro de 360°. Eu me encolho junto com eles, torcendo para que Bree não se machuque.
O carro deles está em ordem. Após alguns giros, ele ganha tração de novo e eles começam a acelerar. Porém, eu diminuo a vantagem e estou chegando bem perto. Mais alguns segundos e estarei bem atrás dele.
Mas eu fiquei olhando para o veículo dele e estupidamente tirei meus olhos da rua. Volto a olhar bem na hora e congelo de medo: há um animal bem na nossa frente.
Eu desvio, mas é tarde demais. Ele nos atinge bem no para-brisa, quebrando-o e caindo sobre o teto. Há mancha de sangue sobre todo vidro. Eu ligo os limpadores de para-brisas, grata que eles ainda estejam funcionando. O sangue grosso se espalha e eu mal consigo ver.
Olho no retrovisor, imaginando o que era aquilo e vejo um enorme avestruz morto atrás de nós. Fico desconcertada. Mas não tenho nem tempo de processar isso direito, pois, imediatamente, fico surpresa de ver um leão a nossa frente.
Preciso virar bruscamente, por pouco não o acerto. Olho mais uma vez e fico admirada de ele ser real. Está magro e parece malnutrido. Fico ainda mais desconcertada. E, então, finalmente, tudo faz sentido: a minha esquerda, está o zoológico do Central Park, seu portão, portas e janelas completamente abertas. Há alguns animais ainda vivos por perto e, sobre a neve, estão as carcaças de vários outros, seus corpos consumidos há muito tempo.
Piso no acelerador, tentando não olhar, seguindo os rastros do comerciante de escravos. Eles sobem uma pequena colina, e depois descem uma íngreme ladeira, até uma cratera. Percebo que era uma pista de skate. Uma placa grande, torcida está pendurada, suas letras gastas dizem: “Trump”.
Ao longe, o parque começa a acabar. Ele gira bruscamente para a esquerda e eu o sigo. Nós dois aceleramos para subir. Momentos depois, deixamos do Central Park – ao mesmo tempo, lado-a-lado – saindo pela Rua 59 e a Quinta Avenida. Saio voando pela colina, por um momento, meu carro fica suspenso no ar. Aterrissamos com um baque e eu, momentaneamente, perco o controle e acabamos batendo em uma estátua, derrubando-a.
Diante de nós, há uma fonte circular, saio do caminho no último segundo, e o persigo em volta do círculo. Ele invade a calçada, e eu estou sigo atrás dele, ele vai em direção a um enorme prédio. O Plaza Hotel. Sua antiga fachada, uma vez imaculada, hoje está coberta de sujeira e abandonada. Suas janelas estão quebradas, parece um cortiço.
Ele se choca contra as barra enferrujadas que sustentam o toldo que, com o impacto, cai, perdendo sua capa. Eu desvio do caminho e continuo atrás dele quando ele faz uma curva a esquerda e corta pela Quinta Avenida, claramente tentando me deixar para trás. Ele sobe uma pequena escada de pedras e eu o sigo, nosso carro se sacode violentamente a cada degrau. Ele se dirige a uma grande caixa de vidro, que costumava ser a loja da Apple. Incrivelmente, sua fachada continua intacta, a única coisa intacta que vejo desde que a guerra começou.
Não mais. No último segundo, ele sai do caminho, mas é tarde demais para mim. Nosso carro bate bem no meio da fachada da caixa de vidro. Há uma tremenda explosão de vidro, cujos estilhaços vão caindo dentro dos buracos do nosso teto enquanto eu vou invadindo a loja. Sinto um pouco de culpa ao destruir a única coisa que restou em pé – mas, então, lembro-me de quanto paguei por um iPad naquela época e minha culpa diminui.
Eu retomo o controle quando o comerciante de escravos vira a esquerda na Quinta Avenida. Ele está uns trinta metros de distância, mas não vou desistir, sou como um cachorro atrás de um osso. Só espero que nosso combustível resista.
Estou impressionada com o que se tornou a Quinta Avenida. Esta famosa avenida, que uma vez fora modelo da prosperidade e do materialismo, agora é, como todo o resto, apenas um local abandonada, em ruínas, suas casas foram saqueadas, seus estabelecimentos foram destruídos. Enormes plantas crescem bem no meio dela, fazendo-a parecer um pântano. A Bergdorf passa rapidamente a minha direita, seus andares completamente vazios, sem janelas, uma casa fantasma. Desvio de carros abandonados e, quando chegamos à Rua 57, vejo o que sobrou da Tiffany’s. Esse local, um dia o símbolo da beleza, agora é apenas mais uma mansão abandonada, como as demais. Nenhuma joia sequer permanece em suas vitrines vazias.
