Kitabı oku: «Arena Um: Traficantes De Escravos », sayfa 5
Eu giro a ignição e acelero a moto, pronta para ir.
Mas ele dá vários passos em minha direção, agitando suas mãos freneticamente.
“Espere!” ele berra. “Não vá! Por favor! Leve-me junto! Eles estão com meu irmão. Eu preciso resgatá-lo. Eu ouvi seu motor e achei que você fosse um deles, por isso bloqueei a rua. Não sabia que você era uma sobrevivente. Por favor! Deixe-me ir com você!”
Por um segundo, sinto pena por ele, mas meus instintos de sobrevivência aparecem e eu não sei o que fazer. Por um lado, tê-lo comigo pode ser útil, afinal, a união faz a força; por outro, eu não o conheço, eu não sei como ele é. Será que ele se renderia em uma luta? Será que ele sabe lutar? E se eu o levá-lo no sidecar, vou gastar mais combustível e vai me deixar mais lenta. Faço uma pausa para refletir sobre o assunto e decido que não.
“Desculpe-me,” eu digo, abaixando meu visor e me preparando para me retirar. “Você só vai me atrasar.” Começo a acelerar a moto, quando ele grita mais uma vez.
“Você está me devendo!”
Eu paro por um segundo, estou confusa com suas palavras. Devendo? O quê?
“Naquele dia, quando você chegou,” ele continua. “Com sua irmã mais nova. Eu deixei um cervo para vocês. Era comida para uma semana. Eu dei para vocês. E nunca pedi nada em troca.”
Suas palavras me golpeiam fortemente. Lembro-me daquele dia como se fosse ontem, e o quanto ele significou para nós. Jamais pensei que encontraria a pessoa que o deixou lá. Ele esteve aqui o tempo todo, tão perto – escondido nas montanhas, assim como nós. Sobrevivendo. Sozinho. Com seu irmão mais novo.
Eu realmente me sinto em dívida com ele. Reconsidero o assunto. Eu não gosto de ficar devendo a ninguém. Talvez, afinal de contas, a união faça a força. E eu sei como ele se sente: seu irmão foi levado, assim como minha irmã. Talvez ele esteja motivado. Talvez, juntos, poderemos causar ainda mais danos.
“Por favor,” ele suplica. “Preciso salvar meu irmão.”
“Suba,” eu falo, apontando para o sidecar.
Ele pula sem hesitar.
“Tem um capacete extra, ai dentro.”
Um segundo depois, ele já está sentado tentando colocar meu velho capacete. Eu não espero nenhum momento a mais. Saio dali o mais rápido que consigo.
A moto está mais pesada que antes, mas parece mais equilibrada. Em pouco tempo, estou de volta aos 100 km/hr, descendo a íngreme estrada da montanha. Desta vez, não irei parar por nada.
*
Desço pelas pistas sinuosas, serpenteando e, ao chegar a uma curva fechada, uma vista panorâmica do vale se abre para mim. Posso ver todas as estradas daqui, e vejo dois carros de comerciantes de escravos ao longe. Estão a menos três quilômetros à frente. Eles já devem ter chegado à Rota 23 para estarem a essa velocidade, o que significa que eles já deixaram as montanhas e estão em uma pista reta. Saber que Bree está na parte de trás de um desses carros me dá agonia. Penso em como ela deve estar apavorada. Pergunto-me se estão maltratando-a, se ela está sentindo dor. A coitadinha deve estar muito perturbada. Espero que ela não tenha visto Sasha morrer.
Eu acelero com uma energia recém-descoberta, ziguezagueando bruscamente, me dou conta de que Ben está agarrado à beira do sidecar, parece aterrorizado, se segurando pela sua vida. Após várias curvas fechadas, saímos da estrada rural e entramos voando na Rota 23. Finalmente estamos em uma autoestrada normal, plana. Agora eu vou com velocidade total.
E eu vou mesmo. Faço a troca de marcha, giro a manopla, acelerando o máximo que dá. Nunca pilotei esta moto – ou qualquer outra coisa – tão rápido assim em minha vida. Eu a vejo passar dos 160, então 180 e, logo, 190 km/hr. Ainda há neve na estrada e ela vem voando em meu rosto, batendo no visor, eu sinto flocos de neve roçando na pele do meu pescoço. Eu sei que deveria ir mais devagar, mas não vou. Eu tenho que pegar esses homens.
