Kitabı oku: «Razão Para Matar », sayfa 10
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Naquela noite, Avery tomou dois remédios para dormir e ajustou o despertador para as sete. O Art for Life só abria as nove, mas ela queria estar pronta.
Às dez para as sete ela acordou por conta própria, sonolenta, mas na ânsia de começar o dia. Vestiu a roupa de sempre, apenas invertendo as cores: calças marrons com uma camisa azul. Azul traz calma, ela pensou. Quero todos calmos hoje. O walkie-talkie estava engatado na parte de trás de seu cinto. A arma, devidamente trancada em seu lugar. Seu distintivo estava visível perto de sua fivela.
Ela olhou no espelho.
Para a maioria das pessoas, ela ainda era sinônimo de beleza. No entanto, Avery só conseguia ver falhas: rugas que não estavam ali poucos anos antes, a preocupação nos seus olhos, vários cabelos brancos aparecendo.
Avery fez um biquinho, dançou rodopiando e sorriu.
Essa é a garota que eu conheço, pensou.
A Cambridge Street tinha pouco movimento naquela hora da manhã. Avery parou para tomar um café e comer algo, depois estacionou o carro no lado da rua oposto ao estúdio, a cerca de duas portas de distância. A espera era a parte mais chata do trabalho, e Black aproveitou para se espreguiçar.
Surpreendentemente, John Lang apareceu no retrovisor de Avery perto das oito e meia.
Ele era magro e alto, não exatamente as características físicas do assassino, mas aquela era a única pista, e havia uma conexão, e a maneira com que ele caminhava a fazia lembrar do criminoso: com agilidade nos pés, estilo e passos firmes.
Quando chegou ao escritório, Lang destrancou a porta.
Avery saiu do carro.
- Com licença - ela chamou ainda da rua, - Posso falar com você um minuto?
Lang tinha um rosto desagradável, cabelos loiros finos e usava óculos. Ele franziu as sobrancelhas quando viu Avery, depois entrou no estúdio.
- Ei! – Avery gritou. – Polícia!
Ela mostrou seu distintivo.
Surpresa e preocupação tomaram conta de John Lang. Instintivamente, ele espiou pelas janelas. Na rua, duas pessoas com cafés olharam. Avery correu até o estúdio. Resignado, Lang tomou um ar arrogante e abriu a porta.
- Estamos fechados agora - ele disse.
- Não estou aqui pra falar de arte.
- Como posso ajudá-la, agente?
- Gostaria de falar sobre Cindy Jenkins e Tabitha Mitchell.
Ele fez uma cara confusa.
- Esses nomes não dizem nada para mim.
- Tem certeza? Porque essas duas garotas fizeram aulas de arte nesse estúdio, e agora as duas estão mortas. Talvez você gostaria de mudar essa declaração. Posso entrar?
Durante uma longa pausa, Lang olhou para dentro do estúdio, para seu computador, depois novamente em direção à rua.
- Sim - ele disse, - mas tenho pouco tempo. Estou muito ocupado.
O estúdio estava fresco, como se um ar condicionado tivesse ligado desde cedo. Lang deixou uma bolsa na mesa, sentou em uma grande cadeira giratória preta, e olhou para Avery. Ele não ofereceu um lugar para ela. Alguns bancos acolchoados estavam espalhados pelo local. Avery ficou em pé.
- Cindy Jenkins e Tabitha Mitchell - ela disse.
- Eu disse, eu não conheço elas.
- Elas tiveram aula aqui.
- Muitas pessoas têm aula aqui. Você pode me dizer quando?
- Por que você não olha no seu computador?
Ele ficou vermelho.
- Os arquivos são apagados rotineiramente.
- Sério? Você não guarda os nomes e endereços dos clientes para poder mandar arquivos e e-mails? Acho meio difícil de acreditar.
- Nós guardamos nomes e endereços - ele disse. – Mas os documentos que usamos quando os clientes chegam para a primeira aula são destruídos, então eu não posso te precisar um período.
- Você está mentindo - ela disse.
- Eu estou sendo acusado de algo? – Ele perguntou.
- Você cometeu algum crime?
- É claro que não!
Avery não estava convencida. Havia algo no jeito que ele falava, no olhar e no fato de ele se recusar a ligar o computador.
