Kitabı oku: «O Misterioso Tesouro De Roma», sayfa 2
Um exemplo disso foi a visita que fizemos à igreja de Santa Maria em Cosmedin, em cujo exterior está o resto arqueológico de uma grande roda entalhada com a imagem de uma pessoa idosa de cabelos desarrumados e a barba emaranhada, com um olhar fixo e perturbador, com a boca aberta.
A princípio, ficamos um pouco surpresos, dos que íamos na frente da fila e diante de nossa perplexidade, um de nós se atreveu a colocar a mão ali e nada aconteceu; depois disso, todos também a colocamos com o mesmo resultado, sem entender completamente o significado daquilo nem para o que servia.
Mais tarde no hotel, o guia nos explicaria que se tratava da Boca da Verdade, na qual ao introduzir a mão direita na abertura, se a pessoa que o fazia não dizia a verdade, a perdia.
Depois disso, continuamos perambulando pela cidade, maravilhados com a quantidade de vestígios artísticos e culturais que haviam sobrevivido o passar dos anos.
Eu tinha ouvido falar dos castelos medievais, daquelas suntuosas e grandiosas construções, fortificações erguidas para salvar os pertences dos reis e senhores feudais do lugar, junto com os habitantes dos povoados vizinhos, mas estar lá era como viver em uma cidade medieval onde se mantinha ainda a mesma arquitetura em suas ruas, fontes e praças.
Não importa para onde olhássemos, fosse uma varanda ou a verga de uma porta, nos impressionava a imponência dos detalhes lavrados, esculpidos ou pintados, lembranças de uma gloriosa era artística anterior. Além disso, conforme soubemos depois, a cultura das diferentes artes era algo que se mantinha vivo nas escolas, consideradas uma das mais prestigiadas do mundo, um bom lugar para se viver, se for amante da história.
Mas eu era mais pragmático, preferia aquilo que tivesse alguma tecnologia e todas as vantagens que isso implicava. As avenidas amplas e planas, onde você poderia se deslocar com seu veículo de um lugar para outro em pouco tempo, sem precisar subir e descer as ruas de paralelepípedos.
Uma maneira diferente de ver e considerar a vida, preferia as grandes cidades, onde era fácil acessar todos os serviços em minutos. Eu nunca tinha pensado que alguém pudesse viver em um lugar tão peculiar.
Levantar-me pela manhã e ver tudo isso parecia bastante inusitado e confuso; não me imagino viver desde criança ali, seria como estar permanentemente em um museu, sabendo que tudo o que tocasse tinha centenas de anos.
Mesmo que em relação às pessoas as diferenças entre nós não fossem tantas, no entanto, alguns nos olhavam com cara de estranheza, de desconfiança, o que nos fazia sentir como estrangeiros ali, quase como uma força de ocupação.
Talvez fosse apenas impressão, pode ser porque estivéssemos vestindo roupas diferentes daqueles que estávamos acostumados a ver por lá.
O que quer que seja, com o desgosto do furto que havíamos sofrido durante a manhã, andávamos com o cuidado de que não se produzisse nenhum outro desentendimento ou problema parecido, sabendo que agora éramos menos.
Talvez nossa viagem tenha sido muito precipitada devido às circunstâncias sócio-políticas do momento, mas era um sinal de boa vontade por parte do nosso colégio, uma demonstração de cooperação e troca.
Não sei se algum grupo de estudantes italianos iria visitar nosso país, suponho isso, mas minha informação não chegava a tanto.
Talvez fosse parte de uma política de abertura com o resto do mundo, não sei, o que estava claro é que nunca tinha visitado o país e que era uma grande oportunidade para fazê-lo, por isso não queria que nada nem ninguém me atrapalhasse.
Se o colega que teve a sua carteira roubada tivesse me dito a quantia que lhe faltava, eu mesmo a teria desembolsado para poder continuar com tranquilidade aquela excursão.
Não imagino que outro elemento de valor poderia ter nela, já que toda a documentação tínhamos guardada na embaixada. Aqui, para nos movermos pela cidade, tinham nos fornecido uma ficha na qual vinham nossos dados, o endereço do hotel onde estávamos hospedados e o telefone da embaixada. Apesar de estarmos em plena primavera recém-chegada, fazia bastante calor e não estávamos acostumados a temperaturas tão elevadas nessa época do ano, e era difícil para nós encontrarmos fontes para beber.
