Kitabı oku: «Uma Nênia Para Príncipes », sayfa 3

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CAPÍTULO CINCO

A Viúva Rainha Maria da Casa de Flamberg estava sentada nos grandes aposentos da Assembleia dos Nobres, tentando não parecer entediada demais em seu trono no centro das coisas enquanto os supostos representantes de seu povo falavam ininterruptamente.

Normalmente, isso não teria tido importância. A Viúva havia há muito tempo dominado a arte de parecer impassível e régia enquanto as grandes facões ali discutiam. Tipicamente, ela deixava os populistas e os tradicionalistas ficarem cansados antes de ela falar. Hoje, porém, isto estava a demorar mais do que o normal, o que significava que o aperto sempre presente em seus pulmões estava a crescer. Se ela não terminasse com isto em breve, estes tolos poderiam ver o segredo que ela se esforçava tanto para disfarçar.

Mas não havia pressa. A guerra havia chegado, o que significava que todos queriam ter sua oportunidade de falar. Pior, mais do que simplesmente alguns deles queriam respostas que ela não tinha.

“Eu apenas gostaria de perguntar aos meus honoráveis ​​amigos se o facto de os inimigos terem desembarcado em nossa costa é indicativo de uma política governamental mais ampla de negligenciar as capacidades militares de nossa nação” perguntou Lorde Hawes de Briarmarsh.

“O honrado lorde está bem ciente das razões pelas quais esta Assembleia tem sido cautelosa quanto à noção de um exército centralizado” respondeu Lorde Branston de Upper Vereford.

Eles continuaram a tagarelar, repondo velhas batalhas políticas enquanto batalhas mais literais se aproximavam.

“Se eu puder declarar a situação, de modo que esta Assembleia não me acuse de negligenciar meu dever” disse o general Sir Guise Burborough. “As forças do Novo Exército desembarcaram em nossa costa sudeste, contornando muitas das defesas que colocámos em prática para impedir a possibilidade. Eles avançaram rapidamente, derrotando os defensores que os tentaram impedir e incendiando aldeias em seu rasto. Já existem numerosos refugiados que parecem pensar que devíamos proporcionar a eles hospedagem.”

Era divertido, pensou a Viúva, que o homem pudesse fazer com que as pessoas que corriam pelas suas vidas parecessem parentes indesejados determinados a ficar por demasiado tempo.

“E as preparações em torno de Ashton?” Graham, Marquês do Xisto, quis saber. “Assumo que eles estão a vir nesta direção? Podemos selar as muralhas?”

Essa era a resposta de um homem que nada sabia sobre canhões, pensou a Viúva. Ela poder-se-ia ter rido alto se tivesse alentos para isso. Assim, como estava, tudo o que conseguia fazer era manter sua expressão impassível.

“Eles estão a vir nesta direção” respondeu o general. “Antes do mês acabar, talvez tenhamos que nos preparar para um cerco, e trabalhos de terraplenagem já estão a ser construídos contra essa possibilidade.”

“Estamos a pensar evacuar as pessoas que estejam no caminho do exército?” Lorde Neresford perguntou. “Devíamos aconselhar o povo de Ashton a fugir para norte para evitar os combates? Deveria nossa rainha, pelo menos, considerar a retirada para suas propriedades?”

Era divertido; a Viúva nunca o tinha considerado como alguém que se interessava pelo seu bem-estar. Ele tinha sido sempre rápido a votar contra qualquer proposta que ela apresentasse.

Ela decidiu que tinha chegado o momento de falar, enquanto ainda podia. Levantou-se e a sala ficou em silêncio. Embora os nobres tivessem lutado pela sua Assembleia, eles ainda a escutavam lá dentro.

“Ordenar uma evacuação iria dar início ao pânico” disse ela. “Haveria saques nas ruas e homens fortes, que de outra forma poderiam defender seus lares, iriam fugir. Eu ficarei aqui também. Esta é minha casa, e eu não serei vista a fugir dela diante de uma multidão de inimigos.”

“Longe de uma multidão, Sua Majestade” salientou Lorde Neresford, como se os conselheiros da Viúva não lhe tivessem dito a extensão exata da força invasora. Talvez ele tivesse apenas a assumir que, enquanto mulher, ela não teria conhecimentos suficientes sobre guerra para o entender. “Embora eu tenha a certeza de que toda a Assembleia está ansiosa para ouvir seus planos para a derrotar.”

