Kitabı oku: «Razão Para Matar », sayfa 9
CAPÍTULO DEZENOVE
Avery sentou-se encostada na roda de seu carro, ainda no estacionamento da prisão, destruída, confusa, acabada, com lágrimas rolando sobre seu rosto. Soluços terríveis saíam aos montes de sua garganta. Em um momento, ela levantou-se, gritou e chutou a roda.
Palavras.
A cada vez que ela ouvia as palavras dele, chorava mais.
Molestador. Alcoólatra. Assassino.
Não, não, não!
Ela bateu na própria cabeça para afastar aquelas imagens: seu pai em meio as árvores, arma em punho. O corpo atrás dele. Veias saltadas. Cabelo grisalho. Aquele vestido verde.
Saia, saia, saia! Avery implorava.
Ela havia quase esquecido até aquele momento. Levara tantos anos tentando esquecer o passado, sair de Ohio e apagar sua terrível história. Em poucas palavras, Howard Randall tinha trazido tudo de volta.
Você é igualzinha a eles, ela pensou, atormentada.
Assassino.
Alcoólatra.
Igualzinha a eles, igualzinha a eles.
Não! Ela respondeu mentalmente. Você não é como eles! Você não é assassina nem viciada, você não é doente da cabeça. Você faz seu melhor a cada dia. Erros? Claro que sim, mas você tenta o melhor, sempre.
Tire-o da minha cabeça.
Tire-o da minha cabeça.
Ela secou as lágrimas com os punhos.
Recomponha-se, ordenou a si mesma.
As lágrimas voltaram, dessa vez mais suaves, não pelo passado doloroso, mas por sua nova vida, sua existência solitária e atormentada.
Ela chutou a roda.
Recomponha-se!
Uma claridade invadiu sua mente naquele momento. Tudo parecia penetrante e focado: o para-brisas, seu braço, os carros estacionados ao redor, o céu. Sem estar totalmente controlada, Avery pegou o telefone para ligar para Finley.
- Ei, Yo! – Ele atendeu.
- Finley - ela disse, - onde você está?
- No escritório, trabalhando pra cacete. Onde diabos você está? Eu deveria ganhar um aumento, sabia? Eu não deveria ganhar uma folga por encontrar um maluco? Eu fiz uma das melhores perseguições da minha vida e agora estou trancado no escritório. Eu deveria estar lá fora tomando uma cerveja!
Todo aquele monólogo havia soado como uma só palavra.
Avery esfregou os olhos.
- Finley, mais devagar. O que você encontrou até agora?
- Por que todo mundo sempre me fala para ir mais devagar? – Ele reclamou, parecendo triste de verdade. – Eu falo certo. Todo mundo na minha área me entende perfeitamente. Talvez os outros são o problema, já pensou nisso? Minha mãe costumava dizer isso.
- Finley! Me atualize!
- O corpo está com o legista - ele disse, calmo e mais devagar. – A cena do crime foi analisada. Encontraram algumas fibras que parecem as mesmas da Jenkins: pelo de gato, um pouco de extrato de planta nas roupas dela. Nas últimas horas eu estive procurando por ligações, conexões como você pediu. Cursos diferentes: economia e contabilidade. Uma caloura, uma veterana. Diferentes irmandades, absolutamente nenhuma ligação familiar, e por aí vai… Falei com Ramirez. Ele disse que os pais da Cindy falaram de uma classe de artes que ela frequentou em Cambridge no semestre passado. O lugar se chama Art for Life. Fica na Cambridge Street com a Seventh. Liguei para as amigas de Tabitha buscando uma conexão. Estou esperando retorno.
Artista, Avery pensou. Ele disse que o assassino é um artista.
- Quem dá aula lá? – Ela perguntou. – Quem é o dono do lugar?
- Como eu vou saber disso? Eu tenho mil mãos, agora? – Ele respondeu. – Você me deu mais ou menos umas mil tarefas. Eu não tenho nem ideia de quem dá aula na porra dessa aula. Eu já falei, estou esperando retorno.
Ela fechou os olhos.
- Ok - respondeu. – Obrigada.
- Você vai vir me ajudar ou o que? – Finley reclamou.
- Eu preciso ligar alguns pontos - ela disse. – Você tem o endereço da Cindy? E o da Tabitha? Eu preciso passar no dormitório delas e ver o que eu encontro.
