Kitabı oku: «Arena Um: Traficantes De Escravos », sayfa 14
VINTE E CINCO
Tirei meus olhos do motorista por muito tempo, erro estúpido.
Ele tira uma arma e a aponta diretamente para mim. Sorri um sorriso perverso. Ele me pegou.
Ele arma o gatilho e está a ponto de disparar. Eu me preparo. Não há para onde fugir. Estou morta.
Por cima do ombro do motorista, um Louco pula de um bueiro, mira um LPG e atira. O míssil voa pelo ar, em nossa direção.
Uma explosão estremece nosso mundo. O barulho é ensurdecedor e eu sou jogada no ar, batendo minha cabeça, sinto uma dor terrível com o impacto do calor. E então meu mundo vira de cabeça para baixo quando o ônibus tomba para um lado e sai escorregando.
Como eu sou a única em pé, a única que não está afivelada nem acorrentada, sou a única que sai voando pelo ônibus. Passo por uma janela aberta, impulsionada pela explosão do ônibus, as ondas me mandam ainda mais longe. Continuo voando pelos ares e caio a vinte metros de distância, de bruços, em um montinho de neve.
Chamas se propagam pelo ar, queimando minhas costas, mas eu rolo na neve e as apago. Sinto as ondas fortíssimas de calor atrás de mim.
O ônibus inteiro está em chamas, tombado, na neve. O fogo deve se elevar uns seis metros de altura. É um inferno. Meu coração afunda quando percebo que ninguém jamais conseguiria sobreviver a isso. Penso em todas essas meninas inocentes e me sinto péssima.
Fico deitada no banco de neve, tentando recuperar meu fôlego, apesar da fumaça. Minha cabeça gira e eu me sinto mais machucadaque nunca. É um esforço ficar sentada. Eu viro e procuro algum sinal do Humvee. Ele está ali, ao longe, na base do edifício Flatiron, de lado, como uma fera morta, dois de seus pneus explodiram.
Logan. Pergunto-me se ele está vivo.
Arrasto-me para ficar em pé e, com a última grama de força que me resta, consigo mancar em direção a ele. Está uns cinquenta metros de distância, parece que estou cruzando um deserto para chegar até lá.
Quando me aproximo, outro bueiro se abre e um Louco, de repente, corre em minha direção, segurando uma faca. Eu pego minha arma, miro e atiro nele na cabeça. Ele cai de costas, morto. Tiro sua faca e coloco em meu cinto.
Eu olho por cima de meu ombro enquanto corro e, várias centenas de metros atrás, vejo um grupo de Loucos vindo em minha direção. Deve haver pelo menos uns cinquenta deles. E, a sua volta, vejo mais bueiros se abrirem, mais Loucos rastejam pelo chão, saindo de estações de metrô, sobem em disparada pelos degraus. Pergunto-me se eles vivem nos túneis dos metrôs. Pergunto-me se algum metrô ainda funciona.
Mas não há tempo para pensar nisso agora. Eu corro até o Humvee e, ao me aproximar, descubro que está destruído, inútil. Eu subo em cima dele e abro a porta do lado do motorista. Eu me preparo para ver seu interior, rezando para que Logan não esteja morto.
Por sorte, não está. Ele ainda está no banco do motorista, de cinto e inconsciente. Há sangue espirrado no para-brisa e ele tem um sangramento em sua testa, mas, pelo menos, ele está respirando. Vivo. Agradeço a Deus por ele estar vivo.
Ouço um barulho distante, viro e vejo os Loucos chegando mais perto. Preciso tirar Logan daqui – e rápido.
Eu o alcanço, agarro sua camiseta e começo a arrastá-lo. Mas ele é mais pesado do que eu posso aguentar.
“LOGAN!” eu grito.
Eu o empurro com mais força, com medo que o Humvee exploda a qualquer minuto. Aos poucos, ele começa a acordar. Ele pisca e olha a sua volta.
“Você está bem?” pergunto.
Ele acena que sim. Parece atordoado, amedrontado, mas não seriamente machucado.
“Eu não consigo sair,” ele responde com uma voz fraca. Ele luta contra o metal retorcido na fivela de seu cinto de segurança.