A Viúva olhou para ele fixamente, embora isso fosse difícil de fazer quando seus pulmões pareciam estar prestes a começar a tossir a qualquer momento.

“Como os honrados lordes sabem” disse ela “evitei deliberadamente um papel demasiado próximo nos exércitos do reino. Eu não quereria deixar-vos a todos desconfortáveis, alegando comandar-vos agora.”

“Tenho a certeza de que podemos perdoar isto desta vez” disse o lorde, como se tivesse o poder de a perdoar ou de a condenar. “Qual é sua solução, Sua Majestade?”

A Viúva encolheu os ombros. “Eu pensei que nós começaríamos com um casamento.”

Ela ficou ali, esperando que o furor diminuísse, com as várias fações dentro da Assembleia a gritarem umas com as outras. Os monarquistas estavam a aclamarem seu apoio, os antimonarquistas a reclamarem sobre o desperdício de dinheiro. Os militares estavam a assumir que ela os estava a ignorar, enquanto aqueles que eram das regiões mais distantes do reino queriam saber o que isso significava para o povo deles. A Viúva não disse nada até ter a certeza de que tinha a atenção deles.

“Oiçam-se a vocês próprios, a balbuciarem como crianças assustadas” disse ela. “Vossos tutores e vossas governantas não vos ensinaram a história de nossa nação? Quantas vezes é que os inimigos estrangeiros procuraram reivindicar nossas terras, invejosos de sua beleza e riqueza? Devo os listar para vocês? Devo falar-vos sobre os fracassos da Frota de Guerra de Havvers, a invasão dos Sete Príncipes? Mesmo em nossas guerras civis, os inimigos que vieram de fora foram sempre repelidos. Já se passaram mil anos desde que alguém conquistou esta terra, e ainda assim vocês entram em pânico agora porque alguns inimigos invadiram nossa primeira linha de defesa.”

Ela olhou ao redor da sala, envergonhando-os como se eles fossem crianças.

“Eu não posso dar muito ao nosso povo. Eu não posso comandar sem vosso apoio, e com razão.” Ela não queria que eles discutissem sobre o poder dela aqui e agora. “Porém, eu posso dar-lhes esperança, e é por isso que hoje, nesta Assembleia, quero anunciar um evento que oferece esperança para o futuro. Desejo anunciar o casamento iminente de meu filho Sebastian com Lady d'Angélica, Marquesa de Sowerd. Algum de vocês vai querer forçar uma votação sobre o assunto?”

Eles não quiseram, embora ela suspeitasse que era porque eles ficaram extremamente surpreendidos com o anúncio. A Viúva não se importou. Ela saiu da câmara, decidindo que seus próprios preparativos eram mais importantes do que quaisquer negócios que fossem concluídos em sua ausência.

Ainda havia muito a fazer. Ela precisava ter a certeza de que as filhas dos Danses haviam sido contidas, precisava de fazer os preparativos para o casamento...

O ataque de tosse apoderou-se de si de repente, apesar de ela ter estado à espera de isso durante a maior parte de seu discurso. Quando seu lenço ficou manchado de sangue, a Viúva soube que tinha pressionado muito hoje. Isso, e as coisas estarem a progredir mais depressa do que gostaria.

Ela iria terminar as coisas aqui. Garantiria o reino para seus filhos, contra todas as ameaças, fazendo tudo o que fosse preciso. Veria a continuação de sua linhagem. Veria os perigos eliminados.

Antes de tudo isso, porém, havia alguém que ela precisava de ver.

***

“Sebastian, eu sinto muito” disse Angélica, e depois deteve-se franzindo a testa. Isso não estava bem. Muito ansioso, muito vivaço. Ela precisava de tentar novamente. “Sebastian, eu sinto muito.”

Melhor, mas ainda não estava suficientemente bem. Ela continuou a praticar enquanto caminhava pelos corredores do palácio, sabendo que quando chegasse a hora de realmente o dizer a sério, teria que ser perfeito. Ela precisava de fazer com que Sebastian entendesse que ela sentia a dor dele, porque esse tipo de compreensão era o primeiro passo para conquistar seu coração.

Teria sido mais fácil se ela tivesse sentido algo mais do que felicidade ao pensar em Sophia morta. Apenas a lembrança da faca a deslizar para dentro dela provocava-lhe um sorriso que não poderia mostrar a Sebastian quando ele voltasse.

