Kitabı oku: «Caravana», sayfa 2
CAPÍTULO 2
“Serviços de correio de primeira classe são história,” alega o Wall Street Journal. Um exemplo do problema ocorreu no mês passado quando um saco de cartas desapareceu no Condado de Prince George, Maryland, causando incômodos para um grande número de residentes. A Sra. Ernest Drumheller, que vive em Clinton, Maryland, disse que retornou de férias e descobriu que seu telefone havia sido cortado porque o cheque dela não chegou a empresa telefônica. Custou US$ 10 para ter o serviço reinstalado. Vários clientes do Banco Nacional do Povo em Clinton pararam de pagar os cheques que temiam estar no saco perdido…
Los Angeles Times
Quarta-feira, 11 de Setembro de 1974
* * *
A comunicação faz parte da Tríade, um dos três grandes requisitos de qualquer civilização. As pessoas e as organizações podem interagir apenas na medida em que eles podem se comunicar um com o outro. Pouca ou nenhuma comunicação gera suspeita, ódio e conflitos. À medida que a comunicação aumenta e melhora, o estranho se torna menos temeroso e a interação pacífica torna-se viável…
No tempo dos gregos a unidade política gerenciadora era a cidade-estado, e seu tamanho foi determinado por quanto um homem pode caminhar em um dia. Isso garantiu que todos não estariam mais do que um dia fora de contato com os acontecimentos atuais. Cidades-estados vizinhas, com as quais a comunicação era muito menos frequente e mais fora da data, eram tratadas com desconfiança.
As comunicações hoje são praticamente instantâneas em qualquer parte do mundo. Esse fato nos permitiu desenvolver uma civilização global. Porém, ao construir esta rede tão rapidamente, podemos ter ido longe demais. Como um elástico estendido além de seu ponto de ruptura, a chicotada será forte e dolorosa…
Peter Stone
Colapso do Mundo
* * *
Enquanto Peter aproximava-se do primeiro veículo, ficou perplexo ao ver que este era blindado, o tipo utilizado para transportar dinheiro para bancos e lojas. Aquele quadrado cinzento sinistro estava ali impassível diante dele. O holofote no telhado ferroava seus olhos, habituados à escuridão, mas ele podia notar que o segundo veículo do comboio também era blindado. O resto dos carros na retaguarda eram apenas formas em sombras; Peter não sabia dizer quantos eram ou como pareciam.
Uma figura esguia saiu do segundo veículo e veio ao seu encontro na porta do primeiro. Era Kudjo Wilson. “Que bom que conseguiu”, disse ele, abrindo a porta do passageiro na cabine do veículo. “Deixe-me fazer as introduções.”
Ele colocou a cabeça dentro da cabine. “Honon, este é o cara, Peter. Peter, gostaria de te apresentar o honorável, ilustre, e inestimável Israel Baumberg”
Havia uma pequena lanterna brilhante à bateria dentro da cabine, lançando luz suficiente para Peter distinguir o homem a quem estava sendo apresentado. Mesmo sentado, Israel Baumberg era um homem grande, com ombros largos e braços potentes. De pé, ele deveria ter facilmente um metro e noventa. Seu cabelo era liso e preto, cortado à tigela curto. O seu rosto era cheio de rugas e desgastado pelo tempo, parecendo mais pele curtida que carne. Era difícil distinguir os tons de pele na luz débil, mas com base na estrutura das características Peter apostaria que este homem era de cor. Um fuzil automático e uma metralhadora estavam apoiados casualmente ao lado dele.
“Bem-vindo à nossa caravana, Sr. Smith. Venha, entre.” Enquanto Peter entrava, o interlocutor examinou-o através da luz tênue. “Ou devo dizer Sr. Stone? Que honra inesperada.”
Peter fez uma careta. O reconhecimento não era bem-vindo; muitas pessoas tinham sentimentos ruins sobre ele. Entretanto, subiu na cabine e sentou no banco do passageiro.
