Kitabı oku: «Em Busca de Heróis», sayfa 4

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CAPÍTULO QUATRO

Thor se ocultou no meio da palha na traseira de uma carroça, quando ela passou perto dele ao longo da estrada do país. Ele fez o caminho para a estrada na noite anterior e esperou pacientemente até que aparecesse uma carroça grande o suficiente para que ele a abordasse sem ser notado. Estava escuro naquele momento e a carroça marchava lentamente, apenas o suficiente para que ele pudesse correr a um ritmo que lhe permitisse saltar dentro dela pela parte de trás. Ele pousou no feno e meteu-se dentro dele cobrindo-se totalmente. Felizmente, o cocheiro não o tinha visto. Thor não sabia com certeza se a carroça estava indo para a corte do rei, mas estava indo naquela direção e uma carroça desse tamanho com essas marcas, poderia ir a poucos lugares. Enquanto Thor andava durante toda a noite, ele tinha permanecido acordado durante horas, pensava em seu encontro com o Sybold e com Argon; em seu destino; na casa que havia deixado e em sua mãe. Ele sentiu que o universo havia lhe respondido, tinha lhe dito que ele tinha outro destino. Ele jazia ali deitado, mãos atrás da cabeça e fitava o céu noturno, visível através da lona esfarrapada. Ele observava o universo, tão brilhante, suas estrelas vermelhas tão distantes. Ele estava eufórico. Pela primeira vez na sua vida, ele estava em uma viagem. Ele não sabia para onde, mas ele estava viajando. De um jeito ou de outro, ele chegaria à corte do rei.

Quando Thor abriu os olhos já era manhã, a luz natural inundava o dia e ele percebeu que tinha caído no sono. Ele sentou-se rapidamente, olhando ao redor, repreendendo-se por dormir. Ele deveria ter sido mais vigilante, teve muita sorte de não ter sido descoberto.

A carroça ainda se movia, mas já não sacudia tanto. Isso podia significar uma coisa: uma estrada melhor. Eles deviam estar perto de uma cidade. Thor olhou para baixo e viu como a estrada era suave, livre de pedras, de buracos e bordejada com belas e brancas conchas marinhas. Seu coração acelerou; eles estavam se aproximando da corte do rei.

Thor olhou para fora da parte traseira da carroça e estava avassalado. As ruas imaculadas estavam fervilhando de atividade. Dezenas de charretes, de todas as formas e tamanhos e carregando todos os tipos de coisas, enchiam as estradas. Uma estava carregada com peles; outra com tapetes; e ainda outra com galinhas. Entre elas caminhavam centenas de comerciantes, alguns conduziam gado, outros carregavam cestas de mercadorias em suas cabeças. Quatro homens carregavam rolos de sedas, equilibrando-os em seus suportes. Era um exército de pessoas, indo na mesma direção.

Thor se sentia vivo. Ele nunca tinha visto tantas pessoas ao mesmo tempo, tantas mercadorias, tanta coisa acontecendo. Ele tinha estado em uma pequena aldeia sua vida inteira e agora ele estava no centro das atividades, tragado pela humanidade.

Ele ouviu um barulho forte, um ruído produzido por correntes, a batida de um enorme pedaço de madeira, que de tão forte fez a terra tremer. Momentos depois, se ouviu um som diferente, era o dos cascos dos cavalos batendo na madeira. Ele olhou para baixo e percebeu que estavam atravessando uma ponte; abaixo deles havia um fosso. Uma ponte levadiça.

Thor colocou a cabeça para fora e viu os imensos pilares de pedra e o portão de ferro recoberto por espigões. Eles estavam passando pelo Portão do Rei.

Era o maior portão que ele já tinha visto. Ele olhou para os espigões, imaginado que se eles viessem abaixo, poderiam cortá-lo ao meio. Ele detectou quatro dos soldados do Exército Prata guardando a entrada e seu coração acelerou.

Eles passaram por um longo túnel de pedra e então, momentos depois o céu abriu novamente. Eles estavam dentro da corte do rei.

