Kitabı oku: «Uma Forja de Valentia », sayfa 3

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CAPÍTULO SEIS

Alec no convés observava o mar, agarrando a amurada do lustroso navio preto, como vinha a fazer há vários dias. Observava as ondas gigantes a rebentarem e a recuarem, erguendo o seu pequeno veleiro. Via a espuma a separar-se por baixo do porão, enquanto cortavam a água a uma velocidade à qual ele nunca antes tinha navegado. O navio deles inclinou-se e as velas ficaram rígidas com o vento, com os vendavais fortes e constantes. Alec estudava o navio com os olhos de um artesão, questionando-se sobre de que seria feito este navio; claramente era feito de um material não comum, elegante, que ele nunca antes tinha encontrado, o que lhes permitia manter a velocidade durante todo o dia e noite e manobrar no escuro para além da frota Pandesiana, para lá do Mar do Arrependimento e na direção do Mar de Lágrimas.

Ao refletir, Alec lembrou-se do quão angustiante esta jornada tinha sido, uma viagem através dos dias e das noites, nunca baixando as velas, as longas noites no mar negro repleto de sons hostis, do ranger do navio e de criaturas exóticas agitadas a pular. Mais do que uma vez ele tinha acordado com uma cobra brilhante a tentar embarcar no barco e o homem com quem navegava a pontapeá-la com a sua bota.

Mais misterioso que tudo, mais misterioso do que qualquer exótica vida marinha, era Sovos, o homem ao leme do navio. Este homem que tinha procurado Alec fora na forja, que o havia trazido para este navio, que estava a levá-lo para algum lugar remoto. Alec não sabia se havia de ser louco e confiar naquele homem. Até agora, pelo menos, Sovos já o tinha salvado. Alec recordava-se, olhando de volta para a cidade de Ur quando estavam longe no mar, sentindo-se angustiado, sentindo-se impotente, ao testemunhar a frota Pandesiana a aproximar-se. Do horizonte, ele tinha visto as balas de canhão a romperem pelo ar, tinha ouvido o barulho distante, tinha visto a derrocada dos grandes edifícios, edifícios estes onde ele próprio tinha estado apenas algumas horas antes. Ele havia tentado sair do navio, para ajudá-los a todos, mas nesse momento, eles já estavam demasiado longe. Insistiu para que Sovos voltasse para trás, mas os seus apelos caíram em ouvidos de mercador.

Os olhos de Alec encheram-se de lágrimas ao pensar em todos os seus amigos que lá tinham ficado, especialmente Marco e Dierdre. Fechou os olhos e tentou, sem sucesso, afastar esse pensamento. O seu peito apertou-se ao sentir que os tinha desapontado.

A única coisa que fazia Alec continuar, que o abanava do seu desânimo, era sentir que ele era necessário noutros lugares, como Sovos tinha insistido; que ele tinha um destino certo, que ele poderia usá-lo para ajudar a destruir os Pandesianos noutro lugar. Afinal, como Sovos havia dito, ter morrido lá atrás com o resto deles não teria ajudado ninguém. Ainda assim, ele esperava e orava para que Marco e Dierdre tivessem sobrevivido e que ele ainda pudesse voltar a tempo para se reunir com eles.

Muito curioso para saber para onde se dirigiam, Alec tinha inundado Sovos com perguntas, mas este tinha permanecido teimosamente em silêncio, sempre no leme noite e dia, de costas para Alec. Ele nem sequer, tanto quanto Alec sabia, havia dormido ou comido. Apenas ficava ali a olhar o mar com as suas botas de couro altas e casaco de couro preto, com as suas sedas escarlates drapeadas sobre o seu ombro, vestindo uma capa com a sua curiosa insígnia. Com a sua curta barba castanha e olhos verdes brilhantes, que olhavam para as ondas como se fossem só um, o mistério em torno dele aprofundava-se.

Alec olhava admirado para o fora do comum Mar das Lágrimas, com a sua cor de água clara, sentindo-se tomado por uma urgência em saber para onde estava a ser levado. Incapaz de suportar o silêncio por mais tempo, ele virou-se para Sovos, desesperado por respostas.

"Porquê eu?", perguntou Alec, quebrando o silêncio, tentando mais uma vez e desta vez determinado a obter uma resposta. "Porquê escolher-me de entre toda aquela cidade? Porque é que eu era o único destinado a sobreviver? Poderias ter salvado uma centena de pessoas mais importantes do que eu."

