Kitabı oku: «Cortejando Um Semideus Arrogante», sayfa 2

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Capítulo 2

22 de outubro de 1818

Wendelin estava parada na frente da casa londrina do Conde de Winterthorne, embasbacada com todas as flores logo dentro dos portões na rua. O conde vivia no subúrbio de Londres, não muito longe da casa do pai dela. Entretanto, nunca tinha notado aquela propriedade, pois se tivesse, teria com certeza passado horas admirando os lindos jardins. Infelizmente, ela nunca se aventurou a ir tão longe em suas caminhadas.

A voz da mãe, vinda da carruagem logo atrás, lembrou-a do porquê estava ali, e seu nervosismo subiu-lhe a garganta como um cardume de peixinhos. De fato, havia ficado surpresa e um tantinho animada quando recebeu o convite para o baile e descobriu, com ainda mais euforia, quem seria o anfitrião. A mãe tinha ficado mais do que alegre, pois o baile dos Winterthorne era reservado apenas para o alto escalão da sociedade. Apesar do pai dela ser um visconde, ninguém de sua família jamais havia recebido um convite para aquele evento.

Teria ela causado uma boa impressão no Lorde Winterthorne quando o conheceu ano passado? Os dois não tiveram chance de conversar depois daquele encontro secreto na estufa, e ela mal podia esperar pra contar ao homem que as rosas plantadas por ela, no verão passado, tinham sobrevivido sem quaisquer dificuldades. Na verdade, o jardineiro havia conseguido plantar diversas flores por toda a propriedade, e todas cresceram onde, antigamente, nem sequer teriam nascido. Ele estava certo quanto a não desistir. Obviamente, pelas flores ao redor da casa dele, o conde tinha talento quando se tratava de saber como e quando plantar qualquer coisa. Seria entediante da parte dela perguntar ao lorde sobre suas habilidades de jardinagem, ou ele gostaria do assunto? A moça não sabia quantos cavalheiros se importavam com plantas, então não teve certeza de quais seriam os limites envolta da questão.

— Bem — disse a mãe, animada, enquanto o pai de Wendelin ajudava a esposa a descer da carruagem, assim como tinha feito com a filha minutos antes. — Aqui estamos, então. Certifique-se de conseguir pelo menos uma ou duas danças com o conde. Acho que não vai ser difícil, levando em consideração que ele a convidou pessoalmente. — Georgina Harlow, Viscondessa de Summerfield, estava ansiosa para acompanhar a única filha e para arrastar o visconde consigo. Estava claro que esperava que o Conde de Winterthorne fosse pedir a mão da filha naquela mesma noite, e queria que o pai estivesse presente para que a permissão pudesse ser obtida.

Wendelin escondeu a vontade de revirar os olhos. O conde, com certeza, tinha sido gentil, nada mais. Ela era uma nova amiga que ele havia conhecido no casamento do irmão dela. Se os papéis estivessem invertidos, ela também haveria considerado enviar um convite a ele. Isso não indicava o interesse do homem. Se realmente estivesse interessado dela, não a teria visitado em algum momento ao longo do ano passado?

Mas, de vez em quando, ela imaginava… caso não tivessem sido descobertos pelo Lorde Shelligton, ele a teria tentado beijar? Wendelin sacudiu a ideia para longe. Com certeza, a mãe estar dando uma de cupido havia começado a afetar os seus pensamentos, e não lhe faria bem algum desejar algo que apenas terminaria em decepção. A moça queria um amor apaixonante como o que seu irmão James tinha com a esposa, cujo namoro tumultuado havia sido cheio de aventura e resgates arriscados no mar – mas, talvez, sem a parte de quase se afogar e de levar um tiro. Não queria ser cortejada de maneira educada, adequada ou discreta como o irmão Michael tinha feito com a esposa. Não que a esposa dele fosse inadequada ou algo do tipo.

