Kitabı oku: «Formar-se en psicología», sayfa 3

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Valéria: É, eu acho que a gente tem vivido essa onda bem mais conservadora... Em vista disso, até que é possível nos expressarmos e falarmos a respeito da diferença? Isso tem sido algo preocupante, não?

Ana: Sim, eu às vezes penso que o pensamento progressista está acanhado porque o outro vem com muita força. Voltou esse pensamento de que você faz política, e não Psicologia. E o pensamento mais conservador não tem mais vergonha de se expressar. Ontem mesmo eu estava em uma aula no curso de Psicologia Social com meus alunos do segundo ano e eles disseram assim: “A gente adorou!”; “Ah, que bom! Do que vocês mais gostaram? Por que gostaram?”; “Ah, porque aqui a gente fala da vida real do país”; “Como assim, gente?” “É, nas outras disciplinas a gente não fala. A gente analisa os sujeitos, a subjetividade, a dinâmica psíquica, mas ninguém toca na ideia de que a gente vive em um país que sofreu um golpe. Ninguém fala da juventude, ninguém fala do preconceito racial, ninguém fala do aluno do ProUni. E vocês, professores de Social, trazem isso”. Aqui a gente discute um tema, a gente elege um tema. No primeiro semestre, o tema é preconceito racial e, no segundo, a questão urbana (que é muito interessante, porque eles se dão conta de que vivem em uma cidade sobre a qual nunca pensaram em termos de mobilidade, trabalho e habitação. E a gente toma isso como um fenômeno da psicologia social pra estudar). Então, ao mesmo tempo que é muito bom o professor ouvir isso, de que ele é um professor que traz a realidade, é triste, porque eles estão me dizendo que eu sou a única professora que põe a realidade dentro da sala de aula!

Valéria: Então, você toca em um ponto que me chama bastante a atenção nossos colegas não têm se ocupado de discussões críticas a propósito da Psicologia e do próprio mundo.

Ana: É isso mesmo... Sabe, no Instituto Silvia Lane, junto com a PUC, nós estamos fazendo um esforço pra divulgar a ideia do pensamento crítico, porque nós fomos sempre muito identificados como sócio-históricos, até por causa da Silvia. Mas o Instituto não é exclusivamente formado de sócio-históricos, pois também abre espaço para psicanalistas e behavioristas, de modo que a gente tem feito um esforço para divulgar esta ideia de que é preciso construir uma Psicologia crítica, seja em que abordagem for. O que é uma Psicologia crítica? É uma Psicologia que vincula a sua construção teórica com a realidade em que ela se insere, uma Psicologia que não simplifica as explicações, pois analisa os fenômenos como multideterminados, segundo uma perspectiva de historicidade, uma perspectiva metodológica e epistemologicamente fundante. Então, essa ideia a propósito do que a gente precisa produzir hoje, por incrível que pareça, surgiu alguns anos atrás, de forma corajosa. Hoje ela está tímida, porque o outro lado resolveu dizer assim: “Não, não, pera aí que esse espaço também é meu!”. E não tem nenhuma vergonha de estar lá, de divulgar suas ideias entre os alunos. Há professores lá na PUC que falam assim: “Não, esse negócio sócio-histórico é bobagem. Esse negócio de Psicologia com compromisso com a realidade... Psicologia é uma só, a gente tem o fenômeno psicológico que é um fenômeno que a gente tem que estudar, pesquisar, mas ele independe das condições sociais”. Ao dizer isso para os alunos, eles passam uma ideia naturalizadora do fenômeno psicológico. E isso é inimigo do pensamento político, né? Eu acho que a gente vem vivendo isso... Interessante como o mundo, a exemplo de uma gangorra, sobe e desce. Porque, depois das diretrizes era de se imaginar, que não haveria volta. Mas houve. Houve volta. Eu acho que hoje nós temos espaços bastante conservadores dentro dos cursos. Acho que a maioria da categoria profissional ainda é uma maioria conservadora. Uma maioria conservadora que não está preocupada com as questões sociais e que aplica o modelito padronizado da Psicologia na população pobre!