Thor mal podia crer. Havia ainda mais atividade ali, se é que isso era possível – o que parecia ser milhares de pessoas, em todas as direções. Havia grandes extensões de grama, perfeitamente cortada, flores desabrochando em todos os lugares. O caminho se ampliava e ao longo dele barracas, vendedores e edifícios de pedra. E no meio de todos eles, os homens do rei. Soldados, revestidos com suas armaduras. Thor havia conseguido. Em seu entusiasmo, ele se levantou involuntariamente; quando ele fez isso, a carroça freou bruscamente, lançando-o para trás fazendo o cair e desabar de costas na palha. Antes que ele pudesse levantar-se, ouviu o som da madeira arriando, ele olhou para cima para ver um velho zangado, careca, vestido com trapos e bem carrancudo. O cocheiro se aproximou, agarrou Thor pelos tornozelos com suas mãos ossudas e o arrastou para fora.

Thor foi arremessado, caindo pesadamente de costas na estrada poeirenta, levantando uma nuvem de poeira. Ao redor dele todos davam gargalhadas.

“Da próxima vez que você pegar carona na minha carroça garoto, haverá um par de algemas esperando por você! Você tem sorte de que eu não chame o Exército Prata agora!”

O velho virou-se e cuspiu. Então voltou apressado para sua carroça, chicoteando os seus cavalos.

Envergonhado, Thor lentamente recobrou-se do vexame e levantou-se. Olhou ao redor. Um ou dois transeuntes riam e Thor olhou para eles com desprezo fazendo-os desviar o olhar. Ele sacudiu o pó e esfregou os braços; seu orgulho estava ferido, mas seu corpo não.

Ele recobrou o ânimo ao olhar em volta, maravilhado, dando-se conta de que ele deveria estar feliz já que pelo menos tinha chegado muito longe. Agora que ele estava fora da carroça, podia olhar ao redor livremente e a vista era extraordinária: a corte se estendia até onde os olhos podiam ver. Em seu centro, erguia-se um magnífico palácio de pedra, cercado por imponentes muros fortificados; coroados por parapeitos sobre os quais, o exército do rei patrulhava em toda a sua extensão. Em todo o seu redor havia jardins verdejantes, perfeitamente cuidados, praças de pedra, fontes e bosques de árvores. Era uma cidade; e estava abarrotada de pessoas.

Por toda parte fluíam pessoas de todo tipo: comerciantes, soldados, dignitários – todos com pressa. Thor levou vários minutos para entender que algo especial estava acontecendo. Enquanto deambulava por ali, ele viu que faziam preparativos: colocavam cadeiras;levantavam um altar. Parecia que estavam se preparando para um casamento.

Seu coração disparou quando ele viu, à distância, uma pista de torneios, com seu longo e poeirento caminho e sua linha divisória. Em outro campo, ele viu os soldados atirando lanças em alvos distantes; em outro, arqueiros apontando para alvos feitos de palha. Era como se por toda parte houvesse jogos e torneios. Também havia música: alaúdes, flautas e címbalos, bandas de músicos perambulavam; e vinho, barris enormes sendo rolados; e comida, mesas sendo preparadas …Banquetes estendendo-se até onde a vista podia alcançar. Era como se ele tivesse pousado no meio de uma grande celebração.

Por mais maravilhoso que tudo isso fosse, Thor sentia a urgência de encontrar a Legião. Ele já estava atrasado e precisava apresentar-se.

Ele correu na direção da primeira pessoa que viu, um homem de idade, que parecia, por sua túnica manchada de sangue, ser um açougueiro, caminhando apressado rua abaixo. Todo mundo ali estava tão apressado!

“Desculpe-me, senhor.” Disse Thor, pegando- o pelo braço.

O homem olhou para a mão de Thor com desdém.

“O que é isso, rapaz?”

“Eu estou procurando a Legião do Rei. O senhor sabe onde eles treinam?”

“Por acaso eu pareço um mapa?” O homem retrucou asperamente e se foi resmungando.

