Kitabı oku: «Canções De Natal Na Velha América», sayfa 2
RUDOLPH, A RENA DO NARIZ VERMELHO
Um elogio à diversidade
Quem não se derrete ouvindo a fábula de Rudolph, a rena do nariz vermelho? Embora tenha sido criada há muito tempo, a fábula da criatura "diferente", que por isso foi isolada pelos seus colegas até a sua aceitação pelo próprio Papai Noel, está gravada no coração de toda criança que vive uma história parecida e tenta superar seus próprios complexos. Na realidade, se trata de uma verdadeira inovação no campo da literatura infantil, que pela primeira vez percebe a fragilidade do universo "adolescente", oprimido por fenômenos de discriminação e intimidação. Se pensarmos que Rudolph ganha vida em 1939, não podemos deixar de nos maravilhar com sua poética, além de ser bem atual e de reconhecer a própria profundidade humana. A pequena rena, nascida da mente e do coração de Robert Lewis May, vive uma história simples, mas corajosa: nascido com um enorme nariz vermelho, brilhante e quase cintilante, Rudolph é desprezado pelas outras renas, que nunca brincam com ele, e ainda por cima riem dele. Ele, desse modo, permanece sozinho, marginalizado, destinado à solidão perpétua. Seu porte físico não o ajuda, porque a doce criatura é pequena, magra, muito diferente da imagem clássica do bebê americano rechonchudo, na qual todos os filhotes de contos de fadas, bons ou maus, são inspirados.
FOTO 7. Essa é a primeira versão de Rudolph, no livro original de 1939. Embora muitas vezes comparado a Bambi da Disney, o primeiro Rudolph não se parece nada com ele. Como podem ver, se trata de uma pequena rena, com traços NÃO infantis e muito semelhantes ao animal em carne e osso. Será só mais tarde, com o advento dos desenhos animados, que sua imagem será modificada. A cabeça redonda, olhos grandes e corpo barrigudo que lhe serão atribuídos lembram a imagem clássica do recém-nascido e são construídos especificamente para inspirar ternura.
Rudolph então cresce em nostalgia pelo mundo exterior, do qual é excluído; no entanto, a solidão não amargura seu coração, que se mantém cheio de amor e esperança. À sua maneira, ele é grato pelas pequenas coisas que a vida lhe reserva, e as desfruta serenamente, sempre esperando pelo futuro. E então vem o milagre: Papai Noel tem que entregar seus presentes na Véspera de Natal, mas a noite é tão escura e enevoada que suas renas não sabem para onde ir e voam perdidas no céu. Há, portanto, o risco de deixar todas as crianças do mundo sem presentes de Natal! Papai Noel fica aflito, mas... no escuro da noite ele vê uma luz que ilumina o coração da floresta. É o nariz da pequena rena, a olhar para as estrelas refletidas no rio. Quando Papai Noel vai até ele para pedir ajuda, a pequena rena aceita de imediato guiá-lo na entrega de presentes para o mundo que sempre o rejeitou, porque seu coração não conhece o rancor. Será assim que Rudolph se tornará uma rena do trenó do Papai Noel, e seu lugar será o de líder. Entre elogios e aplausos, as outras renas serão finalmente capazes de olhar "além" de sua aparência e reconhecer as virtudes de sua "diversidade".
A moral salta aos olhos pela sua impressionante modernidade, especialmente se pensarmos na América moralista e racista dos anos 40, no anseio congênito pela uniformidade pública e nas campanhas homofóbicas antes da guerra. A pequena rena com um grande coração conquistou até mesmo as mentes mais duras e menos maleáveis, trazendo consigo um sopro de mudança que nem todos perceberam logo de cara, mas que persistiria ao longo do tempo. Outro milagre de Natal? Não é bem assim. A fábula de Rudolph apresenta uma história comovente, que foi amplamente divulgada com um incrível cinismo na fase de venda do novo personagem.
