Kitabı oku: «Traída », sayfa 2
TRÊS
Samantha acompanha as enormes portas duplas se abrindo para dela, rangendo enquanto se moviam, e sente um buraco no estômago. Ela entra nos aposentos de seu líder, acompanhada por vários guardas vampiro. Eles não a estavam segurando, eles nunca se atreveriam, mas eles a acompanhava de perto, e a mensagem era clara. Ela ainda era um deles, mas estava em prisão domiciliar, pelo menos até que ela tivesse esse encontro com Rexius. Ele a havia convocado com soldado, mas também a convocava como prisioneira.
As portas batem atrás dela com um estrondo, e ela percebe que os enormes aposentos estão lotados. Ela não via tamanho comparecimento há anos. Havia centenas de seus colegas vampiros no quarto. É claro que todos queriam ver, para saber as novidades, o que tinha acontecido com a Espada. Como ela a havia deixado escapar.
Acima de tudo, eles provavelmente queriam vê-la punida. Eles sabiam que Rexius era um líder implacável, e que mesmo o menor erro exigia punição. Uma transgressão desta magnitude exigiria uma punição memorável.
Samantha estava ciente disso. Ela não estava tentando escapar de seu destino. Ela havia aceitado uma missão, e tinha falhado. A espada tinha sido encontrada, claro, mas a verdade é que ela também a havia perdido. Ela havia permitido que Kyle e Sergei a roubassem bem debaixo de seu nariz.
Tudo teria sido perfeito. Ela claramente se lembrava da espada, jogada lá, no chão da King's Chapel, no corredor, a poucos metros de seu alcance. Ela estava a apenas alguns segundos de possuí-la, de concluir sua missão, de se tornar a heroína de seu coven.
E então Kyle e aquele seu terrível companheiro, Sergei, tinham aparecido, derrubando-a e tirando a Espada de seu alcance. Era muita injustiça. Como ela poderia ter previsto algo assim?
E agora, o que era ela? A vilã. Aquela que havia deixado a Espada escapar. A que tinha falhado na missão. Ah, sim, seu castigo seria terrível. Ela tinha certeza disso.
Tudo o que ela queria agora era que Sam estivesse a salvo. Ele tinha sido nocauteado, inconsciente, e ela tinha levado ele para longe, carregando-o todo o caminho de volta até ali. Ela queria que ele estivesse por perto. Ela não estava pronta para deixá-lo partir, e não sabia onde mais poderia levá-lo. Ela havia entrado sorrateiramente, e guardado ele com segurança, no subsolo, em uma sala vazia do seu coven. Ninguém a tinha visto, pelo menos que ela soubesse. Ele estaria em segurança ali, longe dos olhares curiosos destes vampiros. Ela apresentaria um relatório para Rexius, sofreria seu castigo, e, posteriormente, iria esperar até o dia amanhecer, quando todos estivessem dormindo, e fugiria com Sam.
Naturalmente, ela não poderia simplesmente fugir sem mais nem menos. Ela teria que se reportar primeiro, para sofrer seu castigo, ou então seu coven a caçaria, e ela teria que viver como uma fugitiva pelo resto de sua vida. Uma vez que ela tivesse sido punida, ninguém os perseguiria. Então, ela poderia levar Sam, e eles fugiriam para longe dali, e se estabeleceriam em algum lugar. Apenas os dois.
Ela não imaginava que o rapaz, Sam, afetaria seus sentimentos dessa forma. Quando ela pensava em suas prioridades agora, pensava nele em primeiro lugar. Ela queria estar com ele. Ela precisava estar com ele. De fato, por mais loucura que fosse, ela sentia que não poderia mais viver sem ele. E ficou furiosa consigo mesma. Ela não sabia como havia deixado as coisas chegarem a este ponto. Uma paixão com um adolescente. Ainda pior, um humano. Ela se odiava por isso. Mas as coisas eram como deveriam ser. Seria uma perda de tempo tentar mudar a maneira como ela se sentia.