Thor ficou surpreendido por sua rudeza…

Ele correu para a próxima pessoa a quem viu, uma mulher sovando uma massa em uma longa mesa. Havia várias mulheres à mesa, todas trabalhando arduamente e Thor tentava descobrir qual delas poderia saber.

“Desculpe-me, senhorita.” Disse ele. “Por acaso sabe onde a Legião do Reino costuma treinar?”

Elas se olharam entre si e riram, algumas delas eram apenas uns anos mais velhas do que ele.

A mais velha se virou e olhou para ele.

“Você está procurando no lugar errado.” disse ela. “Aqui, nós estamos fazendo os preparativos para as festividades.”

“Mas me disseram que eles treinam na corte do rei.” Thor disse confundido.

As mulheres desataram a rir novamente. A mais velha colocou suas mãos em seus quadris e sacudiu a cabeça.

“Você atua como se esta fosse sua primeira vez na corte. Por acaso tem uma ideia de quão grande é tudo isso?”

Thor ficou todo vermelho ao ver as mulheres rirem, então se marchou. Ele não gostava que se divertissem às suas custas.

Ele viu a sua frente uma dúzia de caminhos, torcendo e girando cada qual cruzando a corte do rei. Distribuídas entre os muros de pedra, havia pelo menos uma dúzia de entradas. O tamanho e a área deste lugar eram impressionantes. Thor tinha a triste impressão de que poderia passar dias procurando e mesmo assim não encontraria o lugar.

De repente, teve uma ideia: com certeza, um soldado saberia onde os demais treinavam. Ele estava nervoso por abordar um autêntico soldado real, mas percebeu que era isso o que deveria fazer.

Ele virou-se e correu para a muralha, para o soldado de guarda na entrada mais próxima, esperando que ele não o jogasse longe. O soldado erguia-se firme, olhando fixamente para a frente.

“Estou procurando pela Legião do Rei.” Thor disse, expressando a maior valentia possível em sua voz.

O soldado continuou a olhar para a frente, ignorando-o totalmente.

“Eu disse que estou procurando pela Legião do Rei!” Thor insistiu com voz mais alta, determinado a ser reconhecido.

Após alguns segundos, o soldado olhou para baixo, com desdém.

“Pode me dizer onde fica?” Thor insistiu.

“E que tipo de negócio você tem com eles?”

“Um assunto muito importante.” Thor urgiu, esperando que o soldado não o pressionasse.

O soldado novamente passou a olhar fixamente para a frente, ignorando-o mais uma vez. Thor sentiu seu coração afundar-se, com medo de não receber jamais, uma resposta.

Porém, depois do que pareceu ser uma eternidade, o soldado lhe respondeu: “Siga pelo portão ao leste, em seguida, siga pelo Norte tanto quanto você puder. Pegue o terceiro portão à esquerda, depois a bifurcação à direita e mais uma bifurcação à direita. Passe pelo segundo arco de pedra, o campo de treinamento estará logo depois do portão. Mas eu lhe aviso, você perde seu tempo. Eles não recebem visitantes.”

Era tudo o Thor precisava ouvir. Sem perder um segundo, ele se virou e correu pelo campo, seguindo as instruções, repetindo-as em sua cabeça, tentando memorizá-las. Ele notou o sol alto no céu e só rezava para que, quando ele chegasse, não fosse já tarde demais.

*

Thor correu pelos caminhos imaculados, bordejados com conchas marinhas, dando voltas e percorrendo seu caminho através da corte do rei. Ele tentou o melhor possível seguir as direções, esperando não desviar-se do caminho. No outro extremo do pátio, ele viu todos os portões e escolheu o terceiro da esquerda. Passou por ele e em seguida, seguiu pelas bifurcações, percorrendo cada etapa do caminho. Ele correu contra o tráfico, entre milhares de pessoas que abarrotavam a cidade, a multidão crescia a cada minuto. Ele esbarrava nos tocadores de alaúde, malabaristas, bobos da corte e artistas de todo tipo, todos eles vestidos com muita elegância.