- Faz quanto tempo que você trabalha aqui? – Ela perguntou.
- Cinco anos.
- Quem te contratou?
- Wilson Kyle.
- Wilson Kyle sabe que você tem registros de agressão sexual?
O rosto de Lang foi tomado por vergonha e por algumas lágrimas. Ele se ajeitou na cadeira e a olhou com rancor.
- Sim, ele sabe.
- Onde você estava sábado à noite? E na quarta à noite?
- Em casa. Vendo filmes.
- Alguém pode confirmar isso?
À beira de explodir, Lang quase tremia de raiva.
- Como você se atreve? – Ele disse. – O que você está tentando fazer? Eu já paguei pelo meu passado. Eu fui preso, tive que procurar ajuda profissional e fazer serviço comunitário, além de ter uma bandeira vermelha em cima de mim pelo resto da minha vida: ‘Agressor sexual’. Eu sou uma pessoa melhor agora - ele jurou. Seu corpo relaxou e lágrimas começaram a cair. – Eu mudei. Tudo o que eu peço é que vocês me deixem sozinho.
Ele estava escondendo algo. Avery podia sentir.
- Você mandou Cindy Jenkins ou Tabitha Mitchell?
- Não!
- Me mostre esse computador.
Um rosto amargo e uma balançada na cabeça disseram tudo o que Avery precisava saber.
- Se você não logar e me deixar olhar seu histórico de buscas agora mesmo, eu vou voltar à tarde com um mandado de prisão.
- O que está acontecendo aqui? – Alguém esbravejou.
Um homem enorme estava parado na porta. Ele tinha cabelos negros, perfeitamente cortados e penteados para trás, além de um cavanhaque branco aparado. Óculos pequenos e grossos cobriam olhos verdes e raivosos. Um suéter vermelho de verão estava colocado sobre uma camiseta branca. Ele vestia jeans e crocs pretos.
Lang cobriu seu rosto e desabou na mesma hora.
- Desculpe! Desculpe!
Avery mostrou seu distintivo.
- E você seria?
- Wilson Kyle. Eu sou o dono do estabelecimento.
- Meu nome é Avery Black. Esquadrão de Homicídios da Polícia de Boston. Eu tenho razões para acreditar que o Senhor Lang pode estar envolvido em dois homicídios.
Ele levantou as sobrancelhas, duvidando.
- John Lang? – ele disse. – Você diz… Ele? Esse cara se escondendo atrás de você? Você acha que ele poderia ser o responsável por um assassinato?
- Duas garotas de universidades diferentes - ela disse, prestando atenção em cada movimento de John Lang, - foram colocadas, uma no parque e uma em um cemitério.
- Eu li sobre esse caso - Kyle confirmou.
Ele colocou sua mão enorme nos ombros de John.
- John? – Ele perguntou em um tom delicado. – Você sabe algo sobre isso?
- Eu não sei nada! – John chorava. – Eu já não passei por coisas suficientes?
- Como exatamente você o relacionou com esses crimes?
- Aquelas duas garotas tiveram aulas aqui. Ele tem registros. Ele não tem um álibi para as noites dos raptos e ele não me deixa ver o que há nesse computador - ela disse.
- Você tem um mandado?
- Não, mas eu posso conseguir um.
Wilson Kyle baixou sua guarda e, com paciência e empatia incríveis, tentou fazer com que John o olhasse.
- John - ele disse, - está tudo bem. A polícia está tentando resolver um crime. O que tem no computador que você não quer que ela veja? Você pode ser honesto comigo.
- Eu tive que olhar! – Ele soluçou.
- Está tudo bem, John - ele disse e se inclinou para frente para sussurrar. – Eu não vou julgar você.
Ele esfregou as costas de John, o ajudou a levantar, e fez o login no computador.
- Senha? – Ele perguntou.
John coçou o nariz. Ele balançou a cabeça e respondeu com um sussurro quase impossível de escutar.
Wilson Kyle digitou a senha.
- Aí está, Agente Black - ele disse. – Venha ver. Vamos, John - ele completou. - Vamos esperar aqui. Vai ficar tudo bem. Eu prometo. A agente só quer confirmar que você não está envolvido nesses assassinatos. Você não é um assassino, não é mesmo, meu garoto? Não, claro que não, John. Claro que não.
