Kitabı oku: «Mundanismos», sayfa 4
IRADO ATÉ À CURA…
Ampla alcôva: no armoire-à-glace reflectida como outro vasto commodo…
Rico mobiliario de pau-setim com incrustações de jacarandà reluzente…
Um leito de cazados, e sobre elle, cadaverico, pelles e ossos, despojado de carnes, ventrudo, olhar ancioso, o louro ORMINDO, luctando com a morte…
É um erro de diagnostico, rebelde a enfermidade à medicação despropositada.
Junto do leito, uma banca, e sobre esta, alem de um thermometro e de um chronometro, desenvolta frascaria…
Aos pés da cama, fatigada, somnolenta, às vezes, DOCA é heroina na vigilia: o seu semblante merencoreo só consegue alguma graça quando ELOY visita o enfermo.
– A morte acena-me, e eu me vou indo aos pedaços sorrateiramente… Doca, tu bem vês como eu morro todos os segundos, como eu minguo sem cessar…
– Tem fé em Deus, Ormindo.
– Morrerei com ella, sim. A fé! Ella é o facho illuminador da estrada eterna… Como deve ser doloroso não crer em nada, Doca!.. Sentir a alma cahir no vacuo… Ah! não me conformo, porem… Morrer quando tanto preciso é viver… Vou deixar-te na penuria… a braços, por certo, com os creditos da medicina e da pharmacia…
– Tu pensas demais.
– Como não hei de pensar? Vejo-te, e sei que rilharás a codea endurecida e atrazada. É com horror que prevejo as tuas infelicidades… És nova. Mas de que servirà a tua mocidade sem pão, os teus verdes annos sem um amparo? És bella. Mas de que prestarà a tua lindeza se não tiveres um manto para o frio e um abanico para o calor? Nova e bella… na viuvez! Quem sabe o teu destino mulher a quem tanto amei?
– A pobreza é um estimulo, Ormindo: saberei trabalhar afim de haver com honra um pedaço de pão e alguns covados de fazendas…
– Não te peço nada, e peço-te muito: não macúla o nome de teu marido. A herva reverdesce a fronde dos vegetaes, augmenta-lhes a copa, ennobrece-lhes o aspecto: crava-lhes, porem, até ao durano, as raizes assassinas e rouba-lhes a seiva até à morte. A arvore cessa de existir com a trepadeira phytocida que lhe rendilha os contornos. A mulher deve pensar que o bem-estar não é a honra, e que ha tranquillidades mais homicidas do que a herva do passarinho… A deshonra não provem da pobreza, da fome ou mesmo da nudez. A deshonra é fructo das transigencias de alma, e a mulher viuva é a que póde peiormente transigir… Que dores!.. Ui!..
– Estàs vendo: peioras quando falas!
– Doca, no meu caso extremo, a morte é assim qualquer coisa como uma sorte grande…
– Num bilhete branco para mim que fico sem ti… Não sabes aproveitar o silencio como um meio de cura, não sabes tirar partido, poupando forças para momentos mais graves…
– Durarei muito pouco.
– Não pódes saber mais do que os medicos.
– Ah! mulher! Só eu posso saber o que sinto, o que senti, e como se avisinha o instante derradeiro… Dizem que os extremos se tocam. É verdade, pois tenho neste momento a visão mais lucida dos meus primordios. Que é isto senão que se vai fechar a circumferencia de minha traslação em torno do vacuo universal? O aneurisma cresce, avoluma-se, rouba-me a vida, bem o sinto agora. Tem a fórma de uma esphera, é um globo pequenino de vivos, na lucta pela existencia. Vai arrebentar, latejando e doendo, pulsando e abafando-me de vez… Pensas tu que nunca me illudi com a esperança da cura? Illudi-me, mas antes de todos…
– Quem està vivo, Ormindo, ainda não està morto, e toda a cura é plausivel.
– A tua dedicação é cega. Desde que adoeci, desde que sobre o coração senti a formação mortifera do mal circulatorio, certifiquei-me estar mais longe do mundo do que do nada. E deste momento para cà, que fiz para denunciar que creio na cura? Ao contrario, a minha vida tem sido a chamma de uma véla a luctar com o sôpro das auras. Não ha um instante em que não me morra uma alegria, em que não nasça uma saudade. Em torno de mim bailam as ondas frias do nada, como brinca a mariposa teimosa em torno de uma lampada.