- Eu já fui no apartamento da Tabitha. É um quarto de menininha, normal. Roupas chiques e pôsteres ridículos. Não tem nada de mais lá.
- Deixe que eu faço esse julgamento.
* * *
Cindy morava em um lugar não muito longe do prédio da Kappa Kappa Gamma ou da casa de seu namorado. A casa branca de dois andares com rodapé azul era para duas pessoas. Cindy alugou o primeiro andar. O segundo era habitado por outra veterana de Harvard.
Avery ligou antes para assegurar que os agentes de Harvard a deixariam entrar.
Um molho de chaves reserva estava embaixo de uma pedra na varanda frontal.
O apartamento de Cindy tinha cheiro de velho. Havia quatro cômodos principais: sala, quarto, um outro quarto que ela havia convertido em escritório, e a cozinha. Algumas peças de arte moderna decoravam as paredes.
O escritório estava cheio de cópias da biblioteca, junto com alguns romances de bolso. Havia folhas empilhadas na escrivaninha.
Avery analisou os papeis. Contas de médico, pastas sobre aulas, cartas de entrevistas de emprego, currículos. Tudo limpo e ordenado. Avery anotou algumas coisas no celular: o plano de saúde de Cindy, todos os professores que ela teve, os lugares em que foi entrevistada, além de seu atual empregador: a contabilidade Devante Accounting Firm. A carta de aceitação como contadora júnior naquela empresa estava orgulhosamente destacada na escrivaninha.
Nenhuma menção às aulas de arte foi encontrada, mas havia uma imagem na parede pintada à mão, emoldurada, com a assinatura de Cindy. A imagem era uma tigela de frutas. Avery virou a pintura. Atrás, estava estampado: Art for Life, o endereço e a logo de uma mão apresentada como uma paleta de pintura. Avery deixou tudo novamente como ela havia encontrado e saiu, entrando rapidamente no carro.
Black ligou para o MIT para assegurar que eles permitiram sua entrada no quarto de Tabitha. O assessor do reitor já havia dito que cuidaria de tudo.
Assim que desligou, o telefone de Avery tocou.
- Jones aqui - disse a voz jamaicana.
- Conte-me algo - Avery respondeu.
- Nada aqui, cara. A cabana está vazia.
- Que porra você ficou fazendo o dia todo?
- Pesquisa, cara - Jones replicou, - investigação. Levou um tempo pra chegar aqui. Tive que conseguir as chaves, certo? Depois Thompson quis dirigir e ele não tem senso nenhum de direção. O GPS também nos atrapalhou. Mas - ele admitiu após outro gole na cerveja, - nós chegamos aqui e reviramos o lugar inteiro. Nada. Você tem certeza que ele ficava aqui?
- Você perdeu o dia inteiro - Avery disse.
- Você não está entendendo, Black. Nós trabalhamos pra cacete!
- Duas garotas estão mortas - Avery disse. – Ou você se esqueceu disso? Nós temos um assassino em série à solta e você está perdendo tempo em uma cabana no lago. Volte para as câmeras de Cambridge. E dessa vez - ela gritou, - Eu quero um relatório completo na minha mesa até amanhã à tarde. Eu quero saber exatamente o que vocês fizeram a cada hora. Entendido?
- Ah, qual é, Black! Eu estou implorando - Jones disse. – Isso é loucura. Não tem como seguir um carro por tantos quilômetros assim. É impossível. Eu preciso de, pelo menos, mais dez pessoas.
- Chame o Thompson.
- Thompson? – Jones riu. – Ele é pior que o Finley.
- Lembre-se - Avery enfatizou. – Um relatório detalhado na minha mesa amanhã à tarde. Faça o Thompson entender isso também. Vacile nessa e eu ligo para o Connelly.
Ela desligou.
Como eu vou conseguir fazer qualquer coisa no Esquadrão de Homicídios se metade da minha equipe nem respeita minha autoridade? Avery pensou, irritada.
Ao chegar ao próximo destino, o céu já estava escuro.
Tabitha morava no coração do MIT, logo depois da Vassar Street. Sua colega de apartamento abriu a porta. Uma garota tímida, pequena, com longos cabelos negros, óculos e rosto cheio de espinhas. O lugar era grande: uma sala principal, cozinha aberta e dois quartos.
- Oi - a menina disse, - você deve ser Avery.
- Sim, obrigada por me deixar entrar.
- Aquele é o quarto dela - ela apontou.
A garota parecia extremamente infeliz.