Isso não demoraria muito. Angélica tinha chegado a casa primeiro que ele por cavalgar depressa, mas ela não tinha dúvida de que Rupert, Sebastian e todos os restantes voltariam em breve. Ela precisava de estar preparada quando eles chegassem, porque não adiantava nada remover Sophia se ela não conseguisse aproveitar a lacuna que isso deixava.

Por enquanto, porém, Sebastian não era o membro da família com quem ela se precisava de preocupar. Ela ficou do lado de fora dos aposentos da Viúva, e respirou fundo enquanto os guardas a observavam. Quando eles abriram as portas em silêncio, Angélica pôs seu melhor sorriso e aventurou-se a avançar.

“Lembra-te de que tu fizeste o que ela quer” disse Angélica para si mesma.

A Viúva estava à sua espera, sentada numa cadeira confortável e a beber um chá de ervas qualquer. Angélica lembrou-se de sua profunda reverência desta vez, e parecia que a mãe de Sebastian não estava com disposição para brincadeiras.

“Por favor, levanta-te, Angélica” ela disse num tom que era surpreendentemente suave.

Ainda assim, fazia sentido que ela estivesse satisfeita. Angélica fizera tudo o que era necessário.

“Senta-te ali” a mulher mais velha disse, apontando para um lugar ao seu lado. Era melhor do que ter que se ajoelhar diante dela, embora ser comandada desse modo fosse ainda uma pequena humilhação para Angélica. “Vá, conta-me sobre tua jornada para Monthys.”

“Está feito” disse Angélica. “Sophia está morta.”

“Tens a certeza disso?” perguntou a Viúva. “Verificaste o corpo dela?”

Angélica franziu a testa com tal pergunta. Nada era suficientemente bom para esta velha mulher?

“Eu tive que escapar antes disso, mas eu esfaqueei-a com um punhal com o veneno mais perigoso que eu tinha” disse ela. “Ninguém poderia ter sobrevivido.”

“Bem” disse a Viúva “espero que estejas correta. Meus espiões dizem que a irmã dela apareceu?”

Angélica sentiu seus olhos a arregalarem-se ligeiramente ao ouvir isso. Ela sabia que Rupert ainda não estava de volta, portanto como é que a Viúva poderia ter ouvido tanto, tão rapidamente? Talvez ele tivesse enviado um pássaro à frente.

“É verdade” disse ela. “Ela partiu com o cadáver de sua irmã, num barco rumo a Ishjemme.”

“Indo para Lars Skyddar, sem dúvida” murmurou a Viúva. Foi outro pequeno choque para Angélica. Como é que camponesas como Sophia e sua irmã podiam conhecer alguém como o governante de Ishjemme?

“Eu fiz o que tu querias” disse Angélica. Até para si, tal pareceu defensivo.

“Estás à espera de elogios?” perguntou a Viúva. “Talvez uma recompensa? Algum título insignificante para adicionar à tua coleção, talvez?”

Angélica não gostava que falassem consigo com tal arrogância. Ela tinha feito tudo o que a Viúva tinha exigido. Sophia estava morta e Sebastian estaria em casa em breve, pronto para a aceitar.

“Acabei de anunciar vossas núpcias à Assembleia dos Nobres” disse a Viúva. “Acho que casares com meu filho seria uma recompensa suficiente.”

“Mais do que suficiente” disse Angélica. “Mas será que desta vez Sebastian vai aceitar?”

A Viúva estendeu a mão e Angélica teve de se esforçar para não recuar quando a velha mulher lhe deu umas palmadinhas em suas bochechas.

“Tenho a certeza de que eu disse que isso fazia parte de tua função. Distrai-o. Sedu-lo. Põe-te de joelhos à frente dele e implora, se for preciso. Meus reportes dizem que ele está encoberto pela dor em seu caminho para casa. Teu trabalho será fazer com que ele esqueça tudo isso. Não o meu, o teu. Faz um bom trabalho, Angélica.” A Viúva encolheu os ombros. “Agora sai. Eu tenho coisas para fazer. Eu tenho que ter a certeza que tu realmente mataste Sophia, afinal.”

A despedida foi abrupta o suficiente para ser rude. Com qualquer outra pessoa, teria sido suficiente para justificar a retribuição. Com a Viúva, não havia nada que Angélica pudesse fazer, e isso só piorava as coisas.

Ainda assim, ela faria o que a velha mulher exigiu. Faria com que Sebastian fosse dela quando ele chegasse a casa. Ela seria da realeza pelo casamento em breve, e essa elevação seria uma recompensa mais do que suficiente.