Alec esperou, mas Sovos permaneceu em silêncio, de costas para ele, estudando o mar.

Alec decidiu ir por outro caminho.

"Para onde é que estamos a ir?", perguntou, ainda assim, mais uma vez. "E como é que este navio é capaz de navegar tão rápido? Do que é que é feito?"

Alec observava as costas do homem. Passaram-se minutos.

Finalmente, o homem abanou a cabeça, ainda de costas.

"Estás a ir para onde estás destinado a ir, para onde estás destinado a estar. Eu escolhi-te a ti porque nós precisamos de ti e de mais nenhum."

Alec indagava-se.

"Precisam de mim para quê?", pressionou Alec.

"Para destruir a Pandesia."

"Porquê eu?", perguntou Alec. "Como é que posso eventualmente ajudar?"

"Tudo ficará claro quando chegarmos", respondeu Sovos.

"Chegarmos onde?", pressionou Alec, frustrado. "Os meus amigos estão em Escalon. As pessoas que eu amo. Uma miúda."

"Eu sinto muito", suspirou Sovos, "mas ninguém é deixado lá trás. Tudo o que tu em tempos conheceste e amaste foi-se."

Seguiu-se um longo silêncio e, no meio do assobio do vento, Alec rezou para que ele estivesse errado – apesar de, no fundo, ele sentir que ele estava certo. Como é que a vida podia mudar tão rapidamente?, questionava-se.

"No entanto, estás vivo", continuou Sovos, "e isso é um presente muito precioso. Não o desperdices. Podes ajudar muitos outros, se passares no teste. "

Alec franziu a testa.

"Que teste?", perguntou.

Sovos finalmente virou-se e olhou para ele com um olhar penetrante.

"Se fores o tal", disse ele, "a nossa causa vai cair nos teus ombros; se não fores, não teremos nenhuma função para ti".

Alec tentou entender.

"Estamos a navegar há dias e ainda não chegámos a lado nenhum", Alec observou. "Cada vez mais em alto mar. Eu já nem consigo ver Escalon."

O homem sorriu.

"E onde achas que estamos a ir?", perguntou.

Alec encolheu os ombros.

"Parece que navegamos para nordeste. Talvez algures na direção de Marda."

Alec estudou o horizonte, exasperado.

Finalmente, Sovos respondeu.

"Como estás errado, meu jovem", respondeu ele. "Completamente errado, na verdade."

Sovos voltou-se para o elmo e uma forte rajada de vento levantou-se. O barco encaminhou-se para os carneirinhos do oceano. Alec olhar para além dele e, ao faze-lo, pela primeira vez, ele ficou surpreendido ao vislumbrar algo no horizonte.

Ele correu para a frente, cheio de emoção e agarrou a amurada.

Ao longe, surgia lentamente uma massa de terra, que apenas começava a tomar forma. A terra parecia brilhar, como se fosse feita de diamantes. Alec levantou a mão para os olhos, espreitando, imaginando o que poderia ser. Que ilha poderia existir ali no meio do nada? Ele deu voltas à sua cabeça, não se conseguindo lembrar de nenhuma terra nos mapas. Seria algum país do qual ele nunca tinha ouvido falar?

"O que é?", perguntou Alec apressadamente, olhando fixamente para lá, em antecipação.

Sovos virou-se e, pela primeira vez desde que Alec o conhecera, ele sorriu largamente.

"Bem-vindo, meu amigo", disse ele, "às Ilhas Perdidas."

CAPÍTULO SETE

Aidan ficou confinado a um poste, incapaz de se mover, enquanto observava o seu pai, ajoelhando-se a alguns passos diante dele, ladeado por soldados Pandesianos. Ali estavam, de espadas levantadas, segurando-as por cima da sua cabeça.

"NÃO!", gritou Aidan.

Ele tentou libertar-se, para avançar e poupar o seu pai. No entanto, independentemente de quanto tentasse, ele não se conseguia mover, com as cordas a afundarem-se nos seus pulsos e tornozelos. Ele foi forçado a assistir quando o seu pai se ajoelhou ali, com os olhos cheios de lágrimas, a olhar para ele a pedir ajuda.

"Aidan!", gritou o seu pai, estendendo-lhe a mão.

"Pai!", gritou-lhe Aidan também.

As lâminas desceram e, um momento depois, o rosto de Aidan ficou salpicado de sangue quando eles cortaram a cabeça do seu pai.

"NÃO!", gritou Aidan, sentindo a sua própria vida a desmoronar-se dentro dele, sentindo-se a afundar dentro de um buraco negro.