– Aggravas-te, Ormindo! Cala a bocca por piedade! As tuas palavras são outros tantos punhaes que me sangram o coração.
– Que horas serão?
– Jà é noite.
– E os medicos que não vieram?
– Vieram, sim. Tu estavas dormindo.
– Os medicos não vieram, não… Até a minha esposa conspira contra a minha existencia…
– Não pesas as tuas palavras, Ormindo.
– Jà sei de tudo. Perderam a esperança, abandonaram-me. Não passarei de hoje. Estou condemnado a horas.
– Descansa um pouco.
– Descansar, agora, só de vez. Bem curta foi a minha felicidade, e parece-me que foi hontem à tarde que nos vimos pela primeira vez. Um sonho às vezes tem existencia mais real, porque nos acompanha do momento da concepção em criança ao instante da morte na velhice. Ai!.. falta-me o ar…
– Assim queres! Falas tanto…
– Deixa-me ir, Doca, ao meu destino: não ha rio que não chegue ao mar. Demorado, se grandes e muitas curvas descreve; rapido, se rectas consegue… Quatro annos e parecem quatro horas! Tu talvez não te lembres mais do meu enfeitiçamento; não me esqueço eu do sorriso unico com que festejaste o nosso encontro. Toda a tarde, toda a noite… Oh! que lindo luar te prateou as pupilas, te diademou os cabellos e te banhou luciferamente as espaduas! Mezes depois, o cazamento… A noite de nupcias vivazes… O nosso lar… O nosso amor insatisfeito sempre para accordar novas caricias, para fomentar alegrias… A esperança de um filho… O recúo da esperança… E tudo isto acabar quando mesmo principiava?!..
– Não temas a morte: um cerebro que pensa como o teu dà confiança na renascença da vida.
– A alma não morre, Doca! É ella quem esta vivendo agora. Os pulmões fraqueiam, o coração tem espasmos, a visão escurece-se, a voz arrasta-se, mas o cerebro pensa… Crês tu que, porque não falam, todos os moribundos não pensam? Illudes-te! É a hora de maior pensamento. Só recompôr todo o passado afim de o ligar ao presente e encerrar o circulo das sensações mundanas, é pensar robustamente. Um moribundo que eu vi, não tinha a fala. Os membros eram paralyticos, os olhos envidrados e photographavam a luz do dia para a eternidade… Pois bem! esse homem assim amortecido, repelliu com o gesto brusco de uma perna o supplicio de uma injecção nos ultimos instantes… Acaso, não pensaria mais aquelle cerebro de tanta vontade? Outros ha que conhecem até o segundo derradeiro: fazem despedidas… Ah! como deve ser tocante o adeus de um esposo que ahi deixa a companheira sem a certeza de um agasalho… Um que vai, a outra que fica… Qual dos dois padecerà mais no extremo momento? Doca, ouve-me bem: tu vais entrar num terceiro mundo… Alegras-te com a nova?.. Pensas que deliro ou que não falo certo?
– Não me alegro, confranjo-me: viste um lampejo maior de esperança illuminar-me o rosto…
– Como és amante?!.. Quererias de coração e de alma, com todos os affectos e vontades, a minha cura?
– Tenho provado o meu desejo de ver-te salvo e tornado à saúde.
– É bem pouco um desejo!
– Duvidas que todas as minhas forças funccionam só na intenção de possuir-te novamente são?
– Não duvido! Pareceu-me que te aborrecias, inda ha pouco, com a prolongação de minha tortura…
– Aborrecer-me eu!..
– E então?!..
– Tens coragem! Só me representa que gravaràs na alma uma eterna desconfiança da amizade de tua esposa…
– Isto não!
– Pois parece, Ormindo!
– Neste caso, escutas-me com agrado?
– Sim.
– Posso falar?
– Não.