Eu piso no acelerador e cruzamos as Ruas 55, depois a 54, e depois a 53… Passo a catedral de São Patrício a minha esquerda, seu enorme portal arqueado foi arrancado há muito tempo e agora está largado em sua escadaria. Posso ver sua estrutura aberta, inclusive seu vitral ao fundo.
Tirei meus olhos da rua por tempo demais e, repentinamente, o comerciante faz uma curva fechada para a direita, entrando na Rua 48. Estou indo rápido demais e, quando tento virar, escorrego e acabo girando 360°. Por sorte, não bato em nada.
Retomo o caminho e continuo seguindo-o, mas seu movimento estratégico lhe deu alguma distância. Vou atrás dele na Rua 48, indo para o oeste, cruzando a cidade e passo na frente de onde ficava o Rockefeller Center. Lembro-me de vir aqui com meu pai na época de Natal, costumava achar tudo mágico. Nem acredito que agora só há escombros, prédios destruídos. O Rock Center virou uma área devastada.
Novamente, tirei meus olhos da rua por tempo demais e, quando olho de volta, preciso pisar nos freios, mas não há tempo. Bem a minha frente, tombada de lado, está a enorme Árvore de Natal do Rockefeller. Vamos colidir com ela. Pouco antes do impacto, consigo ver luzes e enfeites que restaram. A árvore está marrom, pergunto-me há quanto tempo ela está aqui.
Batemos de frente e fazemos um giro de 120°. Foi tão forte que a árvore inteira se desloca na neve, eu vou empurrando-a, arrastando-a junto. Milhares de agulhas de pinheiro caem pelos buracos no teto. Um monte deles grudam no sangue do nosso para-brisa. Nem consigo imaginar como nosso carro está do lado de fora.
Este comerciante de escravos conhece a cidade muito bem: suas espertas ações deram a ele outra vantagem e agora o perdi de vista. Mas ainda vejo seus rastros e, lá na frente, vejo que eles viraram a esquerda na Sexta Avenida. Continuo seguindo.
A Sexta Avenida é outra terra devastada, suas ruas estão cheias de tanques e Humvees abandonadas, a maioria de cabeça para baixo, despojadas de qualquer coisa que poderia ser útil, até os pneus. Desvio de todos estes, de olho no comerciante de escravos mais adiante. Pergunto-me pela milionésima vez para onde ele está indo. Será que está cruzando a cidade apenas para me despistar? Ele tem um destino em mente? Penso com esforço, tento me lembrar de onde fica a Arena Um. Mas não faço ideia. Até hoje, nem tinha certeza que ela existia.
Ele acelera descendo a Sexta Avenida e eu também, finalmente ganhando velocidade. Quando cruzamos a Rua 43, a minha esquerda, vejo de relance o Bryant Park, e a parte de trás de onde um dia foi a Biblioteca Pública de Nova Iorque. Meu coração aperta. Eu adorava ir a esse prédio magnífico. E agora são só escombros.
O comerciante de escravos faz uma curva fechada à direita, na Rua 42 e, dessa vez, estou bem atrás dele. Nós dois escorregamos e depois recuperamos o controle. Corremos pela rua na direção oeste, me pergunto se ele está indo para a Autoestrada do Lado Oeste.
A rua se abre e chegamos ao Times Square. Ele dispara em direção à praça e eu vou junto, invadindo a grande intersecção; Lembro-me de vir aqui, quando criança, fiquei espantada com o tamanho e o espaço do local, com todas aquelas pessoas. Lembro-me de ficar encantada pelas luzes, pelos painéis piscantes. Agora, como todo o resto, tudo está em ruínas. Claro, nenhuma das luzes funciona mais e não há uma viva alma. Todos os painéis que antes eram orgulhosamente expostos, agora estão pendurados precariamente ao vento, ou caídos pela rua. Muitas ervas-daninhas cobrem a intersecção. No meio, onde havia um centro de recrutamento, agora, ironicamente, estão as carcaças de vários tanques, todos retorcidos e destruídos. Penso na batalha que se instalou aqui.