“Deixe-me ver seu braço,” o homenzarrão continuou. “Kudjo me disse que você se feriu.” Ele examinou a ferida ternamente. “Bem, não me parece muito ruim, mas não queremos quaisquer surpresas desagradáveis ao longo do caminho por isso é melhor tratar disso. Kudjo, você poderia voltar e ver se Sarah está livre? E enquanto estiver nisso, verifique como eles vão indo com o jantar.”
“Sim, sinhô,” riu Kudjo em uma paródia do tempo de negros submissos. Ele moveu-se entre os carros alinhados para efetuar as instruções.
“Bom homem, esse Kudjo. Você teve sorte em deparar-se com ele. Ele costumava ser um oficial de narcóticos trabalhando disfarçado para a polícia de St. Louis. Eles não o tornaram uma pessoa melhor. Já quanto a mim, antes de começar a fazer perguntas, meu pai era judeu e minha mãe indiana, e prefiro que usem meu nome indiano, Honon, que significa ‘urso.’ Isso é mais do que suficiente sobre mim no momento. Perguntas?”
“Sim—do que se trata tudo isto?”
“Esta,” Honon abriu seus braços e mãos para incluir a comitiva atrás de seu veículo, “é uma caravana que Kudjo e eu estamos liderando. Estamos no processo de ir daqui até lá.”
“Eu sei onde o aqui é, mas onde fica o ‘lá’?”
“Esta é uma longa história que vou contar em breve. Começamos em San Francisco desta vez, e andamos por toda a costa da Califórnia. Você teve muita sorte em ter nos encontrado; estávamos descendo a Rota 101 e teríamos evitado esta área por completo, não fosse por um terremoto ter destruído a estrada a sul de Ventura. Tivemos de recuar até a 138 e atravessar toda Santa Paula até a Interestadual 5, que é onde estamos agora. Íamos provavelmente acampar aqui para passar a noite e partiríamos pela manhã.”
Neste ponto uma mulher enfiou a cabeça através da porta aberta do lado do passageiro. Ela parecia ter seus quarenta anos, com cabelos loiro-acinzentados e uma face rechonchuda. “Eu ouvi falar que tem alguém precisando de cuidados,” disse ela a Honon.
“Certo. Peter, esta é a Dra. Sarah Finkelstein, que estará administrando nossos males nesta viagem. Sarah, eu gostaria que você conhecesse o notório Peter Stone.”
Peter estremeceu-se novamente pela apresentação. A médica o olhou de cima a baixo de forma crítica. “Ora, ora, ora. O homem que no fim das contas estava certo. Isso funcionou de consolo?”
“Nunca.”
“Eu suponho que não. Bem, vamos ver o que você tem?” Ela analisou a sua ferida, cacarejando sarcasticamente consigo mesma. “Sua vacina de tétano é recente?”, perguntou ela.
“Não faço uma em anos.”
“Foi uma pergunta tola, eu sei, mas velhos hábitos não morrem. Você não receberá uma de mim, também; estou sem vacinas. Contudo, não parece muito ruim. Eu vou limpar a ferida e fazer um curativo para você. O braço vai ficar um pouco rígido, mas você vai sobreviver. Já a minha próxima pergunta, vai soar um pouco pessoal, mas é necessária. Você tem alguma doença venérea?”
Peter se surpreendeu com a atitude rude dela, mas respondeu negativamente. “Bom,” disse ela. “Temos de tentar manter os nossos reprodutores puros.” Sem mais elaboração, Sarah passou a trabalhar em seu braço de forma silenciosa e eficaz, depois deixou Peter e Honon sozinhos.
“Antes de começar a minha história completa,” disse Honon, “há alguns fatos necessários como prelúdio. Você está familiarizado, sem dúvida, com os avanços no campo da criogenia e animação suspensa.”
Peter acenou. “Eu as mencionei no meu livro.”
