Kitabı oku: «Alerta Vermelho: Confronto Letal », sayfa 16

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CAPÍTULO 46

6 De Junho

00:03

Na estrada

O mundo em seu redor era negro.

O homem era um camionista a atravessar a noite. Estava abaixo de Florence na Carolina do Sul, naquela parte do estado onde as saídas eram poucas e muito próximas. A autoestrada negra espraiava-se sob o brilho dos faróis. O plano era alcançar a Flórida do norte antes de sair da estrada, talvez Jacksonville, talvez St. Augustine se chegasse tão longe.

Tinha sido um dia terrível, talvez o pior de sempre. Mas a vida continuava. Levava consigo um carregamento de produtos de porco enlatado da Virginia até às docas de Port Everglades. A carga não chegava lá sozinha.

Acendeu um cigarro e ligou o rádio. O novo Presidente, um homem de que o camionista nunca ouvira falar até àquela noite, acabava de ser apresentado. Ia fazer um anúncio.

O camionista suspirou. Esperava que este também não fosse pelos ares. Então o Presidente começou a falar.

“Concidadãos americanos,” Principiou.

“Ontem, 5 de Junho, os Estados Unidos da América foram súbita e deliberadamente atacados por agentes secretos e provocadores da República Islâmica do Irão. Os Estados Unidos estavam em paz com essa nação e em conversações com o seu Governo, no sentido de se manter a paz no Médio Oriente.

“De facto, menos de vinte e quatro horas antes, um drone iraniano atingiu a nossa Casa Branca, o Embaixador Iraniano das Nações Unidas entregou ao nosso Embaixador nas Nações Unidas uma resposta formal a uma mensagem americana recente. E, apesar desta resposta afirmar que era inútil prosseguir as negociações diplomáticas existentes, não continha qualquer ameaça ou pista que apontassem para a guerra ou para a possibilidade de um ataque armado.

“É de notar que a natureza do ataque torna evidente que foi planeado deliberadamente há muitos dias, semanas e até meses. Durante o período de intervenção, o Governo iraniano procurou enganar de forma deliberada os Estados Unidos através de declarações falsas e desejo de esperança na reconciliação.

“O ataque desta noite causou graves danos no Centro de Operações de Emrgência de Mount Weather onde o anterior Presidente, a Vice-Presidente e muitos membros do Governo estavam reunidos. Lamento informar-vos que muitas vidas americanas se perderam. Ainda não temos conhecimento do número exato neste momento, mas nos próximos dias teremos a confirmação de que pelo menos trezentos americanos terão morrido.

“O Irão atacou solo americano de surpresa. Os factos de ontem e hoje falam por si próprios. O povo dos Estados Unidos já formou a sua opinião e compreende as implicações que esta situação acarreta para a vida e segurança da nossa nação.

“Como Comandante Supremo das Forças Armadas ordenei que fossem tomadas todas as medidas necessárias para garantir a nossa defesa. Não importa quanto tempo demoraremos a ultrapassar este ataque premeditado, o povo americano vai vencer. Penso que interpreto a vontade do povo quando digo que não só nos defenderemos até ao limite, como nos asseguraremos que esta forma de traição nunca mais nos colocará em perigo.

“A hostilidade é uma realidade. Não restam dúvidas de que o nosso povo, o nosso território e os nossos interesses estão em grande perigo. Com confiança nas nossas forças armadas e com a determinação do nosso povo, iremos alcançar um inevitável triunfo, assim Deus o queira. Desta forma, informo que desde que os ataques cobardes de 5 de Junho ocorreram, estamos em estado de guerra com o Irão.”

CAPÍTULO 47

***

00:35

Condado Queen Anne, Maryland – Eastern Shore da Baía de Chesapeake

Luke chegou a casa sabendo que era tarde demais.

Estava escuro. A proximidade da água parecia acrescentar uma estranha eletricidade ao ar.

A princípio, estacionou o carro a alguns metros da casa. Desligou os faróis e depois esperou, e observou. Não havia movimento na estrada. Luzes de TV cintilavam numa casa distante à esquerda. Mais perto, a casa dos Thompson estava escura.