Wendelin queria sua própria aventura. Ou, pelo menos… algo emocionante e inesperado. Ousado e escandaloso. A mãe ficaria horrorizada se pudesse ouvir os pensamentos da filha. Por sorte, quando entraram na casa, deixou as ideias de lado.

O interior da casa era tão abundante em vegetação quanto o lado de fora. Flores e plantas novinhas em folha adornavam todas as alcovas. Era tudo tão lindo, que ela se pegou deslizando os dedos sobre as pétalas delicadas de um lírio no salão de baile, assimilando os arredores.

— Wendelin — sibilou a mãe. — Por que você está perdendo tempo aí no canto? Vá encontrar o conde e assegurar uma dança.

— Tá bem, estou indo. — A mãe deveria realmente estar querendo colocar a filha para fora de casa o quanto antes. Wendelin não se via como um grande incômodo, mas todas as debutantes se tornavam mulheres mais cedo do que tarde. Claro, esta seria a sua primeira Temporada. Seu baile de apresentação tinha ocorrido na primavera, mas ela não havia comparecido a muitos eventos recentemente.

Nem o Lorde Winterthorne ou o Lorde Shelligton tinham comparecido.

Ela suspeitava que, talvez, houvesse imaginado algum interesse dos dois antes do convite para o baile de Winterthorne chegar. Talvez, ele estivesse ocupado com outras coisas ou ainda sequer estivesse na cidade. Suspirando, Wendelin afastou os devaneios da mente. Não ajudaria em nada cultivar tamanha fascinação por um cavalheiro como o Lorde Winterthorne. Afinal de contas, ele era conhecido por ser frio e arrogante. O que um homem desses poderia oferecer a ela, exceto sua boa aparência e um título?

Ele não foi frio comigo nem me oprimiu. E, quando falou sobre flores, seus olhos se iluminaram com tanta admiração…

— Eu realmente preciso parar de sonhar acordada com essas bobagens fantasiosas.

— É mesmo? — Um timbre masculino a fez congelar no lugar. — E o que uma lady tão bonita quanto você considera fantasia?

Wendelin se virou, colocando a mão sobre o coração.

— Lorde Shelligton… Desculpa, Vossa Graça, mas você me assustou. Não percebi que eu tinha falado aquilo em voz alta. — Ele a devia achar muito esquisita. A moça piscou quando o viu, pois sua linda feição nunca falhava em pegá-la desprevenida em um primeiro momento. O cabelo dele era tão preto que, sob algumas luzes, parecia azul-escuro. Mas, claro, era impossível que alguém tivesse o cabelo dessa cor. Ela vestia preto por completo, exceto pelo peitilho de um tom suave de verde-mar, que combinava com os seus olhos de cor nada comum.

Lorde Shelligton fez desfeita às palavras dela.

— Nunca se desculpe por sonhar acordada. Até mesmo as coisas mais impossíveis podem se realizar.

Mas que coisa peculiar de ser dita. Ainda assim, seria bom se lembrar de que, logo, estaria casada. Ainda nesta Temporada, se dependesse da mãe. E era melhor abandonar os sonhos ao assumir as responsabilidades de esposa. Infelizmente, isso…

— Você está mais radiante do que nunca, Senhorita Harlow. — O duque sorriu para ela, exibindo uma covinha na bochecha esquerda. — Me daria a honra de sua primeira dança?

Adrenalina a percorreu. A mãe ficaria muito satisfeita quando soubesse que a primeira dança da filha naquela noite seria com um duque. Mas… Wendelin não conseguiu impedir os olhos de passearem por todas as pessoas no salão, esperando encontrar o anfitrião esquivo. No entanto, foi uma tentativa que não deu em nada, pois o Lorde Winterthorne não estava em lugar algum.

— Claro, Vossa Graça. Seria um prazer. — Lorde Shelligton a levou para a pista quando a quadrilha começou. Honestamente, ela ficou aliviada por não ser uma valsa tão cedo na noite. Sempre virara uma poça de nervos nas valsas. E, bem… havia algo em Lorde Shelligton que a mantinha alerta. Ah, claro, ele era bonito e gentil. Mas havia algo, logo abaixo da superfície de cada toque, em cada encontro de olhares. Um arrepio que indicava algo perigoso, proibido. Quase como se os instintos dela a avisassem para não ficar sozinha com ele.