Avery sentou em frente à mesa do computador.
Uma rápida busca no histórico não revelou nada. Sites de arte. Resultados de palavras cruzadas e muitos artistas e seus trabalhos. Ela olhou dia por dia. Na terça, pela manhã, ela encontrou muitos sites pornôs.
Ela olhou para frente.
John estava sentado em uma cadeira, de cabeça baixa, com as mãos no rosto. Wilson Kyle estava em pé, atrás dele, olhando para Avery como um grande lorde forçado a ver algo impensável, e isso o fazia ficar com mais e mais raiva.
De volta ao computador, Avery clicou em alguns dos links. Crianças apareceram, nuas ou seminuas. Idades entre seis e doze anos. Completamente com nojo do que viu, Avery clicou em outros sites para tentar encontrar algum argumento racional do porque ela deveria ignorar o que tinha encontrado. Baseado na inclinação dele por criancinhas, era difícil imaginá-lo como sendo o assassino.
- Você sabe onde ele estava sábado à noite? – Ela perguntou.
- Sei - Wilson respondeu. – John estava em casa assistindo um filme chamado Night of the Hunter. Eu sei porque eu recomendei o filme, e ele me ligou depois, acho que por volta das dez, pra me contar o que achou. Eu não pude atender, mas tenho certeza que você vai encontrar essa chamada se buscar nos registros do telefone dele.
- Você pode responder por suas ações na semana passada? – Ela perguntou a Wilson.
Wilson riu.
- Você sabe quem sou eu, Agente Black? Não, claro que não. Não me leve a mal. Eu não sou famoso, nem muito bem relacionado, mas eu tenho um interesse profundo na minha comunidade, e se eu não saio com meus amigos, eu geralmente estou alimentando pessoas sem-teto em algum leilão de caridade em algum lugar da cidade. Então, respondendo sua pergunta: Sim. Eu posso responder por minhas ações de todo o mês, mas eu temo que eu precise de um mandado antes disso aqui ir adiante.
Você estava errada, Avery pensou. Ele não é o assassino. Ela podia ler aquelas pessoas. John era doente, e Wilson era um pomposo hipócrita. Mas eles não eram assassinos em série. Eles eram muito fracos. Os dois.
Ela suspirou. Estava perdendo seu tempo ali.
Black já havia passado por aquela situação. Sozinha, sem pistas, perdida no limbo e se dobrando às regras de sua profissão. Mas dessa vez, parecia pessoal. Dessa vez, era um assassino em série. Da última vez em que Avery havia lidado com um assassino em série, ela o inocentara e ele voltara a matar. Agora era como se aquele velho caso tivesse renascido com esse novo assassino, e se ela pudesse pará-lo de alguma maneira, poderia se libertar.
- Eu vou seguir em contato - Avery disse e tomou o caminho da porta.
- Senhora Black - Wilson chamou.
- Sim?
- Eu vou lidar com a pornografia que você encontrou, não tenha dúvida. Mas eu estou curioso. Você sabe por que John pode ter procurado por aquelas imagens? E você sabe por que ele molestou aquelas crianças tanto tempo atrás? Deixe-me lhe contar, para que você tenha alguma ideia, e talvez você não entre em outra casa ou escritório mais tarde, despreparada e cheia de preconceitos e insinuações. Olhe só, John foi molestado muitas vezes pelo pai e pela mãe quando era criança.
John chorou com as mãos no rosto.
Wilson pôs as mãos nos ombros de John como um anjo protetor.
- Eu imagino que você não saiba o que acontece com crianças que são molestadas, Senhora Black. Elas aprendem que esse comportamento é normal. E quando elas ficam mais velhas, começam a ser estimuladas por criancinhas porque foi isso que elas aprenderam: a ser estimuladas. É um ciclo assustador que é quase impossível de parar, mas John tem tentado com todas as forças dele. Muito mesmo. Essa simples falha - ele disse e apontou para o computador, - não deve apagar o trabalho duro dele para reconstruir o passado. Se você soubesse pelo menos um pouco sobre a natureza humana, talvez você entendesse isso.
