Kitabı oku: «A Vida No Norte», sayfa 5

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Capítulo 6

— Ali, não estou enganado, pois não? Estás maior? — estou a acelerar pela estrada fora, desviando-me de buracos e destroços recentes. Parece que os monstros não têm civismo nenhum, pela forma como destroem estradas. Já se passaram horas desde que saí de Haines Junction e, até agora, a Sabre tem feito um ótimo trabalho para me levar de volta à civilização rapidamente.

— Sou mais do que suficiente, como diriam as senhoras — diz o Ali, a sorrir.

— És um Espírito, nem sequer tens género — replico, inclinando-me na curva, ao passarmos por um alce assustado. Caramba, aquilo era do tamanho de um autocarro!

— Isso foi um pensamento heteronormativo. É esse tipo de pensamento que tem mantido metade da vossa população reprimida durante toda a vossa história — começa o Ali.

— Odeio-te — resmungo, ignorando o Ali. Eu tinha uma pergunta importante sobre as habilidades dele, mas sempre que tento...

Estou a ignorá-lo propositadamente, por isso, quando ele grita “baixa-te!”, demoro algum tempo a perceber que é a sério e a reagir. Quase me custa a vida, mas baixo-me e o veículo começa a andar às voltas. Falhando-me por uns centímetros, um dragão começa a subir, depois do mergulho, gritando de raiva, com asas de morcego e escamas roxas brilham à luz do sol. Sinto a pressão, a aura de medo que o rodeia, à medida que se aproxima de mim, a tentar imobilizar os meus músculos e fazer de mim uma presa.

As minhas resistências entram em ação e concentro-me para recuperar o controlo da mota. Percebendo que é uma causa perdida, ativo a mudança e a mota desfaz-se debaixo de mim, enquanto agarro no manípulo com toda a força. Ainda bem que a roupa que tenho vestida tem placas blindadas integradas ou ficaria cheio de queimaduras da estrada.

A transformação demora segundos e fico com placas blindadas a proteger os meus braços e pernas, o metal líquido une todos os espaços. As rodas da mota ficam presas às costas, com o escape, criando uma espécie de mochila volumosa. A minha verdadeira mochila de caminhada e os seus conteúdos ficam espalhados pela estrada, durante a mudança. Ao deslizar pelo chão, faço força no pé e consigo pôr-me de cócoras, demonstrando uma agilidade, coordenação e força que nenhum humano normal poderia exibir.

Quando começo a abrandar e olho para cima, consigo ver as informações que o Ali preparou para mim.

Dragão das Sombras (Nível 74)

PV: 14 780/14 780

Caramba! É impossível eu ganhar este combate. Uma ordem mental ativa o MFQ e eu corro em direção à floresta que me rodeia para me esconder.

***

O Ali vem ter comigo ao esconderijo horas mais tarde, depois de o sol se ter posto e nascido novamente, em direção ao céu.

— Estamos safos. Desapareceu.

Suspiro de alívio, as minhas mãos começam a tremer ligeiramente quando a adrenalina acumulada começa a acalmar. Passado um bocado, pouso a cabeça nos braços, obrigo a respiração a acalmar e suprimo o medo. Aquele dragão tinha sido tenaz, relutante a ir-se embora, mesmo depois de me perder de vista. Se não o tivesse despistado com o MFQ, agora seria comida de dragão. Tive sorte, muita sorte...

Assim que recupero a calma, dou uma vista de olhos rápida ao compasso embutido no meu capacete e acelero em direção a Whitehorse através da floresta, pois acredito que devo acabar por encontrar a estrada. É melhor deixar passar algumas horas, antes de arriscar voltar a ela.

O Ali parece estranhamente calmo durante uns minutos, enquanto me esgueiro pela floresta. Apenas flutua ao meu lado e nem sequer está a trautear uma melodia irritante.

— Estou maior. Eu disse que à medida que ias ficando mais forte, eu também fico e vou acabar por conseguir ter um corpo a sério.

