Kitabı oku: «Em Busca de Heróis», sayfa 2
CAPÍTULO DOIS
Thor vagou por horas nas colinas, furioso, até que finalmente ele escolheu uma delas e sentou-se, com os braços cruzados ao redor de suas pernas, observando o horizonte. Ele observava as carruagens desaparecerem à distância e observava a nuvem de poeira que permaneceu atrás delas por horas.
Não haveria não mais visitas. Agora ele estava destinado a permanecer ali naquela aldeia por anos, aguardando outra oportunidade – se acaso, alguma vez, o Exército Prata regressasse e se seu pai lhe permitisse. Agora, seriam apenas ele e o pai, sós na casa, o pai dele certamente descarregaria toda a extensão da sua ira sobre ele. Ele continuaria a ser o lacaio do pai, os anos passariam e Thor acabaria como ele, preso ali, vivendo uma vida insignificante e servil – enquanto seus irmãos conquistavam glória e fama. As veias dele queimavam devido à indignação causada por tudo isso. Essa não era a vida que ele estava destinado a viver. Ele sabia disso muito bem.
Thor pensou desesperadamente em algo que pudesse ser feito, de que maneira ele poderia mudar sua situação. Porém, nada podia ser feito. As cartas da vida já estavam traçadas para ele.
Depois de estar sentado por horas, ele levantou-se desanimado e começou a percorrer seu caminho para o alto das colinas tão familiares, cada vez mais alto. Inevitavelmente, ele se afastou, voltando para o rebanho, para a colina mais alta. Enquanto ele subia, o primeiros raios de sol caíam no céu e logo os segundos atingiam o seu ponto alto, lançando um tom esverdeado. Thor tomou seu tempo enquanto caminhava descuidadamente, retirando seu estilingue de sua cintura, sua laçada de couro bem desgastada por anos de uso. Ele enfiou a mão no saquinho amarrado ao seu quadril e tocou sua coleção de pedras, cada uma mais suave do que a outra, escolhidas a dedo nos mais seletos riachos. Às vezes, ele atirava em pássaros; outras vezes em roedores. Era um hábito que ele tinha assimilado com os anos. A princípio ele errava o alvo sempre; então, uma vez, ele acertou um alvo em movimento. Desde então, sua pontaria era certeira. Agora, arremessar pedras tornara-se uma parte dele – e isso ajudava a descarregar a sua raiva. Seus irmãos poderiam ser capazes de cortar um tronco com a espada – mas eles nunca poderiam abater com uma pedra, um pássaro em pleno voo.
Thor descuidadamente colocou uma pedra na atiradeira, inclinou-se e atirou-a com todas as suas forças, fingindo que ele estava atirando no pai dele. Ela atingiu o galho de uma árvore distante, destroçando-o por completo. Uma vez que ele tinha descoberto que realmente podia matar animais em movimento, ele tinha parado de apontar para eles, com medo do seu próprio poder, já que não desejava causar-lhes nenhum dano; seus alvos agora eram os galhos. A não ser, é claro, quando raposas perseguiam seu rebanho. Ao longo do tempo, elas aprenderam a tomar distância e as ovelhas do Thor, como resultado, eram as mais seguras da aldeia.
Thor pensou em seus irmãos, em por onde eles estariam agora e se enfureceu. Após um dia de viagem eles chegariam à corte do rei. Ele podia apenas imaginar isso. Ele os viu chegando com grande alarde, as pessoas com seus melhores trajes, cumprimentando-os. Os guerreiros saudando-os, os membros do Exército Prata. Eles seriam admitidos, receberiam um lugar para morar no quartel da Legião, um lugar para treinar nos campos do rei usando as melhores armas. Cada um seria nomeado escudeiro de um famoso cavaleiro. Um dia, eles mesmos se tornariam cavaleiros, com seu próprio cavalo, seu próprio brasão de armas e teriam os seu próprios escudeiros. Eles participariam de todos os festivais e jantariam à mesa do rei. Era uma vida encantadora. E tinha escorregado das mãos dele.