Das que havia, não estávamos seguros de que fossem potáveis, apesar de que as pessoas dali bebiam sem nenhuma preocupação, mas nós, por prudência, preferimos apenas refrescar as mãos e a cabeça, pois uma fonte que tem funcionado há tantas centenas de anos, não pode estar tão limpa quanto gostaríamos.
Talvez fosse diferente, mas aquelas pessoas nos pareciam bastante inocentes, longe das grandes cidades cheias de fumaça das fábricas próximas, à qual estávamos acostumados, mas algo parecido deviam pensar de nós, quando nos fascinávamos com os detalhes que eles contemplavam todos os dias.
Gostávamos tanto do que víamos, que alguns de meus colegas para não esquecerem, se dedicavam a recordá-lo em seus cadernos de desenho, preenchendo-os com a forma mais ou menos traçadas dos edifícios mais significativos e importantes. Outros, pelo contrário, parece que lhes ia melhor a escrita e paravam em cada rua tentando relatar, em alguns parágrafos, aquela maravilha que víamos. Apenas alguns colegas conseguiram trazer câmeras fotográficas.
Não sei como eles teriam passado pela alfândega, porque nos tinham dado instruções concretas antes de partir de que não poderíamos tirar nenhuma tecnologia de nosso país, mas suponho que o sobrenome dos pais desses colegas pesasse mais do que qualquer outra norma escrita.
De vez em quando eles nos pediam que parássemos para tirar algumas fotos em que aparecêssemos todo o grupo e atrás o edifício em questão.
Talvez tenha sido mais inexperiente que o restante no quesito viajar, já que tinha trazido apenas um pequeno caderno de anotações, no qual pretendia reunir todo dia o que era mais importante sem tentar captar naquelas poucas linhas a admiração que a cidade despertava em mim a cada passo.
Um dos aspectos que me pareceram mais curiosos pelo contraste com o que conhecia, estava relacionado à maneira de vestir das mulheres. As mulheres mais velhas, usavam um lenço preto na cabeça e vestiam o mesmo tom. As jovens o faziam com cores discretas e lenços muito chamativos.
Acostumado a ver as do meu país maquiadas, com grandes saias rodadas, com mangas curtas onde se viam os braços e apenas algumas usando o lenço para um detalhe decorativo.
Além disso, parecia que havia uma clara diferenciação entre sexos quanto ao que se podia fazer ou não, de modo que os homens desfilavam pela rua em seus trajes que pareciam os melhores estilos, onde a maioria, quando não estava no trabalho, usava uma simples camisa devido ao calor predominante, mas era uma atitude um tanto estranha para nós, os homens pareciam ser os que mandavam na sociedade, enquanto as mulheres recatadas tentavam passar completamente despercebidas, como se não tivessem nada para demonstrar ou contribuir.
Aquilo me parecia bastante surpreendente, é como se todos tivessem ficado presos no tempo, me refiro à como se vestem, pois não acho que seja algo religioso, como acontece com os quakers, uma comunidade que tinha se isolado do mundo, mantendo sua cultura sem querer progredir, prova disso era a roupa que utilizavam que não estava muito longe da que víamos agora.
Bem, essas eram as minhas impressões naquele momento; com o tempo, chegaria a entender a cultura que estava vendo, e era tudo fruto da minha inexperiência, pois segundo me revelaram os colegas que haviam viajado pela Europa em outros momentos, dependendo do país que se fosse, havia costumes e maneiras de vestir totalmente diferentes.
Até o tratamento entre homens e mulheres era bem diferente dependendo do país onde se estivesse, então eles me falaram sobre a exuberância da mulher francesa, que exibia suas qualidades sem modéstia, assim não esperava que o homem fosse em sua busca, mas era ela quem escolhia aquele que lhe parecia mais galã.