A sua sensação de medo era tão absoluta que pensou que iria vomitar. Ao longo da sua vida tinha cometido muitos erros e agora, provavelmente, esses erros custariam a vida a Becca e a Gunner. Há muito que devia ter informado Becca dos riscos que o seu trabalho acarretava. Mais do que isso, ele nunca se devia ter envolvido com Becca ou com qualquer outra pessoa.

O carro deslizou a encosta na direção da casa. O Volvo de Becca estava lá. Estacionou ao lado. Saiu do carro e verificou a porta do Volvo. Não se tentou esconder. Era melhor virem atrás dele do que matar a sua família. Desejava ter feito essa troca quando ainda ia a tempo. Sabia que era mentira, mas…

O carro estava destrancado – ela nunca trancava as portas do carro ali. Não havia nada no seu interior. Abriu a mala e não encontrou nada. Um casaco, uma chave inglesa, uma bomba de ar e duas raquetes de ténis.

Caminhou na direção da casa. A porta estava destrancada e ele entrou.

Ninguém.

Conseguiu sentir o vazio da velha casa. A luz da casa de banho estava ligada, atirando sombras à sala de estar. A mesa de apoio estava destruída como se alguém tivesse caído sobre ela. Era o único sinal de luta que vislumbrava.

Ficou parado por um momento, sustendo a respiração, a olhar e a ouvir.

Nenhum som. Nenhum.

O ar libertou-se da sua boca num longo e quase silencioso gemido. Ok. Tinha chegado até aqui. Agora podia tirar um minuto para se recompor e depois revistar o resto da casa. Se alguém ali estivesse, estava morto.

Lamento tanto, Becca.

Permaneceu ali durante vários minutos. Pela janela traseira e à distância, um barco vogava nas águas negras. Não conseguia ver o barco. Apenas sabia que ali estava graças à luz vermelha da proa.

Começou a sua busca. Entrou nos quartos de forma ausente, verificando depois o resto da casa. Sombras emergiam à sua volta. Dirigiu-se ao quarto principal. Revistou a casa de banho e o armário. Becca não estava ali. O que quer que lhe tivessem feito, não tinham deixado o corpo para trás.

Foi ao quarto de Gunner. Por cima da cama, lá estava o poster de zombie em tamanho real. Assustou-o. Por um breve momento, quase pensou que ali estava um homem. O zombie sangrento, vestido de farrapos, com sangue a escorrer-lhe da boca, acusou-o:

Mataste a criança. Mataste.

E Luke nada podia dizer em sua defesa.

Foi trespassado por uma dor lancinante. Não tinha nada a ver com a violência que suportara hoje. Era a dor da separação, o medo impotente pela segurança dos que mais amava. Tinham-lhe sido arrancados e ele não tinha forma de os salvar.

A mente de Luke estava toldada. Não conseguia respirar.

Podia telefonar ao Don. Podia implorar. Podia ser abjecto, podia ser nojento. Só um impossível favor em honra dos velhos tempos. Luke faria qualquer coisa para trocar de lugar com eles. Mas Don nunca o permitiria. Ele conhecia Don. Quando Don lançava um ultimato, nada mais havia a fazer. Não havia volta a dar. Raios. Provavelmente o Don nem conseguiria parar isto mesmo que quisesse. Possivelmente nem tinha contato com os raptores e mesmo eles estariam a operar no vácuo. Uma vez em ação, levariam a cabo a sua tarefa sem mais contatos.

Provavelmente, Becca e Gunner já estavam mortos.

Luke estava novamente prestes a chorar. Tudo bem. Podia chorar. E nada mais havia a fazer.

Subitamente, o telefone tocou. Luke atendeu.

Uma voz de mulher falou, “Luke?”

“Trudy.”

“A Vice-Presidente está viva, Luke.”

Em poucos segundos, Luke já estava fora do quarto de Gunner e a descer as escadas apressadamente. Depois saiu de casa na direção do ar noturno, caminhando rapidamente para o carro. Era o instinto. O corpo respondeu antes da mente. A Vice-Presidente Susan Hopkins e tudo o que representava, eram a única hipótese de salvar a sua família.

“Conta-me,” Disse Luke.