— A Nível 2, disseste que ganhaste a habilidade de sentir os monstros do Sistema à nossa volta. Como é que o dragão se aproximou tanto? — questiono.

— Dragão das Sombras. As habilidades furtivas afetam a minha habilidade de os sentir através do Sistema, uma vez que é o Sistema que dita essas habilidades — explica o Ali e faço uma nota mental de começar a prestar mais atenção. Parece que não posso depender apenas dele.

— O que ganhaste com os outros níveis?

— Mais acesso ao Sistema. É por isso que a informação que tenho mostrado se tem tornado cada vez mais precisa. Também aumentei o alcance da função de detetar e consigo manifestar-me durante mais tempo. — explica o Ali. — Se chegares ao Nível 10, podes ganhar a minha afinidade, se praticares durante algum tempo.

Aceno, satisfeito. Finalmente, informações reais.

***

Após algumas horas fora da estrada, volto a encontrá-la e acelero. Grande parte do resto da viagem até Whitehorse é relativamente pacífica e rápida. Quanto mais me aproximo da cidade, menor é o nível dos monstros. Na verdade, o último monstro que encontrei era um urso castanho gigante cujo nível é um mísero 35. Por insistência do Ali, mato-o e recolho o saque. O coitadinho não teve hipótese, pois dei-lhe um tiro fatal à distância. Não subo de nível e sinto-me mal por deixar o resto da carne a apodrecer, mas não consigo transportar um corpo que não foi gerado pelo Sistema. O que é algo a considerar no futuro: conseguir uma espécie de armazenamento interdimensional.

Quando estou a menos de um quilómetro do limite de Takhini, a uns meros vinte minutos de mota de Whitehorse, o Ali começa a tagarelar:

— Prego a fundo, miúdo! A não ser que queiras uma repetição de Junction.

Resmungo e acelero a fundo. A Sabre ganha vida e a bateria de Mana começa a descer, conforme uso mais potência do que aquela que o motor consegue recarregar. Não é altura para me preocupar com isso. Não vejo o problema até fazer a última curva, largando o acelerador o suficiente para conseguir averiguar a situação.

Troll (Nível 32)

PV: 1673/1842

O troll é o adversário. Tem quatro metros de uma pele verde áspera e desengonçada e está a enfrentar uma mulher japonesa pequena, que tem uma espécie de arma de fuste. Enquanto paro atrás dele, ela ataca, torce a lâmina para cortar o braço do troll e, depois, inverte o ataque para lhe abrir a garganta. Quando esta dá o último golpe, um brilho branco parece envolver a própria lâmina, o que faz com que o segundo corte atravesse o corpo do troll muito mais facilmente. Ela supera o troll em velocidade e habilidade, mas isso não parece interessar, pois o troll está a regenerar o dano, as feridas antigas e novas já estão a fechar. Ao contrário do troll, a mulher não está a regenerar o dano e há sangue a escorrer da ferida que ela sofreu no escalpe.

Mikito Sato (Nível 27)

PV: 282/420

Por muito interessante que a luta seja, os huskies gigantes que avançam e recuam para irritar e distrair o troll são muito mais. As criaturas são quase do tamanho de um pónei pequeno, cada uma delas, com cores e tamanhos ligeiramente diferentes. A controlar as suas ações e a gritar ordens, está um par de humanos ruivos, que presumo serem os seus donos.

Richard Pearson (Nível 24)

PV: 210/210

Lana Pearson (Nível 24)

PV: 230/230

Mais atrás, está uma multidão de não combatentes, crianças e outros. Não lhes presto atenção, pois estou a tentar tirar a espingarda do coldre. Rogo-me pragas por não ter praticado tirar a arma do coldre quando tive tempo. Como me atrapalho com o movimento, perco segundos preciosos. A Mikito não se consegue desviar. O sangue da sua ferida cega-a durante um segundo crucial e isso é o suficiente para o troll atacar. O golpe fatal é interrompido pelo corpo de um husky, que se atirou ao braço levantado. Logo a seguir, consigo libertar a espingarda.

