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CAPÍTULO 26

Riley chegou ao salão em Georgetown pouco antes do horário em que o funeral de Marie estava programado para começar. Ela temia funerais. Para ela, eles eram piores do que chegar na cena do crime com um corpo recém-assassinado. Eles sempre acertavam seu espírito de uma forma terrível. No entanto, Riley sentiu que ela ainda devia algo – ela não tinha certeza do que – a Marie.

A funerária tinha uma fachada de painéis de tijolos pré-fabricados e colunas brancas no pórtico da frente. Ela entrou em um saguão acarpetado e com ar-condicionado que levava para um corredor silencioso, coberto de papel de parede em cores pastel que não eram nem deprimentes e nem alegres. Mas esse efeito saiu pela culatra em Riley, aprofundando seu sentimento de desespero. Ela se perguntou por que as funerárias não poderiam ser apenas os lugares sombrios e pouco convidativos que elas realmente deveriam ser, como mausoléus ou necrotérios, sem esta falsa sanitização.

Ela passou por vários quartos, alguns com caixões e visitantes, outros vazios, até chegar onde o serviço de Marie seria realizado. No outro extremo da sala, ela viu o caixão aberto, feito de madeira polida, com uma alça de bronze longa dos lados. Talvez duas dezenas de pessoas estavam presentes, muitas delas sentadas, algumas socializando e sussurrando. Uma música suave de órgão estava sendo tocada no interior da sala. Uma pequena fila para ver o caixão estava formada.

Ela entrou na fila e logo se viu em pé ao lado do caixão, olhando para Marie. Apesar de toda a preparação mental de Riley, aquela visão ainda a abalava. O rosto de Marie estava estranhamente passivo e sereno, não retorcido e agonizante, como quando ela estava pendurada na luminária.

Aquela expressão não estava estressada e medrosa, como quando elas tinham se falado pessoalmente. Parecia inadequada. Na verdade, parecia pior do que inadequada.

Ela moveu-se rapidamente pela extensão do caixão, notando um casal idoso sentado na fileira da frente. Ela supôs que eles fossem os pais de Marie. Eles estavam flanqueados por um homem e uma mulher com idades próximas a de Riley. Ela achou que eles deveriam ser o irmão e a irmã de Marie. Riley revolveu suas lembranças de conversas com Marie e se lembrou de que seus nomes eram Trevor e Shannon. Ela não tinha ideia dos nomes dos pais de Marie.

Riley pensou em parar para oferecer suas condolências à família. Mas como ela iria se apresentar? Como a mulher que salvou Marie do cativeiro, mas que encontrou seu cadáver mais tarde? Não, com certeza ela era a última pessoa que eles iriam querer ver agora. Era melhor deixá-los chorando em paz.

Quando ela se dirigiu ao fundo da sala, Riley percebeu que ela não reconhecia nem uma única pessoa lá. Isso parecia estranho e terrivelmente triste. Depois de todas as suas incontáveis horas de bate-papo de vídeo e seu único encontro cara-a-cara, elas não tinham nenhum amigo em comum.

Mas elas tinham um inimigo terrível em comum: o psicopata que as manteve em cativeiro. Ele teria estado ali hoje? Riley sabia que os assassinos comumente visitavam os funerais e as sepulturas de suas vítimas. No fundo, apesar de estar ali por Marie, ela também tinha que admitir que essa era a verdadeira razão pela qual ela vindo hoje. Para encontrar Peterson. Era também por isso que ela estava carregando uma arma escondida – sua Glock pessoal que ela normalmente deixava em uma caixa no porta-malas do carro.

Enquanto caminhava em direção ao fundo da sala, ela esquadrinhou os rostos daqueles que já estavam sentados. Ela tinha vislumbrado o rosto de Peterson sob o brilho de sua tocha e tinha visto fotos dele. Mas ela nunca tinha conseguido dar uma boa olhada nele face a face. Será que ela o reconheceria?