Aidan despertou com um sobressalto, ofegante, coberto de um suor frio. Ele sentou-se na escuridão, lutando para perceber onde estava.

"Pai!", gritou Aidan, ainda meio a dormir, à procura dele, ainda sentindo a urgência de salvá-lo.

Ele olhou ao redor, sentiu algo no seu rosto e cabelo, por todo o corpo e percebeu que era difícil respirar. Estendeu a mão, puxou algo leve e longo da sua cara e percebeu que estava deitado num monte de feno, quase enterrado nele. Rapidamente sacudiu tudo enquanto se sentava.

Estava escuro ali, apenas o fraco cintilar de uma tocha que aparecia através das ripas de Madeira. Rapidamente ele apercebeu-se que estava deitado na parte traseira de uma carruagem. Ouviu um barulho ao lado dele. Viu com alívio que era Branco. O enorme cão saltava na carruagem ao lado dele e lambia-lhe a cara, enquanto Aidan o abraçava.

Aidan respirou com dificuldade, ainda dominado pelo sonho. Tinha parecido muito real. Teria o seu pai realmente sido morto? Ele tentou lembrar-se de quando o vira pela última vez, no pátio real, emboscado, cercado. Ele lembrava-se de o ter tentando ajudar e, depois, de ter sido levado por Motley no meio da noite. Ele lembrava-se de Motley o ter colocado naquela carruagem e de terem cavalgado pelas estreitas ruas de Andros para fugir.

Isso explicava a carruagem. Mas onde tinham eles ido? Para onde o tinha levado Motley?

Uma porta abriu-se e uma lasca da luz das tochas iluminou o escuro espaço. Aidan foi finalmente capaz de ver onde estava: numa pequena sala de pedra, o teto baixo e arqueado, parecendo uma pequena cabana ou taberna. Ele olhou para cima e viu Motley de pé na porta, enquadrado na luz das tochas.

"Continua a gritar assim e os Pandesianos vão encontrar-nos", advertiu Motley.

Motley virou-se e saiu, voltando para a sala bem iluminada à distância. Aidan rapidamente saltou da carroça para fora e seguiu-o, com Branco ao seu lado. Aidan entrou na sala brilhante e Motley rapidamente fechou a espessa porta de carvalho atrás dele e trancou-a várias vezes.

Aidan olhou, ajustando os olhos à luz, reconhecendo rostos familiares: os amigos de Motley. Os atores. Todos aqueles artistas de estrada. Eles estavam todos aqui, todos a esconderem-se, embarcados neste bar de pedra sem janelas. Todos os rostos, outrora tão festivos, eram agora severos, sombrios.

"Os Pandesianos estão em toda parte", disse Motley para Aidan. "Fala baixo."

Aidan, envergonhado, nem sequer se tinha apercebido que estava a gritar.

"Desculpa", disse ele. "Eu tive um pesadelo."

"Todos nós temos pesadelos", Motley respondeu.

"Nós estamos a viver num", acrescentou um outro ator de rosto taciturno.

"Onde é que estamos?", perguntou Aidan, olhando em volta, confuso.

"Uma taberna no canto mais distante de Andros. Ainda estamos na capital, escondidos. Os Pandesianos estão a patrulhar lá fora. Eles já passaram por aqui várias vezes, mas não entraram – e não o vão fazer, desde que te mantenhas calado. Nós estamos seguros aqui", respondeu Motley.

"Por enquanto", disse um dos seus amigos, cético.

Aidan, sentindo a urgência de ajudar seu o pai, tentou lembrar-se.

"O meu pai… está morto?", perguntou ele.

Motley abanou a cabeça.

"Não sei. Eles levaram-no. Foi a última vez que o vi."

Aidan sentiu uma onda de indignação.

"Vocês tiraram-me de lá!", disse ele com raiva. "Não deviam tê-lo feito. Eu tê-lo-ia ajudado!"

Motley coçou o queixo.

"E como é que conseguias isso?"

Aidan encolheu os ombros, pensando na resposta.

"Não sei", respondeu ele. "De alguma forma."

Motley assentiu.

"Terias tentado", ele concordou. "E estarias morto agora, também."

"Ele está morto, então?", perguntou Aidan, sentindo-se destroçado.

Motley encolheu os ombros.

"Não quando saímos", disse Motley. "Agora simplesmente não sei. Nós já não temos amigos nem espiões na cidade – foi tomada pelos Pandesianos. Todos os homens do teu pai estão presos. Estamos, receio, à mercê de Pandesia."

