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2. PLANEJANDO A TRAMOIA

E

m Pyongyang, Coreia do Norte, Laurent Belcour relaxava dentro de uma enorme banheira. Duas mulheres asiáticas, uma de cada lado, murmuravam enquanto acariciavam seu tórax peludo de maneira sedutora. No outro lado da banheira, Kim Jong-un, o Líder Supremo da Coreia do Norte, recebia o mesmo tratamento de duas mulheres loiras muito altas. Kim estava em tratamento para gota. Glutão, havia engordado a ponto de pesar quase 150 kg, e sofria de vários males causados pelo seu estilo de vida desregrado. Ao redor deles havia muitas belas mulheres, todas jovens, que compunham a “trupe dos prazeres” de Kim. Elas apenas ficavam paradas ali, em prontidão para atender a qualquer desejo do ditador.

Quando chegou ao poder, o Líder Supremo desmanchou um grupo de mulheres escolhidas a dedo por seu pai e antecessor, Kim Jong-il. Ao final do período de três anos de luto oficial pela morte de seu pai, o novo ditador norte-coreano ficou livre para escolher uma nova geração de companheiras femininas. Enviou agentes em busca das mulheres mais atraentes do país, que as distribuíram pelas muitas mansões do ditador, onde se esperava que ficassem à disposição dele.

Embora a maioria das mulheres tivesse habilidades, como cantoras, dançarinas ou serviçais, a elite norte-coreana transformava as consideradas mais bonitas em concubinas. Segundo a imprensa estrangeira, muitas das mulheres que “se aposentaram” desse serviço aos vinte e poucos anos de idade, foram parar nos braços de oficiais militares que queriam alguém com quem se casar.

Até o ano anterior, Laurent Belcour era o chefe da International Development Organization (IDO). Teve de renunciar ao cargo em decorrência de um episódio desagradável nos tribunais da França, quando teve de se defender de acusações de usar prostitutas em orgias que ele organizava. Esta era a mais leve das suas contravenções que, na vida real, incluíam o tráfico de menores para prostituição. Ele e seus comparsas conseguiram escapar da condenação, porém o dano estava feito. Ele não só perdera aquele cargo de grande prestígio, mas sua reputação ficara arruinada. Contudo esse infortúnio não o impediu de prosseguir em suas aventuras sexuais, nem com o tráfico de pessoas.

O passado desairoso de Belcour não afetou seu valor como um arguto estrategista financeiro. Rapidamente montou um escritório de consultoria focado nos desafios econômicos dos países em desenvolvimento. Era habilidoso em criar estratégias que, na maioria dos casos, geravam bons resultados. A notícia se espalhou, e ele se encontrava bem atarefado, dando assessoria a muitos chefes de estado.

Seu projeto mais recente envolvia a Coreia do Norte, ajudar a achar soluções para as condições econômicas miseráveis que afligiam esse país. Acabara de concluir sua análise dos principais aspectos financeiros, e o que constatou não era nada promissor.

O Líder Supremo continuava apreciando os préstimos das duas esplêndidas beldades ucranianas.

- Está gostando das mulheres que eu lhe trouxe, Grande Líder? – perguntou Belcour.

- Muito mesmo. - respondeu o tirano gorducho. - É bom experimentar mulheres altas e lindas de vez em quando. Está satisfeito com as nossas mulheres locais?

- São agradáveis e obedientes, Grande Líder. Não deixam nada a desejar.

Os dois conversavam em francês, que Kim aprendera na Suíça, onde estudou quando jovem.

- Monsieur Belcour, tenho a impressão de que já analisou nossos dados financeiros e as estatísticas econômicas. Chegou a alguma conclusão?

- Cheguei, sim, Grande Líder, mas receio que a situação não seja promissora. Não sei se devo estragar esta tarde agradável com a chatice de um monte de números.

- Foi por isso que eu o convidei para me visitar, Belcour. Meus oficiais são medrosos, não têm coragem de conversar sobre coisas desagradáveis.

