Kitabı oku: «Atraídas », sayfa 2
CAPÍTULO DOIS
Riley ficou logo abatida quando vislumbrou duas fotos visíveis nos ecrãs acima da mesa de reuniões da UAC. Uma delas era a foto de uma rapariga despreocupada com olhos claros e um sorriso cativante. A outra mostrava o seu cadáver, horrivelmente macilento, os braços apontando em direções estranhas. Tendo em consideração que lhe tinham ordenado participar naquela reunião, Riley partiu logo do princípio que deveria haver outras vítimas como aquela.
Sam Flores, um técnico laboratorial sagaz com óculos de aros escuros, operava o dispositivo multimédia na presença de quatro outros agentes sentados à volta da mesa.
“Estas fotos são de Metta Lunoe, dezassete anos,” Disse Flores. “A família vive em Collierville, New Jersey. Os pais participaram o seu desaparecimento em Março – uma fuga.”
Acrescentou à apresentação um mapa do Delaware, indicando um local em específico com um ponteiro.
Disse, “O corpo apareceu num campo à saída de Mowbray, Delaware, no dia 16 de Março. O pescoço foi partido.”
Flores mostrou outras duas imagens – numa era possível ver outra jovem de aspeto vigoroso e na outra a mesma rapariga, simplesmente irreconhecível com os braços esticados de uma forma semelhante à vítima anteriormente mostrada.
“Estas fotos são de Valerie Bruner, também com dezassete anos, também fugitiva de Norbury, Virginia. Desapareceu em Abril.”
E Flores indicou outro local no mapa.
“O corpo foi encontrado largado numa estrada de terra batida perto de Redditch, Delaware no dia 12 de Junho. Trata-se obviamente do mesmo MO. O Agente Jeffreys foi chamado para investigar.”
Riley ficou alarmada.Como é que o Bill trabalhara num caso em que ela não estava envolvida? Depois lembrou-se. Ela tinha estado hospitalizada em Junho devido às mazelas deixadas pelo cativeiro de Peterson. Mesmo assim, o Bill tinha-a visitado com frequência no hospital e nunca tinha feito qualquer referência àquele caso.
Voltou-se para Bill.
“Porque é que não me falaste nisto?” Perguntou.
O rosto de Bill estava sombrio.
“Não era o melhor momento,” Disse ele. “Tinhas os teus próprios problemas.”
“Quem foi o teu parceiro?” Questionou Riley.
“O Agente Remsen.”
Riley reconheceu o nome. Bruce Remsen tinha sido transferido para outro local antes dela ter regressado ao trabalho.
Então, depois de uma breve pausa, Bill acrescentou, “Não consegui resolver o caso.”
Riley compreendeu a sua expressão e tom. Após tantos anos de amizade e trabalho conjunto, ela conhecia Bill melhor do que ninguém. E percebeu o quão profundamente desapontado estava consigo próprio.
Flores exibiu as fotos tiradas pelo médico-legista das costas nuas das raparigas. Os cadáveres estavam de tal forma degradados que mal pareciam reais. As costas tinham cicatrizes antigas e vergões recentes.
Riley sentiu um desconforto agudo. E fora apanhada de surpresa por essa sensação. Desde quando é que ficava perturbada com fotos de cadáveres?
Flores prosseguiu, “Antes dos pescoços serem partidos, estavam praticamente mortas de fome. Também foram espancadas e o mais certo é que o tenham sido durante muito tempo. Os corpos foram levados para os locais onde foram encontrados post mortem. Não sabemos onde terão sido mortas.”
Tentando vencer o seu crescente desconforto, Rilley refletiu nas semelhanças com os casos que ela e Bill tinham resolvido nos últimos meses. O “assassino das bonecas” deixava os corpos nus das vítimas em lugares onde pudessem ser facilmente encontradas e em posições grotescas. O “assassino das correntes” pendurava os corpos das vítimas envoltas em correntes pesadas.
Agora Flores mostrava a foto de outra jovem mulher – uma ruiva de aspeto risonho. Ao lado da foto encontrava-se a imagem de um velho Toyota.
“Este carro pertencia a uma imigrante Irlandesa de vinte e quatro anos chamada Meara Keagan,” Declarou Flores. “O seu desaparecimento foi participado ontem de manhã. O seu carro foi encontrado abandonado junto a um prédio em Westree, Delaware. Trabalhava lá para uma família como criada e ama.”