Aidan cerrou os punhos, pensando apenas no seu pai a apodrecer naquela cela.

"Eu tenho de salvá-lo", declarou Aidan, com um senso de propósito. "Eu não o posso deixar lá. Tenho de deixar imediatamente este lugar."

Aidan levantou-se, correu para a porta e começou a puxar para trás os trincos quando Motley apareceu e, por cima dele, colocou o pé à frente da porta antes que ele a conseguisse abrir.

"Vai agora", disse Motley, "e vais matar-nos a todos."

Aidan olhou para Motley, viu uma expressão séria pela primeira vez. Ele sabia que ele estava certo. Ele tinha um novo senso de gratidão e respeito por ele; afinal, ele tinha efetivamente salvado a sua vida. Aidan ficar-lhe-ia sempre grato por isso. Mas, ao mesmo tempo, sentia um desejo ardente de resgatar o seu pai e sabia que cada segundo contava.

"Tu disseste que haveria outra maneira", disse Aidan, lembrando-se. "Que haveria outra maneira de salvá-lo."

Motley assentiu.

"Disse", admitiu Motley.

"Eram palavras sem sentido, então?", perguntou Aidan.

Motley suspirou.

"O que é que propões?", perguntou ele, exasperado. "O teu pai está no coração da capital, na masmorra real, guardado por todo o exército Pandesiano. Devemos, simplesmente, ir lá e bater à porta?"

Aidan ficou ali, tentando pensar em nada. Ele sabia que era uma tarefa assustadora.

"Deve haver homens que nos podem ajudar?", perguntou Aidan.

"Quem?", disse um dos atores. "Todos aqueles homens leais ao teu pai foram capturados juntamente com ele."

"Nem todos," respondeu Aidan. "Certamente alguns dos homens não estavam lá. E que tal os senhores da guerra fora da capital, que lhe são leais?"

"Talvez", Motley encolheu os ombros. "Mas onde é que eles estão agora?"

Aidan irritou-se, desesperado, sentindo o aprisionamento do seu pai como se fosse o seu próprio.

"Não podemos simplesmente ficar aqui sentados e não fazer nada", exclamou Aidan. "Se não me ajudares, eu próprio irei. Eu não me importo se morrer. Eu não posso simplesmente ficar aqui sentado enquanto o meu pai está na prisão. E os meus irmãos…", disse Aidan, lembrando-se e começando a chorar, emocionado, ao recordar as mortes dos seus dois irmãos.

"Eu não tenho ninguém agora", disse ele.

Em seguida, abanou a cabeça. Lembrou-se da sua irmã Kyra e rezou com tudo o que tinha para que ela estivesse em segurança. Afinal de contas, ela era tudo o que ele tinha agora.

Aidan gritava, embaraçado. Branco aproximou-se e apoiou a sua cabeça contra a sua perna. Ouviu passos pesados a atravessar o chão de soalho, que rangia, sentindo uma grande e musculosa palma da mão no seu ombro.

Ele olhou para cima e viu Motley olhando para baixo com compaixão.

"Errado", disse Motley. "Tens-nos a nós. Nós somos a tua família agora."

Motley virou-se e gesticulou para a sala. Aidan olhou e viu todos os atores e artistas a olhar para ele com sinceridade, dezenas deles, com compaixão ao assentirem com a cabeça. Ele percebeu que, mesmo não sendo guerreiros, eles eram pessoas de bom coração. Ele tinha um novo respeito por eles.

"Obrigado", disse Aidan. "Mas vocês são todos atores. O que eu preciso são guerreiros. Vocês não podem ajudar-me a recuperar o meu pai."

Motley, de repente, ficou com um certo olhar, como se uma ideia lhe estivesse a surgir. E sorriu largamente.

"Como estás errado, jovem Aidan", ele respondeu.

Aidan podia ver os olhos de Motley a brilhar e ele sabia que ele estava a pensar em alguma coisa.

"Os guerreiros têm uma determinada competência", disse Motley, "porém, os artistas têm uma habilidade própria. Os guerreiros podem ganhar pela força – mas os artistas podem ganhar por outros meios, meios ainda mais poderosos".

"Não entendo", disse Aidan, confuso. "Não consegues libertar o meu pai da sua cela só por o entreteres."

Motley riu-se alto.

"De facto", ele respondeu: "Acho que posso."

Aidan olhou para ele, intrigado.