- Obrigada pela lição - Avery disse.
- E mais uma coisa - Wilson acrescentou e caminhou em direção a ela com o rosto vermelho de raiva. – Você não tinha direito de entrar neste estúdio e interrogar ninguém sem uma autorização adequada. Assim que você sair, eu vou telefonar para o comandante e pra quem quer que seja que eu tenha que falar, e vou recomendar que você seja despedida, ou, no mínimo, suspensa por seu flagrante desrespeito às leis e à decência.
* * *
Avery estava confusa quando saiu do estúdio.
Horas antes, ela acreditava ter encontrado o assassino. Agora, tinha quase certeza de que John Lang era uma pista errada, e que ela teria que enfrentar muita fúria se Wilson Kyle ligasse para o escritório.
Envergonhada por suas ações, entrou no carro e dirigiu.
As palavras de Howard Randall ecoavam em sua mente: Seu assassino é um artista… não alguém que escolheria garotas aleatoriamente na rua…
Eu segui sua pista, ela pensou. Encontrei uma conexão.
As últimas palavras de Randall soavam como um sussurro.
Ele tem que conhecê-las de algum lugar…
Onde? Ela pensou. Onde ele as encontra? Tem que haver outra conexão, algo que eu deixei passar. Tem que haver algo mais, outra ligação.
O escritório deveria ser seu destino, mas algo a dizia que havia respostas que não viriam de lá. Elas viriam de alguma pista. Ela decidiu ajudar Jones com as câmeras das rotas de Cambridge. Thompson já havia investigado Graves. O veterano arrogante tinha um álibi sólido: três amigos confirmaram a localização dele no sábado à noite.
Ela parou por mais um café e para comer algo.
Seu telefone tocou.
- Black - ela disse.
A voz do outro lado da linha parecia muito irritada.
- É o Connelly.
Um terremoto de preocupações passou pela cabeça de Avery. Wilson Kyle já teria ligado? Connelly finalmente encontrou algo no caso?
- O que houve? – Ela disse.
- Você está se divertindo muito nessa história, não está? – Connelly disse.
- O que você quer dizer?
- Isso está saindo do controle, Black. Nós parecemos um monte de idiotas. O capitão está puto. E eu também. Eu sabia que você não era a pessoa certa para esse caso.
- Do que você está falando? – Ela perguntou. – Só ligou para me ofender?
- Você não sabe? – ele perguntou.
Após um momento de silêncio, Connelly voltou a falar.
- Acabei de receber uma ligação da polícia de Belmont. Encontraram um corpo no setor das crianças no Stony Brook Park. Parece que foi nosso assassino de novo.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
Avery estacionou seu carro a leste do Stony Brook Park e caminhou pela Mill Street até a entrada.
O Stony Brook Children’s Playground era um enorme parque aquático para crianças, com três playgrounds separados e uma grande fortaleza de madeira, tudo isso entre um círculo de árvores atrás de uma cerca, preto de um portão comunitário.
Alguns carros da polícia de Belmont, vans da imprensa e uma multidão rodeavam a área atrás do portão.
- Olha ela aí! – Alguém gritou.
Antes que Avery pudesse pensar qualquer coisa, vários repórteres foram em sua direção. Na sua vida antiga, quando foi despedida do escritório de advocacia, Avery imaginou que as câmeras, luzes e microfones desapareceriam em algum momento. Infelizmente, isso nunca aconteceu. Ela sempre encontrava seu nome como alvo de piadas em um jornal ou outro em dias de poucas notícias.
Uma pequena repórter com cabelos curtos e negros colocou o microfone no rosto dela.
- Senhora Black - ela disse, - você está em um relacionamento com Howard Randall?
- Que? – Avery não acreditou no que ouviu.
Outra pessoa estendeu o microfone.
- Você foi visitá-lo ontem. Sobre o que vocês falaram?
- Onde vocês estão conseguindo essas informações? – Avery perguntou.
Um jornal foi aberto em frente a ela, e Avery viu a capa e virou as páginas para ver as matérias dentro, com câmeras filmando e todos esperando por uma resposta.
A manchete era “Duas garotas mortas e nenhuma pista.” A foto era do cemitério. Um subtítulo mais abaixo dizia: “Uma policial e um assassino: um romance nasce.” Avery viu a si mesma soluçando dentro do carro, fora dos muros da prisão.