– Ah! jà sei… É a mesma quesilia de que falar é um desperdicio de forças organicas…
– Diz o doutor…
– Nenhum delles sabe nada… Quem pensa deve falar. Onde o meu cerebro conteria tanta palavra que tenho pensado? Eu te dizia que tu vais entrar num terceiro mundo, e para cada um desses mundos, devido às intenções animaes dos homens, a equação da mulher é perigosamente diversa. Virgem, ella tem a expressão de um sonho; esposa, representa uma realidade; e viuva, ella é uma alma em que se derramam os mananciaes copiosos da luxuria humana… Virgem, fôste uma criadora; esposa, uma inspiradora; viuva, seràs, em nome da honra de teu marido, uma redemptora… Ai!.. Dóem-me os pulmões… Morrerei, porem, com todas as sensações…
– Não morreràs, Ormindo!
– São os teus votos?
– Duvidas de mim, dos meus affectos, dos meus affagos, do meu amor, inda no instante derradeiro?
– Não duvidei jamais: fui um esposo feliz, muito feliz.
– Pois então?!..
– Dà-me a tua mão…
– Estàs frio!
– É a gelidez da morte… Não tardarà… Fazes-me um favor?..
– Se o faço…
– É para depois de minha morte…
– Juro-te.
– Mas, responde franca e precisamente, para que eu não succumba com uma duvida…
– Pede o que quizeres… Pede… não!.. ordena!
– Estou acabado. Luctou commigo a morte, que, se não me derrubou de vez, vai invadindo-me com o gêlo de seu halito das extremidades para o coração. Bestam-me instantes. Vais enviuvar e a viuvez é um despenhadeiro. Peço-te em nome de minha tranquillidade, que te cases, immediatamente, afim de que não paire uma só nuvem sobre a limpidez do teu e do meu nome… Casarás logo… Peço-te… É o ultimo sacrificio em prol do teu defuncto…
– Intranquillisas-me, Ormindo.
– Não ha razão para isso.
– Se tu mandas…
– Mando, não; peço… Agradar-te-à Eloy?
– Queres, Ormindo, a verdade antes da morte?
– É isso…
– Pois bem! O que tu propões jà estava assentado entre nós outros…
A ira irrompe brutalmente na alma do trahido moribundo, que faz um grande esforço e se salva com o despedaçamento brusco do myoma desconhecido, do assassino erro de diagnóstico…
A HUNGARA
Commodo de hotel. Um fóco electrico esverdinhava o azul papel das paredes.
Revolvido, o leito denunciava em duas cóvas a pressão de dois corpos que nelle se afundaram.
SARAH, a hungara, recebia GUANABARINO, o chronista theatral, com um estridente signal de contentamento…
– Aqui estou. Nem sei como acertei.
– Estás apaixonado?
– Crês, Sarah, que paixão desponte como um sorriso?
– Quem te disse o meu nome?
– Li-o nos programmas.
– Ah! sim. Gostaste do meu canto?
– Não te ouvi.
– Como te agradei?
– Pertencendo a outro. A mulher sem dono custarà a topar com um amante. Rolarà uma eternidade como a pedra que não cria limo… Tenha um amante e dezenas surgirão…
– Como elle é experiente!
– Vejo todos os dias. Se quizeres arrebatar, deixa-te monopolisar por Gustavo. Ouve: agradei-me de ti porque, pelo braço delle, no teu longo manteau de sêdas e rendas, pareceste-me uma conquista difficil. Vejo dezenas de mulheres no Café-Concerto. Tyroleanas, que encantam com o canariar de suas vozes; francesas, que arrebatam com o savoir-dire as malicias mais leves; espanholas, que excitam com o sensualismo de seus sapateados; americanas, que lembram bugios nos saltos do cake-walk… Todas são-me indifferentes, por todas passo na certeza de cruzar com cocottes para todo o mundo… De começo estive tentado a emprehender uma ménage-à-trois com uma acrobata. Porque assim? A gymnasta era um corpo prohibido e vivia aferrolhado à concupiscencia de seu proprio pae. Tive horror a essa monstruosidade e o desejo passou. Finalmente encontrei-me comtigo…
– Ladrãosinho! Como elle sabe contar!
