Kitabı oku: «Em Busca de Heróis», sayfa 17
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Thor viu-se em pé no topo de uma montanha, olhando para fora ao longo de todo o Reino do Anel. Diante dele estavam: a corte do rei, o castelo, as fortificações, os jardins, as árvores e colinas ondulantes, até onde a vista podia alcançar – tudo na flor do verão. Os campos estavam repletos de frutas e flores coloridas e ouvia-se o som de música e festas.
Mas quando Thor virou-se lentamente, examinando tudo, a grama começou a ficar preta. As frutas caíram das árvores. Então as próprias árvores murcharam até extinguir-se. Todas as flores se esturricaram e para o horror dele, um edifício após outro se desintegrou, até que todo o reino não era mais que desolação, mais que montes de entulho e pedra.
Thor olhou para baixo e de repente viu uma enorme cobra das costas brancas deslizando entre seus pés. Ele ficou ali, indefeso quando ela se enrolou ao redor de suas pernas, logo em sua cintura, seguindo para seus braços. Ele se sentia sufocar, a vida sendo espremida dele, quando a serpente enrolada ao redor olhava para ele diretamente para seu rosto, a poucos centímetros, sempre chiando, sua língua longa quase tocando as bochechas de Thor. Então ela abriu sua boca, revelando enormes caninos, inclinou-se para a frente e engoliu a cara de Thor.
Thor gritou e em seguida, encontrou-se sozinho no interior do castelo do rei. Estava completamente vazio, nenhum trono estava onde costumava estar. A Espada do Destino jazia no chão, intocada. As janelas estavam despedaçadas, os pedaços de vitrais espatifados no chão. Ele ouviu uma música distante, virou-se em direção ao som e caminhou por uma sala vazia atrás da outra. Finalmente ele alcançou as enormes portas duplas com seus cem pés de altura e abriu-as com toda sua força. Thor ficou na entrada do salão de banquete real. Diante dele, duas mesas de banquete abarrotadas de comida se estendiam pela sala, apesar de não haver ninguém. No fim do corredor, havia um homem. O Rei MacGil. Ele estava sentado no seu trono, olhava diretamente para Thor. Ele parecia tão distante.
Thor sentiu que tinha de chegar até ele. Ele começou a andar pela grande sala em direção a ele, entre as duas mesas de banquete. Enquanto ele seguia, toda a comida em ambos os lados dele começou a estragar, apodrecendo a cada passo que ele dava, ficando negra imediatamente e cobrindo-se de moscas. Moscas zumbiam e enxameavam ao redor dele, acabando com a comida.
Thor andava mais rápido. Estava chegando mais perto do Rei agora, a uma distância de apenas três metros, quando um servo apareceu de uma câmara lateral carregando um enorme, cálice dourado com vinho. Era um cálice distintivo, feito de ouro maciço e coberto de linhas de rubis e safiras. Enquanto o Rei não estava olhando, Thor viu o servo deslizar um pó branco no cálice. Thor percebeu que era veneno.
O servo o estendeu ao Rei MacGil que inclinou-se e agarrou-o com ambas as mãos.
“Não!” Thor gritou.
Thor atirou-se para a frente, tentar jogar o vinho para longe do rei.
Mas ele não foi rápido o suficiente. MacGil bebia o vinho em grandes goles. Ele derramava pelo seu rosto, pelo seu peito, enquanto terminava de bebê-lo.
MacGil virou-se e olhou para Thor e seus olhos se esbugalharam. Ele estendeu a mão e agarrou a garganta até que engasgou, virou-se e caiu de seu trono; ele caiu para o lado, pousando sobre o duro chão de pedra. A coroa rolou pelo chão de pedra com um barulho metálico, rolou por vários metros.
Ele estava ali, imóvel, com os olhos abertos, morto.
Estopheles desceu e pousou na cabeça de MacGil. Sentou-se ali, olhou direto para Thor e guinchou. O som era tão estridente, enviou um calafrio para a espinha de Thor.
“Não!” Thor gritou.