É importante mencionar que seu criador, Bob May, foi copywriter na grande rede de lojas Montgomery Ward. Seu trabalho consistia em criar novos personagens de contos de fadas que, durante a época de festas, ajudavam a vender brinquedos, livros e acessórios de Natal. Tanto as grandes empresas quanto a indústria musical usavam esta estratégia; todos os anos eram produzidas novas canções relacionadas com o Natal. As vezes estes personagens se tornavam tão famosos, que envolviam a produção de toda uma gama de acessórios de fácil comercialização e lançavam "moda". Camisas, broches, fantoches e logos muitas vezes acompanhavam uma ou outra canção e um ou outro personagem. Exatamente como acontece hoje em dia, quando é lançado um filme de sucesso (não podemos esquecer, por exemplo, a série de acessórios inspirados em Os Caça-Fantasmas, em Toy Story e - porque não - em Titanic).
Nos anos 30, as lojas de brinquedos costumavam dar livros de colorir para as crianças com fins publicitários. Os berros das crianças para ganhar um livro forçava os pais a visitarem essa ou aquela loja, abrindo as portas à potenciais compras. O trabalho do copywriter era, portanto, o de produzir todos os anos um material atraente com o objetivo de fazer brilhar os olhos do público infantil, sem perturbar os adultos. Mas Bob May também era um artista: em um artigo do jornal Gettysburg Times em 1975, ele mesmo revela os bastidores da história do nascimento de Rudolph.
FOTO 8. Esse é um belo retrato de Bob May no início dos anos 40. O artista confessou muitos anos mais tarde, pouco antes de sua morte, que de fato a figura da pequena rena foi inspirada em si próprio quando criança, época em que foi vítima de bullying. A revelação desacreditou a imagem da boa sociedade americana, que não estava de modo algum pronta para reconsiderar a verdadeira natureza dos alunos de suas próprias faculdades. O fenômeno do bullying é agora infelizmente conhecido, mas nos anos 20 e 30 era proibido falar sobre isso, mesmo em ambiente familiar. May confessou ter tido pensamentos trágicos de suicídio e de superá-los graças ao amor de seus pais que, embora muito pobres devido à crise da Grande Depressão, conseguiram dar-lhe estudos e oferecer-lhe um futuro.
"Um jovem chamado Robert May, infinitamente triste e de coração partido, naquela noite na véspera de Natal olhou pela janela e viu correntes de gelo entrando. Barbara, sua filha de 4 anos, se escondeu em seus braços chorando. Sua mãe, a esposa de Bob, querida Evelyn, estava morrendo de câncer.
- Porque a mamãe não é como todas as outras mães? - perguntou a pequena Barbara, ao olhar nos olhos do pai. Porque ela está sempre na cama de olhos fechados e não brinca comigo? -
A mandíbula de Bob se contraiu e seus olhos se encheram de lágrimas; sentia em seu coração muita dor, mas também muita raiva. Sua vida sempre foi dura desde criança, desde quando sua aparência estranha o fez vítima das piadas e ofensas de seus colegas de escola. Era o patinho feio sem esperança de transformar-se um dia num lindo cisne. Lembrando amargamente os apelidos horríveis que recebeu quando criança, ele decidiu poupar sua doce menina da dor de ser chamada de "órfã". Ele lutaria. Era véspera de Natal, pelo amor de Deus! E sua querida Evelyn estava morrendo. Não havia dinheiro na casa, tudo tinha virado fumaça nos medicamentos desnecessários que não tinham servido para salvar a esposa querida, que tinha conhecido e amado desde os tempos da faculdade. Pensou em sua filhinha, que receberia como presente de Natal apenas a morte de sua mãe, e percebeu que não era o momento de se render.