De repente, o comerciante de escravos entra para a esquerda, em direção à Broadway. Eu vou atrás e, ao fazê-lo, fico chocada com o que vejo a minha frente: uma enorme parede de cimento, como um muro de prisão, se levanta até o céu, coroada com arames farpados. A parede se estende até onde a vista alcança, separando Times Square do que quer que esteja ao sul. Como se estivessem tentando guardar algo. Há uma abertura no muro e os comerciantes de escravos passam por ela; e, à medida que passam, um enorme portão de ferro maciço repentinamente se fecha atrás deles, os separando de mim
Eu piso nos freios, parando ruidosamente bem a tempo de não batermos no portão. Atrás dele, os comerciantes de escravos estão saindo. Tarde demais. Eu os perdi.
Eu não consigo acreditar. Estou paralisada. Fico sentada, imóvel, no silêncio, nosso carro parou pela primeira vez em horas, e sinto meu corpo tremer. Eu não havia previsto isso. Pergunto-me porque esta parede está aqui, porque eles segregariam uma parte de Manhattan. Do que eles precisam se proteger.
E então, um momento depois, eu tenho minha resposta.
Um ruído misterioso aparece, é o som estridente de metal, os pelos da minha nuca se arrepiam. Pessoas saem da terra, aparecendo de bueiros em todas as direções. Biovítimas. Por toda a Times Square. Estão maltratados, vestem farrapos e parecem desesperados. Os Loucos.
Eles realmente existem.
E estão saindo da terra, de todos os lados, vindo em nossa direção.
DOZE
Antes que eu possa reagir, eu sinto uma movimentação acima de minha cabeça e olho para o alto. De pé, no topo do muro, há vários comerciantes de escravos, usando suas máscaras negras, segurando armas. Eles estão apontando para nós.
“DIRIJA!” Ben grita, frenético.
Eu já estou pisando no acelerador, dando o fora daqui, quando ouço os primeiros disparos. Uma chuva de fogo cai sobre o carro, rebatendo no teto, no metal, no vidro à prova de balas. Eu apenas rezo para que nada se quebre em pedaços.
Ao mesmo tempo, os Loucos avançam em nossa direção, vindo de todos os lados. Um deles chega por trás e lança uma garrafa de vidro com um trapo pegando fofo dentro. Um coquetel Molotov cai bem na frente do nosso carro e explode, as chamas aparecem a nossa frente. Eu desvio a tempo, deixando o fogo ao lado do carro.
Outro vem correndo e pula no para-brisa. Ele se agarra e não solta, a cara dele grunhe para mim, através do vidro, poucos centímetros de distância. Eu desvio de novo, raspando em um poste e faço-o cair.
Vários outros pulam no capô e no porta-malas, fazendo peso. Eu acelero, tentando me desfazer deles enquanto continuamos na direção oeste pela Rua 42.
Mas três deles conseguem se segurar ao nosso carro. Um deles se arrasta pelo cimento e outro esta rastejando pelo capô. Ele segura uma barra de ferro, está pronto para acertá-la no para-brisa.
Faço uma curva fechada à esquerda na Oitava Avenida, é o suficiente. Os três saem voando do carro e aterrissam na neve.
Esta foi por pouco. Muito pouco.
Vou correndo pela Oitava Avenida e vejo outra abertura na parede. Há vários comerciantes de escravos a sua frente e percebo que eles talvez não saibam que não sou um deles. Afinal, a entrada da Times Square está a uma avenida de distância. Se eu for por ali, confiante, talvez acreditem que eu sou em deles e mantenham o portão aberto.
Vou na direção do portão, cada vez vai rápido, diminuindo a distância. Noventa metros… Cinquenta… Trinta… Eu vou direto e, até agora, está ainda aberta. Não há como parar agora. Se eles fecharem, estamos mortos.
Eu me preparo, assim como Ben. Quase esperando pelo impacto.
Mas, um momento depois, nós passamos. Conseguimos. Suspiro de alívio.
Estamos dentro. Estou a 160 km/h, descendo a Oitava Avenida, na contramão. Estou prestes a virar para a esquerda, tentando alcançá-los na Broadway quando, de repente, Ben se inclina para frente e aponta.
“Ali!” ele grita.
Forço meus olhos, tentando ver para onde ele está apontando. O para-brisa ainda está coberto de sangue e agulhas de pinheiros.
“ALI!” ele grita de novo.
Olho de novo e, dessa vez, vejo: ali, dez quadras para frente, um grupo de Humvees, estacionados fora da Estação Penn. Vejo o comerciante de escravos que eu estava seguindo, estacionada na frente, a exaustão ainda soltando fumaça. O motorista está fora do carro, correndo pelas escadas da Estação Penn, levando Bree e o irmão de Bem, ambos com algemas, acorrentados. Meu coração dispara ao vê-la
O sinalizador de combustível está zunindo mais forte que antes, e eu acelero. Tudo o que preciso são de mais alguns quarteirões. Vamos. Vamos!