Thor não podia suportar a ideia de que a seleção começasse sem ele e tentou o melhor que podia concentrar-se enquanto percorria cada trecho do caminho, à procura de qualquer sinal do campo de treinamento. Ele passou por um arco, virou-se na direção indicada e então, lá longe, avistou o que só poderia ser o seu destino: um mini coliseu, construído com pedras, em um círculo perfeito. Soldados guardavam o portão enorme, localizado no centro. Thor ouviu o ruído da plateia abafado pelas paredes e seu coração acelerou. Esse era o lugar.

Ele correu, seus pulmões explodiam. Quando ele alcançou o portão, dois guardas se adiantaram e baixaram suas lanças, barrando o caminho. Um terceiro guarda deu um passo adiante e fez um gesto com a mão, indicando-lhe que se detivesse.

“Pare aí!” Ele ordenou.

Thor parou em seco, tratando de recuperar o fôlego, mal podia conter sua agitação.

“O senhor… não… entende.” Ele disparou as palavras, saltando entre as respirações. “Eu tenho de entrar. Estou atrasado.”

“Tarde para quê?”

“O alistamento.”

O guarda, um homem pesado, baixo com a pele esburacada, se virou e olhou para os outros, quem lhe devolveram o olhar zombeteiro. Ele se virou e perscrutou Thor com um olhar depreciativo. “Os recrutas ingressaram horas atrás, no transporte real. Se você não foi convidado, você não pode entrar…”

“Mas o senhor não entende. Eu devo…”

O guarda estendeu a mão e agarrou Thor pela camisa.

Você, não entende, você, seu moleque insolente! Como ousa vir aqui e tentar forçar a entrada? Agora vá embora, antes que eu lhe prenda.”

Ele empurrou Thor, que cambaleou para trás vários metros.

Thor sentiu uma pontada no peito, onde a mão do guarda havia tocado, porém, mais do que isso, ele sentia a dor da rejeição. Ele estava indignado. Ele não tinha ido até ali para ser rejeitado por um guarda, sem sequer ser visto. Ele estava determinado a entrar.

O guarda voltou-se para seus homens e Thor lentamente afastou-se, indo no sentido horário em torno do edifício circular. Ele tinha um plano. Ele andou até que estivesse fora da vista, então irrompeu a correr, traçando seu caminho ao longo das paredes. Ele assegurou-se de que os guardas não estivessem observando, então aumentou a velocidade até correr mais velozmente. Quando ele estava do outro lado do edifício ele avistou outra entrada para a arena – no alto havia aberturas em arco na pedra, bloqueadas por barras de ferro. Em uma dessas aberturas estava faltando uma barra. Ele ouviu outro rugido, subiu o parapeito da janela e olhou.

Seu coração se acelerou. Espalhados dentro do enorme campo de treinamento em forma de círculo se encontravam dezenas de recrutas – incluindo seus irmãos. Alinhados, todos eles diante de pelo menos uma dúzia de soldados do Exército Prata. Os homens do rei caminhavam entre eles, contando-os.

Outro grupo de recrutas permanecia separado sob o olhar atento de um soldado, atirando lanças um em alvo distante. Um deles errou.

As veias de Thor ardiam de indignação. Ele poderia ter batido essas marcas; ele era tão bom quanto qualquer um deles. Só porque ele era mais jovem, um pouco menor, não era justo que ele fosse deixado fora.

De repente, Thor sentiu uma mão em suas costas ao mesmo tempo em que foi puxado para trás e jogado pelos ares. Ele aterrissou com força no chão, sem fôlego.

Ele olhou para cima e viu o guarda do portão, zombando dele.

“O que foi que eu disse, rapaz?”

Antes que ele pudesse reagir, o guarda se inclinou para trás e o chutou com força.

Thor sentiu um golpe forte em suas costelas, enquanto o guarda começou a chutá-lo novamente.

