Kitabı oku: «Assassinato na Mansão», sayfa 3

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A confeitaria, agora lotada de turistas, tornou-se barulhenta e movimentada. Lacey tentou manter um olho em Tom enquanto devorava os quitutes, mas ele estava ocupado com os pedidos dos clientes.

Quando terminou, ela tentou se despedir, mas ele se retirou para a área da cozinha e não a viu.

Sentindo-se um pouco decepcionada e com a barriga extremamente cheia, Lacey saiu da confeitaria e voltou para a rua.

Então, ela fez uma pausa. Uma vitrine vazia do outro lado da rua da confeitaria chamou sua atenção. Uma emoção muito profunda se agitou dentro dela, que literalmente a deixou sem fôlego. A loja tinha sido algo antes, algo que os recantos mais profundos de suas memórias da infância queriam recordar. Algo que exigia que ela olhasse mais de perto.

CAPÍTULO QUATRO

Lacey espiou pela vitrine frontal da loja vazia, procurando em sua mente as lembranças que havia despertado nela. Mas não lhe veio nada de concreto. Era mais um sentimento, mais profundo do que apenas nostalgia, mais parecido com se apaixonar.

Olhando através das janelas, Lacey podia ver que, lá dentro, a loja estava vazia e às escuras. O chão era um assoalho de madeira clara. Havia várias prateleiras embutidas e uma grande mesa de madeira contra uma parede. A luminária pendurada no teto era de latão antigo. Cara, pensou Lacey. Certamente deve ter sido deixada para trás por acidente.

Então, Lacey percebeu que a porta da loja estava destrancada. Ela não conseguiu se conter e entrou.

Um cheiro metálico, com traços de poeira e mofo, flutuou. Imediatamente, Lacey foi atingida por outro raio de nostalgia. O cheiro era exatamente o mesmo da velha loja de antiguidades de seu pai.

Ela amava aquele lugar. Quando criança, passara muitas horas naquele labirinto de tesouros, brincando com as assustadoras bonecas de porcelana antigas, lendo todos os tipos de histórias em quadrinhos colecionáveis, de Bunty a The Beano, aos excepcionalmente raros e valiosos Rupert the Bear originais. Mas o que ela mais gostava de fazer era simplesmente percorrer as prateleiras de bugigangas e imaginar a vida e a personalidade das pessoas às quais já haviam pertencido. Havia um suprimento infinito de miudezas, aparelhos e outras tranqueiras, e cada item tinha o mesmo aroma estranho de metal, poeira e mofo que ela podia sentir agora.

Assim como ver o Chalé do Penhasco com sua vista para o oceano havia despertado um antigo sonho de infância de viver à beira-mar, agora também, um antigo desejo de infância voltou, inundando-a: o sonho de administrar sua própria loja.

Até o layout a lembrava da antiga loja de seu pai. Enquanto olhava em volta, imagens dos mais profundos recônditos de sua memória surgiram diante de sua visão através de seus olhos, como uma folha de papel transparente colocada em cima de um desenho. De repente, ela viu as prateleiras cheias de relíquias bonitas — principalmente utensílios de cozinha vitorianos, como era o interesse particular de seu pai — e lá, no balcão, Lacey visualizou a grande caixa registradora de metal, pesada e antiquada, com as teclas rígidas que o pai insistia em usar porque "mantinha sua mente afiada" e "aprimorava suas habilidades em matemática mental". Ela sorriu por dentro, sonhadora, enquanto as palavras de seu pai ecoavam em seus ouvidos e as imagens e memórias apareciam diante de seus olhos.

Lacey estava tão perdida em seus devaneios que não ouviu o som de passos vindo dos fundos da loja, em sua direção. Ela também não notou o homem ao qual os passos pertenciam quando ele emergiu pela porta, com uma carranca no rosto, e marchou até ela. Foi só quando sentiu um tapinha leve no ombro que Lacey percebeu que não estava sozinha.

Seu coração deu um salto. Lacey quase gritou de surpresa quando se virou para encarar o estranho. Era um idoso com cabelos brancos ralos e olheiras arroxeadas sob brilhantes olhos azuis.

"Posso ajudá-la?" o homem perguntou, de uma maneira hostil e áspera.

