Kitabı oku: «¿Qué será de ti? / Como vai você?», sayfa 2

Yazı tipi:

Renascença

A casa em que eu vou morar

com meus homens

quase todos

fica em um terreno

plano e raro

na região nordeste

da capital

na esquina exata entre

os meus sonhos

e as tarefas

de dona-de-casa.

É um terreno

quase quadrado

simétrico e alinhado

com as duas ruas

que o ladeiam.

Embaixo dele é aterro.

Sobre ele plantarei meu último suspiro.

A casa é antiga e feia.

depois que me tornei

dona dela,

chamei um engenheiro

que reformou o meu futuro.

Comprei janelas caras.

Refiz os batentes das portas.

Reorganizei o telhado,

mas ele continuou de vidro.

Renacimiento

La casa donde voy a vivir

con mis hombres

casi todos

queda en un terreno

plano y raro

en la región nordeste

de la capital

en la esquina exacta entre

mis sueños

y las tareas

de ama de casa.

Es un terreno

casi cuadrado

simétrico y alineado

con las dos calles

que lo delimitan.

Bajo él, el terraplén.

Sobre él, plantaré mi último suspiro.

La casa es antigua y fea.

Después de volverme

dueña suya,

llamé a un ingeniero

que reformó mi futuro.

Compré ventanas bonitas.

Reconstruí los batientes de las puertas.

Reorganicé el tejado

pero continuó siendo de vidrio.

Ainda não há armários

onde eu possa guardar

minhas roupas quase iguais.

Meus sonhos,

que eram imensos,

haverão de caber dentro

das caixas de sapatos.

Na mudança,

estarei muito preocupada

em trazer meus anéis

e minhas memórias,

mesmo as que estão

quase apagadas,

e os relógios,

por onde meço

meus desapegos.

Nesta casa,

viverei minha infância.

Minha velhice será lenda.

Gosto da nova casa,

onde nem tudo

será novidade,

mesmo quando constato, aliviada,

que lá de dentro

não vejo nada.

Não há vista,

nem há os lados.

Apenas os muros

altos e fechados

e o céu zenital

jamais alcançado.

Todavía no hay armarios

donde guardar

mi ropa casi igual.

Mis sueños,

que eran inmensos,

cabrán dentro

de las cajas de zapatos.

En la mudanza,

me aseguraré

de traer mis anillos

y memorias,

incluso las que están

casi olvidadas,

y los relojes

en que mido

mis desapegos.

En esta casa

viviré mi infancia.

Mi vejez será leyenda.

Me gusta la nueva casa,

donde nada

es novedad,

sobre todo cuando constato, aliviada,

que desde el interior

no veo nada.

No hay vista

ni hay lados.

Apenas los muros

cerrados y altos

y un cielo cenital

inalcanzable.

Cantiga do amor fodido

Não me demoro

deitada em peito algum

nem espalho

em qualquer corpo

minha anca de metro

Faço amor de fingimentos

mas vivo-o a espaços

saltitando entre desgastes

com ardor

de chama ao vento

Trago do seu corpo

a memória deste tato falho

orvalho salgado, rebarbas

O amor é fodido, meu amor,

não se demora na lembrança

e nem se cansa

de parecer esparso.

Como se fosse fácil

amar sem ser gasto

Canción del amor jodido

No me demoro

tendida en ningún pecho

ni entrego

a cualquier cuerpo

mis buenas caderas.

Hago amor de fingimientos

viviendo a espacios

retozando entre desgastes

con ardor

de llama al viento

Traigo de tu cuerpo

la memoria de este tacto fracasado gusto

a rebabas de rocío salado

El amor está jodido, mi amor,

no se entretiene en el recuerdo

y no se cansa

de ser vulgarizado.

Como si fuera fácil

amar sin desgastarse.