Desta vez, Thor conseguiu agarrar o pé do guarda ainda no ar; ele puxou-o, deixando-o sem equilíbrio e fazendo-o cair.

Thor e o guarda se levantaram ao mesmo tempo. Thor olhou para ele chocado com o que havia acabado de fazer. A sua frente, o guarda o olhava furiosamente.

“Eu não vou apenas prendê-lo.” O guarda disse com voz ríspida. “Mas vou fazer com que você pague caro por isso. Ninguém toca um guarda do rei! Esqueça a Legião – Agora você vai é chafurdar na masmorra! Você vai ter sorte se algum dia for visto novamente!”

O guarda puxou uma corrente com um grilhão em sua extremidade. Ele se aproximou de Thor, a vingança se refletia em seu rosto.

A mente de Thor voava. Ele não podia permitir que o prendessem – ainda assim, ele não queria ferir um membro da guarda do rei. Ele tinha de pensar em alguma coisa, e rápido.

Ele se lembrou de seu estilingue. Os reflexos se apoderaram dele quando o agarrou, o carregou com uma pedra, fez pontaria e atirou.

A pedra cruzou o ar e atingiu os grilhões que o guarda atordoado havia estado agarrando; a pedra também tinha atingido os dedos do guarda. O guarda se afastou e apertou sua mão, gritando de dor quando as correntes caíram no chão com seu barulho característico.

O guarda, dando a Thor um olhar mortal, desembainhou a espada. Ela saiu com um som diferenciado, metálico.

“Esse foi o seu último erro.” ele ameaçou sombriamente e investiu contra Thor.

Thor não tinha escolha; esse homem simplesmente não iria deixá-lo viver. Ele colocou mais uma pedra em sua funda e atirou nele. Apontou deliberadamente, ele não queria matar o guarda, mas tinha de pará-lo. Então, em vez de apontar para o seu coração, nariz, olhos ou cabeça, Thor apontado para o lugar que sabia que iria detê-lo, mas não matá-lo.

Apontou entre as pernas do guarda.

Ele deixou a pedra voar, não com força total, mas apenas o suficiente para colocar o homem no chão.

Foi um lançamento perfeito.

O guarda tombou, deixando cair sua espada, agarrando sua virilha enquanto caía no chão e se enrolava como uma bola.

“Você será enforcado por isso!” Ele gemeu em meio a grunhidos de dor. “Guardas! Guardas!”

Thor olhou para cima e ao longe viu vários dos guardas do rei que corriam em sua direção.

Era agora ou nunca. Sem perder um instante, ele correu para o parapeito da janela.

Ele teria de saltar através dele, para a arena e tornar-se conhecido. E ele iria lutar contra qualquer um que se interpusesse em seu caminho.

CAPÍTULO CINCO

MacGil sentou-se na sala superior de seu castelo, sua sala de reunião íntima, a qual ele usava para assuntos pessoais. Ele sentou-se no seu trono íntimo, esculpido em madeira e olhou para quatro de seus filhos em pé diante dele. Ali estava seu filho mais velho, Kendrick, com vinte e cinco anos um belo guerreiro e um verdadeiro cavalheiro. Ele, de todos os seus filhos, era o que mais se assemelhava MacGil, o que era irônico, já que ele era um filho bastardo, fruto do único envolvimento de MacGil com outra mulher. Uma mulher que ele há muito tempo já tinha esquecido. MacGil tinha criado Kendrick como seu filho legítimo, apesar dos protestos iniciais da rainha, com a condição de que ele nunca ocupasse o trono. Isso causava sofrimento a MacGil agora, visto que Kendrick era o melhor homem que ele havia conhecido; um filho que estava orgulhoso de ter procriado. Depois dele, jamais haveria um herdeiro mais apropriado para o reino.