Seu coração batia enquanto ela mirava para todos os rostos suspeitos, à procura de um assassino em cada um. Todos eles logo se tornaram um borrão de rostos angustiados, encarando-a com confusão.

Sem ver suspeitos óbvios, Riley se sentou em um assento do corredor na fileira de trás, separada de qualquer outra pessoa, onde ela pudesse ver quem entrava ou saía.

Um jovem pastor se aproximou de um palanque. Riley sabia que Marie não era religiosa, de modo que o pastor deve ter sido ideia de sua família. As últimas pessoas se sentaram e todo mundo ficou quieto.

Em voz baixa e bastante profissional, o ministro começou com palavras familiares. "Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam."

O pastor fez uma pausa por um momento. No breve silêncio, uma única frase ecoou pela mente de Riley…

"Não temeria mal algum."

De alguma forma, ela atingiu Riley como uma coisa grotesca e inadequada a dizer. O que isso significa mesmo, "temer mal nenhum"? Como poderia ser uma boa ideia? Se Marie tivesse sido mais temerosa antes, mais cautelosa, talvez ela não tivesse caído nas garras de Peterson no final das contas.

Esse era definitivamente um momento para temer o mal. Havia muito mal por aí.

O pastor começou a falar novamente.

"Meus amigos, estamos aqui reunidos para lamentar a perda e celebrar a vida de Marie Sayles – filha, irmã, amiga e colega…"

O ministro, em seguida, iniciou um sermão clichê sobre perda, amizade e família. Embora ele descrevesse a "passagem" de Marie como "prematura", ele não fez nenhuma menção à violência e ao terror que assombraram as últimas semanas de sua vida.

Riley se abstraiu rapidamente do seu sermão. Em seguida, lembrou-se das palavras de Marie em seu recado de suicídio.

"Este é o único jeito."

Riley sentiu um nó de culpa inchando dentro dela, crescendo tanto que ela quase não conseguia respirar. Ela queria correr até a frente da sala, empurrar o pastor para o lado e confessar à congregação que tudo aquilo era completamente sua culpa. Ela tinha falhado com Marie. Ela tinha falhado com todos os que amavam Marie. Ela tinha falhado com ela mesma.

Riley lutou contra a vontade de confessar, mas sua inquietação começou a assumir uma clareza brutal. Primeiro foram os tijolos pré-fabricados da casa funerária, as colunas brancas bobas e a cor pastel do papel de parede. Depois foi o rosto de Marie, tão antinatural e ceroso no caixão. E agora ali estava o pastor pregando, gesticulando e falando como uma espécie de brinquedo, um autômato miniatura, e a congregação de pequenas cabeças balançando, enquanto ele falava com eles.

É como uma casa de boneca, Riley agora percebia.

E Marie tinha sido colocada no caixão – não um cadáver real, mas um de mentira, em um funeral de mentira. Horror desmoronou sobre Riley. Os dois assassinos – Peterson e quem tinha matado Cindy MacKinnon e as outras – mesclaram em sua mente. Não importava que o emparelhamento fosse completamente infundado e irracional. Ela não podia separá-los. Tornaram-se um só para ela.

Parecia que aquele funeral bem trabalhado era o toque final do monstro. Ele anunciava que haveriam muitas mais vítimas e muitos mais funerais em breve.

Enquanto estava ali sentada, Riley notou com o canto dos olhos que alguém tinha entrado discretamente e em silêncio no serviço e sentou-se na outra extremidade da fileira de trás. Ela virou a cabeça ligeiramente para ver quem tinha chegado no meio da cerimônia e viu um homem vestido casualmente, usando um boné de beisebol baixo, que protegia seus olhos. Seu coração bateu mais depressa. Ele parecia grande e forte o suficiente para ser a pessoa que a dominara quando ela fora capturada. Seu rosto era severo, com maxilares cerrados, e ela pensou que havia um olhar de culpa sobre ele. Poderia ser o assassino que ela estava procurando?