"Você vai ter o melhor presente de Natal já recebido por uma criança!" - decide em seu coração. Com isso, começa a escrever impulsivamente a história de uma pequena rena com um grande nariz brilhante que, beneficiada pelo Espírito do Natal, iluminaria para sempre as noites escuras de sua infância.
Rudolph nasce assim, pelo amor a uma mulher moribunda e a uma menina muito pequena para suportar a dor da perda. E quando Bob leu a história para a jovem moribunda, ela apertou a filha no peito pela última vez, sorrindo com o pensamento de deixá-la nas mãos da pequena rena…”
FOTO 9. Não consegui encontrar foto da pobre Evelyn, mas essa de Bob May com sua filha Barbara rodou o país e amoleceu os corações de milhões de mães. Talvez seja esse o segredo da longevidade da fama da pequena rena?
Claramente, embora sugestiva, se trata de uma história romantizada, digna de um escritor do passado. A realidade foi bem diferente e, em muitos aspectos, mais desagradável.
Em 1938, os danos da Grande Depressão eram muito evidentes na sociedade americana: a crise tinha levado a uma redução gradual na alegria de gastar, e o Natal tinha perdido grande parte de seu apelo consumista. Os pais mantinham as carteiras bem fechadas e até as mesas festivas pareciam menos coloridas. A atmosfera era cinzenta e as vendas de brinquedos baixaram drasticamente: por outro lado, mesmo as grandes cadeias de lojas não pareciam propor nada de novo. No ar ecoava as notas das canções de Natal clássicas, e até mesmo as luzes da indústria da música pareciam desligadas. Ou seja, ninguém queria arriscar, e as famílias pareciam estar totalmente adaptadas a uma atmosfera de austeridade.
Mas não as lojas Ward, que tinham na história do seu fundador Aaron Montgomery uma experiência de vanguarda: apesar da depressão e da crise, recrutou o melhor entre os seus copywriters para dar vida a um personagem tão envolvente que podia brigar até mesmo com Mickey Mouse.
A história do fundador da grande cadeia é indicativa. Ward era apenas um caixeiro-viajante e, em 1872, teve uma ideia no mínimo futurista: iniciar um negócio de vendas diretas, produtor-consumidor, apostando em fornecedores e varejistas e baixando drasticamente os preços. O seu primeiro catálogo, que foi enviado por correio às partes interessadas, consistia numa única página e os primeiros artigos eram ferramentas de trabalho muito comuns para os agricultores. Mas a ideia teve sucesso imediato e, depois de apenas dez anos, Ward foi capaz de vender pelo correio através de catálogos 163 itens diferentes para vários usos (incluindo um dos primeiros fogões a lenha baratos) expostos em 237 páginas! Foi ainda Ward, em 1875, quem inventou a fórmula de "garantia de devolução de dinheiro", o que o levou a um salto para a liderança em popularidade entre os consumidores! A rede Ward desfrutou de um monopólio de vendas por correspondência até 1886, quando nasce a Sears (que a leva à falência muitos anos depois). Todavia, em 1919 Montgomery Ward foi listada na bolsa de valores abrindo sua cadeia de lojas, e foi uma das poucas grandes empresas a sobreviver à crise de 29, quando houve o colapso da Bolsa de Valores. Indomável como poucos de seus rivais, em 1938 Ward decidiu investir grande parte de seus recursos no futuro; e fez isso através do público infantil, como era justo que fosse.
FOTO 10. Foto do primeiro catálogo de página única do império em ascensão Montgomery Ward de 1875! Em poucos anos as vendas por correspondência dispararam e Ward teve a brilhante ideia de economizar nos custos de transporte estabelecendo um limite de peso. Parece que os embaladores eram tão rígidos no respeito às regras, que muitas vezes roupas pesadas como os casacos (que eram muito pesados na época) eram descosturados e enviados em dois pacotes diferentes... e vinham com agulha e linha para costurar de volta!