Ao lado dele, em nítido contraste, estava o segundo filho, ainda seu legítimo primogênito, Gareth, vinte e três anos, magro, com rosto encovado e grandes olhos castanhos que nunca estavam quietos. Seu caráter não poderia ser mais diferente do caráter do seu irmão mais velho. A natureza de Gareth era tudo o que a de Kendrick não era: enquanto seu irmão era franco, Gareth escondia seus verdadeiros pensamentos; enquanto seu irmão era orgulhoso e nobre, Gareth era desonesto e enganoso. MacGil sofria por não poder gostar de seu próprio filho e já havia tentado várias vezes corrigir sua natureza; mas depois de algum tempo, durante a fase da adolescência do rapaz, ele tinha compreendido que sua natureza já estava predestinada: ele sempre seria dado a intrigas, sedento de poder e ambicioso em todos os sentidos negativos da palavra. MacGil sabia também que Gareth não sentia atração por mulheres e tinha muitos amantes do sexo masculino. Outros reis teriam deserdado um filho assim, mas MacGil era de mente mais aberta e para ele, essa não era uma razão para não amá-lo. Ele não o julgava por isso. Ele o julgava mesmo era por sua maldade, sua natureza intrigante, algo que não se podia ignorar.

Alinhada ao lado de Gareth estava a segunda filha de MacGil, Gwendolyn. Ela tinha acabado de chegar ao décimo sexto ano e era a jovem mais bonita que alguém jamais poderia ver em sua vida; sua bela natureza ofuscava até mesmo sua aparência. Ela era gentil, generosa e honesta, a melhor jovem que ele já tinha conhecido. Nesse sentido, ela era semelhante a Kendrick. Ela sempre olhava para MacGil com o olhar amoroso de uma filha por seu pai, e ele sempre sentia sua lealdade em cada olhar. Ele estava ainda mais orgulho dela do que de seus filhos.

De pé ao lado de Gwendolyn estava Reece o filho mais novo de MacGil, um jovem rapaz orgulhoso e animado, que aos quatorze anos, estava se tornando um homem. MacGil tinha assistido com grande prazer sua iniciação na Legião e já podia ver o homem que ele viria a ser. Um dia, MacGil não tinha dúvida, Reece seria seu filho mais estimado e um grande governante. Mas aquele dia não havia chegado ainda. Ele era muito jovem e ainda tinha muito que aprender.

MacGil tinha sentimentos mistos enquanto escrutava estes quatro jovens; seus três filhos e a filha, de pé diante dele. Ele sentia orgulho misturado com decepção. Ele também sentia raiva e aborrecimento por causa de dois de seus filhos ausentes. A mais velha, sua filha Luanda, claro estava se preparando para seu próprio casamento e já que ela estaria casada com outro reino, ela não tinha parte nesta discussão de herdeiros. Mas seu outro filho Godfrey, o do meio, com seus dezoito anos, não estava presente. MacGil enrubesceu de desprezo.

Desde que ele era um menino, Godfrey tinha mostrado enorme desrespeito para com a realeza; sempre deixando claro que ele não se importava com nada e que nunca iria governar. Para grande decepção de MacGil.

Godfrey, no entanto, havia escolhido desperdiçar seus dias em tabernas em companhia de amigos meliantes, causando cada vez mais vergonha e desonra a família real. Ele era um preguiçoso, dormia durante a maior parte dos dias e preenchia os demais com a bebida. Por um lado, MacGil estava contente de que ele não estivesse ali; por outro, sua ausência era um insulto que ele não podia sofrer. De fato, ele já esperava por isso e tinha enviado seus homens para vasculhar todas as tabernas e trazê-lo de volta. MacGil permanecia sentado, esperando até que eles chegassem.

A pesada porta de carvalho finalmente abriu-se e por ela entraram os guardas reais arrastando Godfrey entre eles. Deram-lhe um empurrão e quando Godfrey entrou cambaleante na sala, a porta atrás dele bateu.

Seus irmãos e irmã se viraram e o olharam. Godfrey estava desleixado, cheirando a cerveja, com a barba por fazer, mal vestido. Ele sorriu de volta. Insolente. Como sempre.

“Olá, Pai.” Godfrey disse. “Acaso perdi a diversão?”