A mão de Lacey voou para seu peito. Levou um momento para perceber que o fantasma de seu pai não tinha apenas lhe dado um tapinha no ombro e que ela não era realmente uma criança em pé em sua loja de antiguidades, mas uma mulher crescida de férias na Inglaterra. Uma mulher adulta que no momento era uma invasora.

"Ai, meu Deus, mil desculpas!" ela exclamou apressadamente. "Não sabia que havia alguém aqui. A porta estava destrancada".

O homem olhou para ela com ceticismo. "Você não vê que a loja está vazia? Não há nada aqui para comprar".

"Eu sei", Lacey continuou, desesperada para apagar aquela primeira má impressão e a carranca de suspeita do rosto do velho. "Mas eu não pude evitar. Este lugar me lembrou muito a loja de meu pai". Para surpresa de Lacey, ela se viu com os olhos subitamente inundados de lágrimas. "Eu não o vejo desde que era criança".

O comportamento do homem mudou em um instante. Ele passou de carrancudo e defensivo para suave e gentil.

"Querida, querida, querida", disse ele, gentilmente, balançando a cabeça enquanto Lacey rapidamente enxugava as lágrimas. "Está tudo bem, minha querida. Seu pai era dono de uma loja como esta?"

Lacey sentiu-se imediatamente envergonhada por ter despejado suas emoções sobre aquele homem, sem mencionar a culpa de que, em vez de chamar a polícia para expulsá-la de sua propriedade privada, ele reagiu como um psicólogo, com compaixão genuína, encorajamento e interesse. Mas Lacey não conseguiu se conter e abriu o coração.

"Ele vendia antiguidades", explicou, com um sorriso leve nos lábios novamente por causa das lembranças, mesmo enquanto as lágrimas caíam de seus olhos. "O cheiro daqui me deixou nostálgica, e tudo voltou à minha mente. A loja dele tinha o mesmo layout". Ela apontou para a porta dos fundos pela qual o homem provavelmente havia entrado. "Essa sala dos fundos era usada para armazenamento, mas ele sempre quis transformá-la em uma sala de leilão. Era muito longa e se abria para um jardim".

O homem começou a rir. "Venha dar uma olhada. A sala dos fundos aqui também é longa e se abre para um jardim".

Tocada pela compaixão dele, Lacey seguiu o homem pela porta até a sala dos fundos. Era comprida e estreita, lembrando um vagão de trem, e quase idêntica ao cômodo que seu pai queria transformar em uma área para fazer leilões. Passando direto pela sala, Lacey saiu para um jardim maravilhoso. Era estreito e comprido, estendendo-se por cerca de quinze metros. Havia plantas coloridas por todo lado e árvores e arbustos estrategicamente colocados, fornecendo a quantidade certa de sombra. Uma cerca na altura dos joelhos era tudo que a separava do jardim da loja vizinha — que, em contraste com o jardim imaculado em que ela estava, parecia ser usado apenas para armazenamento, com várias barracas grandes e feias de plástico cinza e um fileira de latas de lixo.

Lacey voltou sua atenção para o belo jardim.

"É incrível", elogiou.

"Sim, é um lugar bonito", respondeu o homem, endireitando um vaso caído. "As pessoas que alugaram o local antes o usavam como uma loja de jardinagem".

Lacey notou imediatamente o ar melancólico no tom dele. Ela percebeu então que a grande estufa de vidro à sua frente estava com as portas escancaradas e várias plantas em vasos estavam espalhadas por todo o chão, com as hastes esmagadas e terra derramada. Subitamente, ela ficou curiosa. A visão das plantas espalhadas em um jardim tão bem cuidado parecia estranha. Sua mente se moveu imediatamente de seu pai para o momento presente.

"O que aconteceu aqui?" ela perguntou.

O homem idoso tinha uma expressão abatida. "É por isso que estou aqui. Recebi uma ligação do vizinho esta manhã dizendo que parecia que o lugar havia sido esvaziado da noite para o dia.

Lacey ofegou. "Eles foram assaltados?" Sua mente não conseguia conciliar o conceito de crime com a bela e tranquila cidade costeira de Wilfordshire. Para ela, parecia o tipo de lugar onde o mais próximo que alguém chegaria de cometer uma infração era um garoto travesso local roubar uma torta recém-assada colocada no parapeito de uma janela para esfriar.