*
Thor acordou gritando.
Ele sentou-se, olhando ao redor, suando, respirando com dificuldade, tentando descobrir onde estava. Ele ainda estava deitado no chão, na montanha de Argon. Ele deve ter dormido ali. A névoa se foi e quando ele olhou para cima, viu que estava amanhecendo. Um sol vermelho-sangue estava raiando no horizonte, iluminando o dia. Ao lado dele, Krohn choramingou, pulou em seu colo, e lambeu seu rosto.
Thor abraçou Krohn com uma mão enquanto ele respirava forte, tentando descobrir se estava acordado ou dormindo. Demorou um tempo para perceber que só tinha sido um sonho. Tinha parecido ser tão real.
Thor ouviu um grito e se virou para ver Estopheles empoleirado em uma rocha a apenas meio metro. O grande pássaro olhou bem para ele e guinchou, uma e outra vez.
O som enviou um arrepio para espinha de Thor. Era o mesmo grito de seu sonho e naquele momento ele sabia, com cada grama do seu corpo, que o sonho tinha sido uma mensagem.
O rei ia ser envenenado.
Thor ficou de pé e sob a luz que rompia a madrugada, correu para baixo da montanha, em direção à Corte do Rei. Ele tinha de chegar até o Rei. Ele tinha de avisá-lo. O Rei poderia pensar que ele estava louco, mas ele não tinha escolha, ele faria tudo o que pudesse para salvar a vida do Rei.
*
Thor correu pela ponte levadiça, correndo para porta exterior do castelo e felizmente, os dois guardas o reconheceram como um membro da Legião. Eles o deixaram passar sem pará-lo e ele continuou correndo junto a Krohn.
Thor correu pelo pátio real, passou pelas fontes e correu até a porta interna do castelo do Rei. Lá estavam quatro guardas que bloqueavam seu caminho.
Thor parou, tentando recuperar o fôlego.
“Qual é o seu propósito, rapaz?” Perguntou um deles.
“Você não entende, você tem de me deixar entrar.” Thor engasgou. “Eu preciso ver o Rei.”
Os guardas se entreolharam, céticos.
“Eu sou Thorgrin, da Legião do rei. Deixe-me entrar.”
“Eu sei quem ele é.” Um guarda disse para o outro. “Ele é um de nós.”
Mas o guarda principal manifestou.
“Que negócio tem você com o Rei?” Ele pressionou.
Thor ainda lutou para recuperar o fôlego.
“Assunto muito urgente. Tenho de vê-lo de uma vez.”
“Bem, ele deve não estar à espera, porque você está mal informado. Nosso Rei não está aqui. Ele saiu com sua caravana horas atrás, por assuntos da corte. Ele não vai voltar até hoje à noite, até o banquete real.”
“Festa?” Thor perguntou seu coração batendo. Ele se lembrou de seu sonho, as mesas de banquete e estranhamente sentiu que todas cobravam vida.
“Sim, um banquete. Se você é da Legião, tenho certeza que você vai estar lá. Mas agora ele se foi, e não há nenhuma maneira de que você possa vê-lo. Volte hoje à noite, com os outros.”
“Mas tenho de dar-lhe uma mensagem!” Thor insistiu. “Antes da festa!”
“Se quiser pode deixar o recado comigo. Mas eu não posso entregá-lo mais cedo do que você.”
Thor não queria deixar uma mensagem com um guarda; ele percebeu que parecia loucura. Ele mesmo tinha de entregá-la, esta noite, antes da festa. Ele apenas orou para que não fosse tarde demais.
CAPÍTULO VINTE E SETE
Thor voltou apressado para o quartel da Legião, no raiar do dia, felizmente, chegou antes de começar o treino do dia. Ele estava sem fôlego quando chegou com Krohn ao seu lado. Ele encontrou os outros rapazes, quando eles estavam despertando, começando a enfileirar-se para cumprir as tarefas do dia. Ele estava ali, ofegante, mais perturbado do que nunca. Ele mal sabia como conseguiria realizar o treino do dia; ele estaria contando os minutos até o banquete da noite, até que pudesse avisar o rei. Sentiu que o presságio tinha vindo a ele para que ele pudesse dar o aviso. O destino do Reino repousava sobre os seus ombros.