Este pensamento lhe deu forças, enquanto lentamente se aproximava do trono de Rexius, preparando-se para sua sentença. Ela seria sujeitada a uma dor indescritível, sabia disso, mas a ideia de Sam a manteria forte durante toda sua provação. Ela teria algo para que voltar. E Sam estaria protegido, poupado de tudo isto. Era isso que tornava tudo suportável.
Mas ele a amaria depois que tivesse sofrido seu castigo? Se ela conhecia Rexius, ele lhe reservaria o tratamento com ácido iórico, marcando seu rosto da pior maneira que conseguisse. Era possível que ela perdesse a melhor parte da sua aparência depois disso. Será que Sam ainda a amaria? Ela esperava que sim.
Um silêncio descende sobre os aposentos, à medida que centenas de vampiros se aproximam ansiosos para presenciar o encontro. Samantha dá vários passos em direção a Rexius e ajoelhando-se, curvando sua cabeça.
Rexius, a poucos metros, a encara do alto de seu trono, com seus olhos azuis severos praticamente a perfurando. A sensação é de que ela a olha por vários minutos, embora Samantha saiba ter sido provavelmente apenas por alguns segundos. Ela mantém sua cabeça inclinada. Samantha sabe que é melhor não olhar seus olhos.
"Então," começa Rexius, sua voz grave cortando o ar, "o bom filho a casa torna.".
Vários minutos de silêncio se seguem, enquanto ele estuda Samantha. Ela sabe que é melhor não tentar se explicar de maneira alguma. Ela apenas mantém sua cabeça curvada.
"Eu lhe enviei em uma missão muito simples," continua ele, "após os fracassos de Kyle, eu precisava de alguém em quem eu pudesse confiar. O meu soldado mais valioso. Você nunca tinha me decepcionado antes, não em milhares de anos", diz ele, encarando-a, "mas, agora, em uma simples missão, você conseguiu de alguma forma falhar. E falhou miseravelmente.".
Samantha abaixa sua cabeça novamente.
"Mas então, me diga exatamente o que aconteceu com a Espada. Onde é que ela está?”.
"Meu mestre," começa ela lentamente, "Eu rastreei a garota. Caitlin. E o Caleb. Eu os encontrei. E eu achei a Espada. Eu até mesmo fiz com que Caitlin a soltasse. Ela estava no chão, a poucos metros do meu alcance. Em poucos segundos, ela certamente estaria em minhas mãos, para que eu pudesse trazê-la de volta para você.".
Samantha engole a seco.
"Eu não poderia ter previsto o que aconteceu em seguida. Fui surpreendida, atacada por Kyle-".
Sussurros se alastram por todo o quarto lotado de vampiros.
"Antes que eu pudesse pegar a espada," ela continua, "Kyle já a havia pegado. Ele fugiu da igreja, e que não havia nada que eu pudesse fazer. Eu tentei encontrá-lo, mas ele já estava muito longe. A Espada está agora em sua posse.".
Um murmúrio ainda mais alto espalha-se por todo o quarto.
A ansiedade no quarto é palpável.
"SILÊNCIO!" grita uma voz.
Lentamente, o silêncio toma conta do ambiente.
"Então," começa Rexius, "depois de tudo isso, você deixa que Kyle lhe tome a Espada. Você praticamente a entrega a ele.".
Samantha sabe que é melhor não discutir, mas não consegue conter-se. Ela tem de dizer alguma coisa em sua defesa. "Meu mestre, não havia nada que eu pudesse fazer-".
Rex a interrompe simplesmente balançando a cabeça. Ela teme esse gesto. Significa que coisas ruins aconteceriam em seguida.
"Graças a você, agora devo me preparar para duas guerras. Esta patética guerra com os humanos, e agora uma guerra com Kyle.".
Um silêncio pesado recai sobre o quarto, e Samantha sente que sua punição é iminente. Ela está pronta para aceitá-la. Ela se prende rapidamente à lembrança da imagem de Sam, e ao fato de que eles absolutamente não poderiam matá-la. Eles nunca conseguiriam fazer isso. Haveria uma vida após esta, algum tipo de vida, e Sam faria parte dela.
"Eu tenho um castigo muito especial reservado para você: EU," diz Rexius lentamente, abrindo lentamente um sorriso.