Havia experienciado a mesma coisa no casamento do irmão, mas, com tantas pessoas ao redor, não sentiu medo naquela data, assim como não sentiu hoje. Riu de si mesma quando trocou de parceiro na dança, afastando-se, por enquanto, do duque. Era apenas o nervosismo e o medo que toda jovem sentia perante a possibilidade de um escândalo, de ser arruinada por um libertino. Nada mais.

Sim, nada mais. Pare de ser tola.

Quando a dança acabou, suas bochechas doíam de tanto sorrir. Gostava muito de dançar. Era uma das poucas vezes que podia colocar a sua energia em jogo sem levar uma bronca. Se dependesse da vontade da alta sociedade, todas as ladies estariam debruçadas em cantos, bordando pela eternidade. Ora! Wendelin desejava a liberdade do interior, o vento no cabelo, a grama sob as solas descalças. Um jardim rodeando-a. Era isso o que ela queria. Por mais que amasse dançar, preferiria estar longe da cidade, se pudesse. Mas que cavalheiro lhe permitiria tal coisa, ainda mais se acabasse casada com alguém como o Duque de Shelligton?

Com certeza, ele teria que estar em Londres durante toda a Temporada com ela, sua esposa obediente.

— Senhorita Harlow? — chamou-lhe Lorde Shelligton, aproximando-se mais do que o aceitável da orelha dela.

Ela se assustou.

— Sim?

O homem piscou e inclinou a cabeça.

— Perguntei se você gostaria de uma bebida.

— Ah! — Ela riu, mas soou forçado. — Desculpa, Vossa Graça. Eu estava pensando em quanto me divirto dançando. — Não havia razão para o sobrecarregar com as demais ideias e pensamentos que ela tinha sobre o futuro. Deixe-o achar que ela era leviana.

O olhar dele baixou dos olhos aos lábios dela, mais um tantinho para baixo e, logo, para cima de novo.

— O rubor do esforço aumentou a sua beleza. Dance até não poder mais, e nunca deixe ninguém lhe roubar esta alegria. — Ele deslizou os dedos, devagarinho, sobre os antebraços enluvados dela, ocasionando arrepios na pele sob o material. — Gostaria de um copo de ponche?

Agora que ele havia mencionado, ela estava mesmo com sede.

— Seria maravilhoso. Obrigada, Vossa Graça.

Lorde Shelligton assentiu e se dirigiu para a mesa de refrescos. Wendelin o observou desaparecer na multidão e suspirou. Teria a mãe a visto dançar com o duque? Virou-se para procurar os pais e arfou. Pegou-se encarando um peitilho asseado e devidamente amarrado sobre uma camiseta branca, preso sob um colete verde-escuro e de um casaco que combinava. Ombros amplos preenchiam esse casaco, e o rosto do homem a quem os ombros pertenciam era ainda mais lindo do que a senhorita se lembrava. Olhos azuis, sob um punhado de cabelo louro, trespassavam Wendelin, e o nervosismo que antes havia parecido com peixinhos, irrompeu em borboletas na sua barriga.

O Conde de Winterthorne, por fim, havia chegado, e ele não parecia nem um pouco feliz em vê-la.


Bryce chegou ao salão na hora exata para testemunhar aquele tritão dançando com a Senhorita Wendelin Harlow. Porque o duque não fez nenhuma aparição em Londres – pelo menos, não que Bryce tenha ficado sabendo –, o conde acreditou que, talvez, o rival tivesse se esquecido da conversa do casamento ou encontrado alguma outra lady para atormentar em algum outro lugar. Mas claro que isso não era verdade. Seu nêmesis, que de vez em quando exibia barbatanas, estivera aguardando Bryce tomar uma atitude.

E isso o irritou demais.