No entretanto, a incerteza da Viúva sobre Sophia atormentava-a. Angélica tinha-a matado; ela tinha certeza disso, mas...

Mas não faria mal ver o que ela podia saber sobre os eventos em Ishjemme, só para ter a certeza. Ela tinha pelo menos uma amiga lá, afinal.

CAPÍTULO SEIS

Sophia sentia o fluxo rítmico do navio algures por baixo de si, mas era uma coisa distante, no limite de sua consciência. A menos que se concentrasse, era difícil lembrar-se que ela já estivera num navio. Ela certamente não o conseguia encontrar, embora fosse o último lugar onde ela se conseguia lembrar de estar.

Em vez disso, ela parecia estar num lugar sombrio, cheio de névoa que se deslocava e ondulava, fraturando a luz que a filtrava, de tal modo que parecia mais o fantasma de um sol do que sua realidade. No meio do nevoeiro, Sophia não tinha nenhuma ideia de qual era o caminho a seguir ou para onde deveria ir.

Então ela ouviu o choro de uma criança, a atravessar a névoa mais claramente do que a luz do sol. De alguma forma, algum instinto lhe disse que a criança era dela e que ela precisava de ir até ela. Sem hesitar, Sophia partiu pela névoa, correndo em sua direção.

“Estou a ir” ela assegurou à sua filha. “Eu vou encontrar-te.”

A criança continuava a chorar, mas agora a névoa distorcia o som, fazendo parecer que vinha de todas as direções ao mesmo tempo. Sophia escolhia uma direção, correndo para a frente novamente, mas parecia que todas as direções que escolhia eram as erradas, e ela não se aproximava.

A névoa brilhava e as cenas pareciam formar-se ao redor dela, de uma forma tão perfeita como atuações num palco. Sophia viu-se a gritar no parto, com sua irmã a segurar a mão dela enquanto ela trazia uma vida ao mundo. Viu-se a segurar aquela criança em seus braços. Viu-se morta, com um alquimista ao seu lado.

“Ela não foi forte o suficiente, depois do ataque” disse ele a Kate.

Porém, isso não poderia estar certo. Não poderia ser verdade se as outras cenas fossem verdadeiras. Poderia acontecer.

“Talvez nada disso seja verdade. Talvez seja apenas imaginação. Ou talvez sejam possibilidades e nada está decidido.”

Sophia reconheceu a voz de Angélica instantaneamente. Ela girou, vendo a outra mulher parada ali, com uma faca ensanguentada na mão.

“Tu não estás aqui” disse ela. “Não podes estar.”

“Mas tua filha pode?” ela ripostou.

Então, ela deu um passo em frente e apunhalou Sophia, a agonia de tal atravessando-a como fogo. Sophia gritou... e ela estava sozinha, na neblina.

Sophia ouviu uma criança a chorar algures ao longe, e foi em sua direção porque sabia instintivamente que era sua criança, sua filha. Ela correu, tentando recuperar o atraso, mesmo tendo a sensação de que já o havia feito antes...

Ela encontrou cenas da vida de uma menina ao seu redor. Uma criança a brincar, feliz e em segurança, com Kate a rir-se juntamente com ela porque ambas tinham encontrado um bom esconderijo por baixo das escadas e Sophia não as conseguia encontrar. Uma criança a ser puxada de um castelo mesmo a tempo, com Kate a lutar contra uma dúzia de homens, ignorando a lança de lado para que Sophia conseguisse fugir com ela. A mesma criança sozinha num quarto vazio, sem pai nem mãe lá.

“O que é isto?” Sophia quis saber.

“Só tu exigirias saber o significado de algo como isto” disse Angélica, saindo da névoa novamente. “Tu não consegues simplesmente ter um sonho. Tem que ser preenchido com presságios e sinais.”

Ela deu um passo à frente e Sophia levantou a mão para tentar detê-la, mas isso apenas significou que a faca se enfiou sob sua axila, em vez de se atravessar em seu peito.

Ela estava na névoa, com os gritos de uma criança a soarem ao seu redor...

“Não” disse Sophia, sacudindo a cabeça. “Eu não vou continuar a andar por aí às voltas. Isto não é real.”

“É real o suficiente para tu estares aqui” disse Angélica, com sua voz a ecoar na neblina. “Qual é a sensação de ser uma coisa morta?”

“Eu não estou morta” insistiu Sophia. “Não posso estar.”