Samantha ouve as grandes portas duplas abrirem atrás dela, e se vira para ver. Seu coração se aperta.
Sendo arrastado por dois vampiros, acorrentado pelos pés e mãos, está Sam.
Eles o haviam encontrado.
Ele está amordaçado, e por mais que se contorça e tente fazer barulho, ele não consegue. Seus olhos se arregalam em estado de choque e medo. Eles o arrastam para um lado da sala, chacoalhando suas correntes, e o seguram com força, obrigando-o a assistir.
"Parece que você não perdeu apenas a Espada, mas também desenvolveu afeto por um ser humano, apesar de todas as regras da nossa corrida", fala Rexius. "O seu castigo Samantha, será ver sofrer aquilo que você mais valoriza. Vejo que o que é mais importante para você não é seu próprio bem estar. É este garoto. Este patético, jovem rapaz humano. Muito bem," diz ele, encostando mais perto, com um sorriso nos lábios. "Então é assim que você será punida. Vamos submeter esse garoto a dores terríveis."
O coração de Samantha bate acelerado dentro de seu peito. Isso é algo que ela não havia previsto, uma coisa que ela não pode permitir que aconteça, custe o que custar.
Ela entra em ação, saltando na direção dos servos de Sam. Ela consegue chegar até um deles, chutando-lhe com força no peito. Ele é arremessado para trás.
Mas antes que ela possa atacar o outro, vários vampiros partem para cima dela, pegando ela, imobilizando-a. Ela luta com todas suas forças, mas há muitos deles, e ela não tem a mesma força que todos aqueles vampiros juntos.
Ela assiste impotente enquanto vários vampiros arrastam Sam pra frente, em direção ao centro da sala. Eles o posicionam no local, o local exato reservado para aqueles submetidos ao tratamento com ácido iórico. Em um vampiro, o castigo seria indescritivelmente doloroso. Ele marcava para toda a vida.
Em um ser humano, no entanto, a dor seria incalculável, e o castigo significaria uma morte certa e horrível. Eles estavam levando Sam para sua execução. E a estavam forçando a assistir.
Com um sorriso ainda mais amplo, Rexius acompanha enquanto Sam é acorrentado ao local. Com o consentimento de Rexius, um dos servos remove a mordaça de sua boca.
Sam imediatamente procura por Samantha, com medo em seus olhos.
"Samantha!" ele grita, "Por favor! Salve-me!".
Samantha não consegue evitar, e cai no choro. Não há nada, absolutamente nada que ela possa fazer.
Seis vampiros entram empurrando um enorme caldeirão de ferro borbulhante, colocado em cima de uma escada. Eles a posicionam corretamente, bem acima da cabeça de Sam.
Sam olha para cima.
E a última coisa que ele vê é o líquido que sai do caldeirão, borbulhante e chiando, em direção ao seu rosto.
QUATRO
Caitlin esta correndo. O campo de flores alcança sua cintura, e enquanto ela corre, abre um caminho entre elas. O sol, vermelho-sangue, assemelha-se a uma enorme bola no horizonte.
Em pé de costas para o sol, bem no horizonte, está seu pai. Ou, pelo menos, a sua silhueta. Seus traços estão irreconhecíveis, mas ela sabe que é ele.
Enquanto ela corre, desesperada para finalmente vê-lo, abraçá-lo, o sol se esconde rapidamente, rápido até demais. Tudo acontece muito rápido, e dentro de poucos segundos, o sol desaparece completamente.
Ela se vê correndo através do campo no meio da noite. Seu pai ainda esta lá, esperando por ela. Ela sente que ele gostaria que ela a corresse mais rápido, que ele gostaria de abraçá-la. Mas suas pernas não conseguem correr tão rápido, e não importa o quanto ela corra, ele parece apenas distanciar-se ainda mais.
Enquanto ela corre, uma lua surge de repente no horizonte – uma enorme lua vermelho-sangue, que preenche todo o céu. Caitlin pode enxergar todos os detalhes dela, os vales, as crateras. É tudo muito claro. O pai permanece em pé, uma silhueta contra a lua, e enquanto ela tenta correr mais rápido, é como se ela estivesse em direção à própria lua.