– Junto de Gustavo acendeste-me a centelha de um capricho: trahir o teu amante. Tinha eu entrado no Theatro naquella hora mesmo. O grupo de amigos attrahiu-me e a attracção de todos eras tu. Olhei-te e fiz-te um cumprimento com a cabeça. Não me teres sido apresentada, significou que o teu galan zelava de mais. Ah! A cultura humana tem o maior testimunho de seu progresso na sabedoria dos olhares que as pessôas cultas pódem trocar. Viste como te comprehendi e logo te apertei os dedos, no caminho para o buffet? Atinaste como consegui retirar, por um momento, Gustavo de junto de ti e como tratamos, quaes velhos conhecidos este encontro? Na sombra dos pés da meza, os nossos corpos se trocavam desejos nos encontros, animavam-se tambem com os promettimentos mais claros, e as nossas carnes se queimavam por detraz dos tecidos de nossas vestias. Tudo isto, porem, ainda não é paixão. É um grito do instincto animal. Só nos não apaixonaremos se não quizermos…
– Como sabes a vida!
– Precisas prender Gustavo. A epoca é das melhores. O dinheiro passa-lhe pelas mãos como as aguas pelos rios para o mar. Segura-o bem, porque, alem do mais, é um amante que, por força de ter mulher e filhos e morar longe, te darà muito tempo aos amores furtados.
– Não os quererei. Sempre fui parcimoniosa. Juro-te como o meu corpo não se tem dado a muitos. Fui concubina de um general, durante annos, e só o trahi uma só vez: com o pae de meu filho. Gósto de um amor só, de ter um dono e de ser cubiçada. Nem sei como te recebi agora… Em todo o caso, o Gustavo não me agrada… Prefiro-te a elle, serás o meu amante…
– Erraràs se assim preferires, Sarah. Não tenho posses para te manter, ao passo que o Gustavo…
– Que tem isso? Tenho eu o meu officio. O emprezario paga-me bem, ganho para o luxo e para a meza. Dou-me a quem eu quero…
– Neste caso ficaràs com elle…
– Porque então?
– Conheceste-o primeiro.
– Não importa isso. A elle conheci na manhan, a ti à noite, ambos no mesmo dia. Vi-o a bordo. Trouxe-me elle para a terra. Encaminhou-me do hotel, e… má recommendação tem dado com os multifarios obsequios, com os gastos e as gentilezas, sómente com essas coisas… Ora, uma mulher como eu, ou quer o homem, ou não o quer… De minha parte dispenso as galanterias…
– Tudo isto concorre para lhe fazeres teu amante, para dispôres de sua bolsa…
– E fico comtigo para o meu verdadeiro amante, para o meu especial amor…
– Là com isto combino eu.
– Assim, và que seja e comecemos…
– Que tenho eu para tanto me olhares?..
– Fixo a tua imagem. Tens um olhar de fogo. Os teus olhos incandescentes são dois vulcões. Como te chamas?
– Guanabarino, um nome difficil.
– Como?
– Gua-na-ba-ri-no!
– Gua-na…
– … barino.
– Ah! sei. Guanabarino. É a primeira vez que ouço esse nome. És brazileiro?
– De corpo e alma. E tu?
– Filha do sul da Hungria. Vim creança para a tua terra. Fui noiva, aprendi a cantar com um meu amante e vivo disto…
– Tens percorrido meio-mundo, hein?
– Não: conheço a tua patria e a minha, em pallida reminiscencia…
– Dize outra vez esse termo…
– Reminiscencia.
– Que lindo! Parece-me, Sarah, que estás a dar uma serie de beijos…
– Como elle é ardente!
– De verdade?
– A tua alma està fugindo-te pelos olhos…
– Junto de um espirito como o teu, como ella não querer a transfusão carnal? Jà notaste o frio que regela as mãos do homem emocionado junto da mulher que o escalda?..
– Ih!.. Que gêlo!
– Sabes explicar?
– Não. É difficil?
– Ao contrario. Bem facil. O sangue todo affluiu-me ao coração. As extremidades resfriaram-se. Tudo isto jà é começo de paixão… Falaste nos meus olhos! E os teus? São capazes de comprar o mundo com um só relance.
– Costumas ser gentil com todas as mulheres de teu conhecimento?