Uma verdade, visto que Kim tinha propensão a mandar executar sumariamente quem lhe dissesse qualquer coisa que não fosse do seu agrado.

- Bem, você disse que queria uma opinião sem censura da situação atual, e que eu lhe sugerisse possíveis soluções. Vou fazer um resumo de onde estamos. Há as sanções impostas pelos Estados Unidos e outros países do Ocidente, porque o seu programa nuclear e de mísseis impediram seu país de participar da comunidade financeira internacional. Para compensar, a China tem apoiado a Coreia do Norte, permitindo que o seu povo trabalhe nas fábricas deles, localizadas fora das suas fronteiras. Os chineses pagam o salário deles para o seu governo, e você paga aos trabalhadores o quanto quer. Você tinha um acordo semelhante com a Coreia do Sul para as fábricas dentro do seu país, mas os sul-coreanos se retiraram depois que começou a lançar mísseis para a estratosfera. Isso não ajudou. Você precisa muito dos dólares gerados pela cooperação com a Coreia do Sul.

- Eu não me preocuparia muito com as minhas discussões com meus camaradas do sul; eles são fracos e medrosos. Sabem que sou capaz de apagar Seul do mapa em um ou dois dias, porque a cidade fica muito perto da nossa fronteira. Dependo da China, e me divirto aborrecendo os chineses. Eles sabem muito bem que não têm outra opção a não ser apoiar o meu regime, porque a última coisa que podem querer é uma Coreia reunificada, apoiada e armada pelos Estados Unidos logo atrás da fronteira. De qualquer modo, você sabe que boa parte do nosso comércio é com a China, que fornece os artigos de luxo de que eu preciso para manter o meu alto escalão contente.

- Com o devido respeito, Grande Líder, a situação não é sustentável no longo prazo. Quanto mais ameaçar uma guerra com suas armas nucleares, mais os aliados irão apertar o nó. Em algum momento você será forçado a capitular, a menos que encontremos soluções criativas.

- Gosto da sua linha de raciocínio, Belcour. Soluções criativas é um ingrediente em falta nos meus círculos. Conte-me as suas ideias.

- Será um prazer lhe dar as minhas ideias, mas primeiro tenho de sair desta banheira, antes que seja cozido vivo.

O Líder Supremo fez um aceno com a mão, e várias mulheres lhes trouxeram grandes toalhas. Kim e Belcour passaram para uma mesa de canto, enfeitada com um belo arranjo de flores. Outras mulheres trouxeram duas taças e serviram de uma garrafa de Dom Perignon.

Belcour deu um gole e se preparou para mostrar o seu plano.

- Grande Líder, precisamos pensar de maneira pouco convencional, se quisermos avançar e superar os obstáculos à nossa frente. Os Estados Unidos e seus aliados vão continuar impondo sanções, e não irão afrouxar até você abandonar seu programa de armas nucleares. Eles conseguiram forçar o Irã a abandonar o programa deles, e agora acham que podem usar a mesma estratégia com seu país.

- Os iranianos não tinham as bombas, mas eu tenho. Meus militares estão trabalhando na miniaturização de armas nucleares neste exato momento. Em breve, terei condições de lançar mísseis capazes de atingir o oeste dos Estados Unidos. Isso conseguirá chamar a atenção deles.

- Grande Líder, já está atraindo mais atenção do que deveria. A Frota do Pacífico dos Estados Unidos está no mar do sul da China. Seu objetivo principal é enviar uma mensagem aos chineses depois de eles terem ocupado ilegalmente algumas ilhas desertas, mas também estão lá para deixá-lo cercado. Voaram impunemente dentro do seu espaço aéreo com caças invisíveis F-22, e estão trazendo bombardeiros B-52, capazes de transportar armas nucleares. Se lançar um míssil rumo a qualquer lugar próximo à zona de interesse deles, os americanos irão atacá-lo com tudo para se vingar. Se lançar suas armas nucleares para onde elas não deveriam ir, os americanos irão transformar o seu país num enorme pátio de estacionamento.