Penélope nervosa

entre esquecer e lembrar

tomei vários copos

de água como luz

e teci mais uma noite

de sereno

noites de espera

são lentas

de fio opaco e largo

noites de espera são

vários fios da manhã

mil dias de avó

e milhões de corações

de mãe preocupada

noites de espera

fazem cânceres

Penélope nerviosa

entre olvido y recuerdo

tomé varios vasos

de agua como luz

y tejí una noche más

pacientemente

las noches de espera

son lentas

de hilo opaco y extenso

las noches de espera son

varios hilos de la mañana

mil días de vejez

y millones de corazones

de madre preocupada

las noches de espera

fermentan cánceres

ANA RÜSCHE

A canção do limpa-vidros

eu, um peixe de aquário, gordo,

consumindo o que surge dessas águas turvas.

os passantes lá embaixo como polvos de patins,

uma menina com um buraco-negro a tira-colo e chicletes.

ao lado dos jornais de internet,

meus cactos morrem em sua compulsão por água.

os ursos polares serão extintos pelas geladeiras

na Austrália, baleias se suicidam na areia.

continuo consumindo qualquer coisa que brilhe um pouco,

eu, um peixe a apodrecer gordo nessas águas sujas.

La canción del limpiapeceras

yo, un pez de acuario, gordo,

consumiendo lo que surge de estas aguas turbias.

los transeuntes allá abajo como pulpos en patines,

una niña con un hoyo negro al hombro y chicles.

al lado de los periódicos en línea,

mis cactus mueren en su compulsión sedienta.

los osos polares se extinguen por los refrigeradores

en Australia, ballenas se suicidan en la arena.

continúo consumiendo cualquier cosa que brille un poco,

yo, un pez gordo, pudriéndose en estas aguas sucias.

O grande plugue

À nossa geração nunca nos foi permitido ver o mar

pela primeira vez.

Ele sempre esteve adentro, reluzente, o grande

igual que nós mesmos

Rogamos tanto às noites que se faça novamente o

escuro

mas quando as preces são atendidas

é só uma ilusão dos trouxas, uma ardentia nos

olhos e

o mar esbraveja aqui dentro, monstro comedor

de rocha

Já nascemos umas baleias mórbidas

pobres diabas afogadas neste papel de luz

E é tão mesquinho de pequeno o desejo

A gente só queria ver o maldito mar

por favor,

pela primeira vez.

El gran enchufe

A nuestra generación nunca se nos permitió ver el mar

por primera vez.

Él siempre estuvo adentro, reluciente, tan grande

como nosotros mismos

Rogamos tanto a las noches que se hiciera nuevamente la

oscuridad

mas las plegarias atendidas

son ilusión de tontos, un ardor en los

ojos y

el mar enfurece aquí dentro, monstruo devorador

de piedra

Nacimos ballenas mórbidas

pobres diablas ahogadas en este papel de luz

y es tan mezquino en sus inicios el deseo

Nosotros solo queríamos ver el maldito mar

por favor,

por primera vez.

A ceramista

A partir de Concha e Aurora,

criações de Ângela Barros e Alberto Guzik

agora já são cinco privês

antes era um prédio respeitável

escavo escadas ante a nudez

do elevador, guilhotina pichada

no pó suspenso no ar

catedrais de coisas abandonadas

e lá dentro chafurdo com minhas duas

mãos nas peças de cerâmica

e como parteira tiro do barro

um caco, um vaso, um sonho, um sopro

La ceramista

A partir de Concha e Aurora,

creaciones de Ángela Barros y Alberto Guzik

ahora son ya cinco cabinas eróticas

antes era un edificio respetable

excavo escaleras ante la desnudez

del ascensor, guillotina grafiteada

en el polvo suspendido en el aire

catedrales de cosas abandonadas

y allá adentro refriego mis dos

manos en las piezas de cerámica

y como partera saco del barro

un pedazo, un jarro, un sueño, un soplo

As conhecidas

só me dizem agora de seus outros

: os chefes, os provedores, os bebezinhos

e com soslaios obesos e encontros pouco

calóricos

dizem duns anos bons

que mal me lembro, esqueci de dia

comentam de sobremesa

–ah, ana, só você mesmo.

minha vida é de história em quadrinhos

(embora eu a leve bem a sério)

não sou feliz, sou triste

e tenho um cachorrinho.