Faço pontaria para cima, achando que uma bala perdida não faria mal a ninguém e puxo o gatilho. O primeiro disparo apanha-lhe o ombro. A arma de raio faz um buraco de um lado ao outro, queimando e cauterizando a carne. O troll curva-se, tornando-se um alvo mais pequeno, e começa a correr na minha direção com os quatro membros.

Em vez de fugir, disparo como deve ser. A bala atinge a clavícula esquerda e continua a atravessar o corpo, enterrando-se no chão, atrás dele. O troll cai no chão, mas o balanço fá-lo continuar a rolar até mim. Quando recupera, atira-se para a frente, o que contra-ataco com uma bota na cara. Infelizmente, esqueci-me da porcaria da física que ainda tem algum controlo sobre nós.

Em vez de atirar o troll para trás, eu é que sou disparado em direção ao chão. Caio e rebolo, uma parte de mim impressionado com o facto de conseguir fazer estas acrobacias e outra, uma parte maior e mais esperta, dispara novamente contra o troll.

Falho completamente, mas o troll para tempo o suficiente para me conseguir levantar. Cometo um erro novamente, ao esquecer-me do quão compridos são os braços da criatura e ela atira a espingarda para o lado, quase levando a minha cabeça com ela, se eu não tivesse tido o reflexo de a afastar. Tenho os braços doridos, mas nenhuma das garras atravessa a armadura. Ao ver-me desarmado, atira-se a mim desajeitadamente.

É pena que um Guarda de Honra de Erethran (mesmo sendo uma classe roubada) nunca esteja completamente desarmado. Viro-me e deixo-me cair, deixando que o instinto me guie, quando a espada aparece nas minhas mãos e eu deixo que o troll se esventre a si mesmo. Já estou a sair da sua sombra, depois de um corte descendente que lhe rasga os tendões na parte de trás do joelho, quando as minhas mãos se unem no punho, num bloqueio duro que desarma o troll, literalmente.

Desvio-me do golpe que o troll faz com o que resta do seu braço e a ajuda chega, com os huskies a atacar a criatura ferida. Aproveito para arrancar o outro braço, enquanto os huskies e a Mikito o mantêm ocupado. De seguida, vou buscar a espingarda para acabar com o combate e começo a disparar. Sorrio por detrás do capacete, vendo-o fritar e morrer.

Troll (Nível 37) Morto

+ 3700 XP

— Uau! Isso foi incrível — o Richard vem ter comigo e dá-me uma palmada no ombro. Como já não há perigo, tiro o capacete e aceno-lhe, confuso com o quão fácil aquilo foi. Sim, eu sei que fiz alguns erros, mas aquela coisa era significativamente mais forte do que eu, no que toca a níveis. Ainda assim, tenho um pressentimento de que com apenas um pouco mais de experiência, poderia ter dado cabo dele sozinho.

— Richard! A Hilda precisa de ajuda — chama a Lana, dobrada sobre o husky ferido. Quando me viro, os meus olhos fixam-se na ruiva atraente cuja blusa verde é ligeiramente reveladora, visto que ela se está a dobrar sobre o cão, e sustenho a respiração durante uns momentos. Caramba, ela é linda. Afastando o olhar, vejo que a saúde do cão está em baixo.

— Deixem-me tentar uma coisa — aproximo-me, invocando a memória do feitiço que ganhei e ponho as mãos na criatura, ignorando a dificuldade com que está a respirar. Entoo o Feitiço de Regeneração Básica na minha mente e, com as mãos a brilhar de Mana, transfiro-o para o husky, para dar início ao processo de recuperação. Tenho de esperar um minuto sempre que quero voltar a lançar o feitiço, mas acabo por deixar a saúde dela acima da marca dos dois terços. Entre pausas, saqueio o troll, o que me dá couro e sangue de troll. Como fui eu a matá-lo, sou o único que o pode saquear. Também observo o grupo de não combatentes que ronda as oito pessoas, uma mistura de seis adultos e duas crianças. Com nada melhor para fazer depois disso, revejo o feitiço.