E é interessante: outro dia mesmo uma menina apresentava um trabalho em sala de aula, e ela disse assim: “Então, mas acontece que a população, a moça que a gente entrevistou, uma pessoa pobre e com pouca escolarização, ela não entendia o que a gente falava, ela não tinha repertório pra responder à nossa pergunta. E aí a gente ficou duvidando, talvez fosse melhor entrevistar uma outra pessoa.” Eu e a Graça, que damos aula juntas, falamos assim “Não, tem que mudar o seu instrumento! Porque se você está querendo falar da pobreza, você tem que ter um modo de falar. Não é possível supor que a pessoa não está entendendo o que você fala e que, portanto, você não pode entrevistá-las”. Foi interessante a discussão, porque os alunos se deram conta disso, eles achavam que a população é que está errada.

Valéria: Ana, vamos para um outro ponto sobre o qual eu queria te ouvir um pouco. Como é que você tem percebido a formação em psicologia?

Ana: Então, eu acho que nós temos ainda uma Psicologia hegemonicamente bem conservadora, naturalizante, que naturaliza o fenômeno que ela estuda. Acho que nós vivemos um período histórico que diz assim: “Cada um pode ter a ideia que quiser e vocês têm que aprender a conviver”. Não é uma convivência dialogante, esse é o grande problema. “Temos que ter diversidade: tem pensamento que é progressista, pensamento que é mais conservador”. Gente, pelo amor de Deus, é isso aí! Agora, não incentivar o diálogo entre essas perspectivas é muito ruim. Antes, então, a gente fazia na PUC, por exemplo, um debate sobre como cada uma das perspectivas teóricas explica um determinado fenômeno. Eu me lembro até que eu participei de um que era a inveja. Me pediram para explicar a inveja ora sob a perspectiva sócio-histórica, a um outro sob a fenomenológica e a um terceiro sob a behaviorista. Hoje em dia você tem mesas só de fenomenologia, só de sócio-histórica. Então nós estamos nos fechando de novo nas casinhas, regredindo a uma época em que fazíamos isso para nos defender. Agora, entendemos que cada um pode ser o que quiser. Desse modo, você oferece essa diversidade e o aluno que se vire, o aluno que escolha. E isso é uma condição da perspectiva universitária, que é a da convivência, da diversidade, do diálogo. Eu tenho um amigo no Sul, em Santa Catarina, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que diz assim: “A universidade é o único lugar onde você não deveria pedir desculpas por discordar, porque você tem a obrigação de discordar. Em qualquer outro lugar você tem que dizer ‘desculpa, mas eu não penso assim’, mas na universidade não”. Só que nós estamos acanhados e estamos pedindo desculpas por discordar, ou pior: não estamos nem explicitando a discordância. Está bom, você pensa assim e pronto! Isso é muito ruim para a formação. Eu diria, no entanto, que a formação em Psicologia hoje tem sorte. Ela tem uma juventude que não fica quieta, que tem informação. Você entra na sala de aula como Ana Bock, um aluno levanta a mão e diz assim: “Professora, você presidiu o Conselho Federal de Psicologia. Poderia falar um pouco sobre isso?”