— Lorde Winterthorne — disse a Senhorita Harlow, sem fôlego. — Quase trombei em você.

— Não tem problema. — Então, ele sorriu ao perceber que, talvez, estivesse carrancudo, caso o humor pudesse ser a indicação de algo. — Queria te agradecer por ter vindo hoje, e perguntar sobre o seu cartão de danças.

Ela corou, um rosa lindo que complementava o azul desbotado de seus olhos e vestido. Mesmo não estando apaixonada por ela, Bryce faria tudo o que estivesse ao seu alcance para impedi-la de ser arruinada por Shellington. Aquela pobre garota não fazia ideia do perigo que corria.

— Posso? — Ele apontou para o cartão pendurado no pulso dela. Wendelin assentiu, erguendo o braço para que ele pudesse ver o pequeno pedaço de papel e adicionar seu nome. — Hm. Sim, a próxima música já começou, então vamos dançar a depois desta… e a sua oitava dança da noite.

O queixo da senhorita Harlow caiu um pouquinho, então, ela disse:

— Claro, meu lorde.

— São valsas.

As bochechas dela ganharam um tom mais profundo de rosa.

— Mal posso esperar.

Provavelmente, não tanto quanto ele. Que Shellington dançasse quadrilhas com ela. As valsas seriam dele. Havia sido difícil evitar Wendelin agora que a conhecia, mas teria que respeitar os termos do tritão para mantê-la segura. Certificou-se de ficar longe durante o baile de apresentação dela na primavera, lutando contra seu desejo de vê-la. Muitas vezes, repreendia-se por se importar com a situação. Não queria se casar e nem sequer queria ter comparecido ao casamento da prima com o Capitão Harlow. Mas tinha comparecido, e a havia conhecido.

— Ah, Lorde Winterthorne. — O duque estava de volta e entregou um copo de ponche para Wendelin. — Estava me perguntando se você daria as caras em seu baile. Estão dizendo que você não compareceu a nenhum evento social nesta Temporada antes de hoje.

— Estão dizendo a mesma coisa sobre você.

Wendelin prendeu um cacho solto de seu cabelo escuro sobre a orelha, em seguida, bebericou o ponche. Seu olhar foi do conde ao duque e de volta ao conde.

— Estive ocupado abrindo o Clube Tritão com alguns dos meus irmãos. Você deveria nos visitar.

Ah, Deus. Ele havia trazido outros de sua laia para Londres, para vitimar as mulheres londrinas. Com os dentes cerrados, Bryce disse:

— Vou pensar no caso.

Wendelin aproveitou a oportunidade para voltar a participar da conversa.

— Eu não sabia que você tinha irmãos, Vossa Graça. — Ela enrugou o nariz. — O que é um tritão?

Bryce tinha muitas boas palavras para descrevê-los, mas todas vulgares demais para serem ditas na frente da senhorita.

Lorde Shellington deu um grande sorriso.

— De acordo com as lendas, o deus Tritão foi pai de mil filhos e filhas para popular o reino subaquático. Temos o costume de chamar os seus filhos de tritão.

— Sereias e tritões. Contos de fadas, todos eles — esbravejou Bryce. Quando a porcaria daquela valsa começaria? Queria afastar Wendelin de Shellington o quanto antes possível, mas ele não tinha nenhum direito sobre ela, exceto o de ser o seu parceiro de dança.

O humor que brilhava nos olhos do tritão não era um bom sinal.

— Por que, Lorde Winterthorne, você nunca me disse que não acredita na mitologia grega? Posso jurar que ouvi dizerem que você tem parentes gregos, assim como eu.

Não pretendendo cair na armadilha, Bryce sacudiu um dos ombros. A música acabou, e os casais saíram da pista, dando espaço a outros.

— Olhe. — Bryce tirou o copo, agora vazio, da mão de Wendelin e o empurrou contra o peito de Shellington. O homem pegou o objeto, rindo, mas seu riso morreu rapidamente quando Bryce complementou: — Chegou a hora da nossa valsa.