A ideia era "lançar" um personagem engraçado, porém viril, símbolo da própria cadeia. O primeiro "pupilo" da iniciativa foi um certo Touro Fernando proposto não se sabe por quem, que foi descartado de uma vez devido a má publicidade das touradas. O personagem de May disputava com outros, mas foi de longe o favorito devido à sua característica delicada e índole submissa. Ele também estava tragicamente falido, já que a doença súbita de sua esposa Evelyn, que sofria de câncer há mais de dois anos, tinha drenado suas economias já escassas. O incentivo econômico que Ward prometia ao criador do personagem iria colocar as coisas de volta ao eixo. Bob cuidava de Evelyn e de sua filha, movendo-se loucamente entre o hospital, a casa e o escritório. Em consideração a sua situação, foi-lhe permitido trabalhar a maior parte do tempo de casa: foi lá que o artista teve sua inspiração graças à sua filha Barbara (a única nota verdadeiramente poética de todo o caso). A pequena era fã dos contos de fadas de Papai Noel e suas renas; ela adorava filhotes de cervo, se comovia vendo a mãe cerva e se derretia em lágrimas quando pedia ao pai que a levasse ao zoológico... ele, por razões econômicas, não podia. Bob May coloca grande parte de sua alma no coração da pequena rena: inventa um personagem "diferente", alienado, triste e solitário, que não podia ser outro senão ele mesmo, um menino feio e de óculos. E o faz seguindo um padrão poeticamente infantil ditado pelo amor por sua filhinha, e que se encaixa perfeitamente no espírito do Natal.
FOTO 11. Embora muitas vezes comparado a Bambi da Disney, as características originais das renas são muito diferentes dos inocentes filhotes de cervo. Como podem ver na imagem original de 1942, Bambi já apresenta os sinais da iconografia clássica de filhotes adoráveis: cabeça redonda, orelhas grandes e olhos pungentes. A Disney produziu o filme em 1942, quando Rudolph era já muito famoso. Coincidência ou plágio?
Este foi o único grande milagre do nascimento de Rudolph: o resto é apenas uma lenda. Evelyn não morre na véspera de Natal de 1938, como dito muitas vezes. Naquela época, ela estava em coma, hospitalizada em um quarto de hospital muito comum, onde, no entanto, seus entes queridos costumavam visitá-la. Ela morre em julho do ano seguinte, entre uma menina chorando e um copywriter que ainda não tinha encontrado a força para terminar sua história. Ele terá sucesso alguns meses depois em tempo recorde em função do aluguel não pago e do perigo de ser despejado.
E Rudolph não foi a súbita "revelação" que operou milagres no terrível diretor de vendas, Sewel Avery. Na verdade, Rudolph com aquele nariz vermelho que lembrava o de um bêbado, foi imediatamente descartado não só uma, mas duas vezes! Temos de compreender isto: o eco do proibicionismo ainda se fazia sentir, e apresentar ao público infantil uma imagem pseudo-alcoólica não parecia conveniente para as lojas Ward, ainda que fossem progressistas. Mas Bob, agora determinado a seguir em frente e receber a abençoada promoção, tirou da manga sua cartada triunfal: pede a ajuda do ilustrador jovem e promissor Denver Gillen, muito talentoso e ambicioso. O jovem fez exatamente o que fazem os grandes atores fazem quando entram completamente no papel: teve uma conversa com a pequena Barbara (verdadeira inspiradora do personagem), e logo percebe que aquele nariz vermelho não era uma pura invenção, mas um detalhe em um certo tipo de cervo que a menina tinha visto há muito tempo no zoológico. Ao passear pelo zoológico, ele logo percebeu que se tratava do caribu, um animal dócil cujo filhote parece frágil e indefeso e que, ao nascer, apresentam um nariz rosa escuro muito particular. Seus desenhos foram capazes de capturar aquela ternura instintiva que, apesar do aspecto não muito feliz, os pequenos sabem como infundir em sua própria espécie; conseguiu trazer leveza a uma história triste, bem adequada para um Natal reflexivo e, com isso, finalmente conseguiu conquistar o terrível Sewel Avery, diretor de vendas Ward.