Las conocidas

sólo hablan ahora de los otros

: los jefes, los proveedores, sus pequeños bebés

y con notorios soslayos y encuentros bajos

en calorías

hablan de unos años buenos

que mal recuerdo, olvidé esos días

comentan de sobremesa

–ah, ana, sólo tú.

mi vida es un cómic

(aunque yo me la tome muy en serio)

no soy feliz, estoy triste

y tengo un perrito.

Dias com luz. pouca

I

quando se é noite, nos todos os dias do coração,

e os cobertores dançam nas ruas como cabides

de meninos,

uma mão é um ninho, de cachimbo e dureza,

é o que aninha o silêncio da pedra

ainda é o que aninha o que nunca conheço,

palavra

tenho bem medo dessa noite, tranco-me em

algum lugar, é a violência

medo desses dias em que todos os corações já são

escuros

aninho-me no meu cobertor que já não dança,

doente do pé,

é a preguiça, sabe? também tem isso, um cansaço

da aspirina,

uma vida besta de pedra opaca, a que tudo se

volta em volta.

Días con luz. poca

I

cuando se hace noche, en todos nuestros días del corazón

y las mantas danzan en las calles como perchas

de niños,

una mano es un nido, de pipa y dureza,

es lo que anida el silencio de la piedra

aún es lo que anida lo que nunca conozco,

palabra

tengo mucho miedo de esa noche, me encierro

en algún lugar, es la violencia

miedo de esos días en que todos los corazones ya son

oscuros

me enredo en mi cobertor que dejó de danzar,

adolorido del pie,

la pereza ¿sabes? también tiene eso, un cansancio

de aspirina,

una vida ordinaria de piedra opaca, a la que todo

regresa siempre.

ANDREA CATRÓPA

III. No fundo do corredor negro, habilidosa ela exibe suas adagas

o café é atávico. o medo também. contra ela me lanço

entre pedestres e carros –e penso sempre que vou desmaiar.

III. Al fondo del corredor negro, habilidosa, ella exhibe sus dagas

el café es atávico. el miedo también. contra ella me lanzo

entre peatones y autos –y pienso siempre que me voy a desmayar.

Frida

primórdios da vida

sobre rodas

cachucha Khalo

desvia do rumo

não traçado no bonde com destino à tela

nela vértebras

do sofrimento, espadas do amor

em cores

páginas cujas palavras são

abortos em flor

caveiras num baile

diário da suicida que exibe vísceras

a morte ladra

rouba-lhes dores, e o que será dela,

rara señorita,

cicatrizada a sua ferida?

Frida

inicia la vida

sobre ruedas

baila Kalho

desvía el rumbo

sin rumbo del tren destino al lienzo

en ella vértebras

del sufrimiento, espadas de amor

en colores

páginas cuyas palabras son

abortos en flor

calaveras en un baile

diario de suicida que muestra sus vísceras

la muerte ladrona

le roba los dolores, y ¿qué será de ella,

rara señorita,

cuando cicatrice su herida?