210… 230… Eu mal consigo respirar de tão rápido que estamos indo e eu sei que se precisarmos frear por algum motivo, eu não conseguirei. Giraríamos e daríamos tantas voltas e tão rapidamente que não iríamos sobreviver. Mas eu não tenho outra escolha. 240… 260…
“MAIS DEVAGAR!” Ben grita. “NÓS VAMOS MORRER!”
Tenho exatamente a mesma impressão: nós vamos morrer. Realmente, eu estou certa disso. Mas nada mais importa. Todos esses anos sendo cautelosa, escondendo-nos de todos, finalmente me afetaram. Esconder não é minha natureza; eu prefiro confrontar as coisas de frente. Acredito que sou que nem meu pai nesse aspecto: eu prefiro ficar e lutar. Agora, finalmente, após todos esses anos, eu tenho a chance de lutar. E saber que Bree está ali em cima, a nossa frente, tão perto, fez alguma coisa comigo: fiquei louca. Eu simplesmente não consigo mais desacelerar. Consigo ver os carros agora e isso me instiga. Eu definitivamente estou ganhando terreno. Eles estão a menos de um quilômetro e meio e, pela primeira vez, eu realmente sinto que vou pegá-los.
A estrada faz uma curva e então eu os perco de vista. Depois da curva, eles não estão mais na estrada, parecem ter desaparecido. Fico confusa, até olhar em frente e ver o que aconteceu. E isso me faz acionar os freios com toda a força.
Ao longe, uma enorme árvore caiu e se encontra atravessando a rodovia, bloqueando a passagem. Por sorte, ainda dava tempo de frear. Eu vejo os rastros dos comerciantes de escravos, desviando da estrada e contornando a árvore. Ao nos aproximarmos, saindo da pista, seguindo as marcas dos comerciantes de escravos, noto que a árvore foi recém-cortada. E percebo o que aconteceu: alguém acabou de derrubá-la. Um sobrevivente, eu acredito, um de nós. Ele deve ter visto o que aconteceu, viu os comerciantes de escravos e cortou uma árvore para detê-los. Para nos ajudar.
Este gesto me surpreende e aquece meu coração. Eu sempre suspeitei que houvesse uma rede silenciosa de sobreviventes escondidos aqui nas montanhas, protegendo uns aos outros. Agora eu tenho certeza. Ninguém gosta de comerciantes de escravos. E ninguém quer que isso lhe aconteça.
Os rastros dos comerciantes são diferentes e eu os sigo à medida que passam pelo acostamento e fazem uma acentuada curva para voltar à estrada. Logo, estou de volta na Rota 23, e posso vê-los claramente agora, cerca de oitocentos metros à minha frente. Eu ganhei um pouco de distância. Volto a acelerar o mais rápido que a moto pode aguentar, mas eles também estão aumentando a velocidade. Devem ter me visto. Uma velha placa enferrujada diz: “Cairo: 2.” Estamos perto da ponte. Faltam apenas alguns quilômetros.
Aqui é mais urbanizado, enquanto passamos voando, posso ver as construções em ruínas ao longo da estrada. Fábricas abandonadas. Armazéns. Centros comerciais. Até mesmo casas. Tudo está igual: queimado, saqueado, destruído. Há ainda carros abandonados, sobraram apenas as carcaças. É como se nada mais funcionasse no mundo.
No horizonte, eu vejo o destino deles: a ponte Rip Van Winkle. A pequena ponte, com apenas duas faixas de largura, recoberta por vigas de aço, se estende pelo rio Hudson, conectando a pequena cidade de Catskill no oeste com a grande cidade Hudson no leste. Uma ponte pouco conhecida, que era utilizada por habitantes locais e agora é apenas dos comerciantes de escravos. É perfeita para seus objetivos, os leva diretamente à Rota 9 que, por sua vez, os conecta diretamente à Autoestrada Taconic e, após cerca de 150 quilômetros, os leva diretamente ao centro da cidade. É uma artéria.
Mas eu já perdi muito tempo, e não importa o quanto eu acelere, simplesmente não consigo alcançá-los. Eu não conseguirei pegá-los antes da ponte. Estou me aproximando e, se eu aumentar a velocidade o suficiente, talvez consiga alcançá-los antes de cruzar o Hudson.