Feitiço de Regeneração Básica

Efeito: Regenera 20 de Vida por invocação. Deve estar em contacto com o alvo durante a regeneração. Intervalo de 60 segundos.

Custo: 20 Mana

— Obrigada! — a Lana abraça o cão recém-recuperado, enterrando a cabeça no pelo dele, enquanto o cão lhe dá lambidelas.

— Como aprendeste isso? Como é que a tua mota ainda funciona? — o Richard observa-me com pura cobiça e inveja, depois da primeira regeneração. Olho para trás, reparando nas semelhanças de família, no sorriso leve que curvam os seus lábios, nas características atraentes que ambos têm. O Richard também é bastante atraente, apesar de ser o carisma efémero que chama a atenção quando ele fala. Ele tem uma camisola aos quadrados, calças de ganga, um casaco de verão leve por cima e segura casualmente numa caçadeira.

— Comprei-a na Loja — menciono descontraidamente. É melhor não dizer que a Sabre é mecha, por agora. Uma mota que funciona já é suficientemente incrível, hoje em dia.

— A Loja? — intromete-se a Lana e a Mikito mantém-se em silêncio, observando o grupo. Aceno para a outra lutadora deste grupo e ela fica apenas a observar-me. Percebi logo que ela não era a mais amigável.

— O sítio onde podemos vender os saques. Há uma em Whitehorse — faço uma pausa e levanto a mão para evitar mais perguntas. — Vamos continuar, podemos falar quando estivermos em segurança. Depois, respondo às vossas questões.

O trio acena sombriamente, ao ser recordado do perigo de estar no mundo selvagem. Aceno para as crianças e uma das mães subirem para a mota. Ligando-a remotamente, faço-a avançar a passo lento ao nosso lado.

Agora que os fiz começar a andar na direção certa, volto a pôr o capacete e falo para dentro dele, para ocultar a minha voz: — Ali, fica atento. Avisa-me se houver algum perigo, está bem?

— Não me vais apresentar? Tens vergonha de mim? — resmunga o Ali, a flutuar ao meu lado.

— É apenas uma precaução. Eles parecem simpáticos, mas aqueles cães são enormes — olho para os cães de caça que caminham ao nosso lado, até o que foi esmagado pelo troll. Parece que aquelas coisas regeneram mais depressa do que nós, o que é dizer muito. Suponho que desperdicei montes de Mana para nada.

— São bestas de companhia. Aposto cem créditos em como aqueles dois têm classes de Domadores de Bestas — o Ali aponta para os Pearson. Abro a boca para fazer outra pergunta quando o Richard se aproxima para falar e eu abro a viseira para ser educado.

— Obrigado, mais uma vez. Chamo-me Richard, aquela é a minha irmã Lana e a outra rapariga é a Mikito — o Richard aponta para cada uma das lutadoras, antes de apontar para os não combatentes, que estão no centro do nosso pequeno grupo, e diz-me os seus nomes. Verdade seja dita, esqueci-me dos nomes assim que ele os disse. Sempre foi péssimo com nomes e, com o Ali por perto, nem preciso de me esforçar.

— John — ofereço a minha mão para ele apertar, antes de começar a sondar a história deles. Parece que ele precisa de falar, pois não demoro muito tempo a conseguir os detalhes do que lhes aconteceu. Quando o Sistema foi ativado, tanto o Richard como a Lana receberam a recomendação da classe de Domador de Bestas como Regalia Pequena. Eles ignoraram a opção, no início, mas depois de lidarem com o primeiro monstro, aparentemente um esquilo gigante, aceitaram-na. Isso fez com que a sua pequena equipa se transformasse no grupo atual que nos rodeia e também lhes deu uma ligação aos seus animais de estimação.