Thor se sentia fisicamente doente e tentou tirar tudo isso da sua mente. Mas ele não podia. Havia uma parte dele, uma parte bem no seu íntimo, que gritava para ele. Ela dizia-lhe para não desistir, que ele tinha um destino melhor do que esse. Ele não sabia ainda qual era, Mas ele sabia que seu destino não estava ali. Ele sentia que era diferente. Talvez até mesmo especial. Que ninguém o compreendia. E que todos eles o subestimavam.
Thor alcançou a colina mais alta e viu seu rebanho. Bem treinadas, as ovelhas estavam ainda todas reunidas, remoendo satisfeitas qualquer grama que encontrassem. Ele as contou, olhando para as marcas vermelhas que ele tinha feito em suas costas. Ele congelou quando terminou de contar… Faltava uma ovelha.
Ele contou uma vez trás outra. Ele não podia acreditar: uma se havia ido.
Thor nunca tinha perdido uma ovelha antes e o pai dele nunca iria deixá-lo viver com isso. Pior ainda, Thor odiava a ideia de ter uma de suas ovelhas perdidas, sozinha, vulnerável no ermo. Ele odiava ver uma criatura inocente sofrer.
Thor correu para o topo da colina e perscrutou o horizonte até que ele avistou, lá longe, a várias colinas de distância: a ovelha solitária, com a marca vermelha nas costas. Era a selvagem do grupo. O coração dele se agitou quando ele percebeu que a ovelha, não só tinha fugido como também tinha escolhido entre todos os lugares, ir para oeste, para Darkwood.
Thor engoliu em seco. Darkwood era um lugar proibido – não só para os ovinos, mas também para os seres humanos. Localizava-se além dos limites da aldeia e do tempo de caminhada, Thor sabia que não deveria aventurar-se a ir ali. Ele nunca tinha ido. Ir ali, segundo a lenda, significava uma morte certa em seus bosques impenetráveis e repletos de animais ferozes.
Thor olhou para o céu que ia escurecendo e debatia. Ele não podia abandonar sua ovelha. Ele imaginou que se pudesse mover-se rápido, ele podia recuperá-la a tempo.
Depois de um último olhar para trás, ele deu a volta e começou a correr indo para o oeste, para Darkwood. Espessas nuvens se formavam nos céus acima. Ele se sentia totalmente abatido, mesmo assim suas pernas pareciam carregá-lo por conta própria. Ele sentia que já não havia mais volta, mesmo que ele quisesse.
Era como ir em direção a um pesadelo…
*
Thor se apressou em descer uma série de colinas, sem parar, sob o dossel espesso da vegetação de Darkwood. As trilhas terminavam onde o bosque começava e ele penetrou no território ainda não demarcado, folhas secas estalavam sob seus pés.
No instante em que ele entrou no bosque que ele foi envolvido pelas trevas, a luz estava bloqueada por imponentes pinheiros. Era mais frio ali dentro também e quando ele cruzou o limiar, ele sentiu um calafrio. Não foi apenas devido à escuridão, ou ao frio – foi devido a outra coisa. Uma coisa que ele não poderia nomear. Foi devido a uma sensação de… Estar sendo vigiado.
Thor olhou para cima, para os antigos galhos, retorcidos, mais robustos do que ele, balançando e rangendo com a brisa. Ele mal tinha dado cinquenta passos pelo bosque quando começou a ouvir ruídos estranhos de animais. Ele se virou e quase não podia ver a abertura pela qual ele tinha entrado; ele já tinha a sensação de que talvez não pudesse mais sair dali… Ele hesitou.
Darkwood sempre se situou na periferia da cidade e na periferia da consciência do Thor, como algo profundo e misterioso. Qualquer pastor que tivesse perdido uma ovelha no bosque nunca se aventurara em buscá-la ali. Nem mesmo seu pai. Os contos sobre esse lugar eram muito tenebrosos, muito persistentes.
