Kitabı oku: «Assassinato na Mansão», sayfa 2
Uma onda de alívio inundou Lacey. O cartão de visita parecia legítimo e Ivan não havia acionado nenhum alerta de esquisito em sua cabeça. A sorte dela estava mudando! Ela ficou tão aliviada que poderia ter beijado a careca dele!
"Você é um salva-vidas", disse ela, conseguindo se conter.
Ivan corou. "Talvez seja melhor esperar até ver o lugar, antes de fazer esse julgamento".
Lacey riu. "Sinceramente, quão ruim pode ser?"
*
Lacey parecia uma mulher em trabalho de parto enquanto subia a encosta ao lado de Ivan.
"É muito íngreme?" ele perguntou, parecendo preocupado. "Eu deveria ter mencionado que ficava no penhasco".
"Não tem problema", Lacey chiou. "Eu... adoro... a vista para o mar".
Durante toda a caminhada até aqui, Ivan se mostrou o oposto de um empresário astuto, mencionando várias vezes o desconto prometido (apesar de nem sequer terem discutido o preço) e repetidamente dizendo a ela para não criar grandes expectativas. Agora, com as coxas doendo pela caminhada, ela estava começando a se perguntar se ele estava certo em subestimar o chalé.
Mas isso foi só até a casa aparecer no topo da colina. Com uma silhueta preta recortada contra o céu rosa claro, estava uma alta construção de pedra. Lacey ofegou em voz alta.
"É este?" ela perguntou, sem fôlego.
"É este", respondeu Ivan.
Uma força vinda do nada subitamente impulsionou Lacey pelo resto do penhasco. Cada passo que a aproximava daquela casa cativante revelava outra característica impressionante: a encantadora fachada de pedra, o telhado de ardósia, a roseira que serpenteava nas colunas de madeira de uma varanda, a antiga porta grossa e arqueada que parecia saída de um conto de fadas. E emoldurando tudo havia o oceano brilhante e arrebatador.
Os olhos de Lacey se arregalaram e sua boca se abriu enquanto ela corria os últimos passos em direção à casa. Uma placa de madeira ao lado da porta dizia: Chalé do Penhasco.
Ivan apareceu ao lado dela com um grande chaveiro tilintando em suas mãos enquanto procurava a chave certa. Lacey parecia uma criança diante do carrinho de sorvete, esperando com impaciência para pegar o seu, quase saltitando na ponta dos pés.
"Não tenha muitas esperanças", disse Ivan pela enésima vez, finalmente encontrando a chave certa — uma de bronze enferrujado e bem grande, que parecia feita para abrir o castelo de Rapunzel — antes de girá-la na fechadura e abrir a porta.
Lacey entrou ansiosamente dentro do chalé e foi atingida pelo repentino e poderoso sentimento de voltar para casa.
O corredor era rústico, para dizer o mínimo, com tábuas de madeira não tratadas e papel de parede desbotado. Ao longo do meio da escada à sua direita, havia um tapete vermelho muito fofo com detalhes laterais dourados, como se o dono original pensasse que era uma casa imponente, e não um pequeno e pitoresco chalé. Uma porta de madeira à sua esquerda estava aberta, como se estivesse chamando-a para entrar.
"Como eu disse, está um pouco abandonado", disse Ivan, enquanto Lacey entrava na ponta dos pés.
Ela se viu em uma sala de estar. Três das paredes estavam cobertas com papel listrado nas cores verde-hortelã e branco, e a outra exibia os blocos de pedra expostos. Uma grande bay window dava para o oceano, com um assento sob medida. Um fogão à lenha com uma longa calha preta ocupava um canto inteiro, com um balde prateado ao lado, cheio de lenha. Uma grande estante de madeira ocupava a maior parte de uma parede. O sofá, a poltrona e o apoio dos pés pareciam originais, da década de 1940. O lugar estava precisando de uma boa limpeza, mas para Lacey, isso só o tornava ainda mais perfeito.