A Mikito estava com o marido em Takhini Hot Springs, na esperança de engravidar sob as auroras polares, mas as coisas terminaram em tragédia. Nenhum dos Pearson conseguiu descobrir a história da naginata dela, mas, fosse qual fosse, não era boa, pois a mulher parecia atirar-se aos monstros que encontravam sem qualquer hesitação. O resto dos não combatentes que se foram juntando, vizinhos e outros, seguiam sozinhos em direção a Whitehorse, à procura de segurança.

— Como é que eles não têm classes? — aponto para o grupo no centro, mantendo-me atento a novas ameaças.

—Têm. O Karl é Agricultor, o Jorge é Industrial e por aí fora. Apenas não lutam — o Richard encolhe os ombros e sussurra. — Eu também não sei lutar, mas tu sabes...

— Sim, sei — ficamos os dois em silêncio, continuando a caminhada com os nossos pensamentos. Ser arrastado para situações onde ou lutamos ou morremos não tem sido fácil para nenhum de nós. Olho em frente enquanto andamos e começo a pensar em Whitehorse. Podemos descansar quando chegarmos, podemos recuperar alguma paz na zona segura. Talvez possamos deixar as armas e parar de matar, encontrar alguma sanidade neste novo mundo de loucos.

***

Quando finalmente vislumbramos Two Mile Hill, em Whitehorse, todo o grupo começa a festejar. Andar pelo parque industrial e pelos subúrbios tinha sido deprimente, apesar de não termos saído da autoestrada para verificar os edifícios abandonados. Mais perto da cidade, o nível da zona desce bastante e ronda os 25, o que já é bastante seguro, no que toca a apocalipses. Não há dragões voadores, pelo menos. Contudo, sinais de luta e morte estão por todo o lado, à medida que avançamos e, mais uma vez, sou relembrado de que nem todos receberam ou escolheram classes de luta ou não tiveram a oportunidade de a escolher.

Os festejos acabam quando vemos outro grupo a sair de Two Mile Hill, o centro da comunidade, em motas. À nossa direita, fica o enorme edifício azul e branco que constituía o centro da comunidade e que parece formar uma escuridão opressiva à nossa volta. O Canada Games Centre é algo que vamos ter de manter debaixo de olho pois, segundo o Ali, os fluxos de Mana estavam a acumular-se, o que pode atrair mais monstros. Com o tempo, se os fluxos não se dissolvessem, isto tornar-se-ia num verdadeiro covil de monstros e, depois disso, uma masmorra. Felizmente, esse é um problema para outra altura e outra pessoa.

Baixo a viseira do capacete para usar a ampliação básica e começar a recolher informações sobre o outro grupo. Este parece saído de O Senhor dos Anéis: elfos, um pseudo-homem-dragão, um mini gigante com uma armadura completa e o que deve ser um par de magos, pelos robes compridos. É isso mesmo! O grupo inteiro parece uma festa de live action com esteroides. Mas os níveis, que vão do mais baixo até cerca de 35, fazem-me considerá-los uma ameaça.

— Ali, o que se passa com os níveis deles? — sussurro para dentro do capacete.

— Hum... Whitehorse deve ter tido muito mais monstros, no período inicial. Todos recebem bónus de experiência, no início. Se eles têm estado a trabalhar juntos e a matar monstros aqui perto, subir de nível é bastante fácil. Mas tenho de admitir que são níveis bastante elevados — diz o Ali, também observando o grupo.

Suspiro passado um bocado, ao ver melhor os magos. O par foi o que sofreu menos alterações no seu aspeto pré-apocalíptico. A ausência de acne faz o par de adolescentes parecer consideravelmente mais bonito, mas são eles, sem dúvida. Tiro o capacete para passar a mão pelo cabelo e os meus ombros encolhem-se um pouco. A Lana, a atraente Lana, cuja companhia é definitivamente muito mais interessante do que a do irmão, Richard, está ao meu lado e lança-me um olhar preocupado.

— Eu conheço-os — começo a rezar a qualquer deus que exista e que me possa estar a ouvir.

Provavelmente existe e chama-se Murphy, porque quando o grupo nas motas se vira na nossa direção, tenho a oportunidade de ver os nomes do Sistema, incluindo o da elfo feminina.