Há uma antiga cabine de pedágio na base da ponte, que forçava os veículos a ficarem em fila única para passarem por ela. Antes, também havia uma barricada que impedia que os carros passassem, mas esta foi derrubada há muito tempo. Os comerciantes de escravos passam velozmente pela estreita passagem, uma placa pendurada acima deles, enferrujada e capenga, indica: “Sem Parar”.
Eu os sigo e atravesso correndo a ponte, cheia de postes enferrujados que não funcionam há anos, com os metais todos retorcidos e dobrados. Ao ganhar velocidade, noto que um dos veículos, ao longe, freou repentinamente cantando os pneus. Isso me deixa perplexa – não entendo o que eles estão fazendo. De repente, vejo que um dos comerciantes de escravos sai do carro, põe algo na estrada e, então, volta para o carro e vai embora. Isso me dá uma preciosa vantagem. Estou cada vez mais perto de seu veículo, a quatrocentos metros, sinto que vou alcançá-los. Eu ainda não entendi porque eles pararam – ou o que eles colocaram.
De repente, eu entendo – e aciono os freios com tudo.
“O que você está fazendo?” Ben grita. “Por que está parando!?”
Mas eu o ignoro enquanto breco com mais força ainda. Freio muito forte, muito rápido. Nossa moto não consegue pegar tração com a neve e começamos a girar e escorregar, dando voltas e mais voltas em círculos. Por sorte, há grades de metal, e nós batemos com força sobre elas ao invés de cairmos no rio congelante abaixo de nós.
Damos giros voltando para o meio da ponte. Aos pouco, estamos freando, nossa velocidade diminui e eu só espero que possamos parar a tempo. Porque agora eu sei – tarde demais, o que eles deixaram na estrada.
Há uma enorme explosão. Fogo atinge o céu quando a bomba detona.
Uma onda de calor vem em nossa direção, estilhaços voam. A explosão é intensa, há chamas por todos os lados, e uma força nos golpeia como um tornado, nos levando para trás. Posso sentir o calor abrasando minha pele, envolvendo-nos, mesmo com as roupas. Centenas de fragmentos de estilhaços batem em meu capacete, o barulho alto ecoando em minha cabeça.
A bomba fez um estrago tão grande que destruiu a ponte em dois, criando um buraco de nove metros entre os dois lados. É impossível cruzá-la agora. E, o pior de tudo, estamos caindo direto em um buraco que nos fará despencar centenas de metros. Foi uma sorte ter brecado naquele instante, quando a explosão estava ainda a uns quinze metros de nós. Mas nossa moto não para de escorregar, levando-nos até o buraco.
Finalmente, nossa velocidade cai para cinquenta km/hr, então trinta, depois vinte… Mas a moto não irá parar completamente neste gelo, e eu não consigo parar de deslizar em direção ao centro da ponte – agora apenas um enorme abismo.
Eu empurro os freios o mais forte que consigo, tentando de tudo. Mas percebo que nada disso adiantará agora, que continuaremos escorregando descontroladamente para nossas mortes.
E a última coisa que eu penso, antes de cairmos, é que eu espero que Bree tenha uma morte melhor que a minha.
PARTE II
CINCO
Cinco metros… três… dois… A moto vai desacelerando, mas não o suficiente, nós estamos a poucos metros de distância da beira. Eu me preparo para a queda, meio sem entender que é assim que irei morrer.
Então, a coisa mais impossível acontece: eu ouço um estrondo e sou lançada para frente, quando a moto bate em alguma coisa e, assim, para por completo. Um pedaço de metal, arrancado durante a explosão, projetou-se da ponte e se alojou no raio de nossa roda dianteira.
Fico em estado de choque enquanto estou sentada na motocicleta. Aos poucos, olho para baixo e meu coração para quando percebo que estou pendurada no ar, na borda do abismo. Não há absolutamente nada abaixo de mim. Cem metros abaixo, eu posso ver o gelo esbranquiçado do Hudson. Fico confusa por não entender como não estou caindo.