Thor corria ao lado de Reece e O’Connor quando eles se dirigiam ao campo, se via exausto quando entrou na fila.
“Onde você esteve ontem à noite?” Reece perguntou.
Thor desejou que ele soubesse como responder – mas ele mesmo não sabia onde havia estado. O que se supunha que ele deveria dizer? Que ele tinha adormecido e caído no chão, nas montanhas de Argon? Isso não fazia sentido, nem mesmo para ele.
“Eu não sei.” Ele respondeu, sem saber bem o que dizer para eles.
“O que quer dizer com ‘eu não sei’?” O’Connor perguntou.
“Eu me perdi.” Thor disse.
“Perdeu-se?”
“Bem, você tem sorte de ter conseguido voltar depois de ter se perdido.” Reece disse.
“Se você tivesse voltado tarde para as tarefas do dia, eles não aceitariam você de volta na Legião.” Elden acrescentou, aproximando-se deles, batendo em seu ombro com sua mão musculosa. “É bom ver você. Sentimos sua falta ontem.”
Thor ainda estava chocado com a diferença na maneira como Elden o tratava depois da vez em que haviam estado do outro lado do Canyon.
“Como estiveram as coisas com minha irmã?” Reece perguntou, num tom moderado.
Thor corou, estava inseguro sobre como responder.
“Você a viu?” Reece espetou.
“Sim, eu a vi.” Ele começou. “Nós passamos muito bem. Embora tivéssemos de ir embora abruptamente.”
“Bem.” Reece continuou quando todos eles se alinharam lado a lado diante de Kolk e dos homens do rei. “Você verá um pouco mais dela hoje à noite. Vista suas melhores roupas. É o banquete do rei.”
O estômago de Thor se fechou. Ele pensou em seu sonho, parecia que o destino estava dançando diante de seus olhos e que ele estava impotente, destinado a não fazer nada, mais do que apenas vê-lo se desdobrar.
“SILÊNCIO!” Gritou Kolk quando começou a andar diante dos rapazes.
Thor se perfilou com os outros enquanto ficaram em silêncio.
Kolk caminhava lentamente subindo e descendo as linhas, examinando a todos.
“Vocês se divertiram ontem. Agora estão de volta ao treinamento. E hoje, vocês vão aprender a antiga arte de cavar uma trincheira.”
Um resmungo coletivo ouviu-se entre os rapazes.
“SILENCIO!” Ele gritou.
Os rapazes ficaram quietos.
“Cavar trincheiras é um trabalho duro.” Kolk continuou. “Porém é um trabalho importante. Um dia você vai encontrar-se lá no deserto, protegendo nosso Reino, sem ninguém para ajudá-lo. O tempo vai congelar, vai estar tão frio, que você não poderá sentir os dedos dos pés no escuro da noite e você fará tudo para manter-se aquecido. Ou então, você pode se encontrar em uma batalha, na qual você precisará ter cobertura para salvar-se das flechas inimigas. Pode haver um milhão de razões pelas quais você precisa de uma trincheira. Uma trincheira pode ser seu melhor amigo.
“Hoje.” Ele continuou, limpando sua garganta. “Vocês passarão o dia cavando, até que suas mãos estejam vermelhas e com calos; suas costas estejam se partindo e vocês não possam aguentar mais. Então, no dia da batalha, isso não parecerá tão ruim assim.
“SIGAM-ME!” Kolk gritou.
Ouviu-se outro gemido de desapontamento quando os rapazes romperam as filas, formaram duplas e começaram a marchar através do campo, seguindo Kolk.
“Grandioso.” Elden disse. “Cavar trincheiras. Exatamente como eu queria passar o dia.”
“Podia ser pior.” O’Connor disse. “Poderia estar chovendo.”