- Não antes de eu ter apagado Seul do mapa.

Belcour começava a perder a paciência com a obstinação daquele Calígula asiático. Sabia que precisava encontrar alguma solução para demovê-lo daquela irracionalidade.

- Grande Líder, não pode esperar que a China continue a apoiá-lo se soltar bombas atômicas nos seus vizinhos, nem precisa ser nos Estados Unidos. A China agora tem laços econômicos muito fortes com os Estados Unidos e a Europa. Não teriam nada a ganhar entrando em guerra com seus maiores clientes.

- Os chineses continuarão me apoiando, porque não têm outra opção.

- Novamente, eu não contaria mais com isso. De qualquer modo, se começar uma guerra, você não tem recursos para resistir por mais do que umas poucas semanas. Pode se vangloriar de suas armas nucleares mas, se chegar a usá-las, isso causará o fim do seu regime e do seu povo. Peço desculpas se estiver sendo demasiadamente direto e objetivo.

- Vamos supor que você tenha razão, Belcour. Qual é o seu plano?

Belcour sorveu mais um gole de champanhe e falou como se estivesse dando uma aula.

- Grande Líder, precisamos desviar a atenção dos poderes ocidentais de sua pessoa, para permitir a execução de certas ações destinadas a melhorar a situação estratégica do seu país. Esta é a minha sugestão: use um dos seus valiosos ativos para criar um tumulto capaz de forçar os aliados a posicionarem seu aparato bélico em outro lugar e prestarem menos atenção no que você pretende fazer.

- De que ativos está falando, Belcour?

- Das suas bombas nucleares, é claro. Tudo o que precisamos é “perder” uma delas, ganhar uns trocados vendendo-as aos terroristas do Oriente Médio, e deixar as coisas acontecerem.

Kim parou para pensar.

- Sem dúvida, os terroristas irão usar essas armas, e pouco me importa se o fizerem. O problema é que os americanos serão capazes de rastrear o material nuclear até sua origem. Então eles virão atrás do meu país.

- É verdade, Grande Líder, a menos que sejamos suficientemente espertos com a maneira de fazer isso.

- Sou todo ouvidos. – respondeu Kim.

3. UMA NOITE TRANQUILA

C

omo Aara e sua amiga Marietta haviam viajado numa excursão musical para o norte do estado de Nova York, Tess e Jake resolveram desfrutar de um jantar sossegado em casa, um apartamento situado num arranha-céu em Manhattan. Jake telefonou para alguns restaurantes, pedindo para entregarem alguns de seus pratos favoritos. Missão cumprida, acomodaram-se em sua rotina habitual: Tess assistia ao noticiário na TV enquanto acariciava Maggie, uma bonita cadela da raça Cavalier King Charles Spaniel. Jake foi para seu estúdio e sentou-se diante do computador. Assim que se sentou, Sebastian, seu buldogue inglês, também conhecido como Tubby, Miolo-Mole e outros nomes, todos eles sugestivos de uma mente inepta, achegou-se a ele e deitou sua cabeça pelancuda sobre seus sapatos.

Dez anos se passaram até Tess e Jake resolverem ter animais de estimação. Tess gostava de Cavs desde jovem e, quando saiu à procura de um cão, apaixonou-se por um filhote do tipo Blenheim, uma fêmea castanha e branca. Ela queria um companheiro para Maggie, porém Jake insistiu em direitos iguais. Ele sempre desejara ter um buldogue inglês e, quando viu um filhote castanho-avermelhado e branco, que parecia uma bola de bilhar com o dobro do peso, escolheu, e decidiu que aquele seria o seu cão. Na verdade, quem fez a escolha foi o filhote, dando uma lambida bem babada no rosto de Jake, tornando a aquisição inevitável. Assim o casal passeava com os cães que os vizinhos e amigos chamavam de “a Bela e a Fera”. Como Jake e Tess viajavam muito, contrataram uma cuidadora de cães chamada Marietta, estudante de intercâmbio que viera de Viena para estudar música e medicina veterinária. Ela morava com eles no seu espaçoso apartamento em Nova York, e logo se tornou amiga e confidente de Aara.