Agora era a vez do Agente Especial Brent Meredith falar. Meredith era um Afro-Americano altivo, grande, com traços angulares e uma atitude racional.
“Saiu do turno às 23:00 na noite de anteontem,” Disse Meredith. “O carro foi encontrado cedo na manhã seguinte.”
O Agente Especial Responsável Carl Walder debruçou-se para a frente. Era o chefe de Brent Meredith – um homem sardento com rosto de menino e cabelo acobreado encaracolado. Riley não gostava dele. Não o considerava particularmente competente. E é claro que também não ajudava a este juízo o facto de ele já a ter despedido.
“Porque é que estamos a partir do princípio que este desaparecimento está relacionado com aqueles crimes?” Perguntou Walder. “A Meara Keagan é mais velha do que as outras vítimas.”
Chegara a vez de Lucy Vargas intervir. Lucy era uma novata jovem e inteligente com cabelo e olhos negros, e um tom de pele bronzeado.
“A resposta está no mapa. Keagan desapareceu na mesma área onde os dois corpos foram encontrados. Pode ser uma coincidência, mas parece-me altamente improvável. Não tratando-se de um período de cinco meses, todos tão próximos.”
Apesar do seu crescente desconforto, Riley gostou de ver Walder estremecer ligeiramente. Sem qualquer intenção, Lucy tinha-o remetido à sua insignificância. Riley só esperava que ele não encontrasse uma forma de se vingar de Lucy mais tarde. Walder podia ser mesquinho a esse ponto.
“Exatamente, Agente Vargas,” Disse Meredith. “Pensamos que as raparigas mais novas foram raptadas quando pediam boleia, provavelmente na autoestrada que atravessa esta área.” E apontou para uma linha específica no mapa.
Lucy perguntou, “Não é proibido pedir boleia no Delaware?” E acrescentou, “É claro que é uma situação difícil de aplicar.”
“Sem dúvida,” Disse Meredith. “E esta nem sequer é uma interestadual ou a maior autoestrada do estado, por isso o mais certo é usarem-na para esse fim. E parece que os assassinos também. Um corpo foi encontrado junto a esta estrada e os outros dois a menos de 16 quilómetros dela. Keagan foi levada a cerca de 96 quilómetros a norte dessa mesma estrada. Mas com ela o raptor usou um estratagema diferente. Se ele seguir o seu padrão habitual, vai mantê-la viva até estar perto de morrer à fome. Depois, parte-lhe o pescoço e livra-se do corpo da mesma forma.”
“Não vamos permitir que isso aconteça,” Disse Bill num tom de voz rígido.
Meredith disse, “Agentes Paige e Jeffreys, quero que comecem já a trabalhar nisto.” Empurrou uma pasta repleta de fotos e relatórios na direção de Riley. “Agente Paige, aqui tem toda a informação de que precisa para ficar a par de tudo.”
Riley fez um movimento para pegar na pasta, mas a mão retraiu-se num espasmo de horrível ansiedade.
O que é que se passa comigo?
A sua cabeça andava à roda e imagens desfocadas começaram a assumir forma no seu cérebro. Seria isto o SPT do caso Peterson? Não, era algo diferente, algo completamente diferente.
Riley levantou-se e saiu da sala de reuniões. Ao percorrer o corredor na direção do seu gabinete, as imagens na sua cabeça tornaram-se mais nítidas.
Havia rostos – rostos de mulheres e raparigas.
Riley viu Mitzi, Koreen e Tantra – jovens acompanhantes cujo vestuário respeitável escondia a sua degradação até delas próprias.
Viu Justine, uma prostituta envelhecida debruçada sobre uma bebida num bar, cansada e amarga, completamente preparada para morrer de uma morte horrível.
Viu Chrissy, virtualmente prisioneira do seu marido violento e proxeneta num bordel.
E pior que tudo, viu Trinda, uma menina de quinze anos que já tinha vivido um pesadelo de exploração sexual e que não se conseguia imaginar a ter outra vida.
Riley chegou ao seu gabinete e rapidamente se atirou para uma cadeira. Agora compreendia o seu ataque de repugnância. As imagens que acabara de ver haviam desencadeado aquelas memórias dolorosas. Tinham trazido à superfície as suas mais sombrias dúvidas sobre o caso de Phoenix. É verdade que tinha apanhado um assassino brutal, mas sentia que não fizera justiça às mulheres e raparigas que conhecera. Todo um mundo de exploração permanecia inalterado, impune. Riley não tinha sequer conseguido arranhar a superfície dos males que aquelas mulheres tinham que suportar.