Eu olho para o lado e vejo que a outra parte da minha moto – o sidecar – ainda está na ponte. Ben, que parece ainda mais perplexo do que eu, continua sentado nele. Ele perdeu seu capacete em algum lugar pelo caminho, suas bochechas estão cobertas de fuligem, carbonizadas pela explosão. Ele olha para mim e depois para o abismo, e então de volta para mim, sem acreditar, surpreso que eu ainda esteja viva.
Percebo que é seu peso, no sidecar, que está me equilibrando, me impedindo de cair. Se eu não o tivesse trazido comigo, eu estaria morta agora.
Preciso fazer alguma coisa antes que a moto inteira acabe caindo. Lentamente, delicadamente, eu tiro meu corpo dolorido do assento e subo no sidecar, em cima de Ben. Então subo nele, coloco meus pés no pavimento e, aos poucos, vou puxando a moto.
Ben entende o que eu estou fazendo e sai do sidecar para me ajudar. Juntos, nós afastamos a moto da beira e a deixamos novamente em terra firme.
Ben olha para mim com seus grandes olhos azuis, parece que ele havia acabado de sair de uma guerra.
“Como você sabia que era uma bomba?” ele pergunta.
Dou de ombros. De alguma forma, eu simplesmente sabia.
“Se você não tivesse freado aquela hora, estaríamos mortos,” ele diz, agradecido.
“Se você não estivesse sentado no sidecar. Eu estaria morta,” eu respondo.
Touché. Agora estamos em dívida um com o outro.
Nós dois olhamos para o abismo. Eu desvio o olhar para cima e vejo os carros dos comerciantes de escravos distantes, chegando ao outro lado do rio.
“E agora?” ele pergunta.
Eu olho para todos os lados, frenética, pensando em nossas opções. Eu encaro o rio de novo. Ele está completamente branco, congelado com gelo e neve. Olho para cima e para baixo, por a extensão do rio, procurando por outras pontes, outras maneiras de cruzá-lo. Não vejo nenhuma.
Neste momento, eu percebo o que devo fazer. É arriscado. Realmente, é provável que nos leve à morte. Mas eu tenho que tentar. Eu me prometi. Não vou desistir. Não importa o que aconteça.
Eu pulo de novo na moto. Ben me segue, entrando no sidecar. Coloco meu capacete de volta e aciono o acelerador, indo na direção de onde viemos.
“Onde você está indo?” ele diz em voz alta. “Estamos indo para o lado errado!”
Eu o ignoro, acelerando pela ponte, voltando para o nosso lado do Hudson. Assim que passo a ponte, vou para a esquerda, em direção a Rua Spring, voltando para a cidade de Catskill.
Recordo de ter vindo aqui quando criança, com papai, e a estrada levava direto à beira do rio. Nós costumávamos pescar, parávamos lá mesmo e nem precisávamos sair do caminhão. Lembro-me de ficar surpresa que podíamos dirigir sobre a água. E, agora, um plano se forma em minha mente. Um plano muito, muito arriscado.
Passamos por uma pequena igreja abandonada e por um cemitério a nossa direita, as lápides sobressaindo na neve, típico de um povoado de Nova Inglaterra. Espanta-me que, com o mundo inteiro saqueado e destruído, os cemitérios continuam, aparentemente, intactos. É como se os mortos dominassem a terra.
A estrada chega a uma bifurcação; pego a direita na Rua da Ponte e desço a íngreme colina. Após algumas quadras, chego às ruínas de um grande prédio de mármore, o “Palácio da Justiça do Condado de Greene”, ainda enfeitando seu pórtico; viro à esquerda na Rua Principal e desacelero, por onde uma vez foi a cidade do rio tranquilo de Catskill. Há lojas alinhadas nos dois lados, construções queimadas, prédios derrubados, janelas estilhaçadas e veículos abandonados. Não há nenhuma alma à vista. Eu corro pelo centro da Rua Principal, não há eletricidade e passo por semáforos que não estão mais funcionando. Não que eu fosse parar caso eles estivessem.
Passo pelas ruínas do posto do correio a minha esquerda, e desvio de uma pilha de escombros na rua, ruínas de uma casa que deve ter desmoronado em algum momento. A rua continua descendo, serpenteando e o caminho vai se estreitando. Passo por barcos enferrujados, agora encalhados, suas carcaças destruídas. Atrás deles, estão imensas estruturas corroídas, que um dia foram depósitos de combustíveis redondos, alcançando uns 30 metros de altura.