Mesmo em outros lugares em que compartilhávamos uma cultura e um idioma em comum, pareciam ainda manter tradições muito características, ao contrário do que vinha acontecendo em nosso país há muito tempo; as mulheres ainda não tinham conseguido ter um nível suficiente de independência econômica e política, como na Inglaterra, onde ocorreram os primeiros movimentos para obter o sufrágio universal, ou seja, que as mulheres pudessem votar na eleição dos seus representantes legais e com isso as reconhecesse uma série de direitos que lhe equiparavam ao homem. Mas tirando o aspecto político, ainda havia muitas que não trabalhavam mais além dos setores minoritários e em suas casas.
Aquelas comparações não deixaram de me surpreender, parecia que essa parte do mundo evoluía mais lentamente do que pensava.
Pelo menos no meu país, um esforço importante tinha sido feito para compartilhar sua cultura com o resto, uma vez que tinha integrado à sociedade todos os emigrantes que nas últimas décadas tinham chegado provenientes de todos os países da Europa, refugiados políticos, acolhidos ou simplesmente familiares, que desta forma se reencontravam.
Muitos tinham vindo fugindo de um sistema político que não os convencia, outros procurando melhores condições de vida e oportunidades de trabalho, e todos foram acolhidos sem diferença de sexo, raça ou religião.
Em pouco tempo haviam assimilado a cultura do país sem perder a sua própria, por isso era difícil distingui-los nas ruas, nem nas escolas, nem nos locais de trabalho.
Talvez o que mais se destacasse fosse a cor de sua pele ou algumas fisionomias, mas como já havia tantos que estavam neste país há gerações e gerações, isso não era indicativo de nada.
O que sim eles mantinham como sinal de identidade, eram seus ritos e cerimônias ao casar-se ou despedir-se de seus entes queridos quando morriam, alguns dos quais havia assistido mais de uma vez, as primeiras por curiosidade e as demais por amizade.
CAPÍTULO 2. A PRIMEIRA SURPRESA
Percorremos aquelas antigas ruas, muitas delas empedradas, em busca do que se supunha que seria uma visita curta, mas eram intermináveis e inumeráveis os locais de interesse turístico, pelo menos assim parecia ao resto dos membros do grupo, que se emocionavam toda vez que virávamos uma esquina descobrindo um importante e antigo edifício.
Para mim, tantas visitas a prédios históricos pareciam eternas, então estava um pouco fadigado e cansado, talvez por ter andado a manhã toda de um lugar para o outro. Pode ser que fosse devido ao calor predominante e a evidente mudança de horário, que fazia com que ainda estivesse escuro em meu país quando aqui era quase meio-dia, ou também podia ser por haver passado a noite em nossa fracassada exploração pela vida noturna da cidade, ou uma soma de tudo isso que aconteceu.
Ademais, tudo isso permanece imóvel aqui há centenas de anos e acredito que continuará assim por muitos mais.
Não entendo a necessidade deles de visitarem cada um dos lugares que achavam atraente, documentando-os com fotografias ou em seus cadernos como se fossem os descobridores de ruínas antiquíssimas.
Sentei-me ao lado de uma fonte de pedra, no meio de uma praça, à espera de que meus colegas saíssem de uma igreja. Estava distraído, olhando para o fundo da poça que se formava com a água que caia da fonte, quando uma menina se aproximou de mim.
Por sua estatura, não creio que tivesse mais de seis ou sete anos, usava um vestido branco e um lenço amarelo na cabeça e com um largo sorriso me ofereceu uma flor de grandes pétalas brancas.
Após acolher tão preciosa e delicada presença em minhas mãos e sem saber o motivo daquele presente, quis pagá-la, pegando algumas moedas da minha carteira e oferecendo-as para que ela pegasse, mas ela negou com a cabeça, dizendo-me algo que não entendi e erguendo sua mão direita à altura da cabeça como um gesto de despedida, virou-se e saiu correndo.
Não sabia o que fazer com aquela pequena maravilha e a coloquei na lapela; em outras circunstâncias, não o teria feito, porque sabia que se usa este tipo de enfeite tão florido nos casamentos e em alguns eventos sociais, embora sejam usados mais como acessório por parte das mulheres.
Quando olhei para cima, após colocá-la, vi que a menina se afastava por entre um dos muitos becos, que levavam a esta praça; sinceramente estava um pouco desorientado com essa distribuição urbanística bastante caótica, acostumado às grandes cidades onde das ruas principais, de maior tamanho, partia o resto das secundárias, menores, mas aqui o tamanho da via não era indicativo de nada; de qualquer uma delas surgia outra e mais adiante outra de tamanho diferente e dessas outras novas avenidas e vias.