“ECHELON,” Começou Trudy. “Tem procurado sinais de vida provenientes de telemóveis, endereços de e-mail, tablets e dispositivos de comunicação associados às pessoas que se encontravam em Mount Weather. Há cerca de dez minutos, apanhou um sinal – o telemóvel de um agente dos Serviços Secretos chamado Charles Berg, um membro do contingente de segurança de Susan Hopkins. O sistema alertou a Real Time Regional Gateway no quartel-general da NSA e detetaram uma chamada que estava a ser efetuada por Berg.”

Luke deu à chave, iniciou a marcha e carregou no acelerador. Os pneus guincharam quando se distanciou da entrada.

“Estou a ouvir-te,” Disse.

“Berg telefonou a um agente reformado dos Serviços Secretos chamado Walter Brenna. Trabalharam juntos a dada altura. Resumindo e concluindo, o Berg tem a Hopkins, ela está ferida, mas viva e está neste momento a caminho de Washington com ela. Não planeia contar isto a mais ninguém. Aparentemente, Brenna foi médico nos Fuzileiros antes de se juntar aos Serviços Secretos. Há trinta anos atrás. O Berg vai levar a Vice-Presidente dos Estados Unidos a casa de Brenna nos subúrbios e vão ver se conseguem tratar os ferimentos dela ali. Depois vão escondê-la.”

“Qual a extensão dos ferimentos?”

“Não se sabe ao certo. A conversa durou pouco mais de um minuto.”

“Onde vive o Brenna?”

“Deixa-me ver… eu tenho isso. A chamada é de um telefone fixo. Ele vive em Bowie, Maryland, 1307 Third Street.”

Luke já estava a introduzir a morada no GPS que, pouco depois, traçou um mapa com o percurso. Estava a trinta minutos de distância, menos se carregasse no acelerador.

“Onde estão Berg e a Vice-Presidente neste momento?”

“Não é certo. O telefone do Berg parou de se movimentar numa estrada secundária algures em Eastern Virginia. Tentou-se contatá-lo sem sucesso. Agentes de várias organizações dirigem-se ao local, mas só o conseguem localizar a noventa metros de distância. Dados de satélite mostram uma área de floresta ao lado da estrada. Não há carros estacionados na vizinhança. Parece que o Berg fez uma única chamada para Brenna e depois atirou o telefone pela janela. Nem se sabe que carro é que Berg está a conduzir.”

Luke acenou. O homem era esperto. Ele sabia que podiam estar a espiá-lo. Só não sabia a quantidade de pessoas que estariam a espiar e até que ponto.

“O Don sabe disto?”

“É muito estranho. Ele sabe. Saiu daqui a correr quando a informação surgiu. O Don parece outro.”

“Ele disse alguma coisa a meu respeito?”

“Disse que tinha falado contigo, que tinham tido uma discussão e que lhe tinhas dito que ias para a cama. Disse para não te incomodar, mas eu parti do princípio que tu não podias estar a dormir. Acho que nunca te vi a adormecer.”

“Trudy, o Don está a tentar matar-me.”

As palavras saíram-lhe da boca inesperadamente. Uma vez ditas, não havia problema. Era um facto e Trudy já era uma menina crescida. Não podia protegê-la dos factos. Seguiu-se um longo silêncio.

Luke passou por um sinal indicando a Ponte da Baía de Chesapeake. Dali a dez minutos, estaria a passar mais uma vez pelo corpo de David Delliger.

“Trudy?”

“O que é que estás a dizer, Luke?”

“Se te disser, ponho a tua vida em risco.”

“Diz-me,” Pediu ela.

Então ele contou-lhe. No fim, o silêncio intensificou-se. Luke estava a ir depressa, cento e quarenta e cinco quilómetros por hora, a subir a rampa para a ponte. As estradas estavam desertas. Nem um polícia à vista.

“Acreditas em mim?” Perguntou.

“Luke, não sei em que acreditar. Sei que o Don e Bill Ryan foram amigos na Citadel. Iam de férias juntos com as famílias.”

“Trudy, eles levaram a minha mulher e o meu filho.”

“O quê?”

Contou-lhe também isso. Manteve a voz firme. Limitou-se a relatar os factos, as coisas de que tinha a certeza. Não chorou. Não gritou.