Inca

na lotação

babel precária

turistas buscam

nas entranhas de um

país ruínas como fugaz

promessa da eternidade

em dialeto estrangeiro

falam as pedras

empilhadas

da vertigem dos povos

dominados do ultraje

do trabalho escravo

Inca

en el microbús

babel pobre

los turistas buscan

ruinas en las entrañas de un

país como fugaz

promesa de eternidad

en lengua extranjera

las piedras cuentan

apiladas

el vértigo de los pueblos

sometidos al agravio

del trabajo esclavo

Outra morada

o tiritar de ossos nas noites frias

sobrepujava a sinfonia dos vermes

ofereceria meu ombro à donzela falecida

no raiar do século vinte não fosse

esta falta de estofo

esquecida a menina vagava entre

tristes companhias – todo

tipo de louco que salta os muros

para aqui procurar abrigo

esperava a visita dos pais que

rondavam agora a severa lápide dum

cemitério germânico atormentados

pela dor que não se afogou no mar

que cruzaram em transatlântico

antes do dia, sentava-se nos túmulos

sentia inveja das flores frescas

sussurrava coisas obscenas nas orelhinhas

dos anjos e voltava

bem na hora em que eu me agitava esperando

uma outra presença

era recente, eu sabia, mas ela

vinha já há uma semana desgraçado

resmungava e os soluços logo

desmentiam a raiva

em sonhos eu lhe dizia minha

querida só o pranto dos vivos

nos mantém bem mortos

Otra morada

el tiritar de huesos en las noches frías

superaba la sinfonía de los gusanos

ofrecería mi hombro a la muchacha muerta

en el despuntar del siglo veinte si no fuera

por esta falta de predisposición

olvidada, la niña vagaba entre

tristes compañías –todo

tipo de loco que salta los muros

en busca de abrigo

esperaba la visita de los padres que

rondaban ahora la severa lápida de un

cementerio alemán atormentados

por el dolor que no se ahogó en el mar

cruzado en transatlántico

por la madrugada, se sentaba en las tumbas

envidiaba las flores frescas

susurraba obscenidades en las orejitas

de los ángeles y regresaba

justo en el momento en que me agitaba esperando

otra presencia

era tierna, yo lo sabía, pero ella

se manifestaba desde hacía una semana, desgraciado,

refunfuñaba, y los sollozos luego

desmentían su ira

en sueños yo le decía

querida sólo el llanto de los vivos

nos mantiene muertos

Musa

fantasma do texto

boca da palavra

sexo de mulher que fala

serpente que engole a própria cauda

e no branco espalha o gozo

lágrima da tara

Musa

fantasma del texto

boca de la palabra

sexo de mujer que habla

serpiente que se muerde la cola

y en blanco expande el gozo

la mácula de la lágrima

ANITA COSTA MALUFE

Poemas

(1)

os livros o carpete a pilha de livros no chão a estante abarrotada de livros

o espaço sem lugar para respiro

o pó dos livros

eu me fazia lúcida em meio à fumaça de cigarro que se misturava com a poeira

a poluição do centro da cidade ao meio dia

a longa espera

e eu olhava para o teu rosto com uma pergunta insolúvel

que mal sabia formular

os teus olhos perdidos na neblina

(não sei se eram teus olhos que eu buscava

tampouco sei se era você)

teus olhos estavam voltados para dentro em uma acrobacia nunca vista

havia também os óculos e o suor havia os rasgos do teu rosto as rugas alguma ferida

havia alguma ferida mal cicatrizada

essas marcas o pó a brisa acinzentada que tingia os vidros o mofo nas páginas dos livros

tanta coisa preenchia o espaço entre a minha pele e a tua

(e eu nem sabia se eram teus olhos ou algo que estava por trás deles

por trás da acrobacia que teus olhos faziam)

tanta coisa prendia nossa respiração

que eu devia me fazer lúcida e aguardar

um banco a vontade de ir ao banheiro o café morno da garrafa

o cenário de uma vida em que os livros envelhecem antes dos corpos

eu não podia lamentar minha presença nem a dos papéis craft enrolados a coleção de papéis com as pontas amassadas

os arquivos de metal

era preciso ter algo por onde passear os olhos os meus olhos

(não sei se eram os teus que eu buscava

ou se buscava fugir)

passear os olhos no cartaz de uma peça da década de setenta o pôster de uma tourada espanhola o cardápio de um restaurante italiano em um vilarejo medieval

como fugir destes monumentos mínimos de uma vida

qual seria esta espera

teus olhos voltados para trás da cabeça e a minha pergunta reverberando entre as paredes entre o mofo das paredes

a minha pergunta grudada na umidade quente e abafada de um meio dia no centro da cidade

a minha pergunta que não chegava até você que não chegava em teus olhos voltados para dentro que não alcançava a acrobacia dos teus olhos e ficava pregada na fuligem dos ônibus nos ruídos que se misturavam com as palavras com as nossas palavras

nossas vozes que eram só fumaça e confusão algum pequeno fio que nos mantivesse ali que nos prendesse mesmo que momentaneamente entre aquelas estantes abarrotadas de livros caixas papelões objetos de acrílico de madeira jogos que já nem se fabricam mais

(e eu nem sei se era você que estava ali

por trás da minha respiração)