- Vocês eram amigas? – Avery perguntou.
- Não muito. - Ela respondeu e caminhou para fora do quarto. – Tabitha era popular.
O quarto de Tabitha estava extremamente desorganizado.
O armário de arquivos servia mais como um lugar para colocar papeis soltos. Uma rápida busca mostrou que eles iam de recibos a currículos e um embrulho fedido de sanduíche. Os itens mais reveladores eram algumas pinturas nas paredes, todos aparentemente feitos por Tabitha: fazendas, o céu do MIT, uma tigela de frutas.
Avery olhou atrás de uma das pinturas.
Um carimbo dizia: Art for Life.
CAPÍTULO VINTE
Molly Green estava tendo uma noite difícil. Ela tirou uma mecha de seu cabelo loiro do rosto com um sopro, levantou as sobrancelhas e simulou arregaçar as mangas.
- Luke e Gidget! – Ela disse. – Já chega!
A casa onde ela trabalhava como babá em meio período parecia grande e vazia. Ela estava na sala, enorme, no primeiro andar, olhando atrás dos sofás. Com o rosto encostado nas portas de vidro que levavam à varanda dos fundos, ela protegeu os olhos da luz e pensou: é melhor que eles não estejam lá.
Não havia ninguém na cozinha, nos closets ou no banheiro do andar de baixo.
Uma pequena sala de visita estava igualmente vazia.
- Estou falando sério - ela chamou, - vocês já deveriam estar dormindo faz muito tempo!
Ela subiu a escada de salto alto, saia de couro preta e com a provocante blusinha regata que ela planejara usar em uma festa mais tarde, naquela noite.
- Acho bom que vocês estejam na cama!
Como imaginou, tanto Luke quanto Gidget estavam escondidos embaixo dos cobertores rindo como loucos porque eles haviam, mais uma vez, sido mais espertos que ela.
As crianças dividiam um quarto e cada um tinha sua cama. Um grande contraste podia ser notado entre os dois lados do quarto. O lado de Gidget era pintado de rosa, limpo e organizado, com os brinquedos em lugares apropriados e roupas nas gavetas. O lado de Luke era pintado de azul escuro. Todos os brinquedos estavam no chão, com roupas jogadas por todos os lados e as paredes manchadas com sujeira e adesivos.
- Agora eu entendi - disse Molly. – Quiseram fazer eu correr pela casa toda e depois fingir que estavam dormindo esse tempo todo. Boa tentativa.
Os cobertores foram jogados para o chão e os dois disputaram a atenção dela.
- Leia um livro pra mim, Molly.
- Não apague a luz do corredor - disse Luke.
- Os pais de vocês vão me matar se vocês estiverem acordados quando eles voltarem. Vocês têm que ir pra cama. Sem livros. Eu vou deixar a luz do corredor acesa. Entenderam? Se eu encontrar qualquer um dos dois no corredor ou tentando me assustar lá embaixo, eu vou contar para os seus pais.
- Não, não - Gidget pediu.
- Não conte para o papai - Luke implorou.
- Tudo bem então. Já pra cama. Boa noite.
Mais uma vez, ela fechou a porta, deixando apenas uma fresta aberta para que eles pudessem ver a luz do corredor.
Descendo as escadas, ela pensou: Ah… Crianças.
Uma olhada rápida no espelho da sala confirmou que ela ainda estava maravilhosa, sem borrões na sombra verde em seus olhos, cílios longos, batom perfeito, olhos azuis reluzindo.
Você está gata! Ela pensou.
Vinte minutos depois, enquanto Molly assistia uma edição de The John Oliver Show, o casal Hachette silenciosamente abriu a porta da frente.
Todos se cumprimentaram.
Molly os contou sobre a noite.
- O jantar foi ótimo. Lemos livros. Dei banho nos dois. Brincamos um pouco e eles foram para a cama. Nada em especial.
Como sempre, os Hachette perguntaram se ela queria ficar mais um pouco, comer algo ou dormir no quarto de visitas. Molly não quis.
Ela só conseguia pensar na festa, uma enorme festa da Brandeis dada por uma das maiores fraternidades do campus. Três garotos com quem ela saía às vezes estariam lá, mas nenhum deles era considerado o namorado ideal. Naquela noite, ela esperava encontrar alguém novo.
Green pegou sua bolsa e saiu pela porta.
Que comecem os jogos, ela pensou, sorrindo.