“Foi um golpe,” Disse Luke. “Há pessoas nas agências de informação e no exército que querem a guerra. Provavelmente também os fornecedores da defesa. E o Don está no meio deles. Um jogador menor, mas ainda assim envolvido.”

A voz de Trudy estremeceu. “Há menos de uma hora, Bill Ryan declarou guerra ao Irão. Logo a seguir, as ondas sonoras descontrolaram-se. ECHELON, todas as estações de escuta, Fairbanks, Menwith Hill, a base da Força Aérea de Misawa no Japão, e uma série de outros… estão a recolher escutas dos russos. Os russos ainda não anunciaram nada, mas estão preparados para considerar um ataque ao Irão como um ataque à Rússia. Estão a preparar os mísseis. Não quero acreditar que o Don queira que isto aconteça.”

“Eis o que quero que faças,” Disse Luke. “Chama o Swann… ele ainda aí está?”

“O Swann nunca vai para casa,” Informou Trudy.

“Deixa o Swann ter acesso ao computador do Don. Procurem quaisquer provas de que o Don sabia dos ataques com antecedência. E-mails, ficheiros, qualquer coisa. O Don não organizou os ataques, mas sabia que iam acontecer.”

“O que é que vai ajudar se encontrarmos alguma coisa?”

“Pode ajudar numa possível acusação a Ryan e a quem esteve por detrás disto. Se apanharmos o Don, talvez apanhemos o Ryan e depois todos eles. Derrubamo-los como dominós. Se mantivermos a Vice-Presidente viva, podemos forçar Ryan a recuar. E quando o fizer, já não estará protegido pela sua posição. Se tivermos alguma prova contra ele, está arrumado.”

“Ok, Luke. O Swann vai ver o que consegue encontrar.”

“Eu sei que vai encontrar alguma coisa,” Asseverou Luke. “Liga-me logo que encontre.”

“Mais alguma coisa?”

“Sim. Liga ao Ed Newsam e diz-lhe para se aprontar. Ele que nem pense em ficar na cama neste momento.”

“E o que é que tu vais fazer?”

“Eu? Vou salvar a Vice-Presidente – se já não for tarde demais.”

CAPÍTULO 48

08:56 (Hora de Moscovo)

Centro de Controlo e Comando Estratégico – Moscovo, Federação Russa

Yuri Grachev, vinte e nove anos, assistente do Ministro da Defesa, caminhava energicamente pelos corredores do centro de controlo em direção a uma ampla sala de emergência. Os seus passos ecoavam no corredor vazio enquanto refletia sobre a presente situação. O pior cenário possível confirmava-se. Era um desastre iminente.

Por razões que ninguém explicara, nos últimos quarenta e cinco minutos, a mala negra nuclear do Ministro, a sua Cheget, tinha sido algemado ao pulso direito de Yuri. A mala era velha, pesada e obrigava Yuri a inclinar-se para o lado esquerdo enquanto caminhava. Continha códigos e mecanismos para lançar ataques de mísseis contra o Ocidente.

Yuri não queria aquela coisa horrível amarrada a si. Queria ir para casa para junto da mulher e do filho pequeno. Acima de tudo, queria chorar. Sentia o corpo todo a tremer. O seu rosto impassível ameaçava desmoronar-se e quebrar.

Há quatro horas, o governo americano tinha sido derrubado num golpe. Há uma hora, um novo Presidente surgira na rádio e na televisão e declarara guerra ao Irão. Nos círculos do Governo russo, o novo Presidente era amplamente reconhecido como um louco e um veículo para as elites sedentas de guerra que se escondiam nas sombras. A sua possível ascensão ao poder há muito que era considerado o pior cenário possível nas relações entre os dois países.

O golpe e a declaração de guerra tinham despoletado uma série de protocolos há muito adormecidos na Rússia. Os protocolos eram conhecidos por vários nomes, mas a maior parte das pessoas chamava-os de “Mão Morta.”

Mão Morta colocava os sistemas de defesa russos em estado de alerta máximo e dava autorização de tomada de decisão semi-independente a vastas estações de mísseis, aviões e submarinos. Descentralizava o comando.