A Senhorita Harlow permitiu que ele a levasse para a pista, mas franziu a testa quando a dança começou.

— Você não gosta muito do Lorde Shellington, gosta, meu lorde?

Ele balançou a cabeça.

— Não, nem você deveria gostar. Sei que não cabe a mim dizer isso, mas tome cuidado para não ficar sozinha com ele. Não confio naquele homem.

— Está preocupado com a minha reputação? — Os cantinhos da boca dela se ergueram.

Ah, ela achou que ele a estava provocando motivado pelo ciúme.

— Você estaria, caso conhecesse o verdadeiro ele.

— Estou com a sensação de que você não vai me contar os seus motivos.

Ele balançou a cabeça, mas quando a testa dela voltou a se franzir, adicionou:

— Não, porque não estou preocupado com seus sentimentos, emoções ou algo do tipo. Isso tudo não me diz respeito, portanto, os segredos do Lorde Shellington são apenas dele para serem revelados quando achar melhor. — E que Deus a protegesse caso isso viesse a acontecer.

— Você é mesmo grego?

— Sim.

Seja lá o que ela pensou sobre aquilo, Wendelin optou por não compartilhar.

— Faz um tempo que eu queria te dizer… — disse ela, depois de algumas voltas na pista. — As rosas floriram este ano em Summerfield, como você disse que fariam.

O sorriso do homem pareceu amenizar qualquer trepidação causada por sua conversa com o duque.

— Fico feliz em saber disso. — Se rosas a deixavam feliz, ele sabia exatamente como conquistar a mão dela antes do fim da Temporada. A Senhorita Harlow era uma mulher da terra, não do mar. Bryce poderia não ser um duque, mas era capaz de dar à moça tudo o que ela desejava – e mais um pouco.

Capítulo 3

Wendelin estava sentada no sofá roxo da sala de visitas com um livro aberto no colo. O tecido amarelo e suave de seu vestido não era exatamente do mesmo tom que as páginas envelhecidas, mas isso não deixou a aventura escondida naquele livro nem um pouco menos fascinante. A mãe estava sentada em uma das cadeiras na parede adjacente, quase dormindo com a cabeça apoiada na mão. Quando o criado entrou no cômodo, Georgette Harlow levantou-se em um pulo e uniu as mãos.

— Um dos pretendentes de Wendelin chegou? É o duque, não é?

Wendelin piscou. Apenas um dia antes, a mãe tinha estado investida no flerte da filha com o Conde de Winterthorne, mas talvez a chance de ela se tornar uma duquesa a havia deixado ainda mais animada. Honestamente, nenhum daqueles títulos importava para a filha. Sem mencionar que ela também havia dançado com outros cavalheiros, mas se a mãe estivesse tão focada assim no duque, teria razões para se preocupar com a possibilidade de a família enxotar outros pretendentes, caso aparecessem.

— Desculpe, mas não, minha lady. — O criado hesitou por um momento. — Chegaram presentes para a Senhorita Harlow, do Conde de Winterthorne. Flores. Onde devo colocá-las?

Seria aquilo decepção na carranca da mãe? Wendelin não aguentava mais.

— Por favor, traga-as para a sala de estar, Douglas. Obrigada.

— Certo, senhorita. — Douglas desapareceu no corredor. Segundos depois, diversos criados entraram no cômodo com vasos de rosa. Algumas vermelhas, outras rosas, amarelas ou brancas. Wendelin soltou um gritinho surpreso e se levantou de vez, perdendo o livro, que se estatelou no chão.

— Ah, que lindas!

As rosas foram dispostas em diversos locais ao redor do cômodo até as flores cobrirem todas as mesas. A mãe se moveu para admirá-las. Douglas voltou com uma bandeja de prata e um bilhete em cima desta.

— Um recado do Conde de Winterthorne.

Wendelin o pegou com as mãos trêmulas enquanto a mãe se aproximava para bisbilhotar sobre o ombro da filha.

— O que está escrito aí?