Ela girou para encarar Ivan. Ele parecia apreensivo enquanto esperava a avaliação dela.
"Eu amei!" ela exclamou.
Ivan parecia surpreso (e com uma pitada de orgulho, observou Lacey).
"Ah!" ele exclamou. "Que alívio!"
Lacey não conseguiu se conter. Emocionada, ela precorreu a sala, observando todos os pequenos detalhes. Na estante de madeira esculpida e ornamentada, havia dois livros de mistério, com as páginas enrugadas por causa do tempo. Um cofrinho de porcelana com uma ovelha e um relógio que não estava mais funcionando eram exibidos na prateleira seguinte, e embaixo havia uma delicada coleção de bules de porcelana. Era o sonho de uma fã de antiguidades que se tornava realidade.
"Posso ver o resto?" perguntou Lacey, sentindo seu coração crescer dentro do peito.
"Fique à vontade", respondeu Ivan. "Vou para o porão, resolver o aquecimento e a água".
Eles seguiram pelo pequeno corredor escuro, e Ivan desapareceu por uma porta embaixo da escada enquanto Lacey continuou até a cozinha, com o coração batendo forte.
Quando ela passou pela porta, deixou escapar uma exclamação.
A cozinha parecia vinda de um museu vivo da era vitoriana. Havia um genuíno AGA preto, tachos e panelas de latão pendurados em ganchos aparafusados no teto e uma grande tábua de carne quadrada bem no meio. Pelas janelas, Lacey podia ver um amplo gramado. Do outro lado das elegantes portas francesas, havia um pátio, onde uma mesa e uma cadeira bambas haviam sido colocadas. Lacey podia se imaginar sentada ali, comendo croissants recém-assados enquanto bebia café peruano orgânico da cafeteria gourmet.
De repente, um som alto de algo batendo a tirou bruscamente de seu devaneio. Vinha de algum lugar sob os pés de Lacey; ela sentiu as tábuas do assoalho vibrarem.
"Ivan?" Lacey chamou, voltando para o corredor. "Está tudo bem?"
A voz dele surgiu através da porta aberta do porão. "São apenas os canos. Eu acho que não são usados há anos. Pode demorar um pouco para se acomodarem".
Outro grande estrondo fez Lacey dar um salto. Mas, conhecendo a causa inofensiva, desta vez ela não pôde deixar de rir.
Ivan ressurgiu da escada do porão.
"Está tudo resolvido. Eu realmente espero que os canos não demorem muito para se ajustar", disse ele, com seu jeito preocupado.
Lacey balançou a cabeça. "Isso só aumenta o charme".
"Então, você pode ficar aqui o tempo que precisar", acrescentou ele. "Vou ficar de olho e informar se algum dos hotéis estiver disponível".
"Não se preocupe", disse Lacey. "Este chalé é exatamente o que eu não sabia que estava procurando".
Ivan deu a ela um de seus sorrisos tímidos. "Então, dez libras por noite está bom?"
As sobrancelhas de Lacey se ergueram. "Dez libras? Isso dá doze dólares, ou algo assim?"
"Muito alto?" Ivan interrompeu, corando intensamente. "Cinco, então?"
"Muito baixo!" exclamou Lacey, ciente de que estava 'pechinchando' com ele para aumentar o valor em vez de baixar. Mas a taxa ridiculamente subestimada que ele estava sugerindo equivalia a um roubo, e Lacey não se aproveitaria daquele homem doce e trapalhão que a salvara de seu momento donzela-em-perigo. "É um chalé de dois quartos. Pode ser usado até por uma família. Depois que tirar a poeira e dar um polimento, você poderá facilmente ganhar centenas de dólares por noite com este lugar".
Ivan não parecia saber para onde olhar. Claramente, falar sobre dinheiro o deixava desconfortável; mais evidências, pensou Lacey, de que ele não tinha perfil para ser um empresário. Ela esperava que nenhum dos seus inquilinos estivesse se aproveitando dele.
"Bem, que tal quinze por noite?" Ivan sugeriu: "E mandarei alguém para limpar e polir".