Além disso, as poucas indicações que enunciavam o nome do local onde nos encontrávamos estavam escritas naquela língua estranha, que apesar de compartilhar um alfabeto semelhante era bastante enigmática para mim.
Talvez se eu tivesse prestado um pouco mais de atenção nas aulas de línguas antigas, nas quais meus professores desperdiçaram tanto esforço tentando implantar em mim um amor pela cultura clássica, mas como essa matéria não contava muito para a nota final, não a estudei com muito interesse, o que agora me impedia de aproveitar melhor essa viagem, não apenas porque a cidade estava cheia de inscrições em portas e lintéis e em outros restos arqueológicos, no antigo latim já em desuso, mas porque a língua que falavam os cidadãos aqui, os italianos, era uma derivação ou evolução do mesmo.
Além disso, o guia que a embaixada indicou nos servia de tradutor, conversando com vendedores e comerciantes que se aproximavam do grupo para tentar nos vender um ou outro objeto ou quando queríamos entrar em um edifício particular para contemplar os vestígios arquitetônicos ou históricos nas vilas.
A esse respeito, ainda não estava muito claro para mim o tipo de relação que tinha a arte naquela cidade; parecia que os antigos benfeitores, os patronos da época, pagavam generosamente os artistas para que deixassem suas obras refletidas, e com isso fazendo daquela capital um centro cultural de referência.
É verdade que no meu país temos alguns patronos que doam parte de sua riqueza aos jovens talentos, mas a sua generosidade não chega a tanto para que seus benefícios sejam colhidos década após década, como estímulo às novas gerações.
Além disso, o próprio governo contribui, através de vários mecanismos, ajudas diretas ou de subsistência àqueles que se destacam sobre os outros, mas essas ajudas não se concentram exclusivamente nos artistas, mas tentam recompensar os que melhor desempenham um determinado trabalho, para que possam continuar formando-se e desenvolvendo-se.
Assim, jovens promessas da ciência, da pesquisa, das artes e até dos esportes são recompensados com ajudas para que possam dedicar suas vidas a isso sem se preocuparem em procurar um emprego para poder pagar por seus estudos.
Felizmente, para mim, eu estava entre os jovens afortunados, com bolsas do governo, dos quais dependia o progresso e o futuro do nosso país. Essa bolsa estatal me permitia estudar no mesmo centro que os outros, sem a necessidade de ter um pai com um alto cargo político ou uma grande fortuna, como alguns dos meus companheiros de viagem, ou sem ter uma notável e destacada carreira esportiva como tinham outros.
A especialidade pela qual eu havia optado dentro das ciências era a matemática, pois desde pequeno eu gostava de descobrir a relação que tinham os elementos na natureza, adivinhar os eventos antes que acontecessem, prever o comportamento dos animais e das pessoas.
Eu não tinha ideia de tudo isso, mas quando comecei a estudar matemática, entendi que essa era a linguagem do futuro, pois com ela eu podia teorizar sobre eventos presentes e futuros, podia compreender as associações de conjuntos e seu comportamento e aplicá-las à vida cotidiana.
Talvez fosse algo pretensioso, assim como me havia explicado algum professor, tentar dar alguma lógica ao mundo que nos cerca, sem levar em conta o comportamento instintivo. Da mesma forma, alguns dos meus colegas de faculdade me consideravam presunçoso, já que preferiam confiar em algo tão intangível como eram a sorte e o azar, mas eu tinha certeza de que por trás de cada fato e de cada comportamento, existia uma fórmula que o explicava.
Assim, me especializei nas teorias econômicas, com as quais eu era capaz de prever o comportamento dos governos em relação ao comércio interno e externo.
A principal teoria que havia defendido era a de que os povos se expandiam ou contraíam em função da disponibilidade de alimentos, onde não se tratava tanto de que tivessem uma boa ou má temporada nos cultivos, mas da facilidade ou dificuldade do intercâmbio através do comércio.
Deste modo, tinha relido a história através desta hipótese e pude observar como certos povos estavam condenados a seu desaparecimento por não terem uma matéria-prima para oferecer aos povos vizinhos e, portanto, não poderem negociar com nada que os outros necessitassem.