“Sim, certo. Perdoe-me, eu tinha esquecido; já faz um tempo desde que eu pude reler ele. Se me lembro bem, você não tem nada de bom a dizer sobre elas.”
“Elas foram um esforço inútil, uma fútil tentativa de obter a imortalidade. Quais possíveis vantagens poderia haver no congelamento de alguém para ser despertado cinquenta anos depois de agora, quando todas as indicações são de que o mundo naquele tempo teria dificuldade em suportar até mesmo as poucas pessoas que ainda estariam sobrando? As pessoas do passado seriam totalmente inúteis em um mundo novo atormentado pela fome, seca, guerras e praga. O dinheiro e o talento usado nessa pesquisa seria mais bem utilizado em outro local.”
“Talvez,” disse Honon, “mas pode ter havido algumas ramificações que mesmo que você não previu.”
“Tais como?”
“Não tão rápido. Você já ouviu falar de uma estrela chamada Epsilon Eridani?”
“Temo que a astronomia nunca foi meu forte.”
“Nem o meu. Mas felizmente há algumas pessoas que têm interesse por isso. Alguns anos atrás, antes de o programa espacial desintegrar-se por completo, eles realizaram um experimento que chamaram de paralaxe de satélite—não me peça para explicar o que eu não consigo—e eles descobriram que a Epsilon Eridani tinha toda uma série de planetas, tal como o nosso próprio sol. Foi uma descoberta interessante, mas o mundo tinha problemas mais urgentes e não prestou atenção.
“Nesse mesmo tempo, um homem escreveu um livro. Era um grande livro, um poderoso livro, e assustou muita gente. Falava do fim da civilização e de um regresso à barbárie devido à superpopulação, esgotamento de matérias-primas e de uma repartição geral das forças coesivas. A maioria das pessoas ficou brava com isso porque era um fato que não estavam dispostas a enfrentar—“
“Não me diga,” Peter murmurou.
“—mas algumas pessoas ficaram intrigadas. A contestação do autor era indiscutível, ainda assim essas pessoas com ideias não queriam ver o fim da civilização. Então elas começaram a pensar em alternativas.”
“E eu também, e fui odiado por isso. Claro que minhas sugestões eram radicais, mas eu estava lidando com uma situação de crise. Meus planos podem não ter funcionando, mas não seriam tão ruins comparados com o inferno que vivemos hoje.”
Honon deu de ombros. “Quem saberá ao certo? De qualquer modo, aquelas pessoas com ideias viram o ressentimento contra você e decidiram trabalhar em segredo. Incluído neles estavam pessoas com influência, algumas com dinheiro, e outras com ambos.”
“Isso sempre ajuda.”
“Então eles construíram essa espaçonave—”
Peter engasgou-se. “Ei, espera um minuto. Acho que perdi uma etapa aqui. O que é isso sobre uma espaçonave?”
“Pense sobre isso; use essa sua mente incisiva. Se a Terra está esgotada, então a civilização teria uma melhor chance em outro lugar para continuar e crescer, correto? Onde mais podemos ir? Certamente nenhum outro planeta do sistema solar é capaz de sustentar uma colônia sem uma poderosa tecnologia por trás. Então isso nos deixa com as estrelas—particularmente, Epsilon Eridani.”
Peter estava para dizer algo quando uma garota bateu na porta do veículo. Ela tinha cabelo escuro, e não podia ter mais que oito ou nove anos de idade. “Senhor Honon,” disse ela, “trouxe o jantar para você e para o outro homem.”
“Obrigado, Mary”. Honon foi até sua janela e pegou duas tigelas com a garota. “Cuidado,” ele disse a Peter, enquanto passava uma das tigelas para ele. “Está quente.” A garota saiu e voltou para sabe-se lá o lugar de onde veio.