Mas hoje, havia algo diferente que fez com que Thor já não se importasse com isso, que o fez jogar toda a precaução ao vento. Uma parte dele queria ir além dos limites, ir para tão longe de casa quanto fosse possível e assim permitir que a vida o levasse para onde ela quisesse…
Aventurou-se mais longe e então fez uma pausa, incerto sobre qual rumo tomar. Ele notou as marcas dos galhos dobrados por onde sua ovelha devia ter passado e tomou essa direção. Depois de algum tempo, deu a volta novamente.
Antes que mais uma hora tivesse passado, ele já estava irremediavelmente perdido. Tentou lembrar a direção por onde tinha vindo – mas já não tinha certeza. Uma sensação esquisita apoderou-se de seu estômago, mas ele achou que a única saída era seguir adiante, de modo que seguiu em frente.
À distância, Thor viu um facho de luz solar e o seguiu. Encontrou-se diante de uma pequena clareira, ele parou à beira dela assombrado – ele não podia acreditar no que estava diante de seus olhos.
Parado ali de pé, de costas para Thor, vestido com uma longa túnica de cetim azul, havia um homem. Não, não era apenas homem – Thor podia sentir isso de onde estava. Ele era muito mais do que isso. Um Druida, talvez. Ele permanecia alto e erguido, sua cabeça coberta por um capuz, perfeitamente tranquilo, como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo.
Thor não sabia o que fazer. Ele já tinha ouvido falar dos Druidas, mas nunca tinha encontrado um. Pelas marcas do seu manto e suas elaboradas terminações de ouro, dava para perceber que aquele não era um simples Druida: essas eram as marcas reais. Da corte do rei. Thor não podia compreender. O que fazia um Druida real ali?
Após o que parecia uma eternidade, o Druida, lentamente, virou-se e o encarou e quando ele o fez, Thor reconheceu sua face. Ela tirou-lhe o fôlego. Era um dos rostos mais famosos do Reino: o Druida pessoal do rei. Argon, o conselheiro dos reis do Reino Ocidental há séculos. O que ele estava fazendo ali, longe da corte real, no centro de Darkwood, era um mistério. Thor se perguntou se ele podia imaginar isso.
“Seus olhos não o enganam.” Disse Argon, fitando Thor.
Sua voz era profunda, remota, como se falada pelas próprias árvores. Seus olhos grandes, translúcidos pareciam penetrar Thor, perscrutando-o. Thor sentiu uma intensa energia que provinha do Druida – era como se ele estivesse de pé, de frente para o sol.
Thor, imediatamente, dobrou um joelho e curvou sua cabeça.
“Meu senhor.” Disse. “Perdoe-me se eu o incomodei.”
O desrespeito para com o conselheiro do rei resultaria em prisão ou morte. Esse fato tinha sido inculcado em Thor desde o momento em que ele nasceu.
“Levante-se, filho!” Disse Argon. “Se eu quisesse que você se ajoelhasse, Eu teria lhe dito.”
Lentamente, Thor levantou-se e olhou para ele. Argon se aproximou de Thor. Ele parou e olhou fixamente para Thor, que começou a se sentir incômodo.
Argon disse-lhe: – “Você tem os olhos de sua mãe.”
Thor ficou totalmente surpreendido. Ele nunca conheceu sua mãe e nunca tinha conhecido ninguém, além de seu pai, que a tivesse conhecido. Disseram-lhe que sua mãe havia morrido durante o parto, algo pelo qual Thor sempre tinha um sentimento de culpa. Ele achava que era por isso que sua família o odiava.
“Acho que está me confundindo com outra pessoa.” Disse Thor. “Eu não tenho mãe.”
“Não mesmo?” Argon perguntou com um sorriso. “Então você nasceu de um homem?”
“O que eu quero dizer, senhor, é que minha mãe morreu de parto. Eu acho que há um engano.”
“Você é Thorgrin, do clã McLeod. O caçula de quatro irmãos. O que não foi escolhido.”
Thor arregalou os olhos. Ele mal sabia o que pensar disso. Que alguém tão importante como Argon soubesse quem ele era – estava além de sua compreensão. Ele jamais imaginou que fosse conhecido por alguém de fora da sua aldeia.
“Como… Sabe de tudo isso?”