Os guardas, ela se deu conta. Eles tiraram fotos.
O artigo estava na terceira página: “Quem toma conta da Polícia de Boston?” Palavras como “incompetente”, “trabalho mau feito”, e “negligência” praticamente saltavam da página. Uma das linhas dizia: “Por que a Polícia de Boston permite que uma ex-advogada com ética questionável tome conta de um caso de um assassino em série em potencial?”
Já ruim do estômago, Avery devolveu o jornal.
- Você pode comentar o assunto? – Alguém perguntou.
Avery seguiu caminhando em silêncio.
- Agente Black? Agente Black?
Uma mulher que não tinha mais do que 40 quilos foi até Avery e a deu um soco no peito.
- Sua monte de merda! – Ela gritou. – O dinheiro do meu imposto te paga? Não mesmo! Eu vou te ver demitida! Sua assassina filha da puta!
A multidão acompanhou.
- Por que você está nesse caso? – Alguém gritou.
- Não a deixem chegar perto das crianças!
No portão, Avery mostrou seu distintivo e um agente a puxou para dentro.
- Quem está no comando aqui? - Ela disse.
- Bem ali - o policial apontou. – Talbot Diggins. Tenente Diggins.
Normalmente, xingamentos eram algo que Avery ignorava facilmente, mas naquele dia, após um interrogatório sombrio com John Lang, outro corpo morto, sem pistas, o jornal e todo o resto, ela precisou se esforçar muito para permanecer em pé e seguir caminhando.
Mesmo separada da multidão atrás do portão, ela conseguia ouvir as pessoas gritando com raiva e os repórteres tirando fotos pelas grades.
Policiais ao redor da área se viraram para ver Avery passar. Alguns murmuravam algo. Outros apenas olhavam com desprezo.
Quando isso vai acabar? Ela pensou.
Talbot Diggins era um negro enorme com a cabeça raspada. Ele estava de óculos escuros e suava muito no calor da manhã. Vestia um casaco cinza, liso, e uma camiseta por baixo. Os únicos itens que o mostravam como policial eram o distintivo em volta do pescoço e a arma na parte de trás da jaqueta.
Ela a viu e apontou.
- Você é a Black? – Ele disse.
- Sim.
- Venha comigo.
O parque em si foi ignorado. Atrás da grande piscina que normalmente jorrava água em todas as direções, eles passaram por um parque para bebês e foram direto em direção ao castelo de madeira, que tinha pontes, um fosso e vários brinquedos do mesmo material.
Luzes de um fotógrafo da polícia brilhavam dentro da estrutura de madeira.
- Uma criança a encontrou hoje pela manhã - Talbot disse. – Uma garota de dez anos. Disse que estava tentando brincar com ela, mas o corpo não se movia. Então a tocou. Fria como gelo.
A estrutura de madeira tinha uma abertura na frente que servia de entrada para o castelo.
A garota morta estava na entrada, posicionada como se estivesse apenas descansando de uma brincadeira. Ela tinha 18 ou 19 anos, Avery imaginou. Cabelos loiros. As mãos estavam para cima, grudadas em uma barra acima de sua cabeça com uma fibra muito fina, como linha de pesca. Os olhos, como os outros que Avery havia visto, pareciam drogados e torturados.
- Você sabe quem é ela? – Avery perguntou.
- Ainda não.
Avery olhou rapidamente e percebeu que a vítima estava com todas as roupas íntimas. Talvez aquela outra garota era uma exceção, ela imaginou.
Como as outras vítimas, essa parecia estar olhando para algo. Avery seguiu a linha do olhar para o parquinho para bebês. Imediatamente, ela sabia o que a garota estava vendo: um mural pintado de crianças alinhadas em uma das extremidades de plástico. As crianças eram garotos e garotas, de várias culturas, e havia várias delas, todas dando-se as mãos.
Talbot a olhou desconfiado.
- É verdade? – Ele perguntou.
- O que?
- Você e Randall. Os jornais dizem que vocês estão juntos. É verdade?
- Isso é ridículo - ela respondeu.
- Talvez - ele disse. – Mas é verdade?