Jake verificou seus investimentos e leu diversos noticiários no computador, equipado com dois monitores de tela plana. Os investimentos não lhe tomaram muito tempo. Jake fora um brilhante corretor em Wall Street, e conseguia aumentar sua fortuna analisando as tendências e padrões do mercado financeiro com argúcia e conhecimento. Fazia transações quase que diariamente, e saía delas com bons rendimentos, agregando-os ao seu já considerável patrimônio.

Jake não confiava em nenhuma fonte noticiosa específica, e punha George Kimmel, o especialista em inteligência da empresa, a lhe compilar rotineiramente diversas notícias e outras informações relevantes. Jake contava com uma memória fantástica e lia com extrema rapidez, o que lhe permitia digerir rapidamente e reter quantidades formidáveis de informação. A leitura do material não lhe consumia mais de meia hora.

Jack balançou a cabeça em desânimo. A situação mundial, que já era ruim, estava piorando. Parecia haver uma corrida armamentista em disparada. Depois de ter tomado a península da Crimeia da Ucrânia, a Rússia passou a reforçar seu armamento e exibir novos tanques e aviões de combate nas exposições internacionais. A OTAN reagiu, fazendo exercícios militares com equipamentos adicionais fornecidos pelos Estados Unidos.

A Coreia do Norte, ainda furiosa com a recusa americana à negociação, agitava seu sabre e fazia testes com mísseis balísticos. A China construía freneticamente novos aviões e barcos de guerra, e se apoderava de várias ilhas desabitadas no mar do sul da China. Defendendo seus direitos de usucapião, começou a construir pistas de pouso e instalações aeronáuticas nesses pequenos pontos de terra no meio do oceano.

Não obstante a constituição japonesa pós-guerra proibir o país de criar forças militares de ataque, o Japão estava montando embarcações militares bem sofisticadas e equipando sua força aérea com aviões de combate projetados pelos americanos.

No Oriente Médio, a confusão desestabilizadora causada pela invasão americana e a Primavera Árabe haviam se metabolizado no Estado Islâmico, um califado horrendo. Para piorar a situação, milhares de desabrigados da Síria, Afeganistão e países africanos estavam indo procurar refúgio na Europa, cruzando o Mediterrâneo, ou por rotas terrestres pela Turquia e Grécia, atravessando os Bálcãs.

No Mediterrâneo, entre a Líbia e a Itália, traficantes de pessoas operando um navio de refugiados que estava fazendo água tentaram passar as pessoas para uma embarcação maior, superlotada. Durante a transferência, o navio maior adernou e afundou. Os refugiados ficaram à deriva por três dias até serem localizados e resgatados pela marinha italiana. Cerca de 500 pessoas pereceram.

Os europeus clamavam para que seus governos fizessem algo para sustar o influxo de refugiados para seus países. Todavia um aumento no rigor, por si só, não conseguiu impedir as pessoas que tentavam migrar para a Europa. Havia uma necessidade premente de combater os traficantes que, ao perceberem qualquer problema, despejavam os refugiados em alto mar e voltavam correndo para a Líbia.

Como estudioso da História, Jake estava apreensivo. Havia tantas coisas que poderiam sair erradas, que essa situação poderia se transformar numa calamidade mundial. A I Guerra Mundial começara com muito menos desafios. Ele desligou o computador e voltou para a sala de estar.

A hora de jantar se aproximava, então ele chegou por trás de Tess, que ainda assistia ao noticiário. Envolveu-a em seus braços e deu-lhe uma mordiscada na nuca.

- Se você acha que com isso irá conseguir alguma coisa, está certo. - comentou Tess.