"Vinte", respondeu Lacey. "E eu mesma posso tirar o pó e encerar os móveis". Ela sorriu e estendeu a mão. "Agora me dê a chave. Não aceito não como resposta".
O vermelho nas bochechas de Ivan se espalhou pelos ouvidos e por todo o pescoço. Ele assentiu timidamente, concordando e colocou a chave de bronze na palma da mão de Lacey.
"Meu número está no cartão. Ligue-me se algo quebrar. Quando quebrar, melhor dizendo".
"Obrigada", disse Lacey, agradecida, com uma pequena risada.
Ivan foi embora.
Agora sozinha, Lacey subiu as escadas para terminar de explorar. A suíte principal ficava na frente da casa, com vista para o mar e uma varanda. Era outro cômodo em estilo de museu, com uma grande cama de dossel feita de carvalho escuro e armário combinando, grande o suficiente para levar alguém a Nárnia. O segundo quarto ficava nos fundos da casa, com vista para o gramado. O lavabo ficava separado do local para banhos, em seu próprio cômodo, do tamanho de um armário. O banheiro consistia apenas em uma banheira branca com pés de bronze. Não havia chuveiro, apenas uma ducha presa na torneira da banheira.
Voltando ao quarto principal, Lacey afundou na cama de dossel. Era a primeira vez que tinha a chance de refletir sobre aquele dia estonteante, e ela se sentia quase transtornada. De manhã, ela era uma mulher casada há catorze anos. Agora estava solteira. Ela era uma executiva ocupada em Nova York. Agora estava em um chalé numa falésia da Inglaterra. Que fantástico! Que emocionante! Ela nunca havia feito algo tão ousado em toda a sua vida e, puxa, aquilo era bom!
Os canos soltaram um estrondo alto e Lacey gritou. Mas um momento depois ela caiu na gargalhada.
Ela se deitou na cama, olhando para o dossel de tecido acima, ouvindo o som das ondas da maré alta batendo contra os penhascos. O som trouxe de volta uma súbita, anteriormente perdida, fantasia de infância de viver à beira-mar. Que engraçado ela ter esquecido esse sonho. Se não tivesse retornado a Wilfordshire, ele teria permanecido enterrado em sua mente, para nunca mais ser recuperado? Ela se perguntou que outras lembranças poderiam lhe ocorrer enquanto estivesse aqui. Talvez, amanhã de manhã, ela explore um pouco a cidade e descubra que segredos ela pode conter.
CAPÍTULO TRÊS
Lacey foi acordada por um barulho estranho.
Ela se endireitou imediatamente na cama, confusa ao ver o quarto desconhecido, iluminado apenas pela tênue luz da manhã entrando através de uma fenda nas cortinas. Demorou um segundo para recalibrar seu cérebro e lembrar que ela não estava mais em seu apartamento em Nova York, e sim em um chalé de pedra nos penhascos de Wilfordshire, Inglaterra.
O barulho voltou. Mas desta vez não foi o barulho de canos de água, mas algo completamente diferente, algo que parecia de origem animal.
Verificando o celular com os olhos inchados de sono, Lacey viu que eram cinco da manhã no horário local. Com um suspiro, ela levantou o corpo cansado da cama. Os efeitos do jet lag ficaram imediatamente aparentes no peso de seus membros, enquanto ela caminhava até as portas da varanda com os pés descalços e abria as cortinas. Lá estava a beira do penhasco, e o mar se estendia no horizonte até encontrar um céu claro e sem nuvens que estava apenas começando a ficar azul. Ela não viu nenhum animal culpado no gramado da frente e, quando o barulho voltou, Lacey conseguiu perceber que o som vinha dos fundos da casa.
Envolvendo-se no robe que lembrou de comprar no aeroporto no último segundo, Lacey desceu as escadas rangentes para investigar. Ela foi direto para os fundos da casa, para a cozinha, onde as grandes janelas de vidro e portas francesas lhe proporcionavam uma vista impecável do gramado dos fundos. E lá, Lacey descobriu a origem do barulho.