“Você vai ficar ao lado de seus irmãos e esperar permissão para dirigir-se a mim. Do contrário, que Deus me ajude, vou acorrentá-lo nas masmorras com o resto dos prisioneiros comuns, e você não vai ver a comida – muito menos bebida – por três dias inteiros.”

Desafiante, Godfrey olhou de volta para seu pai. Naquele olhar, MacGil detectara alguma profunda reserva de forças, algo de si mesmo, uma centelha de algo que poderia um dia servir a Godfrey muito bem. Isto é, se ele pudesse superar sua própria personalidade.

Rebelde até o fim, Godfrey esperou uns bons dez segundos antes de finalmente obedecer e a passos lentos juntar-se aos seus irmãos.

MacGil escrutava esses cinco filhos de pé diante dele: o bastardo, o pervertido, o beberrão, sua filha e seu filho caçula. Era uma mistura estranha e ele mal podia acreditar que tinham brotado dele. E agora, no dia do casamento de sua filha mais velha, a tarefa de escolher um herdeiro dentre esse grupo, tinha recaído sobre ele. Como isso era possível?

Era um exercício de futilidade; depois de tudo, ele estava em seu apogeu e podia governar por mais trinta anos. Qualquer herdeiro que ele escolhesse hoje não poderia subir ao trono em décadas. A tradição inteira o irritava. Isso poderia ter sido relevante nos tempos de seus pais, Mas não tinha nenhum lugar agora.

Ele limpou a garganta.

“Estamos hoje aqui reunidos pelo legado da tradição. Como vocês sabem, no dia de hoje, o dia do casamento de meu primogênito, eu estou incumbido da tarefa de nomear um sucessor. Um herdeiro deste reino. Caso eu morresse, não haveria ninguém mais indicado para governar do que a sua mãe. Mas as leis do nosso Reino ditam que apenas a prole de um rei pode sucedê-lo. Portanto, eu devo escolher.”

MacGil recuperou seu fôlego, pensando. Um pesado silêncio pairava no ar e ele podia sentir o peso da antecipação. Ele olhava os filhos nos olhos e via expressões diferentes em cada um. O bastardo parecia resignado, sabendo que não seria escolhido. Os olhos do depravado estavam brilhando de ambição, como se esperasse que a escolha recaísse naturalmente sobre ele. O beberrão olhava pela janela; ele não se importava. Sua filha o olhava com amor, sabendo que ela não fazia parte desta discussão, mas amando o pai dela, da mesma maneira. O mesmo sucedia com seu filho mais novo.

“Kendrick, eu sempre considerei você como um filho legítimo. Porém as leis do nosso Reino me impedem de passar a realeza para alguém com menos do que a verdadeira legitimidade.”

Kendrick curvou-se. “Pai, eu não esperava que o fizesse. Estou satisfeito com o que me toca. Por favor, não deixe que isso o confunda.”

MacGil se afligiu com sua resposta, ao sentir quão genuíno ele era, desejou nomeá-lo herdeiro mais que nunca.

“Isso nos deixa com vocês quatro. Reece, você é um bom homem, o melhor que já vi. Mas você é muito jovem para ser parte desta discussão.”

“Eu não esperava tanto, pai.” Reece respondeu, com uma ligeira reverência.

“Godfrey, você é um dos meus três filhos legítimos – ainda assim você opta por desperdiçar seus dias na taberna junto com a escória. A você foram entregues muitos privilégios na vida e você rejeitou cada um deles. Se existe uma grande decepção em minha vida, ela é você.”

Godfrey fez uma careta, mexendo-se desconfortavelmente.

“Bem, então, acho que já terminei aqui e agora posso voltar para a taberna, não posso Pai?”

Com uma brusca e irônica reverência, Godfrey se virou e começou a atravessar o salão.

“Volte aqui!” MacGil retrucou. “JÁ!”

Godfrey continuou a andar, ignorando-o. Ele atravessou a sala e abriu a porta. Dois guardas permaneciam ali.

MacGil fervia de raiva, enquanto os guardas olhavam para ele interrogativamente.