Riley percebeu que ela estava quase ofegante. Ela diminuiu sua respiração até sua cabeça ficar calma. Ela precisou se conter para não se levantar de imediato e prender o retardatário. O sermão estava obviamente chegando ao fim e ela não podia interrompê-lo e desrespeitar a memória de Marie. Ela teria que esperar. E se não fosse ele?

Mas, então, para sua surpresa, ele, de repente, se levantou e calmamente saiu da sala. Será que a vira?

Riley levantou-se e o seguiu. Ela sentiu cabeças virando em direção a ela em sua súbita comoção, mas isso não importava agora.

Ela trotou pelo corredor da funerária até a entrada da frente e, quando abriu a porta, ela viu que o homem estava andando rapidamente pela calçada urbana. Ela puxou o revólver e apontou na direção dele.

"FBI!" Ela gritou. "Pare aí mesmo!" O homem virou-se para encará-la.

"FBI!" Ela repetiu, mais uma vez sentindo-se nua sem seu distintivo. "Mantenha as mãos onde eu possa vê-las."

O homem, de frente para ela, parecia absolutamente perplexo. "Documentos!" Ela exigiu.

Suas mãos tremiam – se por medo ou indignação, Riley não sabia dizer. Ele mostrou uma carteira com uma carteira de motorista e, ao examiná-la, ela viu que seu documento o identificava como um residente de Washington.

"Aqui está a minha identificação," disse ele. "Onde está a sua?"

A resolução de Riley estava começando a dissipar. Será que ela já tinha visto seu rosto antes? Ela não tinha certeza.

"Eu sou um advogado," disse o homem, ainda muito abalado. "E eu sei os meus direitos. É melhor você ter uma boa razão para puxar uma arma para mim sem nenhum motivo. Bem aqui, em uma rua da cidade."

"Eu sou a agente Riley Paige," disse ela. "Eu preciso saber por que você estava presente no funeral." O homem olhou para ela com mais atenção.

"Riley Paige?" Ele perguntou. "A agente que a salvou?"

Riley assentiu. O rosto do homem de repente caiu em desespero.

"Marie era uma amiga," disse ele. "Meses atrás, éramos tão íntimos. E então essa coisa terrível aconteceu com ela e…"

O homem sufocou um soluço.

"Eu tinha perdido contato com ela. E a culpa foi minha. Ela era uma boa amiga e eu não mantive contato. E agora eu nunca vou ter a chance de…"

O homem balançou a cabeça.

"Eu gostaria de poder voltar e fazer tudo diferente. Sinto-me tão mal com isso. Eu nem consegui aguentar o funeral inteiro. Eu tive que sair."

Aquele homem estava se sentindo culpado, Riley percebeu, e estava sofrendo. Por razões muito semelhantes às suas próprias.

"Sinto muito," disse Riley suavemente, deflacionada, baixando a arma. "Eu realmente sinto muito. Vou encontrar o bastardo que fez isso com ela."

Quando ela se virou para ir embora, ela o ouviu gritar em um tom perplexo.

"Eu pensei que ele já estava morto?"

Riley não respondeu. Ela deixou o homem enlutado lá na calçada.

E, quando ela se afastou, ela sabia exatamente onde precisava ir. Um lugar onde ninguém mais na terra, exceto Marie, poderia entender.

*

Riley dirigiu pelas ruas da cidade que a transitavam as casas elegantes de Georgetown para um bairro em ruínas em uma área industrial outrora próspera. Muitos edifícios e lojas foram abandonados e os moradores locais eram pobres. Quanto mais ela dirigia, pior ficava.

Ela finalmente estacionou em um quarteirão que consistia inteiramente de casas geminadas e arruinadas. Ela saiu do carro e rapidamente encontrou o que estava procurando.