Havia um rebanho inteiro de ovelhas no quintal.
Lacey piscou. Devia haver pelo menos quinze delas! Vinte. Talvez mais!
Ela esfregou os olhos, mas quando os abriu novamente, todas as criaturas fofas ainda estavam lá, pastando em sua grama. Então, uma levantou a cabeça.
Os olhos de Lacey e os da ovelha se encontraram e elas ficaram ali, se encarando até que, finalmente, a ovelha inclinou a cabeça para trás e soltou um balido longo, alto e parecido com um lamento.
Lacey começou a rir. Ela não conseguia pensar em uma maneira mais perfeita de começar sua nova vida d.D. De repente, estar em Wilfordshire parecia menos férias e mais uma declaração de intenções, a intenção de ter de volta seu antigo eu, ou talvez um novo eu, que ela ainda não conhecia. Fosse qual fosse a sensação, ela sentiu borboletas no estômago, como se alguém a tivesse enchido de champanhe (ou talvez fosse o jet lag — no que diz respeito ao relógio interno, ela acabara de dar a seu corpo um sono generoso). De qualquer forma, Lacey mal podia esperar para descobrir o que aquele dia iria lhe trazer.
Ela sentiu um entusiasmo repentino em busca de aventura. Ontem, havia acordado com os sons habituais do trânsito da cidade de Nova York; hoje, ao som de balidos incessantes. Ontem, ela sentiu o cheiro de roupas e produtos de limpeza frescos. Hoje, o de poeira e do mar. Ela havia pego a velha familiaridade de sua vida e a destruído. Como uma mulher recém-solteira, o mundo de repente parecia pequeno. Ela queria explorar! Descobrir! Aprender! De repente, ela estava cheia de um entusiasmo pela vida que não sentia desde... bem, desde antes de seu pai ir embora.
Lacey balançou a cabeça. Ela não queria pensar em coisas tristes. Estava decidida a não deixar que nada diminuísse aquele novo sentimento de alegria. Pelo menos hoje não. Hoje ela iria agarrar esse sentimento e não soltá-lo mais. Hoje, ela era livre.
Tentando manter a mente longe do seu estômago roncando, Lacey tentou usar a grande banheira. Ela usou a estranha ducha que estava conectada às torneiras para se molhar, como se fosse um cachorro enlameado. A água mudava de quente para gelada a qualquer momento, e os canos faziam barulhos estridentes o tempo todo. Mas a suavidade imediata da água em comparação com a aspereza à qual ela estava acostumada em Nova York era o equivalente a espalhar um bálsamo hidratante caro por todo o corpo, e Lacey se deliciou com isso, mesmo quando uma súbita rajada de frio fez seus dentes baterem.
Depois que toda a sujeira do aeroporto e a poluição da cidade foram lavadas de sua pele — deixando-a literalmente luminosa — ela se secou e vestiu a roupa que havia comprado no aeroporto. Havia um grande espelho na porta interna do guarda-roupa de Nárnia que Lacey usou para avaliar sua aparência. E não estava bonita.
Lacey fez uma careta. Ela havia comprado aquelas roupas de uma loja de moda praia no aeroporto, imaginando que o mais apropriado para as férias à beira-mar fossem roupas casuais. Mas, embora sua intenção fosse criar um estilo relaxado para a praia, aquele conjunto estava mais para um brechó. As calças bege eram um pouco apertadas, a camisa branca de musselina engoliu as curvas do seu corpo e os frágeis mocassins eram ainda menos adequados para os paralelepípedos do que os saltos-altos que ela usava na trabalho! Investir em roupas decentes teria que ser a maior prioridade de hoje.
O estômago de Lacey roncou.
Segunda prioridade, ela pensou, batendo no estômago.