* * *
Ele estava esperando do lado de fora por algum tempo, escondido nas sombras do interior de sua minivan. Por uma hora, estivera lá, olhando e se preparando pelo momento certo. Silenciosamente, vira quando Molly andou pela casa procurando as crianças e as encontrou na cama. Vira os Hachette entrarem na casa.
Estava estacionado em uma rua muita calma, em uma vizinhança a nordeste da Brandeis University, a apenas alguns minutos dirigindo e vinte minutos caminhando da faculdade. Molly, ele sabia, iria escolher caminhar. Ela desceria as escadas, viraria à esquerda na Cabot Street, e depois à direita na Andrea Road. Depois disso, ela geralmente alterava seu caminho, dependendo de onde ela precisava ir no campus.
Como ele esperava, Molly saiu da casa e virou à esquerda.
Silenciosamente, saiu da minivan e caminhou até a parte de trás, onde fingiu estar descarregando algo do porta-malas. Ele fechou o porta-malas fazendo barulho, suspirou e caminhou até a rua. Molly estava vindo diretamente em sua direção. Ele tirou seu boné e olhou para cima.
Imersa em seus próprios pensamentos, Molly quase esbarrou nele.
- Desculpe - ela disse.
- Tudo bem - ele respondeu.
- Ei! – Ela disse de repente. – Eu te conheço! Como você está?
- Estou bem - ele sorriu. – Estou com um probleminha no carro aqui. Espere aí - ele franziu a testa e esfregou o queixo, – eu pensei que você morava em algum lugar do campus da Brandeis.
- Sim, eu moro - ela concordou, - eu só trabalho aqui. Sabe aquela casa? – ela apontou, - Eu sou babá das crianças durante a semana. Mas não se preocupe. Eu…
No momento em que ela virou, ele rapidamente a picou com sua agulha.
- Ei! Ei! O que é….
Molly começou a cair. Ele a segurou.
- Você está bem? – Ele fingiu estar assustado. – Molly? – Ele deu um tapa nas bochechas dela em uma falsa preocupação. – Molly, você está bem? – Ele olhou em volta.
As ruas estavam escuras e vazias.
- Não se preocupe - sussurrou. – Eu vou cuidar de você.
CAPÍTULO VINTE E UM
Havia grandes janelas de vidro nos dois lados da porta do estúdio Art for Life. Avery conseguia ver um pequeno pedaço da galeria com todos os tipos de arte moderna: esculturas, pinturas, desenhos e colagens retrô. Mais ao fundo, a sala se tornava uma área muito mais ampla, com um círculo de cavaletes, que ela imaginava ser o lugar das aulas de arte.
Seu telefone tocou.
- Black - ela atendeu.
- Quem é o cara agora? – Finley disse. – Acabei de receber uma ligação de uma amiga da Tabitha. A vítima com certeza teve aulas de arte naquele estúdio.
- Eu já descobri isso. Você não notou toda a arte quando você foi no apartamento dela?
- Que arte?
- No quarto dela.
- Aquilo não era arte - Finley retrucou. – Aquilo era lixo. Eu achei que ela tinha comprado aquilo em um bazar. Olha, Black, não me encha o saco. Eu te dei o caminho.
- Eu estou aqui agora - ela disse. – O estúdio está fechado.
- Eu estou num bar - ele respondeu. – Meu turno terminou faz duas horas. Eu iria te convidar para vir, mas eu acho que eles não deixam lésbicas entrarem aqui.
- Eu não sou lésbica - ela disse.
- Sério? Você me enganou então.
- Você é um ser humano nojento, você sabia, Finley?
- Nada disso, - ele disse, - eu sou um cara gente boa. Mas não fui bem educado. Minha educação foi uma bagunça. Eu vou fazer melhor da próxima vez. Prometo. Você é bacana, mesmo se for lésbica. Sério, eu estou com você. Te vejo de manhã. Preciso ir arranjar uma foda.
Muito imersa em adrenalina para relaxar ou dormir, Avery foi para casa investigar o Art for Life no conforto de sua sala. No caminho, ela pediu comida chinesa.
Ela deixou o apartamento escuro. Apenas uma lâmpada estava acesa perto do sofá. Sentou na mesa da sala e comeu enquanto trabalhava.
O Art for Life funcionava há mais de cinco anos. O dono era um homem chamado Wilson Kyle, um ex-artista e empresário que também era dono de um restaurante perto do estúdio e de dois prédios naquela área. Uma rápida busca em seu histórico policial não trouxe nada sobre Kyle.