. “Onde você está vendo isso? “ “Não, eu estou vendo isso aqui em uma notícia”. Quer dizer, ele já entrou no Google e já fez uma pesquisa sobre a Ana Bock, que é a professora dele, para saber quem é que ela é, o que ela escreveu etc. Claro, eles lidam de um jeito esquisito com a informação: como eles levam a informação? Como eles a articulam? Mas, ao mesmo tempo, há o aluno que, exatamente por ter essa quantidade enorme de informação, desenvolve o interesse na articulação das informações. E é um aluno que entende que ele tem que trabalhar. Eles fazem estágio, eles querem trabalhar. A formação em Psicologia da PUC FUNCIONA em período integral, então há uma pressão para que ela mude sua grade horária, porque os alunos querem trabalhar. Não é obrigatoriamente pra ganhar dinheiro, não, porque lá muitos são ricos. Eles querem a experiência do trabalho porque sabem que têm que produzir a empregabilidade deles. Assim, eles têm que fazer currículo, às vezes é até um coisa ruim, sujeita a uma forma capitalista, mas não importa. Isso contraditoriamente gera um movimento nas universidades que é interessante, porque esse aluno cobra do professor que ele tem que ter tempo, que ele tem que fazer um trabalho, deixa claro para o professor que ele quer aquilo. Ele diz assim para o professor: “Não, o senhor pode sintetizar”. Então eu acho que a gente tem aí uma juventude interessada, interessada em pensar, e isso é algo que eu tenho visto. E não estou falando só da PUC, não. Porque a PUC tem uma camada social. Mas eu tenho frequentado muitas universidades, muitas mesmo. No ano que passou, eu fui a universidades particulares dar palestra, a maioria delas situada em cidadezinhas que demandam viagens de três horas de carro após o trecho percorrido de avião. Eu chego lá e é tão interessante o que encontro... É outra contradição da formação desses alunos: as universidades particulares, por serem mercantilistas, precisam pagar pouco. Elas não podem pagar a um professor o valor que você provavelmente ganha, que eu ganho. Ela precisa do professor titulado e também precisa que ele seja um professor jovem. Por isso, ela tem um corpo docente jovem. A Anhanguera, por exemplo: ela tem um corpo docente jovem e paga pouco. Então, esse corpo docente está fazendo mestrado e doutorado, pra continuar empregado, e mesmo assim está ganhando pouco. Mas é jovem, super disposto, super interessado em fazer um curso pelo qual o aluno se interesse. Ele tem essa preocupação, sabe? “Ah, o nosso aluno que veio de ônibus”. Às 10h da noite eu tive que acabar a minha palestra, porque tinha ônibus parado no estacionamento da universidade para levar aqueles alunos para as cidades que estão no entorno. E é o aluno que trabalha de manhã e de tarde, e que vai pra aula de noite. Um aluno cansado, portanto. O professor tem que se virar pra produzir ali algum interesse, uma aula que seja interessante para esse aluno. Então, essa confluência entre o corpo docente jovem e o aluno inquieto, muito informado e que deseja articular essas informações, essa confluência, enfim, tem sido um contraponto ao mundo da perspectiva hegemônica que se instala novamente de maneira desavergonhada nas universidades e que tem trazido para o ambiente universitário uma concepção conservadora que nós já pensávamos superada. Além do mais, nós temos um problema de formação fragmentada: o aluno se formou na Psicologia e, se não estudar outras coisas, sairá de lá sabendo só de psicologia. E eu acho que essa Psicologia conservadora corresponde àquela Psicologia que só sabe de Psicologia. E aqueles outros que foram fazer um curso na Sociologia, um curso na Educação, um curso na Antropologia, esses foram se meter em outros campos, enriquecendo a perspectiva da Psicologia de alguma forma. Mas aqueles que ficaram só na Psicologia, esses ficam com uma Psicologia muito pequena, né?