— Tenho que abrir primeiro! — Elas riram enquanto Wendelin abria o recado. A mensagem era curta, mas fez as borboletas levarem voo outra vez em sua barriga.

Para lembrá-la das rosas em Summerfield.

Não havia assinatura no recado, mas ela não precisou disso. O Lorde Winterthorne lhe havia dado algo que ela amava, em vez de uma bugiganga. Era um presente com significado, e isso a fez se perguntar outra vez… se o homem estava interessado nela desde Summerfield, por que esperou tanto para revelar o que sentia?

— Você conversou sobre Summerfield com o conde? — A mãe percorreu os dedos levemente sobre a palavra escrita em tinta, como se triste com a menção do lar.

— Ele estava no casamento do James. — Virou-se para encarar a mulher mais velha. —Não lembra?

A testa da mãe ficou enrugada, e ela balançou a cabeça.

— Havia tantas pessoas, devo ter esquecido.

Wendelin a analisou.

— Ele é primo da Ione. De muitos graus, parece.

— Ah, isso explica por que ele estava lá. — A mãe uniu as mãos na frente do peito e olhou ao redor do cômodo, para todas as rosas. — Foi um gesto lindo. Mal posso esperar para ver o que o duque vai mandar.

— Mãe! — Wendelin ficou chocada. — Você nem sabe se o Lorde Shellington vai sequer mandar algo. — Apesar de que, tinha de admitir, também estava curiosa se ele mandaria um presente. Não que a moça estivesse esperando algo. A atitude meramente a avisaria que ele estava interessado, assim como o conde deveria estar, tendo lhe enviado algo tão cuidadosamente pensado.

— Ah, ele vai. Ele a escolheu para a primeira dança, e eu o vi roubar você do conde mais de uma vez.

Ela rosnou ao se acomodar no sofá, inclinando-se para frente, distraída ao recolher o livro maltratado.

— Acho que isso não teve nada a ver comigo. Os dois parecem ter algum tipo de desentendimento por conta de alguma razão boba. — E, mais de uma vez, pareceu que ela estava sendo usada por eles para competirem entre si. Por sorte, isso teria sido um evento singular, pois havia sido – quase – irritante.

Douglas voltou com uma caixinha e outro recado em sua bandeja.

— Para a Senhorita Harlow, do Duque de Shellington.

O olhar satisfeito no rosto da mãe era praticamente repugnante. Wendelin repousou o livro no colo enquanto o criado levava os itens a ela. O recado era igualmente breve e não havia qualquer assinatura.

Seus olhos são tão lindos quanto o mar.

Lisonjeador, mas isso não a fez ser atingida por uma onda de emoção, como a menção das rosas em Summerfield tinha feito. Ele havia preferido ressaltar a aparência de Wendelin em vez de algo que tinha significado para ela. Que decepção. Repousando o recado em cima do livro, ela pegou a caixinha de Douglas e, logo, abriu-a. Dentro, havia uma grande pérola brilhante.

— Ah, olhe para isso — exclamou a mãe. — Vamos dar um jeito de prendê-la em um colar para que você possa usá-la para o duque no próximo evento social que formos.

Ela pôde apenas assentir com educação ao segurar a pérola e girá-la entre as mãos. Era uma bugiganga realmente bonita.

— E vai durar para sempre, diferentemente das flores.

Ainda assim, a motivação deste presente tinha sido vazia – não que a mãe parecesse se importar. O duque estava exibindo sua riqueza, enquanto o conde tinha feito algo para deixá-la realmente feliz. Presentes diziam muito sobre quem os dava.


Quando Bryce se aproximou da residência do Visconde de Summerfield em Londres, ele cerrou os dentes enquanto a carruagem estacionava, o selo de uma concha brasonada na porta. Havia apenas uma pessoa a quem aquilo poderia pertencer, e parecia que o Duque de Shellington seria uma pedra permanente na bota polida de Bryce.