"O que é que isso significa?", perguntou.

Motley coçou o queixo, com os olhos à deriva, claramente a incubar um plano.

"Os guerreiros não têm permissão para andar livremente na capital agora – ou para ir a qualquer lugar perto do centro da cidade. No entanto, os artistas não têm restrições."

Aidan estava confuso.

"Porque haveria a Pandesia de deixar entrar artistas no coração da capital?", perguntou Aidan.

Motley sorriu e abanou a cabeça.

"Ainda não sabes como é que o mundo funciona, rapaz", respondeu Motley. "Os guerreiros têm sempre permissão apenas em lugares limitados e em alturas limitadas. Mas os artistas têm permissão em todos os lugares, sempre. Todas as pessoas precisam sempre de ser entretidas, tanto os Pandesianos como os Escalonites. Afinal de contas, um soldado entediado é um soldado perigoso, em ambos os lados do reino. E a regra de ordem deve ser mantida. O entretenimento sempre foi a chave para manter as tropas felizes e controlar um exército."

Motley sorriu.

"Com vês, jovem Aidan", disse ele, "não são os comandantes que possuem as chaves para os seus exércitos, mas nós. Meros artistas antigos. Os da classe que tu tanto desprezas. Nós estamos acima da batalha, atravessamos as linhas do inimigo. Ninguém se importa com que armadura estou vestido – eles apenas se importam com o quão bons são os meus contos. E eu tenho contos bons, rapaz, melhores do que possas imaginar."

Motley virou-se para a sala e explodiu:

"Vamos atuar! Todos nós!"

De repente, todos os atores na sala aplaudiram, iluminados, colocando-se de pé, com a esperança a regressar aos seus olhos deprimidos.

"Vamos atuar exatamente no coração da capital! Será o maior entretenimento que estes Pandesianos já viram! E mais importante, a maior distração. Quando for a altura certa, quando a cidade estiver nas nossas mãos, capturada pelo nosso grande desempenho, vamos agir. E vamos encontrar uma maneira de libertar o teu pai".

Os homens aplaudiram e Aidan, pela primeira vez, sentiu-se mais reconfortado, sentindo uma nova sensação de otimismo.

"Achas mesmo que vai funcionar?", perguntou Aidan.

Motley sorriu.

"Já aconteceram coisas mais loucas, meu rapaz", disse ele.

CAPÍTULO OITO

Duncan tentou apagar a dor enquanto entrava e saia do sono, deitado de costas contra a parede de pedra, com as correntes a cortarem-lhe os pulsos e tornozelos e a mantê-lo acordado. Mais do que tudo, ele ansiava por água. A sua garganta estava tão seca que ele não conseguia engolir. Tão crua que cada respiração o feria. Ele não conseguia lembrar-se da última vez que tinha dado um gole. Sentia-se tão fraco com fome que mal se conseguia mover. Ele sabia que estava ali a definhar e que, se o executor não chegasse em breve, então a fome iria levá-lo.

Duncan entrava e saia do seu estado de consciência, há vários dias, com a dor a dar cabo dele e tornando-se uma parte de si. Ele tinha recordações da sua juventude, de tempos passados em campos abertos, em campos de treinos, em campos de batalha. Ele tinha recordações das suas primeiras batalhas, dos dias passados, quando Escalon era livre e próspera. Mas as recordações eram sempre interrompidas pelos rostos dos seus dois rapazes mortos, levantando-se diante dele, assombrando-o. Ele estava dilacerado pela agonia. Abanou a cabeça, tentando, sem sucesso, afastar esses pensamentos.

Duncan pensou no último filho que lhe restava, Aidan. Desesperadamente desejava que ele estivesse a salvo em Volis, que os Pandesianos não o tivessem ainda alcançado. O seu pensamento virou-se, de seguida, para Kyra. Lembrou-se dela como uma jovem miúda, recordou o orgulho que sempre tivera em educá-la. Pensou na jornada dela através de Escalon e indagou se ela teria já chegado a Ur, se teria encontrado o tio dela e se estaria a salvo agora. Ela era uma parte dele, a única parte dele que importava agora. A sua segurança era mais importante para ele do que estar vivo. Iria alguma vez voltar a vê-la? Questionava-se. Ele desejava vê-la, mas também queria que ela permanecesse longe dali e em segurança.

A porta da cela abriu-se de repente e Duncan olhou para cima, assustado, enquanto espreitava pela escuridão. Botas marchavam na escuridão e ao ouvir os passos, Duncan sabia que não eram as botas de Enis. Na escuridão, a sua audição havia-se aguçado.