Alguns dos meus professores, quando tive que defender a minha tese, acusavam-me de forçar a realidade para a adequá-la ao modelo matemático, mas estava certo de que aquilo era um receio da sua parte.
Se conhecesse todas as variáveis econômicas de um determinado povo, ou pelo menos as mais importantes, poderia prever sem excessivos erros, quantos anos de subsistência teria e se este povo se tornaria dominante ou dominado.
Assim, se aqueles povos que cultivavam e geravam matérias-primas não tinham ao seu redor outros que os transformavam e fabricavam, ficavam sem possibilidades de crescimento. Era uma simbiose perfeita, benéfica para ambos, na qual o produtor sobrevivia graças à manufatura das matérias primas.
É verdade que isso provocava uma diferença econômica bastante importante, já que o povo produtor necessitava pagar até dez vezes mais pelo mesmo produto que eles tinham tirado da terra quando estes estavam processados, mas se falarmos exclusivamente de sobrevivência, ambos povos conseguiam subsistir.
Talvez minhas teorias tivessem impressionado a poucos, mas o mais notável era quando as utilizavam em outros âmbitos, alguns me haviam proposto que realizasse uma variação daquilo, para tentar adivinhar como funcionariam os povos na questão dos armamentos.
Embora minha ideia econômica inicial fosse mais previsível, pois os povos já não se regem apenas pela quantidade de armamento que possuem, mas sim pela sua qualidade e capacidade logística, elementos que nas minhas equações são difíceis de estimar e avaliar.
Estando abstraído e absorvido nestes pensamentos, de repente escutei alguém gritar, vinha daquele lugar onde a menina que tinha me dado a flor havia ido.
Olhei para todos os lados e ninguém parecia se alterar por aquele grito, foi por uns breves segundos e logo se dissipou no turbulento movimento dos transeuntes.
Fiquei parado por um momento e um estranho pensamento me veio, talvez aquela menina estivesse em perigo. Me deu um calafrio que subia por toda a medula espinhal até o pescoço e de repente saí correndo em direção a onde tinha visto pela última vez aquela pequena, a qual parecia que ninguém mais havia notado seu pedido de socorro.
Lá deixei meus companheiros de viagem sem sequer lhes dizer nada, já que ainda não sabia para onde estava indo. Percorri aceleradamente uns cem metros quase sem respirar, até que parei bruscamente quando terminou a rua, que bifurcava em duas.
Olhei ansioso e intrigado para todos os lados já que não fazia muito tempo desde que ouvira aquela menina e não a vi em lugar nenhum. Ela não poderia ter corrido tanto em tão pouco tempo como eu tinha feito, por isso já a deveria estar vendo, embora diferentemente da praça movimentada que acabava de deixar, aqui não pude ver ninguém.
Teria sido muito útil perguntar a qualquer transeunte se tinha visto uma menina pequena passar por ali, mas ao não encontrar ninguém, não sabia o que fazer, podia me dirigir a uma rua ou outra, mas até onde? Por quanto tempo manteria minha busca?
Embora não soubesse nada daquela garotinha, o pensamento de que pudesse estar em perigo me parecia pelo menos preocupante e não queria voltar, mas era inútil seguir correndo indefinidamente por estas ruas.
Só poderia ter desaparecido se a menina fosse levada nos braços, pois não via nenhuma outra possibilidade já que com seus próprios pés não teria chegado tão longe tão rapidamente.
Voltei bastante abatido e preocupado, desiludido por não ter conseguido ajudá-la, com a respiração ofegante pelo esforço realizado, e vi que na metade da rua à direita havia uma pequena porta a qual não tinha notado ao passar correndo.
Percorri nervoso de novo a rua desde o início para ver se havia mais aberturas e não encontrei nenhuma outra. “É possível que a tenham levado por aqui?”, perguntei-me diante da portinha que dava um pouco acima do meu peito.
Coloquei minhas mãos naquela velha porta de madeira inchada pela umidade, e empurrei para ver se ela cederia, pois não tinha nenhum tipo de trinco ou fechadura. Após várias tentativas, ela cedeu para dentro e abriu, fazendo um escandaloso ruído, como as velhas e enferrujadas bicicletas quando passam um tempo sem serem usadas.