Mas não esta dando certo. De repente, suas pernas e pés não estão mais se movendo. Ela olha para baixo, e vê que as flores estão torcidas em torno dos suas pernas e tornozelos, e estão se transformando em videiras. Elas estão tão grossas e fortes, que logo ela não pode mais movê-las.
Enquanto ela assiste, uma enorme cobra rasteja em sua direção através do campo. Ela tenta lutar, tenta fugir, mas está impotente. Tudo o que pode fazer é assistir enquanto ela se aproxima. Conforme ela chega mais perto, a cobra salta no ar, investindo contra sua garganta. Ela vira, gritando, e sente suas longas presas atravessarem a sua garganta. A dor é insuportável.
Caitlin acorda sobressaltada, sentando-se na cama com a respiração ofegante. Ela alcança sua garganta, e sente duas pequenas cicatrizes. Por um momento, ela confunde sonho com realidade, vasculhando seu quarto atrás de uma serpente. Não há nada.
Ela esfrega a garganta. A ferida ainda dói, mas não tanto quanto no sonho. Ela respira profundamente.
Caitlin está suando frio, seu coração ainda acelerado. Ela enxuga o rosto massageando as têmporas, e sente seu cabelo molhado e gelado, pregado em seu corpo. Quanto tempo tinha se passado desde a última vez que havia tomado banho? Lavado seu cabelo? Ela não consegue se lembrar. Por quanto tempo ela tinha ficado deitada ali? E onde, exatamente, ela estava?
Caitlin olha tudo ao seu redor.
É o mesmo lugar que ela havia visto antes – seria em um sonho, ou ela já tinha estado ali, acordada, em algum momento do passado? O quarto era inteiramente feito de pedra, e tinha uma janela alta e arqueada através da qual era possível ver o céu, e a enorme lua cheia com sua luz iluminando o local.
Ela se senta na beira da cama esfregando a testa, esforçando-se para lembrar. Ao se movimentar, ela é tomada por uma terrível dor no lado direito de seu corpo. Procurando a origem da dor, seus dedos tocam uma ferida em cicatrização. Ela tenta se lembrar de onde havia se ferido. Será que alguém a tinha atacado?
Caitlin tenta se concentrar e, devagar, os detalhes do que havia acontecido ressurgem. Boston. A Freedom Trail. King's Chapel. A Espada. Então… sendo atacada. Em depois,…
Caleb. Ele estava lá, olhando para ela. Percebendo que estava perdendo os sentidos, ela tinha lhe pedido. Me transforme, havia implorado.…
Caitlin leva as mãos ao pescoço, sentindo as duas marcas no lado da garganta, e tem certeza que ele a tinha atendido.
Isso explicava tudo. Caitlin se levanta assustada com essa realização. Ela havia sido transformada. E tinha sido levada a algum lugar, provavelmente para se recuperar, e provavelmente sob o olhar vigilante Caleb. Ela mexe os braços e as pernas, virando o pescoço, testando seu corpo…
Ela está diferente, disso ela tem certeza. Ela não se sente mais como ela mesma. Ela sente uma força incalculável cursando todo seu ser. Um desejo de correr, sair em disparada, passando através de paredes, para saltar no ar. Ela também sente outra coisa: duas pequenas protuberâncias nas costas, acima das omoplatas. Bem sutis, mas ela sabia que elas estavam lá. Asas. Caitlin sabe, ela pode sentir que se quisesse voar, elas se abririam para ela.
E fica inebriada por sua recém-adquirida força. Ela quer desesperadamente testá-la. Ela sente-se tão presa, ela não tem a menor ideia de quanto tempo tinha ficado ali, e quer ver como será esta nova vida. Ela também sente outra coisa totalmente nova: certo sentimento de imprudência. Uma sensação de que ela não pode morrer. De que pode cometer erros estúpidos, a sensação de que tem infinitas vidas com que brincar. Ela quer ir até o limite das coisas.