Luthien Celbrindal (Nível 32)

PV: 420/420

— Não me lixem! Devia ter posto mais pontos na Sorte — rodo o pescoço, a tentar livrar-me da tensão que se formou repentinamente. A Mikito empunha a sua naginata, preparada para lutar, e apercebo-me de que até os cães estão a rosnar. — Não são esse tipo de pessoa, acho eu. É pessoal.

A Lana faz um gesto para o Richard e o resto do grupo para, claramente à espera que eu me explique. — É a minha ex que aí vem, não terminámos da melhor maneira. Saí da cidade para me afastar dela.

— Tens medo de uma rapariga? — goza o Ali, ao mesmo tempo que a Lana fala.

— Fugiste de uma relação problemática em direção ao apocalipse?

— Não, só não quero lidar com aquele demónio— protesto e peço-lhes para não falarem. A Lana parece confusa durante uns momentos, antes de fazer um gesto ao Richard para continuarem a andar. Aquela ruiva irritante está a tentar não se rir, algo que o Ali nem sequer tenta esconder, pois está a rebolar no ar a rir-se como um louco.

— Parem! Quem vem lá? —grita o gigante quando nos aproximamos.

— Alguém com um mau disfarce — digo entredentes e deixo que seja o Richard a liderar a discussão, para tentar passar despercebido. As apresentações são feitas rapidamente e o Richard a relata uma versão curta da viagem deles.

Enquanto o Richard fala, eu observo o grupo e as suas armas. As espadas, arcos e bastões têm sinais de desgaste e, apesar de o grupo poder parecer amigável, todos têm as mãos perto das armas. Parecem ter-se mantido no tema da fantasia, o que não me surpreende, visto que o grupo dela adorava D&D.

— Como fizeste a mota funcionar? — a barra de estado dele diz Tim e demoro algum tempo a lembrar-me dele. Pois! Ele era mecânico antes de toda esta porcaria acontecer. Agora, ele é uma mistura de dragão e humano com dois metros, equipado com um machado e cota de malha. Suponho que alguns interesses não desapareçam.

— Então? — ele insiste e apercebo-me de que estão todos à espera que eu responda, até os Pearson e a Mikito.

— Comprei-a na Loja — digo, encostando-me ao veículo e, casualmente, aproximando a mão da espingarda. Não que espere ter de disparar contra alguém, mas o Tim está demasiado feliz por ver uma mota a funcionar.

— Há uma Loja? — Luthien, o demónio, intromete-se. Tenho de admitir, o visual de elfo fica-lhe bem. Antes, ela era alta, magra e loira, mas as orelhas pontiagudas, as calças de cabedal justas e a armadura realçam tudo, inquestionavelmente. Ser bonita nunca foi o problema dela. Mentir, trair e manipular já era outra questão.

— Não. Tive acesso graças a circunstâncias especiais — faço uma pausa, pensando na melhor maneira de dar a volta a isto. — Foi em Haines Junction...

— Estiveste lá? Viste um homem chamado Perry? —pergunta outro elfo, chegando-se à frente do grupo que agora me rodeia.

— Não. A cidade desapareceu — olho para baixo, não quero ser eu a dar a notícia. — Ogres assumiram o controlo e mataram toda a gente. Os ogres foram mortos por uma salamandra e, quando os saqueei, tive a oportunidade de usar a Loja. Foi lá que arranjei a mota e as minhas armas — isto deve chegar. É apenas o suficiente, sem ter de entrar em pormenores sobre o meu papel.

Vejo o Elfo, Jeff, a encolher-se com as notícias e a ir-se embora. Os outros dão-me algum espaço, mas a Luthien e o outro mago, Kevin, olham especados para mim. No final, é o Kevin que fala:

— És tu, John?

— Sim — respondo-lhe e, quando ele abre a boca para falar, faço um gesto para o calar. — Ainda bem que estão todos vivos — murmuro.

O meu cérebro entra em piloto automático e o poço de raiva e repugnância apodera-se de mim. Abano a cabeça e atiro a perna por cima da mota, preparando-me para ir embora.