Eu subo, passo por ele e mexo na fivela. Está presa. Olho por trás de meu ombro e vejo os Loucos ainda mais próximos. Cinquenta metros e chegando mais perto. Eu uso minhas duas mãos e empurro com todas as minhas forças, suando com o esforço. Vamos. Vamos!
De repente, a fivela se abre o cinto chicoteia para trás. Logan, livre, se vira e bate sua cabeça. Ele começa a sair.
Assim que Logan se senta, seus olhos, repentinamente, se arregalam, com uma mão sua, ele me empurra com força para o lado. Levanta uma arma com a outra mão, mira um pouco ao lado de minha cabeça e dispara. O tiro ensurdece meu ouvido, que fica zunindo.
Eu e viro e vejo que matou um Louco, a poucos metros de distância. Os outros estão a uns vinte e cinco metros atrás dele.
Os Loucos se aproximam rápido. Não há como fugir.
VINTE E SEIS
Eu penso rápido. Há um LPG na neve, a poucos metros de distância do corpo do Louco. Parece intacto, nunca disparado. Corro até ele, meu coração disparado. Só espero que funcione, que eu descubra como usá-lo nos próximos segundos.
Ajoelho-me na neve e o pego, minhas mãos estão congelando, eu o seguro contra meu ombro. Encontro o gatilho e miro na multidão, agora, a apenas vinte metros de distância. Fecho meus olhos, rezo para que funcione e disparo.
Ouço um barulho alto sibilante e, um momento depois, sou derrubada de costas. Sua força me faz voar uns três metros para trás, caindo de costas na neve. Há uma explosão.
Olho para cima e fico chocada com o estrago que causei: eu consegui um tiro certeiro na multidão, a curta distância. Onde havia dezenas de corpos um segundo atrás, agora, há apenas partes de corpos espalhados pela neve.
Mas não há tempo para comemorar minha pequena vitória. Ao longe, mais dezanas de Loucos rastejam-se das estações de metro. Eu não tenho mais granadas para atirar, não sei o que fazer,
Atrás de mim, ouço o som de metal amassando e me viro, encontro Logan de pé, no capô do Humvee. Ele levanta sua perna e chuta a metralhadora que lá se encontra. Finalmente, ela acaba saindo. Ele a pega, uma corrente de munição está pendurada nela, a qual ele deixa em volta de seu ombro. A arma é enorme, feita para ser montada em um veículo – e não carregada – e parece que pesa mais de vinte quilos. Ele a segura com as duas mãos e, mesmo sendo grande, posso ver que seu peso o atrapalha. Ele corre a minha frente, mira no novo grupo de Loucos. E atira.
O barulho é ensurdecedor, os disparos da metralhadora se propagam pela neve. O impacto é indescritível: as balas enormes cortam a multidão pela metade. Corpos caem como moscas onde quer que Logan mire. Eventualmente, ele para de atirar. O mundo volta a ser calmo, nevado e silencioso. Nós matamos todos. Por enquanto, pelo menos, não há nenhum Louco a vista.
Eu analiso o cenário de destruição: ali está o ônibus preto destruído por uma granada; o amarelo destruído, de lado, pegando fogo; há corpos por todos os lados e nossa Humvee é uma carcaça ao nosso lado. Parece o cenário de uma intensa batalha militar.
Sigo os rastros do outro ônibus, o que está com Bree. Eles foram para a esquerda na bifurcação do Flatiron.
Escolhi ônibus errado. Não é justo. Simplesmente não é justo.
Examino a cena, recuperando meu fôlego, só consigo pensar em Bree, naqueles rastros. Eles levam a ela. Preciso segui-los.
“Bree está no outro ônibus,” eu falo, apontando para as pistas. “Preciso encontrá-la.”
“Como?” ele pergunta. “A pé?”
Analiso nosso Humvee e vejo que ele está inútil. Não tenho escolha.
“Suponho que sim,” eu respondo.
“O porto fica a pelo menos cinquenta quadras para o Sul,” Logan diz. “É uma longa caminhada – em um território perigoso.”
“Você tem outra ideia?”
Ele dá de ombros.
“Não há mais como retornar,” eu falo. “Pelo menos, não para mim.”