Argon sorriu novamente, porém não lhe respondeu.
Thor ficou subitamente cheio de curiosidade.
“Como…” Thor acrescentou, buscando as palavras certas “… Como sabe sobre minha mãe? O senhor a conheceu? Como ela era?”
Argon virou-se e afastou-se.
“Deixemos as perguntas para depois.” Disse ele.
Thor via-o afastar-se, perplexo. Era um encontro tão estonteante e misterioso e tudo estava sucedendo tão rápido. Ele decidiu que não podia deixar que Argon fosse embora e apressou-se em ir atrás dele.
“O que está fazendo aqui?” Thor perguntou, apressando o passo para alcançá-lo. Argon, usando seu cajado, uma coisa de marfim antiga, caminhava incrivelmente rápido. “O senhor não estava esperando por mim, estava?”
“Por quem mais?” Perguntou Argon.
Thor apressou-se em alcançá-lo, seguindo-o pelo bosque, deixando atrás a clareira.
“Mas por que eu? Como sabia que eu estaria aqui? O que quer de mim?”
“São perguntas demais.” Disse Argon. “Você satura o ar. Em lugar disso, você deveria ouvir.”
Thor o seguia, quando eles continuaram através do denso bosque, fazendo o melhor que podia para permanecer em silêncio.
“Você veio em busca de sua ovelha perdida.” Argon falou. “Um esforço nobre. Mas você perdeu seu tempo. Ela não sobreviverá.”
Os olhos de Thor se arregalaram.
“Como sabe isso?”
“Eu conheço mundos que você jamais conhecerá garoto. Pelo menos não ainda.”
Thor se perguntava muitas coisas enquanto caminhava para acompanhá-lo.
“No entanto, você não escuta. Essa é sua natureza. Teimoso. Como sua mãe. Você continuará buscando sua ovelha, determinado a regatá-la.”
Thor enrubesceu, já que Argon tinha lido os seus pensamentos.
“Você é um garoto entusiasta.” Ele acrescentou. “Com uma vontade de ferro. Muito valente. Qualidades positivas. Mas um dia elas poderão ser a sua ruína.”
Argon começou a caminhar até uma ladeira musgosa, seguido por Thor.
“Você quer se juntar a Legião do rei.” Disse Argon.
“Sim!” Thor respondeu, animadamente. “Eu tenho alguma chance? O senhor pode fazer com que isso aconteça?”
Argon riu com um som profundo e ecoante que enviou um arrepio pela espinha de Thor.
“Eu posso fazer com que tudo e nada aconteça. Seu destino já estava escrito. Porém depende de você escolhê-lo.”
Thor não compreendia.
Eles chegaram ao topo da ladeira, onde Argon parou e encarou-o. Thor ficou apenas a alguns passos de distância e a energia de Argon queimava através dele.
“Seu destino é um destino importante.” Ele disse. “Não o abandone.”
Thor arregalou os olhos. Seu destino? Importante? Ele sentiu encher-se de orgulho.
“Eu não entendo, o senhor fala por enigmas. Por favor, conte-me mais.”
Argon desapareceu.
Thor ficou de queixo caído. Ele olhava para cada um dos caminhos, ouvindo, perguntando-se. Tinha ele imaginado tudo? Havia sido uma ilusão?
Thor voltou-se e examinou o bosque; desde sua posição vantajosa, de cima da ladeira, ele podia enxergar mais longe que antes. Quando ele olhou, detectou movimento à distância. Ele ouviu um barulho e estava seguro de que era sua ovelha.
Ele caminhava com dificuldade na ladeira musgosa e apressou-se em direção do som, de volta ao bosque. Enquanto ele seguia, não podia interpretar seu encontro com Argon. Mal podia conceber que isso havia acontecido. O que o Druida do rei estava fazendo ali, naquele lugar? Ele tinha esperado por ele. Mas por quê? E o que ele quis dizer sobre o seu destino?