A ideia era que Mão Morta fornecia às defesas russas a capacidade de contra-atacar após um primeiro ataque surpresa americano eliminar a liderança em Moscovo. Se as comunicações fossem afetadas e sinais sísmicos estranhos ou leituras de radar fossem detetados, então os comandantes regionais e até bunkers isolados podiam decidir por si próprios se um ataque tinha acontecido e se deviam lançar um ataque nuclear retaliatório.

Mas o sistema não funcionava. Estava a deteriorar-se há mais de duas décadas, quase toda a vida de Yuri. Oito dos doze satélites de monitorização originais tinham caído no oceano naquela altura. Nada tinha sido substituído.

As comunicações eram constantemente afetadas por estações remotas. Havia sempre leituras sísmicas anormais – a qualquer momento, pequenos e grandes abalos sísmicos aconteciam por todo o mundo. Pior que tudo, o radar frequentemente não identificava o lançamento de mísseis. Ninguém no topo admitia isto, mas era verdade.

O próprio Yuri estivera ali no centro de controlo há três anos quando os suecos lançaram em órbita um foguetão científico. O sistema precoce de aviso confundiu-o com um míssel lançado de um submarino americano estacionado no Atlântico Norte.

A mala nuclear (felizmente, naquela altura, não amarrada ao pulso de Yuri) soou um alarme. Mandou mensagens de emergência a estações de combate, sim, mas também emitiu um som audível, um berro horrível e estridente.

Os silos de mísseis por toda a Rússia reportaram prontidão para o combate. Se o foguetão fosse um primeiro ataque americano, atingiria solo russo em nove minutos. Seria uma arma de pulso eletromagnético a desativar a capacidade de resposta russa? Seria seguida de um ataque maior?

Ninguém sabia. Todos sustiveram a respiração e esperaram. Passaram-se vários minutos. Aos oito minutos, uma estação de radar reportou que o foguetão tinha abandonado a atmosfera terrestre. Um aplauso hesitante irrompeu. Aos onze minutos, o radar reportou que o foguetão tinha assumido um padrão orbital normal.

Mais ninguém aplaudiu depois disso. Simplesmente, voltaram ao trabalho.

Mão Morta não estava ativa nesse dia. As estações de combate esperaram por ordens do comando central. Mas hoje Mão Morta estava ativa. Um erro, um sistema de comunicações em baixo, um rato a roer fios, poderia colocar decisões nucleares nas mãos de pessoas distantes que estavam bêbedas, ou cansadas, ou aborrecidas ou loucas.

Os americanos tinham feito algo que ninguém esperava. Uma intriga perigosa tinha derrubado o Governo em Washington e o próximo passo era imprevisível. Em resposta, a Rússia ativara procedimentos pouco fiáveis e inseguros que colocavam todo o mundo em risco.

Mão Morta era um dissuasor “fail-deadly”. Era destruição mútua garantida. A dada altura poderia ter sido uma boa ideia, nos tempos gloriosos da União Soviética quando as comunicações e os sistemas de aviso eram robustos e modernos e sujeitos a manutenção.

Mas agora, era uma péssima ideia que transformara em realidade.

CAPÍTULO 49

1:03

Bowie, Maryland – Subúrbio Oriental de Washington, D.C.

Luke estacionou o carro a alguns metros de distância. A casa era ao estilo de “raised ranch”, com uma garagem para dois carros. Na casa, praticamente todas as luzes estavam acesas. Um dos acessos da garagem estava aberto e iluminado. Parecia Natal por ali.

Não havia nada no acesso aberto da garagem – só algumas ferramentas penduradas na parede, um balde do lixo, um par de ancinhos e pás a um canto. Luke pensou que Brenna tinha tirado o seu próprio carro para que Chuck pudesse entrar quando chegasse. Estes tipos não faziam a mínima ideia com quem estavam a lidar.

Luke olhou para o céu. O céu noturno estava encoberto. Com tudo o que estava em jogo, não ficaria surpreendido se a qualquer momento, o ataque de um drone destruísse a casa. Eles fá-lo-iam e depois diriam que tinha sido um relâmpago. Simplesmente, esperariam que Susan Hopkins chegasse antes de o fazerem.

O vencedor ganhava tudo.

O telefone de Luke tocou. Olhou e atendeu a chamada.

“Ed.”

“Estou feliz por estares vivo, Luke.”