- Espero que sim.

- Então seja um bom menino e sente-se ao meu lado.

Jake serviu dois uísques de puro malte e atendeu ao pedido.

- Quando você quer sentar para conversar, geralmente é sinal de problemas.

- Não seja tão pessimista, Jake. Acabei de ver a situação dos refugiados na Europa. Quase um milhão de pessoas do Oriente Médio entraram na Alemanha. A Itália está repleta, a França não quer nenhum deles, e a Europa Oriental fechou as fronteiras. Os britânicos estão se escondendo atrás do canal. Nunca vi tamanha confusão.

- É uma bagunça, concordo. Ninguém tem ideia de como conter o êxodo de tanta gente desses países falidos. Para piorar, uma multidão de sírios está fugindo das áreas controladas pelo Estado Islâmico. Como não têm para onde ir, escapam para a Turquia, e de lá tentam chegar à Europa.

- E tem mais. – Tess acrescentou - Centenas de africanos morreram afogados tentando cruzar o Mediterrâneo. Isso é horrível. Devíamos tentar fazer alguma coisa.

Um alarme disparou dentro da cabeça de Jake.

- Tess, sempre que você diz que deveríamos fazer alguma coisa, isso acaba virando um grande transtorno. Preciso lembrá-la daquele ano que passamos trabalhando no tráfico de pessoas? Ocupou a nossa equipe inteira, e quase quebrou a empresa.

- Não exagere. Você teve a brilhante ideia de reunir as garotas para fazer concertos beneficentes, e deu tudo certo. Ainda fazemos isso, e a maior parte do dinheiro vai para obras assistenciais.

- Beleza! Então vamos procurar mais situações fora do nosso controle.

- Por que não podemos tentar ajudar a resolver o problema dos refugiados? Tenho certeza de que o pessoal não vai se incomodar em participar.

- Não acho, Tess. Nosso pessoal ficou decepcionado ao ter tão pouco resultado para mostrar, depois de um ano inteiro se arriscando para combater traficantes de pessoas. Tenho certeza de que seria uma luta morro acima tentar convencê-los a embarcarem numa aventura fútil.

- Jake, por que você é sempre tão negativo quando eu proponho alguma coisa para fazer? Às vezes acho que você não quer me apoiar.

- Tess, eu sempre ajudei você, mesmo quando foi atrás de ideias malucas, mas agora precisamos ser seletivos quanto aos projetos que formos assumir. Essa crise de refugiados é uma ameaça à estabilidade da Europa. Com certeza, não temos condições de ajudar. Não é da nossa conta, e na última vez em que tentamos ser bons samaritanos, nos queimamos. Sei que você se importa com as coisas mas, desta vez, por favor, deixe as autoridades resolverem o problema sozinhas. Esqueça isso.

- Certo, Jake. Vamos adiar esta discussão. Mas ainda quero pensar um pouco mais sobre isso.

- É disso que eu tenho medo, querida. Quando você tem uma ideia maluca, não a deixa morrer.

Tess lançou-lhe um olhar enfezado.

O porteiro tocou o interfone, e Jake fez o entregador de comida entrar no apartamento. Receoso de que suas papilas gustativas fossem maltratadas, Jake, o gourmand, havia encomendado delivery dos melhores restaurantes de Nova York. Tess não ligava a mínima, preferindo um belo e suculento bife ou hambúrguer. Depois de tantos anos de convívio, o casal ainda não havia reconciliado suas preferências gastronômicas. Tess raramente se rendia aos caprichos culinários de Jake, e ele não conseguia entender como alguém poderia ser feliz comendo apenas um bife com batatas.

Jake ansiosamente abriu todas as embalagens e espalhou as iguarias sobre a mesa de jantar. Abriu o primeiro pacote e o colocou diante de Tess.

- Aqui está o seu steak burger com batatas fritas.

Então dobrou uma toalha sobre o antebraço e começou a sua protagonização de um maître d’hôtel, cheio de empáfia.