Parei na frente daquele buraco escuro decidindo se iria entrar ou não, porque tinha certeza de que era uma propriedade privada à qual ninguém me convidara a entrar, além disso, era improvável que aquela garotinha tivesse entrado por ali, porque, nesse caso, eu deveria ter ouvido esse som peculiar, a não ser… que a porta já estivesse aberta antes que a pegassem.
Coloquei a cabeça para ver o que havia por trás dessa porta de madeira velha e inchada e a única coisa que pude ver foi uma imensa e profunda escuridão, acompanhada de um cheiro intenso de umidade, mais típico de lugares próximos ao mar, nos quais a umidade predominante no ambiente é impregnada nas paredes, corroendo-as e formando um salitre que lasca e racha.
Fiquei ali, resistindo ao cheiro forte, esperando minha visão se acostumar com a escuridão para tentar localizar algum objeto lá dentro, enquanto tentava ouvir algum ruído, por mais insignificante que fosse. Mas tudo aquilo foi em vão, não havia nenhum som ali dentro porque a única coisa que ouvia era a minha respiração rápida e não vi nada que não fosse a mais absoluta escuridão, com o que concluí que aquela porta devia levar a uma sala fechada, fria e úmida.
Mas o que poderia ser aquilo? Talvez um antigo armazém de comida ou o sótão abandonado de alguma casa.
Com muito cuidado e avisando da minha presença caso houvesse alguém dentro daquele lugar sinistro, decidi entrar.
Para evitar colidir com qualquer objeto, deixei a porta aberta, mas não ajudou muito, porque aquela escuridão se transformou simplesmente em uma espessa penumbra onde minha sombra projetava como uma silhueta sinuosa e assustadora na parede do fundo.
Após quase cair porque na entrada havia três degraus descendentes os quais eu não havia notado, me recuperei e estava tateando procurando não colidir com nada, caminhando muito devagar até que me deparei com uma parede.
Não tinha mais do que dois metros de distância da porta até o fundo da sala sombria e não parecia haver nenhum outro acesso, um beco sem saída.
De maneira alguma a garota poderia ter entrado lá e, se tivesse entrado, não teria sido voluntariamente. Mas onde poderia estar? Minhas ideias esgotaram-se, então continuei com o que estava fazendo, explorando aquela pequena sala, como se segurasse um prego ardendo.
Com as mãos, continuei apalpando cada centímetro daquele lugar até que me deparei com uma fenda na parede, era a moldura de outra porta, a qual toquei em seguida.
Seu toque áspero e úmido era muito parecido com a que tive que empurrar para poder acessar a este quarto sombrio.
Deslizei minha mão pela frente tentando sentir a maçaneta para abri-la, mas não consegui encontrá-la, só encontrei um buraco na altura do meu umbigo, que suponho que fosse o buraco da fechadura.
Empurrei com força como tinha feito com a porta de acesso, mas ela não se moveu. Como não cedia, pensei que talvez abrisse em minha direção, então tentei puxá-la, colocando meus dedos como pude naquela minúscula cavidade da fechadura, mas todo o meu esforço foi em vão porque também não cedeu nessa direção.
Me agachei até a altura daquela abertura na porta, para ver se pelo menos poderia ver algo através dela e a única coisa que podia ver, em parte, era um pátio quadrado, semelhante a um claustro, cercado por colunas erguidas como barras de prisão.
Pareciam guardar e proteger os numerosos quadros de grandes dimensões pendurados nas paredes adjacentes. Nada que me ajudasse a identificar o lugar, porque casas imponentes como esta, já tinha visto em várias ocasiões ao longo da manhã, mas não vi a menina ou qualquer outra pessoa que pudesse pedir ajuda para mover aquela pesada porta e tive que aceitar meu completo fracasso. Sabendo que já não poderia fazer mais por aquela pequena e que meus colegas, uma vez que terminada a visita à igreja onde eu os deixei, estariam me procurando, voltei à praça com a fonte no centro de onde havia saído.
Ainda me restava a inquietude pela pequena que há apenas um momento antes de desaparecer me dera aquela delicada flor, mas nem sequer tinha a certeza de que tivesse acontecido algo com ela.