- Não é da sua conta - ela quis cortar o assunto.
- Cara, você está ferrando meu dia, sabia? Primeiro, eu tenho que lidar com um assassino em série porque você não consegue fazer seu trabalho, e agora você não quer responder uma simples pergunta. Qual é, todo mundo no escritório quer saber!
- Você não tem que se preocupar com isso - Avery disse. – Meu departamento vai—
- Não, não - ele respondeu, - isso não vai acontecer. Essa é minha cena do crime, você entendeu? Eu chamei seu departamento por educação. Eu não posso te dar o caso - ele disse e apontou para o corpo morto. – Você já tem duas garotas, em menos de uma semana. Agora temos uma terceira em Belmont. Você sabe o que é isso? Temos que trabalhar em equipe!
- Nós não precisamos—
- Ah, como nós precisamos! – ele disse. – Sinceramente, quão perto você está de solucionar esse caso?
- Nós temos pistas sólidas que—
- Bip! Reposta errada! – ele disse, como um alarme e fingindo ser um robô. - Eu não acredito. Olhe para você. Você parece tão perdida quanto eles dizem nos jornais. E você não quer dar nem uma simples informação para um tira parceiro sobre sua vida pessoal. O que é isso? Então, quer saber? Nós somos parceiros agora, e em Belmont nós resolvemos os casos rápido.
- Ah, é? – Avery disse. - Quantos corpos assim você já viu?
- Psss - ele resmungou.
- Não, estou falando sério.
- Isso não importa.
- Estou dizendo que importa. Eu estou no caso há uma semana e eu sei em que área em geral o assassino mora. Eu sei do peso e da descrição do corpo dele. Eu sei que ele tem uma queda por animais e o carro que ele dirige, e pelo que eu vejo desse terceiro corpo - ela disse e apontou para a garota morta, - eu sei que ele ainda não acabou. Três costuma ser o número mágico dele. Agora isso mudou. Eu sei muitas outras coisas. Mas você quer saber? Você está certo. É sua jurisdição. Descubra você mesmo.
Ela se virou para sair dali.
- Ei, ei, ei! - Talbot gritou. – Espera aí, nervosinha!
Talbot parecia ter mudado seu comportamento quando Avery o olhou novamente. Seus braços estavam abertos e ele mostrava um largo sorriso e seus dentes brancos.
- Pensei que estava lidando com um gatinho, mas parece que o que temos é um leão.
Ele caminhou até Avery, que era como três centímetros mais baixa e menor do que ele em todos os sentidos.
- Eu não posso interferir na relação entre uma detetive líder e um assassino em potencial em um caso grande desses - ele disse. – A merda está espalhada pelos jornais. Eu tenho que te ajudar, queira você ou não. Tome seu tempo - ele disse e cumprimentou com as mãos. – Investigue o que precisar.
- Mas você acabou de dizer…
- Ninguém gosta de você. Meus caras não podem achar que nós somos amigos. Já é difícil o suficiente ser negro por aqui. O que você acha disso: Meu pessoal toma conta desse crime. Nós levamos o corpo para o nosso comandante, tentamos descobrir quem é ela e peritos investigam a área. Qual seu número? Diga pra mim. Diga…
Avery disse seu número e Talbot fez uma cara feia, como se estivesse discando para o supervisor de Black, para que ela fosse repreendida.
- Acabei de te ligar - ele disse. – Aí está, você tem meu número também. Assim que eu tiver notícias do meu pessoal, eu vou te enviar um relatório detalhado. Não está feliz? Fale com seu capitão e mande ele ligar para o meu capitão, mas eu já posso adiantar: essa merda aconteceu na minha área dessa vez, e isso significa que a polícia de Belmont está envolvida. Você quer me ajudar? Compartilhar o que você sabe?
- Claro - ela disse, - podemos fazer isso. Eu também quero que minha equipe veja o corpo e consulte nosso comandante.
- Sem problemas.
- E eu quero acesso completo à cena do crime.
- Feito. Estamos bem?
- Sim - ela disse e franziu a testa. – Eu acho.
- Eu estou pouco me fodendo para o que você acha! – Talbot gritou para que todos ouvissem. – É assim que vai ser, Black!