Ele me olha, pensativo.
“Você me acompanha?” pergunto.
Finalmente, ele acena que sim.
“Vamos andando,” ele fala.
*
Nós seguimos os rastros, andando lado a lado. Cada passo é uma sensação do inferno, minha panturrilha, tão inchada, parece ser uma entidade separada do meu corpo. Eu manco, fazendo o meu melhor para acompanhar o ritmo de Logan. Ele carrega o peso da metralhadora e também não anda tão rápido. A neve ainda cai aos montes, o vento açoita nossos rostos. Sinto que a tempestade está piorando.
A cada poucos metros, outro Louco aparece detrás de um edifício e nos ataca. Logan atira quando eles chegam perto, derrubando-os, um a um. Todos caem na neve, manchando-a a de vermelho.
“Logan!” eu grito.
Eu se vira a tempo de ver um pequeno grupo de Loucos nos atacando por trás e atira neles. Eu rezo para que ele tenha munição suficiente para chegarmos onde estamos indo. Minha pistola tem apenas mais uma bala restante; preciso poupá-la para um momento desesperador. Sinto-me tão impotente, gostaria de ter um monte de munição também.
Quando passamos por outro quarteirão, vários Loucos pulam de trás de um prédio e vem nos atacar de uma vez. Logan atira, mas não vê o outro Louco, que vem em nossa direção, pelo outro lado. Ele está chegando rápido demais e Logan não terá tempo.
Eu tiro a faca do meu cinto, miro e a lanço. Ela atinge o Louco na testa e ele cai na neve, aos pés de Logan.
Continuamos descendo a Broadway, ganhando velocidade, movendo o mais rápido que podemos. À medida de avançamos, a multidão de Loucos parece diminuir. Talvez eles tenham visto os danos que causamos e estão mais cautelosos ao se aproximarem. Ou, talvez, estejam apenas esperando, ganhando tempo. Eles devem saber que ficaremos sem munição e, eventualmente, não teremos mais para onde ir.
Passamos a Rua 19, depois a 18, e então a 17… E, de repente, o céu se abre. Union Square. A praça, que já fora imaculada, agora é um parque gigante, descuidado, com árvores e matos na altura da cintura que se sobressaem na neve. Os prédios estão em ruínas, as vidraças das vitrines estão em estilhaços e as fachadas escurecidas pelas chamas. Muitos edifícios desmoronaram e, agora, não são nada mais que escombros na neve.
Olho a minha volta, procurando a Barnes & Noble, que eu costumava amar, ainda está de pé. Lembro-me dos dias em que eu trazia Bree aqui, nós subíamos as escadas rolantes e ficávamos perdidas por horas. Agora, estou horrorizada ao ver que não sobrou nada. É uma construção velha, sua placa enferrujada está caída no chão, meio coberta de neve. Não há um livro sequer restante nas estantes de suas janelas. Na verdade, não dá para saber o que esse lugar fora um dia.
Nós nos apressamos para atravessar a praça, deixando os escombros de lado, à medida que seguimos os rastros do ônibus. Tudo se tornou estranhamento tranquilo. Não gosto desta sensação.
Chegamos ao sul da praça e estou triste em ver que a enorme estátua de George Washington montado em cavalo está derrubada de lado, quebrada em pedaços, coberta de neve. Realmente, não sobrou nada. Qualquer coisa e tudo que era bom na cidade parece ter sido arruinado. É espantoso.
Eu paro, me apoiando no ombro de Logan, tentando recuperar meu fôlego. Minha perna dói tanto que eu preciso repousá-la.
Logan para e fica a ponto de falar alguma coisa – quando ambos ouvimos uma comoção e nos viramos. Do outro lado da praça, dezenas de Loucos, de repente, vão surgindo da entrada do metrô, em direção a nós. Parece que existe uma onda intermitente deles.
Pior ainda, Logan aponta e aperta e o gatilho, mas, desta vez, não ouvimos nada senão um barulho horrivelmente vazio. Seus olhos se arregalam de surpresa e medo. Agora, não temos para onde ir, não temos para onde correr. Este enorme grupo de Loucos, pelo menos umas cem pessoas e ainda vão chegando mais, estão se aproximando. Viro em toda direção, procurando freneticamente por qualquer fonte de escape, veículos, armas. Qualquer abrigo. Mas não encontro nenhum.