Ela desceu as escadas, com os cabelos molhados pingando pelas costas, e entrou na cozinha, vendo pela janela que apenas algumas retardatárias da gangue de ovelhas daquela manhã ainda estavam no jardim. Verificando os armários e a geladeira, Lacey descobriu que os dois estavam vazios. Ainda era muito cedo para ir à cidade pegar seus quitutes recém-assados na confeitaria da rua principal. Ela teria que matar algum tempo.
"Matar algum tempo!" Lacey exclamou em voz alta, com a voz cheia de alegria.
Quando foi a última vez que ela teve algum tempo de sobra? Quando ela se permitiu a liberdade de perder tempo? David tinha sempre tantas regras sobre o pouco tempo livre que eles tinham. Academia. Brunch. Compromissos familiares. Sair para um drinque. Todo momento "livre" havia sido programado. Lacey teve uma repentina epifania; o próprio ato de programar o tempo livre negava a liberdade dele! Ao permitir que David planejasse e ditasse o que eles faziam com o tempo, ela se envolveu em uma camisa de força de obrigação social. O momento de clareza a atingiu de uma forma quase budista.
O Dalai Lama ficaria tão orgulhoso de mim, pensou Lacey, batendo palmas de prazer.
Nesse momento, as ovelhas no jardim baliram. Lacey decidiu que iria usar sua liberdade recém-adquirida para brincar de detetive amadora e descobrir de onde tinha vindo aquele rebanho de ovelhas.
Ela abriu as portas francesas e foi para o pátio. Pequenas gotas frescas do oceano embaçavam seu rosto enquanto ela passeava pelo caminho do quintal, indo em direção às duas bolas fofinhas ainda comendo sua grama. Quando a ouviram chegar, elas se afastaram desajeitadamente, com graciosidade zero, e desapareceram através de uma abertura nas sebes.
Lacey se aproximou e olhou através da brecha, vendo outro jardim além dos arbustos, repleto de flores em cores vivas. Então, ela tinha um vizinho. Na cidade de Nova York, seus vizinhos eram distantes, outros casais profissionais como ela e David, cujas vidas consistiam em deixar seus apartamentos antes do amanhecer e retornar após o pôr do sol. Mas esse vizinho, pela aparência de seu belo jardim, desfrutava da boa vida. E tinha ovelhas! Não havia um único animal de estimação no antigo prédio de Lacey — pessoas ocupadas não tinham tempo para animais de estimação, nem a inclinação para lidar com os pelos ou cheiros dos currais. Que prazer agora viver tão perto da natureza! Até o cheiro de estrume de ovelha era um contraste bem-vindo em relação ao seu bloco de apartamentos hiper-limpo em Nova York.
Enquanto se endireitava, Lacey notou um trecho de grama desgastado pelo tempo, como um caminho pisado por muitos pés. Levava ao longo dos arbustos em direção ao penhasco. Havia um pequeno portão ali, praticamente coberto pelas plantas. Ela foi até lá e o abriu.
Alguns degraus haviam sido talhados na encosta do penhasco, e eles seguiam até a praia. Era como se fosse um conto de fadas, pensou Lacey, encantada enquanto cuidadosamente começou a descer por eles.
Ivan nem sequer havia mencionado que ela tinha um atalho direto até a praia, que, se tivesse o desejo de sentir a areia entre os dedos dos pés, poderia fazer isso em questão de minutos. E, pensando novamente em Nova York, ela havia ficado tão presunçosa com a caminhada de apenas dois minutos até o metrô.
Lacey desceu o lance de degraus altos até que eles pararam, a poucos metros da praia. Então, ela deu um salto para a praia. A areia era tão macia que seus joelhos absorveram o choque, apesar da completa falta de amortecimento fornecida por seus sapatos mocassins baratos do aeroporto.
Lacey respirou fundo, sentindo-se totalmente selvagem e despreocupada. Aquela parte da praia era deserta. Sem mácula. Deve ser muito longe das lojas da cidade para as pessoas se aventurarem, ela pensou. Era quase como seu próprio pedaço de praia particular.