A porta da carruagem foi aberta, e o azul do cabelo do duque demonstrou-se inconfundível, apesar de poder ser facilmente dispensado como um truque visual em um cômodo iluminado apenas por velas. O tritão era ousado por se exibir desta maneira sob a luz do dia. Enquanto alguns poderiam achar a cor do seu cabelo intrigante e estariam dispostos a aceitar aquilo como algum tipo de anormalidade misteriosa, muitos o considerariam um marginal. Apenas o seu título o impedia de ser abertamente ostracizado.

Seu título falso.

Sim, sua avó também fingia ter um título – de duquesa, nada menos – mas a mãe de Bryce havia se casado com um nobre, e o filho herdou o título de maneira justa e honesta com a morte do pai em consequência de uma doença. Um destino que não seria o de Bryce, pois era um semideus imortal. Infelizmente, teria que forjar sua morte em algum momento, assim como a mãe, quando a inexistência do envelhecimento começasse a ser notado. Deméter poderia lançar seus feitiços sobre eles para ajudar as pessoas a verem o que esperavam, mas não durariam muito tempo.

Shellington saiu da carruagem, virou-se, viu Bryce e jogou a cabeça para trás, rindo. O som da diversão do outro homem o fez ranger os dentes.

Homem, não – criatura. Praticamente um peixe, ainda por cima.

Bryce parou nos portões abertos da residência e atirou um olhar fulminante contra o oponente.

— Não consegui entender o que você achou tão engraçado. Por acaso perdeu o que lhe restava de noção?

— Minha noção continua intacta, obrigado. — O duque acenou a mão, dispensando-o. Ele nunca abria mão daquele sorrisinho. — Apenas achei engraçado você ter chegado aqui caminhando, como um camponês.

Revirando os olhos, Bryce tentou manter seu tom casual, mas o que queria realmente fazer era enxotar o duque e visitar a Senhorita Harlow.

— Eu não moro longe, e faz bem para qualquer um se exercitar um pouco em um dia tão bonito. — Ele se aproximou do outro homem, sibilando. — Você deveria tentar de vez em quando, mas estou vendo que, com todo esse tempo que você gasta sobre pernas humanas, pode ser difícil enxergar o benefício de se exercitar.

Irritantemente, a expressão dele não mudou.

— Ah, Winterthorne. Você deve estar me confundindo com as ninfas do mar. Ione teve que abrir mão das barbatanas para viver em terra, mas eu não tenho esse problema. Posso ir e vir por quanto tempo eu quiser.

Porcaria, que raios o partam.

— Poxa. Seria uma pena se alguém se esquecesse de você em um cômodo e o deixasse se debatendo no chão… — Ele floreou o pulso em um pequeno gesto ondulante. — …lutando para respirar.

Shellington riu de novo, nem um pouco afetado pelo mau humor de Bryce. Então, ofereceu-lhe a mão.

— Não te acho tão ruim assim – para um conde, pelo menos. Com certeza, vamos nos ver muito antes de um de nós conquistar Wendelin. Poderíamos tirar proveito disso.

Bryce encarou a mão do homem, esperando que garras aparecessem.

— Mas… deveríamos?

— Você pode me chamar de “Vossa Graça” ou pelo meu nome. O que prefere? — Shellington sacudiu a mão. — Sou o Adrian.

Quando Bryce sacudiu, relutante, a mão do tritão, o aperto do duque foi firme e desprovido de garras afiadas. Por enquanto, pelo menos. Nunca tinha visto um ser daqueles fora da forma humana para ter certeza de que garras eram um de seus atributos.

— Que nome surpreendentemente normal para alguém da sua laia. No entanto, não somos amigos. Então continuarei com as formalidades e usarei o seu título, Shellington. A sociedade espera certas coisas da gente, das quais você deveria saber, já que está se infiltrando na alta sociedade como duque.

O homem deu um sorriso.

Poderíamos virar amigos, Bryce Stirling. — O conde ergueu as sobrancelhas, e Shellington continuou. — Perguntei sobre você por aí, e aprendi muito. — Aprendizado que ele não parecia inclinado a compartilhar. — Quanto ao meu nome, sou mais velho do que você, mas não tão velho quanto a maior parte dos conhecidos da nossa família, caso entenda o que quero dizer. Fui nomeado em homenagem ao lugar onde nasci: o mar Adriático.