FOTO 12. Esse é o esboço original da pequena rena em 1939, tal qual apresentado por Denver Gillen. As características do personagem não eram bonitas, mas a fragilidade do desenho, que parecia sair diretamente de um mundo de contos de fadas, conquistou a todos.
Vários nomes foram descartados, entre eles Rollo e Reginaldo. Por fim, a pequena rena ganhou o nome de Rudolph, que evocava uma imagem certamente mais "masculina" que os anteriores. Depois de uma campanha publicitária impressionante, a ideia pegou e, só em dezembro de 1939, vendeu-se mais de dois milhões de cópias, alçando a história da pequena rena ao reino dos clássicos.
O que se seguiu foi uma enxurrada de acessórios de arrepiar os cabelos até mesmo da própria Disney: bonecos, broches, acessórios para crianças, canecas... e até mesmo enfeites de Natal traziam a nova moda da rena de Nariz Vermelho. A América, feliz e contente, foi literalmente invadida e durante 7 anos Rudolph foi o protagonista absoluto das festas sagradas. Não havia nenhum teatro itinerante que não encenasse com seus bonecos Rudolph, e não havia nenhuma mãe que não fizesse o filho dormir ao embalo dessa fábula querida.
Estavam todos felizes então? Não é bem assim. Nosso Bob, depois de um breve momento de glória, não se encontrava melhor do que antes. Ward tinha todos os direitos sobre a história e seu protagonista e, como dizem, sugava tudo enquanto May estava sobrecarregado com contas e mais contas. O jovem também casou-se novamente com uma colega, ex-secretária do mesmo Avery, a doce Virginia Newton com quem teve mais cinco crianças! Em 1946, portanto, Ward tinha vendido seis milhões de cópias livro sozinho, aos quais devem ser adicionados os recursos provenientes da venda de acessórios. Enquanto isso, Bob seguia adiante com seu único salário como empregado. E agora começa a lenda: falam que, por um motivo misterioso em 1947, o temível Sewel Avery, evidentemente tocado por graça divina, cede 100% dos direitos ao seu criador, Bob May, que em apenas dois anos se torna multimilionário e, com isso, consegue viver de rendimento pelo resto da vida. A maioria não sabe explicar este súbito arrependimento as lojas Ward que, ao que parece, mudou de ideia e renunciou à renda bilionária que tinha aumentado seu poder na bolsa de valores. Não se falou disso durante anos, até que, pouco antes do fracasso da grande cadeia em 2001, veio à tona os detalhes.
Vocês devem saber que em 1944 a fábula de Rudolph, a rena do nariz vermelho, apareceu em um curta-metragem de desenho animado feito pelo pioneiro da animação Max Fleisher, em nome da Jam Handy Corporation. Se tratava de dois gigantes da indústria cinematográfica em ascensão: Fleisher, inventor da primeira técnica de animação que daria vida ao império dos desenhos animados, propondo personagens míticos como Betty Boop e Popeye. Foi amplamente conhecido como o pioneiro de uma técnica de animação claramente mais sofisticada e moderna do que a da Disney, rival acirrado. A Jam Handy Corporation, propriedade de Henry Jamison Handy, era um gigante em ascensão no campo da comunicação social. Muito próxima do exército dos Estados Unidos por ter produzido vários filmes promocionais e didáticos, também desfrutava do apoio político e econômico de clientes ilustres como a General Motors e o famoso Bray Studios, além de ter um contato íntimo com a Paramount. Farejando o negócio e conhecendo as condições de vida precárias de Bob May, Fleisher entrou em contato com o artista, oferecendo-lhe apoio concreto na possibilidade de processar as lojas Ward, que por anos não reconheceu qualquer percentual sobre o direito autoral de Bob, e enriqueceu de maneira exponencial nas suas costas. Bob