O líquido nas tigelas era de uma consistência entre sopa e cozido. Havia batatas, ervilhas, feijões, cenoura, soja e até alguns pedaços pequenos de frango—praticamente um bufê nos padrões de hoje. O estômago de Peter estava gritando pelo fato de não ter tido nada o que comer desde um café da manhã ralo naquele dia. Ele aceitou a colher que Honon ofereceu e colocou um pouco da mistura na boca, apreciando a combinação de sabores. “Você come muito bem,” disse Peter.
“Obrigado. Como mencionei, estamos tentando manter a civilização viva, e um dos aspectos mais agradáveis dela é a boa comida. Fazemos o que está ao nosso alcance enquanto viajamos, mas até isso é longe de ser uma refeição balanceada.”
“Há pessoas que matariam por um pouco disso.”
Honon suspirou. “Sim, eu sei bem. Houve algumas tentativas, e é por essa razão que usamos veículos armados para liderar essa procissão. Viajar nos dias de hoje não é algo que você faz por capricho.”
Ambos comeram em silêncio por um momento, percebendo que sua refeição era literalmente um tesouro nesse mundo sem recursos. Peter terminou primeiro e recostou-se satisfeito.
“Muito obrigado. Foi a melhor refeição que tive em semanas.”
“Você gostaria de um pouco mais? Posso mandar a tigela para uma recarga.”
“Não quero fazer incursões em seus suprimentos—”
“Vamos ficar bem por um tempo. A parte de trás inteira daquele segundo caminhão está lotada de coisas congeladas ou desidratadas.”
Peter ficou tentado, mas decidiu abster-se de pedir. “Não quero me acostumar com uma vida rica,” disse ele. “As coisas podem mudar abruptamente.”
Honon acenou. “Verdade, mas nada me impede de viver bem enquanto posso. Eu aprendi quando pastoreava que você sobrevive os maus momentos e vive os bons.”
“Você criava gado, então?”
“Fui um pouco de cada coisa. Lenhador, caminhoneiro, patrulheiro, capataz, carpinteiro, lavador de louças—gosto de fazer coisas diferentes de tempos em tempos.”
“E você é agora um condutor de uma caravana”
“É. Então, o jeito que vejo isso é que você tem que continuar se movendo em direção a algo. Viajar não é o bastante; você tem que ter um objetivo em mente.”
“E seu objetivo é as estrelas?”
“Não imediatamente. Primeiro tenho que levar esse povo até o Monastério.”
“Até o que?”
“É assim que chamamos nossa pequena colônia. Uma vez foram os monastérios que mantiveram todo o conhecimento vivo durante a primeira Idade das Trevas, nós pensamos em batizar nossa base assim. Garanto que não tem nenhum significado religioso; somos todos muito tolerantes. Já é difícil viver hoje sem ter que reviver maus hábitos.”
“Não são todos que pensam assim. O fanatismo parece ter chegado ao ápice,” falou Peter amargamente.
Honon deu de ombros. “Não me importo eles se matando e tudo mais. Penso que que a raça só irá melhorar quando o fanatismo for removido do pool genético.”
“Onde fica esse seu Monastério?”
“Oh, fica por ai, em algum lugar.” Honon acenou com a mão em uma direção mais ou menos a leste. “Temo não poder ser mais específico. É segredo, e por um bom motivo. Vivemos muito bem a ponto de gerar inveja em pessoas do lado de fora. Se soubessem onde estamos, iriam nos destruir. É por isso que não posso contar para as pessoas da caravana aonde vamos exatamente—no caso de eles nos deixarem ou ficarem separados, não serão capazes de contar a outros.”
“Mas se você planeja uma colônia interestelar, você deve ter um monte de gente—”
“Quase cinco mil, na última contagem.”
Peter assoviou. “Mas é impossível esconder tantas pessoas.”
“Nós damos um jeito,” sorriu Honon.
“Mas tirar essa quantidade de pessoas da Terra seria um enorme problema. Como você propõe fazê-lo?”
“Para começar, nem todo mundo irá. Alguns de nós temos um sentimento de apego a esse velho mundo, e gostariam de ficar aqui tentando reabilitá-lo se possível. Somente uns três mil farão a viagem.”