Quanto mais Thor tentava desvendar isso, menos ele entendia. Argon havia lhe avisado para não continuar, ao mesmo tempo em que o incitou a fazer isso. Agora, ao prosseguir Thor tinha um forte pressentimento, era como se algo importante estivesse para acontecer.
Ele virou uma curva e parou em seco na trilha, ao deparar com a vista diante dele. Todos os seus piores pesadelos foram confirmados em um único momento. Estava de cabelo em pé, percebeu que ele tinha cometido um erro grave a entrar tão profundamente em Darkwood.
Em frente dele, a escassos trinta passos de distância, estava um Sybold. Vigoroso, musculoso, de pé sobre as quatro patas, quase do tamanho de um cavalo, era o animal mais temido de Darkwood, talvez até de todo o reino. Thor nunca tinha visto um, Mas tinha ouvido as lendas. Se parecia a um leão, mas era maior, mais largo, sua pele era de uma cor escarlate profundo e seus olhos de um amarelo brilhante. Dizia a lenda que sua cor carmesim provinha do sangue de crianças inocentes.
Thor tinha ouvido falar de alguns avistamentos dessa fera, toda a sua vida e mesmo assim, se pensava que eram duvidosos. Talvez fosse porque ninguém nunca realmente tinha sobrevivido a um encontro. Alguns consideravam Sybold como o deus dos bosques, ou um presságio. Sobre qual era o presságio, Thor não tinha a menor ideia.
Ele deu cuidadosamente um passo atrás.
O Sybold, suas mandíbulas enormes entreabertas, seus caninos gotejando saliva, devolveu o olhar com seus olhos amarelos. Em sua boca estava a ovelha perdida de Thor: balindo, pendurada de cabeça para baixo, a metade de seu corpo atravessada pelos caninos. Já quase morta. O Sybold parecia deleitar-se em matar, tomando seu tempo; parecia ter prazer em torturá-la.
Thor não pôde resistir aos gritos. A ovelha se retorcia indefesa e ele se sentia responsável.
O primeiro impulso de Thor foi dar a volta e correr, porém ele sabia que isso seria inútil. Essa besta poderia ultrapassar qualquer coisa. Correr iria apenas provocá-la. E ele não podia permitir que sua ovelha morresse assim.
Ele ficou congelado de medo e sabia que de algum modo tinha de entrar em ação.
Seus reflexos se apoderaram dele. Ele lentamente se inclinou e da bolsa dele, extraiu uma pedra, colocando-a em sua atiradeira. Com a mão trêmula a enrolou, deu um passo adiante e atirou.
A pedra navegou pelo ar e alcançou seu objetivo. Um tiro perfeito. Atingiu a ovelha em seu globo ocular, indo direto para seu cérebro.
A ovelha se desvaneceu. Morta. Thor tinha poupado o animal de seu sofrimento.
O Sybold olhava enfurecido porque Thor havia matado seu brinquedo. Ele lentamente abriu suas imensas mandíbulas e soltou a ovelha, que caiu com um baque no chão da floresta. Então o Sybold pôs seus olhos em Thor.
Ele rugiu, era um profundo e maligno som que procedia da sua barriga.
Quando se dirigiu para atacá-lo, Thor, com o coração batendo forte, colocou outra pedra em seu estilingue, retrocedeu e se preparou para disparar mais uma vez.
O Sybold irrompeu a correr, movendo-se mais rápido do que qualquer coisa Thor já tinha visto em sua vida. Thor deu um passo à frente e atirou a pedra, rogando para que ela acertasse, sabendo que não teria tempo de atirar outra antes que a fera o alcançasse.
A pedra atingiu o olho direito da fera, estraçalhando-o. Foi um tremendo lançamento, do tipo que deixaria um animal menor abatido.
Mas esse não era nenhum animal menor. A fera era imparável. Urrava pelo dano sofrido, Mas nunca sequer abrandou. Mesmo sem um olho, mesmo com a pedra alojada em seu cérebro, continuou a investir despreocupadamente contra Thor. Não havia nada que Thor pudesse fazer.
Um momento depois, a fera estava sobre ele. Acabou com suas enormes garras golpeando seu ombro.