Duas casas vazias ladeadas por uma área ampla e árida. Não muito tempo atrás, três casas abandonadas ficavam ali. Peterson tinha vivido como um posseiro na casa do meio, usando-a como seu esconderijo secreto. Tinha sido o local perfeito para ele, separado de habitantes para que ninguém pudesse ouvir os gritos vindos de debaixo da casa.

Agora, o espaço tinha sido nivelado, todas as provas das casas foram retiradas e a grama estava começando a crescer. Riley tentou visualizar como era quando as casas ainda estavam lá. Não foi fácil. Ela só esteve ali uma vez quando as casas estavam de pé. E tinha sido à noite.

Enquanto ela caminhava para a clareira, memórias começaram a voltar…

Riley tinha perseguido-o durante todo o dia e à noite também. Bill tinha sido chamado para uma emergência não relacionada e Riley tinha imprudentemente decidido seguir o homem até ali sozinha.

Ela o viu entrar na casinha miserável com tábuas nas janelas. Em seguida, poucos momentos depois, ele saiu novamente. Ele estava a pé, e ela não sabia para onde estava indo.

Ela considerou chamar os reforços por um momento. E então decidiu que não. O homem tinha ido embora e, se a vítima estivesse realmente dentro daquela casa, não podia deixá-la sozinha e em tormento por mais nenhum minuto. Ela subiu para a varanda e se apertou no vão entre as placas que bloqueavam parcialmente a porta.

Ela ligou a lanterna. O feixe refletiu contra, pelo menos, uma dúzia de tanques de gás de propano. Não foi nenhuma surpresa. Ela e Bill sabiam que o suspeito era obcecado por fogo.

Em seguida, ela ouviu um arranhar no assoalho debaixo, em seguida, um choro fraco…

Riley parou o fluxo de memórias. Ela olhou em volta. Ela tinha certeza de – estranhamente certeza – de que ela agora estava parada no mesmo lugar que ela tanto temia e procurava. Foi ali que ela e Marie tinham sido enjauladas, naquele espaço escuro e imundo.

O resto da história ainda estava fresco em sua mente. Riley foi capturada por Peterson quando ela libertara Marie. Marie tinha cambaleado por algumas milhas em estado de choque completo. Quando foi encontrada, ela não fazia ideia onde ela fora mantida em cativeiro. Riley foi deixada sozinha no escuro para encontrar seu próprio caminho para fugir.

Depois de um pesadelo aparentemente interminável, atormentada repetidamente pela tocha de Peterson, Riley conseguiu sair. Quando ela o fez, ela espancara Peterson até ele ficar quase inconsciente. Cada golpe lhe dava um grande sentido de vindicação. Talvez aqueles golpes, aquela pequena vingança, ela refletiu, tinham lhe permitido se recuperar melhor do que Marie.

Então, enlouquecida e desequilibrada de medo e exaustão, Riley abriu todos os tanques de propano. E, ao fugir da casa, ela jogou um fósforo aceso lá dentro. A explosão a arremessou do outro lado da rua. Todo mundo ficou surpreso por ela ter sobrevivido.

Agora, dois meses após a explosão, Riley estava olhando para sua sinistra obra – um vago espaço onde ninguém vivia e provavelmente não viveria por um longo tempo. Parecia uma imagem perfeita do que a sua vida tinha se tornado. De certa forma, parecia que era o fim da estrada, pelo menos para ela.

Um sentimento doentio de vertigem se apoderou dela. Ainda de pé, naquele local gramado, ela sentiu como se estivesse caindo, caindo, caindo. Ela tombou diretamente no abismo que tinha se aberto para ela. Mesmo em plena luz do dia, o mundo parecia terrivelmente escuro, ainda mais escuro do que tinha sido naquela jaula naquele espaço sob a casa. Parecia não haver nenhum fundo no abismo, nenhum fim para sua queda.

Riley lembrou mais uma vez da avaliação de Betty Richter sobre as chances de Peterson ter morrido.

Eu diria que noventa e nove por cento.