— John... — diz a Luthien.

Ignoro-a, arrancando com a mota e afastando-me do grupo, o que obriga um dos adolescentes a desviar-se para não ser atropelado. Sim, estou a fugir. Ainda não consigo estar perto dela, não neste momento. Cerro os dentes, reprimindo novamente as emoções, enquanto me dirijo a Two Mile Hill, em direção ao centro da cidade de Whitehorse. Creio que o meu regresso pacífico à normalidade acabou de ir por água abaixo.

Bem, John... acho que é melhor contar-te isto agora — diz o Ali. Esperem, ele está dentro da minha cabeça! — Sim, temos uma ligação mental, por isso, podes parar de falar para o ar como se fosses maluco.

Como é que faço isto?

Essa cara de quem está aflito para ir à casa de banho significa que estás a tentar, certo? Primeiro, tens de pensar em mim e, depois, eu oiço-te. Eu não te leio a mente — diz o Ali.

Assim, idiota?

— Perfeito! Claro que, como ninguém me consegue ouvir, não vou fazer essa cara de parvo — acrescenta o Ali.

— Idiota — murmuro para dentro do capacete.

Assim que desço a encosta, vou pela Fourth Street e passo pelos restos queimados do McDonald’s e por outros edifícios comerciais abandonados, de ambos os lados da rua. Passado pouco tempo, tenho de abrandar, pois o número de pessoas aumenta significativamente e já ninguém obedece às regras de trânsito. Não é surpreendente, uma vez que os veículos que funcionam se contam pelos dedos de uma mão. Mas parece que as motas estão a voltar, com condutores a desviarem-se e a passarem à volta dos peões com pouco cuidado. Suponho que quando a nossa vida se regenera em minutos, até negras e ossos partidos se tornam menos importantes. Os humanos mexem-se de forma brusca, quando há um movimento demasiado rápido ou algo os apanha desprevenidos e os sinais de raiva e medo são visíveis nas suas caras. Uns têm ombros encolhidos e outros têm os olhos bem abertos e atentos. Os últimos são os melhores, são os que estão dispostos a sair do esconderijo.

Demoro algum tempo a aperceber-me do que me incomoda em relação a toda a gente: não se vê um único par de óculos. Tal como os meus males, parece que o aumento da velocidade de regeneração do Sistema resolve pequenos problemas como esse. Ainda mais interessante, vejo dois pares de indivíduos de níveis elevados, com espingardas, a patrulhar as ruas, ambos elfos de pele escura e cabelo prateado, com uma túnica como uniforme também preta e prateada. Por ter namorado com a Luthien, sei imediatamente que estes não são elfos típicos, são elfos negros, a versão maléfica dos elfos. Pelo menos, nas lendas más de fantasias. Surpreendentemente, a presença deles não parece gerar grande interesse nos humanos que os rodeiam. A maioria parece estar ocupada com os seus próprios afazeres.

Na Escola Básica École, é a minha vez de ficar chocado, ao ver uma carrinha a funcionar no meio das pessoas. O motor está a trabalhar e as pessoas passam ao seu lado, em direção ao mar de tendas dentro da escola. O som do motor a gasóleo a ligar é tão alto quanto o grupo de caçadores das Primeiras Nações a descarregar o alce. Tal como a maioria da nossa fauna nativa, este parece ter triplicado em tamanho, pelo menos, pela quantidade de carne que eles estão a descarregar e a levar para dentro da escola.

Aproximo a minha mota deles e um dos mais idosos do grupo das Primeiras Nações, que está a liderar a descarga, olha para mim com precaução, a sua mão inconscientemente aperta mais a espingarda. Ele é da velha guarda, com um olhar de quem passa o tempo todo ao ar livre e tem linhas por toda a cara, que está queimada pelo sol. Tem um colete de pele não curtida, uma camisa aos quadrados e calças de ganga. Ele podia estar apenas a passear, num domingo à tarde, em Whitehorse, se não fosse pelo sangue que tem na roupa. De certeza que já o vi pela cidade, num dos vários eventos públicos, mas não me consigo lembrar onde nem quando. Levanto a mão para o cumprimentar e vejo-o a olhar para a minha mota com interesse.