“Mas mesmo assim, o combustível necessário—”
“Propulsão nuclear, o que permite grande energia com poucos gastos. O desenvolvimento do programa espacial nos últimos anos foi suprimido por outros assuntos nas reportagens e na imprensa. Tudo do que se falava eram guerras e carências. Não foi testado ainda em missões tripuladas, mas experimentos em terra foram promissores.”
“Não vou fingir ser um engenheiro espacial, mas lembro-me de ter visto em um planetário que levaria milhares de anos para ir daqui até à estrela mais próxima. Você não pode esperar que os colonizadores vivessem isso tudo—somente a comida para três mil pessoas encheria diversas naves.”
“O que você viu foi baseado em velocidades constantes. Motores nucleares, por sua vez, aceleram constantemente—dez milésimos de um ‘G,’ para ser preciso. Eu sei que não parece muito, mas vai se acumulando. As últimas estimativas dizem que se pode fazer a viagem em apenas seiscentos e cinquenta anos.”
“Mas, mesmo assim—”
“Lembra o que eu disse mais cedo sobre as técnicas de criogenia? Os colonizadores serão congelados momentos antes da decolagem e, exceto pela tripulação, não acordarão até que estejam em sua nova casa. Vai poupar suprimentos e espaço, já que não vão andar pela espaçonave.”
Peter ficou parado por um instante, considerando as possibilidades. “Ou você é louco,” disse ele afinal, “ou o sonhador mais desesperado que eu conheço.”
“Um pouco de ambos, espero. Estamos vivendo uma era realista, sem sonhos, e olhe a confusão em que as coisas estão. Não há nada mais realista que tentar continuar vivo, que é o que todos estão fazendo. Para eles é um negócio vitalício. Não há tempo para sonhar. Como resultado, eles têm vidas no limite da sobrevivência e fica cada vez pior. Quanto a mim, insisto em olhar o céu de vez em quando e perguntar se as coisas poderiam ser melhores. A fantasia pode ser ligeiramente insana, mas nenhuma criatura inteligente pode durar muito sem ela.
“Além disso,” acrescentou, apontando um dedo acusador para Peter, “você é muito bom em criticar. Não ache que eu não consigo ver atrás da máscara de cínico que você usa como se fosse um ator grego. Mark Twain, quando acusado de ser um pessimista em sua velhice, destacou que em vez disso ele foi ‘um otimista que não chegou.’ Se você não idealizar, se você não ver o mundo tal como deve ser, você nunca poderia ter reunido em seu livro todo o fogo e a cólera que sentiu.”
“É mesmo?” perguntou Peter surpreso. Muitas pessoas tinham tentado psicanalisar ele através de seu livro, com variado sucesso.
“Um cínico é apenas um otimista frustrado. Você tem que ter ideais em primeiro lugar para depois ficar desiludido com o fato de elas não terem sido alcançadas. Você, Peter Stone, é um construtor de utopias sem um bom suprimento de madeira.”
“E é por isso que você quer que eu me junte a você—porque eu sou uma falha aqui e quer me dar outra chance? Peço desculpas por ser cínico, mas não acredito.”
Honon balançou a cabeça negativamente. “Não só por isso. Quero dar outra chance para a humanidade, e acho que você pode ajudar. Você pensa sobre fenômenos sociais. Você vê alternativas onde outras pessoas são cegas, e você não tem medo de falar sobre elas abertamente. Vamos precisar de um bom observador de alternativas e um crítico social se esperamos chegar a algum lugar. Pronto—eis a regras e a descrição do trabalho. Preciso de uma resposta, um compromisso a partir de agora, porque não vou voltar a este caminho novamente. Você quer o trabalho?”
Peter nem sequer hesitou. “Bem, o pagamento é ruim, mas os benefícios extras parecem bons. Se você cortar um pedaço desse sonho para mim, eu acho que posso engoli-lo.”