“Eu também. Obrigado pelo aviso, salvou-me.”

“A Trudy disse-me para te ligar. Disse-me que a tua família tinha desaparecido, é verdade?”

“É,” Respondeu Luke. “Sim.”

“E não vais fazer nada?”

“É demasiado tarde para isso. A minha única esperança é continuar em frente.”

“Vou-te dizer uma coisa aqui entre nós,” Confidenciou Ed. “Já mantive um homem vivo durante uma semana enquanto o matava. Era um assunto privado, não relacionado com o trabalho. Se alguém magoar a tua família, eu faço-o por ti. Prometo-te.”

Luke engoliu em seco. Podia chegar o dia em que teria que aceitar aquela oferta de Ed.

“Obrigado.”

“O que posso fazer por ti agora?”

“Tenho um amigo,” Principiou Luke. “É um médico iraquiano e trabalha no gabinete do Médico-Legista Principal na Rua E. Chama-se Ashwal Nadoori. Numa ocasião, tive que revelar a minha verdadeira identidade  para o salvar. Está em dívida para comigo. Quando desligarmos, quero que lhe ligues, ok?”

“Certo.”

“Diz que lhe ligo por causa do favor. Ele não tem escolha. Disse que atravessava o deserto de joelhos por mim ou qualquer coisa do género. Lembra-lhe isso. Esta é a única oportunidade que tem de me pagar. Depois vai… consegues andar?”

“Não, nem por isso. Mas consigo coxear.”

“Então coxeia até ao gabinete dele. Quando lá chegares liga-me, mas não uses o telefone que estás a usar agora. Rouba um telefone. Atendo todas as chamadas esta noite. Se vir uma chamada de um número que não conheço, saberei que és tu. Nessa altura, vou ter outro telefone. Fazemos uma chamada entre os dois telefones roubados. Dou a Ashwal as suas instruções nessa altura. Podes ter que o ajudar naquilo que pretendo. Podes ter que lhe torcer o braço um bocadinho.”

“Tudo bem, Luke. Sou bastante bom a torcer braços.”

“Eu sei que sim.”

Luke desligou e saiu do carro. Retirou da mala uma caixa metálica e uma sacola verde. Caminhou no bairro escuro até à porta de entrada da casa. Algo lhe dizia que o bairro não estava propriamente a dormir. Quem conseguia dormir numa noite daquelas? Imaginou dezenas de pessoas à sua volta, acordadas na cama, talvez a falar suavemente com entes queridos, talvez a chorar, talvez a rezar.

Se houvesse um atirador algures, podia abatê-lo agora. Esperou pelo tiro, mas nada aconteceu.

Subiu as escadas e tocou à campainha. Um som musical soou pela casa. Alguns momentos passaram. Luke pousou as malas. Virou-se e contemplou a noite. Casa sobre casa, rua sobre rua, vários blocos que se espraiavam na área de Main Street. Para muitas pessoas, esta era provavelmente a pior noite das suas vidas. Ele incluía-se nesse lote de pessoas.

A porta abriu-se atrás de si. Virou-se e deparou-se com um homem à porta. Era um homem alto, grisalho e um rosto de aspeto rabugento. Parecia o género de homem de sessenta e cinco anos que nunca fumara e que ainda ia cinco vezes por semana ao ginásio. Estava em posição de tiro e nas mãos segurava uma grande pistola que encostou ao rosto de Luke.

“Posso ajudá-lo?” Perguntou o homem.

Luke ergueu as mãos. Sem movimentos bruscos para não ser estupidamente atingido. Falou calma e lentamente. “Walter Brenna, o meu nome é Luke Stone. Faço parte da Special Response Team do FBI. Estou do vosso lado.”

“Como sabe o meu nome?”

“Walter, todos – mesmo todos – sabem o seu nome. Todos sabem quem é e o que está a tentar fazer. Estou aqui para lhe dizer que não vai resultar. Os maus ouviram a sua conversa com o Chuck Berg e estão a caminho neste preciso momento, se é que já não estão aqui. Não vai conseguir detê-los.”

Brenna sorriu. “E você vai?”

“Fui operacional da Força Delta no Afeganistão, Iraque, Iémen e na República Democrática do Congo, entre outros lugares. Ninguém sabe que alguma vez estivemos no Congo, percebe?”