- Madame, para deleite do seu paladar, também oferecemos uma seleção esmerada de pratos deliciosos: polvo do Blue Duck Tavern, com milho, menta e farro; camarões na brasa com manteiga de castanha e molho tamari, coração de aipo, e radicchio de Treviso. Também pode apreciar costeletas de porco ao limão, e nhoque com molho picante e ervas aromáticas. E aqui temos a felicidade de poder experimentar maltagliati com kimchi e guanciale, uma carne italiana curada das bochechas do porco e, para a sobremesa, podemos fechar com torta de pêssego assada em panela de ferro com sorvete de leitelho. Tudo isso não é delicioso?

O discurso inteiro soou como grego para Tess. Ela começou o seu hambúrguer e lançou um olhar de dúvida a ele.

- Se você acha, Jake...

- Tess, seu entusiasmo é como uma ducha gelada para mim. Com o tempo, eu esperava conseguir ampliar o seu repertório gastronômico.

- Já tentamos isso, Jake; eu não ligo para comida chique.

- Às vezes fico pensando que você gostaria de comer bife todos os dias, mesmo sabendo que ele entope as suas artérias.

- Como verduras e salada na maioria das vezes.

Jake fez um gesto teatral, pondo as mãos na cabeça.

- E eu continuo tentando seduzir minha amada com esplêndidos repastos, todavia sem o mais tênue sinal de sucesso.

Tess sorriu.

- Você me seduziu há muito tempo, mas sou capaz de mudar de ideia se continuar tentando me alimentar com coisas estranhas.

- Isso me leva ao pináculo do desespero! – exclamou Jake, imitando um ator dramático. - Eu até poderia me consolar impedindo que todo este delicioso repasto fosse parar no lixo.

- Vá com tudo, meu bem. Receio que a comida seja a fonte da incompatibilidade entre nós. Eu lhe daria um fora se você não fosse tão gostoso.

- Acolho qualquer elogio que venha de você, mesmo que seja indireto.

Jake, embevecido, saboreava seus acepipes.

Depois de algum tempo, Tess levantou-se, empurrou a cadeira de Jake sobre os rodízios e sentou-se no seu colo, abraçando-o pelo pescoço. Quando ela fazia isso, só poderia significar uma coisa, para deleite de Jake.

Tess o beijou.

- Hum, seu gosto não é nada mau, levando em conta o que andou comendo. Agora, será que posso tirá-lo do banquete de coisas nojentas para vir brincar comigo?

- Nem preciso pensar.

Jake rapidamente desabotoou a blusa dela e tirou-lhe o sutiã.

- Gosto muito deles. Pôs a boca sobre seu mamilo direito.

Tess suspirou. Entre lambidas, Jake não resistiu e disse:

- Há um único pecado que Deus não perdoa, que é negar o prazer a uma mulher que tem desejo.

Tess reclinou-se para trás, apreciando intensamente a brincadeira de Jake em seu peito.

- Zorba, o grego?

- Um sábio filósofo. - disse Jake em meio às carícias com a língua. - Ele sabia descrever exatamente como é o paraíso.

- Vamos para a cama, Jake.

- Por que não ficamos aqui? Ouse sair da rotina, meu bem.

- Vamos para a cama.

Tess tomou Jake pela mão e tomou o rumo do quarto. No caminho, foram deixando cair suas roupas, iniciando o ato de amor.

Jake deitou-se de costas na cama. Tess se esgueirou entre as pernas dele, e começou a lamber seu obelisco intumescido. Ela adorava segurá-lo nas mãos, acariciá-lo lentamente e admirar a macheza incircuncisa de Jake. Ela sempre apreciara o belo instrumento de Jake, e lentamente o acolheu dentro da sua boca, suas carícias sedosas arrancando suspiros de prazer do parceiro. Ela então se afastou e lambeu o comprimento inteiro do membro, até ficar excitada também. Passou para cima dele e abraçou-o entre suas pernas. Descendo sobre ele, recebeu-o dentro de si, até que ele desapareceu dentro dela. Ficou parada um pouco, sentido frêmitos de prazer. Então ela se moveu para cima e para baixo, de olhos cerrados, sentido o prazer tomando conta de si. Repentinamente um orgasmo sacudiu seu corpo inteiro, e ela gemeu de prazer.