Eles olharam para o céu e Thor viu nuvens ameaçadoras sobre suas cabeças.
“É bem provável.” Reece disse. “Não dê azar.”
“THOR!” Ouviu-se um grito.
Thor virou-se para ver Kolk a um lado, olhando-o. Thor correu para ele, imaginando o que ele tinha feito de errado.
“Sim senhor.”
“Seu cavaleiro convocou você.” Ele disse secamente. “Apresente-se a Erec nas dependências do castelo. Você tem sorte: você está de folga hoje. Você vai servir o seu cavaleiro em vez disso, como é o dever de todo bom escudeiro. Mas não pense que está liberado de cavar trincheiras. Quando você retornar amanhã, você cavará as valas, sozinho. Agora vá!” Ele gritou.
Thor se virou e viu os olhares invejosos dos outros, então correu para fora do campo, indo para o castelo. O que poderia Erec querer dele? Teria isso algo a ver com o rei?
*
Thor percorria a corte do rei, tomando um caminho que ele nunca tinha tomado antes – em direção ao quartel do Exército Prata. Suas instalações eram muito maiores do que aquelas da Legião, seus edifícios dobravam em tamanho, forrados com cobre e suas vias estavam pavimentadas com pedras novas. Para chegar lá, Thor teve de passar por um grande portão em arco, onde uma dúzia de homens do rei estava de guarda. O caminho então se alargava, estendendo-se através de um enorme campo aberto e culminando em um complexo de edifícios de pedra, rodeado por uma cerca e guardado por dezenas de cavaleiros. Era uma vista imponente, mesmo dali.
Thor correu pelo caminho, podia ser visto com facilidade em campo aberto. Os cavaleiros já estavam preparados para sua abordagem, mesmo enquanto ele estava ainda bem longe. Deram um passo à frente, cruzaram suas lanças e olhavam para a frente, ignorando-o enquanto bloqueavam o seu caminho.
“Que tipo de negócio você tem aqui?” Um deles perguntou.
“Eu estou me apresentando para o serviço.” Thor respondeu. “Eu sou o escudeiro de Erec.”
Os cavaleiros trocaram um olhar desconfiado, mas outro cavaleiro se adiantou e assentiu com a cabeça. Eles deram um passo atrás, descruzaram suas armas e o portão foi aberto lentamente, seus espigões de metal rangendo. O portão era imenso, tinha pelo menos sessenta centímetros de espessura e Thor pensou que esse lugar era ainda mais fortificado, até mais do que o castelo do Rei.
“O segundo edifício à direita.” O cavaleiro gritou. “Você vai encontrá-lo nos estábulos.”
Thor se virou e correu pelo caminho através do pátio, passou por um complexo de edifícios de pedra e processava tudo. Tudo estava brilhando ali, tudo era imaculado, perfeitamente mantido. Todo o lugar exalava uma aura de força.
Thor encontrou o edifício e estava deslumbrado com a visão diante dele: dezenas dos melhores e mais belos cavalos que ele já tinha visto estavam amarrados em fileiras organizadas fora do edifício, a maioria deles coberto por uma armadura. Os cavalos reluziam. Tudo ali era maior, mais grandioso.
Cavaleiros reais trotavam em todas as direções, carregando várias armas, atravessando o pátio em seu caminho para dentro ou para fora dos portões. Era um lugar ocupado e Thor podia sentir a presença da batalha ali. Aquele lugar não era destinado ao treinamento; era destinado à guerra. À vida e à morte.
Thor passou por uma pequena entrada em forma de arco, um corredor de pedra escura e apressado passava por estábulo após estábulo, procurando Erec. Thor chegou ao fim deles, mas ele estava longe de ser encontrado.
“À procura de Erec, não é?” Um guarda perguntou.
Thor virou-se e acenou com a cabeça.
“Sim, senhor. Eu sou seu escudeiro.”
“Você está atrasado. Ele já está lá fora, preparando seu cavalo. Mova-se rápido, então.”