Parecia razoável, ao contrário da sugestão de amizade. Bryce não confiava na possibilidade de aquilo não ser uma artimanha para que ele baixasse a guarda nem que aquilo tudo não viria a ser utilizado contra ele em algum momento. O tritão queria ganhar, e havia deixado isso claro.

— Por curiosidade, que sobrenome você criou quando adotou a sua persona de duque? Seria justo eu saber tanto sobre você quanto você sabe sobre mim. — Ele olhou ao redor, para as carruagens que passavam por ali. Não havia ninguém nos transportes ou a pé que estivesse perto o bastante para ouvir. Quanto mais informações tivesse sobre Shellington, mais alerta poderia estar em relação a ele. Investigaria com as próprias mãos se preciso.

— Adotei o nome Endymion, pois eu, também, pretendo me apaixonar por uma beleza tão magnífica quanto a da lua, mas, diferentemente dele, não falharei. Encontrarei a minha Selene.

Adrian Endymion, o Duque de Shellington… tinha aspirações por… amor? Embasbacado, Bryce não soube o que dizer. Apesar de que, caso estivesse se lembrando bem do mito dos desafortunados Selene e Endymion, o mortal havia pedido imortalidade a Zeus, para que pudesse conquistar seu amor e ficar com a deusa Titã para sempre. Zeus, em vez disso, prendeu-o em uma caverna para que dormisse por toda a eternidade. O perdedor, no maldito contrato de Shellington, abriria mão da imortalidade. O que aquele ser estaria realmente tramando?

— E você acredita que a Senhorita Harlow seja a sua Selene? — Bryce duvidava daquilo.

O duque deu de ombros, e seu sorriso vacilou pela primeira vez desde que haviam se encontrado na frente da residência.

— Talvez. Eu a acho bonita e cativante. Mais do que as outras ladies que conheci aqui em Londres. Mesmo depois de um ano longe dela.

Bryce cruzou os braços.

— Se você estiver errado, vai arruinar a vida dela.

Ele balançou a cabeça.

— Não vou.

— Você a levará pelo caminho da ruína, depois, roubará a criança se for um menino.

Shellington teve a elegância de estremecer. Baixinho, afirmou:

— Não tenho planos de procriar e a deixar. Era o que fazíamos antes, mas não mais.

— Garantirei que não o faça. — Estava exausto dessa conversa. Não tinha ido ali para conversar com um tritão. Tinha ido visitar a Senhorita Harlow e perguntar o que ela havia achado do presente. Bryce tinha cortado, sozinho, cada uma daquelas flores em seu jardim. Não estava mais na época de florirem, mas as plantas dele cresciam ao longo de todo o ano.

— E você? — Shellington semicerrou os olhos. — O que você procura?

— Senti uma conexão com ela. Gostaria de explorar isso e ver no que pode dar. O único obstáculo no meu caminho é você. Qualquer cavalheiro desistiria desta competição ridícula e respeitaria o fato de que ela está interessada em mim, não em você.

Os olhos verde-mar dele ficaram tão escuros quanto o oceano.

— Você e eu sabemos que não sou nenhum cavalheiro. — Todo o bom humor o abandonou. Em vez disso, exalou uma boa dose de irritação. — Se quiser desistir e perder, vá em frente. Não vou parar de tentar conquistá-la. — Por fim, o fingimento tinha acabado.

— Ela não é um prêmio, Shellington.

O duque balançou a cabeça.

— É aí que você se engana, Winterthorne. — A ferroada no nome traiu a raiva crescente do homem, mesmo com a expressão e os olhos demonstrando tão pouco. Teria ele realmente achado que Bryce desistiria assim tão fácil? — O prêmio de um amor dado por livre e espontânea vontade é lindo. É algo a ser estimado.

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