E agora vivia assombrada e perturbada de uma forma que nunca antes lhe sucedera. E parecia-lhe algo bem pior que o SPT. No final de contas, ela podia libertar a sua raiva e horror num ginásio de pugilismo, mas não tinha forma de se livrar daqueles novos sentimentos.
E conseguiria ela trabalhar noutro caso como o de Phoenix?
Ouviu a voz de Bill à porta.
“Riley.”
Ergueu o olhar e viu o seu parceiro a observá-la com uma expressão triste. Segurava na pasta que Meredith lhe tentara dar.
“Preciso de ti neste caso,” Disse Bill. “É pessoal para mim. Não o ter conseguido resolver deixa-me louco. E não consigo deixar de pensar se terei falhado porque o meu casamento estava a desmoronar. Conheci a família da Valerie Bruner. São boas pessoas. Mas não mantive o contacto porque… Bem, porque os desiludi. Tenho que os compensar de alguma forma.”
Bill colocou a pasta em cima da secretária de Riley.
“Lê isto. Por favor.”
E saiu do gabinete de Riley. Ela ali permaneceu sentada, indecisa, a fitar o dossiê.
Nem parecia dela. Ela sabia que tinha que reagir.
Enquanto refletia, lembrou-se de algo relacionado com Phoenix. Tinha conseguido salvar uma rapariga chamada Jilly. Ou pelo menos tinha tentado.
Ligou para o número do abrigo para adolescentes em Phoenix, Arizona. Atendeu uma voz familiar.
“Fala Brenda Fitch.”
Riley ficou contente por Brenda ter atendido a chamada. Tinha estado em contacto com ela no caso de Phoenix.
“Olá Brenda,” Saudou. “Fala Riley. Lembrei-me de perguntar como está a Jilly.”
Jilly era uma menina que Riley tinha salvo do tráfico sexual – uma menina magricela de cabelo negro com treze anos. Jilly tinha como única família um pai violento. Riley ligava de vez em quando para saber como é que ela estava.
Riley ouviu um suspiro do outro lado da linha.
“Que bom ter ligado,” Disse Brenda. “Quem me dera que mais pessoas mostrassem alguma preocupação. A Jilly continua connosco.”
Riley ficou triste. Esperava que algum dia ligasse para o abrigo e lhe fosse dito que a Jilly tinha sido acolhida por uma família adotiva carinhosa. Mas o dia ainda não tinha chegado. Riley ficou preocupada.
Disse, “Da última vez que falámos, receava que tivesse que a mandar para junto do pai.”
“Oh, não, isso já está resolvido. Já temos uma ordem judicial para ele não se aproximar dela.”
Riley suspirou de alívio.
“A Jilly pergunta muitas vezes por si,” Disse Brenda. “Quer falar com ela?”
“Sim, por favor.”
Riley ficou à espera. E enquanto esperava pensou se seria boa ideia falar com Jilly. Sempre que falava com ela, acabava sentindo-se culpada. Não compreendia porque é que se sentia assim. Afinal, tinha salvo Jilly de uma vida de exploração e violência.
Mas tinha-a salvo para quê? Pensava. Com que tipo de vida podia Jilly sonhar?
Finalmente, ouviu a voz de Jilly.
“Olá, Agente Paige.”
“Quantas vezes é que tenho que te dizer para não me chamares isso?”
“Desculpe. Olá Riley.”
Riley deu uma risadinha.
“Olá Jilly. Como estás?”
“Acho que bem.”
O silêncio ocupou a distância entre ambas.
Uma típica adolescente, Pensou Riley. Era sempre difícil convencer Jilly a falar.
“Então, que fazes?” Perguntou Riley.
“Acabei de acordar,” Disse Jilly com uma voz ainda rouca. “Vou tomar o pequeno-almoço.”
Só então Riley se apercebeu que eram menos três horas em Phoenix.
“Desculpa ter ligado tão cedo,” Disse Riley. “Esqueço-me sempre da diferença horária.”
“Não faz mal. Gosto que ligue.”
Riley ouviu um bocejo.
“Então, hoje vais para a escola?” Perguntou Riley.
“Sim. Deixam-nos sair da prisa todos os dias para fazermos isso.”