Mas isso, aquele persistente um por cento, de alguma forma tornava os outros noventa e nove sem sentido e absurdos. E, além disso, mesmo que Peterson realmente tivesse morrido, que diferença fazia? Riley lembrou as terríveis palavras de Marie ao telefone no dia de seu suicídio.

Talvez ele seja tipo um fantasma, Riley. Talvez seja isso que aconteceu quando você tentou explodi-lo. Você matou o seu corpo, mas você não eliminou o seu mal.

Sim, era isso. Ela esteve lutando contra uma batalha perdida durante toda a sua vida. O mal, afinal de contas, assombrava o mundo, assim como ele o fizera naquele lugar onde ela e Marie tinham sofrido tão terrivelmente. Foi uma lição que ela deveria ter aprendido quando menina, quando ela não conseguiu impedir sua mãe de ser assassinada. A lição foi deixada bem clara com o suicídio de Marie. Resgatá-la tinha sido inútil. Não havia nenhum ponto em resgatar ninguém, nem mesmo a si mesma. O mal iria prevalecer, no final. Era exatamente o que Marie tinha dito a ela pelo telefone.

Você não pode lutar contra um fantasma. Desista, Riley.

E Marie, muito mais corajosa do que Riley imaginava, finalmente resolveu o assunto com suas próprias mãos. Ela explicou sua escolha em cinco palavras simples.

Este é o único jeito.

Mas isto não era coragem, tirar a própria vida. Isso era covardia. Uma voz irrompeu através da escuridão de Riley.

"Você está bem, senhora?" Riley olhou para cima.

"O quê?"

Então, lentamente, ela percebeu que estava de joelhos em um terreno vazio. Lágrimas escorriam pelo seu rosto.

"Devo chamar alguém para você?" Perguntou a voz. Riley viu que uma mulher tinha parado na calçada próxima, uma mulher mais velha, em roupas surradas, mas com um olhar preocupado em seu rosto.

Riley controlou seus soluços e se pôs de pé, a mulher se retirou. Riley ficou ali, entorpecida. Se ela não podia pôr um fim a seu próprio horror, ela sabia uma maneira de se imunizar contra ele. Não era corajoso, tampouco honroso, mas Riley já não se importava. Ela não ia resistir por mais tempo. Entrou em seu carro e foi para casa.

CAPÍTULO 27

Com as mãos ainda trêmulas, Riley alcançou uma garrafa de vodca que ela tinha escondido no armário de cozinha, a garrafa que ela prometera nunca mais tocar novamente. Ela tirou a tampa da garrafa e tentou vertê-la calmamente em um copo, para que April não ouvisse. Já que parecia tanto com água, ela esperava que pudesse beber abertamente sem mentir sobre isso. Ela não queria mentir. Mas a garrafa gorgolejava indiscretamente.

"O que está acontecendo, Mãe?" April perguntou atrás dela na mesa da cozinha. “Nada,” Riley respondeu.

Ela ouviu April resmungar um pouco. Ela podia dizer que sua filha sabia o que ela estava fazendo. Mas ela não devolveu a vodca de volta na garrafa. Riley queria jogá-la fora, realmente queria. A última coisa que desejava fazer era beber, especialmente na frente de April. Mas ela nunca havia se sentido tão para baixo, tão abalada. Sentia-se como se o mundo estivesse conspirando contra ela. E ela realmente precisava de uma bebida.

Riley deslizou a garrafa de volta no armário, em seguida, foi até a mesa e sentou-se com a taça. Ela tomou um longo gole, que queimou sua garganta de uma maneira reconfortante. April olhou para ela por um momento.

"Isso é vodca, não é, mamãe?" – disse ela.

Riley não disse nada, a culpa se espalhando sobre ela. April merecia isso? Riley a tinha deixado em casa durante o dia inteiro, ligando de vez em quando para ver como ela estava, e a menina tinha sido perfeitamente responsável e tinha ficado longe de problemas. Agora, Riley era a única a ser furtiva e imprudente.