– Que graça! Se costumasse, haviam de estar bem gastas as minhas gentilezas.
– Tens gozado tanto?
– Inda perguntas?! Não sabes que o amor se fez para os temperamentos tropicaes, para os homens das terras do Sol, como eu o sou? Tenho um desejo para cada mulher e, posso parodiar um dito desrespeitado a toda hora: sinto que todo o teu sexo não seja uma só mulher para esta ser a minha amante…
– Caloroso! Deita-te aqui, Guanabarino!
– Não.
– Desmentes o que asseguras.
– Jà tiveste o teu quinhão.
– Como assim?
– Jà te possuiu o Gustavo…
– Juro-te que não. Tem sido o meu apresentante, e, a verdade seja revelada, ainda não desejou…
– De facto?
– Juro-te eu.
– Ao depois delle… nunca!
– Mas, porque? Mettes-me medo…
– Por nada! O Gustavo é um homem para se temer…
– E porque me inflúes para ser a sua amante?
– Porque o encontrei no fastigio da tua posse, porque vejo que do seu concubinato bem pódes usufruir grandes proventos. E, jà agora te direi: pouco mais fará elle do que hoje… Entretanto, como homem de recursos, talvez ainda não te désse a menor prova do que seja…
– Fez-me hoje a oblata de um collar de libras…
– Um collar?
– Sim.
– De libras esterlinas?
– Conheces?
– Acho que não. Agora reparo que tens dois fachos lindissimos…
– Foram presente.
– Fico esmorecido. Nem sei como hei de portar-me para comtigo sem outros meios que não esta apparencia palavrosa e este atrevimento que me trouxe aqui…
– Não amo os homens pelas riquezas. Tenho os meus rendimentos de chanteuse. Ás vezes succede amar os que podem. Neste caso, sou a primeira a não regeitar o que me dão. Um deputado deu-me este annel…
– Adoravel!
– Um advogado, ao depois de uma perseguição de mezes, para eu o receber, offertou-me estas pulseiras… No entanto, o pae de meu filho aquinhoou-me apenas com o seu amor… Assim vou passando, umas em cheio, outras…
– Muito em cheio, Sarah!
– Tu falas? Um mineiro, hoje desesperançado de conseguir a minha retribuição, deu-me estes correntões para atilios…
– Que lindas fórmas!
– Mostro-te apenas os atilios e não as pernas…
– E eu vejo tudo! É admiravel como o fraise das meias se destaca no gêsso das tuas pelles…
– Pois bem, Guanabarino! Permitte que eu te diga; amantes que me cubrissem de oiro tenho tido às carradas… mas, um só que me dissesse coisas tão lindas, nunca tive… A palavra inescutada é tambem uma joia preciosa. E para retribuir tantas distincções ineditas só um beijo de muita paixão, só um beijo…
– Basta, Sarah! Basta! Prometteste um e déste mais de mil…
– Longe disto, tu não me recompensaste com um só… Reparei bem…
– Desculpa. Mas, quando sou beijado, não beijo. Esta caricia deve ser sempre espontanea e impagavel. E eu não commetto a grosseira sensualidade de pagar uma caricia…
– Ao depois de ti, nem mais sei como receba Gustavo, amanhan…
– Com todo o fervor…
– Não te enciumas?
– Não. Estimarei que possas fluctuar aos olhos do mundo na aeronave de ouro que elle te der.
– Queres ver o collar de hoje?
– Verei.
– Elle me prometteu para amanhan um relogio e um correntão.
– Aproveita, Sarah! Gustavo desperdiça dinheiros de herança…
– Vês tu o bello collar?
– É lindo!.. Elle t'o deu?
– Sim.
– Esta joia?
– Que significa o teu espanto?
– É que este collar é…
– Falso?
– Não! Uma joia de familia, uma joia da mulher de Gustavo…
– Agora é minha!
– Estàs no teu direito. Deixa-o amar-te e colhe os seus esbanjamentos…
– E só a ti amarei, Guanabarino!..
Pela madrugada, a libertina abria a porta para o successor de GUSTAVO evadir-se, e recebia, instantes depois, reticenciando o silencio somnolento do casarão do hotel, a figura caprina de um mal conhecido visinho de quarto…