Mas Godfrey não esperou; ele abriu caminho aos empurrões para o corredor aberto.

“Detenham-no!” MacGil gritou. “E mantenham-no longe da vista da rainha. Eu não quero ver a mãe perturbada por vê-lo assim, no dia do casamento de sua filha.”

“Sim, meu senhor.” eles disseram, fechando a porta e correndo ao encalço dele.

MacGil permanecia sentado, respirando agitado, com o rosto vermelho, tentando se acalmar. Pela milésima vez, ele se perguntou o que tinha feito para merecer um filho assim.

Ele olhou para seus filhos restantes. Os quatro o olhavam também, esperando naquele profundo silêncio. MacGil respirou profundamente, tentando se concentrar.

“Isso fica apenas entre vocês dois agora.” Ele continuou. “E entre os dois eu escolhi meu sucessor.”

MacGil dirigiu-se a sua filha.

“Gwendolyn, será você.”

Houve um suspiro na sala; todos os seus filhos pareciam chocados, principalmente Gwendolyn.

“O senhor falou corretamente, pai?” Gareth perguntou. “O senhor disse Gwendolyn?”

“Pai, sinto-me honrada.” Gwendolyn disse. “Mas não posso aceitar. Sou uma mulher.”

“É verdade, uma mulher nunca havia ocupado antes o trono dos MacGils. Mas eu decidi que já é tempo de mudar esta tradição. Gwendolyn, você possui o melhor espírito e mente de qualquer jovem que eu já conheci. Você é jovem, mas queira Deus, que eu não morra tão cedo, e quando isso acontecer, você já será sábia o suficiente para governar. O reino será seu.”

“Mas pai!” Gareth gritou, seu rosto estava pálido. “Eu sou o primogênito, nascido legítimo! Sempre, em toda a história dos MacGils, o título de realeza é herdado pelo primogênito!”

“Eu sou o rei.” MacGil respondeu sombriamente: “Eu dito a tradição.”

“Mas isso não é justo!” Gareth declarou com sua voz queixosa. “Eu sou quem deveria ser o rei. Não minha irmã. Não uma mulher!”

“Cale-se!” MacGil gritou tremendo de raiva. “Você se atreve a desafiar minhas opiniões?”

“Eu estou sendo preterido, por uma mulher? É isso que pensa de mim?”

“Eu já tomei minha decisão.” MacGil disse. “Você irá respeitá-la e segui-la obedientemente, como qualquer outro súdito do meu reino. Agora, todos podem se retirar.”

Seus filhos curvaram suas cabeças rapidamente e saíram apressados da sala.

Mas Gareth parou na porta, incapaz retirar-se.

Ele voltou-se e uma vez sozinho, enfrentou seu pai.

MacGil podia ver a decepção em seu rosto. Estava claro que ele tinha esperado ser nomeado herdeiro hoje. Mais do que isso: ele tinha desejado muito isso. Desesperadamente. O qual não surpreendia MacGil o mais mínimo – e essa era a principal razão pela qual ele não havia sido escolhido.

“Por que me odeia tanto, Pai?” Ele perguntou.

“Eu não o odeio. Eu apenas não creio que seja o indicado para governar o meu reino.”

“E por que não sou?” Gareth insistiu.

“Porque é precisamente a coisa que você mais quer…”

O rosto de Gareth foi invadido por sombra vermelho escura. Claramente, MacGil tinha lhe dado um opinião perspicaz sobre sua verdadeira natureza. MacGil observava seus olhos, viu-os queimar com um ódio por ele que jamais havia imaginado possível.

Sem mais uma palavra, Gareth saiu da sala e bateu a porta atrás dele.

Com o eco reverberando, MacGil estremeceu. Ele lembrou o olhar do seu filho e sentiu seu ódio tão profundo, mais profundo até mesmo que o de seus inimigos. Naquele momento, ele pensou em Argon, em sua afirmação de que o perigo estava por perto.

Poderia estar tão perto assim?