Olhando na direção da cidade, Lacey viu o píer projetando-se pelo oceano. Ela foi imediatamente tomada pela lembrança de jogar fair games, e o fliperama barulhento em que seu pai havia permitido que elas gastassem suas moedas. Havia também um cinema no píer, recordou Lacey, empolgada com os fragmentos de memória que conseguia recuperar. Era um minúsculo cinema de oito lugares, que pouco havia mudado desde que fora construído, com assentos de veludo vermelho. Seu pai a levou com Naomi para assistir a um desenho japonês obscuro lá. Ela se perguntou quantas mais lembranças sua viagem a Wilfordshire produziria. Quantos espaços em branco em sua memória seriam preenchidos por vir aqui?
Como a maré estava baixa, muito da estrutura do píer estava visível. Lacey podia ver alguns passeadores de cães e algumas pessoas correndo. A cidade estava começando a acordar. Talvez houvesse um café aberto agora. Ela decidiu seguir a longa rota marítima até a cidade e começou a caminhar nessa direção.
O penhasco recuava quanto mais ela se aproximava da cidade, e logo surgiram estradas e ruas. No segundo em que pisou na avenida, Lacey foi atingida por outra lembrança repentina, de um mercado com barracas de lona, vendendo roupas, jóias e varetas de doce. Uma série de números pintados com spray no chão indicava seus locais específicos. Lacey sentiu uma onda de animação.
Ao sair da praia, ela seguiu em direção à rua principal — ou rua alta, como os britânicos chamavam. Ela observou a Coach House na esquina, onde conheceu Ivan, antes de virar pela rua cheia de bandeirolas.
Era muito diferente de estar em Nova York. O ritmo era mais lento. Não havia carros buzinando. Ninguém empurrava ninguém. E, para sua surpresa, alguns dos cafés estavam realmente abertos.
Ela entrou no primeiro que encontrou, sem fila à vista, e conseguiu um café Americano preto e croissant. O café estava perfeitamente torrado, rico e com sabor achocolatado, e o croissant era uma delícia de massa folhada amanteigada que derretia na boca.
Com o estômago finalmente satisfeito, Lacey decidiu que era hora de encontrar roupas melhores. Ela viu uma boa boutique no outro lado da rua e começou a andar naquela direção, quando o cheiro de açúcar atacou suas narinas. Ela se voltou e viu uma loja de fudges caseiros acabando de abrir as portas. Incapaz de resistir, ela entrou.
"Quer experimentar uma amostra grátis?" perguntou o homem de avental branco e rosa listrado. Ele apontou para uma bandeja de prata cheia de cubos em diferentes tons de marrom. "Temos fudge de chocolate meio-amargo, chocolate ao leite, chocolate branco, caramelo, toffee, café, salada de frutas e original".
Os olhos de Lacey se arregalaram. "Posso experimentar todos?" perguntou.
"É claro!"
O homem cortou cubinhos de cada sabor e os apresentou a Lacey para ela experimentar. Ela colocou o primeiro na boca e sentiu uma explosão de sabores.
"Delícia", ela falou, com a boca cheia.
Seguiu para o próximo. De alguma forma, era ainda melhor do que o anterior.
Ela experimentou uma amostra após a outra, e elas pareciam ficar cada vez mais deliciosas.
Quando Lacey engoliu o último pedaço, ela mal se deu tempo para respirar antes de exclamar: "Eu tenho que enviar um pouco para o meu sobrinho. Será que estraga se eu mandar pelo correio para Nova York?"
O homem sorriu e pegou uma caixa de papelão forrada com papel alumínio. "Se você usar nossa caixa de entrega especial, não", disse ele com uma risada. "Tornou-se um pedido tão comum que nós a fizemos sob medida. É fina o suficiente para caber na caixa de correio e leve o bastante para manter os custos de postagem baixos. Você também pode comprar os selos aqui".
"Que inovador", disse Lacey. "Você pensou em tudo".