Viro à esquerda, em direção ao parque junto ao mar, agora coberto de ervas daninhas. Tudo o que sobrou foi uma placa onde se lê “Desembarque do Holandês”. O parque se projeta para dentro do rio e a única coisa que separa a rua da água são algumas pedras com espaços entre elas. Meu objetivo é passar entre um desses espaços, abaixo meu visor e acelero a moto com tudo. É agora ou nunca. Já sinto meu coração disparando.
Ben deve ter entendido o que eu estou fazendo. Ele se senta ereto, agarrando as laterais da moto aterrorizado.
“PARE!” ele berra. “O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?”
Mas não há como parar agora. Ele quem quis vir junto nesta viagem e não há como voltar. Eu até perguntaria se ele quer sair, mas não há tempo a perder; além disso, se eu parar, talvez nunca mais recupere a coragem de fazer o que estou prestes a fazer.
Eu verifico o velocímetro: 90… 100… 125…
“VOCÊ ESTÁ NOS LEVANDO PARA O RIO!” ele grita.
“ESTÁ COBERTO DE GELO!” eu respondo, também gritando.
“O GELO NÃO VAI AGUENTAR!” ele grita de volta.
145… 160… 175…
“NÓS VAMOS DESCOBRIR!” eu respondo.
Ele está certo. O gelo talvez não aguente. Mas não vejo outra saída. Preciso cruzar esse rio e não tenho outra ideia.
190… 210… 225…
O rio está vindo muito rápido em nossa direção.
“DEIXE-ME SAIR!” ele grita, desesperado.
Mas não há mais tempo. Ele devia saber no que estava se metendo.
Eu acelero uma última vez.
E então nosso mundo fica branco.
SEIS
Conduzo a moto pelo estreito espaço entre as pedras e, depois disso, só sei que saímos voando. Por um segundo, estamos no ar, me pergunto se o gelo irá nos sustentar quando colidirmos – ou se irá rachar e cairemos diretamente na água gelada, indo para uma morte certa e brutal.
Um segundo depois, meu corpo inteiro se sacode, como se tivéssemos batido em concreto.
Gelo.
Nós colidimos a 225 km/h, mais rápido do que eu esperava e, ao aterrissar, perco o controle. Os pneus não conseguem tração e a minha condução mais parece um escorregão sob controle; faço o melhor que posso para direcionar o guidão, que balança loucamente. Mas, para minha surpresa e alívio, ao menos o gelo está nos segurando. Continuamos voando pela sólida camada de gelo que é o Rio Hudson, virando para a esquerda e para a direita, mas pelo menos, indo na direção correta. Ao mesmo tempo, peço a Deus para que o gelo nos aguente.
De repente, ouço o horrível som de gelo se quebrando às minhas costas, ainda mais alto que o barulho do motor. Olho por cima de meu ombro e vejo uma enorme rachadura se formando, seguindo o rastro de nossa moto. O rio se abre atrás de nós. O que nos salva é que estamos indo tão rápido que a quebra não irá nos alcançar, está sempre trinta centímetros atrás. Se nosso motor e pneus aguentarem mais alguns segundos, talvez, apenas talvez, nós conseguiremos deixá-la completamente para trás.
“DEPRESSA!” berra Ben, os olhos arregalados de medo enquanto olha por cima de seu ombro.
Vou o mais rápido que consigo, chegando a 240 km/h. Estamos a 30 metros de distância da margem oposta e chegando mais perto.
Vamos, vamos! Eu penso. Só mais alguns metros.
De repente, há uma tremenda colisão e meu corpo é empurrado para frente e para trás. Ben geme de dor. Meu mundo treme e gira, é quando percebo que chegamos ao outro lado. Atravessamos a 240 km/h, nos chocamos com força contra um barranco, chicoteando bruscamente nossas cabeças para trás. Mas, após alguns solavancos, nós conseguimos sair da margem.
Nós conseguimos. Chegamos a terra.
Atrás de nós, o rio agora está completamente dividido, partido em dois, a água invadindo o gelo. Não acho que conseguiríamos fazer isso de novo.
Mas não há tempo para pensar nisso agora. Trato de recuperar o controle da moto novamente e diminuir sua velocidade, já que estamos indo rápido demais para o meu gosto. Porém, a moto está lutando contra mim, seus pneus ainda tentando conseguir tração – e, de repente, passamos por cima de algo incrivelmente duro e desnivelado, o que faz minha mandíbula bater em meus dentes.