Duas pessoas eram empregadas do estúdio: um vendedor full-time chamado John Lang e uma empregada, mulher, que trabalhava aos fins de semana. O próprio Kyle dava aulas de arte nas noites de quarta e quinta, mas Lang dava duas aulas em sábados alternados.
Lang tinha histórico policial.
Um agressor sexual com registros. Dois incidentes de sete anos atrás. Um era de um garoto que ele aparentemente tomava conta, e o outro de uma garota que havia morado em sua quadra. Os dois depoimentos dos pais diziam que as crianças haviam sido molestadas. Lang se disse inocente, mas depois voltou atrás para evitar um julgamento e uma possível prisão. Ele pegou cinco anos de liberdade vigiada, um ano de acompanhamento psicológico obrigatório, além da desonra que carregaria pelo resto da vida.
De acordo com os arquivos da polícia, seu peso e altura batiam com os estimados para o assassino.
Avery encostou-se.
Era quase meia noite. Ela estava muito acordada e pronta para bater a porta de John Lang. Pode ser ele, ela pensou.
Excitada com a possibilidade de pegar o assassino, Avery queria compartilhar as boas novas com alguém. Estranhamente, ela pensou em Ray Henley, mas a ideia de uma ligação inadequada, tarde da noite, para alguém que ela havia recém conhecido parecia fazer pouco sentido. Finley não era uma opção, e o capitão havia dado ordens específicas para não incomoda-lo em casa.
Pensou em ligar para sua filha.
A última vez em que elas haviam se falado havia sido meses antes, e a conversa não tinha acabado bem.
Avery acabou enviando um e-mail. “Ei”, ela escreveu, “tenho pensado muito em você ultimamente. Amaria conversar pessoalmente. O que acha de almoçarmos no fim de semana? Talvez domingo? No nosso lugar de sempre?”
Ainda precisando falar com alguém, ela discou o número do hospital.
O telefone tocou muitas vezes até que uma voz sonolenta atendeu.
- Alô?
- Ramirez - ela disse, - como vai?
- Porra, Black. Que horas são?
- Quase uma.
- É melhor que isso seja importante - ele reclamou, - eu estava no meio de um sonho ótimo. Estava em um barco em um oceano limpo e azul, apareceu uma sereia e nós começamos a nos pegar.
- Uou! – ela disse, mas não estava afim de ouvir ele descrever seus sonhos sexuais.
- Eu consegui uma boa pista - ela prosseguiu, - Art for Life. O cara que trabalha lá se chama John Lang. Tem histórico. As duas garotas tiveram aulas com ele. Pode ser o assassino.
- Achei que Finley já tinha resolvido seu caso - Ramirez brincou. – Ele disse que derrubou um assassino autêntico ontem.
- Finley não saberia distinguir um assassino em série de uma caixa de cereais.
Ramirez riu.
- Ele é louco, né? Ouvi falar sobre o velho com os corpos no porão. Que porra louca. Acho que algumas pessoas... não tem como entender.
- Como você está se sentindo?
- Melhor, melhor. Eu só quero sair daqui e voltar a trabalhar.
- Eu sei, mas você precisa descansar.
- Sim, não é de todo mal - ele disse. – Eu tenho um quarto privado, uma cama boa, licença remunerada, comida decente. Você é com quem eu me importo. Porque… Finley? O capitão deve estar querendo te ferrar!
- Não sei, estou lidando com isso. Tirando a intolerância, o racismo e a boca suja, ele não é de todo mal. Eu só queria conseguir entender o que ele diz.
Uma risada foi rapidamente interrompida.
- Ah, cara, que merda! – Ramirez reclamou de dor. – Tenho que ter cuidado. Esses pontos estão me matando. Sim, ele é complicado - ele disse. – Irlandês do sul. Ele era um D-Boy. Você sabia? Quase mataram ele quando trocou de lado. Você viu as tatuagens? Ele tem o corpo cheio!
- Não. Eu não vi o corpo todo dele cheio de tatuagens ainda.
Ramirez bufou.
- Bom, olha, Avery, obrigado por ligar. Estou um pouco cansado então vou desligar. Boa sorte com a nova pista. Estou rezando por você.
Avery pegou uma cerveja e foi até o terraço. Nuvens se moviam rapidamente pelo céu iluminado pela lua.
Ela tomou um demorado gole.
Peguei você, pensou.