Parece que esgotamos toda a nossa sorte.
VINTE E SETE
Eu analiso freneticamente nossos arredores e detecto a fachada de onde um dia foi a Whole Foods. Está abandonada, como todo o resto. Completamente destruída. Mas, ao contrário de outras lojas, suas portas parecem intactas. Eu me pergunto se podemos entrar e trancá-los do lado de fora.
“Por aqui!” grito para Logan, paralisado pela indecisão.
Corremos até a entrada da Whole Foods, os Loucos a apenas vinte e cinco metros atrás de nós. Espero vê-los gritando, mas eles estão sepucralmente silenciosos. Com toda a neve, eles sequer fazem barulho, é algo ainda mais assustador do que se eles estivessem berrando.
Chegamos às portas e tentando abri-las, fico aliviada ao ver que estão abertas. Corro para dentro, Logan logo atrás de mim, então viramos e as fechamos. Logan tira a metralhadora de seu ombro e coloca entre as maçanetas da porta, bloqueando-as. A arma se ajusta perfeitamente. Testo a porta e ela não se abre.
Viramos e corremos para o interior da loja. Está frio aqui, vazio, destruído. Não sobrou comida, apenas pacotes rasgados e vazios por todo o chão. Não há armas, mantimentos, nem esconderijos. Nada. Tudo o que havia aqui fora roubado há muito tempo. Procuro por saídas, mas não encontro nenhuma.
“E agora?” Logan pergunta.
Há um repentino barulho contra as portas metálicas, dezenas de Loucos batendo nelas. Nosso bloqueio não durará muito. Procuro pela loja de novo, frenética por uma ideia. E, então, ao longe, vejo algo: uma escada rolante.
“Ali!” eu grito, apontando
Nós dois corremos pela loja, passamos por uma porta e entramos na escada rolante. Logan olha para mim.
“Para cima ou para baixo?” ele indaga.
É uma boa pergunta. Se formos para baixo, talvez tenha um porão. Talvez tenha algum tipo de suprimento e talvez a gente possa fazer uma barreira lá embaixo. Mas, também, pode ser uma armadilha mortal. E, julgando pela aparência deste lugar, eu duvido que haja algum mantimento. Se formos para cima, talvez tenha algo em um piso superior. Talvez uma saída pelo telhado.
Meu lado claustrofóbico fala mais alto.
“PARA CIMA!” eu digo, apesar da dor em minha perna.
Começamos a subir os degraus de metal. Logan sobe tão rápido que é um sacrifício acompanhá-lo. Ele retorna, põe um braço em volta de mim, me segura filme e me empurra para cima mais rápido do que eu conseguiria sozinha. Cada degrau é uma tortura, parece uma navalha penetrando em minha panturrilha. Eu amaldiçoo o dia em que aquela cobra nasceu.
Vamos subindo andar após andar. Quando cruzamos o quarto piso, preciso parar para recuperar meu fôlego. Minha respiração está ruidosa, seu barulho assusta até a mim: pareço uma mulher de 90 anos. Meu corpo enrijeceu muito nessas últimas 48 horas.
De repente, há um estampido terrível. Nós trocamos olhares e então olhamos para baixo da escada rolante. Sabemos, ao mesmo tempo, que os Loucos invadiram.
“VAMOS!” ele grita.
Ele me agarra e eu sinto uma descarga de adrenalina enquanto corremos duas vezes mais rápido pelos degraus. Nós chegamos ao sexto andar, e então ao sétimo. Sinto o som dos Loucos começando a subir as escadas. Eles sabem exatamente onde estamos.
Temos apenas mais um andar para subir. Eu me forço, tentando respirar, para subir o último lance de escadas. Alcançamos o piso e corremos para a porta de metal que leva ao telhado. Logan bate com seu ombro nela, mas ela não abre. Está trancada. Aparentemente, do lado de fora. Não consigo acreditar.