— Caçaram-no sozinhos? — deixo que se note a surpresa e a admiração na minha voz. Uma vista de olhos às barras de estado deles diz-me que a maioria tem apenas um dígito.

— Sim. Custou metade das nossas balas, mas ainda temos algumas — o aviso é claro, mas eu apenas me rio e afasto ambas as mãos da espingarda.

— Não quero problemas. Só quero informações, acabei de chegar. As pessoas estão a juntar-se na escola? — aponto para a École e recebo um aceno de confirmação.

— Então, o que é aquilo? — aponto para a maior mudança na cidade, o edifício imponente de oito andares e de um metal brilhante que domina a cidade e que deve ficar mesmo no centro da rua principal de Whitehorse. Esta costumava ser uma cidade pitoresca, com edifícios retangulares e pequenos, ruas largas e os ocasionais traços do seu passado pioneiro. Até havia um decreto que mantinha os prédios abaixo dos dez metros, portanto, o edifício saído do “Blade Runner” não era normal.

Um cuspo é a resposta inicial, antes de o idoso continuar:

— O edifício apareceu três dias depois dos monstros. Um idiota que diz ser o novo dono da cidade vive lá.

— A Loja é ali, miúdo. Alguém comprou os direitos da cidade. Dá-me um segundo e vou ver o que descubro — diz o Ali, voltando a olhar para o vazio.

Apercebendo-me de que ainda tenho o capacete, tiro-o e pouso-o no guiador.

— Importa-se que faça mais umas perguntas?

O idoso suspira e, depois de me fazer juntar à fila de pessoas, continua a responder. Levantar e atirar a carne não é nada, em comparação às informações que obtenho. Assim que o meu pé atravessa a linha para a escola, surge uma nova janela, uma que nunca tinha visto.

Entraste numa Zona Segura (Escola Básica École de Whitehorse)

Os fluxos de Mana nesta área estão estáveis. Não vão aparecer monstros.

Este Espaço Seguro inclui: Uma escola (+ 10% Progressão de habilidades)

Rapidamente descubro que os guardas são os donos da cidade e que estes têm lidado com a maioria dos monstros, patrulhando as ruas principais. Tanto a Escola Básica École de Whitehorse como a Escola Secundária FH Collins são Zonas Seguras e é onde todos se juntam atualmente, pois é a única maneira de garantir que não surge um monstro a meio da noite, debaixo da cama. No entanto, o espaço era um luxo e os níveis de higiene desceram, desde que a eletricidade e a água deixaram de funcionar. Isto explicava o cheiro bastante forte a pessoas que não tomam banho. Mas, mais uma vez, não me estou a queixar, eu também não tomava banho há uns dias.

A carne era para o guisado comum, pois a carrinha de entregas normal nunca chegou ao destino e uma estragou-se tonelada de comida quando a eletricidade acabou. Felizmente, alguém pensou depressa e barricaram as lojas. Agora, a comida era servida na cantina. Os caçadores estavam a dar o seu melhor para contribuir, mas, com cerca de cinco mil bocas para alimentar, não conseguiam acompanhar o ritmo e as rações tornaram-se pequenas.

Enquanto falo, os outros aparecem e os não combatentes e as crianças são rapidamente recebidos por um comité de boas-vindas, composto por residentes que parecem encantados. Ao longe, consigo ouvi-los a perguntar de onde vêm e se podem confirmar alguma morte. Creio que qualquer que seja a resposta, é melhor do que não saber. O Richard e os outros combatentes são arrastados pela minha ex e o grupo dela. Um breve olhar da minha parte mantém-nos afastados, pelo menos, por agora.

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Litres'teki yayın tarihi:
20 kasım 2021
Hacim:
371 s. 2 illüstrasyon
ISBN:
9788835430698
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