Então eu acho que nós temos, desde a nossa formação, elementos e aspectos contraditórios, que, na balança final, eu diria que hoje tendem mais ao conservadorismo, mas que convivem com aquele professor jovem em cuja faculdade eu vou dar palestra e que vem pra mim dizendo: “Posso tirar uma fotografia pra mostrar pros meus alunos eu com a senhora?”. “Mas é claro, vamos tirar”. E ele fala: “Ah, eu trabalho seu livro tal e seu livro tal, porque eu discuto com os alunos isso e aquilo”. Os alunos fazem excelentes perguntas nos debates, quando eu faço uma palestra. Eles mostram perguntas que eles entenderam o que eu disse, entenderam mais do que eu disse. Às vezes, eu até tenho que brincar: “Oh, gente, está ficando muito difícil esse debate, está na hora de terminar, porque agora eu já não sei mais o que vocês estão perguntando”. Porque eles têm sido capazes de fazer perguntas que vão adiante. Assim, esse tipo de situação revela a condição contraditória desses cursos, mas eu acho que a perspectiva dada na instituição, no decorrer do percurso dos professores, tem sido majoritariamente conservadora.

Valéria: E que perspectivas você vê para a Psicologia, daqui pra frente, Ana?

Ana: Então, acho que estar nesse campo da contradição é a nossa salvação. Eu tenho dito isso nas minhas palestras: “Se vocês quiserem certezas e verdades, procurem uma Igreja. Se vocês quiserem aprender a duvidar, entrem na universidade”. Então eu acho que a universidade tem que ser pensada, divulgada, vivida como um lugar de questionamento. A Maria I. Mascelani, que foi minha supervisora e era pedagoga, lecionava no curso de psicologia. Ela dizia assim: “A gente está aqui pra aprender a perguntar, nós temos que perguntar, um estágio não pode ser um lugar de aplicação do conhecimento, apenas. Ele tem que ser não só um lugar em que você aplica, mas um lugar em que você permita à realidade fazer perguntas ao conhecimento que você tem.” Então, em uma supervisão de estágio, temos esses dois momentos: “Olha, você fez isso, está legal, mas qual é a demanda que tem lá? Que tal fazer assim ou assado?”. Mas é bom ter também assim: “O que é que aquele grupo lá, que é a pessoa que você está atendendo, perguntou? O que você sentiu que era incompetente pra dar conta?” E vamos assim. Esse, então, é um espaço em que é necessário buscar a inquietação produzida pela realidade. Eu acho que pensar a universidade como um lugar de inquietação, de perguntas, de questionamento, é fundamental. Para isso, é preciso haver pesquisa. É preciso haver estágio com essa perspectiva, acolhendo a pesquisa, porque pesquisa é dúvida. Por natureza ela é assim. Não há trabalho que não termine dizendo assim: “Muitas questões restaram, foi produzido por esse caminhar etc.”. Todo trabalho acaba assim ou, pelo menos, começa assim. Meus alunos, por exemplo, falam: “Ah, professora, não ficou bom o questionário que a gente fez, porque a gente perguntou e as pessoas entenderam outra coisa”. Eu digo: “Ótimo, está vendo? É isso o que é pesquisar. É crucial perceber que você se equivocou, que sua pergunta tinha limites, então vamos refazer o questionário. É por isso que a gente faz um pré-teste, né? “. Acho que essa inquietação é fundamental. O contato com a comunidade tem que existir, a gente tem que derrubar o muro. A universidade não pode se pensar como um lugar isolado, que pensa através de um microscópio. A gente tem que ter um telescópio e olhar o mundo pra poder servir a este mundo, este mundo social, este mundo próximo da gente, do país onde se insere. Eu quero participar desse social a partir da profissão que eu escolhi. Para isso, eu preciso que a Psicologia tenha uma relação direta com os problemas da vida. Eu acho que é esse o contato com a realidade. E acho que isso vai culminando, vai fomentando uma Psicologia crítica. É isso: uma Psicologia que não tem medo de se modificar; uma Psicologia que está lá pra se modificar, para se inovar e que é capaz de deixar a realidade lhe fazer perguntas, que é capaz de acolher as perguntas que a realidade faz, que é capaz de pensar que o mundo se transforma, aberta para a ideia do processo e do movimento do mundo. Eu acho que isso é fundamental. Eu diria que esses são os aspectos centrais de uma formação. Acho, por fim, que a psicologia tem uma outra coisa para superar: trata-se da ideia da identidade formada pela teoria, pela perspectiva teórica, ou seja: a ideia de trocar a teoria como fonte de identidade pela problemática do real. Então, nós deveríamos nos unir não porque somos sócio-históricos, mas porque somos pessoas que trabalham com a política pública de drogas, que trabalham com a política pública da assistência social. Isso é que deveria nos unir. Nós ainda estamos muito nos guetos teóricos.

Valéria: Ainda com os rótulos pré-definidos.