Jake permaneceu imóvel, contemplando a mulher a quem dera prazer. Ele adorava fitá-la, seu corpo ágil e atlético se mexendo em cima dele, sabendo que ele era o instrumento daquela felicidade.

Tess caiu dobre o peito dele e o beijou.

- Possua-me, Jake. Agora.

- Não precisa se afobar. Vamos brincar um pouco.

- Goze dentro de mim, eu quero!

Jake a ajudou a deitar-se de costas, passou para cima dela, e voltou a penetrá-la. Tess estava pronta para lhe dar o que ele queria, mas Jake ainda estava longe de chegar ao clímax, que nem era tanto o que ele queria. Seu desejo era quase voyeurístico. Ele adorava ser o instrumento do deleite de Tess. Gostava da tensão no corpo dela, de senti-la por dentro com a sua masculinidade, a ascensão gradual da sua paixão culminar em espasmos de prazer. Só então ele faria a sua parte, depois de poucos lances.

Depois, Tess manifestou sua queixa habitual.

- Por que não goza junto comigo, Jake? Por que precisa tanto esperar eu terminar?

Jake a beijou.

- Porque para mim é mais importante dar prazer a você primeiro, sentir o seu corpo tremer, saber que estou lhe dando esse prazer.

- Você não emite um único som quando goza. Às vezes chego a pensar que me amar é só mais uma tarefa para você.

- Queria que você parasse de dizer bobagens e me deixasse lhe dar prazer.

Pouco depois adormeceram, abraçados.

Jake acordou no meio da noite, e resolveu tomar um copo de leite. Sentado na escuridão da sala, ele se achou um homem de sorte por ter uma mulher como Tess, embora às vezes desejasse que ela o deixasse tomar a iniciativa em muitas coisas. Tess tinha uma personalidade controladora e, de muitas formas, dominava o relacionamento. Era sempre ela quem iniciava as atividades amorosas, e fazia questão de que fosse do jeito que ela queria. No início do relacionamento, Jake tentou iniciar o ato sexual, mas Tess logo o fazia desistir, se ela não estivesse com vontade.

Para uma mulher tão bonita e em boa forma, Tess era muito inibida. Certa vez Jake a erguera na bancada de granito da cozinha, e fizera amor com ela, em pé. Ele queria ver o corpo dela diante de si enquanto lhe dava prazer. Seu momento supremo era vê-la deitada de costas enquanto ele a levava ao clímax. Mas o seu próprio prazer não era importante; ele apreciava mais o processo do que uma satisfação rápida, porque sabia como tudo iria terminar. Todavia Tess não gostava de se expor. Cobriu os seios com as mãos, para sinalizar que estava se sentindo vulnerável. Ela nunca mais o deixou fazer amor daquele jeito.

Embora o casal tivesse se habituado a uma rotina, Jake não se importava muito com isso. Tess se sentia suficientemente sensual, e jamais deixara de lhe dar montes de prazer. Ele não tinha muito do que se queixar, ponderou. Não tinha o menor apreço por perversões sexuais, coisas bizarras. Queria apenas se deleitar com Tess, seu verdadeiro amor. Agradá-la era a coisa mais importante do mundo, embora às vezes desejasse vê-la disposta a dialogar sobre fazer as coisas de um modo diferente.

Afugentou esse pensamento da mente, voltou para a cama, e se encaixou perto dela, para sentir aquele maravilhoso perfume e tocar sua pele macia. Depois de ter feito amor, uma boa noite de sono deixava tudo melhor.

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