concordou e rapidamente agendou uma reunião privada com Sewel Avery, na qual ameaçou fazer um belo escândalo na convocação em tribunal, o que teria um impacto direto na cotação da Montgomery Ward na Bolsa de Valores. Foi assim que May obteve 100% dos direitos de Rudolph, mesmo que a sua condição de empregado da grande cadeia tornasse duvidoso a atribuição na sua totalidade. É evidente que este não era um presente de Natal, mas uma manobra para poder produzir um novo filme de animação, que faria muito sucesso e traria muito dinheiro ao bolso de todos os protagonistas. Produziram então um filme de 8 minutos muito bem feito que, em 1947, deixou milhões de americanos em êxtase. Em seguida, várias alterações foram feitas, transformando gradualmente a imagem e fábula de Rudolph, privando-a da sua originalidade e nivelando-a ao popular estilo Disney. Ainda digno de nota foi o livro infantil de 1951 com desenhos de Richard Scarry, republicado depois pela Golden Books em 1958 em uma edição revisada e corrigida, e até um pouco sentimental.
FOTO 13. Esse é o lindo desenho de Scarry de 1951, que se manteve inalterado até 1958. Após essa data, o estilo foi infelizmente se modificando de forma gradativa.
A alteração do personagem ficou evidente no especial de 1964, em que Rudolph se transforma em um cachorro alienado que foge de casa, e onde aparecem outros personagens de apoio, também excluídos como ele. A nova história perdeu completamente aquela luz de amor e esperança que é tão central na figura da pequena rena, e é agora aclamada como um clássico... infelizmente, esse é um reflexo dos novos tempos.
Me calo a respeito dos remakes subsequentes, que culminam em um filme horrível de 1998, que se demora no retrato do assédio sofrido pelo pequeno Rudolph em uma atmosfera de gosto vagamente sádico. Me sinto até mal em falar sobre o filme Rudolph, a rena do nariz vermelho - Na ilha dos brinquedos roubados de 2001, em que a magia de fato desaparece. A consagração definitiva de Rudolph, com isso, se deu em 1949, se tornando assunto familiar. Entre livros, acessórios e filmes, faltava uma última coisa: uma canção simbólica que lhe garantiria para sempre o seu lugar no Olimpo. A proeza foi da Columbia, que, talvez para dar um impulso extra para a campanha de publicidade, confiou a tarefa de extrair da fábula uma canção ao próprio cunhado de Bob May: o talentoso Johnny Marks.
Até aquele momento, Marks era apenas uma bela promessa. Embora tivesse contato com a rádio e tivesse os características de um bom compositor, ele não havia escrito nada de excepcional até então; todavia, Rudolph expõe a alma de verdadeiro artista que havia dentro dele. Ele compõe em dois meses uma canção agradável de texto leve, que em poucos minutos torna perfeita a atmosfera da fábula de Natal.
Vejam o texto:
Rudolph, the red-nosed reindeer
had a very shiny nose.
And if you ever saw him,
you would even say it glows.
All of the other reindeer
used to laugh and call him names.
They never let poor Rudolph
join in any reindeer games.
Then one foggy Christmas Eve
Santa came to say:
“ Rudolph with your nose so bright,
won’t you guide my sleigh tonight?”
Then all the reindeer loved him
as they shouted out with glee,
Rudolph the red-nosed reindeer,
you’ll go down in history.
Rudolph, a rena do nariz vermelho.
Rudolph, a rena do nariz vermelho
tinha um nariz muito brilhante.
X E se algum dia o visse,
ainda diria que era cintilante!
Todas as outras renas
zombavam dele e faziam uma quebradeira.
Nunca deixavam o pobre Rudolph
participar de nenhuma brincadeira
Então, uma noite de Natal cheia de neblina
Papai Noel disse:
"Rudolph, com seu nariz tão luminoso,
gostaria de conduzir meu trenó esta noite?”