Thor gritava. Era como se três facas estivessem cortando sua carne ao mesmo tempo, o sangue quente jorrava dela imediatamente.
A besta o derrubou no chão, apoiando suas quatro patas sobre ele. Seu peso era imenso, era como ter um elefante sobre seu peito. Thor sentia que sua caixa torácica se esmagaria.
A besta jogou sua cabeça para trás, abriu bem as mandíbulas enormes, exibindo seus caninos e começou a baixá-los em direção à garganta de Thor.
Quando ela fez isso, Thor estendeu a mão e agarrou seu pescoço; era como agarrar um sólido músculo. Thor mal podia aguentar. Seus braços começaram a tremer quando as presas desceram ainda mais. Ele sentiu o hálito quente da fera em sua cara. Sentiu a saliva gotejando pelo seu pescoço. Um barulho veio de dentro do peito do animal, queimando as orelhas do Thor. Ele sabia que morreria.
Thor fechou os olhos.
Por favor, Deus. Dá-me forças. Permite-me lutar contra esta criatura. Por favor. Eu te imploro. Eu farei qualquer coisa que me pedires. Eu estarei sempre em dívida.
E então algo aconteceu. Thor sentiu um calor tremendo brotar de dentro de seu corpo, correndo em suas veias como um campo de energia fluindo através dele. Ele abriu os olhos e viu algo que o surpreendeu: das palmas de suas mãos emanava uma luz amarela e com elas ele empurrou para trás a garganta da fera, inacreditavelmente, ele foi capaz de igualar sua força e mantê-la à margem. Thor continuou a empurrar até que ele na verdade estava empurrando a fera para trás. Sua força crescia e ele sentiu a energia disparar como uma bala de canhão – instantes mais tarde, a besta saiu voando para trás, Thor, tinha enviado-a a uma distância de uns trinta metros. Ela caiu de costas.
Thor sentou-se, ainda não compreendia o que tinha acontecido…
A besta recuperou-se e ficou de pé. Então, em um acesso de ira, arremeteu novamente – Mas dessa vez, Thor se sentia diferente. A energia fluía através dele; sentiu-se mais poderoso do que ele jamais tinha sido.
Quando a fera saltou no ar, Thor agachou-se, agarrou-a pela barriga e jogou-a pelos ares, deixando seu próprio ímpeto propulsá-la.
A fera voou através do bosque, colidiu com uma árvore e desabou no chão.
Thor olhava, espantado. Ele tinha acabado de arremessar um Sybold?
A fera piscou duas vezes, então olhou para Thor, levantou-se e investiu novamente.
Dessa vez, quando a besta atacou, Thor agarrou-a pela garganta. Ambos caíram no chão, a besta em cima de Thor. Mas Thor rolou e ficou em cima dela. Thor a sujeitou, esganando-a com ambas as mãos; a besta continuou tentando levantar a cabeça e cravar suas presas nele. Mas falhou. Thor, sentindo uma nova força, aferrou suas mãos e não a deixou livrar-se. Ele deixou o curso de energia seguir através dele. E logo, surpreendentemente, ele sentiu-se mais forte do que a fera.
Ele estava estrangulando o Sybold até a morte. Finalmente, a besta se extinguiu.
Thor não a largou antes que passasse mais um minuto.
Ele levantou-se lentamente, sem fôlego, olhando para baixo, olhos arregalados, sustentando seu braço ferido. O que havia acabado de acontecer? Teria ele, Thor, realmente matado um Sybold?
Ele sentiu que era um sinal, desse dia e de todos os dias vindouros. Ele sentiu que algo memorável tinha acontecido. Ele tinha acabado de matar a fera mais famosa e temível de seu Reino. Sozinho. Desarmado. Não parecia verdade. Ninguém iria acreditar nele.
Ele sentiu o mundo girar enquanto se perguntava que classe de poder havia tomado conta dele, o que isso significava; quem ele realmente era… As únicas pessoas conhecidas que possuíam um poder assim eram os Druidas. Mas seu pai e sua mãe não eram Druidas, Então ele não poderia ser um.
Ou poderia?