CAPÍTULO 3
Bilhões de dólares foram gastos nos últimos anos para melhorar a aplicação da lei—ainda assim o crime tem continuado a aumentar e muitos americanos estão preocupados se será possível controlá-lo…
Patrick V. Murphy, um antigo agente da polícia em Washington e Nova Iorque, diz o seguinte: “Temos de encarar os fatos. Há muita instabilidade nas nossas cidades. Enquanto tivermos desemprego, subemprego, lares quebrados, alcoolismo, drogas e problemas mentais, teremos também o crime.”
U.S. News & World Report
10 de junho de 1974
* * *
O crime é uma saída que muitos adotam para adaptarem-se a uma sociedade cuja complexidade cresceu acima dos limites. Em sua última tentativa de se manter unida, prevejo que nossa cultura atravessará seu último e monstruoso espasmo de “lei e ordem.” Tudo o que for diferente da norma será sujeito a variados meios de repressão nas desesperadas tentativas da sociedade de se manter à tona.
A verdadeira tragédia disso tudo são os efeitos colaterais que a polícia terá na sociedade pós-Colapso. A repressão suscitada agora vai prolongar-se, como a perna de um sapo que continua chutando mesmo depois do corpo estar morto…
Peter Stone
Colapso do Mundo
* * *
Peter passou a noite na cabine do caminhão blindado com Honon. Eles conversaram um pouco mais, comparando experiências que cada um teve em suas viagens pelo país. Peter descobriu que Honon esteve viajando pela nação regularmente nos últimos quatro anos, conduzindo essas caravanas. O quadro que pintou não era muito agradável. Miséria, fome e conflito eram onipresentes nos Estados Unidos. A praga ainda não tinha começado a cobrar seu preço, mas as condições das cidades estavam colaborando para a quebra do saneamento e a dispersão de doenças.
“De certo modo,” disse Honon, “é vantajoso que o Colapso seja global. Se as guerrilhas judaicas não tivessem começado sua luta na Rússia há cinco anos, os russos poderiam ter levado vantagem da nossa fraqueza e nos invadido. Mas com os judeus dentro, os chineses a sua volta e uma tremenda falta de recursos, eles acabaram ficando pior que a gente.”
Com o passar do tempo a dor no braço de Peter e a exaustão das atividades do dia foram se acumulando. Ele recostou-se no assento de couro e teve sua primeira boa noite de sono em dias.
Honon o acordou logo após o nascer do sol sacudindo seu ombro bom. “Acorde bela adormecida”, disse ele amigavelmente. “Está na hora do café da manhã—e hora também de conhecer o resto das pessoas com quem vai dividir essa viagem.”
Peter desceu da cabine e teve sua primeira boa visão da caravana inteira. Os primeiros dois veículos eram caminhões blindados—e depois que Honon contou sobre como as condições do país estão no momento, Peter concordou que a caravana deveria estar preparada para tudo. O próximo na fila era um trailer, ao lado do qual um grande grupo de pessoas estava reunido. Atrás do trailer uma van Volkswagen azul e branca, e atrás dela três carros compactos. Formando um desfile interessante, pensou Peter.
Enquanto Honon o levava até o trailer, Peter sentia o olhar frio dos membros da caravana. Eles já deviam estar a par do nome de seu notório novo companheiro. Imaginou quantos deles já o odiavam.
“Pessoal, reúnem-se”, chamou Honon, e as conversas privadas cessaram. “Quero que conheçam nossa nova aquisição, Peter Stone. Todos devemos gratidão a ele, eu acho, porque foi o seu livro que fez com que nosso pessoal se mexesse. Sem ele, não haveria Monastério e nenhum plano de espaçonave. Não hesitem em mostrar a ele quão gratos nós estamos.”