Caitlin se vira e olha para fora da janela, para a noite lá fora. A janela tinha o formato de um grande arco, sem vidro, e era exposta aos elementos. O tipo de coisa que se esperaria encontrar em um convento antigo.
A Caitlin humana de antes teria hesitado, perderia tempo pensando sobre o que ela estava prestes a fazer, e ficaria duvidando de si mesma. Mas a nova Caitlin não sente a menor hesitação. Praticamente um segundo depois de ter pensado, ela sai em disparada, na direção da janela.
Com apenas alguns poucos passos, Caitlin salta no parapeito da janela e mergulha no ar.
Alguma parte dela, algum instinto, lhe dizia que uma vez que estivesse suspensa no ar, suas asas brotariam. Se estivesse errada, significaria uma grande queda, centenas de metros, até o chão. Mas a nova Caitlin não acha que jamais pudesse estar errada.
E não estava. Enquanto Caitlin salta em direção à noite escura, suas asas brotas de suas costas, e ela sente a excitante emoção de voar, deslizando pelo ar. Ela se espanta com o comprimento e amplitude das suas asas, alegre em sentir o ar fresco da noite em seu rosto, cabelo e corpo. É noite, mas a lua está tão cheia e tão grande, que ilumina a noite quase como se fosse dia.
Caitlin olha para baixo e tem uma visão ampla do lugar. Ela havia pressentido água, e tinha estado certa. Estava em uma ilha. Em torno dela, em todas as direções, havia um enorme e belo rio, suas águas muito calmas, iluminadas pelo luar. Era o maior rio que ela já tinha visto. E lá, no meio dele, estava a pequena ilha onde ela havia dormido. Era uma ilha pequena, com pouco mais de alguns hectares, com um lado dominado por um castelo escocês destruído, meio em ruínas. O resto da ilha era totalmente tomado por uma densa floresta.
Caitlin voa no ar, voando para cima e para baixo nas correntes de ar, com giros, piruetas e mergulhos, e circula a ilha mais uma vez. O castelo era enorme e magnífico. Algumas partes estavam caindo aos pedaços, mas outras partes, escondidas da vista exterior, dentro dele, estavam perfeitamente intactas. Havia pátios internos e pátios externos, muralhas, torres, escadarias sinuosas, e muitos hectares de jardins. Era grande o suficiente para esconder um pequeno exército.
Enquanto mergulha, ela vê que o interior do castelo está iluminado com tochas. E aquelas não eram pessoas dando mole por ali. Vampiros? Seus sentidos lhe dizem que sim. A sua própria espécie. Eles estavam andando pra lá e pra cá, interagindo uns com os outros. Alguns deles estavam treinando, lutando com espadas, jogando. A ilha estava borbulhando de atividades. Quem eram aquelas pessoas? Por que estavam ali? Eles a tinham acolhido?
Quando Caitlin termina sua volta, ela vê o quarto de onde havia saltado. Ela estava ficando no topo da torre mais alta, que se abria para um enorme terraço, um grande espaço aberto. Nele, está um único, solitário vampiro. Caitlin não precisa voar mais perto para saber quem é aquele vampiro. Ela já sabe, bem dentro do seu coração e da sua alma. O sangue dele agora corre em suas veias, e ela o ama do fundo de seu coração. E agora que ele a havia transformado, ela o amava com algo ainda maior que amor. Ela sabia, mesmo à distância, que a figura solitária andando em frente ao seu quarto era Caleb.
O coração dela dispara ao vê-lo. Ele está aqui. Ele está bem aqui. Parado ali, esperando, do lado de fora do quarto dela. Ele devia estar esperando ela se recuperar. Durante todo este tempo.
Quem poderia dizer quanto tempo havia passado? Ele nunca tinha saído do seu lado. Mesmo com tudo que tinha acontecido, tudo o que estava acontecendo agora. Ela o amava ainda mais do que era possível. E agora, eles ficariam juntos por toda a eternidade.
Lá está ele, encostado ao longo das muralhas, olhando para o rio, com um olhar preocupado e triste.
Caitlin mergulha na direção dele, na esperança de surpreendê-lo, de impressioná-lo com sua recém-descoberta habilidade.