Thor correu pelo corredor e saiu dos estábulos entrando em campo aberto. Ali estava Erec, diante de um garanhão gigante e valente, um cavalo preto reluzente com um focinho branco. O cavalo bufou quando Thor chegou e Erec se virou.
“Sinto muito, Alteza.” Thor disse, sem fôlego. “Eu vim tão rápido quanto pude. Eu não tive a intenção de chegar atrasado.”
“Você chegou na hora.” Erec disse com um sorriso gracioso. “Thor, este é Lannin.” Ele acrescentou apontando para o cavalo.
Lannin bufou e pavoneou-se, como se estivesse dando uma resposta. Thor se aproximou, estendeu a mão e acariciou-lhe o focinho; ele relinchou suavemente em resposta.
“Ele é o meu cavalo de viagens. Um cavaleiro de categoria tem muitos cavalos, como você aprenderá. Há um para torneios, um para a batalha e um para uma longa e solitária viagem. É com esse que você forja a amizade mais íntima. Ele gosta de você. Isso é bom.”
Lannin inclinou-se e enfiou o focinho na palma da mão do Thor. Thor estava avassalado pela magnificência dessa criatura. Ele podia ver a inteligência brilhando em seus olhos. Era surreal; Ele sentiu que o cavalo entendia tudo.
Mas algo que Erec disse sacudiu Thor.
“Vossa Alteza disse, uma viagem?” Ele perguntou surpreso.
Erec parou de apertar os arreios, virou-se e olhou para ele.
“Hoje é o dia do meu nascimento. Eu cumpri meu vigésimo quinto ano. É um dia especial. Você sabe sobre o Dia da Seleção?”
Thor abanou a cabeça. “Muito pouco, Alteza; sei apenas o que os outros contaram.”
“Nós cavaleiros do Anel devemos sempre continuar, geração após geração.” Erec começou. “Temos até nosso vigésimo quinto ano para escolher uma noiva. Se ela não for escolhida até essa data, então a lei dita que temos de encontrar uma. Nós temos um ano para encontrá-la e trazê-la. Se voltarmos sem ela, então o Rei nos dará uma e nós perderemos o nosso direito de escolha.
“Por isso, hoje devo embarcar em minha jornada para encontrar minha noiva.”
Thor olhou em volta, sem palavras.
“Mas, Alteza, está partindo? Por um ano?”
O estômago de Thor se apertou ao pensar nisso. Ele sentiu seu mundo desmoronar-se ao redor. Até esse momento ele não tinha percebido o quanto ele havia se afeiçoado a Erec; de certa forma, Erec tinha se tornado um pai para ele – certamente melhor que o pai que ele tinha tido.
“Mas então a quem devo servir como escudeiro?” Thor perguntou. “E para onde Vossa Alteza vai?”
Thor lembrou o quanto Erec tinha sido um apoio para ele, como ele tinha salvado sua vida. O coração dele afundou-se com a ideia de sua saída.
Erec riu um riso despreocupado.
“Que pergunta quer que responda primeiro?” Ele disse. “Não se preocupe. Você foi designado a um novo cavaleiro. Você será escudeiro dele até que eu regresse. Kendrick, o filho mais velho do Rei.”
O coração de Thor se alegrou ao ouvir isso; Ele sentiu um apego igualmente forte por Kendrick, quem, afinal, havia sido primeiro a olhar por ele e garantir-lhe um lugar na Legião.
“Quanto durará minha viagem…” Erec continuou, “… Eu ainda não sei. Eu sei que irei em direção ao Sul, ao reino do qual eu provenho e buscarei uma noiva naquelas proximidades. Se não encontrar uma dentro do Anel, então eu posso até mesmo atravessar o mar por meu próprio reino para procurar por uma noiva lá.”
“Seu próprio reino, Alteza?” Thor perguntou.
Thor percebeu que ele não sabia muito sobre Erec, de onde ele vinha. Ele tinha sempre presumido que Erec era oriundo do Anel.