"Você ficou com raiva de mim por fumar maconha," disse April.

Riley ainda não disse nada.

"Agora é quando você deve me dizer que isso é diferente," April falou.

"Isso é diferente ", respondeu Riley, cansada.

April a encarou.

"Como?"

Riley suspirou, sabendo que sua filha estava certa, e sentindo um profundo senso de vergonha.

"Maconha é ilegal," disse ela. "Isso aqui não é. E-"

"E você é adulta e eu sou uma garota, certo?"

Riley não respondeu. Claro, era exatamente isso que ela estava prestes a dizer. E, claro, era hipócrita e errado.

"Eu não quero discutir," disse Riley.

"Você realmente vai começar este tipo de coisa de novo?" Disse April. "Você bebeu muito quando estava passando por todos esses problemas e você nunca me contou o que estava acontecendo."

Riley sentiu seu queixo travar. Era de raiva? Por que raios ela deveria ficar com raiva de April, ainda mais agora?

"Há algumas coisas que eu não posso lhe dizer," disse Riley.

April revirou os olhos.

"Jesus, mamãe, por que não? Quero dizer, algum dia eu estarei crescida o suficiente para aprender a terrível verdade sobre o que você faz? Não pode ser muito pior do que o que eu imagino. Acredite em mim, eu posso imaginar muito."

April se levantou de sua cadeira e foi até o armário. Ela pegou uma garrafa de vodca e começou a se servir de um copo.

"Por favor não faça isso, April" Riley pediu fracamente.

"Como é que você vai me fazer parar?"

Riley levantou-se e gentilmente pegou a garrafa de April. Depois sentou-se de novo e verteu o conteúdo do copo de April em seu próprio copo.

"Só termine de comer sua comida, ok?" Riley disse.

April estava se enchendo de lágrimas agora.

"Mãe, eu gostaria que você pudesse se ver," disse ela. "Talvez você entenda como me dói ver você assim. E como dói você nunca me contar nada. Machuca muito."

Riley tentou falar, mas percebeu que não conseguia.

"Converse com alguém, mãe," disse April, começando a soluçar. "Se não comigo, com outra pessoa. Deve haver alguém em quem você possa confiar."

April fugiu para seu quarto e fechou a porta atrás dela.

Riley escondeu o rosto entre as mãos. Por que ela continuava estragando tudo com April? Por que ela não podia manter as partes ruins de sua vida longe de sua filha?

Seu corpo inteiro agitou-se com soluços. Seu mundo tinha girado completamente fora de controle e ela não conseguia formar um único pensamento coerente.

Ela ficou ali sentada até as lágrimas pararem de fluir.

Levando a garrafa e o copo, ela entrou na sala e sentou-se no sofá. Ligou a TV e assistiu o primeiro canal que surgiu. Ela não tinha ideia de qual filme ou programa de TV apareceu na tela, mas não se importava. Ficou apenas lá, olhando fixamente para as imagens, deixando as vozes sem sentido passarem por ela.

Mas ela não conseguia parar as imagens que inundavam sua mente. Ela viu os rostos das mulheres que haviam sido mortas. Viu a chama ofuscante da tocha de Peterson se movendo em sua direção. E ela viu o rosto morto de Marie – tanto o que Riley tinha encontrado pendurado e quanto o que ela viu tão habilmente exibido no caixão.

Uma nova emoção começou a se rastejar junto com seus nervos – uma emoção que ela temia acima de todas as outras. Era o medo.

Ela estava morrendo de medo de Peterson e podia sentir sua presença vingativa ao seu redor. Não importava muito se ele estava vivo ou morto. Ele tinha tirado a vida de Marie e Riley não conseguia abandonar a convicção de que ela era o seu próximo alvo.

Ela também temia, talvez até mais, o abismo no qual estava caindo agora. Onde os dois realmente se separavam? Não era Peterson que tinha causado esse abismo? Aquela não era a Riley que ela conhecia. Será que o TEPT nunca teria um fim?