Peter ficou surpreso com aquela apresentação, e mais surpreso ainda quando as pessoas atenderam ao pedido de Honon. Ficaram paradas por um momento, meio inseguras de si, mas então vieram em pequenos grupos dar boas-vindas à caravana. Homens e mulheres vieram cumprimentá-lo, e crianças sorriam timidamente para ele.
“Desculpe, não posso ficar e apresentar a todos,” disse Honon. “Vou pegar um café rápido e ver se consigo recrutar um sapateiro.”
“Um sapateiro?”
“Sim, um bom homem que foi recomendado por alguém do Monastério. Ele vive no centro de Los Angeles.” Honon viu a confusão na cara de Peter e explicou mais um pouco. “Veja bem, se você for lotar uma colônia vai pegar os sujeitos mais inteligentes e intelectuais que encontrar, certo? Mas digo agora mesmo que isso não vai funcionar. Alguns intelectuais—até mesmo muitos intelectuais—são necessários, com certeza, mas você não pode construir um mundo só de doutores e físicos nucleares. A primeira vez que o encanamento falhar, você terá um problemão. Tenho que recrutar pessoas que seriam úteis em uma situação de limites. Pessoas que já foram treinadas para produzir o que precisamos. Aonde estamos indo não haverá fábricas fazendo roupas para você em uma linha de montagem; precisaremos de artesões que podem fazer bons calçados do nada. As pessoas dessa viagem serão uma mistura esquisita, claro; mas estamos tentando salvar a Humanidade, e a Ela em si já é uma mistura esquisita. Pense nisso.”
Honon foi até o trailer e, depois de um momento, voltou com um cantil, dois pedaços de bolo de trigo e algumas frutas desidratadas. “Vejo você mais tarde,” falou a Peter. “Enquanto isso, tente conhecer o pessoal um pouco. Penso que achará esse grupo interessante.” Ele foi até o caminhão blindado, pegou uma motocicleta de dentro e saiu com ela até a cidade.
Enquanto Peter esperava na fila para o café da manhã, foi conhecendo membros da caravana que vinham se apresentar. Conheceu Dominic e Gina Gianelli de Oakland, um casal na casa dos trinta anos de idade. Dom, como o homem preferia ser chamado, era carpinteiro “e um fã de futebol americano. Mas não parece que teremos mais jogos por enquanto.” Peter concordou. Os Gianellis tinham cinco filhos, indo de dois a dez anos de idade; apesar de ter sido apresentado a todos eles, Peter teve problemas para memorizar a ordem correta e os nomes, exceto por Mary, a de oito anos, que foi a garota que lhe trouxe comida na noite anterior.
Conheceu Bill e Patty Lavochek de San Luis Obispo. Os Lavocheks, ambos com seus vinte e poucos anos, estavam casados fazia apenas quatro meses, e estavam encarando essa empreitada como se fosse uma grande aventura—e um bom modo de começar vida nova. Bill, um maquinista, tinha certeza que seus talentos teriam alta demanda no Monastério e no novo mundo.
Peter também conheceu Harvei e Willa Parks. Harv, um encanador de San Francisco, era um homem pequeno experiente em seus quase quarenta anos. Tinha modos bruscos, mas uma disposição amistosa. Willa era cerca de dez anos mais nova que ele. Muito tímida e quieta, mas que sempre fazia tudo que lhe era pedido sem reclamar. Possuíam dois filhos, uma garota de sete e um garoto de quatro.
Antes de se tornar o primeiro da fila a médica, Sarah Finkelstein, veio perguntar como seu braço estava. Peter disse a ela que o braço estava rígido, mas usável, e ela pediu que avisasse se a situação mudasse.
Em frente a fila, servindo os membros, estava o casal japonês, Charlie e Helen Itsobu, ambos na casa dos quarenta anos. Charlie foi colocado nos afazeres culinários porque era um chef profissional—chefe de cozinha, na verdade, no que era o restaurante japonês favorito de Peter em San Francisco. Peter deu-se conta de quão habilidoso Charlie deveria ser—não é comum um jovem chegar tão alto nos círculos da culinária—e cumprimentou ele. Charlie sorriu e pediu desculpas por servir algo não tão elegante como gostaria. Com uma piscadela, deu a Peter um bolo de trigo a mais.