Caleb olha para cima, chocado, e seu rosto se ilumina de alegria.
Mas quando Caitlin se aproxima para a aterrissagem, de repente algo dá errado. Ele se sente perdendo o equilíbrio, perdendo a coordenação. Ela sente como se tivesse se aproximado rápido demais, e não conseguisse corrigir a tempo. Passando por cima da muralha, ela raspa o joelho e cai no chão de mau jeito, rolando na pedra.
"Caitlin?" Caleb grita, correndo em direção a ela.
Caitlin está deitada na pedra dura, sentindo uma nova dor, que lhe sobe pela perna. Ela está bem. Se tivesse sido a antiga Caitlin, uma simples humana, ela teria quebrado vários ossos. Mas como a nova Caitlin, ela sabe que logo estará de pé, recuperada rapidamente, em poucos minutos, provavelmente. Mas agora ela está constrangida.
Ela pretendia surpreender e impressionar Caleb.
E agora ela parecia mais uma idiota.
"Caitlin?" ele pergunta novamente, ajoelhando-se ao lado dela, colocando a mão em seu ombro, "Você está bem?”.
Ela olha para ele, sorrindo sem graça.
"Belo jeito de te impressionar," ela diz, se sentindo uma boba.
Ele passa a mão ao longo do lado da perna dela, verificando o seu prejuízo.
"Eu não sou mais humana," ela fala, "você não tem que se preocupar comigo.".
Ela imediatamente se arrepende de ter falado, e do seu tom. Tinha soado como uma acusação, quase como se ela lamentasse ter sido transformada. E ela não tinha tido a intenção de parecer tão dura. Pelo contrário, ela adorava o toque dele, adorava o fato de que ele ainda era tão protetor. Ela queria agradecer-lhe, dizer tudo isto para ele e muito mais, mas como sempre, ela tinha estragado tudo, e dito exatamente a coisa errada na hora errada.
Que terrível primeira impressão como a nova Caitlin. Ela ainda não sabia manter a boca fechada. Obviamente algumas coisas nunca mudam, mesmo com a imortalidade.
Ela se senta, e está prestes a colocar a mão no ombro dele e pedir desculpas, quando, subitamente, ouve um barulho choroso e sente uma nuvem fofa em seu rosto. Ela se inclina para trás, e percebe o que é.
Rose. Seu filhote de lobo Rose salta em seus braços. Rose geme de felicidade, lambendo todo o rosto de Caitlin. Ela não consegue se segurar e cai na gargalhada. Ela dá um abraço em Rose, e puxando-a para trás, observa ela.
Ainda um filhote, Rose parecia ter crescido, e estava maior do que Caitlin se lembrava. Caitlin reflete, e se lembra da última vez que tinha visto Rose, na King's Chapel, deitada no chão, sangrando, baleada por Samantha. Ela tinha certeza que Rose estava morta.
"Ela conseguiu se recuperar", diz Caleb lendo sua mente, como sempre, "Ela é forte. Como a mãe," ele acrescenta com um sorriso.
Caleb deve ter cuidado dos dois durante todo este tempo.
"Quanto tempo eu fiquei inconsciente?", Caitlin pergunta.
"Uma semana", responde Caleb.
Uma semana, ela pensa. Incrível.
Ela sentia como se tivessem sido anos. Ela sentia como se tivesse morrido e voltado à vida, mas com uma nova forma. Ela se sentia revigorada, prestes a começar a vida novamente de ficha limpa.
Mas quando se lembrava de todos os acontecimentos que estavam transcorrendo, ela percebia que a passagem de uma semana também significava uma eternidade. Eles tinham roubado a Espada. E seu irmão, Sam, tinha sido raptado. Uma semana inteira tinha se passado. Por que razão Caleb não tinha ido atrás deles? Cada minuto contava.
Caleb se levanta, e Caitlin também. Ela fica na frente dele, olhando em seus olhos. O coração dela começa a bater. Ela não sabia o que fazer. Qual seria o protocolo, o costume, agora que ambos eram verdadeiros vampiros? Agora que ele havia sido o responsável pela transformação dela? Eles estavam juntos? Será que ele a amava da mesma forma, agora que ela pertencia à raça dele? Agora que eles ficariam juntos para sempre?