Riley perdeu a noção do tempo. Todo o seu corpo zumbia e doía com seu medo multifacetado. Ela bebeu de forma constante, mas a vodca não a entorpecia por inteiro.

Ela finalmente foi ao banheiro, vasculhou o armário de remédios e encontrou o que estava procurando. Em seguida, com as mãos trêmulas, os achou: os tranquilizantes receitados. Ela deveria tomar um na hora de dormir e nunca misturar com álcool.

Com as mãos trêmulas, ela engoliu dois.

Riley voltou para o sofá da sala e olhou para a TV de novo, esperando o medicamento fazer efeito. Mas ele não estava funcionando.

O pânico tomou conta dela com um aperto gelado.

O quarto parecia estar girando agora, fazendo-a sentir náuseas. Ela fechou os olhos e estendeu-se no sofá. Um pouco da tontura passou, mas a escuridão por trás das pálpebras era impenetrável.

Quanto pior as coisas poderiam ficar? Ela se perguntou.

Ela soube imediatamente que era uma pergunta estúpida. As coisas estavam ficando cada vez piores e piores para ela. As coisas nunca iriam melhorar. O abismo não tinha fundo. Tudo o que podia fazer era entregar-se à queda e se render ao desespero sombrio.

A escuridão da intoxicação se espalhou à sua volta. Ela perdeu a consciência e logo começou a sonhar.

Mais uma vez, a chama branca do maçarico destacava a escuridão. Ela ouviu a voz de alguém.

"Venham. Siga-me.

Não era a voz de Peterson. Era, porém, familiar – extremamente familiar. Alguém tinha vindo salvá-la? Ela levantou-se e começou a seguir quem estava carregando a tocha.

Mas, para seu horror, a tocha lançou sua luz sobre um cadáver após o outro – primeiro Margaret Geraty, em seguida, Eileen Rogers, então Reba Frye e, por último, Cindy MacKinnon – todos elas nuas e terrivelmente deformadas. Finalmente, a luz caiu sobre o corpo de Marie, suspenso no ar, com o rosto horrivelmente contorcido.

Riley ouviu a voz novamente.

"Garota, você com certeza estragou as coisas."

Riley se virou e olhou. No clarão escaldante, ela viu quem estava segurando a tocha.

Não era Peterson. Era seu próprio pai. Ele estava vestindo o uniforme de gala de um coronel da Marinha. Isso lhe parecia estranho. Ele tinha se aposentado há muitos anos agora. E ela não tinha visto ou falado com ele há mais de dois anos.

"Eu vi muita coisa ruim no Vietnã," disse ele com um aceno de cabeça. "Mas isso realmente me deixa com nojo. Sim, você arruinou tudo, Riley. Claro que eu aprendi há muito tempo a não esperar nada de você."

Ele movimentou a tocha para que ela iluminasse um último corpo. Era sua mãe, morta e sangrando do ferimento de bala.

"Você poderia muito bem ter atirado nela mesmo, por tudo de bom que você fez a ela," disse seu pai.

"Eu era apenas uma garotinha, papai," Riley lamentou.

"Não quero ouvir nenhuma de suas malditas desculpas," seu pai gritou. "Você nunca trouxe um momento de alegria ou felicidade a nenhuma alma humana, você sabia disso? Você nunca fez nada de bom. Nem para si mesma."

Ele girou o botão da tocha. A chama se apagou. Riley estava na escuridão de breu de novo.

Riley abriu os olhos. Era noite e a única luz na sala de estar vinha da TV. Ela se lembrava nitidamente de seu sonho. As palavras de seu pai não paravam de soar em seus ouvidos.

Você nunca trouxe um momento de alegria ou felicidade a nenhuma alma humana.

Seria verdade? Ela tinha falhado tão miseravelmente com todo mundo – até mesmo com as pessoas que ela mais amava?

Você nunca fez nada de bom. Nem para si mesma.