Ana: É, a gente ainda fica. Ficamos nos defendendo e nos apresentamos assim. O problema de nos defender até que não é grave. A questão é que nós nos identificamos e nos apresentamos como pessoas teóricas, quando a gente deveria se apresentar como aqueles que interferem. Eu quero ser conhecida como a pessoa que estuda a desigualdade social lá na Psicologia, não precisa ser a pessoa sócio-histórica. Eu quero ser conhecida porque eu estudo desigualdade social na educação. Então, eu acho que esses são o que eu chamaria de aspectos centrais. Mas penso que não é fácil. Eu não sou muito otimista, mas creio que a gente tem aprendido que é importante produzir lugares de encontro com essas pessoas que pensam diferente como fez a experiência do evento feito em Brasília, do Fernando, ou como a gente tem feito com o nosso simpósio. Ontem mesmo eu vi um anúncio lá na minha faculdade, divulgando um encontrozinho que vai acontecer, segundo uma determinada perspectiva teórica. Então eu olhei e achei aquilo tão antigo... E que bom que eu achei isso antigo, né? Eu acho que nós precisamos sair desse lugar. É claro que a gente precisa dos espaços para produzir um pensamento coerente, do ponto de vista teórico, mas é preciso tomar como desafio os problemas da realidade. Os problemas da realidade não correspondem exatamente à teoria, você tem que fazer o contrário, né? Como eu tenho que produzir a minha teoria, para que ela seja capaz de dar conta da visibilidade do real? Eu gosto muito dessa ideia de dar visibilidade a aspectos da realidade. Quando eu estava no Conselho Federal, nós fizemos um programa com a TV Cultura que se chamava “Não é o que parece”. Esse programa tinha por detrás dele a ideia de que a Psicologia é capaz de olhar o real e de conferir visibilidade a um aspecto que está lá, mas que não é tão visível, motivo pelo qual ela tem que trabalhar para lhe dar visibilidade. Esse aspecto é o aspecto psicológico, é o aspecto da subjetividade. Então, essa ideia de que a realidade não é o que parece e que uma das coisas que a constituem não aparece, é o elemento subjetivo. Eu gosto, gosto muito disso, e acho que talvez seja por aí o que hoje eu vejo como saída. Eu sempre gosto de me movimentar muito, de mudar de ideia. Daqui a pouco, quando estiver escutando ou lendo aquilo que resultou dessa nossa conversa, eu posso dizer: “Nossa, já penso mais que isso!”. Mas acho que existe a perspectiva do campo, acho que a sociedade é individualista, ela vai personalizando tudo: você tem personal trainer, personal stylist, tem tudo pessoal, e isso fortalece a existência necessária da Psicologia. Eu acho que ela tem uma perspectiva social de movimento, porque tem as camadas dos pobres que foram passando, foram querendo ter direito àquele tipo de atendimento, àquele tipo de ajuda, de contribuição. Então, eu acho que a gente tem aí um futuro intenso pela frente e acho que isso vai também colocar dúvidas, vai colocar questões. E nós vamos ter que enfrentá-las.

Los intricados caminos de una formación histórica y socialmente situada

https://doi.org/10.17230/9789587206937ch2

Wanda C. Rodríguez Arocho conversa con Tania García Ramos *

Universidad de Puerto Rico - Recinto de Río Piedras

Wanda C. Rodríguez Arocho posee un doctorado en Filosofía con especialidad en Psicología y una maestría en Educación con especialidad en Orientación y Consejería, ambos grados otorgados por la Universidad de Puerto Rico, Recinto de Río Piedras (UPR-RP). Es catedrática jubilada del Departamento de Psicología de dicha institución. Su trabajo docente e investigativo en psicología se ha enfocado en procesos cognitivos, aprendizaje, enseñanza de la psicología y desarrollo humano desde la perspectiva histórico-cultural. Su labor en el campo de la formación de docentes desde una perspectiva crítica la mantiene ocupada en seminarios y cursos luego de la jubilación. Tiene tres libros y más de cincuenta artículos publicados en revistas especializadas y libros editados. Ha sido conferenciante y profesora invitada en la Universidad de Aruba, la Universidad de Costa Rica y la Universidad Nacional en ese país, en la Universidad de Córdoba en Argentina, la Universidad Autónoma de Santo Domingo, el Instituto Tecnológico de Santo Domingo, la Universidad de Mérida en Venezuela, y la Universidad Popular Autónoma en Puebla, México, entre otras. Se ha destacado por sus esfuerzos en pro de la internacionalización de la psicología y la colaboración interdisciplinaria, presidiendo comités relacionados en la American Psychological Association y la American Counseling Association. Fue secretaria general y vicepresidenta para México, Centroamérica y El Caribe en la Sociedad Interamericana de Psicología (SIP). Por su ejecutoria académica y profesional y por sus servicios a esta organización fue galardonada con el Premio Interamericano de Psicología Rogelio Díaz Guerrero en el año 2013. En noviembre de 2001 la Asociación de Psicología de Puerto Rico le otorgó el Premio Psicóloga del Año y en 2011 el Premio Una Vida de Logros.

Tania: Buenas tardes Wanda, encantada de realizar esta entrevista contigo. Comenzamos la primera parte sobre tu trayectoria formativa. Abordaremos tres preguntas y la primera es ¿cómo y por qué escogiste formarte en la psicología?