Ela se sente ainda mais nervosa, como houvesse mais em jogo, do que nunca antes.
Ela alcança sua mão e toca gentilmente o rosto dele.
Ele olha nos olhos dela, e os olhos dele brilham no luar.
"Obrigada", ela diz, suavemente.
Ela quer falar, eu amo você, mas as palavras não saem. Ela quer perguntar: Você vai ficar comigo para sempre? Você ainda me ama?
Mas apesar de tudo, apesar de todos os seus novos poderes, ela não tem coragem de dizer isso. Ela poderia ter pelo menos dito: obrigada por me salvar – ou, obrigada por cuidar de mim, ou Obrigada por estar aqui. Ela sabe o quanto ele tinha sacrificado para estar ali, o quanto ele tinha sacrificado. Mas tudo o que ela consegue dizer é: Obrigada.
Ele sorri devagar, e com uma das mãos cuidadosamente tira o cabelo da frente do rosto dela, colocando-o atrás da orelha. Então, ele passa a mão, tão suavemente sobre seu rosto, estudando-a.
Ela tenta imaginar o que ele esta pensando. Ele estaria prestes a manifestar o seu amor eterno por ela? Será que ele iria beijá-la?
Ela sente que ele esta prestes a isso e, de repente, fica nervosa. Nervosa ao imaginar como sua nova vida seria. Nervosa em pensar no que aconteceria se não desse certo. Então em vez de aproveitar o momento, ela simplesmente estraga tudo, abrindo sua boca larga quando tudo que queria fazer era mantê-la fechada.
"O que aconteceu com a Espada?" ela pergunta.
A expressão no rosto dele muda completamente. Ela se transforma em uma expressão de amor, de paixão, em uma expressão de medo preocupante. Ela vê tudo isso instantaneamente, como uma nuvem escura que atravessa um céu de verão.
Ele se vira e dá vários passos em direção à borda da muralha de pedra, de costas para ela, e observa o rio ao longe.
Você é uma idiota, ela pensa consigo mesma. Por que você foi abrir a boca? Por que razão não podia simplesmente deixar que ele te beijasse?
Ela se preocupava com a espada, isso era verdade, mas nem de longe tanto quanto se preocupava com ele. Com eles, como um casal. Mas ela tinha estragado o momento.
"Receio que a Espada tenha desaparecido", diz Caleb suavemente de costas para ela, olhando o horizonte. "Ela foi roubada de nós. Por Samantha, em seguida, por Kyle. Eles nos pegaram de surpresa. Eu não previa a presença deles ali. Eu deveria pensando nisso.".
Caitlin se dirige até ele e, em pé ao seu lado, suavemente coloca a mão em seu ombro. Ela espera que talvez consiga mudar o clima novamente.
"O seu pessoal está bem?" ela pergunta.
Ele se vira e olha para ela, ainda mais inquieto do que antes.
"Não," ele responde calmamente. "O meu coven está em grave perigo. E cada minuto que fico longe, o perigo aumenta.".
Caitlin pensa.
"Então, por que você ainda não foi até eles?" ela questiona.
Mas ela já sabe a resposta, antes mesmo que ele a diga.
"Eu não podia te deixar," diz ele. "Eu tinha que me certificar que você estava bem".
Será que isso era tudo? Caitlin pensa. Será que ele só se preocupava em ver se estava tudo bem com ela? E assim que tivesse certeza, simplesmente iria embora?
Por um lado, Caitlin sentia um impulso de amor por ele, sabendo de tudo que ele havia sacrificado. Mas, por outro lado, ela se perguntava se ele apenas se preocupava com seu bem-estar físico. E não com eles como um casal.
"Bem…" Caitlin começa, "agora que você está vendo que está tudo bem comigo… você pensa em ir embora?”.
Não tinha saído como ela esperava. O que havia de errado com ela? Por que ela não conseguia ser mais amável, mais gentil, como ele tinha sido? Com certeza não era isso que ela queria. As palavras simplesmente saíam assim. O que ela queria dizer era, Por favor, não me deixe nunca.