Era uma piadinha de Jilly, chamar o abrigo de “prisa” como se estivesse numa prisão. Riley não achava piada nenhuma.
Por fim, Riley disse, “Bem, vou deixar-te tomar o pequeno-almoço e preparares-te para a escola.”
“Ei, espere,” Interpelou Jilly.
Outro momento de silêncio se instalou. Pareceu a Riley ouvir Jilly conter um soluço.
“Ninguém me quer, Riley,” Desabafou Jilly, chorando. “As famílias adotivas nunca me querem. Não gostam do meu passado.”
Riley ficou impressionada.
O seu “passado”? Pensou. Meu Deus, como é que uma menina de treze anos pode ter um “passado”? O que é que se passa com as pessoas?
“Lamento,” Disse Riley.
Jilly falava hesitantemente no meio das lágrimas.
“É que… Bem, sabe, é… Quero dizer, Riley, parece que você é a única pessoa que se preocupa.”
Riley sentiu um nó na garganta e os olhos a marejarem de lágrimas. Não conseguiu responder.
Jilly continuou, “Não podia viver consigo? Eu não dou muito trabalho. Tem uma filha, não é? Ela pode ser como uma irmã. Podemos cuidar uma da outra. Tenho saudades suas.”
Riley lutava para conseguir falar.
“Eu… Não me parece que isso seja possível, Jilly.”
“Porque não?”
Riley estava desfeita. A pergunta atingiu-a como uma bala.
“Simplesmente… Não é possível,” Disse Riley.
Ainda ouvia Jilly a chorar.
“Ok,” Respondeu Jilly. “Tenho que ir tomar o pequeno-almoço. Adeus.”
“Adeus,” Disse Riley. “Telefono em breve.”
Jilly desligou o telefone. Riley debruçou-se sobre a secretária com as lágrimas a correrem-lhe pelo rosto. A pergunta de Jilly continuava a ecoar na sua cabeça…
“Porque não?”
Havia milhares de razões. April já lhe dava tanto que fazer. O seu trabalho consumia em demasia o seu tempo e energia. E estaria ela qualificada ou preparada para lidar com as cicatrizes psicológicas de Jilly? É claro que não.
Riley limpou os olhos e endireitou-se na cadeira. Deixar-se levar pela autocomiseração não a ajudaria. Chegara a altura de voltar ao trabalho. Havia raparigas a morrer e elas precisavam dela.
Pegou no dossiê e abriu-o. Chegara o momento, pensou, de regressar à arena?
CAPITULO TRÊS
Mafarrico estava sentado no seu baloiço no alpendre a observar as crianças a circular nos seus fatos de Halloween. Geralmente gostava que lhe viessem bater à porta, mas naquele ano parecia-lhe uma ocasião agridoce.
Quantos destes miúdos vão estar vivos daqui a algumas semanas? Pensou.
Suspirou. Provavelmente nenhum. O prazo limite aproximava-se e ninguém prestava atenção às suas mensagens.
As correias do baloiço do alpendre chiavam. Caía uma chuva leve e quente, e Mafarrico esperava que as crianças não se constipassem. Tinha um cesto com doces no colo e estava a ser muito generoso. Fazia-se tarde e, em breve, não haveria mais crianças.
Na mente de Mafarrico ainda conseguia ouvir o avô a reclamar, apesar do velho rabugento ter morrido há vários anos. E não importava que Mafarrico já fosse adulto, nunca se libertava das tiradas do velho.
“Olha só para aquele com a capa e máscara de plástico preta,” Dissera o avô. “É suposto aquilo ser um fato?”
Mafarrico só esperava que ele e o avô não fossem ter outra discussão.
“Está vestido de Darth Vader, avô,” Disse.
“Não quero saber de que é que está vestido. É um fato barato comprado numa loja. Quando tínhamos que te vestir, fazíamos sempre os teus fatos.”
Mafarrico lembrava-se bem desses fatos. Para o transformar numa múmia, o avô embrulhava-o em lençóis rasgados. Para o transformar num cavaleiro andante, o avô cobria-o com uma pesada tabuleta para cartazes de alumínio e carregava uma lança feita do cabo de uma vassoura. Os fatos do avô eram sempre criativos.
Ainda assim, Mafarrico não recordava esses Halloweens com saudade. O avô praguejava e queixava-se sempre enquanto lhe vestia os fatos. E quando Mafarrico regressava a casa da recolha de doces… Por um instante, Mafarrico sentiu-se novamente um rapazinho. Ele sabia que o avô tinha sempre razão. Mafarrico nem sempre entendia porquê, mas isso não importava. O avô tinha razão e ele não. Era assim que as coisas eram. Era assim que as coisas sempre tinham sido.