Erec sorriu. “Sim, muito longe daqui, do outro lado do mar. Mas é uma história para outro momento. Será uma jornada distante, muito longa e eu devo preparar-me. Então me ajude agora. O tempo é curto. Sele o meu cavalo e carregue-o com todos os tipos de armas.”
A cabeça de Thor estava girando quando ele entrou em ação, correndo para o arsenal dos cavalos e retirou uma distinta armadura preta e prata que pertencia a Lannin. Ele corria de volta com uma parte de cada vez, primeiro colocando a cota de malha nas costas do cavalo, estirando-a para armá-la ao redor de seu corpo enorme. Em seguida, Thor adicionou a testeira, o fino metal moldado para proteger a cabeça do cavalo.
Lannin relinchou quando ele fez isso, mas parecia que ele gostava. Ele era um cavalo nobre, um guerreiro, Thor podia dizer isso e ele parecia tão confortável na armadura quanto um cavaleiro.
Thor correu de volta trazendo as esporas douradas de Erec e ajudou a colocar uma em cada pé quando Erec montou o cavalo.
“De que armas vai precisar, Alteza?” Thor perguntou.
Erec olhou para baixo, ele parecia enorme desde essa perspectiva.
“É difícil prever que tipo de batalhas eu poderia encontrar ao longo de um ano. Mas eu preciso ser capaz de caçar e me defender. Então, é claro, eu preciso de minha espada longa. Eu também devo levar minha espada curta; um arco; uma aljava de flechas; uma lança curta; uma maça, um punhal e meu escudo. Eu creio que com isso basta.”
“Sim, Alteza.” Thor disse e entrou em ação. Ele correu para a prateleira de armas de Erec, ao lado do estábulo de Lannin e olhou para as dezenas de armas. Havia um arsenal impressionante de armas para escolher.
Ele retirou cuidadosamente todas as armas que Erec havia solicitado, levando uma de cada vez e entregando-as a Erec ou colocando-os de forma segura no equipamento dele.
Enquanto Erec estava ali sentado ajustando suas luvas de couro, preparando-se para ir embora, Thor não suportava vê-lo ir-se.
“Alteza, Sinto que é meu dever acompanhá-lo nesta viagem.” Thor disse. “Depois de tudo eu sou seu escudeiro.”
Erec abanou a cabeça.
“É uma viagem que eu devo fazer sozinho.”
“Então posso pelo menos acompanhá-lo até a primeira parte da travessia?” Thor insistiu. “Se está indo para o Sul, aqueles são caminhos que eu conheço bem. Eu sou do Sul.”
Erec olhou para baixo, ponderando.
“Se você quiser acompanhar-me até ao primeiro cruzamento está bem, não vejo mal nenhum nisso. Mas é uma viagem dura, de um dia, então devemos partir agora. Tome o cavalo de meu escudeiro, na parte de trás do estábulo. O marrom com a crina vermelha.”
Thor correu de volta para o estábulo e encontrou o cavalo. Quando ele o montou, Krohn espichou a cabeça para fora da sua camisa, olhou para cima e gemeu.
“Está tudo bem Krohn.” Thor o tranquilizou.
Thor inclinou-se para a frente, instigou o cavalo e saiu do estábulo. Erec mal tinha esperado por ele e já se encontrava longe com Lannin a galope. Thor se esforçou para alcançá-lo e o seguiu o melhor que pôde.
Eles cavalgaram juntos para fora da corte do Rei, passaram pelo portão, quando vários guardas o levantaram e abriram passo para eles. Vários membros do Exército Prata estavam alinhados, observando, esperando, quando Erec passou por eles, elevaram seus punhos com uma saudação.
Thor estava orgulhoso de andar ao lado dele, de ser seu escudeiro e emocionado por acompanhá-lo, mesmo que fosse apenas até o primeiro cruzamento.