De alguma forma, nós conseguimos. Chego à entrada com os pneus cantando e estou a ponto de parar o carro e sair, quando percebo que perdemos tempo demais. Há apenas uma maneira de alcançá-los: continuar dirigindo na Estação Penn. É uma descida íngreme pelas estreitas escadas de pedra da entrada. Não foi feita para carros e me pergunto se isso vai dar certo. Vai ser doloroso. Eu me preparo.
“ESPEREM!” eu grito.
Viro à esquerda e acelero, ganhando mais velocidade. Eu já passo dos 225 km/h. Ben se segura no painel quando percebe o que eu estou fazendo. “MAIS DEVAGAR!” ele pede.
Mas agora é tarde demais. Saltamos no ar, voando pela escada de pedra. Meu corpo sacode demais, os pneus pulam com cada degrau e eu não consigo controlar o carro. Vamos cada vez mais rápido, levados por nosso próprio impulso e eu me preparo para colidir com os portões da Estação Penn. Ele perde suas dobradiças e, quando vejo, nós entramos.
Vamos ganhando tração e eu finalmente consigo controlar o carro de novo, agora que estamos em piso seco pela primeira vez. Passamos por outro lance de escadas, os pneus cantando. Atingimos o chão com um baque.
Estamos na enorme área da Amtrak, vou dirigindo por pela sala cavernosa, os pneus cantando enquanto tento equilibrar o carro. Mais adiante, há dúzias de comerciantes de escravos. Eles olham para mim chocados, claramente incapazes de entender como um carro chegou aqui. Não quero dar a eles tempo para se recomporem. Vou em direção a eles, como se fossem pinos de boliche.
Eles tentam fugir de mim, mas eu acelero e atropelo vários. Eles batem no carro com um estrondo e seus corpos se torcem, caindo sobre o capô.
Eu continuo dirigindo e, ao longe, vejo o comerciante de escravos que raptou minha irmã. Vejo o irmão de Ben sendo carregado para dentro do trem. Suponho que Bree já esteja dentro.
“Aquele é meu irmão!” Ben grita.
A porta do trem se fecha e eu piso no acelerador uma última vez, com tudo o que posso, em direção ao comerciante de escravos que a roubou de mim. Ele está parado, como um cervo diante dos faróis de um carro, acabou de empurrar o irmão de Ben no trem. Ele observa nossa aproximação.
Choco contra ele, prensando-o contra o trem e cortando-o ao meio. Nós batemos no trem a 125 km/h, minha cabeça golpeia o painel com força. Sinto meu pescoço ricochetear quando paramos.
Minha cabeça está girando, meus ouvidos, zunindo. Posso ouvir o barulho dos comerciantes de escravos correndo, vindo atrás de mim. O trem ainda está em movimento – nosso carro sequer o deixou mais devagar. Ben está ainda sentado, inconsciente. Pergunto-me se está morto.
É necessário um esforço sobre-humano, mas de algum jeito, eu consigo sair do carro.
O trem está ganhando mais velocidade, agora, eu preciso correr para acompanhá-lo. Corro junto ao trem e finalmente salto, conseguindo colocar um pé no piso e segurar uma barra de metal. Coloco minha cabeça em uma janela, procurando por Bree. Fico procurando-a ao longo do trem, olhando de janela em janela, em direção até chegar à porta do trem para poder entrar.
O trem está indo tão rápido que posso sentir vento em meu cabelo enquanto tento desesperadamente alcançar a porta. Olho a minha volta e meu coração aperta quando vejo que o trem vai entrar em um túnel. Não há espaço para correr. Se eu não entrar logo, vou me espatifar contra a parede.
Finalmente, eu alcanço e agarro a maçaneta. Quando estou prestes a abri-la, sinto que uma tremenda dor esmaga a lateral de minha cabeça;
Eu voo pelo ar, caio de costas no chão de cimento. Foi uma queda de três metros, fico sem ar enquanto estou ali, estirada, vendo o trem indo embora. Alguém deve ter me socado, me nocauteado para fora do trem.
Olho para cima e vejo o rosto de um comerciante de escravos maldoso de pé, junto a mim, franzindo o cenho. Muitos outros se juntam também. Estão se aproximando de mim. Estou acabada.
Mas isso já não importa: o trem está acelerando, com minha irmã a bordo.
Minha vida já está acabada.