Voltei para onde se encontravam meus colegas já me esperando, procurando por mim. Após tranquilizá-los e perguntar-lhes sobre como tinha sido a sua visita, prosseguimos para uma outra nova rua e diante de nós voltou a surgir um antigo monumento para conhecer.
Mais uma vez fiquei do lado de fora, mas desta vez abrigado sob a sombra de uma sacada para que não pegasse tanto sol.
Estando ali, um pouco mais calmo, tendo me recuperado das emoções sofridas minutos antes, lembrei-me de ter vivido algo semelhante antes, uma situação muito comprometedora do meu passado, que acreditava ter esquecido, diluída pelo passar dos anos, mas lembrei-me disso como se estivesse revivendo naquele exato momento.
Dessa vez, tinha que intervir e não o fiz por medo ou covardia, não sei bem, mas, se houvesse sido por mim, seria salvo.
Me refiro à minha irmã, quando éramos pequenos, não tinha nem sete anos e ela apenas cinco.
Aconteceu em um dia quente como hoje, na piscina da base, à qual pertencíamos porque nosso pai era militar. Nós dois tínhamos saído ao meio-dia, quando sabíamos que não haveria ninguém lá, pois os adultos a essas horas estavam dormindo e aproveitamos para nos banhar.
Nossos pais tinham saído para fazer uma daquelas visitas às quais estávamos tão acostumados, devido à constante atividade social de nossa mãe, as vezes incompatível com a vida rígida e estruturada de nosso pai, mas foi assim que ela tinha superado suas constantes ausências, quando o destinavam a diferentes expedições durante meses.
Tinha começado como uma forma de entretenimento e gradualmente foi ocupando mais e mais tempo, até que se tornou uma parte importante da sua vida.
No início, era apenas uma maneira de se distrair, então começou indo uma vez por semana a um inofensivo curso de pintura, depois começou a ir duas, então… até que ela preparou um dos quartos como seu estúdio de trabalho e de lá para ser profissional era só uma questão de tempo e muita prática, pois o essencial já tinha, uma grande habilidade com o pincel e um bom olhar para os detalhes.
Seus professores, orgulhosos de seu trabalho, foram os que a incentivaram para que começasse a realizar exposições para o restante do pessoal da base, mas aquilo foi pouco a pouco aumentando.
Depois disso, começou um percurso pelas diferentes bases militares próximas, as quais a convidavam sabendo de seu talento e habilidade com pincéis, e logo passou à sua vida pública, por assim dizer, na qual foi convidada por diferentes cidades para participar de exposições coletivas ou individuais para apresentar seu progresso.
Além disso, o exército a apoiava, pois melhorava a imagem da corporação entre os civis, mostrando que a vida dentro de uma base não precisa ser chata e monótona e que as mulheres de militares não tinham motivo de renunciar às suas expectativas e suas vidas, podendo desenvolver-se como o restante.
Em pouco tempo, aquela família mudou de identidade, deixou de ser a família de meu pai, como o renomado capitão, condecorado em diversos conflitos e respeitado por todos os que haviam servido às suas ordens, passando a ser a família de minha mãe, conhecida por todo o país, por ser a pioneira e, em muitos casos, o exemplo de superação para as mulheres dentro e fora do exército, tanto que até a chamaram para um desses programas no horário nobre (audiência máxima).
Aquilo que à princípio foi uma alegria para todos, pois víamos nossa mãe feliz, logo resultou ser algo problemático por causa das finanças.
Minha mãe começou a ter a sua tão esperada independência financeira, com a sua própria renda, o que lhe permitiu comprar uma série de objetos e veículos que não eram de propriedade de militares ou de suas famílias.
Meu pai insistia que ela se reservasse, que aquilo que cobrasse poderia dedicar a qualquer outro assunto, mas que não se destacasse por seus gastos dentro da base, mas minha mãe não lhe dava ouvidos, cansada, segundo ela, de viver como o resto, podendo ser capaz de ter maior conforto.
Além disso, começou a realizar frequentes viagens, de vários dias, a museus e exposições, ou a apresentar suas obras e inclusive estava preparando a participação da criação de uma fundação para jovens artistas, para qual dedicou vários meses visitando diferentes instituições financeiras, para que apoiassem com bolsas de estudos àqueles que ingressassem na fundação.
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