A gargalhada de Angélica ecoou da mesma maneira que o choro de sua criança tinha ecoado antes. “Não podes estar morta? Porque és tão especial, Sophia? Porque o mundo precisa tanto de ti? Deixe-me lembrar-te.”

Ela saiu da névoa e, agora, elas não estavam na névoa, mas na cabina do barco. Angélica deu um passo à frente. O ódio em seu rosto foi óbvio quando enfiou a lâmina em Sophia mais uma vez. Sophia arfou com isso, depois caiu, sucumbindo na escuridão, e ouvindo Sienne atacar Angélica.

Depois, ela estava de volta na névoa que brilhava ao seu redor.

“Então isto é a morte?” ela exigiu saber, sabendo que Angélica estaria a ouvir. “Se sim, o que é que tu estás a fazer aqui?”

“Talvez eu tenha morrido também” disse Angélica. Ela recuou até ficar visível. “Talvez eu te odeie tanto que te segui. Ou talvez eu seja tudo o que tu odeias no mundo.”

“Eu não te odeio” insistiu Sophia.

Ela ouviu Angélica rir-se então. “Não? Não odeias que eu tenha crescido em segurança enquanto tu estavas na Casa dos Não Reclamados? Que todo mundo me aceite na corte enquanto tu tiveste de fugir? Que eu tenha podido casar com Sebastian sem quaisquer problemas, enquanto tu tiveste de fugir?”

Ela deu um passo à frente novamente, mas desta vez não apunhalou Sophia. Passou por ela, saindo na direção da névoa. A neblina pareceu tomar uma nova forma quando Angélica passou por si, e Sophia sabia agora que aquela não poderia ser a verdadeira, porque a verdadeira Angélica não se cansaria tão depressa de a matar.

Sophia seguiu-a, tentando entender tudo aquilo.

“Vamos mostrar-te mais algumas possibilidades” disse Angélica. “Eu acho que tu vais gostar destas.”

Só de considerar a forma como Angélica o disse, Sophia soube o quão pouco ela iria gostar disso. Mesmo assim, seguiu-a pela névoa, sem saber o que fazer mais. Angélica desapareceu rapidamente de vista, mas Sophia continuou a andar.

Agora estava no meio de uma sala onde estava Sebastian, obviamente tentando segurar as lágrimas que lhe caíam pelos olhos. Angélica estava lá com Sebastian, chegando-se a ele.

“Tu não precisas de conter tuas emoções” disse Angélica num tom de perfeita compaixão. Ela colocou os braços ao redor de Sebastian, abraçando-o. “Não faz mal chorar a morte de alguém, mas lembra-te apenas que os vivos estão aqui para ti.”

Ela olhou diretamente para Sophia enquanto abraçava Sebastian, e Sophia pôde ver o olhar de triunfo ali. Sophia avançou furiosa para Angélica, querendo afastá-la para longe dele, mas sua mão nem sequer lhes conseguia tocar. Passava por eles sem fazer contacto, deixando-a a olhar pasmada para eles, não sendo mais do que um fantasma.

“Não” disse Sophia. “Não, isto não é real.”

Eles não reagiram. Ela poderia muito bem não ter estado lá. A imagem mudou, e, agora, Sophia estava no meio do tipo de casamento que nunca teria ousado imaginar para si mesma. Era num salão cujo telhado parecia alcançar o céu, com os nobres reunidos em tal número que faziam com que o salão até parecesse pequeno.

Sebastian estava à espera num altar juntamente com uma sacerdotisa da Deusa Mascarada, cujas vestes proclamavam sua posição acima das outras de sua ordem. A Viúva estava lá, sentada num trono de ouro, enquanto observava o filho. A noiva chegou-se à frente, com um véu e vestida de branco puro. Quando a sacerdotisa puxou o véu para trás para revelar o rosto de Angélica, Sophia gritou...

Ela deu por si em aposentos que conhecia de memória, a disposição das coisas de Sebastian inalteradas desde as noites que ela tinha passado lá com ele, com a queda do luar nos lençóis diretamente das memórias dela do tempo que eles haviam passado juntos. Havia corpos emaranhados naqueles lençóis e corpos emaranhados um no outro. Sophia conseguia ouvir seu riso e sua alegria.

Ela viu o luar cair no rosto de Sebastian, apanhado numa expressão de pura necessidade, e de Angélica, com um ar triunfante.