Então
todas as renas o acolheram
e gritaram cheios de glória:
"Rudolph, a rena do nariz vermelho
ficará para sempre na história! ”
Muito bem escrito! Agora precisava apenas encontrar alguém, uma verdadeira estrela da música, que a tornasse sua e conseguisse transmitir sua beleza para cair nas graças do público. Columbia imediatamente contatou o ícone de músicas natalinas da vez, o rei do chororô, o onipresente Bing Crosby, mas ele torce o nariz e recusa. Depois do grande sucesso do White Christmas que o colocou no universo das estrelas, ele tinha medo de arruinar sua reputação interpretando uma fábula infantil. Ninguém ficou surpreso com a rejeição: o querido "Bing" não se destacava por suas qualidades intuitivas.
No entanto, no caso de Rudolph, Crosby foi inflexível e, com isso, a gravadora passa para o plano B. A escolha recai sobre outra das estrelas do momento, um cantor-ator que jovens e adultos gostavam e que encarnava perfeitamente a imagem do Bom Americano: estou obviamente falando de Gene Autry. O ator havia se estabelecido graças a alguns filmes de faroeste de alcance nacional popular, em que ele aparecia como um cowboy bonito e sempre bem penteado, com a intenção de lutar contra os bandidos, flertar com belas donzelas e cantar canções country ao lado da fogueira. Durante anos apareceu em um especial de rádio da CBS em que, direto de seu rancho, dava "lições" para jovens ouvintes que queriam imitá-lo. O programa continuou por cerca de 16 anos com um índice de aprovação muito alto. Além disso, foi um herói da Segunda Guerra Mundial e campeão de rodeio. Em resumo, todos os americanos queriam ser como ele, e todas as mulheres sonharam com um homem como ele. Mas Autry torceu o nariz para o caso Rudolph por outra razão, muito mais compreensível: apenas alguns anos antes ele havia interpretado uma canção sobre o Natal, Here Comes Santa Claus, que não foi muito bem sucedida, e foi tema de críticas impiedosas. No entanto, o ator confiava muito em sua esposa Ina, que tinha um gosto musical afiado. Ela tanto disse e tanto fez, que eventualmente convenceu Autry. O single Rudolph, a rena do nariz vermelho foi lançado em 1949 e foi o maior sucesso de sua vida. A canção, doce sem ser triste, vendeu em um único mês dois milhões de cópias, 230 milhões até hoje, ficando em segundo lugar entre as maiores canções de todos os tempos imediatamente após... White Christmas.
Depois de Gene Autry, existiram centenas de outros intérpretes ilustres: do muito arrependido Bing Crosby, que finalmente decidiu gravá-la em 1950, a Dean Martin em 1959, Paul Anka em 1960, Jackson 5 em 1970... até Ray Charles em 1985, um sério Ringo Star em 1999 e um bem atual DMX, que transforma a canção em rap em 2012! Após conquistar por direito o posto de nona rena do Papai Noel, Rudolph continua a fazer crianças e adultos sonharem com a sua mensagem de amor, que não se desgasta com o tempo. Rudolph nos sugere manter a esperança, não fechar o coração diante da feiura do mundo e a preservar na alma o imediatismo de uma criança. Talvez seja por isso que muitos na América ainda se lembram da velha rima que abre a canção:
"As renas do Papai Natal são muitas e são chamadas de Dasher, Dancer, Prancer, Vixen, Comet, Cupid, Donner, Blitzen. Mas qual delas você se lembra? Rudolph, a rena do nariz vermelho, a mais famosa de todas!”
FOTO 14. Esse é o primeiro protótipo de Rudolph com seu criador, Robert May, em 19 de dezembro de 1949, quando foi utilizado pela Columbia como seu novo ícone de Natal.
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