Havia tantas coisas que Thor tinha desejado poder dizer a Erec, tantas coisas que queria perguntar-lhe – e tantas outras pelas quais ele queria agradecer. Mas não havia tempo. Eles galopavam em direção ao Sul, irrompendo por entre as planícies, o terreno em constante mudança enquanto seus cavalos percorriam as estradas do Rei sob o sol da manhã. Quando eles passaram por uma colina, à distância, Thor pôde ver todos os membros da Legião em um campo, arrebentando as costas enquanto cavavam. Thor estava feliz por não estar entre eles. Enquanto Thor observava, viu um deles parar e levantar o punho no ar em direção a ele. Era difícil ver devido ao sol, mas ele tinha certeza de que era Reece saudando. Thor levantou o punho em resposta enquanto eles cavalgavam.
As estradas bem pavimentadas deram lugar a precárias estradas rurais: mais estreitas e mais irregulares e finalmente elas não eram mais do que caminhos bem trilhados cortando a zona rural. Thor sabia que era perigoso para o povo comum a andar por essas estradas, sozinho – especialmente à noite – com todos os ladrões que espreitavam sobre elas, mas Thor se preocupava pouco com isso, especialmente com Erec ao seu lado. Na verdade, se um ladrão os confrontasse, Thor temia mais pela vida do ladrão. Claro, seria uma loucura para qualquer ladrão tentar parar um membro do Exército Prata.
Eles cavalgaram todo o dia, quase sem parar, até que Thor estava exausto, sem fôlego. Ele mal podia acreditar na resistência de Erec – mas ele não ousou demonstrar seu cansaço, ele não queria parecer um fraco.
Eles passaram por uma importante encruzilhada e Thor a reconheceu. Ele sabia que se eles a seguissem bem, ela iria levá-los para a sua aldeia. Por um momento, Thor se sentiu invadido pela saudade e parte dele queria pegar a estrada, para ver seu pai, ver sua aldeia. Thor se perguntou o que seu pai estaria fazendo naquele momento; quem estaria cuidando das ovelhas; quão irado seu pai devia ter ficado quando ele não havia retornado. Não que ele se importasse muito com isso. Ele apenas tinha perdido momentaneamente o que lhe era familiar. Ele estava, de fato, aliviado por ter escapado daquela pequena aldeia e outra parte dele queria nunca mais voltar.
Eles continuaram galopando mais e mais em direção ao Sul, por territórios onde nem mesmo Thor tinha estado antes. Ele tinha ouvido falar da passagem do Sul, embora ele nunca a tivesse visitado. Era um dos três principais cruzamentos que levavam a parte Sul do Anel. Havia sido um bom meio dia de passeio a partir da corte do Rei e o sol já estava ficando alto no céu. Thor, suava, estava com falta de ar e estava começando a se perguntar com ansiedade, se ele iria voltar a tempo para o banquete do Rei à noite. Teria ele cometido um erro ao acompanhar Erec tão longe?
Eles rodearam uma colina e finalmente, Thor viu, lá no horizonte: o sinal inconfundível da primeira travessia. Ele estava marcado por uma grande torre estreita, com a bandeira do Rei colocada nela em todas as quatro direções e os membros do Exército Prata montavam guarda no topo de seus parapeitos. Ao ver Erec, o cavaleiro do topo da torre tocou a sua trombeta. Lentamente, o portão subiu.
Eles estavam a apenas algumas centenas de metros de distância e Erec diminuiu o ritmo do cavalo para um passeio. Thor tinha um nó no estômago ao perceber que esses eram seus últimos minutos com Erec até quem sabe por quanto tempo. Quem poderia dizer, até mesmo, se ele voltaria. Um ano era um longo tempo e tudo podia acontecer. Thor estava feliz, pelo menos, por ter tido a oportunidade de acompanhá-lo. Sentiu que ele tinha cumprido o seu dever.
Os dois cavalgavam lado a lado, ofegantes, seus cavalos também respiravam com dificuldade quando eles se aproximaram da torre.
“Eu não poderei vê-lo por muitas luas.” Erec disse. “Quando eu voltar, eu trarei uma noiva comigo. As coisas poderão mudar. Sem importar o que acontecer, sei que você sempre será meu escudeiro.”
Erec respirou fundo.