Eu olho para baixo: trilhos de trem. Eu havia me esquecido. Ainda há trilhos antigos aqui, ao longo do rio, da época em que os trens ainda funcionavam. Batemos com força neles quando atravessamos o rio e, enquanto passamos por cima, a moto balança tão violentamente que eu quase solto o guidão. Incrivelmente, os pneus ainda estão aguentando e nós cruzamos os trilhos e chegamos a uma estrada que corre paralela ao rio. Eu finalmente consigo desacelerar a moto para 110 km/h. Passamos por uma carcaça enferrujada de um velho e enorme trem, tombado de lado e queimado e eu viro bruscamente à esquerda, em uma estrada com uma antiga placa escrita “Greendale”. É uma estrada rural estreita, com uma íngreme subida, longe do rio.
Perdemos velocidade enquanto subimos o aclive. Eu rezo para que a moto consiga andar pela neve sem escorregar para baixo. Acelero mais ainda quando a velocidade cai. Estamos a 30 km/h quando, finalmente, terminamos de subir a colina. Nivelamos em terreno plano e vou ganhando mais velocidade de novo, voando por essa estreita estrada, que nos leva alternativamente através de bosques, depois fazendas, bosques novamente e então por um quartel de bombeiros antigo e abandonado. E continua, subindo e descendo, serpenteando, levando-nos a casas de campo abandonadas, passando por rebanhos de cervos e bandos de gansos, até uma pequena ponte do condado que atravessa um riacho.
Finalmente ela emerge em outro caminho, a rua da Igreja, bem nomeada, já que passamos pelos destroços de uma enorme igreja Metodista a nossa esquerda e seu cemitério anexo – claro, ainda intacto.
Há apenas um caminho que os comerciantes de escravos podem pegar. Se eles quiserem a Taconic, o que eles provavelmente devem querer, então não há outro jeito a não ser ir pela Rota 9. Eles estão indo de Norte a Sul – e nós, de Oeste a Leste. Meu plano é enfrentá-los. E, agora, finalmente, eu tenho a vantagem. Eu cruzei o rio um quilômetro e meio mais ao sul do que eles. Se eu for rápida o suficiente, eu posso até sair à frente deles. Finalmente estou me sentindo otimista. Eu posso alcançá-los – e eles nunca esperariam por isso. Vou colidir com eles perpendicularmente e talvez eu possa até acabar com eles.
Acelero a moto de novo, chegando a 225 km/h.
“ONDE VOCÊ ESTÁ INDO?” Ben grita.
Ele parece chocado, mas eu não tenho tempo para me explicar: ao longe, eu, repentinamente, avisto o carro deles. Estão exatamente aonde eu achei que estariam. E não estão me vendo. Não veem que estou em linha reta, pronta para bater neles.
Seus carros andam em fila única, com uns vinte metros entre um e outro e eu percebo que não posso pegar os dois juntos. Preciso escolher um deles. Decido mirar no que está à frente: se eu conseguir tirá-lo da estrada, pode ser que o de trás tente brecar, derrape e também se choque. É um plano arriscado: o impacto certamente pode nos matar. Mas não vejo alternativa. Eu não posso pedir a eles que parem. Eu só rezo para que, se eu conseguir, Bree sobreviva.
Eu aumento minha velocidade, me aproximando deles. Estou a noventa metros de distância… 50… 30…
Finalmente, Ben percebe o que estou prestes a fazer.
“O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO!?” ele grita, eu posso ouvir o medo em sua voz. “VOCÊ VAI BATER NELES!”
Ele finalmente entende. É exatamente isso que eu pretendo fazer.
Eu acelero uma última vez, chegando a 240, mal consigo respirar enquanto vamos correndo a toda velocidade na estrada. Segundos depois, vamos voando pela Rota 9 – e batemos diretamente no primeiro veículo. Uma colisão perfeita.
O impacto é tremendo. Eu sinto o impacto de metal com metal, sinto meu corpo sendo empurrado violentamente, e então sou lançada da moto para o ar. Vejo um mundo de estrelas ao voar. Percebo que é isso que se sente ao morrer.