A multidão de Loucos se aproxima, o som delrs na escada rolante de metal é ensurdecedor. Em momentos, seremos rasgados em pedaços.
“FIQUE PARA TRÁS!” eu grito para Logan, tive uma ideia.
É um bom lugar para eu usar minha última bala. Tiro minha arma, miro e, com a última bala que tenho, atiro na maçaneta. Sei que é arriscado disparar em lugares fechados, mas eu não tenho outra opção neste momento.
A bala rebate o metal e não nos atinge por centímetros, a fechadura se abre.
Corremos pela porta, para a luz do dia. Eu analiso o telhado, me perguntando onde poderíamos ir, se há algum jeito de escapar. Mas não vejo nada. Absolutamente nada.
Logan pega minha mão e corre comigo para o canto mais afastado. Quando chegamos à beira, olho adiante e vejo, abaixo de nós, um grande muro de pedra. Ele se estende até a Universidade Place, passando pela Rua 14 e bloqueado tudo que há ao Sul dela.
“O muro da Rua 14!” Logan grita. “Ele separa o terreno baldio do deserto.”
“Deserto?” eu pergunto.
“Onde a bomba explodiu. Tudo é radioativo – tudo, da Rua 14 em diante. Ninguém vai lá. Nem mesmo os Loucos. É perigoso demais.”
Há um repentino estrondo de metal e a porta do telhado se abre. A multidão começa a aparecer, correndo atrás de nós.
Bem abaixo de nós, vejo um banco de neve, de uns dois metros e meio de altura. A neve é grossa e, se nós cairmos corretamente, talvez, apenas talvez, ele pode amortecer nossa queda. Mas é um pulo alto, de uns quinze metros. E isso nos colocará do outro lado do muro, no deserto.
Mas eu não vejo que outra escolha temos.
“Naquele banco de neve!” eu grito, apontando. “Podemos pular nele!”
Logan olha para baixo e balança a cabeça, parece assustado.
Olho por cima do meu ombro, os Loucos estão a uns trinta metros de distância. “Não temos escolha!” eu berro.
“Tenho medo de altura,” ele finalmente admite, muito pálido.
Eu estendo minha mão e pego a sua, dou um passo na pedra. Ele pausa por um momento, há terror em seus olhos, mas ele me acompanha.
“Feche os olhos!” eu grito. “Confie em mim!”
E então, com os Loucos a poucos metros de nós, pulamos.
VINTE E OITO
À medida que vamos caindo no ar, berrando, eu espero que tenha calculado corretamente. Nós estamos indo em direção ao chão tão rapidamente que, se errarmos, com certeza morreremos.
Um momento depois, estamos imersos em uma nuvem de neve, caímos exatamente no centro do banco de neve. Logan ainda está segurando minha mão. Colidimos com extrema velocidade e afundamos o banco de neve, até o chão, nossos pés até batem no cimento duro. Por sorte, a neve é grossa e absorveu a maior parte do impacto da queda. Quando toco o fundo, parece que eu saltei só de uns poucos metros.
Eu me sento ao fundo. Há neve acumulada acima de minha cabeça, estou em completo estado de choque. A luz do sol atravessa a neve, alguns centímetros acima de mim. Fico sentada, paralisada, com medo de me mover, de subir esse monte de neve, descobrir que quebrei algo. Sinto como se estivesse na praia, enterrada debaixo de uma pilha de areia.
Aos poucos, mexo uma mão, e então um braço, um ombro… Eu gradualmente me forço a sair desse buraco em que estou. É difícil, mas eu consigo chegar à superfície e sair desse monte de neve. Coloco minha cabeça para fora, como um roedor que sai de um buraco na grama. Olho para o lado e vejo Logan fazendo o mesmo.
Eu estico meu pescoço e olho para cima: lá em cima, ainda do telhado, olhando para baixo, está a multidão de Loucos. Eles estão brigando entre eles mesmos e parece que não estão dispostos a pular como nós fizemos. Eu não os culpo. Eu olho para cima, vejo a altura e fico maravilhada que eu tive coragem de correr esse risco. Provavelmente, não faria isso de novo, se eu parar para pensar sobre isso.