O homem encheu a caixa com um fudge de cada sabor disponível, fechou a caixa plana com fita adesiva e colou os selos postais corretos nela. Depois de pagar e agradecer ao homem, Lacey pegou seu pequeno embrulho, escreveu o nome e o endereço de Frankie na frente e o colocou na tradicional caixa de correio vermelha do outro lado da rua.
Depois que o pacote desapareceu pelo buraco na caixa de correio, Lacey lembrou que estava se distraindo de sua tarefa real — encontrar roupas melhores. Ela estava prestes a sair em busca de uma butique quando se distraiu com a vitrine da loja ao lado da caixa de correio. Representava uma cena da praia de Wilfordshire, com o píer se estendendo mar adentro, mas tudo era feito de macarons de cor pastel.
Lacey imediatamente se arrependeu do croissant que havia comido e de todo o chocolate que experimentou, porque a visão deliciosa a fez salivar. Ela tirou uma foto para o grupo Garotas da Família Doyle.
"Posso ajudar?" uma voz masculina veio de algum lugar ao seu lado.
Lacey se endireitou. Parado na porta estava o dono da loja, um homem muito bonito, com quarenta e poucos anos, cabelos castanhos escuros e espessos e um queixo bem definido. Ele tinha olhos verdes brilhantes, com linhas de expressão ao lado que imediatamente lhe disseram que ele era alguém que gostava da vida, e um bronzeado que sugeria que ele viajava frequentemente para climas mais quentes.
"Estou apenas olhando as vitrines", disse Lacey, com uma voz que parecia que alguém estava apertando suas cordas vocais. "Gostei da sua".
O homem sorriu. "Eu mesmo fiz. Por que você não experimenta alguns bolos?"
"Adoraria, mas já comi", explicou Lacey. O croissant, café e fudge pareciam girar em seu estômago, agitando-se e fazendo-a sentir um pouco de enjoo. De repente, Lacey percebeu o que estava acontecendo — era aquela sensação há muito tempo esquecida de atração física que lhe dava um frio na barriga. Suas bochechas imediatamente coraram.
O homem riu. "Posso dizer pelo seu sotaque que você é americana. Então pode ser que não saiba que, aqui na Inglaterra, temos uma coisa chamada "onze-horas". Vem depois do café da manhã e antes do almoço".
"Eu não acredito em você", respondeu Lacey, sentindo os cantos dos lábios repuxarem para cima. "Onze-horas?"
O homem pôs a mão no coração. "Eu juro, não é um truque de marketing! É o momento perfeito para tomar chá com bolo, chá com sanduíches ou chá com biscoitos". Ele fez um gesto com os braços pela porta aberta, em direção ao armário de vidro cheio de guloseimas com design criativo em toda a sua glória, de aparência deliciosa. "Ou tudo junto".
"Contanto que você tome com chá?" Lacey brincou.
"Exatamente", ele respondeu, com seus olhos verdes brilhando, travessos. "Você pode até experimentar antes de comprar".
Lacey não resistiu mais. Fosse pela atração dos efeitos viciantes do açúcar ou, mais provavelmente, pela atração magnética daquele belo espécime de homem, Lacey entrou.
Ela assistiu ansiosa, com a boca cheia de água, quando ele pegou um grande pão redondo do armário de vidro, recheou-o de manteiga, geleia e creme e o cortou em quatro partes. A coisa toda foi feita de maneira teatral casualmente, como se ele estivesse realizando uma dança. Ele colocou os pedaços em um pequeno prato de porcelana e estendeu-o para Lacey equilibrado na ponta dos dedos, terminando a exibição completamente desinibida com um floreio: "Et voilà".
Lacey sentiu o calor inundar suas bochechas. Toda aquela performance havia sido claramente uma paquera. Ou era isso em que ela queria acreditar?
Ela estendeu a mão e pegou um dos pedaços do prato. O homem fez o mesmo, batendo seu pedaço contra o dela, como um brinde.
"Saúde", disse ele.
"Saúde", Lacey conseguiu responder.
Ela colocou o quitute na boca. Foram várias sensações. Creme espesso e doce. Geléia de morango tão fresca que a nitidez fez seu paladar formigar. E a massa! Densa e amanteigada, em algum lugar entre doce e salgado, e ai-que-delícia.