O homem sacudiu a cabeça. "Não, não, não. Eles foram embora. Empacotaram todo o estoque e esvaziaram a loja. Nem deram aviso prévio. Também me deixaram todas as suas dívidas. Contas de energia e água para pagar. Uma montanha de faturas". Ele balançou a cabeça, triste.

Lacey ficou chocada ao perceber que a loja havia ficado vazia naquela manhã e que ela inadvertidamente havia se intrometido no desenrolar de uma situação, inserindo-se acidentalmente em uma narrativa misteriosa que havia acabado de começar.

"Sinto muito", disse ela com genuína empatia pelo homem. Agora era sua vez de brincar de terapeuta, de retribuir a gentileza dele. "Você vai ficar bem?"

"Na verdade, não", ele disse, sombrio. "Temos que vender a loja para pagar as contas e, sinceramente, eu e minha mulher estamos velhos demais para esse tipo de estresse". Ele bateu no esterno, como se quisesse indicar a fragilidade do coração. "Mas será uma pena dar adeus a este lugar". Sua voz embargou. "Faz parte da família há anos. Eu amo esta loja. Tivemos alguns inquilinos muito interessantes naquele tempo". Ele riu, os olhos enevoando-se com a lembrança. "Mas não. Não podemos passar por esse transtorno novamente. É muito difícil".

A tristeza no tom dele foi suficiente para partir o coração de Lacey. Em que lugar difícil eles haviam sido colocados. Que situação terrível. A profunda empatia que sentiu pelo homem era agravada por sua própria situação, pela maneira como a vida que ela construíra com David em Nova York fora injustamente arrancada dela. Ela sentiu uma súbita responsabilidade de resolver o problema.

"Vou alugar a loja", ela deixou escapar, as palavras saindo de seus lábios antes que seu cérebro tivesse percebido o que estava dizendo.

As sobrancelhas brancas do homem se ergueram, com evidente surpresa. "Desculpe, o que você acabou de dizer?"

"Eu vou alugar", repetiu Lacey rapidamente, antes que a parte lógica de sua mente tivesse a chance de convencê-la do contrário. "Você não pode vender. Tem muita história, você mesmo disse. Muito valor sentimental. E sou super confiável. Eu tenho experiência. Mais ou menos".

Ela pensou na guarda de sobrancelhas escuras no aeroporto, dizendo que ela precisava de um visto para trabalhar, e como lhe havia assegurado com muita confiança que a última coisa que queria fazer na Inglaterra era trabalhar.

E quanto a Naomi? Seu emprego com Saskia? Como seria?

De repente, nada disso importava. Esse sentimento com o qual Lacey foi atingida quando viu a loja parecia amor à primeira vista. Ela estava se jogando de cabeça.

"E então? O que você acha?" perguntou a ele.

O velho parecia um pouco atordoado. Lacey não podia culpá-lo. Ali estava uma estranha mulher americana vestida com roupas de brechó, pedindo-lhe para alugar sua loja quando ele já havia decidido vendê-la.

"Bem... eu..." ele começou. "Seria bom mantê-la na família um pouco mais. Agora também não é o melhor momento para vender, com o mercado do jeito que está. Mas eu preciso falar com minha esposa, Martha, primeiro".

"Claro", disse Lacey. Ela rapidamente rabiscou seu nome e número em um pedaço de papel e entregou a ele, surpresa com a determinação que sentia. "Leve o tempo que precisar".

Ela precisava de tempo para resolver seu visto, afinal, e elaborar um plano de negócios, finanças, estoque e tudo mais. Talvez ela devesse começar comprando uma cópia do Guia para Leigos sobre como Abrir uma Loja.

"Lacey Doyle", disse o homem, lendo o papel que ela lhe entregara.

Lacey assentiu. Dois dias atrás, esse nome não lhe era familiar. Agora parecia o dela novamente.

"Eu sou Stephen", ele respondeu.

Eles apertaram as mãos.

"Aguardo ansiosamente a sua ligação", disse Lacey.

Ela saiu da loja, com o coração disparado de antecipação. Se Stephen decidisse alugá-la, ela ficaria em Wilfordshire em uma base muito mais permanente do que havia planejado. A ideia deveria assustá-la. Mas, em vez disso, deixou-a encantada. Parecia tão certo... Mais do que certo. Parecia o destino.