Wanda: Mi formación en psicología ha sido un zigzag, por razones atadas a la situación social de desarrollo, al momento histórico y al ambiente cultural que configuraron esa decisión. Nací en 1952 en un Puerto Rico donde se desarrollaba un proyecto sociopolítico que implicó una acelerada transformación de la sociedad agraria hacia la industrial, el urbanismo, la modernización y una apuesta a la educación como la gran igualadora social. En ese contexto, la psicología llegó a mi vida en una combinación de azar e intuición. Fui la primera persona en la familia en cursar estudios universitarios: mi madre llegó al segundo grado de escolaridad y mi padre al cuarto, sin embargo, ambos estaban convencidos de que una educación mejor que la que tuvieron ellos representaba movilidad social para su descendencia. Apoyaron con todas sus posibilidades mi educación con la expectativa de que yo “llegara a ser alguien”; con esa expresión (dicha con frecuencia entonces) significaban su expectativa de que tuviera una mejor posición que la que ellos ocupaban en la estructura social. Cuando llegó el momento de elegir una carrera, mi interés estaba en la lengua española y en la literatura (pasiones que conservo), pero había oposición familiar porque esas carreras no aseguraban trabajo y progreso, e insistían en que estudiara alguna ciencia porque allí estaba el futuro.

Mis ideas sobre la psicología en 1969, cuando terminé la escuela superior, eran algo vagas, sin embargo me sirvieron para argumentar a mis padres que era una ciencia con futuro y muchas posibilidades, lo cual los convenció. Dieron su visto bueno sin entender los múltiples e intrincados lazos entre psicología, lengua y literatura (yo los intuía, eventualmente, los confirmé). En los años iniciales de la formación tuve la suerte de encontrarme con docentes que me ayudaron a entender y a profundizar esos lazos y a ir construyendo una perspectiva amplia de la disciplina. Creo que eso ha sido lo fundamental en mi formación, lo mismo ocurrió en los estudios generales de posgrado de la Universidad de Puerto Rico y durante mis años de trabajo como docente en la misma. No ha sido un proceso enteramente racional, me enamoré de una disciplina que ha movido muchas pasiones a lo largo de los años y que no se agotan. Mi proceso formativo en psicología sigue su curso aun después de la jubilación gracias a lecturas dialógicas e intercambios productivos con colegas y exalumnos dispersos por el mundo; también, al trabajo de publicación, a la participación en congresos y actividades académicas (como proyectos colaborativos) y a mi trabajo de asesoramiento y mentoría continua. Estas son actividades que continúo realizando y disfrutando.

Tania: ¿Tu formación se ha nutrido a nivel internacional, aunque tu educación formal haya sido principalmente en Puerto Rico?

Wanda: Sí, totalmente. En cuanto a mi educación formal soy un producto netamente puertorriqueño, en el sentido de que asistí a escuelas públicas del país y después estudié el pregrado y posgrado en la UPR-RP. Por otro lado, desde temprano en mi formación de posgrado me vinculé a la Sociedad Interamericana de Psicología y con esta y otras eventuales afiliaciones a organizaciones internacionales, construí relaciones y desarrollé proyectos alimentados por la internacionalización.

Tania: Entonces destacas que en ese proceso hayas estudiado perspectivas de los estudios generales, las ciencias sociales y de las humanidades que no necesariamente se enseñan en otras universidades.

Wanda: Eso es ccorrecto. Sinceramente creo que eso marcó una perspectiva distinta desde bien temprano en mi formación y además, por suerte, tuve buenos profesores en psicología y en las ciencias sociales en general, la economía, la política, la geografía, las humanidades e idiomas.

Tania: ¿Dirías también que esa educación crítica que se ofrece en la UPR-RP fue clave en tu formación?

Wanda: Creo que en la segunda pregunta elaboro más sobre este punto, tuve buenos maestros críticos y hubo maestros que perpetuaban la educación bancaria. Sin embargo, aquellos que propiciaron las perspectivas críticas lo hicieron con tanta excelencia que sembraron inquietudes en todos los de mi generación.

Tania: También me formé en el pregrado en esta universidad y considero que quienes pasamos por esta institución tenemos esa semilla crítica. ¿Podrías contarnos un poco acerca de tu formación, trayectoria académica/científica y experiencia docente?