Mafarrico ficara aliviado quando já era demasiado velho para andar de porta em porta a pedir doces. Desde então, era livre de se sentar no alpendre para dar doces às crianças. Ficava feliz por elas. Ficava feliz por desfrutarem da infância, mesmo que ele não tivesse tido essa sorte.
Três crianças subiram até ao alpendre. Um rapaz estava vestido de Homem-Aranha, uma menina de Catwoman. Aparentavam ter cerca de nove anos. O fato da terceira criança arrancou um sorriso a Mafarrico. Uma menina com cerca de sete anos envergava um fato de abelhão.
“Doçura ou travessura!” Gritaram em uníssono em frente a Mafarrico.
Mafarrico riu-se e remexeu o cesto à procura de doces. Deu-lhes alguns, eles agradeceram e foram-se embora.
“Para de lhes dar doces!” Rosnou o avô. “Quando é que vais deixar de encorajar estas pestes?”
Mafarrico desafiava silenciosamente o avô há já algumas horas. Pagaria por isso mais tarde.
Entretanto, o avô ainda rabujava. “Não te esqueças, temos trabalho a fazer amanhã à noite.”
Mafarrico não respondeu, limitou-se a ouvir o baloiço a chiar. Não, ele não esqueceria o que tinha que ser feito amanhã à noite. Era um trabalho sujo, mas tinha que ser feito.
*
Libby Clark seguiu o irmão mais velho e a prima na direção do bosque escuro nas traseiras dos quintais do bairro. Ela não queria estar ali. Ela queria estar em casa aninhada no conforto da sua cama.
O irmão, Gary, iluminava o caminho com uma lanterna. Parecia estranho no seu fato de Homem-Aranha. A prima Denise seguia Gary no seu fato de Catwoman. Libby trotava desconfortavelmente atrás dos dois.
“Venham daí,” Instigou Gary, avançando destemidamente.
Ele e Denise passaram por entre dois arbustos sem problemas, mas o fato de Libby era tufado e ficou preso em alguns ramos. Agora tinha algo mais com que se preocupar. Se o fato de abelhão ficasse estragado, a mamã passava-se. Libby conseguiu libertar-se e apressou-se para os apanhar.
“Quero ir para casa,” Disse Libby.
“Força,” Disse Gary.
Mas é claro que Libby tinha demasiado medo para voltar para trás. Já tinham andado demais. Ela não se atreveria a regressar sozinha.
“Talvez devêssemos mesmo voltar,” Aventou Denise. “A Libby está com medo.”
Gary parou e voltou-se. Libby desejava poder ver o seu rosto atrás da máscara.
“Qual é o problema, Denise?” Perguntou. “Também tens medo?”
Denise riu nervosamente.
“Não,” Disse. Libby percebeu que ela estava a mentir.
“Então venham daí,” Desafiou Gary.
O pequeno grupo continuou a caminhar. O solo estava encharcado e escorregadio, e Libby estava quase imersa em erva molhada. Pelo menos tinha parado de chover. A lua começava a mostrar-se por entre as nuvens. Mas também estava a esfriar e Libby estava toda ensopada e a tremer, e cheia, cheia de medo.
Por fim, os arbustos e árvores abriram para uma ampla clareira. Vapor elevava-se do solo molhado. Gary parou mesmo na margem do espaço. Denise e Libby imitaram-no.
“Chegámos,” Sussurrou Gary, apontando. “Vejam só – é quadrada, como se aqui tivesse havido uma casa ou algo do género. Mas não há casa. Não há nada. As árvores e os arbustos não conseguem crescer aqui. Só ervas daninhas. É porque é solo amaldiçoado. Aqui vivem fantasmas.”
Libby lembrou-se do que o papá dissera.
“Não há fantasmas.”
Ainda assim, tinha os joelhos a tremer. Estava prestes a fazer chichi. A mamã não ia gostar nada disso.
“O que é aquilo?” Perguntou Denise.
A menina apontava na direção de duas formas que se erguiam do solo. A Libby pareciam dois grandes tubos dobrados na extremidade, quase completamente cobertos de hera.