CAPÍTULO CINCO

"Eu pensei que eram férias!" a voz furiosa de Naomi explodiu através do celular entre a orelha e o ombro de Lacey.

Ela suspirou, diminuindo o tom da fala de sua irmã, enquanto digitava no teclado do computador da biblioteca de Wilfordshire. Lacey estava checando o status do seu formulário online solicitando a mudança de seu visto de turista para um que lhe permitisse abrir uma empresa.

Depois da reunião com Stephen, Lacey se jogou na pesquisa e ficou sabendo que, com inglês nativo e uma quantidade considerável de capital no banco, a única outra coisa exigida era um plano de negócios decente, algo em que ela tinha muita experiência, graças à tendência de Saskia de transferir responsabilidades para os ombros de Lacey, que estavam muito além de seu salário. Lacey levou apenas algumas noites para compilar o plano e apresentá-lo, um processo indolor que a deixou mais do que certa de que o universo estava dando uma ajudinha para essa sua nova vida.

Quando ela se logou no portal oficial do governo do Reino Unido, viu que sua solicitação ainda estava como "pendente". Ela estava tão desesperada para seguir em frente que não conseguiu evitar um pouco de decepção. Então seu foco voltou à voz de Naomi em seu ouvido.

"Eu NÃO POSSO acreditar que você vai se mudar!" Sua irmã estava gritando. "Permanentemente!"

"Não é permanente", explicou Lacey, com calma. Ao longo dos anos, ela havia ganhado prática em como não piorar o humor de Naomi. "O visto vale apenas por dois anos".

Ops. Movimento errado.

"DOIS ANOS?" Naomi gritou, com uma raiva chegando a um tom febril.

Lacey revirou os olhos. Ela sabia que a família não apoiaria sua decisão. Naomi precisava dela em Nova York para servir de babá, afinal, e a sua mãe basicamente a tratava como um animal de estimação para apoio emocional. A mensagem alegre que ela havia digitado no grupo das Garotas Doyle havia sido recebida com a gratidão de uma bomba nuclear. Dias depois, Lacey ainda estava lidando com as consequências.

"Sim, Naomi", ela respondeu, desapontada. "Dois anos. Eu acho que mereço, não é? Eu dei catorze anos a David. Quinze ao meu emprego. Nova York me teve por trinta e nove. Estou chegando aos quarenta, Naomi! Eu realmente quero ter vivido minha vida inteira em um só lugar? Ter uma única carreira? Ter vivido com um único homem?"

O rosto bonito de Tom brilhou em sua mente quando ela disse isso, e ela sentiu suas bochechas esquentarem imediatamente. Ela estava tão ocupada organizando sua nova vida em potencial que não voltou à confeitaria — e sua expectativa de cafés da manhã lânguidos ao ar livre foi temporariamente substituída por uma banana embrulhada e uma mistura para frappuccino da loja de conveniência. De fato, acabara de lhe ocorrer que, se esse acordo desse certo com Stephen e Martha, ela alugaria a loja em frente à de Tom e o veria pela janela todos os dias. Seu interior se contorceu de prazer só de pensar.

"E Frankie?" Naomi choramingou, trazendo-a de volta à realidade.

"Enviei-lhe alguns fudges pelo correio".

"Ele precisa da tia!"

"Ele ainda me tem! Não estou morta, Naomi, só vou morar no exterior por um tempo".

Sua irmã caçula desligou na cara dela.

Trinta e seis anos, quase dezesseis, Lacey pensou ironicamente.

Quando ela colocou o celular de volta no bolso, Lacey notou algo na tela do computador piscar. O status do formulário de inscrição havia mudado de "pendente" para "aprovado".

Com um grito, Lacey pulou da cadeira e deu um soco no ar. Todos os idosos jogando paciência nos outros computadores da biblioteca se viraram para olhá-la, alarmados.

"Desculpem!" Lacey exclamou, tentando moderar sua empolgação.

Afundou na cadeira novamente, sem fôlego. Ela conseguiu. Tinha luz verde para colocar seu plano em ação. E tudo flui tão bem que Lacey não pôde deixar de suspeitar que o destino tinha dado uma mãozinha...

Mas havia um último obstáculo. Ela precisava que Stephen e Martha concordassem em alugar a loja.