Brenna anuiu. “Percebo. Mas isso não significa que me importe ou que acredite em si.”

Luke fez um gesto com a cabeça. “Vê aquela caixa e aquela mala atrás de mim? Estã cheias de armas. Sei como as usar. Parei de contar as minhas mortes confirmadas quando atingi as cem. Se quer passar desta noite e se quer ver a Vice-Presidente viva depois desta noite, devia deixar-me entrar.”

Brenna estava a armar-se em durão. “E se não deixar?”

Luke encolheu os ombros. “Espero aqui fora. Quando o Chuck aparecer, digo-lhe que a Vice-Presidente vem comigo e se ele discordar, mato-o. Depois levo-a comigo de qualquer das formas. Ela tem que ser mantida viva a todo o custo. O Chuck e você não importam.”

“Para onde a vai levar?”

“A ver alguns amigos. Tenho um médico à espera juntamente com outro operacional Delta, o meu parceiro. Não é para o gabar, mas nas últimas doze horas matou seis homens, três dois quais assassinos do Governo. Quando foi a última vez que matou alguém, Walter?”

Brenna olhou para ele.

“Pensa que vai sobreviver sem matar pessoas? Se é o que pensa, pense novamente.”

A arma vacilou.

“Eu toquei à porta, Walter. Eles não vão fazer isso.”

Brenna baixou a arma. “Entre.”

Luke apanhou os sacos e entrou na casa. Seguiu Brenna ao longo de um estreito corredor. Passaram no meio de uma velha cozinha. Luke assumiu de imediato o comando da situação e Brenna aceitou o comando de Luke.

“Há mulheres aqui?” Perguntou Luke. “Crianças?”

Brenna abanou a cabeça. “Sou divorciado. A minha mulher foi para o México e a minha filha vive na Califórnia.”

“Ótimo.”

Brenna conduziu Luke até uma sala nua sem janelas. Havia uma mesa de madeira no meio. Estava visível equipamento médico – bisturis, tesouras, anti-séptico, curativos, torniquetes. “Esta sala está reforçada com um duplo revestimento de aço. Está numa posição enganadora, vários metros atrás das paredes da casa. Do exterior, não é percetível a sua localização.”

Luke abanou a cabeça. “Não. Eles vão usar infravermelhos, detetores de calor. Tinhamos esse tipo de equipamento no Afeganistão. É possível ver sinais de calor por entre as paredes. Entram de rompante aqui e ficamos encurralados.”

Luke levantou uma mão. “Ouça, Walter. Não vamos ganhar-lhes sendo engraçados. Eles não vão fingir. Não há Estado de direito. Não há negociações. Está demasiado em jogo. Quando nos caírem em cima, vai ser em força. Temos que estar preparados para isso. Eles não vão hesitar em deitar fogo à casa e depois dizem a toda a gente que foi uma conduta de gás que explodiu. Pessoalmente, prefiro morrer num tiroteio de rua.”

Luke pousou as malas em cima da mesa. O homem era obviamente um hobista, um desses autodenominados “preppers” que construíam coisas como aquela sala de pânico e armazenavam comida enlatada para sobreviver à vinda do apocalipse. Não era o tipo de coisa que Luke aprovasse, mas sempre era melhor do que alguém que não estivesse minimamente preparado.

“Que mais tem?” Perguntou Luke. “Qualquer coisa que faça a diferença.”

“Tenho uma espingarda M1 Garand e talvez vinte depósitos carregados com munições .30-06.”

Luke assentiu. “Melhor. E que mais?”

Brenna respirou fundo.

“Vá lá Walter, diga lá, não temos muito tempo.”

“Ok,” Disse Brenna. “Tenho uma GMC Suburban completamente renovada. Está na garagem. Não parece grande coisa mas as portas, o corpo, o interior, a suspensão, o motor, tudo está envolto em chapas de aço, nilon balístico ou Kevlar. Os pneus são runflats modificados – pode andar com eles quase mais cem quilómetros depois de rebentarem. Os vidros são de policabornato e chumbo, de espessura dupla e transparentes. O peso é imenso, mais de 900 Kg do que uma Suburban normal. O motor foi atualizado para um V8 e o para-choque e grelha dianteiros são em aço reforçado – pode atravessar uma parede de tijolos com aquilo.”