Wanda: Mi formación académica implica una deuda con el sistema educativo público pues, como mencioné, estudié en escuelas públicas antes de ingresar a la universidad. En 1971 tomé mis primeros cursos en psicología y en ese periodo, de grandes tensiones sociales y políticas en el país y en el mundo, hubo docentes que se ocuparon de esos temas en las aulas –recuerdo a Salvador Santiago y a Ricardo Campos– mientras otros los ignoraron. Yo como estudiante percibía esa diferencia. En algunos casos se daba una enseñanza fuera del contexto social en el que estábamos viviendo; y en otros, los profesores buscaban esa vinculación entre el contexto social y las asignaturas. Quienes se ocuparon de estos temas los incluían en sus clases, algunos directamente y otros con preguntas. Comencé entonces a reflexionar en torno a esas diferencias entre mis profesores y profesoras y, al mismo tiempo, tomé conciencia de mis posibilidades de agencia para gestionar aprendizaje mediante lecturas independientes.

A eso siguió la militancia política y conflictos familiares porque a la universidad se iba a estudiar para “ser alguien” no a meterse en política y problemas, y que por implicación se tomara el riesgo de “ser nadie”; en el camino me percaté de la centralidad de la educación en la formación y transformación de la mente humana. Al terminar el pregrado en Psicología, ingresé a la Facultad de Educación, en la que luego de completar los requisitos para ejercer como maestra de estudios sociales, completé una maestría en Educación con Especialidad en Orientación y Consejería. Tuve la oportunidad de ejercer como orientadora tanto con docentes como con estudiantes en todos los niveles del sistema educativo, desde escuelas primarias hasta universidades, en zonas urbanas y rurales. Las vivencias en ese periodo fueron impactantes por su complejidad y por las preguntas que me provocaban con respecto a la forma en que se interpretaban las conductas individuales de estudiantes y docentes, totalmente descontextualizadas. Me mortificaba que los niños y las niñas fueran vistos como portadores de problemas de aprendizaje sin que se diera atención a los problemas de enseñanza y a la relación con los contextos de práctica. Cuando me enteré de que había un proyecto para implantar un doctorado en psicología, regresé al Alma Mater para completar una maestría en Psicología en 1985. Entonces me incorporé al Departamento de Psicología como ayudante del director, que en aquella época era el Dr. Eduardo Rivera Medina, una de las personas fundamentales en la creación del Programa de Psicología Social Comunitaria.

Tania: ¿Fuiste parte de esa creación?

Wanda: No, ya Eduardo Rivera era director del departamento, él había sido clave en la creación de ese programa, tanto de maestría como de doctorado. En ese grupo participaron también las profesoras Irma Serrano, María Milagros López y Celia Cintrón. Mientras realizaba las funciones de ese cargo comencé a enseñar cursos, como una tarea parcial y descubrí que tenía el privilegio de realizar como trabajo una labor que disfrutaba a plenitud. Con el inicio del programa doctoral en 1986 volví a asumir el rol de estudiante y en 1989 fui la primera egresada del Programa Doctoral en Psicología en la UPR-RP. Y, más importante que eso, la alegría más grande en la vida de mis padres, que ya no volvieron a protestar porque la universidad “me había dañado la mente”. Ese mismo año fui reclutada como docente en el Departamento de Psicología, de donde me jubilé como catedrática en diciembre de 2011.

Orienté mi trabajo académico al estudio del desarrollo humano, el aprendizaje y la cognición, los cuales abordé desde la perspectiva histórico-cultural que fui desarrollando. Este es un aspecto importante ya que muchas personas creen que estudié en otros países por realizar trabajos alrededor de dicho enfoque. Yo diría que esta formación fue autodidacta y casi por accidente. Resulta que tomé un curso de psicología fisiológica con la profesora Ilsa Echegaray, en el cual habló del “Trabajo Luria” y del cerebro funcional y sistémico. Nos dio una asignación para la que fui al depósito de libros de la Biblioteca Lázaro de la universidad, y buscando algo de Luria, me topé con El estudio del desarrollo de las funciones psíquicas superiores, primer trabajo que leí de Vigotsky. La conexión que tuve con este autor se debe en parte a que, en ese trabajo, encontré no solo ideas que yo tenía, sino algo que he reafirmado con los años: la intrincada relación entre psicología y educación. En ese libro estaba sintetizado todo lo que a mí me interesaba. Eso fue en 1986, eran pocos los ejemplares que se encontraban de Vigotsky por eso me obsesioné de buena forma en conseguirlos todos y eso fue posible hasta la mitad de los 1990, así que con el tiempo seguí profundizando.

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