Os sabores de repente despertaram uma lembrança na mente de Lacey. Ela, seu pai, Naomi e a mãe, todos sentados ao redor de uma mesa de metal branco em um café luminoso, mergulhados em doces recheados de creme e geleia. Ela foi atingida por um raio de nostalgia reconfortante.
"Eu já estive aqui antes!" Lacey exclamou antes mesmo de terminar de mastigar.
"Ah?" foi a resposta divertida do homem.
Lacey assentiu com entusiasmo. "Eu vim para Wilfordshire quando criança. Isto é um scone, não é?"
As sobrancelhas do homem se ergueram, sinceramente curioso. "Sim. Meu pai era dono desta pastelaria antes de mim. Ainda uso a receita especial dele para fazer os scones".
Lacey olhou para a janela. Embora houvesse agora um assento de madeira embutido com uma almofada azul bebê no topo e uma mesa de madeira rústica combinando, ela conseguia imaginar como era trinta anos antes. De repente, se viu transportada de volta para aquele momento. Ela quase conseguia se lembrar da brisa na parte de trás do pescoço, e da sensação pegajosa da geleia nos dedos, do suor nas dobras da parte de trás dos joelhos... Ela até se lembrava do som do riso, do riso de seus pais, e o sorriso despreocupado em seus rostos. Eles estavam tão felizes, não estavam? Ela estava certa de que tinha sido sincero. Então, por que tudo desmoronou?
"Você está bem?" o homem perguntou.
Lacey voltou ao momento presente. "Sim. Desculpa. Eu estava perdida em minhas memórias. Provar este scone me levou de volta trinta anos atrás".
"Bem, você precisa ter 'onze-horas' agora", disse o homem, rindo. "Posso tentar você?"
Os formigamentos que corriam por todo o corpo de Lacey lhe davam a nítida impressão de que qualquer coisa que ele sugerisse naquele sotaque gentil com aqueles olhos atraentes e doces, ela concordaria. Então ela assentiu, percebendo a garganta repentinamente seca demais para formular palavras.
Ele bateu palmas. "Excelente! Deixe-me preparar tudo. Proporcionar toda a experiência inglesa". Ele ia se virar, mas parou e olhou para trás. "Eu me chamo Tom, aliás".
"Lacey", ela respondeu, sentindo-se tonta como uma adolescente apaixonada.
Enquanto Tom se ocupava na cozinha, Lacey sentou-se à janela. Ela tentou evocar mais lembranças do tempo que passou aqui antes, mas infelizmente não havia mais nada a lembrar. Apenas o gosto de scones e o riso de sua família.
Um momento depois, o belo Tom apareceu com um suporte de bolo cheio de sanduíches sem crosta, scones e uma seleção de cupcakes multicoloridos. Ele colocou um bule de chá na mesa ao lado.
"Eu não posso comer tudo isso!" Lacey exclamou.
"É para dois", respondeu Tom. "Por conta da casa. Não é educado fazer uma dama pagar no primeiro encontro".
Ele se sentou ao lado dela.
A candura dele pegou Lacey de surpresa. Ela sentiu os batimentos cardíacos começarem a acelerar. Havia se passado muito tempo desde que ela havia falado com outro homem numa atmosfera de flerte. Aquilo a fez sentir como uma adolescente risonha novamente. Estranha. Mas talvez fosse apenas uma coisa britânica. Talvez todos os homens ingleses se comportassem daquela forma.
"Primeiro encontro?" ela repetiu.
Antes que Tom pudesse responder, o sinete sobre a porta tilintou. Um grupo de cerca de dez turistas japoneses entrou na loja. Tom se levantou rapidamente.
"Oh-oh, clientes". Ele olhou para Lacey. "Vamos adiar este encontro, ok?"
Com a mesma autoconfiança, Tom se dirigiu ao balcão, deixando Lacey com as palavras presas na garganta.