*

Lacey caminhava ansiosa pelo centro da cidade, sem pressa. Ela não queria se afastar muito da loja porque, no segundo em que recebesse a ligação de Stephen, voltaria direto para lá com seu talão de cheques e uma caneta e assinaria o bendito acordo antes que algum traço de auto-sabotagem lhe dissesse que ela não podia fazer aquilo. Mas Lacey era excepcionalmente talentosa em admirar vitrines e começou a trabalhar, dando uma olhada em tudo o que a cidade tinha para oferecer. Enquanto ela passeava, seus mocassins baratos comprados no aeroporto engancharam nos paralelepípedos, fazendo-a tropeçar e torcer o tornozelo. Foi então que Lacey percebeu que precisava mudar sua aparência casual de brechó, se quisesse ser levada a sério como uma mulher de negócios em potencial.

Ela se dirigiu à boutique que ficava ao lado da loja vaga que ela esperava que em breve fosse dela.

E também posso aproveitar para conhecer meus vizinhos, pensou.

Ela entrou e percebeu que era um lugar de aparência minimalista, abastecido com apenas alguns itens selecionados. A mulher atrás do balcão levantou os olhos quando ela entrou, erguendo altivamente o nariz ao avaliar as roupas de Lacey de cima a baixo. A mulher era magra e tinha uma aparência um tanto severa, mas seus cabelos castanhos ondulados eram penteados exatamente da mesma maneira que os de Lacey. Seu vestido preto a fazia parecer uma espécie de clone "do mal" de si mesma, pensou ela, brincalhona.

"Posso ajudá-la?" a mulher perguntou com uma voz fraca e desagradável.

"Não, obrigada", respondeu Lacey. "Eu sei exatamente o que quero".

Ela escolheu um terno de duas peças do cabide, o tipo que estava acostumada a usar em Nova York, e depois fez uma pausa. Queria mesmo replicar aquele visual? Se vestir como aquela mulher que era antes? Ou queria ser alguém nova?

Ela se voltou para a atendente. "Na verdade, talvez precise de um pouco de ajuda".

O rosto da mulher permaneceu impassível enquanto ela saía de trás do balcão e se aproximava. Evidentemente, ela assumiu que Lacey era uma perda de tempo — que tipo de cliente de brechó poderia pagar por roupas de uma boutique como esta? — e Lacey estava ansiosa pelo momento em que seria capaz de exibir seu cartão de crédito na cara daquela mulher que a estava julgando.

"Eu preciso de algo para o trabalho", disse Lacey. "Formal, mas não muito rígido, sabe?"

A mulher piscou. "E você trabalha com o quê?"

"Antiguidades".

"Antiguidades?"

Lacey assentiu. "Sim. Antiguidades".

A mulher selecionou algo do cabide. Estava na moda, era meio ousado, com uma pitada de androginia no corte. Lacey o levou para o provador para ver se era seu tamanho. O reflexo que a encarava fez um sorriso irromper em seus lábios. Ela parecia, vamos dizer... descolada. A funcionária da loja, apesar da cara de megera, tinha um gosto impecável e um olho impressionante para valorizar um tipo de corpo.

Lacey saiu do provador. "É perfeito. Eu vou levar. E mais quatro em cores diferentes".

As sobrancelhas da vendedora catapultaram para cima. "Como?"

O celular de Lacey começou a tocar. Ela olhou para a tela e viu o número de Stephen piscando.

Seu coração deu um pulo. Era isso! A ligação que ela estava esperando! A ligação que determinaria seu futuro!

"Eu vou levar", Lacey repetiu para a vendedora, de repente, sem fôlego por causa da expectativa. "E mais quatro em qualquer cor que você achar que fique bem em mim".

A mulher parecia confusa quando se dirigiu para os fundos — para aqueles feios galpões cinzentos de armazenamento, pensou Lacey — para encontrar seus ternos.

Lacey atendeu o celular. "Stephen?"

"Oi, Lacey. Estou aqui com Martha. Gostaria de voltar à loja para conversar?"

Seu tom parecia promissor, e Lacey não pôde deixar de sorrir.

"Com certeza. Eu estarei lá em cinco minutos".

A vendedora voltou com os braços carregados com mais ternos. Lacey notou a paleta de cores impecável: nude, preto, azul-marinho e rosa-pó.

"Você quer experimentá-los?" perguntou ela.