“Antes que eu parta, Há algumas coisas que eu quero que você recorde. Um cavaleiro não é forjado pela força – mas pela inteligência. A coragem não é o único que faz de alguém um cavaleiro, mas a coragem, a honra e a sabedoria juntas. Você deve trabalhar sempre para aperfeiçoar o seu espírito, sua mente. A cavalaria não é passiva – é ativa. Você deve trabalhar nela, melhorar a si mesmo, cada momento de cada dia.
“Durante estas luas, Você vai aprender todos os tipos de armas, todos os tipos de habilidades. Mas lembre-se: há ainda outra dimensão para nossas lutas. A dimensão de feiticeiro. Procure Argon. Aprenda a desenvolver seus poderes ocultos. Eu os senti em você. Você tem um grande potencial. Não há nada do que se envergonhar. Você me entende?”
“Sim, Alteza.” Thor respondeu, enchendo-se de gratidão por sua sabedoria e entendimento.
“Optei por abrigá-lo debaixo da minha asa, por uma razão. Você não é como os outros. Você tem um destino maior. Maior, talvez, até que mesmo do que o meu. Mas ele ainda está por cumprir-se. Você não deve dá-lo por sentado. Você deve trabalhar nele. Para ser um grande guerreiro, Você não deve apenas ser destemido e qualificado. Você também deve ter o espírito de um guerreiro e seguir sempre o seu coração e sua mente. Você deve estar disposto a dar sua vida por outros. O maior cavaleiro não busca riquezas, honra, fama ou glória. O maior cavaleiro segue em busca do mais difícil de tudo: segue em busca de se tornar uma pessoa melhor. Todos os dias, você deve se esforçar para ser melhor. Não só melhor do que outros – mas melhor que você mesmo. Você deve buscar assumir a causa daqueles que são inferiores a você. Você deve defender aqueles que não podem defender a si mesmos. Não é uma missão para a um coração fraco. É uma busca de heróis.”
A mente de Thor girava enquanto ele processava tudo, ponderando as palavras de Erec cuidadosamente. Ele estava cheio de gratidão para com ele e mal sabia como responder. Ele sentiu que seria preciso muitas luas para que a mensagem completa dessas palavras assentasse.
Eles alcançaram o portão do primeiro cruzamento e quando fizeram isso, vários membros do Exército Prata saíram para cumprimentar Erec. Eles se dirigiram para ele com sorrisos largos em seus rostos e quando ele desmontou lhe deram muitos tapas nas costas, como velhos amigos.
Thor apeou, tomou as rédeas de Lannin e levou-o ao guardião no portão, para que o alimentasse e o escovasse. Thor ficou ali de pé aguardando até que Erec virou-se e olhou para ele, pela última vez.
Em seu último adeus, havia muitas coisas que Thor queria dizer. Ele queria agradecer-lhe. Mas ele também queria contar-lhe tudo. Sobre o presságio. Sobre seu sonho. Sobre seus temores com respeito ao Rei. Ele pensou que talvez Erec pudesse entender.
Mas ele não teve oportunidade. Erec já estava rodeado de cavaleiros e Thor temia que Erec – e todos eles – pensassem que ele estava louco. Então ele ficou parado ali, a língua atada, foi quando Erec estendeu a mão e apertou o seu ombro uma última vez.
“Proteja o nosso Rei.” Erec disse firmemente.
As palavras provocaram um calafrio na espinha de Thor, era como se Erec tivesse lido sua mente.
Erec virou-se, atravessou o portão com os outros cavaleiros e quando eles o cruzaram, de costas para Thor, os espigões de metal lentamente baixaram atrás dele.
Erec havia partido agora. Thor sentiu um buraco no estômago. Podia passar um ano inteiro, para que se vissem novamente.
Thor montou seu cavalo, tomou as rédeas e esporou forte. A tarde já havia chegado e ele tinha uma viagem de meio dia para levá-lo de volta para a festa. Ele ouvia as últimas palavras de Erec reverberando sua cabeça, como um mantra.
Proteja nosso Rei.
Proteja o nosso rei.