Eu me levanto, saindo do banco de neve e Logan também o faz. Estou completamente coberta de neve, esfrego minhas mãos pelo meu corpo, tirando-a. Dou alguns passos, me examinando, vendo se alguma coisa está quebrada. Minha panturrilha ainda está dolorida – mais que nunca – mas, tirando isso, extraordinariamente, eu acho que sobrevivi relativamente intacta, apenas com alguns poucos hematomas e machucados para mostrar.
Logan está andando e fico aliviada ao ver que ele também não quebrou nenhum osso. Tão importante quanto isso, estou aliviada de ver que estamos agora deste lado do muro. O deserto. Pode significar uma morte lenta – mas, pelo menos, estaremos a salvo agora.
Eu olho para a Universidade Place, desolada e abandonada. Não sobrou nada aqui. Diferentemente do terreno baldio, o deserto é quieto. Pacífico. Finalmente, pela primeira vez em algum tempo, deixo minha guarda baixa.
Mas eu sei que não deveria. Se esta parte da cidade é realmente radioativa, então ela é ainda mais perigosa que todas as outras regiões combinadas. Cada Segundo aqui pode nos contaminar. E quem sabe o que – ou o quem – ainda sobreviver por aqui. Eu odiaria encontrá-lo.
“Vamos continuar,” Logan diz, seguindo os rastros do ônibus, que passam diretamente pelo arco na parede e continuam pela Universidade.
Nós andamos em um ritmo rápido pela Universidade, olhando por cima de nossos ombros enquanto caminhamos. Mais do que nunca, eu queria ter uma arma. Logan olha para seu corpo frequentemente, posso dizer que ele pensa a mesma coisa. Nossa única esperança agora é apenas seguir essas trilhas, encontrar Bree e sair daqui o mais rápido possível.
Passamos Rua 10 e então a 9 e depois a 8 e, de repente, o céu se abre a nossa direita. Olho para essa direção e fico surpresa ao ver o local onde ficava o Washington Square Park. Lembro-me de tantas noites aqui, antes da guerra, passar o tempo com os amigos, sentar e assistir os skatistas fazendo suas manobras na praça de cimento. Agora, olho para ele e fico assustada: não sobrou nada. O enorme arco que marcava sua entrada está derrubado, no chão, quebrado e coberto de neve. Ainda pior, onde havia um parque antes, agora não há nada a não ser uma cratera imensa, que se afunda centenas de metros para dentro da terra. Ela se estende até onde a vista pode alcançar. É como se uma nova seção da cidade tivesse sido escavada.
Logan deve ter visto meu assombro ao observar o local.
“É ai onde a bomba explodiu,” ele explica. “A primeira que atingiu a cidade.”
Não consigo acreditar nisso. Parece o Grand Canyon. Eu posso ver o efeito de ondas da bomba, radiando, fachadas de prédios derretidas em todas as direções. Tudo que eu conhecia não existe mais. Agora parece mais a superfície de Marte.
“Vamos,” Logan fala, impacientemente, e eu percebo que essa visão deve perturbá-lo também.
Os rastros do ônibus continuam pela Universidade até o seu final e então viram para a esquerda na Oeste 4. Nós os seguimos, passamos pela Village e viramos à direita, na Bowery. Essa avenida é mais larga, e aqui também está tudo desolado. Não há nenhuma alma à vista.
Eu deveria me sentir mais relaxada, porém, por mais estranho que pareça, me sinto mais aflita que nunca. É muito inquietante, está tudo muito tranquilo. Tudo o que eu ouço é o uivo do vento, a neve açoitando meu rosto. Não consigo deixar de sentir que, a qualquer momento, alguma coisa pode pular em cima de mim.
Mas nada acontece. Pelo contrário, andamos e andamos, quarteirão após quarteirão, sempre indo em direção ao centro. É como se cruzássemos um vasto deserto, sem final em vista. E isso acaba sendo o maior perigo nessa zona. À distância. O frio. Os rastros do ônibus parecem nunca acabar e, a cada passo, minha perna fica pior e eu fico mais fraca.
Aos pouco, o céu da tarde, carregado com nuvens de tempestade, escurece. Quando cruzamos a enorme rua, que era conhecida como Houston, penso quanto mais posso aguentar.