Enquanto Peter se afastava do trailer, os Gianellis acenaram, convidando-o para sentar e comer com eles. Peter fez isso com alegria; já fazia tanto tempo que ele teve companhia e agora estava ficando bêbado de camaradagem. Kudjo lhe deu um tapa nas costas quando se sentou, saudou o resto de pessoal, e então pegou uma segunda motocicleta do caminhão líder e saiu com ela. “Onde ele está indo?” perguntou Peter.
“Oh, ele é nosso batedor,” disse Dom Gianelli. “Vai na frente, dá uma olhada na situação, garante que nossa rota está segura. Era isso que ele estava fazendo ontem quando encontrou você.”
Peter acenou. “Faz sentido.”
“Bom homem, esse Kudjo. Aposto que teria sido um excelente jogador de futebol americano. Um wide receiver5 natural, pelo jeito dele.”
“Posso me juntar a vocês?” veio uma voz feminina por trás. “Não posso deixar passar a notável chance de conhecer um bacharel.”
“Sim, sente-se,” sorriu Gina Gianelli.
A garota que se sentou ao lado de Peter era baixa e meio corcunda, com um cabelo castanho desgrenhado e olhos grandes. Sua característica mais aparente era seu nariz, que dominava sua face a ameaçava tomar o controle completamente. “Sou Marcia Konigsburg, vinte e quatro e solteira. Não que eu esteja medindo você para um bolo de casamento, mas acho que é bom deixar as coisas claras o quanto antes. Desenho roupas para boutiques, e também faço fantasias para o teatro. Acho que é por isso que Honon pediu para que eu viesse—seja lá onde vamos parar, acho que precisaremos de alguém que faça as roupas certas para a ocasião.”
Peter gostou dela instantaneamente. Ela era amigável, quase grudenta, mas cujo charme superava a impressão inicial de falta de elegância. “Li seu livro, sabe,” ela prosseguiu.
“Então você é a única.”
“Ei, você é engraçado também. Sim, ele realmente me impressionou. Estava no segundo grau do colégio na época, e acho que tudo me impressionava. David Hume, Aleister Crowley e você eram meus três favoritos.”
“Certamente fazemos um trio estranho.”
“Se serve de consolo, meus amigos diziam que eu não tinha gosto. Esse era o tipo de pessoas que eu costumava andar—loucas, todas elas.”
Subitamente Peter sentiu uma sensação estranha na nuca, como se estivesse sendo observado. Ao virar ele viu uma garota o observando ao lado de um dos carros. Ela era jovem, magra e loira, com a aparência que transmitia uma inocência quase angelical. Quando se virou para olhar melhor ela olhou em outra direção, fingindo não ter percebido. Peter deu de ombros e voltou a conversa.
Marcia nem notou que ele não prestava atenção e estava falando algo sobre a quebra no jeito formal da educação, a qual ela mesma tinha testemunhado.
“Foi bem como você mencionou—as aulas tinham cada vez menos a ver com a realidade, não só porque não queriam ser relevantes, mas porque a realidade escapava delas.” As palavras dela fora tiradas quase como estavam no livro; deve ter memorizado essa parte.
Dom Gianelli acenou para um homem alto com uma camisa de malha branca e calças pretas. “Padre Tagon,” chamou ele, “por que não se junta a nós?”
O homem seguiu a sugestão. “Espere até conhecer este cara,” Dom falou para Peter. “ele é capaz de realmente entrar em um debate com você.”
O recém chegado era um homem alto e magro, na casa dos trinta, com um nariz de falcão, olhos castanhos e uma grande testa que gradualmente se fundia com seu cabelo castanho. “Oi” disse ele, curvando-se para Peter e estendendo a mão. “Sou Jason Tagon.”
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