"Caitlin," ele começa suavemente, "preciso que você entenda. Minha família, meu povo, o meu coven – estão todos em grave perigo. A Espada está lá fora, e está nas mãos erradas. Eu preciso voltar para eles. Eu preciso salvá-los. Na verdade, eu deveria ter saído há mais de uma semana… e agora que estou vendo que você se recuperou, bem… não é que queira deixar você. É que eu preciso salvar minha família," ele fala suavemente.
"Eu poderia ir com você," Caitlin responde, com esperança. "Eu poderia ajudar".
"Você não está totalmente recuperada", ele diz. "A aterrissagem forçada não foi um acidente. Todos os vampiros levam algum tempo para desenvolver completamente seus próprios poderes. E no seu caso, você também teve um ferimento horrível feito pela Espada. Que pode levar dias ou semanas para cicatrizar. Se você viesse, poderia se machucar. O campo de batalha não é lugar para você agora. Eles vão treinar você aqui. É por isso que eu te trouxe."
Caleb se vira e atravessa o terraço, conduzindo-a, e eles observam o pátio abaixo.
Lá, bem lá embaixo, dezenas de vampiros iluminados pela luz das tochas, lutam e duelam uns com os outros.
"Esta pequena ilha abriga um dos melhores covens existentes", diz Caleb. "Eles concordaram em abrigá-la. Eles vão ensinar você. Eles vão treiná-la. Torná-la mais forte. E então, quando seus poderes estiverem completamente desenvolvidos, quando você estiver totalmente curada, será uma honra lutar com você ao meu lado. Até então, receio que não possa permitir que você vá. A guerra que estou prestes a lutar será muito perigosa. Mesmo para um vampiro."
Caitlin franze a testa. Ela temia que ele dissesse algo assim.
"Mas o que acontece se você não voltar?" ela pergunta.
"Se eu estiver vivo, vou voltar para você. Eu prometo."
"Mas e se você não viver?” Caitlin pergunta, quase com medo de pronunciar as palavras.
Caleb se vira e olhando o horizonte, respira profundamente. Ele olha as nuvens, e não diz uma palavra.
Essa é a chance que Caitlin esperava. Ela quer desesperadamente mudar de assunto. Ele estava determinado a partir, ela podia ver, e nada poderia impedi-lo. E era evidente que ele não poderia levá-la. Sentindo uma onda de cansaço, ela se dá conta que ele estava certo: ela não está pronta para a luta. Ela precisava se recuperar.
Ela não quer perder mais tempo tentando impedi-lo. E também não quer mais falar sobre vampiros, guerras ou Espadas. Ela quer usar o precioso tempo que lhes resta para falar sobre eles. Caitlin e Caleb. Eles, como um casal. O futuro deles. Sobre o amor que sentem um pelo outro. Seu compromisso. Em que ponto, exatamente, eles se encontravam no relacionamento?
Mais importante, ela pensa, durante todo o tempo que passaram juntos, desde que ela o havia conhecido pela primeira vez, ela nunca havia lhe dado o devido valor. Ela nunca tinha parado, por um instante que fosse para olhar em seus olhos e lhe dizer exatamente o quanto era intenso seu sentimento por ele. Ela era uma mulher agora, e sentia que já estava na hora de assumir suas responsabilidades e agir com maturidade, de agir como mulher. De dizer o que ela realmente sentia por ele. Ela precisava que ele soubesse disso. Talvez ele intuísse, sentisse o quanto ela gostava dele, mas ela nunca havia realmente pronunciado as palavras. Caleb, eu amo você. Eu amo você desde o momento em te conheci. Eu vou amar você para sempre.
O coração de Caitlin bate acelerado, mais apavorado com isso do que jamais havia estado. Tremendo, ela estende a mão e gentilmente acaricia o rosto dele.
Ele se vira lentamente para ela.
Ela está pronta, finalmente, para lhe contar o que sente.
Mas, ao tentar lhe dizer, as palavras travam em sua boca.
Ao mesmo tempo, ele a observa com um olhar preocupado, e abre a boca para falar.