Se Logan estiver certo, se eles estão realmente levando Bree para o South Street Seaport, então ainda temos muito caminho à frente para percorrer. Eu já começo a me sentir tonta, delirante e faminta. Minha perna parece ter cinco vezes seu tamanho normal e, ironicamente, esta caminhada pode ser a etapa mais difícil de todas.
De alguma forma, eu sigo em frente, caminhando pela Bowery. Vamos em silêncio, quase não falando um com o outro. Não há muito a que eu queira dizer a ele. Quero agradecê-lo por salvar minha vida; ele já salvou minha vida três vezes em um único dia e eu estou começando a pensar se é uma dívida que eu consiga pagar. Eu também quero agradecê-lo por desistir de seu barco e vir comigo. Penso no quanto ele deve ter sacrificado por mim e isso me emociona. Quero perguntar por que ele fez tudo isso.
Fico impressionada com suas habilidades de luta. Logan me lembra o que meu pai deve ter sido em batalha – ou, pelo menos, na visão dele. Eu começo a pensar de onde Logan vem. Se ele é daqui Se sua família era daqui. Se sua família está viva em algum lugar. Também quero lhe perguntar o que ele sente por mim. Será que ele gosta de mim? Claro, eu jamais poderia realmente perguntar isso para ele. Mas, mesmo assim, fico imaginando. Ele sente alguma coisa por mim? Por que ele não fugiu quando teve a chance? Por que ele arriscou sua vida para me seguir? Pensando sobre isso, eu me sinto culpada. Eu o coloquei em perigo. Ele poderia estar seguro em outro lugar neste exato momento.
E, acima de tudo, inevitavelmente, quero saber se ele tem namorada. Ou se teve. Eu imediatamente me repreendo, me sentindo desleal a Ben que, após tudo, acabei de deixar. Mas esses dois rapazes – Logan e Ben – são tão diferentes um do outro. Eles são como duas espécies diferentes. Eu reflito sobre os pensamentos que tenho por Ben e percebo que eles ainda existem e ainda são verdadeiros: há algo sobre ele, sua sensibilidade, sua vulnerabilidade, que eu realmente gosto. Quando olho nos grandes olhos sofredores de Ben, há algo com que eu me identifico.
Mas, quando olho para Logan, me sinto atraída por ele em uma maneira completamente diferente. Logan é grande e forte e quieto. É nobre, um homem de ação e pode, claramente, cuidar de si mesmo. É meio misterioso para mim e eu gostaria de conhecê-lo melhor. Mas também gosto disso.
Percebo que há certas coisas que eu gosto em Ben e há certas coisas, coisas diferentes, que gosto em Logan. De algum jeito, meus sentimentos por ambos coexistem, talvez por eles serem tão diferentes, eu não sinto que estejam competindo um com o outro.
Eu me permito me perder nesses pensamentos enquanto caminhamos, diretamente na tempestade. Afasta minha mente de pensar na dor, na fome, no frio.
As ruas ficam estreitas novamente quando passamos por um bairro que era conhecido como Little Italy. Lembro-me de vir aqui com papai, comer um jantar italiano em um dos pequenos restaurantes lotados, cheios de turistas. Agora, nada sobrou. Todas as vitrines foram destruídas. Não há nada a não ser entulho. Um vazio.
Marchamos arduamente e o caminhar fica mais difícil quando a neve chega aos nossos joelhos. Eu conto os passos, rezando para nossa chegada. Nós chegamos a outra rua larga e, no sinal torcido, está escrito: “Delancey”. Olho para minha esquerda esperando ver a Ponte Williamsburg,
Incrivelmente, não existe mais.
A enorme ponte está demolida, obviamente, foi destruída em alguma batalha, sua entrada de metal se retorce em direção ao céu como se fosse alguma escultura de arte moderna. Todo aquele trabalho, aquele design, todas as pessoas envolvidas – tudo destruído e provavelmente de um momento para o outro. Para que? Para nada.
Desvio meu olhos, de desgosto.