Sophia virou-se e correu. Correu pela névoa cegamente, não querendo ver mais nada. Ela não queria ficar neste lugar. Tinha de fugir dali, mas não conseguia encontrar uma saída. Pior, parecia que qualquer direção para onde ela virasse a levava de volta à direção de mais imagens, e até as imagens de sua filha a magoavam, porque Sophia não tinha como saber quais poderiam ser reais e quais estavam ali apenas para a magoar.

Ela tinha que encontrar uma saída, mas não conseguia ver suficientemente bem para encontrar uma. Sophia ficou ali, sentindo o pânico a crescer dentro de si. De alguma forma, ela sabia que Angélica a seguiria novamente, perseguindo-a através da névoa, pronta para enfiar sua espada dentro de si mais uma vez.

Então Sophia viu a luz a brilhar através da névoa.

Aumentava lentamente, começando como uma coisa que mal abria caminho através da escuridão, e, depois, lentamente transformou-se em algo maior, algo que queimava o nevoeiro afastando-o, da mesma maneira que o sol da manhã poderia queimar o orvalho da manhã. A luz trouxe calor consigo, dando vida a membros que haviam estado sem força antes.

A luz fluiu sobre Sophia e ela deixou que seu poder se derramasse sobre si, transportando consigo imagens de campos, rios, montanhas e florestas. Um reino inteiro contido naquele toque de luz. Até mesmo a dor presente do ferimento que tinha de lado parecia se desvanecer diante desse poder. Por instinto, Sophia colocou a mão no ferimento, sentindo-a molhada de sangue. Ela conseguia ver a ferida lá agora, mas esta estava a fechar-se, com a carne a juntar-se sob o toque da energia.

Quando a névoa se dissipou, Sophia pôde ver algo ao longe. Demorou mais alguns segundos até que suficiente névoa se queimasse, revelando uma escada em espiral que ia até um pedaço de luz, tão distante que parecia impossível o alcançar. De alguma forma, Sophia sabia que a única maneira de deixar esse pesadelo aparentemente interminável era alcançar essa luz. Ela partiu na direção da escada.

“Achas que consegues sair?” Angélica, por trás de Sophia, exigiu saber. Ela se voltou, e mal conseguiu baixar as mãos a tempo quando Angélica a atacou com a faca. Sophia empurrou-a para trás por instinto, depois virou-se e correu para as escadas.

“Tu nunca vais sair daqui!” Angélica gritou e Sophia ouviu os passos dela seguindo atrás de si.

Sophia acelerou. Ela não queria ser esfaqueada novamente, e não apenas para evitar a dor de tal. Ela não sabia o que aconteceria se este lugar mudasse de novo, ou quanto tempo a abertura acima duraria. De qualquer das maneiras, não se podia dar ao luxo de correr o risco, pelo que correu para as escadas, girando ao chegar lá para dar um pontapé em Angélica e atirá-la para trás.

Sophia não ficou para lutar com ela. Em vez disso, subiu as escadas a correr, de dois em dois degraus. Ela ouvia Angélica a segui-la, mas isso não importava. Tudo o que importava era fugir. Ela continuava pelas escadas acima enquanto elas subiam e subiam.

As escadas continuavam, parecendo subir para sempre. Sophia continuava a subi-las, mas começava a sentir-se cansada. Já não estava a subir de dois em dois degraus agora. Um olhar para trás mostrou-lhe que a versão de Angélica, no que quer que fosse este pesadelo, ainda a seguia, perseguindo-a com uma sensação sombria de inevitabilidade.

O instinto de Sophia era continuar a subir, mas uma parte mais profunda de si começava a pensar que isso era estúpido. Este não era o mundo normal; não tinha as mesmas regras ou a mesma lógica. Este era um lugar onde o pensamento e a magia contavam mais do que a capacidade puramente física de continuar.

Esse pensamento foi o suficiente para fazer Sophia parar e vasculhar dentro de si mesma, tentando alcançar o fio de poder que a parecia conectar a um país inteiro. Ela virou-se para encarar a imagem de Angélica, entendendo agora.

“Tu não és real” disse ela. “Tu não estás aqui.”

Ela enviou um sopro de poder, e a imagem de sua pretensa assassina dissolveu-se. Concentrou-se e a escada em espiral desapareceu, deixando Sophia parada em terreno plano. A luz não estava alta agora, mas estava a um passo ou dois de distância, formando uma porta que parecia se abrir para a cabina de um navio. A mesma cabina do navio onde Sophia havia sido esfaqueada.

Respirando fundo, Sophia entrou e acordou.

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