Sua mente estava nebulosa e ela não conseguia pensar direito. Talvez ela não pudesse dar alegria verdadeira e felicidade a ninguém. Talvez simplesmente não existisse o verdadeiro amor dentro dela. Talvez ela não fosse capaz de amar.

À beira do desespero, procurando por algum apoio, Riley lembrou-se das palavras de April.

Converse com alguém. Alguém em quem você pode confiar.

Em sua névoa bêbada, sem pensar com clareza, quase automaticamente, Riley discou um número em seu telefone celular. Depois de alguns momentos, ela ouviu a voz de Bill.

"Riley?" Ele perguntou, parecendo mais do que meio adormecido. "Você sabe que horas são?"

"Eu não tenho ideia," disse Riley, pronunciando mal suas palavras.

Riley ouviu uma mulher grogue questionar, "Quem é, Bill?"

Bill disse à esposa: "Eu sinto muito, tenho que atender."

Ela ouviu o som de passos de Bill e uma porta se fechando. Ela imaginou que ele estava indo para algum lugar para conversar em particular.

"O que é tudo isso?" Ele perguntou.

"Eu não sei, Bill, mas-"

Riley parou por um momento. Ela sentiu-se à beira de dizer coisas as quais ela iria se arrepender – talvez para sempre. Mas, de alguma forma, ela não conseguiu se controlar.

"Bill, você acha que poderia sair por um tempo?" Bill soltou um rosnado de confusão.

"Do que você está falando?

Riley respirou longa e profundamente. Do que ela estava falando? Ela estava encontrando dificuldades para conectar seus pensamentos. Mas ela sabia que queria ver Bill. Era um instinto primitivo, um desejo que ela não podia controlar.

Com o pouco de consciência que ela ainda tinha, sabia que deveria dizer me desculpe e desligar. Mas o medo, a solidão e o desespero tomaram conta dela e ela mergulhou à frente.

"Quero dizer…," ela continuou, pronunciando suas palavras, tentando pensar de forma coerente, "só você e eu. Para passar algum tempo juntos."

Houve apenas silêncio na linha.

"Riley, estamos no meio da noite," disse ele. "O que você quer dizer passar um tempo juntos? " Ele exigiu, sua irritação claramente aumentando.

"Quero dizer…" ela começou, pensando, querendo parar, mas não conseguindo. "Eu quero dizer…Eu penso em você, Bill. E não apenas no trabalho. Você não pensa em mim, também?"

Riley sentiu um peso terrível esmagando-a assim que ela pronunciou essas palavras. Era errado e não havia como voltar atrás.

Bill suspirou amargamente.

"Você está bêbada, Riley," disse ele. "Eu não vou encontrá-la em nenhum lugar. Você não vai dirigir para lugar nenhum. Eu tenho um casamento que estou tentando salvar, e você… bem, você tem seus próprios problemas. Recomponha-se. Tente dormir um pouco."

Bill terminou a ligação abruptamente. Por um momento, a realidade parecia pairar em um estado de suspensão. Então Riley foi apreendida por uma clareza horrível.

"O que foi que eu fiz?" Ela lastimou em voz alta.

Em apenas alguns momentos ela estragou uma relação profissional de dez anos. Seu melhor amigo. Seu único parceiro. E, provavelmente, o relacionamento de maior sucesso de sua vida.

Ela estava certa de que o abismo no qual ela estava caindo não tinha fundo. Mas agora ela sabia que estava errada. Ela atingiu o fundo e despedaçou o chão. Ainda assim, ela estava caindo. Ela não sabia se algum dia seria capaz de levantar-se novamente.

Ela estendeu a mão para a garrafa de vodca na mesa de café, ela não sabia se deveria beber o que restava ou jogar fora. Mas a sua coordenação motora estava completamente afetada. Ela não conseguia segurá-la.

O quarto rodava à sua volta, veio um estrondo e tudo ficou escuro.