“Não sei,” Disse Gary. “Parecem periscópios de submarinos. Talvez os fantasmas nos estejam a observar. Vai dar uma espreitadela, Denise.”
Denise libertou uma risada de medo.
“Vai tu!” Exclamou Denise.
“Ok, vou mesmo,” Disse Gary.
Gary entrou corajosamente na clareira e caminhou em direção a uma das formas. Parou a cerca de um metro de distância. Depois voltou-se e regressou para junto da prima e da irmã.
“Não sei o que é,” Disse.
Denise riu. “Isso é porque nem sequer olhaste!” Disse.
“Olhei sim senhora,” Ripostou Gary.
“Não olhaste nada! Nem te aproximaste!”
“Ai isso é que me aproximei. Se estás assim tão curiosa, vai lá ver por ti mesma.”
Durante uns instantes, Denise não disse nada. Depois, caminhou para o terreno ermo. Aproximou-se um pouco mais da forma do que Gary, mas regressou rapidamente sem parar.
“Também não sei o que é,” Informou Denise.
“É a tua vez de ir lá ver, Libby,” Disse Gary.
O medo de Libby trepava por si à semelhança daquela hera.
“Não a obrigues a ir, Gary,” Disse Denise. “É muito pequena.”
“Não é muito pequena. Está a crescer. Já é altura de o mostrar.”
Gary deu um encontrão a Libby. E, de repente, já se encontrava a curta distância do local. Virou-se e tentou voltar para trás, mas Gary estendeu a mão para a impedir.
“Nem penses,” Disse. “A Denise e eu fomos. Tu também tens que ir.”
Libby engloliu a saliva a custo, virou-se e enfrentou o espaço vazio com aquelas duas coisas dobradas. Tinha o sentimento assustador de que também a estavam a observar.
Lembrou-se novamente das palavras do papá…
“Os fantasmas não existem.”
O papá nunca mentiria sobre aquilo. Por isso, de que é que ela afinal tinha medo?
Além disso, já estava a ficar zangada com o Gary por estar a aborrecê-la. Estava quase tão zangada quanto assustada.
Eu já lhe mostro, Pensou.
As pernas tremiam-lhe e dava pequenos passos em direção ao grande espaço quadrado. Ao caminhar para a coisa metálica, Libby sentiu-se mais corajosa.
Quando se aproximou da coisa – estava mais perto do que Gary ou Denise haviam estado – sentiu-se bastante orgulhosa de si mesma. Mas ainda assim, não conseguia perceber de que se tratava.
Com mais coragem do que julgara possível, Libby estendeu a mão nessa direção. Empurrou os dedos pelas folhas de hera, esperando que a mão não fosse arrebatada ou comida ou algo pior. E os dedos encontraram finalmente o tubo metálico, frio e duro.
O que será? Pensou.
De repente, sentiu uma ligeira vibração no tubo. E ouviu algo. Parecia vir do tubo.
Ajoelhou-se muito próxima do tubo. O som era débil, mas ela sabia que não era fruto da sua imaginação. O som era real e parecia uma mulher a chorar e a lamentar-se.
Libby afastou a mão do tubo. Estava demasiado assustada para falar ou mexer-se ou gritar ou fazer o que quer que fosse. Nem conseguia respirar. Era como quando caíra de uma árvore de costas e o ar dos pulmões lhe parecia ter sido sugado.
Ela sabia que tinha que fugir. Mas ficou imóvel, incapaz de reagir. Era como se tivesse de explicar ao seu corpo como é que tinha que se mexer.
Vira-te e foge, Pensou.
Mas durantes alguns segundos intermináveis, não conseguiu obedecer à sua própria ordem.
De súbito, as suas pernas pareceram ganhar vida e deu por si a sair da clareira. Assustava-a a possibilidade de algo muito mau a alcançar e agarrá-la e levá-la de volta para aquele local.
Quando saiu da clareira, dobrou-se sobre si mesma, ofegante. Naquele momento compreendeu que todo aquele tempo sustivera a respiração.
“O que é que se passa?” Perguntou Denise.
“Um fantasma!” Gritou Libby. “Ouvi um fantasma!”
E nem sequer esperou por uma resposta. Desatou a correr o mais rápido que conseguia pelo caminho que tinham percorrido. Ouviu o irmão e a prima a correrem atrás de si.
“Ei, Libby, para!” Gritava o irmão. “Espera por nós!”
Mas não havia a mínima hipótese dela parar de correr antes de estar sã e salva em casa.