Sentindo a presença de alguém atrás dele, Thor virou-se e viu Argon ali parado, olhando para o animal. “Como chegou aqui?”Thor perguntou, espantado…
Argon ignorou-o.
“Você presenciou o que aconteceu?” Thor perguntou ainda descrente. “Eu não sei como consegui fazer isso.”
“Mas você sabe.” Argon respondeu. “Bem no fundo, você sabe. Você é diferente dos outros.”
“Foi como… uma onda de energia.” Disse Thor. “Como uma força que eu não sabia que tinha.”
“O campo de energia.” Disse Argon. “Um dia você irá conhecê-lo muito bem. Você até mesmo poderá aprender a controlá-lo.”
Thor apertou o ombro; a dor era insuportável… Ele olhou para baixo e viu sua mão, coberta de sangue. Ele se sentia um pouco tonto, preocupado com o que aconteceria se ele não conseguisse ajuda.
Argon deu três passos para frente, estendeu a mão, agarrou a mão livre de Thor e colocou-a firmemente na ferida. Ele a manteve ali, inclinou-se para trás e fechou os olhos.
Thor sentiu uma cálida sensação percorrer seu braço. Dentro de segundos, o sangue pegajoso da sua mão se secou e ele sentiu que sua dor começava a desaparecer.
Ele olhou para baixo e não compreendia isso: ele estava curado… Tudo o que restava eram três cicatrizes no lugar que havia sido cortado pelas garras – mas elas estavam fechadas e parecia que já tinham muitos dias. Não havia mais sangue.
Thor olhou para Argon com total espanto.
“Como fez isso?” Ele perguntou.
Argon sorriu.
“Eu não fiz. Você fez. Eu apenas guiei o seu poder.”
“Mas eu não tenho o poder de curar.” Thor respondeu perplexo.
“Não tem?” Argon replicou.
“Eu não entendo. Nada disso faz sentido.” Thor disse cada vez mais impaciente… “Por favor, diga-me.”
Argon desviou o olhar.
“Algumas coisas você deverá aprender ao longo do tempo.”
Thor pensou em algo.
“Isso significa que eu posso se unir à Legião do rei?” Ele perguntou, animadamente.
“Certamente, se eu posso matar um Sybold, então eu posso me sair bem junto com os outros meninos.”
“Certamente você pode.” Ele respondeu.
“Mas eles escolheram meus irmãos – eles não me escolheram…”
“Seus irmãos não poderiam ter matado esta fera.”
Thor olhou em volta, pensando.
“Mas eles já me rejeitaram… Como posso me juntar a eles?”
“Desde quando um guerreiro precisa de convite?” Argon perguntou.
Suas palavras mergulharam bem no íntimo de Thor. Thor sentiu seu corpo aquecer-se.
“Você está dizendo que eu deveria simplesmente aparecer? “Sem ser convidado?”
Argon sorriu.
“Você cria o seu destino. Os outros não o fazem.”
Thor piscou – e um momento depois, Argon já se havia ido. Outra vez.
Thor girou ao redor, olhando em todas as direções, mas não havia nenhum vestígio dele.
“Por aqui!” ouviu-se uma voz.
Thor se virou e viu uma enorme rocha diante dele. Ele sentiu que a voz vinha de lá em cima e imediatamente escalou a pedra gigantesca.
Ele subiu até o topo e ficou confuso ao não ver nenhum sinal de Argon.
Porém, desde essa posição vantajosa, ele era capaz de ver por cima das copas das árvores de Darkwood. Ele via onde terminava Darkwood, viu o segundo sol de um verde escuro e mais além, a estrada que levava até a corte do rei.
“Esse é o seu caminho.” Disse a voz. “Se você se atrever.”
Thor virou-se, mas não viu nada. Era só uma voz ecoando. Mas ele sabia que Argon estava, em algum lugar, incitando-o. E sentia, bem no fundo, que ele estava certo.
Sem hesitar por mais um momento, Thor desceu da rocha e tomou o rumo do bosque, em direção à estrada distante.
Ele corria para o seu destino.