Lacey balançou a cabeça. Ela estava com pressa agora e mal podia esperar para terminar sua compra e correr para a loja lado. Tanto que ficava olhando por cima do ombro para a saída.

"Não. Se eles são iguais a este, confio em você que servirão em mim. Pode concluir a compra, por favor?" Ela falou com pressa. Era literalmente audível que sua paciência estava desaparecendo. "Ah, e eu vou levar este também".

A vendedora parecia não dar a mínima para a forma como Lacey estava tentando apressá-la. Como se quisesse ofendê-la, ela demorou a registrar cada item e dobrá-lo cuidadosamente em papel de seda.

"Espere!" Lacey exclamou, enquanto a mulher pegava uma sacola de papel para colocar as roupas. "Não posso carregar uma sacola de loja. Vou precisar de uma bolsa. Uma boa". Os olhos dela dispararam para a fila de bolsas em uma prateleira atrás da cabeça da mulher. "Você pode escolher uma que combine bem com os ternos?"

Pela expressão da vendedora, você seria perdoado por pensar que ela estava lidando com uma louca. Ainda assim, ela se virou, considerou cada uma das bolsas à venda e pegou uma de couro preta grande, com uma fivela dourada.

"Perfeita", disse Lacey, saltando na ponta dos pés como um corredor esperando o disparo de largada. "Pode registrar".

A mulher fez o que lhe foi ordenado e começou a encher cuidadosamente a bolsa com os ternos.

"Então, isso vai dar..."

"SAPATOS!" Lacey gritou de repente, interrompendo-a. Que cabeça de vento. Foram seus mocassins baratos que a trouxeram para esta loja, em primeiro lugar. "Eu preciso de sapatos!"

A vendedora parecia ainda menos impressionada. Talvez ela tenha pensado que Lacey estava brincando, e que iria fugir no final daquilo tudo.

"Nossos sapatos ficam ali", disse ela friamente, fazendo um gesto com o braço.

Lacey olhou para a pequena seleção de belos saltos-altos que ela usaria na cidade de Nova York, onde considerava os tornozelos doloridos um risco ocupacional. Mas as coisas eram diferentes agora, ela lembrou a si mesma. Não precisava usar calçados que causavam dor.

Seu olhar caiu sobre um par de brogues pretos. Os sapatos complementariam perfeitamente a qualidade andrógina de suas roupas novas. Ela foi diretamente até eles.

"Estes", disse ela, colocando-os no balcão em frente à vendedora.

A mulher nem se deu ao trabalho de perguntar a Lacey se ela queria experimentá-los, então, passou-os pela caixa registradora, tossindo sobre o punho ao ver o preço de quatro dígitos que piscou na tela.

Lacey pegou o cartão, pagou, calçou os sapatos novos, agradeceu à vendedora e foi rapidamente para a loja vazia ao lado. A esperança cresceu em seu peito por estar a poucos minutos de pegar as chaves de Stephen e se tornar vizinha da vendedora blasé da qual acabara de comprar uma identidade totalmente nova.

Quando ela entrou, Stephen pareceu não reconhecê-la.

"Achei que você tinha dito que ela parecia meio desarrumada?" disse, pelo canto da boca, a mulher a seu lado, que devia ser sua esposa Martha. Se ela estava tentando ser discreta, falhou miseravelmente. Lacey pôde ouvir cada palavra.

Lacey apontou para sua roupa. "Tchan-ran! Eu falei que sabia o que estava fazendo", brincou.

Martha olhou para Stephen. "Com o que você estava se preocupando, seu velho tolo? Ela é a resposta para nossas orações! Dê a ela o contrato imediatamente!"

Lacey não podia acreditar. Que sorte. O destino definitivamente interveio.

Stephen apressadamente tirou alguns documentos de sua bolsa e os colocou no balcão em frente a ela. Ao contrário dos papéis do divórcio que ela encarara com descrença, em um momento de tristeza desencarnada, estes papéis pareciam brilhar com promessas, com oportunidades. Ela pegou sua caneta, a mesma que havia assinado a papelada do divórcio, e se comprometeu, assinando o papel.

Lacey Doyle. Dona de loja.

Sua nova vida foi selada.

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Yaş sınırı:
0+
Litres'teki yayın tarihi:
15 nisan 2020
Hacim:
262 s. 4 illüstrasyon
ISBN:
9781094305165
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