O soldado se aproximou e Duncan percebeu que ele estava a vir para torturá-lo ou matá-lo. Duncan estava pronto. Eles podiam fazer com ele o que quisessem – ele já tinha morrido por dentro.

Duncan abriu os olhos, pesados como estavam, olhando para cima com toda a dignidade que conseguiu reunir para ver quem estava a chegar. Ficou chocado ao ver o rosto do homem que mais desprezava: Bant de Barris. O traidor. O homem que tinha matado os seus dois filhos.

Duncan olhou com raiva para Bant quando este se aproximou e, com um sorriso de satisfação no rosto, se ajoelhou diante dele. Ele questionava-se sobre o que aquela criatura estaria ali a fazer.

"Não tão poderoso agora, não é, Duncan?", perguntou Bant, apenas a alguns passos de distância. Ele ficou ali, com as mãos nos quadris, baixo, atarracado, com lábios finos, olhos redondos e um rosto cheio de marcas.

Duncan tentou atacá-lo, querendo destruí-lo – mas as suas correntes detiveram-no.

"Deves pagar pelo que fizeste aos meus filhos", disse Duncan, engasgando-se, com a garganta tão seca que não conseguia que as palavras lhe saíssem com o veneno que ele desejava.

Bant riu-se, um som curto, rude.

"Devo?", ridicularizou ele. "O teu último suspiro vai ser aqui em baixo. Eu matei os teus filhos e posso matar-te a ti, também, se quiser. Eu tenho o apoio da Pandesia agora, depois da minha demonstração de lealdade. Mas não te vou matar. Isso seria muito gentil. Vou deixar-te definhar."

Duncan sentiu uma raiva fria a ferver dentro dele.

"Então porque é que vieste?"

Bant enfureceu-se.

"Eu posso vir por qualquer motivo que eu queira", disse com má cara, "ou por nenhuma razão. Eu posso vir só olhar para ti. Para olhar espantado para ti. Para ver os frutos da minha vitória."

Ele suspirou.

"E, ainda assim, acontece que eu tenho uma razão para te visitar. Há algo que eu quero de ti. E há uma coisa que eu te vou dar."

Duncan olhou com ceticismo.

"A tua liberdade", acrescentou Bant.

Duncan observou-o, indagando-se.

"E porque farias isso?", perguntou.

Bant suspirou.

"Ora vê, Duncan", disse ele, "tu e eu não somos assim tão diferentes. Nós somos ambos guerreiros. Na verdade, és um homem que eu sempre respeitei. Os teus filhos mereciam ser mortos – eles eram fanfarrões imprudentes. Mas tu… sempre te respeitei. Não devias estar aqui em baixo."

Ele fez uma pausa, examinando-o.

"Então é isso que eu vou fazer", continuou ele. "Vais confessar publicamente os teus crimes contra a nossa nação e deves incitar todos os cidadãos de Andros a submeterem-se às leis Pandesianas. Se fizeres isso, então eu certificar-me-ei que a Pandesia te libertará".

Duncan ali sentado estava tão furioso que não sabia o que dizer.

"És uma marioneta para os Pandesianos agora?", perguntou Duncan finalmente, a ferver. "Estás a tentar impressioná-los? Para lhes mostrares que me podes entregar?"

Bant sorriu com desprezo.

"Faz isso, Duncan", ele respondeu. "Tu não és útil para ninguém aqui em baixo, muito menos para ti próprio. Conta ao Ra Supremo o que ele quer ouvir, confessa o que fizeste e traz a paz a esta cidade. A nossa capital precisa de paz agora e tu és o único que pode fazer isso."

Duncan respirou fundo várias vezes, até, finalmente, ter forças para falar.

"Nunca", respondeu.

Bant olhou com um ar ameaçador.

"Não pela minha liberdade", Duncan continuou, "não pela minha vida e não por nenhum preço."

Duncan olhou para ele, sorrindo de satisfação enquanto observava Bant a ficar vermelho. Por fim, acrescentou: "Mas fica com a certeza de uma coisa: se eu alguma vez escapar daqui, a minha espada vai encontrar um lugar no teu coração"

Depois de um atordoado longo silêncio, Bant levantou-se, franzindo a testa, olhou para Duncan e abanou a cabeça.

"Vive mais alguns dias para que eu possa estar aqui para assistir à tua execução.", disse ele.

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