Continuamos em direção ao centro, cruzando a Delancey. Após vários quarteirões, chegamos à principal artéria da Rua Canal e eu quase tenho medo de olhar para a Ponte Manhattan. Mas me forço a fazê-lo. Gostaria que não tivesse olhado, porém. Assim como a Williamsburg, essa ponte também está destruída, nada sobrou a não serem estilhaços e metal, torcidos e quebrados, deixando um espaço aberto por cima do rio.
Continuamos seguindo, meus pés e mãos tão congelados que começo a me perguntar se não estou com queimaduras de gelo. Passamos por onde um dia foi Chinatown, com seus altos prédios e ruas estreitas, agora irreconhecíveis. Como qualquer bairro, é só mais uma pilha de entulho abandonado.
A Bowery vira à direita, na Park Row, e estou respirando com dificuldade quando andamos por mais algumas quadras e chegamos a uma enorme intersecção. Eu paro e fico olhando, assombrada.
Do meu lado direito, está a estrutura que era conhecida como o City Hall, agora, está em ruínas, uma mera pilha de escombros. É horrível. Este incrível prédio, uma vez tão grande, agora não passa de uma memória.
Tenho medo de me virar e olhar para a Ponte do Brooklyn atrás de mim – aquele lindo trabalho de arte que eu costumava atravessar com Bree nos dias quentes de verão. Rezo para que ainda esteja lá, que pelo menos algo bonito continue em pé. Fecho meus olhos e me viro lentamente.
Fico horrorizada. Assim como as outras duas pontes, ela está destruída. Nada restou, sequer sua base, deixando um enorme buraco por cima do rio. No seu lugar, onde ela ficava, há uma enorme pilha de metal retorcido saindo do rio.
Ainda mais assustador, caído ali, no meio do rio, sobressaindo em um ângulo torcido, estão os restos de um enorme avião militar, meio submerso, sua cauda apontando para cima. Parece que mergulhou e nunca mais saiu. É chocante ver um avião tão grande caído no rio, como se uma criança tivesse jogado seu brinquedo na banheira e não se dera o trabalho de tirá-lo.
Está mais escuro agora, o sol está quase se pondo e eu não posso ir muito além. Incrivelmente, o vento e a neve continuam melhorando. A neve passa dos meus joelhos e eu sinto como se estivesse sendo engolida viva. Sei que o porto não está tão longe, mas é muito doloroso dar mais um passo.
Estico minha mão e a pouso no ombro de Logan. Ele olha para mim, surpreso.
“Minha perna,” eu falo, com os dentes cerrados. “Eu não consigo andar.”
“Ponha seu braço sobre meu ombro,” ele diz.
Eu o faço e ele se inclina, coloca sua mão sobre minhas costas e me segura com firmeza, me apoiando para me levantar.
Andamos juntos e a dor melhora. Tenho vergonha, me sinto desconfortável: eu não quero nunca depender de um cara. Ou de alguém. Mas, agora, eu realmente preciso.
Viramos à esquerda, andando sobre uma estrutura que antes levava para a ponte e então viramos a direita, onde era a Rua Pearl. Que estranho. Após toda essa jornada, de algum jeito, acabamos no bairro onde cresci. É tão estranho estar aqui de volta. No dia em que parti, eu jurei que jamais voltaria. Jamais. Eu tinha certeza que Manhattam seria destruída e nunca imaginei que eu a veria de novo.
Andar de novo aqui, por essas ruas estreitas e de paralelepípedos, esse velho distrito histórico, uma vez cheio de turistas, com tudo que eu conhecia, é o mais doloroso de tudo. Memórias me inundam, lugares onde, em cada esquina, Bree e eu brincávamos. Sou invadida por lembranças dos tempos em que passava com mamãe e papai aqui. Quando eles ainda eram felizes um com o outro.
Nosso apartamento ficava no distrito das compras, em cima das lojas, em um pequeno prédio antigo. Eu não gostava de todo aquele agito, aquelas noites de sábados que pareciam nunca acabar, quando as pessoas falavam e fumavam debaixo da janela do meu quarto até às cinco da manhã. Agora, eu faria de tudo por aquele barulho, aquela atividade. Eu daria qualquer coisa para poder cruzar a rua e ir a cafeteria e pedir um café da manha. Sinto uma pontada de fome ao pensar nisso.