(2)

a imagem no aparador é mera alucinação

um meio nariz mal delineado a quarta parte de um olho

o queixo um pedaço de gola

a sombra de um tronco infantil

seria uma lembrança não fosse o fato

de não me reconhecer nestas unhas que saem de dedos compridos

no modo de cruzar as pernas

curvar o corpo inclinar o pescoço para a esquerda

para a direita

piscar nervosamente a quarta parte de um olho negro

cravado numa pele transparente

seria mera alucinação?

uma das mãos se mantém fechada

enquanto seguro o guarda-chuva e procuro

dentre os pedaços dispersos

o outro braço que alcançaria a maçaneta da porta a meu lado

Poemas

(1)

los libros la moqueta la pila de los libros en el suelo el estante repleto de libros

el espacio sin lugar para respirar

el polvo de los libros

yo me volvía lúcida en medio del humo del cigarrillo que se mezclaba con el polvo

la contaminación del centro de la ciudad al mediodía

la larga espera

y yo te miraba a la cara con una pregunta insoluble

que apenas sabía formular no podía hacer

tus ojos perdidos en la niebla

(no estoy segura si tus ojos eran lo que buscaba

tampoco sé si eras tú)

tus ojos se volvieron hacia el interior en una acrobacia nunca vista

había también las gafas y el sudor había los rasgos de tu frente las arrugas alguna herida

había alguna herida mal cicatrizada

esas marcas el polvo la brisa gris que teñía los cristales el moho en las páginas de los libros

tanto llenaba el espacio entre mi piel y la tuya

(y yo ni siquiera sabía si eran tus ojos o algo que estaba detrás de ellos

detrás de las acrobacias que hacían tus ojos)

tanto nos quitaba la respiración

que yo debía volverme lúcida y esperar

en un banco el deseo de ir al baño el café tibio de la botella

el escenario de una vida en la que los libros envejecen antes que los cuerpos

yo no podía lamentar mi presencia ni la de los papeles de estraza en rollo la colección de papeles arrugados en la punta

los archivos de metal

era necesario tener algo por dónde pasear los ojos mis ojos

(no estoy segura si eran los tuyos lo que yo buscaba

o si trataba de huir)

echar un vistazo a un cartel de una pieza de teatro de los años setenta el cartel de una corrida de toros española o un menú de un restaurante italiano en un pueblo medieval

cómo huir de estos monumentos mínimos de una vida

cuál sería esta espera

tus ojos en la parte posterior de la cabeza y mi pregunta reverberando en las paredes

en el moho de las paredes

mi pregunta atrapada en la humedad de un mediodía caluroso y sofocante en el centro de la ciudad

mi pregunta que no llegaba hasta ti que no llegaba a tus ojos vueltos hacia dentro que no alcanzaba la acrobacia de tus ojos y se clavaba en el hollín de los autobuses en los ruidos que se mezclaban con las palabras con nuestras palabras

nuestras voces eran sólo humo y la confusión algún pequeño hilo que nos mantuviera allí que nos prendiera momentáneamente entre los estantes repletos de cajas de cartón de los libros objetos de acrílico de madera juegos que ya ni siquiera se fabrican

(y yo no sé si eras tú quien estaba allí

detrás de mi respiración)

(2)

la foto en el aparador es mera alucinación

la mitad de una nariz mal delineada la cuarta parte de un ojo

la barbilla-cuello en una sola pieza

la sombra de un cuerpo infantil

sería un recordatorio si no fuera por el hecho

de no reconocerme en estas uñas que salen de estos dedos largos

en la manera de cruzar las piernas

doblar el cuerpo inclinar el cuello hacia la izquierda

hacia la derecha

parpadeando nerviosamente la cuarta parte de un ojo negro

atrapado en una piel transparente

¿es mera alucinación?

una de las manos se mantiene cerrada

mientras sostengo el paraguas y busco

entre las piezas dispersas

el otro brazo para llegar a la manija de la puerta a mi lado

Ücretsiz ön izlemeyi tamamladınız.

Türler ve etiketler

Yaş sınırı:
0+
Hacim:
121 s. 2 illüstrasyon
ISBN:
9788412329360
Telif hakkı:
Bookwire
İndirme biçimi:
Metin
Ortalama puan 0, 0 oylamaya göre
Metin
Ortalama puan 0, 0 oylamaya göre
Metin
Ortalama puan 0, 0 oylamaya göre