Luke sorriu. “Lindo. E não me queria dizer.”

Brenna abanou a cabeça. “Investi cem mil dólares naquele carro.”

“Esta é a melhor altura para lhe dar uso,” Afirmou Luke. “Mostre-me.”

Foram até à garagem. Luke impediu que Brenna entrasse. Ficaram junto à porta da cozinha, conscientes dos ângulos que poderiam ser aproveitados por um atirador. Logo à frente estava a Suburban preta. Brenna tinha razão. Parecia um típico modelo antigo de SUV. Talvez as janelas fossem um pouco mais escuras que o habitual. Talvez brilhasse mais do o normal. Ou talvez fosse tudo fruto da imaginação de Luke.

“Atestada?” Perguntou Luke.

“Claro.”

“Preciso dela.”

Brenna anuiu. “Já estava à espera. Talvez vá consigo.”

“É uma boa ideia. Tem alguns antigos companheiros dos Serviços Secretos ainda capazes e em quem possa confiar?”

“Sim, lembro-me de alguns.”

“Precisamos deles,” Disse Luke. “Que raios, o país ainda lhes paga uma pensão, certo? Mais vale estarem na linha da frente uma última vez.”

Naquela altura, o ronco de uma mota surgiu vindo da rua. Vinha a alta velocidade. Apareceu do nada, fez uma curva apertada na entrada de Brenna e dirigiu-se até à entrada da garagem de Brenna. Derrapou até parar com o pneu dianteiro encostado ao muro. O condutor conseguiu mantê-la direita.

Luke sacou da arma, pensando que seria o início do ataque.

Brenna correu na direção da porta da garagem. Saltou, apanhou um cabo e fechou a porta. Fechou-a, prendendo-a a um gancho forte no chão.

O homem da mota retirou o capacete preto. Uma mulher seguia atrás, segurando-o pela cintura. Luke olhou com mais atenção. Na verdade não o segurava. Os pulsos estavam algemados à volta da cintura do homem. Também estava presa a ele com duas grandes tiras de cabedal. Com uma faca, Brenna começou a soltá-los.

Libertados os pulsos, o braço esquerdo da mulher caiu para o lado. Usou a mão direita para tirar o capacete. O cabelo louro curto caiu-lhe quase até aos ombros. A cara estava suja de fuligem. O maxilar estava tenso. O lado esquerdo do rosto, quase até ao queixo, estava sem pele, vermelho. Os olhos azuis espelhavam exaustão.

Susan Hopkins olhou em torno da garagem. E foi então que viu Luke.

“Stone? O que está a fazer aqui?”

“O mesmo que você,” Disse Luke. “A tentar recuperar o meu país. Está bem?”

“Tenho dores, mas estou bem.”

O homem baixou o descanso e saiu da mota. Era muito alto. O rosto estava cansado, mas a linguagem corporal era dinêmica e os olhos mostravam um elevado grau de atenção.

“Charles Berg?” Perguntou Luke.

O homem assentiu. “Chame-me Chuck,” Disse. “A Vice-Presidente tem sido muito corajosa. Tivemos uma noite difícil, mas ela aguentou-se. É dura.”

“Ela é a Presidente,” Informou Luke, e a verdade daquela afirmação atingiu-o em cheio pela primeira vez. “Não a Vice-Presidente.” Olhou para ela. Era pequena. Não conseguia perceber aquilo. Sempre pensara que as supermodelos eram altas. Também era bela, de uma beleza quase etérea. A queimadura no rosto acentuava esse efeito. Tinha a sensação de que podia ficar a olhar para ela uma eternidade.

Mas ele não dispunha de uma eternidade. Podia nem dispor de cinco minutos.

“A Susan é a Presidente dos Estados Unidos. Vamos todos lembrar-nos disso. Penso que pode ajudar. Agora, temos que sair daqui.”

O telefone de Luke começou a tocar. Olhou para ele, não reconheceu o número. Era Ed.

Yaş sınırı:
16+
Litres'teki yayın tarihi:
10 eylül 2019
Hacim:
300 s. 1 illüstrasyon
ISBN:
9781632916303
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